152 Internacional Journal of Cardiovascular Sciences. 2015;28(2):152-159 ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO Disfunção Coronariana Microvascular Coronary Microvascular Dysfunction Leonardo Silva Roever Borges, Elmiro Santos Resende Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Medicina - Departamento de Pesquisa Clínica - Uberlândia, MG - Brasil Resumo Nas duas últimas décadas, uma série de estudos relatou que as anormalidades na função e estrutura da microcirculação coronariana podem ocorrer em pacientes sem aterosclerose obstrutiva, em pacientes com fatores de risco, com doenças do miocárdio, bem como na aterosclerose obstrutiva. A disfunção microvascular coronariana pode ser iatrogênica e é importante marcador de risco, contribuindo para a patogênese de doenças cardiovasculares e do miocárdio. Devido a sua importância torna-se alvo terapêutico. Este artigo apresenta uma atualização sobre a relevância clínica da disfunção microvascular coronariana em diferentes situações clínicas. Palavras-chave: Infarto do miocárdio; Angiografia coronária; Aterosclerose Abstract (Full texts in English - www.onlineijcs.org) In the last two decades, a number of studies reported that abnormalities in the coronary microcirculation function and structure may occur in patients without obstructive atherosclerosis, in patients with risk factors, with myocardial diseases, as well as in obstructive atherosclerosis. Coronary microvascular coronary dysfunction may be iatrogenic and is an important risk marker, contributing to the pathogenesis of cardiovascular and myocardial diseases. Due to its importance, it becomes a therapeutic target. This article presents an update on the clinical relevance of coronary microvascular dysfunction in different clinical situations. Keywords: Myocardial infarction; Coronary angiography; Atherosclerosis Introdução Em pacientes submetidos à angiografia coronariana, cujos dados clínicos são indicativos de doença arterial coronariana (DAC), podem ser encontradas artérias coronárias normais, ou seja, sem obstrução aterosclerótica. A literatura relata que até 40% dos pacientes submetidos à angiografia coronariana estão nessa categoria1. A utilização do termo angina microvascular (AMV) para essa população de pacientes vem sendo explicada pela maior sensibilidade da microcirculação coronariana aos vasoconstritores locais, e sua associação com uma capacidade vasodilatadora microvascular limitada2,3. Nos últimos 20 anos, estudos utilizados para a avaliação da fisiologia coronariana têm trazido informações que permitem melhor compreensão da disfunção microvascular coronariana (DMC) e isquemia microvascular. Especificamente os estudos usando tomografia de emissão de pósitrons (TEP) têm permitido estabelecer o intervalo normal e absoluto do fluxo sanguíneo do miocárdio (FSM, mL/min/g) e de reserva de fluxo coronariano (RFC)4-11. A disponibilidade de valores normais de FSM e RFC permitiu a investigação Correspondência: Leonardo Silva Roever Borges Rua Rafael Rinaldi, 431 - Martins - 38400-384 - Uberlândia, MG - Brasil E-mail: [email protected] DOI: 10.5935/2359-4802.20150017 Artigo recebido em 31/10/2014, aceito em 22/02/2015, revisado em 26/02/2015. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):152-159 Artigo de Atualização Borges e Resende Disfunção Microvascular da fisiologia coronariana em indivíduos com risco aumentado para DAC e também em diferentes categorias de pacientes com sintomas e sinais sugestivos de isquemia miocárdica, apesar de angiografias coronarianas normais12. Camici e Crea13 propuseram uma classificação clínica e patogênica da DMC em quatro tipos, baseados na clínica em que ocorrem: (I) DMC na ausência de doenças do miocárdio e DAC obstrutiva; (II) DMC em doenças do miocárdio; (III) DMC com DAC obstrutiva; e (IV) DMC iatrogênica. Propuseram ainda que vários mecanismos patogênicos contribuem para DMC, e sua importância varia em diferentes contextos clínicos, muitos deles coexistindo na mesma condição (Quadro 1). As vias moleculares da DMC, em particular a endotelial, e a disfunção do músculo liso foram extensivamente revistos em estudos prévios14,15. O objetivo deste artigo é fornecer uma atualização sobre a DMC em diferentes situações clínicas. Fatores de risco O papel dos fatores de risco tradicionais e a disfunção endotelial implicam um prognóstico desfavorável; além disso, estudos indicam que a dilatação do endotélio microvascular pode estar envolvida em alterações funcionais e estruturais que levam a alterações no FRC associadas ao envelhecimento, à hipertensão, ao diabetes, à dislipidemia, à síndrome metabólica e à resistência à insulina16-23. Marcadores promissores incluem as desordens do metabolismo do óxido nítrico, a desregulação de diversos mediadores inflamatórios, incluindo citocinas, estrogênio, receptores adrenérgicos e alterações na expressão ou produção de substâncias vasoativas locais, tais como da angiotensina II e endotelina24-26. ABREVIATURAS E ACRÔNIMOS • AMV – angina microvascular •DAC – doença arterial coronariana •DMC – disfunção microvascular coronariana •FMB - fluxo metabólito basal •FSM – fluxo sanguíneo do miocárdio •ICP – intervenção coronariana percutânea •OMV – obstrução microvascular •RFC – reserva de fluxo coronariano •RVM – revascularização do miocárdio Diabetes •TEP – tomografia de A hiperglicemia crônica está associada emissão de pósitrons à redução significativa da vasodilatação dependente do endotélio coronariano. Intervenções com o objetivo de melhorar a sensibilidade à insulina demonstram melhorar a função endotelial e diminuir isquemia do miocárdio na aterosclerose27,28. Quadro 1 Classificação da disfunção microvascular coronariana Situação clínica 153 Principais mecanismos patogênicos Tipo 1: Ausência de doenças do miocárdio e DAC obstrutiva Fatores de risco para angina microvascular A disfunção endotelial Disfunção CML RV Tipo 2: Cardiomiopatia hipertrófica Cardiomiopatia dilatada Amiloidose Miocardite Estenose aórtica Doença de Anderson-Fabry RV Disfunção CML OL Tipo 3: DAC obstrutiva e AE AE SCA Disfunção CML OL Tipo 4: Iatrogênica ICP Enxerto de artéria coronária OL Disfunção autonômica DAC - doença arterial coronariana; AE - angina estável; SCA - síndrome coronariana aguda; RV - remodelamento vascular; CML - células musculares lisas; OL - obstrução luminal; ICP - intervenção coronariana percutânea 154 Borges e Resende Disfunção Microvascular Inflamação Altos níveis da proteína C-reativa foram encontrados e associados com o aumento da frequência de episódios de isquemia detectados ao eletrocardiograma (ECG) em pacientes com angina microvascular, sugerindo um papel da inflamação na modulação de respostas microvasculares coronarianas nesses pacientes 23. Observou-se alta prevalência de DMC em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide29,30. Angina microvascular Observou-se que até 40% dos pacientes com sinais e sintomas de isquemia miocárdica submetidos à angiografia coronariana não apresentam aterosclerose obstrutiva31. Após exclusão de causas não coronarianas de dor no peito, a presença de disfunção vascular coronariana, isquemia em testes de estresse e dor torácica que persistem após um ano de seguimento, podem identificar um subgrupo de maior risco para o desfecho de resultados clínicos adversos, identificados a partir de uma base de dados de 3-4 milhões de pacientes nos Estados Unidos que apresentaram sinais e sintomas de isquemia apesar de nenhuma evidência clínica de aterosclerose obstrutiva. Isto foi associado à má qualidade de vida, sofrimento psíquico e de piores seguimentos com cuidados de saúde32-35. Estudos contemporâneos documentam que a maioria dos pacientes com angina e depressão do segmento ST durante o teste de esforço apresentam regiões do miocárdio com sinais de isquemia 36-39 . Estudos fisiopatológicos demonstram disfunção endotelial coronariana em pacientes com sinais e sintomas de isquemia40. Propõem que a disfunção pode não envolver todos os microvasos coronarianos de um grande tronco da artéria coronária de maneira uniforme, mas pode ser distribuído no miocárdio de uma forma dispersa. Essa distribuição de defeitos de perfusão pode fornecer uma explicação plausível para as dificuldades na obtenção objetiva de evidência de isquemia do miocárdio. De fato, uma distribuição esparsa de isquemia miocárdica, embora suficiente para produzir alterações no ECG e também da perfusão do miocárdio na cintilografia, pode não resultar em anormalidades contráteis detectáveis por causa da função normal circundante do tecido miocárdico. Da mesma forma, a liberação no seio coronariano de metabólitos isquêmicos pelos focos isquêmicos do miocárdio pode passar despercebida, devido à sua diluição no fluxo de maiores áreas miocárdicas normais41. Pacientes com AMV têm sido considerados de “baixo risco”, embora essa questão permaneça controversa. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):152-159 Artigo de Atualização Dados angiográficos invasivos demonstraram que esse grupo inclui um espectro mais frequentemente de mulheres, com maior risco de eventos cardíacos adversos42-45. O estudo WISE, com 5,4 anos de seguimento, demonstrou eventos adversos, incluindo morte cardíaca, acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca de início em vez de infarto do miocárdio, em particular nas mulheres com RFC reduzida46. Embora a relação entre DMC e aterosclerose epicárdica não seja totalmente compreendida, tem sido proposto que a lesão aterosclerótica intimal pode variar e ser relacionada a diferenças de sexo na remodelação vascular e reatividade vascular, assim impactando preferencialmente as mulheres46-49. Angina microvascular estável Observou-se um limite variável em que a atividade física provoca AMV; atividades de baixa frequência cardíaca como a excitação mental podem desencadear AMV em pacientes com aterosclerose obstrutiva50. Além disso, na AMV a dor no peito normalmente persiste por alguns minutos depois de se interromperem os esforços e mostra uma ação alterada dos nitratos51. Outra característica que ajuda o diagnóstico diferencial é a resposta aos nitratos sublinguais em testes de estresse ao ECG. Os resultados do teste normalmente melhoram após nitratos sublinguais em pacientes com obstrução de aterosclerose, e eles permanecem inalterados ou podem até mesmo piorar em pacientes com AMV52. A dor no peito que persiste por muitos anos após a angiografia em mulheres com coronárias aparentemente “normais” está associada ao desenvolvimento futuro da aterosclerose coronariana e um prognóstico adverso51. A redução do FCR avaliada de forma não invasiva utilizando tomografia por emissão de prótons, ressonância cardíaca magnética ou ecoDoppler transtorácico pode ser útil para o diagnóstico53-55. Além disso, a angina e a depressão do segmento ST na ausência de alterações da motilidade regionais durante a infusão de adenosina ou dipiridamol no ecocardiograma de estresse representam um distintivo característico de estudos de imagem de AMV56. Cerca de metade dos pacientes com dor torácica que reduziu o FRC na ausência da resolução de DAC obstrutiva com drogas foi associado à melhoria da DMC57,58. Angina microvascular instável Angiografias coronarianas definidas como estreitamento luminal menor que 50% são relatadas com relativa Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):152-159 Artigo de Atualização frequência em pacientes com SCA, incluindo 10-25% das mulheres e 6-10% dos homens59. A investigação em curso é abordar o paradoxo no qual as mulheres têm menos DAC obstrutiva grave e menos infartos, e ainda piores resultados clínicos. A maior mortalidade em comparação aos homens tem sido atribuída a: idade avançada, comorbidades e subutilização dos cuidados de orientação entre as mulheres. A maior diferença de mortalidade é observada em mulheres mais jovens, comprovada por uma série de estudos60-61. Doença arterial coronariana estável Várias linhas de evidência sugerem que a relação direta entre aterosclerose coronariana obstrutiva crônica e angina pode representar uma observação excessivamente simplificada. De fato, muitos pacientes com angina e evidência de isquemia do miocárdio não têm aterosclerose coronariana detectável à angiografia. Por outro lado, um número de pacientes com aterosclerose coronariana grave não experimentam angina. Estudo recente mostra que pacientes com SCA como primeira manifestação da DCA submetidos à angiografia coronariana apresentam doença multiarterial62. Essa observação sugere fortemente que a pré-existência de obstrução da DAC apresentava-se em estado de silêncio, provavelmente porque a função microvascular foi preservada, e com isto prevenia a angina e a isquemia, apesar de DAC obstrutiva. A maioria dos relatórios concorda que a cirurgia de revascularização melhora os sintomas em pacientes com obstrução grave e multiarterial, mas em muitos pacientes com angina, a dor recorre após 2-3 anos, enquanto o infarto do miocárdio e a morte não são amenizados, como claramente mostrado numa recente meta-análise63. Essas observações certamente não negam a utilidade de revascularização em pacientes com SCA quando a revascularização coronariana é necessária para evitar um dano irreversível ou morte iminente, mas os autores levantam questões sobre se a revascularização deve continuar a ser considerada um tratamento final para a aterosclerose obstrutiva em pacientes estáveis. Assim, em pacientes com angina estável que não têm uma grande área em risco de isquemia miocárdica, o principal objetivo do tratamento permanece em controlar os fatores de risco e tratamento antianginoso direcionado para grandes artérias coronárias epicárdicas e microcirculação coronariana. Síndromes coronarianas agudas A associação temporal entre os eventos que ocorrem em grandes vasos epicárdicos, como a erosão da placa ou Borges e Resende Disfunção Microvascular fissura associada com a formação de trombos e na microcirculação com a vasoconstrição paradoxal, não permite estabelecer qual é a relação causal entre esses dois eventos. Acredita-se que os eventos do epicárdio precedem e causam eventos microvasculares. Uma visão mais extrema é que, pelo menos em uma proporção de pacientes, a DMC tem um papel causal na determinação da formação de trombos nas artérias coronárias e epicárdicas64. No infarto agudo do miocárdio com supra de ST (IAMSST), alguma condição fisiopatológica é representada por DCM, que ocorre após recanalização bem sucedida da artéria relacionada ao infarto. A reperfusão mecânica por intervenção coronariana percutânea (ICP) representa o tratamento do IAMSST, no entanto em uma proporção considerável dos pacientes, a ICP primária atinge recanalização da artéria coronária epicárdica, mas não a reperfusão do miocárdio, uma condição conhecida como no-reflow, atualmente mais comumente definida como obstrução microvascular (OMV)65,66. A OMV pode ser causada por quatro mecanismos: (1) embolização distal aterotrombótica; (2) lesões isquêmicas; (3) lesão de reperfusão; e (4) a susceptibilidade individual da microcirculação coronariana à lesão67,68. A isquêmica do pré-condicionado parece ter um efeito benéfico sobre a função microvascular69. Intervenções coronarianas percutâneas A relevância clínica da embolização distal pós-ICP que resulta em DMC é considerável. Em recente meta-análise, autores avaliaram a ocorrência e impacto do prognóstico da elevação troponina em pacientes com níveis basais normais submetidos a ICP. A elevação da troponina após ICP ocorreu em cerca de 1/3 dos pacientes, e o processo aterosclerótico mais acentuado foi associado a um prognóstico adverso devido a maior risco de eventos cardiovasculares70. Existe evidência que em pacientes com DAC estável e isquemia induzida pelo exercício, submetidos à ICP eletiva, a não recuperação do FRC imediatamente após o procedimento apesar de recanalização bem sucedida sugere DCM69. Intervenções cirúrgicas O trauma cirúrgico e a circulação extracorpórea podem contribuir para uma resposta inflamatória sistêmica, que é mensurável por citocinas circulantes, e promovem DCM71,72. Isto pode ser o resultado de vários fatores incluindo contato do sangue com o circuito de bypass, 155 156 Borges e Resende Disfunção Microvascular isquemia do miocárdio durante desvio, pinçamento da aorta e reperfusão. O infarto do miocárdio perioperatório resulta em mais elevação dos marcadores inflamatórios73-76. Pela mensuração do fluxo metabólito basal (FMB) e da reserva do fluxo coronariano em pacientes submetidos à revascularização do miocárdio (RVM) utilizando a TEP, descobriu-se que a hiperemia FMB e RFC melhora progressivamente ao longo dos seis meses após a revascularização do miocárdio, sugerindo DCM persistente77. Estudo utilizando imagens da DCM e medição TnI encontrou que cerca de 1/3 dos pacientes submetidos a revascularização do miocárdio sofreram novo infarto do miocárdio demonstrado por RVM, e que um ponto de corte de TnI de 5 mg/L (limite superior do normal de 0,6 mg/L) em 1 hora teve sensibilidade de 67% e 79% de especificidade para detectar o novo infarto. Nesse estudo, o valor preditivo da CK-MB para o diagnóstico de infarto do miocárdio foi menor do que a de TnI usando um ponto de corte de CK-MB de 25 mg/L; a sensibilidade foi 44% e 89% de especificidade para a detecção do novo infarto. As elevações substanciais dos biomarcadores após RVM têm demonstrado implicações no prognóstico78,79. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):152-159 Artigo de Atualização O fato de diferentes mecanismos de lesão após ICP e RVM terem implicações prognósticas semelhantes sugere que o prognóstico é eventualmente conduzido pela extensão da necrose independentemente dos mecanismos responsáveis pela sua ocorrência. O impacto prognóstico da lesão miocárdica após revascularização do miocárdio, avaliada por elevação da enzimas, é clinicamente relevante80. Futuros esforços devem ser direcionados para alcançar uma melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos que contribuem para a disfunção coronariana microvascular em diferentes situações clínicas, bem como as formas de prevenção e tratamento em suas diversas formas de apresentação. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação Acadêmica O presente estudo não está vinculado a qualquer programa de pós-graduação. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Patel MR, Peterson ED, Dai D, Brennan JM, Redberg RF, Anderson HV, et al. Low diagnostic yield of elective coronary angiography. N Engl J Med. 2010;362(10):886-95. Erratum in: N Engl J Med. 2010;363(5):498. Cannon RO 3rd, Epstein SE. “Microvascular angina” as a cause of chest pain with angiographically normal coronary arteries. Am J Cardiol. 1988;61(15):1338-43. Epstein SE, Cannon RO 3rd. Site of increased resistance to coronary flow in patients with angina pectoris and normal epicardial coronary arteries. J Am Coll Cardiol.1986;8(2):459-61. Chareonthaitawee P, Kaufmann P, Rimoldi O, Camici PG. Heterogeneity of resting and hyperemic myocardial blood flow in healthy humans. Cardiovasc Res. 2001;50(1):151-61. Qayyum AA, Kastrup J. 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