A SUCESSÃO DE LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS Beno Reicher Que relação se pode fazer entre a sucessão de liderança nas organizações sociais sem fins lucrativos e nas empresas familiares? Estes dois tipos de organizações têm muito em comum, mas também muitas diferenças que afetarão as relações de poder nelas existentes. Para iniciar as comparações entre estes dois tipos de organizações, tomemos como exemplo uma organização social sem finalidade lucrativa, seja sob forma de associação ou fundação, que já exista há certo tempo. Esta entidade possui missão e princípios bem definidos assim como a área de atuação. Todas as pessoas que desejarem apoiar e colaborar com a organização poderão se tornar associados ou voluntários, em concordância com o estatuto social e o regimento interno da instituição. Estas pessoas o fazem por livre e espontânea vontade. Muito provavelmente, antes de associar-se, elas terão contato com esta iniciativa social através de visita à entidade, da busca de informações na Internet e no centro de voluntariado da cidade e através de outras formas. Esta experimentação e busca de conhecimentos possibilita conhecer a causa, ver se há identificação com a missão e com princípios da organização, se há identificação com a forma de intervenção da entidade social. De nada adianta ter afinidade com a causa em questão mas não estar alinhado com os princípios da entidade e de seus associados. O mesmo não acontece com os membros de uma família empresária que sejam filhos ou netos do fundador da empresa. Eles não escolheram seus sócios, não optaram por ter seus familiares como sócios. Eles nasceram nesta condição. Na obra Doze Dragões em luta contra as iniciativas sociais de Lex Bos, traduzida para o português em 1994, o autor trata de uma série de ameaças às iniciativas sociais às quais denomina de dragões. De acordo com o autor, as pessoas não alinham seus pensamentos no início das iniciativas sociais e depois de certo tempo deparam-se com pensamentos muito antagônicos. Neste momento, a iniciativa social está enfrentando o dragão desintegrador. O autor comenta que a questão a que se tem que responder neste caso é se todas estas correntes de pensamento se suportam mutuamente. O dragão desintegrador é uma grande ameaça tanto para as famílias empresárias quanto para as iniciativas sociais. Nas iniciativas sociais, onde as pessoas têm liberdade de escolher se aderem ou não às causas, quando diferentes correntes de pensamento não se suportam mutuamente, a liberdade para se retirar da iniciativa social é maior. Desta forma, a cisão ou abandono de pessoas às causas é menos maléfica nas iniciativas sociais que nas famílias empresárias pela dimensão patrimônio. Cada acionista é dono de parte do patrimônio da empresa. Se o convívio tornar-se insuportável, poderá gerar cisões e vendas entre os sócios. Isto reduzirá o patrimônio da empresa deixando-a em uma situação vulnerável. Também é importante ressaltar que, quando a convivência torna-se insuportável, as transações comerciais advindas da ruptura podem ser feitas às pressas, gerando danos aos acionistas pela venda do patrimônio a preços abaixo do valor de mercado. É sempre melhor vender um patrimônio quando a necessidade por liquidez não é tão imprescindível naquele momento. Seja como membro de uma família empresária, empreendedor social, voluntário ou associado à uma iniciativa social, previna-se contra o dragão desintegrador. Apesar da dimensão patrimônio, a prevenção contra este dragão é a mesma. Tente estabelecer uma visão comum sobre a empresa ou sobre a iniciativa social, estabeleça uma carta de princípios que contemple os valores de todos os acionistas ou associados, enfim uma boa conversa pode resolver tudo. Mas tenha sempre em mente que, em muitos casos, seja em iniciativas sociais ou empresas familiares, idéias muito opostas não conseguem conviver mutuamente. Neste caso, rompa, divida, separe, venda antes que o dragão devore a todos junto com suas idéias, valores, vínculos e relações. Beno Reicher é Bacharel em Administração formado pela Universidade Federal do Paraná em 2002, membro e fundador da Associação Organização Vida e Oportunidade – OVO, atua como consultor para empresas na área de responsabilidade social e é colaborador do NITS – Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Terceiro Setor da UFPR.