1 ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS FUNCIONAIS NOS PROCESSOS DE LIDERANÇA E ESTRUTURA DE PODER: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA FAMILIAR Eliton Luiz Moreira – UNICENTRO ([email protected]) Antônio João Hocayen-da-Silva – UNICENTRO ([email protected]) César Renato Ferreira da Costa – UNICENTRO ([email protected]) Resumo O presente artigo tem como objetivo analisar as perspectivas relacionadas às funções dos processos de liderança e estruturas de poder, utilizando como estudo de caso uma empresa familiar. Utilizou-se um enfoque qualitativo-explicativo, através de um estudo de caso, com a aplicação de 16 entrevistas semi-estruturadas à gerentes e diretores. Os dados coletados foram submetidos à técnica de análise de conteúdo e discurso. Observa-se que a liderança é focada principalmente no trabalho, sendo ela classificada como funcional, baseada na legitimidade da família. No processo de poder, caracterizado como racional-legal, na crença de que pessoas em posições organizacionais elevadas deterem poder sobre seus subordinados, assim funcionários aceitam o conjunto de normas e regras estabelecidas pela família, em troca de seu principal interesse, o capital. A organização necessita difundir sua missão, não deixando de lado o interesse coletivo, reunindo esforços para alcançar dos colaboradores um sentimento de pertencer à organização, como componente valioso, adequando sua estratégia aos processos de liderança e poder, focando o bem estar coletivo, demonstrando a ideologia organizacional, negociando metas e indicadores, promovendo integração grupal ao mesmo tempo estimulando certa competição grupal. Assim, manifestar para os grupos os eventos segundo a ideologia, ou seja, arquitetar o mundo para/com seus funcionários. Palavras-chaves: Liderança; Estrutura de Poder; Empresa Familiar. Abstract This article aims to analyze the perspectives of the processes related to the functions of leadership and power structures, as a case study using a family business. We used a qualitative approach-explaining, through a case study, with the application of 16 semi-structured interviews with managers and directors. The data collected were subjected to the technique of content analysis and discourse. It is observed that leadership is mainly focused on the job, it is classified as functional, based on the legitimacy of the family. In the process of power, characterized as rational-legal, in the belief that people in high organizational positions hold power over their subordinates, and employees accept the set of rules and regulations established by the family in exchange for his main interest, the capital. The organization needs to spread its mission, leaving aside the collective interest, bringing employees' efforts to achieve a sense of belonging to the organization as a valuable component, adjusting their approach to processes of leadership and power, focusing on the collective wellbeing, demonstrating the organizational ideology, negotiating targets and indicators, promoting group integration while stimulating some competition group. Thus, expressing the events for groups according to ideology, that is, to devise the world / with its employees. 2 Key Words: Leadership, Power Structure; Family Business 1 INTRODUÇÃO Na atual visão da administração, alguns autores, relatam que uma nova forma de organização estaria excluindo de suas atividades algumas formas de controles, as estruturas hierárquicas, “os horários inflexíveis, as normas, a papelada, os registros” a partir de seu processo de liderança, dentro do seu planejamento estratégico, ou seja, sua missão organizacional estaria movimentando seus colaboradores para ganhar da concorrência de mercado, tendo vantagem frente a todas as pressões e mudanças existentes dentro do mercado (SILVA, 2003, p. 799). Dessa forma alguns autores, como Courpasson (2000), passam a mostrar que a liderança passou a ter o papel carismático, utilizando o discurso como ferramenta para todo esse processo. A partir das transformações do ambiente vivenciado pelas empresas, as organizações frente às mudanças e aos seus trabalhadores utilizam o discurso para mostrar seus comportamentos gerenciais, trazendo valores e interpretações desse ambiente (GREY; GARSTEN, 2001). Conforme os interesses de pesquisa de trabalhos de administração e psicologia são a respeito dos motivos que as pessoas criam e mantêm relações de influencias uma sobre as outras. Dessa forma como já mencionado, a liderança assume um papel focado no carisma, assim visualiza-se a grande relação dos dois processos. A capacidade de se influenciar utilizando um discurso, a partir das transformações que ocorrem no ambiente da empresa, voltada numa mensagem que traz o principal interesse da organização, sendo ela a missão, no meio de todo esse processo ainda surge os interesses do grupo, dos quais se não cumpridos a motivação dos colaboradores pode trazer um prejuízo no trabalho da organização. No âmbito dos interesses individuais dos colaboradores, seus interesses podem variar, conforme Etzioni (1978) sendo eles missão moral, calculista ou transacional ou alienatória. Cada tipo de missão é voltado a uma motivação, variando de acordo com a organização. Assim desse contexto se encaixando a questão da “troca de favores” entre funcionário (trabalho) e organização (capital). Assim este artigo tem como objetivo analisar as perspectivas relacionadas às funções dos processos de liderança e estruturas de poder, utilizando como estudo de caso uma empresa familiar do setor madeireiro. 3 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 LIDERANÇA ORGANIZACIONAL Os estudos de liderança dentro das organizações sofreram diversas evoluções, desde o modo de autoridade formal até liderança transacional, onde a princípio a liderança dependia de uma condição chamada de consentimento. “A idéia de seguidores atraídos e guiados por um líder pressupõe consentimento” (MAXIMIANO, 2000, p. 327). Esse consentimento pode ser verificado conforme Maximiano (2000, p. 327), “o consentimento pode variar entre a fé na missão líder ou nas recompensas prometidas aos seguidores”, ainda relata também que a liderança acontece quando existe uma harmonia entre líder e liderados, sendo entre o propósito do líder e a recompensa oferecida, criando uma espécie de motivação dentro do grupo. Entre os estudiosos, alguns entendem que a liderança é o resultado de uma constelação de qualidades que uma pessoa possui, enquanto outros asseveram que o líder não precisa dispor de um conjunto de regras, e sim de bom método de análise da situação social dentro da qual deve agir, emergindo a solução, naturalmente, se análise for adequada (CURY, 1990, p. 74). Dentro das organizações pode-se notar a liderança através dos cargos, onde os colaboradores obedecem aos gerentes, seguindo uma hierarquia em que cada gerente tem a sua quantidade de poder estabelecida, isso é a chamada autoridade formal, sendo diferente da liderança, que não existe nenhuma estrutura a ser seguida. 2.1.1 Líder e Liderados A liderança é um dos inúmeros papéis que um gerente deve desempenhar dentro de uma organização. Em se tratando de líder ou gerente, para que ele seja eficaz existem algumas características que podem ajudá-lo neste processo, dentre as quais se destacam: i) habilidade - podendo essa habilidade ser desenvolvida por qualquer pessoa com o intuito de conquistar os seguidores; ii) comunicação - tornase uma qualidade importante para o líder; iii) competência técnica; e iv) motivação trata-se de pessoas que gostam de liderar, onde ignoram a recompensa, e fazem esse papel através da organização e satisfação própria ou através do poder social, ou seja, buscam as metas do grupo e relacionamento, no qual motivação e habilidades podem ser interdependentes (MAXIMIANO, 2000). Por sua vez, no contexto dos liderados, as principais questões estão vinculadas às motivações e competências dos mesmos. A motivação está ligada ao interesse 4 dos seguidores, sendo visualizada uma troca de interesses, onde o gerente tem suas metas a serem cumpridas, e ele precisa de seus colaboradores para o alcance, e dessa forma as metas tendem a ser também de interesse do grupo. Conforme Wood Jr (1999) o líder dentro desse aspecto de troca de interesses, deixa de ter como atividades o comandar, planejar, dirigir e controlar, assumindo como atividade fim o convencimento de seus liderados, perfazendo um papel essencialmente político dentro dessa teia de interesses. No caso das competências dos liderados, muitos estudos estabelecem que seja uma variável de suma importância para o acontecimento do processo, sendo denominado teoria da substituição da liderança. Assim dentro desse processo de identificação e interação entre líderes e liderados os autores Davel e Machado (2001), mostram como se funde esse processo. Os seguidores podem sentir-se revitalizados, à medida que o seu eu se funde na identificação com o líder e que eles interagem cognitiva, emocional e politicamente com uma realidade psicossocial que lhes é oferecida e reconhecida como significativa. A identificação pode tornar-se uma espécie de captura conflitosa, mas também revigorante porque pela identificação, o seguidor participa simbolicamente do poder do líder. Aquele que se identifica creia que esta capturando o outro, mas é ele que poder estar sendo capturado por um processo de despersonalização e pela nova categorização social tipificada e exigida pelo grupo. (Davel e Machado, 2001: 118) 2.1.2 Liderança nas Organizações O processo de escolha de líder é uma definição do uso da autoridade (MAXIMIANO, 2000), onde se destacam alguns modos de eleição como a democracia, autocracia e anarquia ou liberalismo. Nesse processo caracteriza-se como democracia, a escolha do dirigente através do grupo, onde o líder é escolhido, o exemplo do voto, e também como forma de uso da autoridade o processo de tomada de decisões ou medidas é feito pelo acordo do grupo e dirigente. Já no modo da autocracia, a escolha do líder acontece através da sua imposição por uma autoridade superior ou de força maior, e as decisões são tomadas somente pelo líder, e quando o grupo não possui o líder denomina-se liberalismo ou auto-gestão, e as decisões são tomadas por meio de consenso de todos e também cada individuo pode escolher pela sua decisão (MAXIMIANO, 2000). Esses modos de uso da autoridade também se caracterizam como estilos de liderança, conceitualmente compreendido como o formato que o líder se relaciona com os seguidores. 5 Como as bases dessas lideranças estavam na autocracia e na democracia, as pesquisas indicaram que essas duas formas podem ser utilizadas na mesma situação, compondo-se assim em uma liderança bidimensional. Dentro dos estudos da liderança esses dois comportamentos de estilo de liderança, a autocracia e a democracia, sofreram alterações. Anteriormente eram considerados como opostos e em seguida como forma de equilíbrio no processo de liderança, através disto criaram-se outras denominações para esses estilos, como a liderança orientada à tarefa e a liderança orientada às pessoas. Dessa forma a liderança trabalha com dois aspectos: produção e pessoas, analisando duas vertentes: o comportamento em relação ao cumprimento de metas e o desenvolvimento de esforços dos indivíduos envolvidos. 2.2 ESTRUTURAS DE PODER Poder, em sua definição geral, menciona a disposição ou a capacidade de agir, de determinar efeitos. Tanto pode ocorre em indivíduos ou grupos, objetos ou fenômenos naturais. Se o percebermos em seu caráter social, seu ambiente flutua dentro da possibilidade de agir “até a capacidade do homem em determinar o comportamento o homem: poder do homem sobre o homem” (FILHO, 1999, p. 04). No âmbito organizacional, de imediato o que se pode identificar como poder são as regras e políticas que regem os comportamentos dos indivíduos, sendo como principal objetivo das pesquisas de psicologia e comportamento organizacional compreenderem por quais motivos as pessoas criam e mantêm relações de influencias uma sobre as outras. Das diversas definições de poder, Chiavenato (2001) contextualiza poder por meio da diferença do termo entre autoridade, ele trata o termo como “poder pessoal”, que se caracteriza como ação que exercida para se trazer bem-estar do grupo. Dentro das organizações o poder pode ocorrer entre indivíduos, departamentos e dirigentes. O poder pode ser observado facilmente dentro das empresas, a principal figura que nos mostra é a hierarquia existente em organizações burocratizadas. Hall (2004) destaca a dependência entre as organizações e subordinados, quanto ao trabalho e a moeda. Quando surge uma questão que está fora da alçada de um departamento em um determinado nível, ela é transferida a níveis mais altos da organização, até alcançar o nível no qual a decisão possa ser tomada de modo apropriado. Evidentemente, poucas organizações se aproximam desse tipo ideal, porque os arranjos de poder são afetados por padrões 6 informais criados ao longo do tempo e por diferenças pessoais no exercício do poder disponível nos departamentos (HALL, 2004, p. 104). Conforme Chiavenato (2001, p. 273), “o poder significa o potencial para exercer a influencia”. Assim sendo o poder está totalmente ligado a comportamento envolvendo a pessoa que exerce o poder e a que sofre o poder. Dentro das relações de poder, existem as chamadas bases ou fontes de poder, conforme Hall (2004) essas bases caracterizam-se como as formas pelas quais os possuidores de poder regulam os comportamentos das pessoas, como, por exemplo, recompensas, conhecimento especializado, isso serve como identificação para endereço do poder, e ainda se identificam como bases do poder as “relações familiares” (ETZIONI, 1961; FRENCH; RAVEN 1968 apud HALL, 2004). Bacharach (1980 apud HALL, 2004) utilizam o termo “fonte” como à forma que as pessoas utilizam para controlar o poder. Sendo elas quatro fontes: cargo, características pessoais, especialização e oportunidade. Conforme Hall (2004, p. 107) “um individuo ou uma unidade possui uma fonte de poder, como uma posição oficial na qual o poder é exercido como forma de autoridade ou influencia”. Já Galbraith (1984) menciona como fontes de poder a personalidade: ligada às características físicas que fazem com que a pessoa possua objeto de poder; a propriedade: o poder compensatório, a capacidade de compra e obediência de outrem e organização: a posição ocupada dentro de uma organização. Percebe-se que todas têm uma forte equidade. 2.2.1 Relações Horizontais de Poder As relações de poder também acontecem entre departamentos, entre funções organizacionais, e entre profissionais, “relacionamentos entre unidades e pessoas com posições relativas entre si, basicamente laterais e iguais” (HALL, 2004, p. 108). Entre relações horizontais, o que se evidencia é o conflito real, onde as principais justificativas para conflito são a especialização, o conhecimento, os interesses pessoais, tempo de trabalho, pois são pessoas que estão no mesmo nível organizacional. O poder também serve como forma de avaliação. As organizações possuem seus profissionais e é preciso avaliá-los a partir da sua responsabilidade administrativa (HALL, 2004). Uma das formas de distribuição de poder na organização é o empowerment, que para Daft (1999, p. 291) “trata-se da delegação de tarefas aos funcionários de níveis inferiores, desta forma os mesmos assumem responsabilidades e um maior 7 envolvimento junto à organização”. Araújo (2008, p. 209) define essa técnica como o “fortalecimento do poder decisório dos indivíduos da organização”. Esta técnica significa uma forma de descentralização do poder dentro da organização. Como já mencionado, os interesses pessoais são formas de promoção do conflito organizacional. Dalton (1959 apud HALL, 2004), mostra que são formados grupos, chamados de facções e coalizões, onde os membros pertenciam ao mesmo nível organizacional. Elas eram formadas para defender os membros contra alguma mudança, ou para impedir o avanço de outro departamento que ganhasse poder. Outro fator para se formar essas facções eram a idade, raça, religião, gênero e grupo étnico, ou seja, membros de um mesmo grupo. A distribuição de poder é outro aspecto que deve ser analisado. Nesse aspecto as principais questões a serem analisadas são a eficácia e a incerteza. Grupos, pessoas ou unidades organizacionais que lidam com situações de incerteza e conseguem o sucesso, sua quantidade de poder aumentara. As tarefas em que unidade organizacional recebe, podem leva - lá a aumento de poder. As posições inferiores também afetam a distribuição e quantidade de poder na organização. As fontes e bases de poder desses membros são a especialização, esforço e interesse na função. Questões ligadas ao envolvimento no trabalho e o processamento de informações envolvem a quantidade de poder. Dentro do ambiente organizacional não são somente os fatores internos que se relacionam com as relações de poder; o ambiente externo também afeta o poder das organizações. Relações com fornecedores, clientes, órgãos reguladores, condições econômicas, todos esses fatores afetam a distribuição e a quantidade de poder da organização. “O poder, como outros fenômenos organizacionais, não existe isolado no âmbito da própria organização” (HALL, 2004, p. 116), trazendo assim uma alteração na quantidade de poder ao indivíduo que possui essas relações com o ambiente externo. 3 METODOLOGIA O presente artigo tem abordagem de pesquisa exploratória, onde se busca um alcance no aperfeiçoamento com o problema, vindo a buscar componentes dos processos da área a ser estudada. Segundo Lakatos (2009, p. 190) este gênero de pesquisa poder ser classificada como estudo exploratório-descritivo, “que têm como objetivo descrever completamente determinado fenômeno”. 8 A pesquisa é de caráter qualitativo devido sua realização com pessoas, das quais se busca obter dados a respeito do comportamento e da percepção dos indivíduos, onde esses dados coletados não podem ser explicados e interpretados a partir de números, buscando qualificá-los, por meio de observação. Através disso terá o enfoque indutivo, que é característica das pesquisas de cunho qualitativo. Classifica-se como um estudo de caso que conforme Yin (2005) tem como objetivo o conhecimento global de um problema ou identificar os fatores que influenciam o problema e os que o são influenciados pelo problema. Para a coleta de dados foram realizadas pesquisas bibliográficas e documentais, sendo utilizadas fontes primárias (dados históricos, bibliográficos e arquivos particulares) e fontes secundárias (obras literárias), para garantir um apanhado geral sobre os principais autores e trabalhos a respeito do tema e para um melhor entendimento da realidade social envolvida. A forma de coleta de dados para obtenção de informações a respeito dos processos internos da organização foi por meio de entrevista semi-estruturada, e observação não participativa, que segundo Lakatos (1996, p. 79), “a observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento”. As entrevistas foram executadas com 8 diretores e gerentes de departamentos, sendo elas semi-estruturadas, para que houvesse um roteiro a ser seguido, mas com um pouco de flexibilidade para que os assuntos fossem coletados de forma coerente e explorados amplamente. Para a coleta de dados foram realizadas 16 entrevistas, que depois de gravadas, foram transcritas para que fosse possível proceder à análise dos dados. Para a descrição e análise de dados, foi aplicada a Análise do Discurso, “ao perseguir o desfio de construir interpretações, a Análise do Discurso (AD), parte do pressuposto de que em todo discurso há um sentido oculto que pode ser captado [...]” (MARTINS, 2006, p. 55), com o intuito de analisar outros comportamentos, sejam eles pausas, entonação, hesitação, ou aspectos não verbais, dentre eles gestos e olhares. Desse modo o pesquisador tenta captar todas as informações que o entrevistado possa passar, através da construção de procedimentos, que possam “transportar o olhar-leitor a compreensões menos óbvias, mais profundas através da desconstrução do literal, do imediato” (MARTINS, 2006, p. 55). 9 Conforme a literatura, Putnam e Fairhurst (2001 apud VERGARA, 2006) categorizam a análise da linguagem, onde a que mais se identifica com a pesquisa é a sociolingüística, a qual “trata a linguagem como um sistema de códigos, no qual comunidades organizacionais definem suas identidades e relações” (VERGARA, 2006, p. 26). Contudo, pode-se destacar ainda que a partir de tal contexto, percebese que Vergara (2006) relata que a análise do discurso não descarta o conteúdo. Baptista (2007, p. 266) salienta que a análise de conteúdo “tem um objetivo de primeiro que permite interpretar os significados dos fenômenos apresentados ao pesquisador, os quais tanto a pessoa como a sociedade não compreendem”. Para a análise dos dados, segundo Vergara (2006) define-se uma categorização, onde a grade pode ser aberta, fechado ou mista. A pesquisa utilizou a grade aberta, em que as categorias vão surgindo com o andamento da pesquisa. As categorias utilizadas para analisar cada processo dentro organização são as seguintes: Liderança - Identificação, prática da liderança, importância, percepção da liderança, fator de atração dos liderados, aspectos de seleção e estilo de liderança; e Estrutura de Poder - Sistema de regras, classificação do poder, ferramentas das relações de poder, distribuição de poder, relações de poder nos níveis hierárquicos, classificação da autoridade, bases e fontes de poder, conflito, promoções, centralização e descentralização, facções e resultados. 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS A empresa possui mais de 70 anos de funcionamento na região centro-sul do estado do Paraná, caracterizando-se como empresa familiar. Sua atividade inicial era a de extrator/fornecedor de madeira de araucária e madeira de lei para consumo das serrarias. Sua produção evoluiu para compensados, seguindo uma filosofia de trabalho, produzir com qualidade, e detêm o rótulo de empresa conceituada pela seriedade com que os clientes, fornecedores e funcionários são tratados. A organização se caracteriza como empresa familiar principalmente pelo fato de passar por um momento de mudança. Esse momento é a Sucessão Familiar, a teoria mostra que a sucessão nas empresas familiares é um processo importantíssimo que pode levar a morte da empresa, na organização estudada esse processo acontece pela quinta vez, onde Lodi (1987) destaca que a terceira e quarta gerações dentro das organizações são raras de acontecer na conjuntura brasileira. 10 4.1 ESTRUTURAS DE PODER Para as relações de poder foram levantadas questões pertinentes a centralização, classificação do poder, funcionamento de poder, distribuição do poder e a obediência. A centralização é evidente dentro da empresa, tanto no processo de tomada de decisão, liderança e relações de poder, pois observou dentro da empresa é uma Autocracia, onde um grupo de pessoas tem o poder de controlar a organização, esse grupo é a família. Mesmo a empresa ser enquadrada como sociedade anônima, o que se sujeita a assembléias, a eleição de diretoria possui somente chapa única, a família, então não existe desacordo. “Nossos poderes são bem limitados. A gente não toma grandes decisões, qualquer um dos setores não toma decisões sem passar pela diretoria” (Gerente de RH). Também se observou que a diretoria utiliza o poder como forma de controle das atividades da empresa. A partir da hierarquia os detentores de poder podem ter a capacidade de exigir o cumprimento das metas. “Funciona como controle, pela hierarquia você exige do gerente de produção, por exemplo, exige relatórios para ver se esta ocorrendo tudo certo, melhorias e desenvolvimento” (Diretor). Dentro desse contexto o que se tem como funcionamento o poder legitimado, devido à família ser a detentora do capital da empresa, enfim os proprietários. Dentro dos setores observou-se um poder de perícia baseado no conhecimento, sendo essa também uma das formas de controlar os comportamentos da empresa, ou seja, uma das bases de poder. Sendo que no nível operacional o que rege o comportamento dos funcionários é a recompensa. O poder se fixa principalmente na autoridade racional-legal, caracterizada na crença de direito daqueles em posições elevadas de ter poder sobre os subordinados, que é a família como proprietária da empresa. Resumidamente os diretores utilizam a legitimidade, a recompensa e o cargo para controlar os comportamentos dos subordinados, da mesma forma os gerentes de departamentos usam o conhecimento e a posição hierárquica para o controle do comportamento. Dentro do nível operacional observou-se que o poder é baseado nos laços de amizades existentes, essa é a base que os colaboradores utilizam. Em uma dimensão menor de quantidade de poder, o cargo ocupado também é uma base a ser utilizada no ambiente fabril. Como as bases de poder submetem-se principalmente ao controle os comportamentos, a quantidade existente de poder de cada departamento pode 11 variar. Na empresa em estudo, essa questão possui um aspecto situacional e de dependência, onde dependendo da situação alguns departamentos possuem mais poder que os outros. “Aqui o departamento financeiro é o mais importante. Se não esta dando lucro o resto não interessa” (Gerente de Qualidade). “Vamos dizer o departamento financeiro, seria uma importância maior pelo que você depende dele, sem ele, só por causa disso, mas por outro lado não, dependendo da situação, exatamente” (Diretor). Na percepção dos funcionários a respeito do poder dos líderes, foi percebido que a legitimidade da família é a principal forma dos mesmos perceberem o poder. Destaca-se também aqui a capacidade de recompensa que os diretores possuem como forma de percepção. Já nos gerentes de setores, os colaboradores dos níveis mais baixos têm a percepção do poder dos líderes a partir do cargo ocupado. “Isso é complicado na situação familiar, porque os liderados podem ter uma percepção diversa, é perceptivo pela situação humana, quando você faz alguma coisa você espera algo em troca, isso é o básico na relação entre empresa e empregados. Mas muitas vezes não acontece, a própria motivação faz falta, aquilo de você consiga a meta” (Gerente de RH). Como resultado das relações de poder, dentro da organização em estudo obteve-se a obediência, da qual foi caracterizada como tranqüila pelo diretor principal da empresa. E outro resultado é o conflito, o qual existe em grande quantidade devido principalmente às questões pessoais. 4.2 LIDERANÇA Quanto à coleta de dados para se compreender os elementos que desencadeiam as atividades de liderança na organização em estudo se das seguintes questões: identificação, prática, importância, percepção e atração de liderados e estilos de liderança. Para identificação da liderança o que se tem dentro da empresa está relacionado ao aspecto da missão, da pessoa que se consegue resolver o problema e argumentar com todos, sendo esse o espírito de liderança, o que pode ser observado no relato a seguir: “Por aquelas coisas que são bem natas, a pessoa consegue seguidores facilmente, ela demonstra uma coordenação perante os outros que chama a atenção, aqui tem poucas pessoas, às vezes o próprio líder não tem inspiração. Ela pode até ter qualidade, mas se não existir o espírito de liderança não tem” (Gerente de RH). Dessa forma pode-se ver que existe um conhecimento pelas pessoas do que é o processo de liderança, mas dentro das pessoas não existe tanto esse espírito. O 12 que se tem principalmente dentro da empresa é a liderança como um fenômeno de influência interpessoal. A liderança dentro do cotidiano da empresa acontece principalmente para o alcance dos objetivos que a organização almeja, sendo ela uma abordagem situacional, variando de acordo com a situação, sendo os conhecimentos, comportamentos, valores e experiência dos líderes, as características dos funcionários e a situação em si, clima organizacional, grupo de trabalho, pressão do tempo. Sendo uma liderança com a ênfase na tarefa (produção) caracterizando como um estilo de liderança preocupado estritamente com execução da tarefa e com os resultados (VALENTE, 2010). A liderança, tanto como a maioria dos processos organizacionais da empresa é baseada principalmente na família, ou seja uma liderança mais tradicional, levandose em conta os relacionamentos. “Na direção, mais na liderança tradicional, natureza familiar. Ela leva em consideração o relacionamento” (Gerente de RH). Torna-se importante destacar os impactos do processo de liderança dentro da organização, a partir dos relatos verifica-se que a liderança possui um papel durante o dia-a-dia da organização com uma relação mais funcional, para que as metas e os objetivos sejam alcançados. “Motivação, o mais importante é você conseguir conciliar todos, a visão de cada um para chegar no mesmo objetivo, cada um pensa de um jeito ele não sabe da situação como um todo assim, então ele pensa de um jeito diferente, fechado” (Diretor). “Pra fazer a empresa funciona, como é uma liderança funcional, não existe aquela coisa motivacional, fica na parte funcional. Vejo pelo lado ruim da coisa, se o cara é o líder, o chefe de setor, o gerente, ele faz o que ele tem que fazer sempre” (Assistente de diretoria). Com relato observamos que a liderança tem seu principal aspecto no alcance dos objetivos, a partir da interação de todos. Assim podemos destacar que a liderança possui uma grande ligação com os demais processos existentes dentro da empresa. Quanto à relação com a comunicação evidencia-se a informalidade e a interação como forma de redução de conflitos, a tomada de decisão atrelada à centralização e a tradição da família e as relações de poder estão vinculada as bases e fontes de poder dos indivíduos. Na empresa em estudo deve-se se tentar fundamentar o significado principal do processo de liderança que é o atingir as metas, dentro de uma visão sistêmica, evidenciando o papel de cada um dentro do processo. 13 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo dos processos de liderança e estruturas de poder torna-se um passo importante para o desenvolvimento das organizações e também das pesquisas de administração. Na atual perspectiva da administração se discute muito a questão do clima organizacional, nessa questão se envolve o planejamento estratégico, a cultura das organizações, liderança e poder. Assim para a organização que foi objeto de estudo, torna-se evidente a importância de adequar o seu planejamento estratégico aos seus processos de liderança e poder, tendo como foco o bem estar coletivo, para que a postura desses gestores seja verdadeira de um líder. Os colaboradores da organização estudada têm a visão definida de líder em cima da família como detentora de capital, caracterizados como liderados mercenários (MAXIMIANO, 2000), possuindo interesse nas recompensas materiais e psicológicos, conforme Etzioni (1978) os interesses dos trabalhadores é a realização da missão, classificada como missão calculista, missão da qual traz aos seguidores recompensa de cunho psicológico e material. Numa visão coletiva, a organização em estudo necessita difundir dentro dos seus colaboradores, a principal missão que a organização tem, não deixando de lado o interesse coletivo, tentado alcançar aos colaboradores um sentimento de pertencer à organização, como componente valioso dentro do trabalho, que conforme Litwin e Stringer (1968) nos oferece como fator principal do processo de liderança, a identidade. Nessa mesma linha existem outros pesquisadores de clima organizacional que trabalham com indicadores de liderança, sendo eles Kolb (1986) também traz a identidade como fator, mas trabalha diretamente como a o indicador liderança, onde os membros possuem a disposição de aceitar a liderança, e quando a uma necessidade de liderança os mesmos notam a liberdade para assumir e são recompensados pelo sucesso, e Sbragia (1983), traz como fator de destaque ligado a liderança, a ênfase na participação e a supervisão. O poder surge como forma de influenciar o comportamento das pessoas, esses dois processos, a liderança e o poder devem caminhar juntos, estabelecendo relações diretas, tanto num aspecto de controle e envolvimento, para que a organização consiga a construção desse mundo para seus trabalhadores, deixando dela a ênfase na tarefa, despreocupando-se exclusivamente com o trabalho, e sim nas pessoas, procurando manter grupo de trabalho atuante, com maior participação 14 e envolvimento, preocupando-se mais com as metas do que com os métodos, sem despreocupar-se do nível de desempenho desejado (VALENTE, 2010) 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Luis César G. Organização, Sistemas e Métodos e as Tecnologias de Gestão Organizacional: arquitetura organizacional, benchmarking, empowerment, gestão pela qualidade total, reengenharia. São Paulo: Atlas, 2008. BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Correâ. Metodologias de pesquisa em ciências: análises quantitativa e qualitativa. 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