EXTERNALIDADES LOCACIONAIS E DINÂMICA DA INOVAÇÃO: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA PARA A INDÚSTRIA CATARINENSE Pablo Felipe Bittencourt1 Resumo: Este trabalho apresenta as estruturas industriais locais catarinenses e procura identificar a relação existente entre características estruturais locacionais (potencial de ocorrência de externalidades) e processos locais de aprendizagem, sob o auxílio do referêncial teórico evolucionário/neoschumpeteriano sobre o comportamento da firmas. Quatro passos metodológicos foram necessários para cumprir esse objetivo: i) desenvolveu-se metodologia para a identificação das estruturas produtivas locais, ii) desenvolveu-se metodologia para a identificação da presença de externalidades locacionais, iii) foram analisados dados de tabulação especial dos dados da PINTEC/IBGE sobre os processos locais de aprendizagem e vi) aplicou-se uma técnica de cluster da análise estatística multivariada para o agrupamento de casos, nos quais, os processos de aprendizagem se apresentassem mais semelhantes. Os resultados apontam alta correlação entre potencial de aproveitamento de externalidades locacionais de dinamismo nos processos de aprendizagem e desempenho inovador local e processos locais virtuosos de aprendizagem. Palavras Chaves: Economia do Aprendizado, Inovação Tecnológica, Indústria Catarinense ÀREA: 8 Economia Regional e Urbana 1 Professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC. 1 INTRODUÇÃO Com o advento da economia baseada do conhecimento, o aprendizado passou a desempenhar papel central no desenvolvimento econômico. O conhecimento passou a ser um insumo importante no processo inovativo e a sua criação interna por parte das firmas vem se tornando a principal fonte de competitividade. Neste contexto tem se ampliado a relevância do papel das interações das firmas com universidades, centros tecnológicos, fornecedores, concorrentes, clientes, firmas de consultoria entre outras fontes de novos conhecimentos. Contudo, a absorção desses conhecimentos pela firma não ocorrem de forma espontânea. Para que as firmas sejam capazes de aproveitar o conhecimento gerado fora de seus muros é imperativo o desenvolvimento de capacitações internas, que nem sempre estão formalizadas em laboratórios internos de P&D. O conhecimento de trabalhadores do chão-defábrica, dos técnicos de produção, dos técnicos de administração em geral, das diretorias e gerencias e suas redes de relacionamentos - internas e externas à firma - importam aos processos de aprendizados da firma e sua capacidade de inovar. Considerando os elementos externos a firma como relevantes a seu processo de inovações, destaca-se a localização da empresa como elemento que importa a seu sucesso. A dimensão locacional dos processos de inovação têm ganhado importância crescente da literatura, em virtude dos os diferenciais regionais que marcam o sistema nacional de inovações brasileiro. Utilizando-se de derivações desse esforço metodológico, esse trabalho procura avançar na compreensão da relações existentes entre: externalidades locais e a dinâmicas de inovação de empresas inseridas em aglomerações produtivas do Estado de Santa Catarina. O trabalho está quatro seções além dessa introdutória. Na seqüência apresenta-se brevemente o referencial teórico analítico. A seção dois apresenta a metodologia aplicada para o mapeamento da estruturas locais catarinenses. A seguinte apresenta as dinâmicas locacionais de aprendizagem e sua relação com as externalidades locacionais. A última seção é conclusiva. 1.REFERENCIAL TEÓRICO/ANALÍTICO A literatura neoschumpeteriana tem enfatizado a busca de conhecimentos gerados fora da firma como elemento central das estratégias de capacitação, diferenciação e 2 competitividade das firmas, por ampliar suas oportunidades de aprendizagem. A perspectiva analítica que se deriva dessa corrente de pensamento enfatiza a dinâmica de inovação da firma como dependente do “ambiente” em que ela opera. A localização da empresa e os recursos disponíveis a seu redor importam a capacidade de aprender e inovar. O início do debate sobre o papel da concentração espacial na difusão de conhecimentos e informações não é recente, desde Marshall (1988) a localização da firma vem sendo observada como espaço de vantagens competitivas para o desenvolvimento da produção. O autor enfatizou as “externalidades locais” provenientes de três fontes: do mercado local de mão-de-obra especializada; da provisão de uma variedade de insumos específicos para a indústria a custo baixo e de maquinário altamente especializado; e do que atualmente se denomina de externalidades tecnológicas1. Entre as vantagens locacionais destacou, por exemplo, a atualização do conhecimento específico propiciada pela manutenção de um especialista, que só era viável financeiramente no conjunto das empresas e a viabilidade do pagamento de propagandas. A essa forma localizada de organização produtiva denominou-se “distrito industrial”. Posteriormente emergiu na Itália o conceito de “distrito industrial Marshalliano” que sintetizava o sucesso das experiências das aglomerações locais da região norte do país. Para Storper (1997,a), o conceito ao mesmo tempo que centraliza as características econômicas (externalidades da divisão do trabalho) fornece suporte sociocultural e histórico para compreensão das interações entre as empresas no distrito industrial. A inspiração analítica dos distritos industriais italianos estimulou novas investigações sobre as dinâmicas industriais concentradas geograficamente, principalmente de MPE’s inseridas em aglomerações produtivas setorialmente especializadas2. Contudo, em países de industrialização retardatária o tratamento de aglomerações esteve historicamente relegado ao segundo plano (Lemos et.al. 2003). Tal constatação é especialmente relevante para países com amplas dimensões territoriais como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, México e Argentina, cujas aglomerações produtivas são frequentes. Um dos principais esforços de teorização sobre a realidade brasileira cristalizou-se conceitos de arranjos produtivos locais (APL’s) A denominação APL procura captar um conjunto de aglomerações de firmas localizadas em ambientes periféricos não inclusas nas formas abstratas seguidas pela literatura internacional de: sistemas locais de inovação, distritos industriais ou millieu innovativos. Não 1 Marshall denominou de ‘aptidão tecnológica’ as trocas de conhecimento tácito e codificável, de experiências, de idéias e invenções que dependiam da proximidade. 2 De fato a “re-introdução” do espaço local como unidade analítica não é fruto de “esquecimento” geral dos teóricos econômicos . Mas do “esquecimento” do mainstream. Martin (1999) 3 são vistos como aglomerações em estágio inferior de desenvolvimento, mas como produto do processo histórico de construção do sistema nacional de inovações e de suas particularidades sócio-econômicas locais. Um dos principais resultados dos esforços empíricos empreendidos nessa linha de pesquisa tem sido a confirmação dos processos locais de aprendizagem como relacionamentos capazes de transferir conhecimento de caráter tácito. Em outras palavras, a difusão desse tipo de conhecimento encontra terreno fértil em espaços geográficos menores, pois há maior “vazamento” de conhecimento entre organizações locais, especialmente naqueles locais com elevado grau de coerência ou “orientação interna” comum, de maneira que, estejam estimuladas práticas cooperativas entre organizações responsáveis pelo desenvolvimento de inovações na região. Nos espaços em que as instituições3 cumprem seu papel de redutoras das incertezas, ou, em que “há um elevado grau de coerência interna” restrições a todo sistema nacional de inovações, como a elevação da taxa básica de juros, por exemplo, teriam impactos menos dolorosos. Esse diferencial nas características estruturais dos APL’s é observado também por Lemos, et. al. (2003), ao afirmar que APL’s baseados em MPE’s estariam institucionalmente mais vulneráveis do que aqueles APL’s dotados de grandes firmas. Isso por que, a característica de tomadoras de preços das firmas inseridas nos primeiros restringem o espaço para coordenações via preço no caso de oscilações internacionais, sobretudo quando os APL’s são baseados em cadeias internacionais de comodities. Já a presença de grandes firmas formadoras do preço final, que competem em mercados mais oligopolizados, torna a coordenação do impacto à montante mais plausível, ajustando-o a toda a cadeia produtiva, de maneira a tornar o impacto menos impeditivo de novas reações. Adicionalmente, a presença de grandes firmas competidoras internacionais em APL’s estimularia capacitações de seus fornecedores locais através de aprendizagem interativa vertical, típica da relação produtorusuário. Entretanto, a simples presença de grandes empresas no interior das aglomerações não é suficiente para compreender formas particulares de aprendizagem teoricamente derivadas das características das estruturas produtivas. Diversos fatores influenciam a dinâmica de 3 Na abordagem evolucionista, as instituições são tratadas sob o prisma da mudança técnica e do processo de inovações. Edquist e Johnson (1997) procuram definir um conceito que considere o papel da interação no processo de inovação e assim compreendem as instituições como “um conjunto de hábitos comuns, rotinas, práticas estabelecidas, regras, normas ou leis que regulam as relações e interações entre indivíduos e grupos” (EDQUIST e JOHNSON, 1997, p.46). Abordagem deriva da concepção de North (1977) que utiliza o conceito de instituições enquanto o aparato de regras e convenções de coordenação da atividade econômica. 4 interações locais, alguns de alta subjetividade, como a identidade cultural dos agentes envolvidos nas inter-relações por “azeitar” ou não mecanismos de interação e cooperação. Lemos et. al (2003) enfatizam quatro tipos de externalidades locacionais: schumpeterianas, marshalianas, transacionais e jacobianas. As schumpeterianas podem ser caracterizadas como transbordamentos tecnológicos advindos de relacionamentos tácitos intencionais ou não e de mecanismos formais de ação conjunta. As externalidades marshalianas, se cristalizam nos ganhos advindos das formas de organização da produção no ambiente local especializado. A literatura especializada enfatiza pelo menos dois tipos, as pecuniárias advindas da consolidação de relacionamentos verticais entre produtores e usuários, por exemplo e spillovers de conhecimento relevante possibilitados pela mobilidade da mão de obra. Linhares, 2007, Lemos et. al. 2005) As externalidades transacionais, realizam-se via economias dos custos de transação externas à firma e internas ao aglomerado, como por exemplo na coordenação de relações hierárquicas envolvendo ativos específicos. As aglomerações auxiliam a coordenação dessas atividades, pois estimulam relações face à face e o estabelecimento de confiança mútua entre os agentes. Tais relacionamentos são mais relevantes quando os ativos envolvem altos padrões de qualidade. As externalidades jacobianas, derivam da urbanização4 e sua dinâmica de reprodução responde à escala de qualidade da aglomeração urbana, envolvendo-se ativos específicos, que ultrapassam os contornos da aglomeração. A escala e a qualidade da urbanização são capazes de criar, por exemplo, serviços urbanos financeiros de melhor qualidade (Lemos et. al. 2005). Mais do que isso, a rede de relacionamentos formais e informais capaz de estimular comportamentos inovadores pode ser propiciada pela existência do meio urbano. Trata-se do “burburinho das cidades” salientado por Storper e Venables, (2005) quando analisavam a matriz indutora de transbordamentos tecnológicos em escala local. Storper e Venables, 2005, pp.28 citado por Linhares, 2007) Naturalmente, as interações podem assumir diferentes formas. Envolvendo a cadeia produtiva via fornecedores, subcontratados, compradores e traders, mas também, podendo envolver concorrentes, via ações conjuntas de marqueting ou compras conjuntas, por exemplo. As formas de cooperação podem envolver projetos conjuntos estimulados por associações locais de representatividade, como sindicatos patronais ou associações industriais, envolvendo institutos locais de desenvolvimento tecnológico, entidades governamentais de crédito, educacionais etc e as firmas interessadas. Os diferenciais de desempenhos resultantes 4 Todos os APL’s localizados no mesmo espaço urbano se beneficiariam das externalidades jacobianas. Haveriam também efeitos indiretos aos espaços contíguos combinados. 5 desses tipos de interações podem ser altamente dinâmicos, acelerando o processo de aprendizagem das firmas e o progresso técnico, ou apenas estáticos (marshallinanos) marcados pelo aumento da eficiência econômica vindos da especialização dos agentes5. Quanto maior a capacidade da configuração institucional local de estimular relacionamentos entre os agentes contatos face-a-face maiores as possibilidades de desenvolverem-se sistemas locais de produção virtuosos, marcados pela aceleração dos processos de aprendizagem e inovação. O foco no caso catarinense é bastante simbólico das diversidades de possibilidades a serem testadas, uma vez que o processo de desenvolvimento industrial do Estado ocorreu com fortes desigualdades sociais e regionais, que são, pelo menos parte da explicação das diferentes formas de aprendizagem pelas quais se produz ou reproduz a mudança técnica. O desenvolvimento de instituições formais e informais6 respeita condicionantes históricos imigratórios e geográficos da infra-estrutura de C&T e recursos naturais, por exemplo, que justificam a necessidade de investigar e comparar características distintas das estruturas produtivas dos APL’s catarinenses – doravante denominadas bases produtivas para APL’s -, de maneira que instruções normativas futuras possam contemplar semelhanças e distinções presentes nas dinâmicas regionais de produção e inovação da indústria catarinense. Com base nesse referencial o trabalho investiga a relação entre a potencial presença de diferentes tipos externalidades locais e a dinâmica de aprendizagem e inovação de firmas inovadoras inseridas em aglomerações produtivas típicas de APL’s catarinenses. 2 O MODELO DE ANÁLISE 2.1. A identificação das bases produtivas locais O primeiro procedimento metodológico busca identificar bases produtivas capazes de sustentar APL’s. Com base em Suzigan et. al. (2004) e Britto e Albuquerque (2001), Crocco et.al. (2003) e Bittencourt e Campos (2009) cinco procedimentos foram aplicados. Primeiramente, calculou-se o coeficiente locacional do emprego. Um coeficiente maior do que “1” indica que a base produtiva em questão apresenta maior concentração do emprego em relação à ao total do emprego do estado no setor. Neste trabalho, os espaços locais são definidos pelas microrregiões geográficas homogenias do IBGE e a divisão/CNAE foi a referência para as análises setoriais, esse corte privilegia a busca de bases produtivas mais amplas do que poder-se ia encontrar caso fossem 5 Conforme Marshall (1980), “Great are the advantages which people following the same skilled trade get from near neighborhood to one another. The mysteries of the trade become no mysteries, but are, asiIt were, in the air…”. 6 Parte das análises sistêmicas 6 utilizadas maiores desagregações, como a classe/CNAE por exemplo, evitando, a não captura de firmas que seriam importantes para a formação e desenvolvimento da estrutura produtiva setorial local. Não obstante, a análise ao nível da classe/CNAE e do município tenha sido realizada, enfatizando-se possíveis externalidades, como será visto a seguir. Utilizou-se p Ql da seguinte forma: QL= (EMP divisão i na mic./EMP microrregião j) / (total do EMP na divisão i no Estado/ total do EMP do Estado) O segundo procedimento trata de excluir concentrações produtivas de restrita significância do volume de empregos gerados no Estado naquela divisão/CNAE. O critério mínimo do coeficiente de especialização > 1 foi combinado ao mínimo de participação no total de empregados de seu setor industrial, maior do que 2,5% do total do Estado. Com isso, identificaram-se 103 concentrações industriais nas 25 divisões/CNAE consideradas7, localizadas em 18 das 20 microrregiões possíveis. No terceiro procedimento agruparam-se as divisões/CNAE com atividades industriais relacionadas. Dez setores diferentes de atividades industriais8.foram formados. A partir da observância dos VTI’s dos setores, juntamente com as possibilidades de complementaridade com outras atividades industriais concentradas, decidiu-se pela exclusão das divisões/CNAE de “coque e refino de petróleo”, que apresentou uma concentração local e as atividades ligadas à “reciclagem” com “7 concentrações locais’. Além desses, os setores de papel e celulose, com 7 concentrações e de alimentos9 e bebidas com “6 concentrações locais” foram excluídos, por se tratar de indústrias com processo produtivo bastante verticalizado e internalizado tradicionalmente por grandes empresas, ou seja, não apresenta tendência formação de arranjos produtivos locais. Restaram, portanto, 88 concentrações produtivas, em 22 divisões/CNAE de produção, que agregadas por atividades relacionadas formaram 9 setores produtivos, por sua vez, objeto dos próximos procedimentos. Nos dois últimos procedimentos, procurou-se considerar as características dos processos produtivos setoriais, para definir os parâmetros mínimos para a seleção final. Partindo da agregação das divisões/CNAE, observou-se em cada microrregião e setor os seguintes critérios: a) possuir algum grau de importância para região, medido pelo número de 7 Nessa primeira fase foram consideradas todas as divisões/CNAE CNAE relacionadas à transformação industrial, além da divisão 72 de Atividades de Informática e da divisão 02 de Pesca, aqüicultura e serviços relacionados. 8 Além disso, formou-se um 11º denominado “outras atividades industriais”. As concentrações encontradas nas divisões/CNAE de “edição, impressão e reprodução de gravações”, e “as atividades do fumo” estão inclusas nessa classificação e não serão parte de análise mais profunda, neste artigo, por contarem com Valores de Transformação Industrial excessivamente reduzidos. 9 Neste caso apenas atividades relacionadas ao beneficiamento de pescado foram consideradas em virtude da suas possíveis ligações com o setor de serviço de extração do pescado. 7 emprego do setor em relação ao total de emprego na microrregião, e b) apresentar densidade de empresas do setor na microrregião. Foram considerados níveis diferenciados para dois grupos de setores: a) no caso dos produtores de bens de consumo, (móveis, madeira e papel e celulose, cerâmica, têxtilconfecções, couro-calçados e alimentos), caracterizados pelo uso intensivo de mão-de-obra nos processos de produção, definiu-se participação mínima do emprego no total na microrregião de 1,5% e o mínimo de 25 empresas; b) No caso dos produtores de insumos e bens de capital (metal-mecânico, plástico e borracha, atividades de informática e produtos químicos): a participação do emprego no total da microrregião deveria ser superior a 0,6% combinados a um número mínimo de 50 empresas. O resultado contempla 33 bases produtivas catarinenses, que podem sustentar arranjos produtivos locais, em 9 setores industriais localizadas em 15 microrregiões. 2.2. Indicadores das Externalidades Locacionais Para a investigação da potencial magnitude das externalidades transacionais, considerou a presença de firmas de grande porte na base produtiva. As magnitudes são mostradas no quadro a seguir. Número de firmas de grande 0 (zero) 1-3 4-7 porte Classificação restritíssima restrita moderadas Quadro 1: Potencial de ocorrência de externalidades transacionais Fonte: o autor. >7 consistentes A definição da potencial magnitude das externalidades jacobianas é investigado via percentual do PIB dos municípios contíguos que concentram a produção local, conforme o Quadro 2. PIB dos municípios contíguos (%) 0 -1,9 2- 4,9 5 - 9,9 >10 PIB SC (%) Classificação restritíssima Restrita moderadas consistentes Quadro 2: Potencial de ocorrência de externalidades jacobianas As externalidades marshalianas foram analisadas com duas variáveis, a densidade de firmas e a amplitude setorial da produção (quadros 3 e 4). Densidade de firmas < 100 100 - 299 300 - 499 Classificação restritíssima restrita moderada Quadro 3: Potencial de ocorrência de externalidades marshalianas 500-999 > 1000 consistente superiores 8 Amplitude da produção10 Especializada Pouco diversificada 2 Diversificada Número de classes/CNAE na(s) divisão 1 (ões) CNAE do setor Classificação restrita moderada Quadro 4: Potencial de ocorrência de externalidades marshalianas 3 ou mais consistente Finalmente, na quinta seção, partir da aplicação de procedimentos relacionados à Análise Estatística Multivariada11, far-se-á uma análise da dinâmica tecnológica das empresas, alocadas no interior das bases produtivas identificadas, que implementaram algum tipo de inovação no período, no que se refere a (i) seus esforços a atividade inovativa, (ii) as fontes de informações utilizadas e (iii) às estratégias de cooperação usadas, considerando 9 aglomerações selecionadas. Utilizou-se a base de dados da PINTEC12/IBGE 2003 da qual foram aproveitadas mais de 20 variáveis. 3. AS BASES PRODUTIVAS CATARINENSES PARA ARRANJO PRODUTIVOS LOCAIS 3.1 O Potencial de Ocorrência de Externalidades Locacionais A partir da identificação e classificação do potencial de ocorrência de externalidades locais, nesta seção, serão transformados os atributos qualitativos da classificação (restrito, moderado. etc.) em atributos quantitativos, de modo que a soma dos três tipos de externalidades analisadas se traduza num indicador global do potencial de aproveitamento de externalidades locais pelas firmas que serão denominadas “Indicador do Potencial de Aproveitamento de Externalidades” (IPAE). Corresponde ao atributo “restrito” o valor 1; ao atributo “moderado”, o valor 2; ao atributo consistente, o valor 3; ao atributo superior, o valor 4, e considerou-se nulo o potencial de ocorrência de externalidades quando se classificou “restritíssimo” em determinado caso. Nos casos de externalidades marshalianas, indicaram-se potencial “restritivo a moderado”, “moderado a superior”, etc. Utilizaram-se mais uma casa decimal para a valoração, tendo-se 1,5 e 2,5, respectivamente. O quadro seguinte resume o potencial de ocorrência de externalidades locais nas bases produtivas para APL’s identificadas em Santa Catarina. As 33 bases foram divididas em quatro grupos, segundo o nível de restrições locais ao aproveitamento das possíveis externalidades locais, calculado pelo IPAE. 10 Essas classificações não se aplicam às bases produtivas dos setores têxtil/vestuarista e eletro-metal-mecânico que seguem uma classificação específica indicada em nota de rodapé oportuna. 11 Ver capítulo 5. 12 Pesquisa de Inovação Tecnológica do Instituto Brasileiro de geografia e Estatística 9 Base Produtiva Potencial de ocorrência de tipos de externalidades locais Marshalianas Transacionais Jacobianas consistente/superior consistente consistente consistente/superior consistente consistente Consistente moderado consistente Moderado moderado consistente Moderado moderado moderado Moderado restrito consistente Têxtil - Blumenau EMM* - Joinville Têxtil - Joinville Plástico - Joinville EMM - Blumenau Informática Florianópolis Químico - Moderado Joinville Informática restrito/moderado Joinville Madeireiro – moderado/consistente Canoinhas Alimentos Itajaí restrito/ moderado Cerâmica branca - restrito/moderado Sul Catararinense Moveleira São Moderado Bento do Sul Moveleiro Oeste moderado/consistent Madereiro Joaçaba restrito/moderado Químico Criciúma restrito/moderado Informática Restrito/moderado Blumenau EMM Rio do Sul Restrito/moderado Madeireiro Lages Restrito Plástico Sul Restrito Cerâmica Restrita Vermelha Sul Catarinense Móveis Rio do Sul Restrito/moderado EMM Criciúma Restrito-moderado EMM Chapecó Restrito Madeirero Restrito Curitibanos Madereiro Rio do Restrito/moderado Sul Cerâmico Rio do Restrito/moderado Sul Cerâmico Tijucas Restrito Calçadista Tijucas Restrito Calçadista Restrito Araranguá Movelerio Restritíssimo/restrit Araranguá Quadro 5: Classificação geral das bases produtivas Externalidades (IPAE) *Eletro-Metal-Mecânico Fonte:Elaboração própria IPAE 9,5 9,5 8 7 6 6 restrito consistente 5 restritíssimo consistente 4,5 restrito restrito 4,5 restrito restrito moderado moderado 4,5 4,5 restrito restrito 4 Alto Moderado Baixo restritíssimo restrito restrito restritíssimo restrito restrito restrito moderado 3,5 3,5 3,5 3,5 restrito restrito restrito restritísima restrito restrito restrito moderada 3,5 3 3 3 restrito restritíssimo Restritíssimo restrito restritíssimo restrito restrito restritíssimo 2,5 2,5 2 2 restritíssimo restritíssimo 1,5 restritíssimo restritíssimo 1,5 restritíssimo restritíssimo restritíssimo restritíssimo restritíssimo restritíssimo 1 1 1 restritíssimo restritíssimo 0,5 Muito Baixo catarinenses, segundo o Indicador do Potencial de Aproveitamento de No grupo com menores restrições ao aproveitamento de externalidades locais pelas firmas da base produtiva, estariam os casos nos quais o IPAE estivesse entre 8,5 e 9,5. Apenas as tradicionais bases produtivas catarinenses do setor eletro-metal-mecânico de Joinville e de produtos têxtil e de confecções de Blumenau, com IPAE’s de 9,5, estão nesse grupo. Em 10 outras palavras, representamo mais alto potencial no território catarinense ao aproveitamento de ganhos tecnológicos e pecuniários vindos das externalidades locais analisadas. No segundo grupo, com nível moderado de restrições ao aproveitamento de externalidades, estariam os casos em que o IPAE variou entre 5 e 8. Nas outras três bases produtivas localizadas em Joinville, dos setores de borracha e plástico, química e têxtil, agruparam-se com a base produtiva eletro-metal-mecânica de Blumenau e a de informática de Florianópolis. As externalidades transacionais e marshalianas são menos prováveis nesses casos do que no primeiro agrupamento, ou seja, existem diferenciais relevantes de densidade e no número de firmas de grande porte em seus interiores. De modo geral, o terceiro grupo, com elevado nível de restrições ao aproveitamento das externalidades locais, agrupou bases produtivas localizadas em centros urbanos de porte inferior àqueles das bases produtivas dos grupos já analisados. O potencial de ganhos via governança local também é restrito, não havendo grandes firmas em 1/3 dos casos agrupados. O grupo é formado pelas bases produtivas de informática em Joinville, madeira em Canoinhas, alimentos em Itajaí, cerâmica de revestimento em Criciúma, móveis em São Bento do Sul, moveleiro no Extremo-Oeste, madeira em Joaçaba, químico em Criciúma, informática em Blumenau, metal-mecânico em Rio do Sul, madeira em Lages, plástico no Sul, cerâmica estrutural em Criciúma, moveleiro em Rio do Sul e metal-mecânico em Criciúma. O quarto grupo é formado por bases produtivas com grau muito elevado de restrições ao aproveitamento de externalidades. Observou-se a localização das firmas em centros urbanos com participação do PIB do estado inferior a 1,9% e a ausência de firmas de grande porte. Além da base produtiva eletro-metal-mecânica de Chapecó e das firmas do setor madeireiro aglomeradas em Curitibanos, esse agrupamento é formado pelas bases produtivas de produtos de madeira e cerâmica estrutural localizadas em Rio do Sul, pelas bases produtivas de cerâmica estrutural e calçadista localizadas em Tijucas e pelas bases produtivas calçadista e moveleira localizadas em Araranguá. Analisadas as características estruturais das bases produtivas para arranjos produtivos locais, serão analisados, na próxima seção, os diferenciais que marcam os processos de aprendizagem das firmas inseridas nessas aglomerações. 4. PROCESSOS LOCAIS DE APRENDIZAGEM NA INDÚSTRIA CATARINENSE O objetivo geral desta seção é analisar os aspectos particulares dos processos locais de aprendizagem das firmas inseridas em aglomerações produtivas catarinenses e relacioná-los a potencial presença de externalidades locais, a partir do IPAE. 11 Para isso, foi solicitada uma tabulação especial dos dados da PINTEC, referentes aos dispêndios em atividades de inovação, às fontes de informação e às formas de cooperação utilizadas pelas firmas inovadoras inseridas nas 33 bases produtivas identificadas na seção anterior. As tabulações especiais solicitadas não possibilitaram informações que correspondessem exatamente as mesmas 33 bases industriais identificadas, pois a agregação dos dados no nível de microrregiões e de setores industriais para o estado de Santa Catarina, como seria desejável, gerava informações que, pelas características da amostra nacional da PINTEC/IBGE13, não possuíam estatística significativa naquele nível de agregação. Procedeuse assim a agregação de informações de empresas inovadoras localizadas em microrregiões contíguas para que houvesse alguma consistência no número de casos analisados. As agregações feitas levam em conta o ambiente no qual estão inseridas as bases produtivas, mas não o conjunto exclusivo das empresas situadas dentro das bases produtivas, como seria ideal. Ainda assim as agregações são bastante satisfatórias. As informações de apenas 11 das 33 bases produtivas foram consideradas significativas estatisticamente. As dinâmicas locais de inovação foram investigadas por meio de três grupos de variáveis. São elas: Os gastos em atividades de inovação, as fontes de informação utilizadas no processo de inovações e as formas de cooperação utilizadas para a inovação. O indicador do gasto das empresas inovadoras locais é o “gasto médio”, ou seja o valor total despendido dividido pelo número de empresas que despenderam. Nos outros casos, os atributos qualitativos: alta, média, baixa e sem importância, conferidos pelas empresas, foram transformados em atributos quantitativos e substituídos pelas importâncias: 0; 0,3; 0,6 e 1, respectivamente. A seguir informamos os tipos de gastos em inovação, as fontes de informação utilizadas no processo e as formas de cooperação a) Gastos médios com P&D externos à empresa14: procura avaliar o esforço das firmas inovadoras na aquisição de P&D externos e de outros conhecimentos externos. b) Gastos médios com P&D internos à empresa: avalia os esforços de inovação das bases produtivas a partir dos departamentos internos de P&D de suas firmas. 13 A PINTEC/IBGE considera apenas firmas com mais de dez empregados, enquanto nos dados considerados até aqui se observaram todas as empresas com um ou mais empregados. Entretanto, tabulando os dados da Rais/MTE apenas com mais de dez empregados, os números de estabelecimentos aproximam-se muito daquelas da PINTEC. 14 As atividades de aquisição de outros conhecimentos externos compreendem os acordos e transferências de tecnologia originados da compra de licença de direitos e exploração de patentes e uso de marcas, aquisição de know-how, software e outros tipos de conhecimento técnico-científicos de terceiros, para que a empresa desenvolva ou implemente inovações (PINTEC, 2003). 12 c) Gastos médios na aquisição de máquinas e equipamentos: procura-se avaliar o esforço de atualização tecnológica associado à aquisição de máquinas e equipamentos, caso sejam ligados diretamente ao melhoramento de processos; d) Gastos médios com treinamento: avalia-se o esforço de treinamento dos recursos humanos para o desenvolvimento da inovação, não incluindo gastos com o treinamento para uso de máquinas ou equipamentos novos; e) Gastos médios com a introdução da inovação: avalia-se o esforço médio de comercialização, da introdução do produto ou processo novo do mercado; f) Gastos médios internos no desenvolvimento de projetos industriais e outras preparações técnicas: avalia os gastos internos com plantas, desenhos industriais finais, mudança em procedimentos de produção, controle de qualidade, métodos e padrões de trabalhos necessários à implementação da inovação. Com relação as fontes de informação investigou-se: a) Importância do departamento de P&D e outras áreas internas: agregam-se as variáveis “departamento de P&D da empresa” e “outras áreas da empresa”, que correspondem à avaliação da importância atribuída ao uso das competências internas das firmas em seus processos de aprendizagem. b) Importância das fontes educacionais e de pesquisa: avalia-se a relevância atribuída pelas empresas às informações obtidas em universidades e centros de capacitação em seus processos de aprendizagem; c) Importância de outras fontes externas: avalia-se a relevância atribuída pelas empresas à obtenção de informações em fontes, como licenças e patentes, conferências e encontros, publicações especializadas e internet em seus processos de aprendizagem; d) Importância das fontes verticais: avalia-se a relevância atribuída pelas empresas às informações obtidas dos fornecedores e clientes em seus processos de aprendizagem; e) Importância de consultorias: avalia-se a relevância atribuída pelas firmas inovadoras às informações obtidas de firmas de consultoria e consultores independentes em seus processos de aprendizagem. No que se refere a cooperação observou-se: a) Importância da cooperação vertical: relevância da cooperação atribuída pelas empresas com os clientes e com fornecedores nos processos de aprendizagem; 13 b) Importância da cooperação horizontal: relevância da cooperação atribuída pelas empresas com seus concorrentes em seus processos de aprendizagem; c) Importância da cooperação com instituições de ensino e pesquisa: relevância atribuída pelas empresas com a cooperação com universidades e com centros de capacitação técnica em seus processos de aprendizagem; d) Importância da cooperação com consultores: avalia a relevância atribuída pelas firmas à cooperação com consultores individuais e firmas de consultoria em seus processos de aprendizagem. Na seção seguinte, relacionam-se os padrões de aprendizagem verificados a classificação do potencial de aproveitamento das externalidades locacionais. 4.1 Dinâmica da Inovação e Externalidades Locacionais A dinâmica da Inovação aqui considerada é a forma particular pelo qual se observa o uso dos recursos e atividades de inovação, relacionados nos indicadores acima descritos. Os dados das empresas são considerados em conjunto de forma a refletir um “comportamento médio” ou padrão das bases produtivas. A informação de cada indicador permite saber como, em geral, as empresas de uma base produtiva utilizam os recursos disponíveis para inovar. Em outras palavras, o padrão de aprendizagem típico do local. Para cumprir o objetivo de relacionar as dinâmicas locais de inovação às externalidades locacionas as similaridades das dinâmicas locais de inovação forma investigadas. A técnica estatística multivariada de cluster foi a opção metodológica escolhida. A técnica faz parte de um conjunto de técnicas exploratórias de dados, as quais, por meio de gráficos e/ou de caracterização de dados, possibilitam a identificação do padrão de comportamento dos dados. A análise de cluster permite a classificação de casos15, uma vez que não se conhece a priori, os grupos que se formarão nem mesmo seu número. A técnica tem por fim a formação de grupos mais homogêneos possíveis, respeitando a distribuição dos valores das variáveis (indicadores) considerados. Para este trabalho, os casos são as empresas inovadoras das bases produtivas selecionadas, e as variáveis são os indicadores construídos. Para que se possa executar a técnica, deve-se definir anteriormente o método de formação dos grupos e o tipo de distância que se irá considerar. O software statistica oferece 15 Neste trabalho, cada caso corresponde às características do processo de aprendizagem do conjunto de firmas inovadoras inseridas em uma mesma base produtiva, por exemplo, as características dos processos de aprendizagem das firmas inovadoras da base produtiva para APL do setor têxtil/vestuarista de Joinville. 14 várias opções. Para a formação dos grupos, optou-se pelo método do vizinho mais distante, ou complete linkages, que forma os grupos por meio das distâncias mínimas dos casos mais distantes. Para as distâncias, foi utilizado o quadrado da distância euclidiana entre os casos que, obviamente, é bastante influenciado pelas unidades de medida das variáveis. Considerando que as variáveis de esforço inovativo são medidas em valores monetários (mil R$), enquanto que as de cooperação e uso de fontes são medidas por intermédio de índices que variam de 0 a 1, foi necessária a padronização das variáveis, de forma a torná-las com média igual a 0 e desvio padrão igual a 1. Como se sabe, a porcentagem de firmas inovadoras pode variar muito de caso para caso. Na base produtiva têxtil/vestuarista de Joinville, por exemplo, a taxa de inovação foi de 60%, enquanto na base produtiva têxtil/vestuarista do Sul do estado, foi de 22%. Com o objetivo de captar essas diferenças, pelo menos em parte, os indicadores construídos foram multiplicados pelas taxas de inovação das bases produtivas. Como resultado, esse procedimento ampliou a representatividade dos indicadores, passando-se do universo restrito das firmas inovadoras para a base produtiva como um todo. Com isso, assume-se que firmas não-inovadoras não teriam utilizado fontes de informação e de cooperação com o objetivo de inovar e, mais do que isso, não teriam realizado gastos nas atividades consideradas.16 O gráfico a seguir mostra as ligações (linkages) formadas nos onze casos selecionados. A linha traçada no ponto 40 do eixo vertical destaca a formação de três grupos de casos. Da esquerda para a direita, tem-se o primeiro cluster formado pelas empresas inovadoras da base produtiva têxtil/vestuarista de Blumenau (C_10) e eletro-metal-mecânica de Joinville (C_3), o cluster 2 é formado pelas firmas inovadoras das bases produtivas de móveis do ExtremoOeste (C_8), têxtil/confecções do Sul catarinense (C_11), móveis São Bento do Sul (C_7), madeireira de Joaçaba (C_6), eletro-metal-mecânico de Criciúma (C_5) e cerâmico do Sul do estado (C_2). No cluster 3, foram agrupados os casos da eletro-metal-mecânica de Blumenau (C_4), têxtil/vestuarista de Joinville (C_9) e borracha e plástico de Joinville (C_1). 16 O autor admite que mesmo as firmas não-inovadoras fazem uso desse tipo de fontes de informação, mantém ou realizam ocasionalmente algum tipo de cooperação e despendem recursos financeiros com o objetivo de desenvolver inovações. Contudo, o procedimento de multiplicação dos valores resultantes da construção dos indicadores pelas taxas de inovação constitui uma proxy mais sofisticada das diferenças setoriais. 15 Tree Diagram f or 11 Cases Complete Linkage Squared Euclidean distances 60 Linkage Distance 50 40 30 20 10 0 C_10 C_3 C_8 C_11 C_7 C_6 C_5 C_2 C_4 C_9 C_1 Gráfico 1: Formação dos clusters das bases produtivas segundo seus processos de aprendizagem Na análise preliminar, identifica-se a correspondência entre os agrupamentos formados nessa identificação de semelhanças nos processos de aprendizagem e as restrições ao aproveitamento de externalidades calculadas pelo IPAE na seção anterior. O cluster 1 é formado pelas bases produtivas com IPAE acima de 8, com alto potencial de aproveitamento de externalidades locacionais. O cluster 2 é formado pelas bases produtivas com IPAE baixo, entre 2,5 e 4,5, com baixo potencial de aproveitamento de externalidades locais, enquanto o cluster 3 agrupou os casos de moderado potencial de aproveitamento de externalidades locais, IPAE de 5 a 8. O cluster 1 combina determinantes locais e setoriais, de forma a diferenciar as bases produtivas das microrregiões mais industrializadas do estado em relação a outras. A combinação de dispêndios em atividades de inovação com o uso de diversas fontes de informação e formas de cooperação caracteriza os processos de aprendizagem altamente dinâmicos, verificados nas bases produtivas eletro-metal-mecânica de Joinville e têxtil/vestuarista de Blumenau. Tal diversidade de fontes de informação e formas de cooperação encontra terreno fértil numa estrutura produtiva densa, marcada pela presença de firmas de porte heterogêneo, complementada por um tecido institucional específico também consistente. De fato, essas estruturas abrigam firmas líderes nacionais em seus segmentos e estão inseridas nos dois municípios mais industrializados do estado, o que estimula o aproveitamento de diversas externalidades locacionais, conforme visto na Seção 3. As características estruturais observadas nessas bases produtivas e nos locais onde elas estão inseridas reforçam a noção de que o desenvolvimento econômico apoiado na diversificação industrial pode estimular a formação de ambientes mais adequados para a inovação. Trata-se, 16 portanto, de um agrupamento de dinamismo tecnológico alto, com grande potencial de aproveitamento de externalidades locacionais. Nota-se que, no cluster 2, agruparam-se empresas de bases produtivas de setores de difusão tecnológica bastante madura, o que é um limitador natural a investimentos vultuosos em atividades inovativas. Além disso, as formações históricas recentes aprofundam as restrições, por ainda não terem criado instituições capazes de estimular inter-relações produtivas e inovativas sólidas, que poderiam resultar em práticas cooperativas consistentes, por exemplo. De fato, ações cooperativas foram observadas apenas na base produtiva ceramista do Sul do estado. O processo incipiente de industrialização também não criou grandes corporações capazes de estabelecer vínculos sistemáticos de subcontratação, o que tornaria mais provável o aproveitamento de externalidades transacionais e marshalianas. Além disso, as firmas estão aglomeradas em centros urbanos de pequeno e médio porte do estado, o que restringe o potencial de aproveitamento de externalidades urbanas. O processo de aprendizado nessas estruturas resume-se, portanto, a dispêndios inovativos concentrados em uma ou duas atividades inovativas, associado ao uso de fontes verticais de informação e, em menor medida, às fontes internas. Trata-se, portanto, de um agrupamento formado por bases produtivas de dinamismo tecnológico baixo, com muitas restrições ao potencial de aproveitamento de externalidades locais. O cluster 3 é formado por bases produtivas localizadas nas regiões mais industrializadas do estado, mas com expressão secundária em suas regiões. A densidade e o porte médio das firmas tornam menos provável o aproveitamento de externalidades marshalianas e transacionais em comparação com o cluster 1. O número de firmas de grande porte parece explicar também as diferenças no volume de dispêndios médios em atividades de inovação. Ainda assim, as firmas locais relegaram alta importância à cooperação com fornecedores e clientes. Assim, a localização dessas estruturas parece estimular processos de interação e cooperação com diversos agentes17 que resultam em incrementos positivos ao desempenho inovativo. Denominou-se esse agrupamento, portanto, de dinamismo tecnológico intermediário com moderadas restrições ao aproveitamento de externalidades locacionais. O Quadro 17 a seguir procura resumir os resultados descritos. Dinamismo tecnológico incipiente com elevadas restrições ao 17 CLUSTERS Dinamismo tecnológico intermediário com moderadas restrições ao aproveitamento Dinamismo tecnológico avançado com reduzidas restrições ao aproveitamento de Notadamente, com a estrutura de pesquisa e ensino e com demais elos da cadeira de produção. 17 Bases produtivas IPAE aproveitamento de externalidades locais (Cluster 2) (A). Criciúma/ Cerâmico (B)Sul Cat/EMM. (C)Sul Cat./Têx.confecções (D)São Bento do Sul/Móveis (E) Ext.Oeste/Móveis (F) Joaçaba, Canoinhas/Madeira Baixo (2,5 – 4,5) Direcionamento dos gastos inovativos (1) Aquisição de M&E Principais fontes de informação à inovação (1) Fornecedores e clientes, (2) outras fontes (3) fontes internas Principais estratégias de cooperação Sem cooperação de externalidades locais (Cluster 3) externalidades locais (Cluster 1) (A) Blumenau/eletro-metalmecânico (B) Joinville/Plástico/Químico. (C)Joinville/Têxtil-vestuarista (A)Joinville/Eletro-metalmecânico. (B)Blumenau/Têxtil/vestuarista Moderado (5 – 8) (1) Aquisição de M&E, (2) Projetos e preparações técnicas (3) P&D internos (1) Fornecedores e clientes; (2) fontes internas (3) outras fontes externas (4) Fontes educacionais e de pesquisa (1) cooperação vertical, (2) cooperação com agentes educacionais e de pesquisa Alto (8,5 - 9,5) (1) Aquisição de M&E (2) P&D interno (3) Projetos e preparações técnicas (4) Treinamento (5) Aquisição de P&D e outros conhecimentos externos (6) Introdução da inovações no mercado (1) Fornecedores e clientes (2) Fontes internas, (3) outras fontes, (1) cooperação vertical, (2) cooperação com agentes educacionais e de pesquisa * Conforme dados da PINTEC/IBGE/2003. Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PINTEC/IBGE/2005 Quadro 6:. Principais características tecnológicas dos agrupamentos formados das empresas inovadoras dos locais/setores analisados de Santa Catarina de 2001 a 2003 5 CONCLUSÃO Ao focar na relação existente entre externalidades locais e processos de aprendizagem, este trabalho contribui com a linha de pesquisa que destaca a localização da firma como determinante a seus processos de aprendizagem e ao conseqüente desempenho inovador. A aplicação do modelo para a identificação das bases produtivas em Santa Catarina revelou que, da forma com que a atividade industrial se encontra concentrada nas microrregiões do estado, 33 bases produtivas que podem sustentar APLs catarinenses. O modelo de identificação do potencial de aproveitamento de externalidades locacionais destacou diferenças estruturais das bases produtivas e dos locais onde estão inseridas. A classificação das 33 bases produtivas, segundo seus IPAE’s, permitiu inferências sobre a dinâmica interna de relações tecnológicas e pecuniárias que, por sua vez, refletem-se no desenvolvimento econômico da firma, da estrutura produtiva aglomerada e da região Nesse 18 sentido, o indicador de adensamento estrutural mostrou-se eficaz ao diferenciar as bases produtivas, segundo a composição de elos da cadeia produtiva em seus interiores, e tornou possível melhores inferências sobre o potencial de externalidades de especialização produtiva. Outra vantagem da classificação proposta é possibilidade de categorização de outras estruturas produtivas locais do Estado e mesmo de outras unidades da federação. A alta correlação verificada entre agrupamentos das bases produtivas, segundo semelhanças em seus processos de aprendizagem, e o potencial de aproveitamento de externalidades locacionais reforça a noção de que a firma não inova sozinha e que sua localização importa à sua conduta tecnológica e ao desempenho inovador. O resultado mais evidente desse trabalho, nessa direção, é o de que a diversificação local da estrutural industrial é determinante para o estabelecimento de interações e desempenhos econômicos ”mais virtuosos”. Isso se deve tanto aos altos graus de complementaridades setoriais como ao conjunto de interações formais e informais que são estimuladas em grandes centros urbanos. Esses resultados estão em linha com a noção de complemetaridde setorial e externalidades urbanas, apontadas por MALERBA (2002) e JACOB (1969). Adicionalmente, percebe-se que sistemas institucionais apropriados, que apresentam características históricas e socioculturais comuns, podem ser fundamentais à formação de ambiente socioeconômico adequado às atividades tecnológicas, independentemente do setor no qual as firmas atuam. Veja-se o caso das estratégias cooperativas das empresas de Joinville. Por outro lado, as firmas inseridas aglomerações produtivas de regiões economicamente menos dinâmicas tendem a apresentar conduta de aprendizado que reflete, mormente, condições impostas pelo regime tecnológico do setor (Malerba e Orsenigo, 1993). Nesses casos, considera-se ainda mais importante o foco normativo na institucionalidade locacional capaz de dinamizar processos de aprendizagem, aumentar a produtividade da indústria e o crescimento econômico da região. Nesse sentido, num contexto de globalização econômica, que intensifica os processos de concorrência, e, restringe cada vez mais os graus de liberdade dos governos nacionais para a implementação de políticas, os sistemas locais de produção e inovação devem ser percebidos como objeto de políticas específicas, de forma que, processos virtuosos de aprendizagem tenham lugar, sem, no entanto, incorrer em diminuição da competição que impulsiona o espírito empreendedor do empresário. Sob uma visão evolucionário/neoschumpeteriana, as ações públicas de incentivo a construção de sistemas locais de inovação devem minimizar os obstáculos que restringem o progresso técnico no 19 local, ao passo que, o mercado deve servir como estância final de seleção das soluções produtivas e tecnológicas. Nesse sentido, o trabalho contribui, tecnicamente, ao identificar potencialidades, gargalos e particularidades da estrutura produtiva e da conduta tecnológica das firmas catarinenses geograficamente aglomeradas. Ao enfativar as características locacionais do desenvolvimento econômico e revelar a correlação entre potencial de ocorrência de externalidades territoriais e dinamismo dos processos de aprendizagem na análise exploratória, espera-se estimular novos esforços empíricos de ampliação do universo de análise, e a busca por complementaridades teóricas entre as escolas do pensamento econômico que enfatizam as externalidades territoriais e a dinâmica evolucionária de produção, enfatizada pelo referencial neo-schumpeteriano. REFERÊNCIAS ALICEWEB - Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet. 2005. Disponível em: <www.aliceweb.gov.br>. Acesso em: out. de 2005. ANDRADE, G.A. Dinâmica Competitiva das Micro e Pequenas Empresas no Cluster Industrial Têxtil-Vestuário do Vale do- Itajaí- SC. Florianópolis: UFSC, 2002. Dissertação (Mestrado). BATSCHAUER, J. Arranjo Produtivo Eletrometal-mecânico da microrregião de Joinville/SC: um estudo da dinâmica institucional. 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