DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO MARCOPOLO Vicente Giurizatto da Silveira Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Instituto COPPEAD de Administração Mestrado em Administração ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D. Rio de Janeiro – Brasil 2008 DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO MARCOPOLO Vicente Giurizatto da Silveira Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.). Aprovada por: ___________________________________________ - Orientadora Profª. Denise Lima Fleck, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ) ___________________________________________ Prof. Agrícola de Souza Bethlem, D.Sc. (COPPEAD, UFRJ) ___________________________________________ Prof. Donaldo de Souza Dias, D. Sc. Rio de Janeiro – Brasil ii 2008 FICHA CATALOGRÁFICA Silveira, Vicente Giurizatto da. Desafios para a Longevidade Saudável: O caso Marcopolo / Vicente Giurizatto da Silveira. – Rio de Janeiro, 2008. 530f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2008. Orientadora: Denise Lima Fleck 1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento da Firma. 3. Indústria de Carroceria de Ônibus. – Teses. I. Fleck, Denise Lima (Orientadora). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Trajetória de Crescimento da Marcopolo. iii AGRADECIMENTOS Segundo a sabedoria popular, só temos uma vida completa quando plantamos uma árvore, temos um filho e escrevemos um livro. Plantar uma árvore foi algo que fiz ainda pequeno. Ter um filho é um sonho que espero realizar em breve. Mas escrever um livro é algo que imagino ter concretizado ao realizar este estudo repleto de sacrifício e com ajuda de diversas pessoas queridas. Para aqueles que não tiveram a honra em estudar em uma escola renomada como o Coppead talvez seja difícil entender quanto significa concluir um curso de mestrado nessa instituição. Para chegar até o dia de hoje, tenho que reconhecer, sem dúvida alguma, que não fiz nada sozinho. Faltam palavras para agradecer o apoio da minha família em todos esses anos. Meu pai Vinícius, minha mãe Nadja, meus irmãos Andreza, Gabriel, Matheus e Thomás são os grandes responsáveis pela realização desse sonho. Mas é minha namorada, amiga, companheira e confidente, Viviane, a pessoa que sabe, como ninguém, como foi sacrificante, porém recompensadora, minha vida de estudante de mestrado. Agradeço-lhe principalmente por entender e me apoiar incondicionalmente. Sinto-me também um privilegiado por fazer parte da turma de mestrado 2006. Uma turma muito especial que viveu momentos muito especiais tanto dentro como fora da sala de aula. Agradeço meus colegas estrategistas Renato e Rafael pela amizade e apoio em todas as horas. Agradeço também aos meus professores, e aos mestres Agrícola Bethlem e Donaldo Dias pelas criteriosas contribuições para minha dissertação. Quanto à minha orientadora e mestra Denise Fleck não há palavras para tal agradecimento. Sua competência, ética e doação pela escola representam o que de melhor existe no Coppead e no ensino brasileiro. Sua coragem e autenticidade influenciam todos nós, orientandos e alunos. Não posso deixar de agradecer também aos funcionários da Marcopolo que me receberam excepcionalmente bem em Caxias do Sul, e a todos os funcionários do Coppead, em especial da secretaria acadêmica e da biblioteca, que contribuem diariamente para o ótimo funcionamento da escola. . iv RESUMO Silveira, Vicente Giurizatto da. Desafios para a Longevidade Saudável: O caso Marcopolo, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração). A literatura em geral sugere que tamanho seja um dos principais indicadores de sucesso para avaliar e comparar as organizações. De fato, o quanto maior o porte da organização, maiores são suas possibilidades de aproveitar as oportunidades existentes no ambiente e maiores são as chances da empresa neutralizar as ameaças. No entanto, o tamanho também produz efeitos colaterais. Inspirado no framework proposto por Fleck (2007), o qual relaciona institucionalização organizacional e sucesso organizacional de longo prazo, buscou-se, por analogia, relacionar tamanho organizacional e sucesso organizacional. O presente estudo teve o objetivo de investigar os desafios que enfrentam as organizações e como lidam com eles para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em seu tamanho, tendo por objetivo se manterem firmes em direção à longevidade saudável. A Marcopolo, maior encarroçadora de ônibus do Brasil, foi selecionada como objeto de estudo. Trata-se de uma empresa brasileira com sede em Caxias do Sul (RS) e que atua no segmento desde 1949. Ao longo desse período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas que não resistiram às mudanças da economia, a concorrência do mercado e fecharam as portas. A análise da trajetória de crescimento da Marcopolo indica que a firma, ao longo dessas quase seis décadas, apresentou respostas satisfatórias aos desafios de crescimento, fortemente ligadas ao pólo da autoperpetuação, ou seja, em direção à longevidade saudável. Eis porque a empresa conseguiu crescer de forma consistente, superar as diversas adversidades encontradas, se destacar no cenário internacional e se consolidar como umas das principais fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo. v ABSTRACT Silveira, Vicente Giurizatto da. Desafios para a Longevidade Saudável: O caso Marcopolo, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração). The broad literature suggests that size is one of the best indicators to evaluate success and compare organizations. In fact, how bigger is an organization, the greater are the possibilities to benefit from the available opportunities in the environment and the greater are chances to neutralize impending threats. However, size also provokes side effects. Inspired in the framework proposed by Fleck (2007), which relates organizational institutionalization and long term success, this study intends, analogically, to connect organizational size and success. It aims to investigate the challenges that organizations face and how they deal with them to surpass the side effects of positive change in size, to keep going in the health longevity direction.. Marcopolo, the largest manufacturer of bus bodies in Brazil, was selected as the object of this study. This is a Brazilian company founded in 1949, and headquarters established in Caxias do Sul (RS). Throughout these years, the industry grew up and Brazil became one of the main players of the world. On the other hand, many companies have not resisted the economy changes and broke down. The analysis of Marcopolo´s growth path suggests that the firm, throughout six decades, presents satisfactory responses to growth challenges, strongly connected to self-perpetuation pole, which means, in the direction of health longevity. It explains why the firm grew in a consistent way, overcame several obstacles, highlighted in the world scenario and consolidated as one of the largest manufactures of bus bodies in the world. vi LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1.1 – Evolução da Posição da Marcopolo no Ranking Melhores & Maiores (Exame) ................................................................................................................ 5 Gráfico 1.2 – Evolução do Market Share da Marcopolo na Produção Brasileira de Carrocerias de Ônibus ........................................................................................... 9 Gráfico 4.1 – Evolução da Produção de Veículos no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006) ............................................................... 74 Gráfico 4.2 – Produção de Veículos da Marcopolo entre 1949 e 2006 ......................... 84 Gráfico 4.3 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1949 e 1967 .................................................................................................................... 87 Gráfico 4.4 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1949 e 1967 .................................................................................................................... 89 Gráfico 4.5 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1968 e 1986 .................................................................................................................. 129 Gráfico 4.6 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1968 e 1986 .................................................................................................................. 130 Gráfico 4.7 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1987 e 2006 .................................................................................................................. 176 Gráfico 4.8 – Produção da Marcopolo entre os anos 1987 e 2006 .............................. 178 Gráfico 4.9 – Produção da Marcopolo Anual e Acumulada (1949 - 2006) ................. 183 Gráfico 5.1 – Curva de Crescimento da Marcopolo entre 1981 e 2006 ...................... 251 Gráfico 7.1 - Produção Brasileira de Veículos (1957-2005) ....................................... 271 Gráfico 7.2 – Produção Mundial de Ônibus (1997-2005) .......................................... 275 Gráfico 7.3 – Produção Mundial de Ônibus por País (1997-2005) ............................. 276 Gráfico 7.4 – Participação na Produção Mundial de Ônibus por País (2003-2005) .... 278 Gráfico 7.5 – Frota Circulante de Ônibus por Região do Brasil em 2006 ................... 284 Gráfico 7.6 – Produção e Exportação de Carrocerias de Ônibus (1978-2006) ............ 286 Gráfico 7.7 – Evolução da Produção no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006) ...................................................................................................... 290 Gráfico 7.8 – Participação na produção brasileira de ônibus em 2005 e 2006 ............ 291 Gráfico 7.9 – Evolução da Produção no Brasil por Tipo de Carroceria (1971-2006). . 292 Gráfico 7.10 – Comparação da Produção Total de Veículos e Ônibus no Brasil (19572005)................................................................................................................. 311 Gráfico 7.11 – Comparação do Crescimento (%) Ano a Ano - Veículos vs Ônibus (1957-2005) ...................................................................................................... 313 Gráfico 7.12 – Evolução da Exportação de Ônibus pelo Brasil (1957-2005) ............. 319 Gráfico 7.13 – Evolução da Produção no Brasil de Carrocerias e Monoblocos (19712006)................................................................................................................. 321 Gráfico 7.14 – Evolução da Exportação de Carrocerias por Encarroçadora (1996-2006) .......................................................................................................................... 324 Gráfico 7.15 – Participação da Exportação na Produção das Encarroçadora (1996-2006) .......................................................................................................................... 326 Gráfico 7.16 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1970 .......................................................................................................................... 358 vii Gráfico 7.17 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1980 .......................................................................................................................... 360 Gráfico 7.18 – Evolução do Market Share por Segmento de Ônibus da Marcopolo de 1983 a 2006....................................................................................................... 383 Gráfico 7.19 – Participação dos Mercados Interno e Externo na Receita da Marcopolo .......................................................................................................................... 387 Gráfico 7.20 – Número de Funcionários da Marcopolo (Controladora) entre 1988 e 2005 .................................................................................................................. 393 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Efeitos do Tamanho Organizacional no Sucesso de Longo Prazo............... 2 Figura 1.2 – Participação Acionária do Grupo Marcopolo em 2006 ............................... 7 Figura 2.1 – Estrutura Geral do Motor de Crescimento Contínuo ................................ 27 Figura 2.2 – Estrutura Geral Motor de Co-evolução de Todo e Partes.......................... 30 Figura 2.3 – Contínuo de Estados Organizacionais ...................................................... 33 Figura 2.4 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à AutoPerpetuação ......................................................................................................... 48 Figura 4.1 – Marcopolo no Mundo em 2007................................................................ 77 Figura 4.2 – Esquema de Desenvolvimento de uma First Mover ................................. 80 Figura 4.3 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à AutoPerpetuação ......................................................................................................... 83 Figura 7.1 – Ônibus do tipo "mamãe me leva" construído pela Grassi ....................... 299 Figura 7.2 – Marcopolo no Mundo em 2007.............................................................. 394 ix LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Os Cinco Desafios Organizacionais ........................................................ 32 Tabela 2.2 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais. .............................. 39 Tabela 3.1 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa ................. 52 Tabela 3.2 – Entrevistas Realizadas Durante a Visita na Sede da Marcopolo ............... 57 Tabela 3.3 – Lista de Classificações para Análise........................................................ 66 Tabela 3.4 – Planilha para Análise de Entrevistas........................................................ 67 Tabela 3.5 – Tipo de Resposta aos Desafios do Crescimento ....................................... 69 Tabela 3.6 – Quadro de Análise das Fases da Marcopolo por Desafio de Crescimento 71 Tabela 4.1 – Características dos Investimentos Necessários ........................................ 81 Tabela 4.2 – Produção de Ônibus da Marcopolo ao longo das 3 .................................. 86 Tabela 4.3 – Sócios Fundadores da Nicola & Cia ........................................................ 90 Tabela 4.4 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1949 e 1967 ...................... 93 Tabela 4.5 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase I) ........ 102 Tabela 4.6 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais ............................. 103 Tabela 4.7 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1949 e 1967.......................................................................... 107 Tabela 4.8 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase I) 112 Tabela 4.9 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Diversidade (Fase I) ... 117 Tabela 4.10 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase I) .............................................................................................................. 124 Tabela 4.11 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Complexidade (Fase I) .......................................................................................................................... 127 Tabela 4.12 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1968 e 1986 .................. 133 Tabela 4.13 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase II) ..... 146 Tabela 4.14 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1968 e 1986.......................................................................... 153 Tabela 4.15 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1967 e 1986 ........................... 156 Tabela 4.16 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase II) .......................................................................................................................... 159 Tabela 4.17 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase II) ................ 163 Tabela 4.18 – Diretoria da Marcopolo entre 1969 e 1980 .......................................... 166 Tabela 4.19 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase II) ............................................................................................................ 171 Tabela 4.20 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase II)............. 175 Tabela 4.21 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1987 e 1999 .................. 184 Tabela 4.22 – Resumo das Respostas ao Desafio da Empreendedorismo (Fase III).... 196 Tabela 4.23 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1986 e 2006.......................................................................... 204 Tabela 4.24 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1987 e 1999 ........................... 209 Tabela 4.25 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase III) .......................................................................................................................... 211 Tabela 4.26 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase III) ............... 218 Tabela 4.27 – Alguns Números Referentes aos Treinamentos Realizados pela Marcopolo entre 1995 e 2006 ............................................................................ 225 Tabela 4.28 – Lista de Funcionários da Marcopolo com Elevado Tempo de Casa ..... 229 x Tabela 4.29 – Quadro de Pessoal e Índice de Rotatividade entre 2000 e 2006............ 230 Tabela 4.30 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase III) ........................................................................................................... 231 Tabela 4.31 – Dados Relativos à Atuação dos Grupos de Melhoria (1987 – 1997)..... 234 Tabela 4.32 – Alguns Indicadores de Produção e Emprego (1987 – 1997)................. 235 Tabela 4.33 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase III) ........... 240 Tabela 5.1 – Resumo das Respostas da Marcopolo aos Desafios de Crescimento ...... 243 Tabela 7.1 – Produção Total de Veículos por País em 2005....................................... 269 Tabela 7.2 – Produção Total de Veículos por Fabricante em 2005 ............................. 270 Tabela 7.3 – Produção Acumulada de Veículos (1957-2005)..................................... 272 Tabela 7.4 – Produção Mundial de Ônibus por Fabricante e País em 2005 ................ 282 Tabela 7.5 – Empresas Associadas à Fabus em 2006 ................................................. 288 Tabela 7.6 – Evolução do market share das encarroçadoras por segmento de ônibus . 295 Tabela 7.7 – Data de vigência e índices determinados para a nacionalização de caminhões ......................................................................................................... 309 Tabela 7.8 – Exportação de Ônibus Brasileiros por Continente de Destino (2003 – 2004) .......................................................................................................................... 327 Tabela 7.9 – Alguns Países onde a Marcopolo exportou através de CKD/MKD ........ 357 Tabela 7.10 – Produção da Marcopolo Minas S.A. entre 1981 e 1984 ....................... 363 Tabela 7.11 – Freqüência das falas por Desafio e Período ......................................... 396 Tabela 7.12 – Análise das Entrevistas ....................................................................... 396 Tabela 8.1 – PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006)...... 515 Tabela 8.2 - Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005..................................... 516 Tabela 8.3 - Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica) ................... 521 Tabela 8.4 – Evolução do Market Share das encarroçadoras por segmento de ônibus (1971 – 2006) .................................................................................................... 522 Tabela 8.5 – Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005) ... 523 Tabela 8.6 – Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996 – 2006) .............................................................................................................. 524 Tabela 8.7 – Exportação de Autoveículos Brasileiros por País de Destino – Continentes: América do Sul, América Central, América do Norte, Europa, África, Ásia e Oceania (2003 – 2004) ...................................................................................... 525 Lista de Equações Equação 3.1 – Indicador de Tamanho de uma Firma ................................................... 63 Equação 3.2 – Indicador de Desempenho de uma Firma .............................................. 64 xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres ABRATI – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores BACEN – Banco Central do Brasil BEFIEX – Programa de Benefícios Especiais para o Financiamento às Exportações BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito CDC – Crédito Direto ao Consumidor CDI – Conselho de Desenvolvimento Industrial CKD – Completely Knocked Down CSN – Companhia Siderúrgica Nacional CTG – Centro de Tradições Gaúchas FABUS – Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus FAN – Fundação Assistencial Nicola FENABRAVE – Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores FNM – Fábrica Nacional de Motores GAN – Grêmio Atlético Nicola GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística GEIMEC – Grupo Executivo da Indústria Mecânica GEIMOT – Grupo Executivo da Indústria Automotora IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MKD – Medium Knocked Down NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos xii OICA – Organisation Internationale des Constructeurs d'Automobiles PIB – Produto Interno Bruto SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SIMEFRE – Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários SIMPS – Sistema Integrado Marcopolo de Produção Solidária SINDIPEÇAS – Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos SUMAM – Sugestões de Melhoramentos no Ambiente Marcopolo xiii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1 1.1. Breve Apresentação da Marcopolo ...................................................... 3 1.2. Objetivo do Estudo ............................................................................... 9 1.3. Contribuições do Estudo .................................................................... 10 1.4. Organização do Estudo...................................................................... 12 2. Revisão de Literatura ......................................................................... 13 2.1. A Firma .............................................................................................. 15 2.2. Crescimento e Sucesso ..................................................................... 17 2.3. Os Motores de Crescimento .............................................................. 24 2.3.1. Motor de Crescimento Contínuo ................................................. 25 2.3.2. Motor de Co-evolução ................................................................. 28 2.4. Arquétipos de Sucesso e Fracasso Organizacional ........................... 30 2.4.1. Empreendedorismo ..................................................................... 34 2.4.2. Navegação no Ambiente ............................................................. 38 2.4.3. Gestão da Diversidade ............................................................... 40 2.4.4. Formação de Recursos Gerenciais ............................................. 43 2.4.5. Gestão da Complexidade ........................................................... 44 2.5. Modelo de Requisitos para o Desenvolvimento da Propensão a Autoperpetuação Organizacional .................................................................. 46 3. Metodologia ....................................................................................... 49 3.1. Definição do Site e do Tema .............................................................. 49 3.2. Método de Pesquisa .......................................................................... 51 3.3. Coleta de Dados ................................................................................ 53 3.3.1. Dados Secundários ..................................................................... 53 3.3.2. Visita à Marcopolo ...................................................................... 56 3.4. Análise dos Dados ............................................................................. 61 4. 3.4.1. Indicadores de Tamanho e Desempenho ................................... 63 3.4.2. Análise das Entrevistas e Ferramental Utilizado ......................... 65 3.4.3. Sumarização das Respostas aos Desafios por Fases ................ 70 Análise da Trajetória .......................................................................... 73 4.1. Fase 1 – Os Primeiros Anos: 1949 a 1967 ........................................ 86 xiv 4.1.1. Desafios do Empreendedorismo ................................................. 87 4.1.2. Desafios da Navegação no Ambiente ....................................... 102 4.1.3. Desafios da Gestão da Diversidade .......................................... 112 4.1.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais ....................... 118 4.1.5. Desafios da Gestão da Complexidade ...................................... 124 4.2. Fase 2 – As Primeiras Expansões: 1968 a 1986 ............................. 128 4.2.1. Desafios do Empreendedorismo ............................................... 129 4.2.2. Desafios da Navegação no Ambiente ....................................... 146 4.2.3. Desafios da Gestão da Diversidade .......................................... 159 4.2.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais ....................... 164 4.2.5. Desafios da Gestão da Complexidade ...................................... 171 4.3. Fase 3 – As Técnicas Japonesas e a Internacionalização: 1987 a 2006 176 5. 4.3.1. Desafios do Empreendedorismo ............................................... 177 4.3.2. Desafios da Navegação no Ambiente ....................................... 196 4.3.3. Desafios da Gestão da Diversidade .......................................... 212 4.3.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais ....................... 218 4.3.5. Desafios da Gestão da Complexidade ...................................... 232 CONCLUSÃO .................................................................................. 241 5.1. Conclusões gerais............................................................................ 241 5.2. Sugestões para pesquisas futuras ................................................... 249 6. REFERÊNCIAS................................................................................ 253 7. APÊNDICES .................................................................................... 265 7.1. A Indústria Automobilística ............................................................... 265 7.1.1. Indústria de Ônibus Mundial ..................................................... 275 7.1.2. Indústria de Ônibus no Brasil .................................................... 283 7.1.3. A História da Indústria ............................................................... 296 7.1.3.1 Os Primórdios do Ônibus ...................................................... 297 7.1.3.2 Surgimento da Indústria de Autopeças ................................. 302 7.1.3.3 A Formação da Indústria Automobilística .............................. 305 7.1.3.4 A Evolução da Indústria de Ônibus ....................................... 314 7.2. A História da Marcopolo ................................................................... 330 7.2.1. Fase 1: De 1949 a 1970 – Os primeiros passos ....................... 331 7.2.2. Fase 2: De 1971 a 1980 – A 1ª Expansão ................................ 350 7.2.3. Fase 3: De 1981 a 1990 – Os Piores Anos e a Onda de Diversificação .......................................................................................... 359 7.2.4. Fase 4: De 1991 a 2006 – A Internacionalização ..................... 373 7.3. Análise das Entrevistas .................................................................... 396 xv 8. ANEXOS .......................................................................................... 515 8.1. PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006) . 515 8.2. Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005 ............................. 516 8.3. Classificação por Tipo de Carroceria e/ou Serviço .......................... 517 8.4. Encarroçadoras fundadoras da Fabus ............................................. 520 8.5. Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica) ........... 521 8.6. Evolução do Market Share das Encarroçadoras por Segmento de Ônibus (1971-2006) .................................................................................... 522 8.7. Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005) 523 8.8. Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996 – 2006) ............................................................................................. 524 8.9. Exportação de Autoveículos Brasileiros por País de Destino – Continentes: América do Sul, América Central, América do Norte, Europa, África, Ásia e Oceania (2003 – 2004) ......................................................... 525 8.10. Diretoria da Marcopolo no período de 1949 a 1998 ......................... 527 xvi 1. INTRODUÇÃO A literatura em geral sugere que tamanho seja um dos principais indicadores de sucesso para avaliar e comparar as organizações. É válido dizer também, que o tamanho está intimamente ligado com a questão do crescimento, que nada mais é que a mudança de tamanho da organização ao longo do tempo. De fato, o tamanho constitui uma importante medida de referência, pois, de maneira geral, quanto maior o porte da organização, maiores são suas possibilidades de aproveitar as oportunidades existentes no ambiente, e também maiores são as chances da empresa em levantar fundos, aprovisionar recursos gerenciais, neutralizar as ameaças do ambiente entre outros. No entanto, o tamanho também produz efeitos colaterais. Inspirado no framework proposto por Fleck (2007), o qual relaciona institucionalização organizacional e sucesso organizacional de longo prazo, buscou-se, por analogia, relacionar tamanho organizacional e sucesso organizacional de longo prazo. A Figura 1.1 ilustra tal relação. 1 Figura 1.1 – Efeitos do Tamanho Organizacional no Sucesso de Longo Prazo CN Existência Continuada da Organização Sucesso Organizacional de longo prazo CN + Estabilidade & Permanência Tamanho da Organização Rigidez & Resistência a mudança Renovação Organizacional CN: Condição Necessária Fonte: Fleck (2007) Nota-se a presença de uma série de pontos negativos – como rigidez, inércia e resistência à mudança – associados ao tamanho da organização. À medida que a empresa cresce e ganha estabilidade, ela tende a perder flexibilidade, porque a estabilidade dá lugar a hábitos que tornam difícil a implementação de mudanças administrativas (Selznick, 1957). Posto isso, a presente dissertação tem o objetivo de investigar a seguinte questão: Quais desafios enfrentam as organizações e como lidam com eles para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em seu tamanho ao longo de suas trajetórias, para se manterem firmes em direção à longevidade saudável? 2 Para tal, a Marcopolo foi selecionada como objeto de estudo desta dissertação, pois se trata da maior encarroçadora de ônibus do Brasil e uma das maiores do mundo. Outros fatores que influenciaram a escolha da Marcopolo como objeto de estudo serão apresentados no capítulo de metodologia. 1.1. Breve Apresentação da Marcopolo A Marcopolo é uma empresa brasileira com sede em Caxias do Sul (RS) e atua no segmento de carrocerias de ônibus desde 1949. Ao longo desse período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, nesse mesmo período, diversas foram as empresas que não resistiram às mudanças da economia, a concorrência do mercado e fecharam as portas. A Marcopolo não foi a primeira encarroçadora de ônibus a funcionar no Brasil, muito menos iniciou sua trajetória liderando o setor no qual esteve inserida. Seu domínio na indústria de carrocerias de ônibus só foi ocorrer anos após sua entrada nesse negócio. Segundo Chandler (1990), as empresas “first movers” são aquelas que passam a dominar de forma rápida os setores onde atuam e nesta posição se mantém durante décadas. Na visão de Chandler (1990), as empresas “first movers”, assim são denominadas, pois investem primeiro em: • Marketing e distribuição no nível nacional e internacional; 3 • Capacidade produtiva; • No recrutamento de pessoas para integrar os níveis de baixa, média e alta gerência. Desde 1989, quando superou a Caio-Induscar (antiga Caio), a Marcopolo se mantém como a maior fabricante de carrocerias no Brasil. Ao longo da década de 1990, a Marcopolo se solidificou, também, como uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo. Nos últimos anos, a Marcopolo passou a atuar, também, nos segmentos de LCV (Veículos Comerciais Leves), e peças e componentes e no de produtos plásticos. Em 2006, a Marcopolo era a 231ª maior companhia em faturamento no Brasil de acordo com a publicação Melhores & Maiores da Revista Exame. O Gráfico 1.1 apresenta as posições obtidas pela Marcopolo desde 1976 – ano quando obteve sua primeira aparição. Nos anos que não apresentam dados, a empresa não foi listada pela publicação. 4 Gráfico 1.1 – Evolução da Posição da Marcopolo no Ranking Melhores & Maiores (Exame) 186 188 227 268 285 300 232 223 230 231 280 318 339 355 235 255 215 401 444 457 522 511 492 512 6 20 0 4 5 20 0 3 20 0 2 20 0 1 20 0 0 20 0 9 20 0 8 19 9 7 19 9 6 19 9 19 9 4 5 19 9 3 19 9 2 19 9 1 19 9 0 19 9 9 19 9 8 19 8 7 19 8 6 19 8 5 19 8 4 19 8 19 8 2 3 19 8 1 19 8 19 8 9 0 19 8 8 19 7 7 19 7 19 7 19 7 6 547 Fonte: Revista Exame - Melhores & Maiores entre 1976 e 2006 As exportações da Marcopolo foram iniciadas em 1961, mas foi a partir de 1991, quando a empresa inaugurou sua primeira fábrica no exterior, que o processo de internacionalização ganhou importância dentro da empresa. Em 2006, a fabricação de ônibus era executada em oito unidades fabris, sendo três no Brasil e cinco no exterior - duas fábricas estavam localizadas em Caxias do Sul (RS), uma em Duque de Caxias (RJ) e uma no México, Colômbia, Portugal, África do Sul e Argentina, esta última desativada. Em 2007, a empresa contava com fábricas em construção na Rússia e na China. A Marcopolo possui em São José dos Pinhais (PR) a controlada MVC Componentes Plásticos Ltda., produtora de componentes plásticos de alta tecnologia, com duas unidades fabris no Brasil e uma no México. A Companhia 5 detém, também, o controle integral do Banco Moneo, unidade que suporta o financiamento dos produtos Marcopolo. De acordo com a publicação Valor Grandes Grupos 2007 – 200 maiores Grupos, do Jornal Valor Econômico, o Grupo Marcopolo era o 120º maior grupo brasileiro em 31 de dezembro de 2006, com receita bruta de R$ 2.034,3 milhões em 2006. De acordo com a publicação de 2006, a participação societária do grupo seguia a estrutura apresentada na Figura 1.2, na qual se nota que os Srs. Paulo Bellini, José Martins e Valter Pinto detinham 52,08% do controle acionário. 6 Figura 1.2 – Participação Acionária do Grupo Marcopolo em 2006 Investidores Pessoas Físicas (Bellini) Partibell Part. e Adm. Ltda 7,96% Fundos FR Tem. Valor Líq. II FIA 6,84% 15,20% Centrus Marcopolo S.A. 17,92% Outros 100% Investidores Pessoas Físicas (Bellini e Outros)* 52,08% 99,99% 99,99% 99% 99,99% Marcopolo Trading S.A. Ciferal Ind. de Ônibus Ltda. Polo Serviços em Plásticos Ltda. Syncroparts Com. e Distrib. de Peças Ltda. 100% 99,99% 99,99% 40% Moneo Investimentos S.A. MVC Componentes Plásticos Ltda. Marcopolo Latinoamerica S.A Spheros Climatizacao do Brasil S.A. 100% 99.99% 100% Banco Moneo S.A. Poloplast Componentes S.A. de C.V. Marcopolo Intl. Corp. 3,61% 100% Marcopolo Ind. de Carrocerias Ltda. 100% Polomex S.A. de C.V. 70,39% Ilmot Intl. Corp. S.A. 99,99% 100% 50% Laureano S.A. Marcopolo South Africa Pty Ltd. Superpolo S.A. Data do organograma: out/06. *Paulo Pedro Bellini (28,83%), José Antônio Martins (12,28%) e Valter Antônio Gomes Pinto (10,97%). Fonte: Valor Grandes Grupos – Edição 2006 7 Em 2006, a capacidade de produção no mundo era de cerca de 110 ônibus/dia, o que a colocava na liderança do mercado brasileiro em seu ramo de atividade e como uma das maiores fabricantes internacionais. De sua fundação até 2006, a Marcopolo acumulou uma produção de aproximadamente 176 mil unidades, que podem ser encontradas no Brasil e em mais de 100 países (Relatório de Administração 2006). Em 2006, a Marcopolo foi responsável por aproximadamente 39,0% da produção brasileira e 44,9% quando são incluídos os miniônibus do tipo Volare. Tamanha produção correspondeu a aproximadamente 6,5% da fabricação mundial em 2006 (Relatório de Administração 2006). No entanto, como se pode observar no Gráfico 1.2, desde 2002, ano em que alcançou sua maior participação na produção brasileira de ônibus, a participação da Marcopolo vem reduzindo. Nos últimos anos, novos fabricantes surgiram estimulados principalmente pelo crescimento da demanda interna e a perspectiva de conquistar mercados no exterior, o que elevou a capacidade instalada no setor e acirrou a competição com as encarroçadoras tradicionais. 8 Gráfico 1.2 – Evolução do Market Share da Marcopolo na Produção Brasileira de Carrocerias de Ônibus Evolução Market Share da Marcopolo na Produção Brasileira 49.8% 48.70% 43.4% 42.39% 38.05% 37.3% 35.50%36.40% 31.5% 30.3% 29.90% 28.8% 28.06%28.51% 27.90% 25.50% 38.7% 46.0% 45.3% 47.0% 45.8% 42.8% 39.2% 32.7% 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: Relatórios Anuais de 1983 a 2006 1.2. Objetivo do Estudo Quando se considera a origem da Marcopolo, numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, a trajetória de crescimento da empresa e a sustentabilidade do seu desempenho ao longo do tempo tornam a história da empresa ainda mais instigante para investigação. Como já mencionado a Marcopolo é maior encarroçadora de ônibus brasileira, uma das maiores do 9 mundo e com fábricas espalhadas por quatro continentes (Américas, Europa, África e Ásia). Não só atingir, bem como manter uma operação desse porte é algo que gera algumas reflexões. Afinal, como já mencionado, a Marcopolo não só assumiu a liderança nacional da indústria de carrocerias de ônibus, como também, despontou como uma das maiores fabricantes do planeta. Em virtude disso, a presente dissertação se apóia na história da Marcopolo com o objetivo de investigar em que medida a empresa driblou os efeitos colaterais do tamanho que foi assumindo, e de que forma tem desenvolvido capacitações organizações em direção a longevidade saudável. 1.3. Contribuições do Estudo Segundo Bethlem (1996), no Brasil não existe um grupo de profissionais que se dedicam a estudar a histórias das empresas brasileiras e dos setores econômicos nos quais elas estão inseridas. A partir disso, esse trabalho é mais um tijolo para a formação de um acervo de trabalhos históricos sobre empresas brasileiras, sendo também um trabalho de pesquisa sobre as indústrias automobilística e de carrocerias de ônibus, e principalmente sobre a história dos 59 anos da Marcopolo. 10 Bethlem (1999) defende, ainda, que no Brasil faltam modelos teóricos que possam ser aplicados à realidade do País. Em linha com isso, o presente trabalho também contribui para reforçar o arcabouço teórico desenvolvido por Fleck (2006) para avaliação da longevidade em empresas brasileiras. Uma questão chave dos estudos de Fleck (2006) é diferenciar mera sobrevivência de sobrevivência saudável. Para a autora, a sobrevivência saudável é a capacidade da firma se autoperpetuar, por meio de crescimento contínuo e da existência continuada. Esta dissertação, assim como outras que se baseiam no conceito de sucesso e longevidade saudável proposto por Fleck (2006), busca investigar como e por que algumas empresas atingem o sucesso, ou crescimento contínuo e a existência continuada, enquanto outras fraquejam e acabam sucumbindo ao longo do tempo. Analisar a trajetória percorrida por uma empresa, principalmente uma firma brasileira do porte da Marcopolo, oferece elementos que contribuem para a construção de uma teoria que contemple questões em debate no mundo acadêmico e corporativo, como crescimento, longevidade saudável e perpetuidade de empresas. Por fim, espera-se para a Marcopolo que o estudo contribua na promoção de um debate sobre o grau de conhecimento que a empresa detém sobre sua história, seus valores, seu caráter e quanto isso poderá acarretar em mudanças dentro da empresa. 11 1.4. Organização do Estudo O presente estudo está organizado em seis capítulos. Este capítulo inicial introduz o estudo, explicita seu objetivo e as contribuições esperadas, e informa a estrutura empregada. No segundo capítulo é apresentado o referencial teórico utilizado para a fundamentação da pesquisa. Tal arcabouço tem como alicerce os arquétipos do sucesso e do fracasso organizacional (Fleck, 2006). Há, também, referência a diversos outros estudos, como Fleck (2003), Penrose (1980), Chandler (1962, 1977, 1990 e 1992), Selznick (1957) e Oliver (1991 e 1992), por se tratarem da base conceitual dos arquétipos. O terceiro capítulo traz a metodologia empregada, o processo de coleta de dados, o detalhamento da visita realizada na Marcopolo bem como das entrevistas realizadas, e a metodologia de análise dos dados obtidos. O quarto capítulo é a análise da trajetória da Marcopolo, dividida em três fases, sob a luz do arcabouço teórico oferecido por Fleck (2006). O quinto capítulo conclui a pesquisa, sintetizando o resultado da análise da trajetória da Marcopolo, e aponta, também, algumas limitações e sugestões para estudos futuros. Nos apêndices 7.1 e 7.2 podem ser encontradas, com maior detalhamento, as histórias da indústria de ônibus no Brasil e da Marcopolo. 12 2. Revisão de Literatura Quem se interessa por estudos organizacionais, provavelmente acredita que é na estratégia onde moram as respostas para uma série de perguntas e, principalmente, a solução para todos os problemas. No entanto, antes de pensar quais seriam estas principais inquietudes, o que, afinal, seria estratégia? Sem dúvida, há uma vasta literatura que se apropriou deste termo e tem contribuído com os mais variados significados. Em linha com isso, Mintzberg (1987) disse a palavra estratégia tem sido utilizada implicitamente de maneiras diferentes, mesmo tendo seu significado formalmente definido de apenas uma forma. Alguns autores, como Ansoff (1965) e Christensen, Andrews & Bower (1974), há mais de três décadas já davam as primeiras pinceladas sobre o assunto. No entanto, não é o objetivo aqui explorar todas suas definições, muito menos chegar a um consenso sobre o que, afinal, significa estratégia. Assim, vamos utilizar a definição dada por Chandler em seu livro Strategy and Structure (1962). Segundo Chandler (1962), as decisões estratégicas estão relacionadas com a saúde da firma, no horizonte longo prazo. Uma estratégia estruturada seria, então, a determinação das metas e objetivos básicos no longo prazo, como também a adoção de um plano de ação e a alocação dos recursos necessários para se atingir tais metas estipuladas. 13 Já o termo estrutura foi definido como o desenho da organização pelo qual cada empresa é administrada (Chandler, 1962). O desenho para autor, seja formal ou informalmente definido, apresenta dois aspectos importantes: as linhas de autoridade entre os escritórios administrativos e os chefes; e o conjunto de informação e dados que circulam pelas linhas de comunicação e autoridade. Em outro extremo encontra-se Mintzberg (1985), que acredita que a estratégia pode surgir de duas formas – deliberada, como a proposta por Chandler (1962), e também, emergente. Define-se como estratégia deliberada a existência de intenções precisas na organização, articuladas em um nível concreto de detalhe, pela qual se evita qualquer tipo de dúvida no que se deseja alcançar antes que alguma ação seja tomada (Mintzberg, 1985). Por outro lado, uma estratégia emergente é aquela que se opõe a estratégia deliberada. Ou seja, em uma estratégia emergente deve existir ordem, ou seja, consistência ao longo do tempo, porém ausência de intenção em alcançar algo (Mintzberg, 1985). Dessa forma, qual seria o principal objetivo da estratégia, seja ela deliberada ou emergente? Segundo Porter (1991) a questão central da estratégia possivelmente seja identificar as razões pelas quais as firmas têm sucesso ou fracasso. Mas antes, para entender o que leva uma firma ao sucesso, é primordial entender quais são os objetivos da firma, e se sucesso seria, portanto, a conquista de tais objetivos. 14 2.1. A Firma Segundo Coase (1993), o objetivo básico da firma de acordo com a teoria econômica é a maximização dos seus resultados por meio da realização de sua atividade produtiva. No entanto, para o autor, alguns questionamentos surgem a partir da fragilidade que envolve a teoria das firmas sob uma perspectiva econômica. Um dos objetivos dos estudos de Coase (1993) é justamente criar uma ponte entre a lacuna existente da teoria econômica, onde a alocação de fatores é determinada pelos mecanismos de preços, com a idéia de que a alocação depende da coordenação do empreendedor. Para tratar o objetivo das organizações, Cyert & March (1963) apresentou o termo coalizão de indivíduos. Em organizações de negócios, como exemplificado pelo autor, os membros de coalizão podem incluir gerentes, trabalhadores, acionistas, fornecedores, clientes, advogados, agências regulatórias e etc. Para Cyert & March (1963), desenhar os limites de uma coalizão organizacional de imediato é muito difícil, já que as regiões de análise podem ser diversas dependendo das variáveis funcionais ou temporais. Segundo Cyert & March (1963) nenhuma das duas soluções econômicas clássicas ao problema dos objetivos da organização – objetivos definidos por um empreendedor ou consensual – são inteiramente felizes em explicar os objetivos das organizações, pois eliminam o conflito (por meio de consenso) que naturalmente existe. 15 Neste trabalho são levantadas três maneiras pelas quais os objetivos de coalizão são determinados: o processo de negociação pelo qual a composição e os termos gerais de coalizão são fixados, o processo organizacional interno de controle pelos quais os objetivos são estabilizados e elaborados e o processo de ajustamento de acordo com a experiência que os acordos de coalizão são alterados em resposta às mudanças do ambiente (Cyert & March, 1963). Segundo Barnard (1938), uma organização, simples ou complexa, é sempre um sistema impessoal de esforços humanos coordenados e estas pessoas devem: ser capazes de se comunicar entre si, estar dispostas a contribuir e ter um propósito em comum. Segundo Barnard (1938), a combinação destes três elementos é necessária e suficiente para o surgimento das firmas. Para Barnard (1938), uma vez estabelecidas, as organizações mudam o propósito que a une. Elas tendem a se perpetuar; e no desejo de sobreviver podem mudar as razões para existência. Dessa forma, estabelecer objetivos se torna um processo ininterrupto dentro da firma, e caso a empresa não alcance seu objetivo e seja incapaz de determinar novos objetivos, ela caminhará em direção ao fracasso (Barnard, 1938). Para Penrose (1980), a firma é uma organização administrativa e uma coleção de recursos produtivos. Seu principal propósito é organizar o uso dos seus recursos junto com os recursos adquiridos externamente, para a produção e venda de bens e serviços com lucro. Para Penrose (1980) a lucratividade não é um benefício que se restringe aos donos das empresas. A autora acredita que 16 através da retenção de maiores lucros, os gestores passam a ganhar maiores salários, bônus, como também, ter maior poder. Para Doyle (1994), alto desempenho não é atingir resultados excepcionais em uma ou duas medidas, mas sim obter resultados satisfatórios em critérios variados. Para ele as firmas geralmente focam em uma ou duas medidas de desempenho, como lucro por ação ou crescimento, o que não é sustentável ao longo do tempo. Para alcançar o sucesso, Bethlem (1998) destaca que a empresa deve almejar lucro, crescimento, sobrevivência e prestígio. 2.2. Crescimento e Sucesso Dentro os diversos indicadores de sucesso organizacional, o objetivo de crescer talvez seja o mais comum. Para Sloan (1990), ex-presidente da General Motors, não existe um lugar para descanso para uma empresa em uma economia competitiva. Para Sloan (1990), crescimento e progresso estão intimamente relacionados. E o progresso não pode ter um teto. Ele acredita que crescimento e a luta por ele são essenciais para a boa saúde da empresa. Quando era presidente da GM, ele não fazia previsões do tamanho da GM ou impunha tamanho como objetivo. Na visão de Sloan (1990), parar o crescimento é se sufocar. Ele acredita que crescimento não é uma barreira e sim um problema de gerenciamento. 17 De acordo com Tully (1995), outro defensor do crescimento é Larry Bossidy, ex número 2 na hierarquia da General Eletric. Bossidy prega que a redução de custos por si só não leva a prosperidade, e acredita que com economias mais desaceleradas, as companhias têm de encontrar caminhos alternativos para crescer e sair do sufoco. Bossidy vê dois benefícios principais em crescer. O primeiro tem um significado moral, que é capaz de afetar diretamente as pessoas. É por meio do crescimento que empregos são gerados, os funcionários são motivados e são atraídos os melhores executivos do mercado (Tully, 1995). O segundo é que por meio do crescimento que os números das empresas são direcionados, pois se ganha escala. Segundo Bossidy, a lucratividade só aumenta com eficiência, que por sua vez fornece a matéria-prima para o crescimento (Tully, 1995). Nessa linha, Starbuck (1965) defende que crescimento é mais um meio para se alcançar outros objetivos que um fim por si só. Entre alguns objetivos que podem ser alcançados por meio do crescimento o autor destaca, com base em estudos empíricos, a realização pessoal, aventura, prestígio, aumento de salário dos executivos, o lucro, redução do custo unitário, aumento de receita, aumento do poder monopolista, estabilidade, sobrevivência, etc. Para Starbuck (1965) o crescimento da firma não é um processo espontâneo. Ele é conseqüência de conjunto de decisões, que pode compreender decisões de contratar, de não despedir, de aumentar a produção em resposta à 18 demanda, de estimular a demanda, etc. Uma forma de medir o crescimento para Starbuck (1965) é através do número de funcionários da empresa. Isso não implica que as organizações e seus membros são racionais. Para Starbuck (1965) o crescimento pode até funcionar contrário aos interesses de alguns, ou até mesmo a maioria dos membros da organização. Outra forma de medir crescimento é proposta por Fleck (2006). Em seu estudo que comparou as trajetórias de crescimento das rivais General Eletric e Westinghouse, Fleck desenvolveu um indicador de tamanho da firma que funciona como uma medida relativa. Este indicador de tamanho é bem adequado a firmas diversificadas, pois compara a firma com a economia inteira e é calculado como uma porcentagem do faturamento da firma em relação ao PIB de seu país de origem. Outro ponto que deve ser levado em consideração é o horizonte de tempo que se está analisando. Para Weitzel & Jonsson (1989), é possível que uma empresa se contraia para, mais tarde, crescer. Dessa forma, crescimento pode não ser o indicador mais acurado para assinalar sucesso. Fleck (2006) apóia a afirmação ao salientar que existem empresas que crescem, às vezes por décadas, mas depois morrem. Para Weitzel e Jonsson (1989), algumas empresas ao crescerem estão dando seus primeiros passos em direção ao declínio. Foi tratando de declínio que Weitzel & Jonsson (1989) focaram sua discussão. Eles fizeram um apanhado geral do trabalho de outros pesquisadores e definiram que as organizações entram em estado de declínio quando falham em 19 antecipar, reconhecer, evitar, neutralizar ou se adaptar às pressões internas ou externas que ameaçam a sua sobrevivência num longo-prazo. Weitzel & Jonsson (1989) destacam a necessidade de sensibilidade da organização frente às condições dos ambientes internos e externos, tanto no presente quanto no futuro. Para Weitzel & Jonsson (1989), o declínio pode ser entendido como algo que ocorre em etapas. Por meio de características que podem ser observadas em vários pontos ao longo de um declínio contínuo, os autores contextualizaram tal processo e o dividiu em cinco estágios. Segundo Weitzel & Jonsson (1989) as dificuldades organizacionais de cada estágio dependem da história e do nível de desenvolvimento de cada organização, como também de sua eficiência em manter recursos e concluir objetivos em relação a seus competidores. Segundo Weitzel & Jonsson (1989) o declínio pode ser revertido até o quinto estágio. Dessa forma, no quinto estágio, já não haveria mais maneiras que permitissem uma recuperação. Nesse estágio a firma atinge o estado final do declínio, ou seja, o fracasso. No que tange a sobreviver, Meyer e Zucker (1989) criaram o conceito de Permanently Failing Organizations, que são organizações que apesar de constantemente obterem fracos desempenhos, persistem em existir. Meyer e Zucker (1989) destacam o risco que a institucionalização pode trazer para longevidade saudável de uma firma. Nestas firmas que beiram a falência, os indivíduos persistem em se manterem apáticos, insistindo em 20 soluções que evidenciam ineficiência e imediatismo, ao invés de pensarem em soluções inovadoras e duradouras. Sull (1999) sugere que o processo de tomada de decisão é diretamente influenciado pelos métodos utilizados em experiências anteriores. Isto torna a empresa incapaz de promover transformações radicais, quando colocada diante de um novo cenário. Dessa forma, Sull (1999) aponta que mesmo as firmas que tiveram sucesso no passado estão sujeitas às dificuldades de adaptação diante de um novo ambiente. Segundo (Teece, Pisano e Shuen, 1997), aquilo que uma empresa é capaz de fazer costuma estar, até certo ponto, limitado por suas posições e sua trajetória evolucionária, as quais são responsáveis por moldar as competências e capacitações dinâmicas que residem nos processos organizacionais da empresa. Entendido o processo de declínio, voltemos a tratar do sucesso. Segundo Fleck (2006), o sucesso no longo prazo pose ser encarado como longevidade, e significa a persistência e alta performance, fruto de um crescimento rentável e da preservação da integridade. Antevendo a importância que o tema crescimento ganharia nas corporações, Starbuck, em 1971, afirmou que sem tardar o começo de uma teoria geral do crescimento aparecerá (Starbuck, 1971 apud Fleck, 2003). Segundo Starbuck, o assunto crescimento organizacional estava pronto e precisava desesperadamente de pesquisa empírica sólida e sistemática, explicando hipóteses e utilizando métodos estatísticos sofisticados. No entanto, porque uma teoria geral seria necessária? 21 Segundo Bunge (1999, p. 115) as principais vantagens em se formular uma teoria são: 1) A teoria unifica um número de hipóteses previamente dispersas; 2) Tal coalizão torna possível provar (deduzir) certas hipóteses em relação a outras; 3) Algumas conseqüências podem ser novas, ou seja, desconhecidas até que a teoria fosse proposta; 4) O suporte mútuo dos componentes de teria torna mais fácil examinar cada um deles em profundidade em relação aos outros; 5) Cada confirmação de um dos componentes da teoria reforça indiretamente todos os outros; 6) Cada contra-exemplo de um componente da teoria gera dúvida nos outros. Obviamente bem organizados, ou seja, axiomados, as teorias apresentam todas essas virtudes no mais alto grau (Bunge,1999). Com isso em mente, ao longo das últimas décadas, para se compreender melhor quais fatores explicam o comportamento das organizações, teorias sobre crescimento organizacional (Penrose, 1980; Starbuck, 1971) e sucesso e fracasso organizacional (Fleck, 2006) têm sido desenvolvidas. 22 O sucesso organizacional, ao contrário do fracasso, não é simbolizado por um estágio final (Fleck, 2006). Segundo Chandler (1977) o sucesso é um estado em potencial no qual se aproxima à medida que a empresa cria uma propensão a autoperpetuação. Segundo Fleck (2006), as organizações passam por um processo dinâmico pelo qual a propensão a autoperpetuação pode ser desenvolvida, aumentada, reduzida ou eliminada. Muito parecido com o processo de crescimento descrito por Penrose, (1980), o processo de autoperpetuação não ocorre de forma automática. Para Chandler (1977), a autoperpetuação tem a ver com a capacidade que a organização tem de viver sem seus membros. Dessa forma, o autor sugere que para atingir a autoperpetuação, uma série de mecanismos é exigida à organização, como, por exemplo, a formação de hierarquias gerenciais (Chandler, 1977, 1999). Na visão de Fleck (2003) um motivo que contribui para a inexistência de uma teoria geral do crescimento é a ênfase na investigação de relações causais. Segundo Fleck (2003, p. 11), a causalidade implica uma relação necessária e suficiente entre dois eventos, sendo obtida quando condições externas determinam o resultado de forma única ou não ambígua. Para Fleck (2003), a teoria em organizações, principalmente no que diz respeito ao crescimento organizacional, deveria sistematicamente buscar identificar relações diferentes das causais. Como alternativa, a autora destaca as 23 relações de necessidade, que se baseiam em condições necessárias, porém insuficientes. 2.3. Os Motores de Crescimento Na tentativa de suplantar algumas limitações de abordagens anteriores e colaborar para uma teoria de características dinâmicas sobre o crescimento da firma, Fleck (2003) sugere a partir de um estudo detalhado da obra The Visible Hand de Chandler (1977), a estrutura geral de dois motores atuantes nos processos de crescimento. Para tal é adotada uma perspectiva de crescimento orientada a processo, que visa a identificar cadeias de relações de necessidade em processos associados ao crescimento da firma. As duas estruturas propostas por Fleck (2003) foram denominadas de motor de crescimento de crescimento contínuo e o motor de coevolução. O primeiro, aponta os blocos que compõem um processo, no qual crescimento gera mais crescimento. Por sua vez, o motor de coevolução relaciona o crescimento concomitante de um todo e suas partes, a exemplo de firmas (partes) e indústrias (todo) emergentes ou indústrias passando por importante processo de transformação. 24 2.3.1. Motor de Crescimento Contínuo Na visão de Chandler (1977), a capacidade de autoperpetuação da firma moderna é resultado de dois processos concomitantes: crescimento contínuo e existência continuada. Pelo processo de crescimento contínuo que novas oportunidades de expansão e renovação são trazidas a firma. Segundo Chandler (1977) as expansões da firma possuem duas fontes principais de motivação: Motivação Defensiva – São responsáveis por controlar mudanças. As expansões defensivas visam à segurança do negócio. Seus objetivos incluem desde inibir a entrada novos competidores até se fortalecer frente aos fornecedores. Alguns exemplos são: verticalização, expansão para prevenir falta de suprimento; expansão para prevenir falta de canal de distribuição. Motivação Produtiva – São responsáveis por promover mudanças. As expansões produtivas permitem um aumento de produtividade através de redução de custo. Para Chandler (1977) as expansões produtivas são mais rentáveis que as defensivas, e determinam a direção na qual a empresa cresce. As expansões produtivas podem resultar em: economias de escala, escopo ou tempo, aumento de produtividade, redução de custos unitários e aumento a quantidade de recursos subutilizados, ou em outras palavras, aumento da folga de recursos (Penrose, 1980). 25 Ao se expandir, recursos ociosos ou transferíveis são produzidos, o que de fato passa a ser a semente para mais crescimento (Chandler, 1977). Tal noção de crescimento contínuo está alinhada com a visão de Penrose (1980), ao sugerir que os recursos subutilizados constituem os agentes do crescimento contínuo, ou seja, o crescimento surge de uma maior utilização dos serviços intrínsecos nos recursos produtivos da firma, sejam eles físicos ou humanos. Tal crescimento pode vir da aquisição de novos recursos ou da descoberta de novos serviços referentes a recursos já existentes. Neste segundo caso, supõe-se que os recursos da firma estão subutilizados, pois são explorados conforme as características específicas do negócio, como também do nível de experiência e maturidade. Penrose (1980) acredita que a existência de recursos subutilizados na empresa funciona como um estímulo à descoberta de novas formas de explorá-los. Segundo Chandler (1962), além da utilização eficiente de recursos produtivos, o processo de crescimento envolve também a ajustamento da estrutura organizacional em virtude do aumento da complexidade das atividades que são executadas pela firma. Para Chandler (1962), a estrutura organizacional é desenho de como a firma é administrada, e compreende os níveis hierárquicos e o fluxo de informações entre eles, e sua função é administrar atividades e recursos de grande porte. Fleck (2003) partiu do conceito de expansão produtiva de Chandler (1977) e desenvolveu o motor de crescimento contínuo. Em suma, Fleck (2003) propõe 26 que o crescimento é um processo resultante de cadeias de relações de necessidade e as expansões produtivas produzem os mecanismos de reforço necessários para oferecer tal continuidade ao crescimento. O processo de crescimento é formado pelos estágios de desequilíbrio, de expansão e mecanismo de reforço, como pode ser observado na Figura 2.1. Figura 2.1 – Estrutura Geral do Motor de Crescimento Contínuo Fonte: Fleck (2003) A base do motor parte do princípio que os recursos da firma, por serem indivisíveis, estão sempre subutilizados, ocasionando um desequilíbrio natural. O desequilíbrio, que pode ocorrer dentro ou ao redor da firma, exige uma melhor utilização de recursos existentes na empresa (Chandler, 1977). Tal utilização resulta em expansão, que por sua vez, gera algum tipo de mudança produzida durante o processo de expansão, que pode intensificar o desequilíbrio. Fleck (2003) apresentou quatro instâncias do motor de crescimento 27 contínuo, sendo o de diversificação relacionada àquele que melhor corresponde aos processos descritos por Chandler e Penrose: • Inercial – crescimento quantitativo das mesmas coisas; • Inovação – crescimento pelo refinamento de produtos novos; • Horizontal – crescimento pela aquisição de rivais; • Diversificação relacionada – crescimento orgânico pelo desenvolvimento de atividades relacionadas. 2.3.2. Motor de Co-evolução Em sua obra, Chandler (1977) estudou o crescimento de firmas e indústria, simultaneamente, e sugeriu que o desenvolvimento da capacidade de crescimento de uma indústria funciona como um requisito para que o crescimento da firma ocorra. A partir desse trabalho, um relato histórico da formação da indústria de transporte ferroviário nos EUA, Fleck (2003) desenvolveu o motor de co-evolução, que busca relacionar o processo de crescimento de um todo com suas partes. Tal processo, cuja estrutura geral está esquematizada na Figura 2.2, é formado por cinco blocos: 1) Cooperação entre partes, que pode ocorrer espontânea ou compulsoriamente; 28 2) Padronização do todo, que pode abranger tecnologia, produtos e /ou processos; 3) Homogeneização de ofertas de produtos e /ou serviços em decorrência da padronização; 4) Competição entre partes em virtude da escassez de recursos vitais às partes; 5) Crescimento do todo decorrente da padronização instituída. A cooperação entre as firmas promove a padronização de toda a indústria, que por sua vez é uma condição necessária para o desenvolvimento e crescimento de toda a indústria. Devido à oferta de produtos e serviços homogênea, a cooperação dá lugar a uma maior competição entre as firmas, pois a padronização reduz a diferenciação entre as mesmas e as incertezas no que tange à tecnologia, produto ou processo. Por final, a ação das firmas existentes e das novas promove um estímulo do nível global de atividade da indústria. Na visão de Fleck (2003), o motor de co-evolução pode se referir também a outros pares, como indústria–firmas, unidades de negócio–firma, firma–funcionários e economia–indústrias. 29 Figura 2.2 – Estrutura Geral Motor de Co-evolução de Todo e Partes PARTES COOPERAÇÃO HOMOGENEIZAÇÃO Voluntária ou Compulsória Ofertas de Produtos e/ou Serviços CN Tecnologia, Produtos e/ou Processos + Recursos Escassos + PADRONIZAÇÃO TODO COMPETIÇÃO CRESCIMENTO CN Viabilizado Obs.: CN = condição necessária Fonte: Fleck (2003) Em resumo, o motor de crescimento contínuo designa um processo, no qual crescimento gera mais crescimento, e expansões alimentam condições favoráveis a novas expansões. Por outro lado, o motor de co-evolução é acionado quando os processos de crescimento da firma e da indústria ocorrem de forma relacionada e concomitante. Para (Fleck, 2003), ambas as abordagens reforçam a idéia que o crescimento deve ser estudado como processo e não como evento. 2.4. Arquétipos de Sucesso e Fracasso Organizacional Esta seção tem o objetivo de se aprofundar nos estudos de Fleck (2006) que desenvolveu os arquétipos de sucesso e fracasso organizacional. O que 30 fundamenta este estudo foi uma análise comparativa da General Eletric e Westinghuse ao longo de doze décadas, a partir da qual a autora sugere que as chances do sucesso de longo prazo de cada firma foi afetada pela maneira como elas responderam a cinco desafios organizacionais do crescimento. Para Fleck (2006) o sucesso (fracasso) organizacional tem a ver com a habilidade (inabilidade) de gerenciar os desafios relacionados ao crescimento. Os pólos de respostas à direita na Tabela 2.1 descrevem um conjunto de capacidades e habilidades requeridas para um sucesso organizacional de longo prazo, enquanto os pólos à esquerda caracterizam um conjunto de obrigações que levam ao fracasso organizacional. 31 Tabela 2.1 – Os Cinco Desafios Organizacionais Categoria do Desafio Descrição do Desafio Promoção de contínuo empreendedorismo a partir da disposição da empresa de realizar expansões com mecanismos de Empreendedorismo reforço e criação de valor sem superexposição ao risco Navegação no Ambiente Polo de Respostas aos Desafios Baixo (baixos níveis de ambição, versatilidade, imaginação, visão, engenhosidade em levantar recursos financeiros, julgamento e realização de expansões nulas ou defensivas) Tratar com múltiplas partes Passivo interessadas para assegurar captura (Monitoramento ruim, uso de valor e legitimidade. prematuro ou inadequado de estratégias de navegação) Manter integridade da firma diante de aumento de conflitos organizacionais e rivalidades Alto (altos níveis de ambição, versatilidade, imaginação, visão, engenhosidade em levantar recursos financeiros, julgamento e realização de expansões produtivas ou híbridas) Ativo (Monitoramento regular, uso preciso e adequado de estratégias de navegação) Fragmentação (Fracasso no estabelecimento de relacionamentos de integração e de capacitações em coordenação) Integração (Estabelecimento bem sucedido de relacionamentos de integração e de capacitações em coordenação) Constantmente preparar a firma com Atrasado os recursos humanos qualificados (Ações tardias ou apenas no Formação de momento que existe Recursos Gerenciais necessários necessidade) Planejado (Ações planejadas com antecedência) Gestão da Diversidade Gestão da Complexidade Gerenciar questões complexas e solucionar problemas de tamanha complexidade, como evitar riscos à existência da organização Ad Hoc (Baixa capacitação para solução de problemas, utilizando-se de busca imediata de soluções e sem gerar aprendizado) Sistemático (Forte capacitação para solução de problemas, promovendo uma abrangente busca por soluções e fomentando o aprendizado) Fonte: Fleck (2006) O conjunto de capacidades/habilidades e obrigações constitui, respectivamente, os arquétipos de sucesso e fracasso. Fleck (2006) idealizou dois termos para designar estes arquétipos. As firmas que se comportam de acordo com o conjunto de capacidades/habilidades (pólo de respostas à direita) são chamadas de organizações autoperpetuantes. Por outro lado, aquelas cujo 32 comportamento se encaixa no conjunto de obrigações (pólo à esquerda) são chamadas de organizações autodestruidoras. Na verdade, as organizações reais operam em estados intermediários entre os dois pólos. Quanto mais capacidades/habilidades uma organização desenvolve e faz uso, mais ela se aproxima do pólo da autoperpetuação, e quanto mais obrigações ela desenvolve mais ela se aproxima do pólo da autodestruição. A Figura 2.3 esquematiza essa realidade. Figura 2.3 – Contínuo de Estados Organizacionais Fonte: Fleck (2006) Isso implica que quanto maior a propensão da organização em desenvolver capacidades/habilidades de autoperpetuação, maiores são as chances dela em experimentar sucesso, e quanto maior a propensão da organização desenvolver capacidades/habilidades de autodestruição, maiores são as chances de declinar e se colocar diante da extinção (Fleck, 2006). 33 2.4.1. Empreendedorismo Na visão de Fleck (2006), o desafio do empreendedorismo consiste em desenvolver uma disposição em expandir de forma contínua. Isto compreende a disposição em se arriscar, no entanto, buscando maneiras de evitar riscos e ainda assim crescer, desenvolver uma habilidade de crescimento contínuo ao invés de pontual. A lógica do desafio do empreendedorismo está alinhada com o motor de crescimento contínuo (Fleck, 2003), no qual crescimento gera mais crescimento, e expansões alimentam condições favoráveis a novas expansões. De acordo com Penrose (1980) as atividades produtivas são governadas pelas oportunidades produtivas. Estas oportunidades compreendem todas as possibilidades produtivas que os empreendedores enxergam e apontam como vantagens para a firma. Para Penrose (1980) a teoria de crescimento da firma é essencialmente um exame das oportunidades produtivas que constantemente se alteram Segundo a autora, uma firma empreendedora, vai permanentemente dedicar parte de seus recursos na tarefa de investigar possíveis caminhos para uma expansão lucrativa, se suportando em experiências passadas. Tais experiências apontam que sempre existem oportunidades para o aumento de rentabilidade e/ou que uma expansão é necessária num ambiente competitivo. Na visão de Penrose (1980), empreender é uma predisposição psicológica por parte dos indivíduos em correr risco na esperança de ganhar, e em particular, 34 empenhar esforço e recursos em atividades arriscadas. Por outro lado, muitos dos serviços que um empreendedor de uma firma pode produzir não são resultados de suas características temperamentais, mas são moldados e condicionados pela própria firma. Segundo Penrose (1980) alguns aspectos temperamentais da qualidade dos serviços empreendedores são: Ambição: A ambição é o que dá motivação ao empreendedor a buscar novas oportunidades. Existem dois tipos de ambição empreendedora. O primeiro tipo se relaciona com o interesse do empreendedor em aumentar a rentabilidade e o tamanho de sua empresa, através da produção e distribuição de mais produtos ou serviços. Eles sentem orgulho da organização e na visão deles, a melhor maneira de gerar lucro é através da melhoria e ampliação das atividades da organização. O segundo tipo se relaciona aos empreendedores chamados de “empire-builder”, que são indivíduos empurrados por uma visão de criar um império industrial poderoso sobre uma área ampla. O “empire-builder” elege a aquisição e a eliminação de competidores como principal meio de ampliação de sua empresa. Engenhosidade em levantar recursos financeiros: As firmas novas, pequenas e desconhecidas não desfrutam da mesma facilidade em levantar recursos financeiros que as firmas estabelecidas, grandes e conhecidas. No entanto, muitas firmas 35 pequenas, devido a uma habilidade especial do empreendedor, têm êxito em levantar empreendedor recursos necessário financeiros. para levantar O tipo recursos de serviço não está intimamente relacionado com o tipo de serviço necessário para gerenciar uma firma eficientemente. Levantar recursos exige uma habilidade do empreendedor em transmitir, principalmente, confiança. Versatilidade: Enquanto a versatilidade técnica e gerencial são principalmente questões que envolvem a competência técnica e administrativa, a versatilidade empreendedora é uma questão de imaginação e visão, podendo ser ou não prática. A versatilidade está relacionada com a capacidade do empreendedor em gerar idéias, descobrir e reconhecer alternativas, utilizar o instinto para tomar decisões no tempo correto e vislumbrar oportunidades não tão óbvias. Julgamento: Ao contrário de versatilidade, engenhosidade e ambição, o julgamento empreendedor é uma qualidade relacionada exclusivamente às características pessoais ou ao temperamento do indivíduo. O julgamento envolve mais que uma combinação de imaginação, bom senso, autoconfiança e outras qualidades. O julgamento está intimamente relacionado com a coordenação de informações coletadas e instalações consultivas dentro de uma firma, 36 que visão a uma melhor avaliação dos riscos e incertezas que cercam o crescimento da firma. É através do bom julgamento que o empreendedor evita que a firma se encontre em situações de perigo. No entender de Penrose (1980), uma firma, para se expandir, deve ter um forte incentivo interno provido pela presença de um enérgico e ambicioso empreendedor com muitas idéias. No entanto, se ao mesmo tempo a firma não possui habilidades gerenciais ou técnicas para levar essa idéia em ação, um significante obstáculo interno para expansão vai existir e vai influenciar a direção da expansão escolhida. Dessa forma, Penrose (1980) sugere que habilidades empreendedoras e gerenciais constituem condições necessárias para o crescimento da firma. Enquanto os serviços empreendedores são necessários para gerar um crescimento rentável, os serviços gerenciais são responsáveis por coordenar, de forma rentável, a utilização de recursos diante do aumento da complexidade que a expansão provoca. Os serviços gerenciais são frutos do aprendizado e do acumulo de experiência dentro da firma. Além dos serviços empreendedores (Penrose, 1980), a motivação para crescer (Chandler, 1977) foi apontada por Fleck (2006) como elemento necessário ao crescimento da firma, ou seja, é necessário promover expansões para estabelecer mecanismos de reforço, e dessa forma permitir a continuidade do 37 processo de crescimento. Em linha com tais motivações, Chandler (1977) identificou as expansões produtivas e defensivas. Fleck (2006) propõe outras duas formas possíveis de expansão: a híbrida e a nula. A expansão híbrida é uma combinação entre as expansões produtiva e defensiva. Tal expansão permite a firma, através do crescimento contínuo melhorar sua eficiência, como também protege os negócios existentes por meio de mecanismos defensivos. Já a expansão nula alinha-se tipicamente às expansões dos “empirebuilders” (Penrose, 1980), não criando mecanismos de reforço para dar continuidade ao crescimento e nem protegendo os negócios existentes. Na visão de Fleck (2006), as firmas que optam somente por expansões defensivas ou nulas, enfrentarão problemas de renovação no longo prazo. 2.4.2. Navegação no Ambiente Segundo Fleck (2006), o desafio de navegação no ambiente é representado tanto pela maneira como a firma lida com os diferentes stakeholders dentro de um ambiente em mudança, como pela capacidade que a firma tem em capturar valor e assegurar a legitimidade da organização. Para navegar de forma bem sucedida, as respostas da firma a esse desafio devem compreender um satisfatório 38 monitoramento das pressões ambientais, e um uso preciso e adequado de toda gama de estratégias de navegação. Oliver (1991) propõe cinco tipos de respostas estratégicas que as organizações podem realizar em resposta às pressões institucionais. Estas são: consentir, negociar, evitar, desafiar e manipular. Por meio destas respostas as organizações sinalizam como elas reagem aos diferentes estímulos externos. Tais respostas podem variam de uma conformidade passiva até resistência ativa. As respostas estratégicas para processos institucionais de Oliver (1991) e suas respectivas táticas podem ser observadas na Tabela 2.2 e estão listadas seguindo uma ordem da mais passiva até a mais ativa. Tabela 2.2 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais. Estratégia Consentir Negociar Tática Aderir Seguir normas invisíveis, aceitas como padrão Imitar Imitar modelos institucionalizados Cumprir Obedecer regras e aceitar normas Equilibrar Equilibrar as expectativas de múltiplos stakeholders Pacificar Apaziguar e acomodar elementos institucionais Barganhar Ocultar Evitar Proteger Fugir Desafiar Negociar com stakeholders institucionais Disfarçar a desconformidade Desprender-se de compromissos institucionais Mudar metas, atividades ou domínios Destituir Ignorar normas e valores explícitos Desafiar Contestar regras e requerimentos Atacar Cooptar Manipular Exemplo Violar as fontes de pressão institucional Conquistar apoio de elementos influentes Influenciar Moldar valores e critérios Controlar Dominar elementos e processos institucionais 39 Fonte: Oliver (1991) As firmas que têm uma posição mais ativa procuram modelar o ambiente, e consequentemente adotam as estratégias de manipular e desafiar. As firmas com uma postura menos ativa buscam neutralizar as pressões do ambiente através da estratégia de evitar. Em oposição a elas, existem as firmas que têm uma posição mais passiva e procuram se ajustar as situações que vêem como longe de seu alcance, através das estratégias de negociar e consentir. Para se tornarem mais propensas a desenvolver novas oportunidades de crescimento, as firmas devem buscar as estratégias de influenciar e realizar mudanças no ambiente. Em contra partida, as firmas que adotam uma postura de consentimento e negociação em relação às condições ambientais se tornam mais propensas ao declínio ou à estagnação. Segundo Fleck (2006), caso a organização fracasse em monitorar as pressões do ambiente ou utilize as estratégias de navegação de forma inadequada ou prematura, sua existência no logo prazo pode ser afetada, pelos seguintes motivos: falha na captura de valor, redução da habilidade em promover ou reagir a mudanças, e a ameaça da legitimidade. 2.4.3. Gestão da Diversidade 40 Na visão de Fleck (2006), o desafio da gestão da diversidade está ligado à manutenção da integridade da firma ao passo que a firma experimenta um aumento da diversidade. À medida que a firma cresce, a diversidade organizacional aumenta em diversos aspectos: mercado, produtos, tecnologias, recursos humanos. Tal aumento de diversidade pode fazer com que surjam conflitos e rivalidade, ameaçando a unidade organizacional. Para se conseguir uma gestão bem sucedida da diversidade é preciso saber distinguir elementos heterogêneos dos homogêneos e fomentar laços sutis de união (Stickland, 1998 apud Fleck, 2006). Segundo Fleck (2006) a criação de laços não ocorre somente através do compartilhamento de bens comuns, instalações, pessoal e serviços, como também de itens menos tangíveis, como a reputação da organização, os mitos da organização (Selznick, 1957), e percepções que são compartilhadas em relação aos fatores considerados ameaças a organização. Esses laços podem existir na forma de compartilhamento de recursos para aspectos homogêneos ou na forma de intercâmbio e/ou combinação de recursos para aspectos heterogêneos. Devido à complexidade de interações e fortes relações existentes que existem nessa segunda forma, é provável que a organização se qualifique com processos que são difíceis e custosos de serem imitados (Barney, 1997). 41 Na visão de Fleck (2006), a construção de laços de união exige capacidades de coordenação, que por sua vez, envolve a implementação apropriada de mecanismos de coordenação. Uma implementação com êxito não extingue a heterogeneidade. Ao contrário, esta implementação faz uso construtivo dos elementos heterogêneos, estimulando a integração organizacional. Por outro lado, uma fraca coordenação faz com que os membros da organização abstenham-se da cooperação, buscando cada vez mais autonomia, o que acaba produzindo a fragmentação da organização. Na visão de Barnard (1938), a cooperação bem sucedida compõe importante desafio gerencial. O autor acredita que como tal cooperação nas organizações constitui a exceção, são poucas as organizações que de fato sobrevivem. No entender de Selznick (1957) o mais importante problema da existência das organizações é a rivalidade organizacional, devido sua capacidade de ameaçar a unidade do todo. Dessa forma, uma má gestão da rivalidade pode ocasionar o desaparecimento da organização. Segundo Selznick (1957), a autopreservação de uma instituição requer a preservação da integridade organizacional, condições necessárias para desenvolver a propensão à autoperpetuação da organização (Fleck, 2006). No que tange a processos de integração, como fusões e aquisições, para Haspeslagh & Jemison (1991), a tarefa essencial é criar o maior valor possível quando duas organizações são combinadas, um valor que não existiria se as firmas operassem separadamente. 42 Para se obter o melhor resultado os autores sugerem a utilização de três tipos de abordagens de integração – preservação, simbiose e absorção – as quais variam de acordo com a necessidade de interdependência estratégica entre as firmas e autonomia organizacional. Estas abordagens discutem o trade-off entre preservar e transferir as capacidades/habilidades estratégicas. Além desses dois fatores, Haspeslagh & Jemison (1991) colocam a qualidade e o tamanho da companhia como outros pontos importantes que também devem ser analisados ao se escolher uma abordagem de aquisição. Por considerar que cada caso é um caso, Haspeslagh & Jemison não acreditam que exista uma receita de bolo para integrar cada aquisição. 2.4.4. Formação de Recursos Gerenciais A folga de recursos produtivos é um componente necessário para o crescimento (Fleck, 2006) e o desafio da formação de recursos gerenciais se dá pela necessidade de manter constantemente a firma equipada com recursos humanos qualificados. Assim, a firma tem um desafio de agir constantemente em questões importantes como: antecipação de necessidades, formação, retenção, desenvolvimento e renovação de recursos. Na visão de Penrose (1980), a formação de recursos, a retenção, o desenvolvimento e a renovação são vitais para crescimento contínuo da firma. Segundo Chandler (1977), contratando e treinando empregados novos e 43 existentes, a firma é capaz de regenerar suas capacidades. Além disso, o comprometimento de longo prazo dos gerentes para com a firma é uma condição necessária para que ela desenvolva uma perspectiva de longo prazo e uma propensão à existência continuada. Segundo Fleck (2006), falhar em providenciar os talentos gerenciais necessários de forma planejada, além de inviabilizar expansões, enfraquece a integridade organizacional, como é o caso de um recrutamento massivo. Sem contar, como advertido por Penrose (1980), um gestor precisa de tempo para se integrar à nova firma. Por outro lado, uma antecipação ao desafio, através de ações planejadas, faz com que a firma consiga se equipar com os recursos necessários sem passar por grandes transtornos. 2.4.5. Gestão da Complexidade O desafio da gestão de complexidade afeta diretamente a qualidade das respostas dos outros desafios. Para Fleck (2006), o desafio da gestão de complexidade ocorre a partir da necessidade de gerir questões complexas e solucionar problemas, que envolvem um vasto número de variáveis independentes. É também através desse desafio que se evita colocar a existência da organização em risco, como resultado de avaliação imperfeita da situação. 44 Para se resolver problemas complexos são necessários procedimentos sistemáticos de: coleta de dados, análise, tomada de decisão e implementação. Resolver problemas de forma sistemática permite que a organização esteja continuamente aprendendo e buscando soluções cada vez mais abrangentes. Através deste continuo auto-aprendizado, a firma cria o hábito de resolver problemas ao passo em que eles aparecem se tornando menos vulnerável a eventuais adversidades. Tal aprendizado é essencial para o desenvolvimento de capacidades/habilidades na firma, que por sua vez são requisitos necessários quando a firma está diante dos desafios de empreendedorismo, navegação no ambiente, gestão da diversidade e formação de recursos gerenciais. Segundo Fleck (2006), quanto maior fica a organização se torna, provavelmente, mais complexa ela também se torna. Quanto mais complexa a organização, a resolução de problemas de forma sistemática passa a ser mais vital. Através dessa forma sistêmica de solução de problemas, a organização passa a se prevenir de avaliações superficiais e imediatistas, o que acaba por contribuir para a preservação de sua integridade organizacional (Selznick, 1957). Por outro lado, a firma que institucionaliza o estilo “apagar incêndios” para resolver problemas (Winter, 2003 apud Fleck, 2006) coloca em perigo a continuidade de sua existência. 45 2.5. Modelo de Requisitos para o Desenvolvimento da Propensão a Autoperpetuação Organizacional Como apresentado anteriormente, Fleck (2006) sugere que o sucesso (fracasso) organizacional tem a ver com a habilidade (inabilidade) de gerenciar os desafios relacionados ao crescimento. Na visão de Fleck (2006) as firmas que respondem positivamente a esses desafios (pólo à direita) são denominadas organizações autoperpetuantes, enquanto aquelas que respondem negativamente (pólo à esquerda) são denominadas organizações autodestruidoras. As relações entre os requisitos que levam à autoperpetuação foram esquematizadas por Fleck (2006) através de um modelo de processos e por pode ser observado na Figura 2.4. Através desse modelo Fleck (2006) sugere que as duas condições necessárias para o sucesso organizacional de longo prazo são: renovação continuada através do crescimento organizacional e preservação da integridade organizacional. A folga constitui um ponto extremamente importante no modelo de Fleck (2006), pois ela é o ingrediente necessário ao crescimento contínuo, pois ela é uma condição necessária a renovação da organização. Por outro lado, o crescimento também gera folga, pois o processo de crescimento produz recursos subutilizados que por sua vez, ficam disponíveis para novas expansões. Segundo Fleck (2006), folga pode influenciar tanto positivamente como negativamente a integridade organizacional. Quando desenvolve e implementa mecanismos de coordenação é vista como positiva. Quando utilizada para compensar 46 procedimentos operacionais imperfeitos, comunicação deficiente e conflitos organizacionais mal negociados, a folga é vista como negativa. 47 Figura 2.4 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-Perpetuação Fonte: Fleck (2006) 48 3. Metodologia 3.1. Definição do Site e do Tema Como já apresentado no capítulo introdutório, inspirada em Fleck (2007), esta dissertação tem por objetivo investigar os desafios enfrentados e as maneiras utilizadas por uma organização para superar os efeitos colaterais de seu crescente tamanho ao longo de sua existência, e de que forma desenvolve capacitações organizações em direção a longevidade saudável. Para auxiliar a responder tal pergunta, a Marcopolo, empresa de carrocerias de ônibus brasileira, foi selecionada como objeto de estudo. Com quase seis décadas de existência, a Marcopolo apresenta diversas características que a tornam uma candidata qualificada ao estudo. A Marcopolo integra a indústria automobilística brasileira, uma das maiores do mundo (OICA, 2006). O parque automobilístico brasileiro é dominado basicamente por grandes montadoras multinacionais. No entanto, ao longo dessas mais de cinco décadas, que tem a data de nascimento atribuída ao ano de 1956, toda uma indústria adjacente, em sua maioria formada por empresas brasileiras, se desenvolveu para abastecer essas grandes montadoras. Impulsionada pela instalação de grandes montadoras no Brasil e por um grande mercado consumidor, a indústria de carrocerias de ônibus no Brasil 49 também se desenvolveu, e hoje conta com algumas grandes empresas, tornando o Brasil um dos maiores produtores mundiais de ônibus. Foi nesse cenário, que a Marcopolo nasceu, cresceu e hoje é a maior encarroçadora de ônibus brasileira e uma das maiores do mundo. Dada sua importância para o País, a indústria automobilística brasileira é bastante estudada o que facilita a obtenção de informações. A Marcopolo, devido sua posição no seu segmento de atuação, não fica atrás, sendo bem estudada. Além desta relevância, condição imprescindível para a seleção da empresa, outros fatores corroboraram para a escolha da Marcopolo como o site de estudo: A fundação da empresa ocorreu em 1949, o que proporciona 58 anos (1949 – 2007) para análise de sua trajetória; A empresa apresenta capital aberto na Bolsa de Valores desde 1978, o que possibilita obter informações financeiras de um período de quase três décadas; A empresa é bastante estudada, tendo em vista o número de dissertações de mestrado e outros documentos produzidos sobre a Marcopolo nos últimos anos, Tais materiais fornecem boa fonte de dados secundários sobre a empresa; A empresa foi eleita diversas vezes nos últimos anos pela Revista Exame como uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil. A empresa, nos últimos dez anos, partiu para um movimento 50 de internacionalização com a instalação de fábricas em diversos países. Estes dois fatores ampliaram sua presença na mídia especializada e a disponibilidade de informações. Por fim, porém não menos importante, a empresa abriu as portas de suas instalações na cidade de Caxias do Sul para visitação, bem como disponibilizou a agenda de diversos funcionários e exfuncionários para entrevistas. 3.2. Método de Pesquisa Segundo Yin (1989), para se escolher o método de pesquisa, dentre os diversos métodos existentes, deve-se levar em consideração, principalmente, 3 condições: O tipo da pergunta a ser aplicada; O nível de controle que o pesquisador deterá sobre os eventos comportamentais; O nível de interesse para utilizar eventos históricos para contrapor os eventos contemporâneos. 51 A descrição de cada estratégia, segundo tais condições, é apresentada na Tabela 3.1. Tabela 3.1 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa Fonte: Yin (1989) Por se tratar de uma pesquisa com caráter descritivo e exploratório, os diversos tipos de pergunta foram utilizados para orientar a evolução da dissertação. Alguns exemplos de perguntas utilizadas foram: Como a empresa conseguiu financiar seu crescimento nos primeiros anos? Por que os irmãos Nicola se desligaram da empresa? Como ocorreu a introdução das técnicas japonesas de produção na Marcopolo? Por que a Marcopolo iniciou um processo de internacionalização? 52 A pesquisa tomou como base a utilização de eventos históricos, e não necessitou controle sobre eventos comportamentais. Em virtude de tais características, a pesquisa realizada foi resultado de um conjunto de análise de arquivo, histórica e estudo de caso. 3.3. Coleta de Dados Conforme já mencionado por Bethlem (1999 e 2003), a falta de informações é um dos maiores entraves para o desenvolvimento de um conhecimento verdadeiramente brasileiro. A coleta de dados, apesar de trabalhosa, foi de suma importância para a condução da pesquisa, principalmente devido a seu caráter histórico e longitudinal. Os dados foram obtidos por meio da própria empresa, como também, através de fontes secundárias. 3.3.1. Dados Secundários Apesar de seu inegável poder de armazenamento de dados e capacidade de disponibilizar a informação em apenas alguns segundos e em poucos “cliques”, a internet não foi a principal fonte de informação para a realização desse estudo. As visitas às seguintes bibliotecas e instituições públicas se mostraram mais produtivas: 53 Biblioteca do Coppead – Acervo com dissertações, artigos, periódicos, coleções de revistas de negócios (Exame, Conjuntura Econômica, Bolsa, Veja), além dos anuários Exame Melhores & Maiores e Balanço Anual da Gazeta. Biblioteca do BNDES – Dispõe de diversas revistas especializadas no setor automobilístico como de transportes. Possui diversas publicações de entidades do setor, como a Anfavea, além de estudos setoriais sobre as mais variadas indústrias. Nesta biblioteca foi obtido o estudo setorial, com três volumes, produzido pela Gazeta Mercantil em 1999 sobre a indústria de carrocerias de ônibus. Biblioteca Nacional – Diversos livros que tratam de aspectos da indústria automobilística e a historia do ônibus como meio de transporte. As demonstrações financeiras da Marcopolo foram obtidas através dos seguintes órgãos: Arquivo Nacional – Em seu acervo estão as demonstrações financeiras, relativas ao período de 1983 a 1992, das empresas brasileiras de capital aberto; 54 Biblioteca CVM – Em seu acervo estão as demonstrações financeiras, relativas ao período de 1993 a 1996, das empresas brasileiras de capital aberto; Site da Marcopolo (www.marcopolo.com.br) – Disponibiliza as informações financeiras a partir de 1997. A maioria dessas instituições (com exceção de seus domínios na internet) funciona em dias e horários específicos. Recomenda-se pesquisar com antecedência tais horários de funcionamento, como também a necessidade de alguma documentação específica para solicitar documentos, revistas ou livros emprestados. O BNDES, por exemplo, exige uma carta da Biblioteca do Coppead, com os detalhes dos livros desejados, para que o empréstimo seja autorizado. Já no caso de outras bibliotecas é necessário que os livros sejam solicitados com certa antecedência, às vezes de alguns dias, para que o mesmo possa ser disponibilizado para consulta. Caso o intuito seja fazer fotocópias de alguns documentos, como o acervo da CVM localizado no Arquivo Nacional, às vezes algumas semanas são necessárias para que o material seja entregue. Dessa forma, recomenda-se um bom planejamento para que as visitas sejam mais produtivas e outras atividades sejam realizadas simultaneamente, a fim de evitar gargalos. 55 No que tange à internet, a principal fonte de informação foi o site da própria Marcopolo. No entanto, foram pesquisados diversos sites cujos conteúdos estavam associados ao produto ônibus, como os concorrentes diretos da Marcopolo, e o portal Milbus (http://www.milbus.com.br/portal/), um grande portal de ônibus que presta assessoria para diversas fabricantes do país. Os sites de outras entidades como Simefre, Fabus, OICA, Anfavea e órgãos relacionados ao setor de transporte (NTU, Ministério dos Transportes, Abrati, Fenabrave), também, constituem boa fonte de informação, pois fortalecem principalmente o entendimento da indústria. Foram obtidos dois outros livros sobre a história do ônibus no Brasil. Um através da Caio-Induscar, e outro por meio da Fabus. Em ambos os casos, os contatos foram estabelecidos graças aos números de telefone disponíveis no site dessas instituições. Após uma introdução do objetivo do contato, da linha de pesquisa e o interesse pelo setor, as duas instituições ofereceram cópias dos livros e enviaram a minha residência. 3.3.2. Visita à Marcopolo Um dos primeiros contatos com a Marcopolo foi obtido através do canal para contato disponibilizado pelo site da empresa. Através desse contato, foi possível conseguir os livros comemorativos da empresa de 50 e 55 anos, outra 56 fonte de consulta. No entanto, a etapa de coleta de dados que considero mais importante para minha pesquisa, a visita seguida de entrevistas realizadas na sede da Marcopolo em Caxias do Sul, só foi possível graças a contatos pessoais obtidos junto à associação de ex-alunos do Instituto Coppead. Os contatos me encaminharam a duas secretárias da diretoria corporativa da empresa, e graças a elas, a visita à empresa e as entrevistas com funcionários se concretizaram. Estive em Caxias do Sul, no período de 25 a 29 de junho de 2007, porém devido à distância de Porto Alegre, cheguei a Caxias do Sul no meio da tarde do dia 25, uma segunda-feira, e retornei a Porto Alegre no dia 29, no início da tarde. Na Marcopolo, estive em período integral de 8hs às 18hs, nos dias 26, 27 e 28 de junho de 2007. Nesse período, visitei as instalações das fábricas de Ana Rech e Planalto, conheci e conversei com dezenas de funcionários, porém pela indisponibilidade de tempo, priorizei realizar entrevistas formais, registradas com gravador e mais tarde transcritas, apenas com parte das pessoas com quem pude conversar. As informações referentes às pessoas entrevistadas estão na Tabela 3.2. Tabela 3.2 – Entrevistas Realizadas Durante a Visita na Sede da Marcopolo 57 Como pode ser observado, o principal objetivo na seleção dos entrevistados era conversar com funcionários ou ex-funcionários que trabalham ou trabalharam durante muitos anos na Marcopolo. Isso facilitou esclarecer diversos pontos sobre a história do Grupo Marcopolo ao longo dessas quase seis décadas. Não havia um questionário previamente fechado para ser aplicado. O roteiro das entrevistas estava bem aberto, pois até chegar à empresa, não havia uma programação definida para aqueles dias e não sabia com quais pessoas iria conversar. Como a história de cada funcionário e o tempo disponível para entrevista não eram os mesmos, procurei estruturar as entrevistas da seguinte forma: 1. Fazia uma apresentação pessoal; 2. Fazia uma apresentação do Coppead e da linha de pesquisa; 3. Explicava os objetivos da minha visita; 4. Perguntava se poderia gravar a entrevista; 58 5. Pedia que o entrevistado se apresentasse e contasse a história dele de forma detalhada dentro da empresa; 6. Explorava pontos comentados pelo entrevistado com base na história da empresa previamente estudada. Nesse momento procurava fazer perguntas com base na literatura da linha de pesquisa para identificar episódios relacionados aos desafios do crescimento, como exemplificado a seguir: a. Empreendedorismo – Ex: Por que a empresa abriu uma fábrica em Minas Gerais? b. Navegação no Ambiente – Ex: Como a empresa conseguia levantar recursos financeiros? c. Gestão da Diversidade – Ex: Como as filiais nos outros países estão integradas ao Sistema Marcopolo? d. Formação de Recursos Gerenciais – Ex: Por que os irmãos Nicola se desligaram da sociedade? e. Gestão da Complexidade – Ex: Como as técnicas japonesas de produção foram implementadas na Marcopolo? 7. Antes de finalizar a entrevistas, realizava perguntas que poderiam não ter sido respondidas, mas que acreditava que o entrevistado poderia responder devido ao seu perfil; 59 8. Ao final da entrevista agradecia pela entrevista e pelo tempo disponibilizado. Ao longo da semana que estive em Caxias do Sul, além de toda a hospitalidade oferecida por seus funcionários ao longo das visitas às fábricas e das entrevistas realizadas, também pude visitar o Memorial Marcopolo. Lá obtive uma série de documentos, como cópias de periódicos internos dirigidos aos funcionários da empresa ao longo de 58 anos, que constituíram um material adicional de grande valor para a pesquisa. Também nessa visita foi discutida a possibilidade de se obter mais dados numéricos da empresa referentes às áreas de Produção, Recursos Humanos, SUMAN, Financeira e etc. Os dados com os resultados financeiros para um período anterior à década de 1980 e os dados referentes à evolução de capacidade, produtividade, como a participação dos grupos de funcionários na implementação das técnicas japonesas de produção não foram obtidos, pois não existiam na empresa. No entanto a empresa, ao final de novembro de 2007, enviou para minha residência um CD, com arquivos.txt, que continham informações do cadastro de funcionários da empresa e treinamentos realizados nos últimos anos. Devido ao tamanho dos arquivos, tive que analisá-los por meio do software MS Office. Após algumas consolidações, exportei os dados para planilha Excel, porém percebi que muitos dados estavam confusos, ou seja, de difícil manuseio e interpretação. 60 Por exemplo, calcular a rotatividade da empresa com base no dado de cadastro de funcionários foi uma tarefa difícil, em virtude da forma como o dado foi enviado. Aqueles funcionários que, por uma mudança de função ou por uma transferência de fábrica, apareciam diversas vezes no cadastro, com diferentes datas de admissão e desligamento. Para evitar que os indicadores de rotatividade em muito divergissem daqueles apresentados pela empresa nos últimos relatórios de administração, optei por não calculá-los. Embora tenha aberto mão de realizar algumas análises, outras foram possíveis, como o cálculo de treinamentos realizados nos últimos anos e o tempo de permanência na empresa de grande parte dos funcionários. 3.4. Análise dos Dados Acumular um grande volume de informações, apesar de ser fundamental para a pesquisa, constitui um grande desafio quando entramos na etapa da análise. As informações são muitas, e podem apresentar diversas formas possíveis: gráficos, tabelas, números, fotos, vídeos, textos, gravações em áudio, e etc. Grande parte do material que obtive se encontrava na forma de texto, e precisava ser organizado para que informações importantes não fossem 61 esquecidas, e além do mais, organização sempre traz agilidade operacional e reduz a necessidade refazer atividades. A quantidade de informações coletadas cresce a cada dia de pesquisa e parece assumir uma curva exponencial. No entanto, um grande volume de informação não é condição suficente para uma boa dissertação. Além de ler o material, é preciso projetar as principais partes para a dissertação. É recomendável começar a escrever assim que determinado material for lido e estudado. Para se entender a empresa a qual se está estudando é preciso conhecer sua história. Remontá-la é um passo básico neste tipo de dissertação. Para isso foi necessário compilar em duas seções – a história do setor e história da firma – todo o material pesquisado e lido. Ter a história bem documentada é o primeiro passo para a estruturação da análise. Como já mencionado, além de texto, uma boa análise é constituída de números. Ao longo da minha pesquisa, sempre investiguei a existência de base de dados, seja nas associações de fabricantes de carrocerias, estudos setoriais ou até mesmo dentro da empresa. Infelizmente, no Memorial Marcopolo apenas obtive a evolução da produção de carrocerias desde 1949. Foi na CVM e no Arquivo Nacional, onde obtive parte da série histórica com os resultados financeiros da empresa. Ao juntar as duas fontes pude consolidar e calcular dois importantes indicadores, que analisados de forma longitudinal, proporcionam indícios de como a empresa se comportou no período em questão. 62 3.4.1. Indicadores de Tamanho e Desempenho Nas coletas de dados na CVM e no Arquivo Nacional, como pode ser visto no Gráfico 5.1 (página 251), dois indicadores foram utilizados para avaliar o comportamento da Marcopolo, desde 1981, sob a perspectiva de tamanho e desempenho. A forma de cálculo de tais indicadores foi sugerida por Fleck (2001) como uma alternativa para quantificar os fenômenos pesquisados sobre a longevidade de empresas. O indicador de tamanho da Marcopolo é calculado dividindo-se a Receita Líquida da Empresa pelo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, como se observa na Equação 3.1. Uma importante vantagem desse indicador é sua aplicação independente das mudanças de moeda que ocorrem ao longo da história brasileira e dos efeitos da inflação na economia. Por último, de acordo com o indicador de tamanho, para evidenciar que está crescendo a firma necessita deve aumentar sua receita em uma taxa superior ao aumento do PIB. Equação 3.1 – Indicador de Tamanho de uma Firma Tamanho ano i = Re ceita Líquida da Firma ano i PIB ano i 63 O outro indicador utilizado, o de desempenho, é calculado dividindo-se o Lucro Líquido da Empresa pelo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, como se observa na Equação 3.2. A importância desse indicador é verificar a evolução do desempenho operacional da empresa, o que não pode ser constatado através do indicador de tamanho. Equação 3.2 – Indicador de Desempenho de uma Firma Desempenho ano i = Lucro Líquido da Firma ano i PIB ano i Como pode ser observado, neste estudo, além das informações financeiras referentes aos resultados da Marcopolo nas últimas décadas, foi necessário um levantamento da série histórica do Produto Interno do Brasil (PIB). A maneira como a coleta desses dados foi realizada, bem como o método utilizado para tratar essas informações, podem ser encontrados em Grigorovski (2004). Os dados de PIB utilizados neste estudo foram extraídos de Grigorovski (2004), entre os 1981 e 1993, e diretamente do site do Banco Central para o período de 1994 a 2006, como mostra o anexo 8.1 . 64 3.4.2. Análise das Entrevistas e Ferramental Utilizado Além da bibliografia e dos números pesquisados, a visita à Marcopolo, e as entrevistas realizadas, constituíram fontes adicionais para análise. Dessa forma, o conteúdo das entrevistas realizadas durante a visita na empresa, foi transcrito e devidamente analisado. Estimo que cada hora de entrevista tenha demandado, aproximadamente, oito horas, ininterruptas, de transcrição. Outra recomendação oportuna é ter em mãos um bom gravador e procurar realizar as entrevistas em um ambiente com acústica favorável. Apesar de fastidioso, é importante que a tarefa da transcrição de entrevistas não deva ser delegada a terceiros. O fato de escutar a entrevista e transcrevê-la permite que a atividade de análise ganhe velocidade, pois diversos momentos da história podem ser relembrados, surgem as primeiras idéias, como também as devidas associações com a literatura. Após transcrever todas as entrevistas, a atividade seguinte foi estruturar um formato para analisá-las. Os textos transcritos das entrevistas foram segmentados e originaram 516 linhas de uma planilha Excel, com o objetivo de capturar evidências da teoria nos depoimentos dos entrevistados. O passo seguinte foi recorrer à teoria existente, para definir o ferramental teórico a ser associado nas entrevistas. Os cinco desafios do crescimento propostos por Fleck (2006) são os alicerces da análise da trajetória da empresa. Devido à complexidade que envolve 65 cada desafio, alguns foram analisados também em um nível inferior de análise, em um nível chamado de dimensão. Cada dimensão de um desafio recebeu um código para facilitar os filtros da planilha Excel, como se observa na Tabela 3.3. Tabela 3.3 – Lista de Classificações para Análise Cada trecho das entrevistas foi codificado com uma dimensão de um desafio. Alguns trechos foram associados a dois ou até três códigos, ou seja, eles apresentavam fragmentos de mais de uma dimensão. Ao final, a planilha estruturada estava composta por 516 falas, ou trechos de entrevistas, que foram de grande valia para levantar as principais evidências observadas para cada fase de análise e cada desafio de crescimento. O formato da planilha criada pode ser observado na Tabela 3.4. 66 Tabela 3.4 – Planilha para Análise de Entrevistas 6 1 2 7 3 4 5 Legendas: Descrição Entrevistado Sigla 1 Entrevistado (Sigla) Carlos Zignani CZ 2 Trecho da Entrevista Jaime Bertelli JB 3 Data do Evento João Carlos JC 4 Codificação do Desafio / Dimensão José Albino BI Valter Gomes VG 5 Resposta ao Desafio / Dimensão 6 Seleção de Filtros para Análise 7 Botões para Aplicação de Filtros # 67 Como pode ser observada na legenda abaixo da Tabela 3.4, a planilha criada contém os seguintes campos: Nome do entrevistado (sigla); Trecho da Entrevista; Data do Evento ao qual se refere o trecho; Codificação do Desafio / Dimensão conforme Tabela 3.3; e Resposta da firma para aquele desafio / dimensão, cuja definição será explicada mais adiante. A planilha criada também permite que sejam realizados filtros por desafio de crescimento e fase de análise da trajetória da empresa. Como já mencionado, todos os trechos das entrevistas receberam a atribuição do ano no qual o evento ocorreu. No entanto, nem todos os eventos proporcionaram uma identificação precisa da data / ano em que ele ocorreu. Nesses casos, ao invés do ano exato, foi atribuída a fase em que ele ocorreu, podendo ser: 1ª Fase – 1949 a 1967, 2ª Fase – 1968 a 1986 ou 3ª Fase – 1987 a 2006. A explicação da forma como essas fases foram definidas será explicada no no próximo capítulo, Análise da Trajetória da Marcopolo. Para aquelas falas que retratavam toda a história da empresa, e não uma fase específica, foi atribuído o período “Todas as Fases”. A título de exemplo, segue uma fala na qual ocorreu tal associação: “Todos esses veículos sempre foram desenvolvidos internamente. E a Marcopolo sempre buscou crescimento da companhia com esses desenvolvimentos...” (Entrevista com o Sr. Carlos Zignani). Além da data do evento e do desafio de crescimento, em alguns casos assumindo um sub-nível de dimensão, já previamente explicados, a planilha 68 utilizada para estruturar as entrevistas realizadas na Marcopolo contou, também, com um campo denominado “Resposta”. O objetivo deste campo foi avaliar as respostas da Marcopolo para cada um dos desafios identificados nas entrevistas que remontam a sua trajetória. Cada desafio / dimensão pode assumir um tipo de resposta. No caso de uma resposta satisfatória ao desafio, foi atribuída uma “carinha” sorridente a este par Desafio x Evento, ou seja, a célula da planilha Excel correspondente. No caso de uma resposta insatisfatória ao desafio, optou-se por uma “carinha” triste. Para aqueles trechos que se observa um desafio presente, porém não se pôde determinar o tipo de resposta, se satisfatória ou não, decidiu-se por uma “carinha” neutra, que nem feliz nem triste. A Tabela 3.5 apresenta, com mais clareza, os tipos de respostas utilizadas para classificar os pares Desafio x Fala. Tabela 3.5 – Tipo de Resposta aos Desafios do Crescimento 69 Após gerar uma lista de todos aqueles fatos identificados nas entrevistas, mesmo que ainda sob o formato de trechos “não-tratados” em fatos, grande parte das idéias puderam ser manipuladas através de uma ferramenta funcional repleta de filtros, passando, de fato, para o papel. Tais filtros em conjunto com a história da firma e do setor previamente escrita, foram os elementos que sustentaram o corpo da análise. Todas as falas e suas respectivas associações e classificações podem ser encontradas no apêndice 7.3 que também oferece um resumo com a freqüência estatística das falas por desafio e período, que deve ser utilizada apenas como um termômetro – e não como uma verdade definitiva – para a sumarização das respostas, como veremos adiante. 3.4.3. Sumarização das Respostas aos Desafios por Fases Como já comentado e será detalhada no próximo capítulo, a análise da trajetória da Marcopolo foi dividida em três fases. A primeira fase teve início em 1949 e se estendeu até 1967, a segunda foi de 1968 a 1986 e a terceira de 1987 a 2006. Em cada fase de análise procurou-se identificar os principais eventos que estiveram associados a cada desafio de crescimento. Os principais eventos foram selecionados tanto da planilha de análise de entrevistas (apêndice 7.3) como da história da indústria e da firma (apêndices 7.1 e 7.2.). 70 Para aqueles desafios que mereceram uma subdivisão de análise, como por exemplo, o Desafio do Empreendedorismo, dividido pelos serviços Ambição, Engenhosidade Financeira, Versatilidade e Julgamento, os eventos foram associados a cada serviço e análise do desafio foi feita separadamente, como se observa na Tabela 3.6. Este quadro de análise está presente ao final de cada desafio de crescimento, com o objetivo de sumarizar a resposta da empresa em relação ao desafio naquela fase de análise. Tabela 3.6 – Quadro de Análise das Fases da Marcopolo por Desafio de Crescimento Este sumário pode assumir três expressões ou resultados diferentes, o qual dependerá da análise em conjunto de todas as evidências que estiveram presentes naquela fase. Esta sumarização é uma resultante da análise da ferramenta de entrevistas, com seus respectivos filtros (vide apêndice 7.3), mais a junção de outros eventos que podem não ter sido citados ou esclarecidos nas 71 entrevistas, mas estiveram presentes na história do setor e da firma. Ambas as histórias podem ser encontradas, respectivamente, nos apêndices 7.1 e 7.2. Para esse sumário foram utilizados os mesmos critérios apresentados na Tabela 3.5. Dessa forma, se na análise da trajetória da firma para aquele período foram identificadas respostas positivas para o desafio, favoráveis à autoperpetuação da empresa, o sumário apresentará o símbolo de uma “carinha” verde sorridente ☺. Por outro lado, se a análise em conjunto das respostas indicar o caminho da autodestruição, o sumário será representado por um símbolo com a “carinha” vermelha triste . Caso com base nas evidências levantadas não seja possível determinar se as respostas foram satisfatórias para a autoperpetuação nem insatisfatórias ao ponto de levá-la a autodestruição, o sumário assumirá uma posição neutra, representando a indeterminação, e sendo simbolizada pelo símbolo . No caso das evidências levantadas serem insuficientes para conclusão, nenhum símbolo será apresentado. 72 4. Análise da Trajetória No dia 06 de agosto de 1949, quando nove sócios fundaram a Nicola & Cia, eles não imaginavam que, em menos de seis décadas, essa pequena empresa de Caxias do Sul (RS) se tornaria a maior encarroçadora de ônibus brasileira. Em 1971, vinte e dois anos mais tarde, a empresa alterou sua denominação social para Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus, em virtude do sucesso que o ônibus Marcopolo, lançado três anos antes, obtivera tanto no cenário nacional como internacional. Outro fator que motivou a alteração do nome da empresa foi o desligamento, em 1967, dos irmãos Dorval, Doracy e Nelson Nicola da empresa. Naquele momento, a então Carrocerias Nicola S.A. Manufaturas Metálicas carregava o nome da família Nicola, portanto, com a saída dos três sócios, buscou-se desvincular o nome da empresa do nome da família, o que pode ser interpretado como um indício da reformulação do caráter da empresa (Selznick, 1957). O Sr. Carlos Zignani, que ocupa os cargos de diretor de relação com investidores e diretor-superintendente do Banco Moneo, lembra como, mesmo após a saída dos Nicola, era difícil separar a empresa da família Nicola: “Existiu aquela fase do Nicola e da Nicola. A Nicola éramos nós, a fábrica de carrocerias Nicola, e o Nicola era ele, que era o nome dele: o Dorval Nicola.” (Entrevista com Sr. Carlos Zignani, Caxias do Sul, 26/06/2007) 73 Já com o nome Marcopolo, a empresa passou a crescer consideravelmente nos anos seguintes. Segundo dados da Fabus, associação que congrega as principais encarroçadoras do Brasil, a partir da década de 1970, a Marcopolo se tornou a segunda maior encarroçadora de ônibus brasileira, como se pode observar no Gráfico 4.1. Ao longo dessa década, a empresa deu início às suas primeiras aquisições, como a Carrocerias Eliziário de Porto Alegre, um importante fabricante de ônibus da época, que atuava principalmente no segmento de urbanos. Na ocasião, a Marcopolo se concentrava principalmente no segmento de rodoviários. Gráfico 4.1 – Evolução da Produção de Veículos no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006) Evolução da Produção - Principais Encarroçadoras de Ônibus (FABUS) 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 0 MARCOPOLO INDUSCAR (ex-CAIO) BUSSCAR CIFERAL COMIL Fonte: Fabus 74 Outra importante aquisição na época foi a Nimbus. A Nimbus, inicialmente chamada de Furcare, foi fundada pelos irmãos Nicola após se desligarem da Marcopolo. Em 1975, a Nimbus, também sediada em Caxias do Sul, foi adquirida pela Marcopolo e em 1979, sua denominação passou a ser Invel. Nessa mesma década, a Marcopolo, para aproveitar o bom momento da economia brasileira, realizou também uma série de investimentos no Brasil, como a construção de duas unidades fabris, uma em Caxias do Sul (Ana Rech) e outra em Minas Gerais. No cenário internacional, a Marcopolo também deu seus primeiros passos. Apesar de ter realizado em 1961 sua primeira exportação para o Uruguai, foi na década de 1970 que as exportações ganharam mais força dentro da empresa. Foram realizadas diversas exportações através de nova tecnologia que a empresa começava a desenvolver, os sistemas CKD (completey knocked down) e MKD (medium knocked down), que se caracterizavam pela venda de tecnologia e de produtos desmontados (CKD) ou semi-desmontados (MKD). Alguns países que importaram os produtos da Marcopolo por meio destas tecnologias foram: Venezuela (1972), Gana (1974), Equador (1975) e Chile (1976). A década de 1980, conhecida como a década perdida principalmente para a indústria automobilística, foi também uma década marcante para a Marcopolo. A crise da economia brasileira levou a Marcopolo a uma série de decisões, como o fechamento da Marcopolo Minas (1984), a incorporação da Eliziário de Porto Alegre (1987), e investimentos em empresas cujas atividades não se relacionavam 75 com a fabricação de ônibus. A primeira metade da década de 1980 também foi marcada por uma série de demissões. Por outro lado, foi na década de 1980 que ocorreu uma das principais transformações da história da Marcopolo. Em 1986, Paulo Bellini (presidente) e Cláudio Gomes (então diretor industrial) visitaram o Japão, pois estavam interessados em conhecer as técnicas japonesas de administração da produção. Tal viagem constitui um marco para a história da Marcopolo, pois ela fez com que os dirigentes da empresa se convencessem de que mudanças profundas eram necessárias, sobretudo quanto ao envolvimento dos empregados. Dessa forma, eles acreditavam que níveis mais elevados de produtividades poderiam ser atingidos. Segundo as palavras de um dirigente da empresa: “Nosso Presidente e nosso Diretor Industrial voltaram realmente maravilhados com aquele país, e viram que muita coisa podia ser aproveitada. Foi isso que se fez. A partir daí começou a ser criada uma consciência diferente, começou-se a buscar mais a participação das pessoas, a formar grupos de trabalho e foi a partir daí que se começou a revolucionar a Marcopolo.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo S.A. (A), 1999, p. 5) Já nos primeiros anos seguintes, os efeitos das novas técnicas de administração começaram a surtir efeito. Mais tarde, criaram-se duas siglas do Sistema Marcopolo que fazem parte da empresa até o presente momento (2007). O SUMAM (Sugestões de Melhoramentos do Ambiente Marcopolo) e o SIMPS (Sistema Integrado Marcopolo de Produção Solidária) se baseiam na idéia 76 japonesa de Kaizen (melhoramentos contínuos) e foram responsáveis pelas principais mudanças ocorridas na empresa nas últimas décadas. Mesmo tendo iniciado suas exportações em 1961, foi na década de 1990 que a empresa ganhou destaque em nível internacional, com a aquisição e instalação de fábricas em diversos países. Em 2007, a Marcopolo contava com fábricas em Portugal (1991), Colômbia (2000), México (2000) e África do Sul (2001). Em 2007, a empresa iniciou a construção de duas fábricas, uma na Rússia e outra na Índia, e ainda contava com uma fábrica desativada na Argentina, que fucnionou entre 1998 a 2003, e um acordo de transferência de tecnologia na China (2001). A Figura 4.1 mostra a atuação da Marcopolo no mundo. Figura 4.1 – Marcopolo no Mundo em 2007 Fonte: Marcopolo – Fact Sheet 1º Trimestre 2007 77 Cada vez mais, nos últimos anos, os mercados externos têm ocupado uma fatia importante do faturamento da empresa, sempre superior a 40% a partir de 1999. No decorrer dos últimos anos, a empresa tem melhor se posicionado no cenário global. Entre as empresas que são apenas encarroçadoras, em 2007, a Marcopolo era a maior produtora de ônibus do mundo. Suas principais concorrentes são Evobus (Alemanha), Irisbus (Itália/França), MAN (Alemanha), Van Hool (Bélgica), VDL Bus (Holanda), Salvador Caetano (Portugal) e Alexander Dennis (Inglaterra). Vale lembrar que apesar destas empresas não apresentarem a mesma escala da Marcopolo, algumas fazem parte de poderosos grupos automotivos, cuja divisão de ônibus representa uma pequena parte do faturamento total. A Mercedes-Benz, uma grande empresa da indústria automobilística mundial, apesar de não produzir ônibus completos no Brasil desde 1996, mantém a produção de ônibus completos em outros mercados, bem como detém participação acionária em diversas encarroçadoras, como Setra e Salvador Caetano. No Brasil, Mercedes-Benz, Scania, Volvo e Volkswagen são as principais fornecedoras de chassis para as encarroçadoras de ônibus. No Brasil, a Marcopolo, desde 1989, é maior encarroçadora de ônibus, como pode ser visto no Gráfico 4.1. Em 1999, reforçando sua posição de liderança, a Marcopolo adquiriu 50% da Ciferal, e dois anos depois, em 2001, adquiriu 100% do controle. Neste ano, a Marcopolo passou a reorganizar parte de sua produção, deixando grande parte dos ônibus rodoviários para serem 78 produzidos na fábrica da Ciferal, no Rio de Janeiro. Tal fato aliado ao processo de internacionalização pelo que a empresa passava, fez com que a marca Marcopolo reduzisse a produção de veículos no Brasil, como indica o Gráfico 4.1. Em março de 2007, ela adquiriu 39,6% do capital social da empresa San Marino Ônibus e Implementos Ltda., conhecida principalmente através da marca Neobus, também situada em Caxias do Sul. Em 2007, suas principais concorrentes no Brasil eram duas empresas contemporâneas à Marcopolo, CaioInduscar (1946), Busscar (1946), e outra que surgiu na década de 1980, a Comil (1985). A Ciferal, antes de ser comprada pela Marcopolo, foi também uma grande fabricante de carrocerias de ônibus brasileira, e sua fundação data de 1955. Apesar de contemporâneas, Caio (1946), Busscar (1946), Marcopolo (1949) e até mesmo Ciferal (1955), tiveram trajetórias de crescimento diferentes entre si. Cada uma delas apresentou suas peculiaridades. Tomando os estudos de Chandler (1990) como base, seria a Marcopolo uma pioneira? Segundo Chandler (1990), uma empresa pioneira ou first mover não é, necessariamente, a empresa que primeiro desenvolve determinada idéia. Para Chandler (1990), uma empresa fisrt mover é aquela que fez os investimentos necessários em produção, marketing e distribuição e gestão a fim de desenvolver determinada idéia, a qual pode ser gerada por ela ou não. Para Chandler (1990), as empresas first movers têm que realizar investimentos necessários em Marketing e Distribuição, Produção e Gestão. Segundo o autor, para manter a vantagem competitiva de first mover, em paralelo, 79 a empresa tem que estar continuamente investindo em Pesquisa & Desenvolvimento para alimentar estas três áreas. A Figura 4.2 ilustra como deveria ser o funcionamento de uma empresa first mover. Figura 4.2 – Esquema de Desenvolvimento de uma First Mover Produção Marketing e Distribuição Gestão Pesquisa & Desenvolvimento Fonte: Elaboração Própria inspirada em Chandler (1990) As idéias do estudo de Chandler (1990) se concentraram basicamente nas empresas manufatureiras, o que permite traçar alguns paralelos com a indústria de carrocerias de ônibus e com a Marcopolo. A Tabela 4.1 apresenta as principais características dos investimentos necessários para as encarroçadoras de ônibus: 80 Tabela 4.1 – Características dos Investimentos Necessários • • • • Produção Capacidade produtiva de unidades nacionais e internacionais Layout; Otimização de processos; Relacionamento com Fornecedores Marketing e Distribuição • Representantes comerciais; • Relacionamento com clientes; • Assistência técnica; • Pesquisa com clientes, fornecedores entre outros. • • • • • Gestão Formação de pessoal; Gestão de unidades fabris; Gestão de pessoas; Gestão das áreas corporativas; Gestão da área internacional Fonte: Elaboração Própria inspirada em Chandler (1990) Neste estudo não foram coletadas evidências específicas de como cada empresa concorrente trabalhou cada investimento necessário de acordo com a visão de Chandler (1990), então não é possível qualificar a Marcopolo como uma first mover nesta ótica. No entanto, o estudo indica que a Marcopolo tem realizado ao longo de sua trajetória investimentos em Produção, Marketing e Distribuição e Gestão. Diversas evidências desses investimentos são apresentadas ao longo da análise no presente capítulo. Ser pioneira não é condição suficiente para que a empresa mantenha sua liderança no setor e muito menos garanta sua existência continuada. No caso da Marcopolo, quando se examina sua trajetória de crescimento, percebe-se claramente a liderança de mercado que ela atingiu dentro de sua indústria nas últimas décadas. 81 Enquanto diversas de suas concorrentes nacionais e internacionais foram vendidas, abandonaram a operação no Brasil ou simplesmente faliram, a Marcopolo se mantém ativa ao longo de quase seis décadas, sendo que desde o final da década de 1980 é líder no mercado nacional de carrocerias de ônibus. Inicialmente, ao que tudo indica, parece que apesar do tamanho assumido e da complexidade operacional resultante da instalação de fábricas no Brasil e em diversos continentes, a Marcopolo tem se mantido inabalável na posição de dominante no setor no Brasil e segue figurando como uma das principais encarroçadoras de ônibus do mundo. Em virtude disso, como já apresentado, esta dissertação pretende responder a seguinte pergunta: Quais desafios enfrentam as organizações e como lidam com eles para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em seu tamanho ao longo de suas trajetórias, para se manterem firmes em direção à longevidade saudável? Para responder a tal pergunta que orienta este estudo, será utilizado o estudo de Fleck (2006), cujo modelo pode ser observado na Figura 4.3. 82 Figura 4.3 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à AutoPerpetuação Fonte: Fleck (2006) Na visão de Fleck (2006), quanto mais capacitações uma empresa desenvolve e emprega para responder de forma construtiva aos desafios do crescimento (Empreendedorismo, Navegação, Formação de RH, Diversidade e Complexidade), mais propensa ela se torna para atingir o sucesso de longo prazo, ou seja, a autoperpetuação. Como conseqüência, maiores são as chances de a empresa conquistar posições de dominância nos negócios onde atua. Segundo Langley (1999), uma das formas para realizar a análise longitudinal dos traços de uma empresa, é a divisão por fases de análises. Tal 83 divisão facilita a análise e permite a observação de diferentes respostas em cada estágio da existência da empresa, permitindo uma comparação entre os estágios e uma consolidação do todo. No caso da Marcopolo, sua trajetória foi divida em três fases, que podem ser visualizadas no gráfico a seguir. Gráfico 4.2 – Produção de Veículos da Marcopolo entre 1949 e 2006 14,000 Desativaçã o Argentina Portugal Aquisição Nimbus Troféu Busbuilder of the Year *Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo (1949 – 1997) e Relatórios Anuais (1998 – 2006) A primeira fase tem início em 1949, com a fundação da Nicola & Cia e se estende até 1967, com a saída dos Nicola da empresa. Nessa primeira fase, que engloba o início da indústria automobilística brasileira (1956), a empresa mudou a localização da fábrica da Rua 18 do Forte para o pavilhão construído no Bairro Planalto (1957). Nesse período a empresa realizou sua primeira exportação 84 05 03 20 01 99 20 97 95 19 93 100% Ciferal 19 87 19 85 19 83 19 81 19 79 19 77 19 75 19 73 Transf. Tecn. China África do Sul Fim Diver. Não Relacionada Escola Formação Profisiional 19 71 19 69 19 67 19 65 Avaliação Rússia e China Argentina Ônibus Volare Aquisiçã o Eliziário 19 63 19 61 19 59 57 19 55 19 53 Crise no México 50% Ciferal Plano Real Início Divers. Não Relacionada 1a Exportação 19 19 49 0 19 2,000 51 Fundaçã o da Nicola & Cia. LTDA Criação da Fundação Marcopolo Ações Bovespa 1o Contrato CKD Criação da FAN 19 4,000 19 Ingresso Valter Gomes JK inicia expansão da indústria automotiva no Brasil Marcopolo Minas Desativação Planalto 91 6,000 Técnicas Japonesas Fábrica Ana Rech Mudança de nome para Marcopolo Ingresso José Martins Início Prod. Com Chassi Brasileiro Colômbia 19 Saída Irmãos Nicola 8,000 Fechamento Marcopolo Minas Contrato CKD para Gana 89 Inauguração Fábrica Planalto México 19 10,000 Produção de Ônibus* Viagem ao Japão Lançamento Ônibus Marcopolo 12,000 3a Fase De 1987 a 2006 20 2a Fase De 1968 a 1986 19 1a Fase De 1949 a 1967 (1961), e os atuais diretores corporativos, Valter Pinto (1964) e José Martins (1966), ingressaram na empresa. A segunda fase tem início em 1968 e se estende até o ano de 1986, com a viagem do presidente Paulo Bellini ao Japão, cujo objetivo era conhecer as técnicas japonesas de administração. Nessa segunda fase, a empresa trocou sua razão social para Marcopolo, três anos após o lançamento do ônibus de mesmo nome e de grande sucesso. Nessa fase, também estabeleceu seus primeiros contratos de exportação nos sistemas CKD/MKD (1972/74/75/76), realizou investimentos em novas unidades fabris (Ana Rech e Marcopolo Minas), iniciou sua estratégia de diversificação para negócios não-relacionados e, principalmente, atravessou a maior crise de sua história, no período de 1982 e 1984. Já a terceira fase, teve início com a implementação das técnicas japonesas de produção, um marco dentro da empresa. Nessa mesma fase, a empresa manteve, porém para mais tarde abandonar, a estratégia de diversificação em negócios não-relacionados ao ônibus. Para crescer, a Marcopolo adotou, também, uma estratégia de internacionalização com a implantação de fábricas e operações em diversos países. Em 2007, tal estratégia ainda apresentava muita força dentro da empresa. Ainda dentro dessa fase, houve uma reestruturação organizacional dentro da empresa, na qual foi criada uma diretoria executiva e uma diretoria corporativa. A Tabela 4.2 apresenta um resumo dos volumes produzidos durante as três fases, assim como uma média anual para cada período. Apesar de 85 compreenderem aproximadamente a mesma quantidade de anos, é nítido o salto de produtividade que a empresa deu ao longo das três fases. Enquanto em 1949 a Nicola & Cia levava 90 dias para fabricar um único ônibus, em junho de 2007, a produção mundial beirava o volume de 90 ônibus por dia. Tabela 4.2 – Produção de Ônibus da Marcopolo ao longo das 3 Fases Período 1949 a 1967 1968 a 1986 1987 a 2006 Total N Anos Compreendidos 19 19 20 58 Ônibus Produzidos 3,143 41,760 142,659 187,562 Média Anual 165 2,198 7,133 3,234 o Fonte: Memorial Marcopolo A seguir, cada fase é analisada através de um relato das capacitações organizacionais encontradas na empresa e suas respostas aos desafios do crescimento propostos por Fleck (2006), integrantes do framework apresentado na Figura 4.3. 4.1. Fase 1 – Os Primeiros Anos: 1949 a 1967 A primeira fase da análise tem início em 1949, ano da fundação da Nicola & Cia e se estende até 1967, com o desligamento dos irmãos Nicola da empresa. 86 Esta primeira fase marca também o início da indústria automobilística no Brasil, e outras mudanças ocorridas na Marcopolo como mostra o Gráfico 4.3. Gráfico 4.3 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1949 e 1967 14,000 a a 1 Fase De 1949 a 1967 Inauguração Fábrica Planalto Saída Irmãos Nicola 8,000 6,000 2,000 0 Ingresso José Martins Início Prod. Com Chassi Brasileiro Ingresso Valter Gomes JK inicia expansão da indústria automotiva no Brasil Fundaçã o da Nicola & Cia. LTDA Criação da FAN Fechamento Marcopolo Minas Contrato CKD para Gana Mudança de nome para Marcopolo 1o Contrato CKD Técnicas Japonesas Ações Bovespa Desativação Planalto Criação da Fundação Marcopolo Fábrica Ana Rech Marcopolo Minas México Colômbia Início Divers. Não Relacionada Crise no México 1a Exportação Desativaçã o Argentina Portugal Ônibus Volare Escola Formação Profisiional Avaliação Rússia e China Argentina Plano Real Aquisição Nimbus Aquisiçã o Eliziário 50% Ciferal Fim Diver. Não Relacionada Transf. Tecn. China África do Sul Troféu Busbuilder of the Year 100% Ciferal 19 49 19 51 19 53 19 55 19 57 19 59 19 61 19 63 19 65 19 67 19 69 19 71 19 73 19 75 19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01 20 03 20 05 Produção de Ônibus* 10,000 3 Fase De 1987 a 2006 Viagem ao Japão Lançamento Ônibus Marcopolo 12,000 4,000 a 2 Fase De 1968 a 1986 *Não inclui Volare e Furgões 4.1.1. Desafios do Empreendedorismo Segundo Penrose (1980), os serviços empreendedores são condições necessárias para a promoção do crescimento contínuo da firma ao invés de crescimentos pontuais. Em linha com a noção de crescimento contínuo, Chandler (1977) sustenta que a busca gerencial por uma utilização mais intensa e lucrativa das instalações e das habilidades impulsiona a expansão da firma. 87 Na visão de Penrose (1980), as principais qualidades dos serviços empreendedores são: ambição, engenhosidade financeira, versatilidade e julgamento. Cada um deles é examinado a seguir. A) Ambição Segundo Penrose (1959) é por meio do serviço empreendedor “ambição” que a firma é motivada a crescer e buscar novas oportunidades. A ambição está relacionada com o ímpeto em fazer. Ao analisar a história da Marcopolo, já nos primeiros anos, é possível identificar evidências das sementes da ambição, as quais mais tarde fariam seus diretores declarar que o mercado da Marcopolo é o mundo. Apesar de todas as dificuldades que serão descritas e marcaram esse período, a presença da ambição na Marcopolo é sustentada pelos seguintes fatos principais: • O seguido crescimento da produção de ônibus da empresa, como pode ser observado no Gráfico 4.4; • A expansão para uma unidade fabril mais ampla e com maior capacidade produtiva, localizada no bairro Planalto; • A busca de novos mercados, tanto no cenário nacional como internacional; 88 • Lançamento de diversos produtos, tanto no segmento rodoviário como urbano. Gráfico 4.4 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1949 e 1967 500 450 1a Fase De 1949 a 1967 Produção de Ônibus* 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 *Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo As Dificuldades Iniciais O espaço geográfico de Caxias do Sul não facilitou o crescimento e desenvolvimento da cidade, principalmente no que tange à localização e topografia da região. Desde o início da colonização, as carretas tiveram que ser adaptadas para superar as dificuldades do relevo. Naquela época, devido à falta de tecnologia, produzir uma carroceria de ônibus era visto como um grande desafio, pois exigia grande quantidade de tempo e de mão-de-obra. 89 Apesar das dificuldades que deixavam esse ambiente pouco atraente, um grupo de nove sócios, vide Tabela 4.3, decidiu montar uma empresa em Caxias do Sul, cuja atividade principal seria a fabricação de carrocerias para ônibus. No dia 06 de agosto de 1949, a Nicola & Cia. Ltda foi fundada com nove sócios e quinze funcionários. Em 1950, Paulo Pedro Bellini ingressou na empresa para cuidar do almoxarifado e da contabilidade. Os sócios fundadores da empresa foram: Tabela 4.3 – Sócios Fundadores da Nicola & Cia Sócios Fundadores Dorval Antonio Nicola Doracy Luiz Nicola Nelson João Nicola Arnoldo Fabian Arno Steffen, Arno Evaldo Cornel Jacob Acker Américo Cunha Cerqueira Nedy Maria Branco Cerqueira. Já na constituição da empresa, dois grandes objetivos foram definidos para toda a empresa: 1) Proporcionar máximo conforto e segurança ao público que se utilizava dos transportes coletivos; 2) Oferecer aos proprietários de linhas de transporte e frotistas carrocerias que, pelas suas credenciais de qualidade, se tornassem realmente fatores de sucesso em seus negócios. 90 Tais objetivos apresentam características que sugerem que o serviço da ambição esteve presente na missão da Marcopolo, desde o nascimento da empresa. Nos primeiros anos, entre 1949 e 1957, a Nicola & Cia funcionou num pavilhão localizado nas esquinas das ruas 13 de Maio e 18 do Forte, em Caxias do Sul. Tal pavilhão com dois pisos e 290 m2 de área construída começou a se tornar pequeno para os planos de expansão da empresa. Em 1954, a Nicola & Cia almejou sua primeira expansão, transferindo sua atividade industrial para uma fábrica mais ampla e com maior capacidade instalada. Dessa forma, nesse mesmo ano de 1954, a construção da nova fábrica teve início. A nova sede contou inicialmente com uma área de 3.100m2 e foi estabelecida no então desabitado e mais tarde denominado bairro Planalto, localizado em Caxias do Sul. Em 1957, a operação da empresa foi transferida para essa nova fábrica. Como decorrência do crescimento que a empresa vivia (vide Gráfico 4.4, página 89), já no ano de 1965, a empresa realizou uma ampliação das instalações da nova fábrica. Um segundo pavilhão com uma área de 2.240m2 foi construído para suportar os índices de crescimento da produção que a empresa conquistava. Em 1960, ocorreu o passo inicial para a conquista do mercado externo, com a abertura da primeira representação comercial no exterior. Em 1961, a Carrocerias Nicola vendeu duas carrocerias urbanas à Compañia de Omnibus 91 Pando S.A. (COPSA), do Uruguai. A partir daí, os ônibus fabricados pela Marcopolo começaram a rodar por todo o continente americano. O prestígio de seus ônibus garantiu a participação em diversas concorrências internacionais e os investimentos nas feiras internacionais foram intensificados a partir de 1965. Nesse ano, a Nicola participou de exposições em Montevidéu, Lima, Santiago, Bogotá e Caracas, além de enviar ônibus para a África do Sul e Turquia. Esse movimento em direção à criação de novos mercados foi comentado pelo Sr. Carlos Zignani: “Mas o que nós temos que pensar um pouco é que nos anos 60, a Marcopolo começa então a exportar, começa a criar mercados aonde ela tem atuação então muito forte, cria a rede de representantes em cada estado, cria uma rede de representantes fora do Brasil, começa com o Uruguai e aí vai expandindo, para o Chile.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) Ao longo da década de 1960, com o objetivo de conquistar mercado no Brasil e aumentar as vendas da empresa, a Marcopolo também iniciou a criação da rede de representantes comerciais. Em 1963, instalou uma filial em São Paulo, e com a entrada do Sr. Valter Gomes Pinto na empresa, em 1964, a criação de filiais ganhou força. Nesse mesmo ano, a empresa instalou uma filial em Curitiba (PR). No ano de 1965, o escritório do Rio de Janeiro passou a ser mais uma filial. Com uma rede crescente de representantes comerciais, a Nicola foi criando mecanismos para vender a série de produtos que foi lançando. Outro ponto que merece destaque é a quantidade de produtos que a Nicola foi desenvolvendo nos seus primeiros anos. Sempre incorporando inovações para a época, a Nicola apesar de muito forte no segmento rodoviário, começou a dar seus primeiros 92 passos também no segmento de urbanos. A tabela 4.4 apresenta os lançamentos da empresa ao longo dessa primeira fase. Tabela 4.4 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1949 e 1967 NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES Nicola 1949 Rodoviário Nicola 1950 Urbano Nicola 1953 Rodoviário Nicola Nicola 1955 1957 Rodoviário Rodoviário Nicola 1963 Rodoviário Nicola “Série Ouro” Nicola “Série Prata” Nicola 1963 Rodoviário 1963 Rodoviário Ônibus com estrutura em madeira, capacidade para 26 passageiros. Capacidade para 38 lugares, porta-pacotes e revestimento interno feito em Duratex. Com estrutura em madeira e capacidade para 44 lugares. 1º ônibus da empresa, com poltronas reclináveis. Ônibus com estrutura metálica, revestimento de alumínio anodizado. Capacidade média de 28 lugares, iluminação e cinzeiro individuais. Capacidade entre 33 e 40 passageiros, poltronas reclináveis, parede de separação do motorista e opcionais de calefação e sanitário. Diferenciava-se do ônibus “Série Ouro” através dos itens opcionais. 1963 Urbano Nicola 1967 Rodoviário Capacidade média para 32 passageiros sentados, equipado com catraca e mesa para cobrador. Chassis LPO Fonte: Memorial Marcopolo Com base nessas evidências, que envolvem desde a procura por novos mercados como o desenvolvimento de novos produtos, as respostas da Marcopolo, quanto ao serviço empreendedor da ambição, são vistas como satisfatórias ao seu crescimento. 93 B) Engenhosidade em levantar recursos financeiros Apesar das dificuldades presentes, principalmente nos primeiros anos da empresa, a capacidade de levantar recursos financeiros é um traço marcante em toda a história da Marcopolo. Segundo Penrose (1980), as firmas novas, pequenas e desconhecidas não desfrutam da mesma facilidade em levantar recursos financeiros que as firmas estabelecidas, grandes e conhecidas. Apesar disso, muitas destas pequenas firmas, graças a uma habilidade especial do empreendedor, são bem sucedidas ao levantar recursos financeiros. Segundo entrevistas realizadas com os Srs. Carlos Zignani e Valter Pinto, a Marcopolo já no seu início, tinha como praxe utilizar o capital da comunidade de Caxias do Sul. Segundo os entrevistados, era corriqueiro as pessoas deixarem como legado ações da Marcopolo para os filhos. Às vezes uma família tinha 4 ou 5 filhos, e todos eram acionistas da Marcopolo. Em 1954, a empresa não contava com os recursos necessários para construir a nova fábrica, então novos sócios são incluídos e Nicola & Cia. Ltda passou a se denominar Carrocerias Nicola S.A. – Manufaturas Metálicas, uma sociedade anônima. Nessa época, era comum o capital da comunidade integrar a Marcopolo. Segundo Sr. Carlos Zignani o capital da comunidade era essencial para permitir o crescimento da empresa. 94 A nova sede, onde a fábrica passou a funcionar em 1957, contava com 3.100m2, e foi construída sobre um terreno cedido por Mário Sartor e sua esposa Lida Scola Sartor, com o objetivo de incentivar a ocupação de um loteamento junto a essa área. Para levantar os recursos necessários a esse investimento, as ações da Nicola foram vendidas por meio de uma estratégia “corpo-a-corpo” e não através da bolsa. Para negociá-las, os sócios recorreram a familiares, parentes e amigos, pois a empresa ainda não possuía projeção no mercado. Há relatos que o próprio Paulo Bellini saiu à rua de maleta na mão vendendo ações da empresa, conforme os trechos do depoimento abaixo indicam: “Quando estávamos no fim da construção, em 1957, não tínhamos dinheiro nem para pagar o que estava feito, tínhamos muitas dívidas, não tínhamos capital de giro. Soubemos, então, que havia um movimento no estado para estimular a formação de empresas de capital aberto. Foi isso que fizermos, transformamos a Nicola em empresa de capital aberto e começamos a trabalhar para vender suas ações. Imagina a dificuldade que foi, naquela época, dar um passo como aquele! Nosso sucesso foi alcançado pela persistência e sobretudo pelo nosso entusiasmo.”(Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 26) Em 1966, a Nicola transformou-se em Sociedade de Capital Autorizado, para se enquadrar na nova Lei do Mercado de Capitais. Tal conjunto de elementos indica que a empresa apresentou respostas satisfatórias no serviço de engenhosidade de levantar recursos financeiros. C) Versatilidade 95 No entender de Penrose (1980), a versatilidade está relacionada com a capacidade do empreendedor em gerar idéias, descobrir e reconhecer alternativas, utilizar o instinto para tomar decisões no tempo correto e vislumbrar oportunidades não tão óbvias. Ser versátil é ter habilidade em perceber oportunidades produtivas. Segundo o contrato de constituição da Nicola, a empresa tinha por objetivo: “a exploração do ramo de FABRICAÇÃO DE CARROCERIAS, PINTURAS e CHAPEAÇÃO DE AUTOMÓVEIS e tudo o mais que lhe convier”. O grupo inicial foi formado de dois pintores, dois chapeadores, dois carpinteiros e um lustrador. Tais formações diversas formavam habilidades indispensáveis ao processo de encarroçamento do ônibus, o que acabou acelerando o aprendizado da produção do ônibus e a troca de experiências entre as áreas (versatilidade técnica). Nos primeiros anos, para se adaptar às circunstâncias do momento, as vendas eram realizadas principalmente por Dorval Nicola e por Paulo Bellini, que acumulavam outras funções na empresa. Quando não estavam negociando com os clientes, Dorval estava na fábrica pintando, enquanto Paulo organizava a parte administrativa (versatilidade gerencial). Mais tarde, uma nova alternativa criada pela empresa para aumentar as vendas foi a instalação de uma rede de filiais, representantes e escritórios nas principais cidades do país (versatilidade empreendedora). Esta decisão já possuía o intuito de prestar assistência, serviços de pós-vendas e fornecer peças de reposição às empresas de transporte. Posteriormente, diversos outros países 96 também foram englobados pela área de vendas e as feiras internacionais foram vistas como uma grande oportunidade de vendas para a empresa como lembrou o Sr. Valter Pinto: “...mas o Uruguai e o Chile, com a presença nossa. Porque nossa idéia era sempre levar os ônibus para as feiras, aonde tínhamos facilidade com vendas... Não adianta, no nosso produto, mostrar um catálogo bonitinho e etc, porque você precisa sentar, precisa ver, precisa manobrar. Hoje o nome é test drive.” (Entrevista Sr. Valter Gomes Pinto) Em 1964, dois representantes instalados, um em São Paulo e outro em Curitiba, atendiam a diversos clientes e trabalhavam para ampliar o mercado em nível nacional. Nesse mesmo ano, a empresa abriu uma filial comercial no Rio de Janeiro, que era um mercado difícil, pois foi o primeiro a ter uma legislação para a padronização do transporte coletivo, como também possuía vários fabricantes locais de ônibus. Em seguida, para adequar o produto a esse mercado, foi realizado um trabalho com a fábrica. A Marcopolo, desde sua fundação, tem se preocupado com a criação de estratégias comerciais (versatilidade empreendedora). Na década de 1950, época em que o chassi não era específico para ônibus, o cliente já precisava conhecer os procedimentos utilizados na produção de um ônibus para avaliar em que aspectos esse produto se diferenciava dos da concorrência. Pensando nisso, a empresa abria as portas de sua fábrica para clientes e fornecedores, para que estes pudessem ver o processo de fabricação dos seus ônibus e assim comprovar a qualidade e a confiabilidade do produto. 97 No final da década de 1950, a empresa produzia peças publicitárias que além de divulgar os produtos e suas características, realçavam o processo de fabricação dos ônibus. O material apresentava máquinas e equipamentos de que dispunha a fábrica para transmitir a imagem de uma empresa alinhada com o avanço tecnológico da época. Em 1960, a propaganda da empresa já era veiculada em todo o Brasil, através dos folhetos distribuídos pelas filiais e representantes e de anúncios em revistas da época, como a edição brasileira da Revista Seleções do Reader's Digest, que publicava na contracapa um anúncio destacando o conforto, o rendimento e a segurança das carrocerias urbanas e rodoviárias Nicola. Em 1963, a empresa desenvolveu uma campanha bem original, ao oferecer aos seus clientes, como brinde de final de ano, assinaturas das melhores revistas em circulação no país. Ainda no ano de 1963, empresa lançou os ônibus Nicola Série Prata e Nicola Série Ouro. Ao longo dos primeiros anos da Nicola, diversos outros produtos foram lançados (vide a Tabela 4.4) com o objetivo de aumentar as vendas e desenvolver o mercado de ônibus (versatilidade empreendedora). Outro fato que ressalta traços de versatilidade, na então Nicola, foi a inserção das mulheres no chão de fábrica, pois até aquele momento a mão-deobra era exclusivamente masculina (versatilidade gerencial). O processo produtivo de uma carroceria envolve uma série de etapas e procedimentos, que englobam desde a colocação de pesadas chapas de aço e alumínio até a finíssima costura das capas das poltronas. 98 Dessa forma, segundo depoimento de Paulo Bellini, como as mulheres pensam mais nos detalhes, têm mais habilidades e são mais cuidadosas, foi identificado que elas seriam muito bem aproveitadas nas atividades relacionadas ao acabamento das carrocerias (versatilidade técnica). (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 65). Devido à habilidade em perceber oportunidades produtivas, que geraram valor à companhia e eram legítimas perante à sociedade, a Marcopolo apresentou respostas satisfatórias ao serviço da versatilidade. D) Julgamento Na visão de Penrose (1980) o julgamento como um serviço empreendedor se relaciona com a habilidade de a empresa avaliar os riscos e incertezas que fazem parte do processo de crescimento e buscar maneiras para mitigá-los. Já no início da história da Marcopolo, há indícios de que a empresa foi desenvolvendo uma habilidade em julgar seus movimentos em direção ao crescimento de forma apropriada sem colocar sua existência em risco. A principal evidência identificada nesse período é a transferência da fábrica localizada na Rua 18 do Forte para a nova unidade construída no Bairro Planalto. Por não contarem com os recursos financeiros necessários, os sócios da Nicola recorreram à comunidade de Caxias do Sul para levantar o montante 99 necessário para viabilizar a construção de uma fábrica mais ampla e com maior capacidade instalada. Tal fato indica que a direção da Nicola conseguiu reduzir a exposição ao risco de uma expansão desse porte poderia causar. A construção da nova fábrica teve início em 1954, dois anos antes da criação do GEIA pelo Juscelino Kubitschek, data considerada como o nascimento da indústria automobilística no Brasil. De certa forma, os sócios da Nicola já vislumbravam que a indústria automobilística brasileira iria se desenvolver, fato que os motivou a apostar na indústria de carrocerias de ônibus e investir no crescimento da empresa. Apesar de acreditarem que a nova fábrica inaugurada em 1957 proporcionaria o espaço adequado para atender a demanda por um período bastante longo, oito anos mais tarde, em 1965, a empresa precisou, mais uma vez ampliar suas instalações, através de um segundo pavilhão. Tal julgamento, fruto de bom senso e autoconfiança por parte da empresa, fez com que a Nicola ampliasse sua capacidade produtiva, ganhasse mercado e aumentasse seu porte em relação às suas concorrentes nacionais. Ao longo da primeira fase, há indícios de que a empresa começou a desenvolver a habilidade de minimizar os impactos das oscilações da demanda interna ou de determinados mercados específicos no faturamento. A instalação de redes de representantes comerciais no Brasil e principalmente no exterior sugere que a Nicola, desde o início, já buscava formas de conquistar novos mercados. 100 Sua rede de representantes estimulava um maior relacionamento da empresa com seus clientes, promovendo vendas regulares a esses clientes. Outro mecanismo criado para diluir o risco do negócio, foi a entrada no segmento de ônibus urbanos. Como pode ser visto na Tabela 4.4, apesar da Nicola ter seu início marcado pelos ônibus rodoviários, dois modelos de ônibus urbanos foram lançados nesse período. Apesar do constante desenvolvimento de novas tecnologias e novos produtos como elemento de crescimento, em 1963, a Nicola realizou dois lançamentos que não atingiram o êxito esperado, porém serviram como aprendizado para os lançamentos seguintes. Os dois ônibus rodoviários lançados foram o Nicola Série Prata e o Nicola Série Ouro. A Série Prata era composta de ônibus mais simples e mais baratos, enquanto a Série Ouro era composta por ônibus luxuosos e mais caros. Por não conseguir segmentar claramente o público que gostaria de atingir com os dois produtos, apenas a Série Ouro apresentava vendas. Esse fato levou a empresa a optar pela fabricação de modelos completamente diferentes. Apesar desse fato, a análise do serviço julgamento nessa primeira fase indica que as respostas da empresa foram favoráveis ao seu crescimento. E) Sumário das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase I) 101 Analisadas as quatro qualidades do serviço empreendedor, o resumo das respostas da Nicola ao desafio do empreendedorismo, ao longo do período entre 1949 e 1967, segue na Tabela 4.5: Tabela 4.5 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase I) 4.1.2. Desafios da Navegação no Ambiente Segundo Fleck (2006), o desafio de navegação no ambiente é representado tanto pela maneira como a firma lida com os diferentes stakeholders dentro de um ambiente em mudança, como pela capacidade que a firma desenvolve de criar e capturar valor, como também de assegurar a legitimidade da organização. Para navegar de forma bem sucedida, as respostas da firma a esse desafio devem compreender um satisfatório monitoramento das pressões ambientais, e um uso preciso e adequado de toda gama de estratégias de navegação (Oliver, 1991). 102 O ambiente no qual a Nicola iniciou suas atividades em 1949 pode ser considerado como inóspito para a produção de carrocerias de ônibus. As dificuldades eram enormes: não existia mão-de-obra especializada, não havia tecnologia nem ferramental apropriados para a produção de ônibus, e para agravar essa situação, não havia uma indústria de autopeças sólida no Brasil capaz de suprir as necessidades das encarroçadoras de ônibus. Até o final da década de 1950, os chassis de caminhões eram adaptados e utilizados para a produção do ônibus no Brasil. Muitos desses chassis também eram importados. Somente em 1957, após Mercedes-Benz, GM e Scania se instalarem no Brasil, a Nicola produziu seu primeiro ônibus com chassi brasileiro. Para analisar a forma como a Marcopolo desenvolveu habilidades para ser bem sucedida ao navegar no ambiente, serão descritas as evidências que indicam como a empresa fez uso das respostas estratégicas propostas por Oliver (1991), vide Tabela 4.6, para capturar valor e assegurar a legitimidade da organização. Em contrapartida, caso tal habilidade para navegar no ambiente não seja desenvolvida ou se mostre ineficiente, a firma coloca sua legitimidade organizacional em risco, podendo perder enormes oportunidades para capturar valor e reagir a mudanças (Fleck, 2006). Tabela 4.6 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais 103 Estratégia Consentir Negociar Tática Aderir Seguir normas invisíveis, aceitas como padrão Imitar Imitar modelos institucionalizados Cumprir Obedecer regras e aceitar normas Equilibrar Equilibrar as expectativas de múltiplos stakeholders Pacificar Apaziguar e acomodar elementos institucionais Barganhar Ocultar Evitar Proteger Fugir Desafiar Negociar com stakeholders institucionais Disfarçar a desconformidade Desprender-se de compromissos institucionais Mudar metas, atividades ou domínios Destituir Ignorar normas e valores explícitos Desafiar Contestar regras e requerimentos Atacar Cooptar Manipular Exemplo Violar as fontes de pressão institucional Conquistar apoio de elementos influentes Influenciar Moldar valores e critérios Controlar Dominar elementos e processos institucionais Fonte: Oliver (1991) A) Captura de Valor Como já comentado, os primeiros anos da empresa foram marcados por diversas dificuldades. Não existiam chassis específicos para ônibus no Brasil, então o chassi de caminhão precisava ser cortado e emendado tanto no comprimento quanto na largura, a partir de um processo totalmente artesanal. Como não detinha tecnologia inovadora, a empresa seguiu os padrões de modelos que estavam sendo fabricados pela concorrência para lançar seus 104 primeiros produtos no mercado e criar valor junto a seus clientes (estratégia de consentir; tática de aderir). Na metade da década de 1950, os chassis especiais para ônibus surgiram no Brasil, o que agilizou o processo de fabricação das carrocerias. Contudo, a maioria dos clientes seguia comprando os chassis de caminhão para serem adaptados, o que obrigou a Nicola a seguir atendendo alguns de seus clientes (estratégia de consentir; tática de cumprir) até o início da década de 1960, quando, enfim, os chassis adaptados entraram em desuso. Em alguns casos, após a realização do contrato de venda, a própria Nicola financiava o valor total da carroceria para o cliente e o tempo de parcelamento variava entre 24 e 30 meses. Tal modalidade de parcelamento, apesar de atender os desejos de seus clientes, acabava por criar dificuldades financeiras à empresa, pois afetava diretamente seu capital de giro (estratégia de consentir; tática de cumprir). Tais práticas só foram descontinuadas, ou melhor, suavizadas com a introdução de medidas governamentais como o Crédito Direto ao Consumidor. Outra evidência que mostra como a empresa almejava criar e capturar valor para seus clientes, pode ser vista pela sua preocupação em construir um relacionamento com estes públicos. Na década de 1950, época em que o chassi ainda não era específico para ônibus, o cliente procurava conhecer os procedimentos utilizados na produção de um ônibus para avaliar em quais aspectos os fabricantes diferenciavam entre si. Em linha com isso, a Nicola abria as portas de sua fábrica para clientes e fornecedores, para que estes pudessem 105 ver o processo de fabricação dos seus ônibus e assim comprovar a qualidade e a confiabilidade de seus produtos (estratégia de manipular; tática de cooptar). Nos primeiros anos da década de 1960, a introdução do Crédito Direto ao Consumidor pelo governo brasileiro constituiu uma medida decisiva em prol do desenvolvimento da indústria automotiva, pois oferecia boas condições de crédito aos donos de frotas de ônibus. Pegando carona com o bom momento econômico, a Nicola investiu em novas tecnologias, desenvolveu novos processos produtivos para criar valor ao seu produto e à empresa. Com isso, ela cresceu e atingiu a produção de 468 unidades no ano de 1967. Junto com novas técnicas de produção, novos materiais começaram a ser utilizados na produção do ônibus. Um desses novos materiais foi o aço que, gradativamente, passou a substituir a madeira nos ônibus. A Nicola foi a primeira empresa a montar carrocerias metálicas no Brasil (estratégia de desafiar; tática de desafiar), substituindo a madeira pelo aço (Cardoso, 2000. pg 42). Ainda na década de 1960, a partir de pesquisas técnicas e experiências práticas, a empresa reestruturou todo o sistema de fabricação de carrocerias, introduzindo algumas inovações, como maior curvatura no arco do teto, maior profundidade nos perfis das laterais e dos arcos, maior espessura das chapas de suas carrocerias. Tais melhorias proporcionaram mais resistência, durabilidade, segurança e economia aos seus produtos e foram mais tarde adotados pela concorrência (estratégia de manipular; estratégia de influenciar). 106 Devido à localização geográfica de sua fábrica, longe dos tradicionais centros comerciais, a conquista de novos mercados se mostrou uma tarefa complicada nos primeiros anos da empresa. Com o objetivo de contornar este obstáculo, em 1964, a Nicola abriu uma filial comercial no Rio de Janeiro, um mercado bem complicado na época, pois além de ser o primeiro a ter uma legislação para a padronização do transporte coletivo, já contava com vários fabricantes locais de ônibus (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Enquanto diversas destas empresas locais foram fechando as portas nos anos que seguiram, a Nicola foi ganhando espaço no mercado do Rio de Janeiro e atingiu a liderança deste mercado. No cenário internacional, em 1961 a Nicola realizou um feito inédito dentro da indústria brasileira. Duas carrocerias urbanas foram vendidas a Compañia de Omnibus Pando S.A. (COPSA), do Uruguai, se constituindo no passo inicial daquele que viria ser, anos mais tarde, o grande projeto da empresa: a internacionalização. A título de ilustração, a seguir segue a Tabela 4.7 contendo uma lista não exaustiva de evidências de criação e captura de valor, proporcionadas pela Marcopolo, entre os anos de 1949 e 1967, para alguns stakeholders. Tabela 4.7 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1949 e 1967 107 Stakeholder Comunidade (Caxias do Sul) Fornecedores Clientes (Empresas de Ônibus) Funcionários Acionistas Criação de Valor Captura de Valor - Patrocínio de Festas e Exposições na cidade - Geração de Emprego e Renda na cidade - Atração de Fornecedores para a cidade - A empresa abria a porta de sua fábrica para seus fornecedores. - Financiamento de carrocerias para clientes - Criação de rede de representantes - A empresa abria a porta de sua fábrica para seus clientes. - Desenvolvimento de novos produtos através também de novos materiais e processos produtivos - Realização de cursos em diversas instituições de formação de mão-de-obra - Criação do Grêmio Atlético Nicola (GAN) - Criação da Fundação Assistencial Nicola (FAN) - Legitimidade perante a comunidade de Caxias do Sul - Rentabilidade do capital investido - Rentabilidade do capital investido - Redução de custos logísticos - Legitimidade perante aos fornecedores - Aumento de vendas - Acesso a novos mercados no Brasil - Acesso ao mercado externo - Legitimidade perante aos clientes - Fortalecimento da marca - Funcionários mais motivados e preparados - Retenção de pessoal - Aumento de produtividade B) Legitimidade Organizacional Um traço sempre marcante da Marcopolo, desde sua fundação, é a relação que a empresa desenvolveu com a cidade de Caxias do Sul. Nos primeiros anos, apesar da razão social da empresa ser Nicola & Cia. Ltda, ela era conhecida como Carrocerias Caxiense, como referência a cidade de origem. Já nos primeiros anos 108 da empresa, o apoio financeiro da comunidade foi essencial para financiar os planos de expansão da empresa. Nesse aspecto merece destaque o caminho adotado pela empresa para levantar recursos financeiros, pois a empresa, ao contrário do que muitas outras faziam, não recorreu às linhas de financiamento já estabelecidas pelos bancos na época (estratégia de desafiar; tática de destituir). Como já salientado, as primeiras expansões da empresa foram financiadas com capital captado junto à comunidade, em virtude da legitimidade que a Nicola conquistou no seio da comunidade caxiense (estratégia de manipular; tática de cooptar). Ainda no que tange à cidade de Caxias do Sul, a Nicola sempre atuou de forma presente nos assuntos da comunidade. Em 1958, a Nicola já participava das exposições durante a maior festa promovida pela cidade: a Festa da Uva e a Feira Agro-Industrial, criando valor para a cidade de Caxias do Sul (estratégia de manipular; tática de cooptar). A Nicola sempre se preocupou em participar dos eventos promovidos pela comunidade, como destaca o livro comemorativo de 50 anos da empresa: “Certamente, participar de eventos promovidos pela comunidade caxiense ou criar outros para que a mesma participe, acreditando nos talentos que aqui germinam é uma forma particular de a empresa agradecer à sua terra, seu sucesso e sua projeção.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 94) Outro mecanismo utilizado pela empresa para se promover dentro de Caxias do Sul, foi sua atuação no âmbito esportivo através da criação do Grêmio 109 Atlético Nicola (GAN), criado em 1956. O GAN, primeiramente, funcionou como um time de futebol, mas depois se converteu numa instituição que reuniu outras modalidades esportivas. Através do GAN, muitos familiares dos funcionários passaram a acompanhar o time em jogos locais ou em outros municípios e os mascotes da equipe eram os filhos dos próprios funcionários-atletas (estratégia de negociar; tática de equilibrar). Os campeonatos municipal e estadual de futebol amador foram algumas das conquistas do GAN, dando grande visibilidade à empresa dentro do cenário nacional. Em 1963, foi criada a Fundação Assistencial Nicola (FAN), cujo principal objetivo era o de proporcionar aos seus colaboradores um melhor ambiente de trabalho, levando em consideração a saúde, a educação, a recreação e a cultura. Ainda no início da década de 1960, a diretoria da FAN assinou um contrato com a Aliança Gaúcha Cia. de Seguros Gerais instituindo um seguro que cobria acidentes dos funcionários fora do expediente de trabalho, pois já existia um seguro obrigatório que cobria acidentes durante a jornada de trabalho. Tal iniciativa foi bastante elogiada pela imprensa local e levou outros empresários do município a seguirem a mesma atitude (estratégia de manipular; tática de cooptar). O trecho a seguir foi retirado de um jornal da época e através dele é possível perceber como a Nicola era percebida pela comunidade: “A decisão dos diretores da Nicola, esta progressista indústria, mostra o desejo de proporcionar cada vez melhores condições para seus auxiliares, inclusive possibilitando-lhes meios de amparo aos familiares nos casos em que os mesmos venham a falecer ou ficarem impossibilitados de trabalhar em conseqüência de acidente sofrido fora do recinto da fábrica. Os industriais caxienses dão, assim, um magnífico exemplo de descortínio, 110 demonstrando, por meios práticos, sua preocupação com o bem-estar e segurança daqueles que os auxiliam a construir a riqueza de nosso parque industrial." (Jornal Pioneiro, 26/05/62) A logística envolvida na aquisição e recebimento dos insumos necessários produção do ônibus, como a madeira que vinda do Paraná, constituíam outro empecilho que afetava o tempo de produção. Naquela época, os poucos fornecedores existentes raramente se localizam próximos à cidade de Caxias do Sul. Aos poucos, a empresa foi conseguindo atrair fornecedores para Caxias do Sul, muitos dos quais, mais tarde, se fixaram junto às suas fábricas. No entanto, nessa primeira fase a empresa ainda dava seus primeiros passos para obter a legitimidade da organização perante seus fornecedores fazendo com que mais tarde Caxias do Sul se tornasse um dos principais pólos automotivos do Brasil (estratégia de negociar; tática de barganhar). Em 1959, a Fabus, a entidade que congrega os fabricantes de carroçarias para ônibus no Brasil, cuja missão é defender os interesses da classe, é fundada com participação da Nicola. (estratégia de negociar; tática de pacificar). C) Sumário das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase I) Analisadas as respostas da Nicola quanto ao desafio de navegação no ambiente nota-se, ao longo da primeira fase, a existência de evidências que indicam que a firma respondeu às pressões do ambiente em diversos momentos, 111 seja através de estratégicas de maior vulnerabilidade (consentir e negociar) quanto ativas (desafiar e manipular). A qualificação dessa respostas está apresentada na Tabela 4.8. Tabela 4.8 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase I) 4.1.3. Desafios da Gestão da Diversidade Segundo Fleck (2006), a necessidade de sustentar a integração organizacional aumenta à medida que a firma cresce, pois a diversidade tende a crescer com o aumento de tamanho. Por exemplo, ao aumentar o quadro de funcionários de uma empresa, aumenta-se, por mais que não se deseje, a heterogeneidade das características das pessoas que fazem parte da organização. 112 Ao longo da primeira fase da Marcopolo, ainda na denominação Nicola, nota-se a existência de indícios de que a firma foi desenvolvendo mecanismos de integração organizacional, apesar da ocorrência de eventos que a fragilizaram, a exemplo do desligamento da empresa, em 1967, dos sócios, Dorval, Doracy e Nelson Nicola. Não foram encontradas informações esclarecendo o real motivo deste desligamento, porém pelas entrevistas realizadas, pode-se supor que houve algum desentendimento. A fabricação do ônibus sempre foi um processo basicamente artesanal, intensiva em mão-de-obra. Percebendo isso, desde seu início a Marcopolo se preocupou em criar mecanismos que integrassem seus funcionários e os comprometessem com o funcionamento da empresa. Como se observa no trecho da entrevista com um diretor da empresa, criar comprometimento das pessoas sempre foi peça fundamental para o sucesso da empresa. “A gente depende muito da mão-de-obra artesanal, não somos uma indústria de processos, como é uma indústria química, uma siderúrgica. Nós dependemos das pessoas. Nossa linha de montagem são pessoas. Equipamentos nós usamos muito, mais para produzir os componentes. Mas na linha de montagem é manual, é basicamente mão-de-obra. E nós precisamos ter uma mão-de-obra que tenha qualificação e tenha comprometimento com o negócio.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) Nos primeiros anos de atividade da Nicola, eram oferecidos cursos e encontros aos supervisores, chefes e colaboradores, visando à construção também das relações pessoais entre os funcionários. Os dirigentes acreditavam que se a fabricação de um ônibus era altamente dependente de pessoal 113 especializado, essas equipes deveriam trabalhar satisfeitas e perfeitamente entrosadas, o que para eles, não se restringia apenas ao aspecto profissional. O fato de os próprios sócios trabalharem na fábrica junto aos demais funcionários funcionou como estímulo à produção com maior qualidade e foi um mecanismo eficaz de aproximação entre direção e funcionário. Tal entrosamento é lembrado e valorizado por muitos funcionários daquela época como uma importante prática que impulsionou o crescimento da empresa. Ainda no que diz respeito ao entrosamento entre funcionários, nos primeiros anos da empresa, ainda na Rua 18 do Forte, alguns funcionários aproveitavam o tempo do horário de almoço para jogar bola na rua, em frente à fábrica. Como conseqüência, foi criado um time de futebol que contava com os sócios fundadores da empresa, Dorval Nicola, Doracy Nicola e Paulo Bellini, e diversos outros funcionários. Mais tarde o esporte foi se tornando, cada vez mais, um importante mecanismo de integração organizacional, principalmente a partir de 1956, com a criação do Grêmio Atlético Nicola (GAN). Num segundo momento, diversas modalidades esportivas, além do futebol, passaram a fazer parte do GAN. Para integrar ainda mais os funcionários, eles podiam levar suas famílias para assistir aos jogos que ocorriam em Caxias do Sul e em outros municípios. Além das atividades de integração desenvolvidas pelo GAN e pela Fundação Assistencial Nicola (FAN), fundada em 1963 com o objetivo de proporcionar aos seus colaboradores um melhor ambiente de trabalho, foi 114 instituída em 1967 a Equipe Interna de Combate a Incêndios (EICI). Inicialmente com 13 membros e destinada a atuar somente na empresa, em 2007, a Brigada de lncêndios da Marcopolo contava com quase 300 homens distribuídos estrategicamente em suas unidades fabris em diversos setores e turnos. Durante a visita realizada na fábrica pode-se observar o orgulho que essas pessoas sentem em servir a empresa, também, como bombeiros. A Nicola, desde cedo, foi uma empresa que buscou a transparência e compartilhamento de informações como mecanismos importantes de integração com os funcionários. A empresa levava, para sua fábrica, clientes e fornecedores, para que pudessem assistir ao processo de fabricação dos seus ônibus para comprovar a qualidade e a confiabilidade do produto. Em seguida, como ferramenta de marketing interno, as vendas realizadas e os resultados das visitas eram divulgados aos trabalhadores. Tal gesto servia como estímulo à produção, pois a gerência acreditava que para produzir com qualidade, o funcionário deveria estar motivado e, principalmente, se sentindo parte daquele sucesso. Desde cedo, a Nicola procurava compartilhar os êxitos e as dificuldades com todos os funcionários. Ao longo dessa primeira fase, a Nicola foi atingindo significativos índices de crescimento, que a forçaram a realizar algumas reestruturações administrativas para aperfeiçoar procedimentos técnicos, operacionais e de gestão. Para destacar o bom trabalho que estava sendo realizado dentro da Nicola e mostrar como a empresa estava conseguindo se manter integrada diante dos seguidos saltos de 115 crescimento, a Revista Seleções do Reader's Digest trouxe em 1968 um suplemento especial intitulado Perfis do Rio Grande do Sul, que ressalta a filosofia de trabalho da empresa: “Fazendo de sua filosofia de trabalho o lema ‘a organização é antes de tudo o homem’, os dirigentes de Carrocerias Nicola S.A. sabiam onde queriam chegar. A meta que se propunham atingir, a de fabricar somente produtos de alta qualidade, ao fundarem a empresa há 19 anos, só seria possível, assim admitiam, se constituíssem uma equipe verdadeiramente homogênea em todos os seus escalões, de dirigentes e comandados, do pessoal técnico e administrativo." (Revista Seleções do Reader’s Digest, Set,1968, no320, s.p.) A homogeneidade destacada no trecho da Reader's Digest, de fato é um importante traço da cultura da Marcopolo. A empresa, desde cedo, foi desenvolvendo mecanismos que permitiram construir a homogeneidade dos funcionários da empresa. Segundo Sr. José Albino, um ex-funcionário que permaneceu na empresa por quase quatro décadas, a empresa, desde seu início, conseguiu encaixar seus funcionários dentro de um mesmo padrão. “É uma coisa que tu se sente muito bem. O pessoal gosta, e trabalha aqui por causa desse tipo de coisa. Então a Marcopolo pega os funcionários e bota eles numa integração, vários dias, e doutrina o cara para aceitar aquilo. E o cara entra, se adapta àquilo e se sente bem. ” (Entrevista Sr. José Albino) A publicação periódica de informativos foi outro importante recurso para promoção da integração da Nicola. Estes informativos serviam para divulgar a imagem da empresa aos seus funcionários e o estreitar de laços com a comunidade. O primeiro foi o Boletim Informativo Nicola (BIN), lançado em 1961. 116 O BIN publicava matérias relativas à qualificação da mão-de-obra, às visitas que a empresa recebia e aquelas que seus funcionários realizavam. Este veículo também destacava os aniversários, os matrimônios e, principalmente, os esportes. Algumas matérias eram publicadas com o objetivo de auxiliar na formação ética, cultural e moral do leitor, como também enfatizar a segurança no trabalho. O BIN era distribuído a todos os funcionários que trabalhavam na empresa e segundo o Sr. José Albino, ele e a maioria dos funcionários tinham o costume de ler esses informativos. Dessa forma, ao analisar as respostas do desafio na gestão da diversidade, é possível perceber que a Nicola foi desenvolvendo mecanismos de integração já na primeira fase da empresa, como mostra a Tabela 4.9. Tabela 4.9 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Diversidade (Fase I) 117 4.1.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais Segundo Fleck (2006), o desafio da formação de recursos gerenciais consiste em manter constantemente a firma equipada com recursos humanos de qualidade. Para ser bem sucedida nesse desafio, a firma tem que desenvolver habilidades em antecipar, formar, reter e renovar seus recursos gerenciais. Como já mencionado anteriormente, a Marcopolo, chamada de Nicola durante a primeira fase de análise, sempre dedicou uma atenção especial à questão da mão-de-obra. Alguns motivos que fazem da mão-de-obra um tema central já foram citados. No entanto, a seguir serão descritas as principais evidências que indicam como a Nicola se portou perante aos principais aspectos que compõem o desafio da formação de recursos gerenciais. A) Antecipação Não há muitas evidências que sugerem que o aprovisionamento antecipado já era uma preocupação da empresa nos seus primeiros anos. Por outro lado, quando se observa a constituição da Nicola & Cia em 1949, percebe-se que o grupo que fundou a empresa detinha habilidades distintas, mas que se completavam, sendo indispensáveis ao processo de fabricação de uma carroceria. 118 Este grupo inicial era formado por dois pintores, dois chapeadores, dois carpinteiros e um lustrador, o que indica que a firma já se preocupava em ter os recursos necessários de forma antecipativa para realizar determinada atividade, evitando qualquer enfraquecimento da integração organizacional da empresa. Embora não se tenha podido identificar os reais motivos que levaram ao desligamento dos irmãos Nicola da empresa no ano de 1967, é fato que a entrada dos Srs. Valter Gomes Pinto e José A. Martins nos anos de 1964 e 1966, respectivamente, viria a preencher os espaços que seriam criados pela saída da família Nicola no negócio. No entanto, não se pode afirmar que a saída dos Nicola já estava prevista no momento da admissão dos Srs. Valter Pinto e José Martins, que mais tarde, se tornaram controladores da empresa. Por outro lado, a entrada desses senhores além de servir como um mecanismo de renovação, como será descrito mais adiante, também foi motivada pelo fato de a empresa estar crescendo e precisar de recursos para suportar tal processo de crescimento para os anos seguintes. B) Formação Formar a mão-de-obra necessária ao encarroçamento do ônibus foi uma das principais dificuldades vividas pela Nicola naqueles primeiros anos. No entanto, dois fatores merecem destaque por contribuírem para o nascimento da 119 firma, principalmente no quesito mão-de-obra. O primeiro foi a existência da Metalúrgica Abramo Eberle, empresa fundada em 1896 e o maior empregador de Caxias do Sul na década de 1960. A Metalúrgica Abramo Eberle foi fundamental no surgimento de pólo metalmecânico na cidade e uma importante formadora de mão-de-obra especializada para outras indústrias que foram surgindo na cidade, como a Nicola. O segundo fator foi a criação em 1942, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), cujo objetivo era atender a uma carência do país: a formação de mão-deobra para a incipiente indústria de base que estava surgindo. A Nicola, desde cedo, se aproveitou dessa mão-de-obra, que apesar de apresentar alguma qualificação não tinha conhecimento técnico de uma indústria que estava surgindo no Brasil, no caso a automotiva. Na época, não havia ferramental apropriado e as dificuldades eram as mais variadas. Mesmo assim, os funcionários iam desenvolvendo novos procedimentos e novas técnicas. Este conhecimento tinha que ser pacientemente passado aos novos funcionários que ingressavam na empresa, conforme contou um ex-funcionário da época. “Aquilo foi indo, nós tínhamos a caixa de ferramentas e aquilo foi indo. A empresa foi crescendo um pouco, então a empresa foi lá, comprou uma guilhotina. Com uma guilhotina já facilitou, já economizou aquela mão-deobra de cortar a chapa com facão. Depois foi aperfeiçoando, comprando outras dobradeiras, e foi comprando máquina. E chegou a um ponto que hoje tá a Marcopolo. E naquela época lá, tinha bastante solda, desta solda oxiacetileno, tinha solda elétrica, mas o oxigênio era bastante usado, soldar reforços e tinha uma série de coisas. E normalmente, quando entrava uma pessoa nova na empresa, um funcionário novo, tu tinha sempre que botar ele junto com outro, pra ele aprender né?.” (Entrevista Sr. José Albino, funcionário da Marcopolo entre 1954 e 1992). 120 Como se nota, os ensinamentos eram transmitidos, primeiramente, dos mestres para os aprendizes, que eram funcionários mais jovens ou com menor experiência. Nesse período, o ônibus era um produto resultante muito mais da mão-de-obra do que do maquinário utilizado e para ter os melhores ônibus, a empresa acreditava que seus funcionários deveriam ser os melhores profissionais do setor. O próprio periódico interno, o Boletim Informativo Nicola (BIN), era também um importante instrumento nesse processo, pois publicava artigos que apresentavam instruções e novas técnicas para utilizar determinada ferramenta ou matéria-prima. Na década de 1960, a Nicola viveu uma implantação dos processos produtivos e o desenvolvimento de programas de treinamento, os quais muito contribuíram para o aumento da produção da empresa. Nesse mesmo período, a empresa progrediu no nível de qualificação de pessoal, aumentando as contratações de engenheiros e de técnicos para as diversas áreas. A administração da empresa apoiava tanto os cursos técnicos como os que abordavam as relações interpessoais. Para estimular seus funcionários a se engajarem no processo de capacitação e qualificação, a Nicola divulgava o nome dos participantes e os presenteava. C) Renovação 121 No que tange à renovação, ao longo da década de 1960, muitos funcionários realizaram cursos em empresas localizadas fora do estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de aumentar o grau de tecnificação da empresa. Alguns convênios também foram realizados entre a Nicola e instituições de qualificação profissional, como o SENAI. Outro ponto que sugere a preocupação da empresa em se renovar foi a entrada dos Srs. Valter Gomes Pinto e José A. Martins, conforme comentou Sr. Carlos Zigani: “Como que a Marcopolo cresce? Nós tínhamos pessoas muito motivadas, mas ao mesmo tempo nosso presidente sempre teve muita preocupação de trazer gente especializada. Então nesta década de 60 entra esse senhor que comentei contigo, Walter Gomes Pinto, que foi buscado do mercado. Entrou também o Engenheiro Martins, que hoje é nosso controlador. Ele veio da Dana Albarus, é uma empresa que trabalhava com a fabricação de componentes para a indústria automobilística. Foi um engenheiro que veio aqui e agregou valor à companhia. Então sempre teve essa preocupação, e muita preocupação com comercialização também.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) O Sr. Valter Pinto, antes de ingressar na Nicola, trabalhava com publicidade em uma agência em Porto Alegre e tinha a Nicola como uma de suas clientes. Ele foi o grande responsável por ampliar a visão comercial da Nicola. Já, o Sr. José Martins, um engenheiro com experiência no setor automotivo, realizou diversas transformações na área industrial da empresa. D) Retenção 122 A Nicola, e mais tarde a Marcopolo, sempre é lembrada como uma empresa, na qual as pessoas quando entram, dificilmente saem. Apesar de existirem poucas evidências que comprovem a existência de mecanismos de retenção na época, é possível encontrar funcionários na empresa, que entraram na empresa nessa primeira fase (1949 a 1967) e seguem trabalhando até os dias atuais (2007), apesar da idade avançada. Outros, por outro lado, se aposentaram ou falecerem, porém fizeram da Nicola (ou Marcopolo) a única empresa em que trabalharam. Através das entidades que auxiliaram a formação de grande parte do pessoal, diversos funcionários que começaram como alunos, trilharam carreiras bem sucedidas na empresa, quando concluíram os cursos. Um desses casos foi Nestor Perottoni, que chegou a ocupar o cargo de Titular da Assessoria Jurídica e integrar o Conselho de Administração da empresa: “Ingressei na empresa em 1963, foi meu primeiro e único emprego. (...) Fui um dos primeiros a ter o estudo pago pela empresa. Eu era auxiliar escriturário do almoxarifado. (...) A filosofia da empresa já era diferente." (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 64) E) Sumário das Respostas ao Desafio da Gestão da Formação de Recursos Gerenciais (Fase I) Com exceção da antecipação (que não apresenta evidências suficientes), nota-se que já na primeira fase da empresa, a empresa foi sendo bem sucedida 123 em suas respostas ao desafio da formação de recursos gerenciais como apresenta a Tabela 4.10. Tabela 4.10 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase I) 4.1.5. Desafios da Gestão da Complexidade Segundo Fleck (2006) o desafio da gestão da complexidade envolve a gestão de questões complexas e a resolução de problemas que englobam um amplo número de variáveis interdependentes, sem colocar a existência da organização em risco. Este desafio afeta a qualidade das respostas dos outros desafios do crescimento. 124 Os principais mecanismos que tornam a firma bem-sucedida quanto ao desafio da complexidade são a habilidade em solucionar problemas de forma sistemática, a busca por soluções abrangentes e o fomento do aprendizado dentro da firma. A Nicola, desde o início, teve que lidar com questões complicadas que foram acompanhando seu crescimento, conforme depoimento do Sr. Paulo Bellini: “Fomos tocando na base do peito e do trabalho. Atravessamos períodos difíceis e crises financeiras. Foi uma época de grande aprendizado. Nossa qualidade, apesar do esforço, ainda deixava a desejar. Convivemos com problemas administrativos; passamos por mais de uma reformulação de diretoria; enfrentamos atrasos significativos com fornecedores; ouvimos reclamações de clientes, justificadas ou não. Era difícil estruturar nosso corpo funcional. Tivemos que aprender a lidar com os assuntos ligados ao Fisco, nas diversas esferas; aprendemos a transitar nas esferas governamentais... realmente, o início da fábrica foi para nós um grande aprendizado.” (UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 113) Diversas habilidades foram sendo desenvolvidas dentro da empresa que envolveram tanto uma navegação no ambiente bem sucedida, seguida pela integração e legitimidade organizacional, como por ser exemplificada pela criação do Grêmio Atlético Nicola (GAN) e a Fundação Assistencial Nicola (FAN), entidades que sistematicamente desenvolviam atividades para os funcionários e com pleno envolvimento dos mesmos. Pode-se, ressaltar a criação de parcerias longevas com insituições, como o SENAI, importante centro para desenvolvimento de mão-de-obra especializada. A questão do desenvolvimento de tecnologia sempre ocupou grande importância dentro da empresa. Apesar de todas as dificuldades existentes nos primeiros anos, a Nicola chega ao final da década de 1960 com completos 125 serviços de corte, polimento, galvanoplastia, carpintaria, mecânica, ferramentaria, estamparia, pintura, fabricação de janelas, serralheria e estofaria. Todos eles orientados por Departamento de Engenharia, que também foi criado na empresa. Como evidência de sua orientação sustentada para resolver problemas, nesse período, suas oficinas e depósitos já estavam equipados com sistema de numeração e catalogação o que permitia o atendimento de pedidos de peças complementares para reposição. Embora o primeiro ônibus tenha levado 90 dias para ser construído, a Nicola foi nos anos seguintes, cada vez mais encurtando esse tempo de fabricação. Como nota-se no Gráfico 4.4 (página 89), a firma foi continuadamente aumentando sua produção, devido principalmente ao aprendizado sistemático da atividade fabril e do desenvolvimento constante de procedimentos e técnicas mais modernas. Entre os anos 1949 e 1967, a Nicola lançou 10 modelos diferentes, tanto no segmento rodoviário como urbano. Para melhorar as características de seus lançamentos, a empresa tomou uma medida interessante para sistematizar o relacionamento entre clientes e fábrica. Os escritórios comerciais, além da comercialização de carrocerias, tinham que manter permanente contato com os clientes e transmitir à fábrica as opiniões sobre o desempenho dos veículos. Após a abertura das primeiras filiais, a Nicola foi desenvolvendo tal aprendizado e dessa forma conseguiu penetrar em diversas cidades do Brasil, o que estimulou as vendas em todo o território nacional. 126 Através da estrutura criada com FAN, a Nicola conseguiu sistematicamente elaborar mecanismos para desenvolver a legitimidade da organização e integração organizacional. Uma dessas atividades foi associar todos os colaboradores e seus dependentes ao Círculo Operário Caxiense, instituição prestadora de serviços médico-odontológicos, hospitalares, laboratoriais e de treinamento, que na época, também oferecia cursos de datilografia e de corte e costura. Apesar de alguns indícios presentes na primeira fase da história da Nicola (1949 – 1967), nota-se uma falta de elementos suficientes para sugerir que a empresa apresentou respostas predominantemente satisfatórias no desafio da gestão da complexidade. Pelo próprio depoimento do presidente Paulo Bellini, esta foi uma fase na qual a empresa ainda trabalhava na base do peito e do trabalho sem uma sistematização para a resolução de problemas. A tabela a seguir (Tabela 4.11).apresenta o sumário das respostas da Marcopolo ao longo da primeira fase de sua história, e indica que em suma a empresa teve êxito quanto às respostas aos desafios do crescimento . Tabela 4.11 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Complexidade (Fase I) 127 4.2. Fase 2 – As Primeiras Expansões: 1968 a 1986 A segunda fase da trajetória da Nicola compreende os anos de 1968 a 1986. Tal período tem início com o desligamento dos irmãos Nicola da empresa e se estende até o início da implementação das técnicas japonesas na empresa. Apesar de haver realizado sua primeira expansão no ano de 1957, com a mudança para a nova fábrica no Bairro Planalto, foi a partir de 1970 que o processo de aquisições e investimentos em novos negócios ganhou corpo dentro da empresa. Eis porque essa segunda fase foi intitulada de primeiras expansões. O Gráfico 4.5 apresenta alguns eventos do período assim como a evolução da produção de carrocerias da Marcopolo. 128 Gráfico 4.5 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1968 e 1986 14,000 a a 1 Fase De 1949 a 1967 Inauguração Fábrica Planalto Saída Irmãos Nicola 8,000 6,000 2,000 0 Ingresso José Martins Início Prod. Com Chassi Brasileiro Ingresso Valter Gomes JK inicia expansão da indústria automotiva no Brasil Fundaçã o da Nicola & Cia. LTDA Criação da FAN Fechamento Marcopolo Minas Contrato CKD para Gana Mudança de nome para Marcopolo 1o Contrato CKD Técnicas Japonesas Desativação Planalto Criação da Fundação Marcopolo Fábrica Ana Rech Marcopolo Minas México Colômbia Início Divers. Não Relacionada Ações Bovespa 1a Exportação Desativaçã o Argentina Portugal Ônibus Volare Escola Formação Profisiional Avaliação Rússia e China Argentina Plano Real Aquisição Nimbus Aquisiçã o Eliziário Crise no México 50% Ciferal Fim Diver. Não Relacionada Transf. Tecn. China África do Sul Troféu Busbuilder of the Year 100% Ciferal 19 49 19 51 19 53 19 55 19 57 19 59 19 61 19 63 19 65 19 67 19 69 19 71 19 73 19 75 19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01 20 03 20 05 Produção de Ônibus* 10,000 3 Fase De 1987 a 2006 Viagem ao Japão Lançamento Ônibus Marcopolo 12,000 4,000 a 2 Fase De 1968 a 1986 *Não inclui Volare e Furgões A seguir será realizada uma análise da segunda fase da Nicola, período no qual a empresa abandona o nome Nicola e passa a se denominar Marcopolo, nome que carrega até os dias atuais. O propósito da análise é encontrar evidências que indiquem de que forma a empresa foi desenvolvendo capacitações para responder aos cinco desafios do crescimento. 4.2.1. Desafios do Empreendedorismo 129 A) Ambição Ao contrário do que se observou na fase anterior, a produção de ônibus da empresa não apresentou a mesma consistência nas taxas de crescimento, como pode se observar através do Gráfico 4.6. Enquanto no final da década de 1960 e toda a década de 1970, a produção de ônibus da empresa cresceu consideravelmente, os primeiros anos da década de 1980 apresentaram os piores resultados em toda a história da empresa. Gráfico 4.6 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1968 e 1986 4,000 3,500 Produção de Ônibus* 3,000 2,500 2,000 1,500 2a Fase De 1968 a 1986 1,000 500 0 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 *Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo 130 Apesar da crise vivida nos últimos anos desta fase, ao longo de seus 19 anos (1968 – 1986) há diversos indícios que apontam que a empresa ainda se mostrava motivada a crescer e conquistar novas oportunidades. Os principais fatos que fundamentam a existência da ambição nessa fase são: as seguidas ampliações de capacidade, a construção de novas unidades fabris, o lançamento de novos produtos, a aquisição de concorrentes, e o início da diversificação em negócios não relacionados ao encarroçamento de ônibus. Já na fase anterior, os planos de expansão e ampliação da capacidade produtiva eram vistos como metas determinantes para o crescimento da empresa. Em 1968, a fábrica teve o seu potencial produtivo aumentado, em um primeiro momento, em 40% e, em um segundo, em 80% com relação ao ano anterior. Em 1971, através do apoio financeiro do então BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento Econômico S.A.), a firma construiu adicionais 4.996m2, o que compreendeu dois pavilhões industriais, a ampliação da área administrativa, além da instalação da rede de hidrantes e a aquisição de novos equipamentos industriais. Um ano antes, em 1970, a Nicola deu início a seu plano de expansão por meio de aquisições ao adquirir um forte concorrente de carrocerias de ônibus da época, a Eliziário de Porto Alegre, que atuava principalmente no segmento de urbanos. Mais tarde, no ano de 1977, uma outra concorrente, a Nimbus, foi adquirida. A Nimbus, que em 1979, passou a se denominar Invel, foi a empresa 131 montada pelos irmãos Nicola ao saírem da Marcopolo (ainda na época em que era conhecida por Nicola). Dando seguimento a um plano de expansão, e de olho no bom momento que a economia brasileira atravessava, principalmente graças à fase do “Milagre Brasileiro”, a Marcopolo decidiu realizar outros dois significativos investimentos para viabilizar seu crescimento nos anos seguintes. O primeiro foi a construção de uma fábrica maior em Caxias do Sul, localizado no Bairro de Ana Rech. A construção dessa fábrica teve início em 1979 e foi concluída em 1981. O segundo investimento foi a construção de uma nova unidade fabril, com 12.000 m2, na cidade de Betim, em Minas Gerais. No ano de 1968, o Sr. José A. F. Martins e o então Diretor Técnico, Fiorindo J. Sartori, realizaram uma viagem a Europa, Estados Unidos e América Central para analisarem o conceito dos ônibus presentes naqueles mercados. Como resultado dessa incursão, um novo projeto passou a ser estudado. Um novo produto foi desenvolvido unindo as idéias trazidas dos mercados estrangeiros com as necessidades do mercado nacional. Nesse momento, em 1968, surgiu um novo ônibus montado nas versões Rodoviário, Rodoviário com Toalete e Carro-Leito, uma inovação naquele período. Além do lançamento do ônibus Marcopolo em 1968, assim como na fase anterior, a Marcopolo lançou diversos produtos (vide Tabela 4.12), sempre levando novidades para o mercado, como o ônibus Paradiso, pertence à Geração IV, que foi o primeiro ônibus high deck do Brasil. 132 Tabela 4.12 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1968 e 1986 NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES Marcopolo 1968 Rodoviário Nas versões Rodoviário, Rodoviário com Toalete e Carro-leito. A característica inédita dessa carroceria foi a colocação do itinerário sob o vidro do pára-brisa. Apresentou novo sistema de portas, com duas folhas. Nicola 1968 2010 Série 5500 1969 Marcopolo II Veneza Bertioga Marcopolo Júnior Veneza “Romeu e Julieta Marcopolo II Seletivo Marcopolo III Veneza Expresso Veneza II Haragano Marcopolo III - SE Sanremo 1970 1970 1971 1972 Urbano Urbano e Rodoviário Rodoviário As opções iam desde o luxuoso carro-leito, com 18 poltronas-cama, até modelos com 45 lugares. 1973 Urbano Rodoviário Microônibus Construído sobre duas versões do chassi LO 608 D (3.500 3 4.500 mm entre eixos). Urbano Tratava-se de um conjunto de duas unidades interligadas entre si. O veículo que fazia a tração possuía 9,76 m de comprimento, o traseiro 7,45 m, e entre os veículos a distância era de 1,24 m . Esse conjunto poderia transportar até 200 passageiros. Rodoviário Ônibus equipado com ar condicionado. 1974 Rodoviário 1974 Urbano 1976 1977 Urbano Urbano 1978 Rodoviário 1978 Urbano 1978 Rodoviário 1973 Marcopolo Articulado Articulado Sanremo Microvan 1978 Urbano 1979 Micro Microbus 1979 Micro Permaneceu no mercado pelo período de dez anos. Inicialmente, apresentado numa versão especial para utilização no transporte urbano de Curitiba. Produzido pela Nimbus, Marcopolo. Ônibus rodoviário médio. empresa adquirida pela Montado sobre chassi Scania B 111. Primeiro ônibus rodoviário intermunicipal brasileiro. Produzido pela Invel, antiga Nimbus, para transporte de pequenas cargas. Produzido pela Invel. Veículo movido a álcool, para o transporte de passageiros, turismo e camping. 133 NOME ANO MODELO Trolebus 1979 Urbano Sanremo ST Articulado Sanremo II Microônibu s FB 4000 Viaggio G IV 850 Viaggio G IV 1000 Viaggio GIV 1150 Paradiso G IV 1400 Torino G IV Senior 1980 1981 OBSERVAÇÕES Veículo elétrico. Microônibus Veículo concebido para ser adaptado ao transporte escolar, rural e rodoviário. Urbano 1983 Micro 1983 Rodoviário 1983 Rodoviário 1983 Rodoviário 1983 Rodoviário 1983 Urbano A Greação IV, lançada neste ano, permaneceu no mercado durante dez anos O primeiro “high-deck” do Brasil, exclusivo sobre plataforma com 3º eixo. 1984 Fonte: Memorial Marcopolo Ao longo do lançamento do ônibus Marcopolo, a empresa continuou participando de diversas feiras internacionais, como a Feira Internacional do Pacífico, em Lima (Peru) e a Feira Internacional de Santiago (Chile), na qual conquistou o Gran Premio na classe de veículos motorizados. A empresa também participou de eventos no Paraguai, Uruguai, Venezuela, Argentina e Bolívia. Em 1971, já sob a denominação social de Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus, a empresa investiu em concorrências na África do Sul e pela primeira vez tentou entrar no mercado europeu. Na América do Sul, mesmo concorrendo com grandes fabricantes europeus e americanos, firmou contrato para fornecimento de carrocerias à ESCA (Ensamblaje Superior C.A.) uma empresa da Venezuela. 134 Na cidade de Caxias do Sul todo o layout industrial da fábrica venezuelana foi desenhado e os técnicos da empresa venezuelana foram treinados para a montagem das carrocerias na Venezuela. Em Guacara (Venezuela), a Marcopolo acompanhou as instalações da fábrica para garantir que tudo operasse perfeitamente. Esse tipo de contrato foi o primeiro do gênero realizado pelo Brasil. Nos anos seguintes, a empresa foi cada vez mais se especializando nas operações em CKD. Em 1974, a experiência com o sistema CKD atingiu o continente africano. O microônibus Marcopolo Júnior foi montado em Accra (Ghana). Este microônibus foi também o primeiro ônibus brasileiro exportado para a Europa, no ano de 1973, quando após participar da Brasil Export 73 em Bruxelas, uma empresa de transportes da Bélgica adquiriu um desses modelos. Em 1975, a empresa já contava com uma rede de representantes, atuando na América do Sul, Central, África e Ásia, fato que aliado à montagem de carrocerias urbanas modelo Veneza, na Empresa Metrobus Del Equador (Equador), fez com que as exportações da Marcopolo crescessem mais de 100% comparando-se ao ano anterior. No ano de 1972, a empresa ambicionou produzir um chassi. Para isso foi formada uma joint venture entre a Marcopolo, a Cummins Nordeste S. A. lndustial (unidade brasileira da Cummins Engineering Company, dos Estados Unidos) e a Van Hool lntemational S. A., da Bélgica. Nessa mesma década foi lançado um 135 chassi do tipo tubular, com suspensão a ar e direção hidráulica, porém mais tarde o projeto foi abandonado. O período entre os anos de 1968 e 1986, apresenta diversas evidências de que a Nicola, depois chamada Marcopolo, ambicionava crescer, seja através de aquisições, exportações para o mercado externo ou investimentos no mercado interno, como novos produtos ou novas fábricas. No final dessa fase, após atravessar a pior crise de sua história, a empresa começou a voltar suas atenções também para negócios não relacionados ao ônibus, também visando ao crescimento. Então, em 1986, com o objetivo de expansão na área de fiberglass, a Marcopolo constitui a MVC Componentes Plásticos em São José dos Pinhais, no Paraná. Tal unidade passou a produzir peças em fibra de vidro para a indústria automobilística. Ao analisar o conjunto de evidências apresentadas, pode-se dizer que a Marcopolo seguiu demonstrando ímpeto em crescer o que indica respostas satisfatórias no que diz respeito ao serviço da ambição nessa segunda fase. B) Engenhosidade em levantar recursos financeiros A habilidade da Nicola em levantar recursos financeiros foi uma marca da primeira fase da empresa que prosseguiu nos anos seguintes. Para realizar os 136 diversos investimentos que buscavam a expansão da empresa, primeiro como Nicola, e mais tarde como Marcopolo, a empresa continuou utilizando o capital da comunidade como um elemento importante para sua trajetória de crescimento. Um fato que sustenta tamanha habilidade pode ser visto pelo depoimento de um diretor da empresa, que descreve como eram realizadas as famosas assembléias gerais da empresa, e os diversos outros mecanismos que a firma implementou já para ganhar transparência, credibilidade e atrair o capital dos acionistas da empresa. “Inclusive se tu fores olhar aqui dentro do livro, olha por acaso abri na página certa, olha como é que era. Aqui é uma Assembléia Geral de 1972, a Marcopolo não era capital aberto, os acionistas estão assistindo uma demonstração dos resultados da companhia em 1972. Você vê: governança corporativa, busca de capital já fazia parte do DNA da companhia. Eu credito muito a força da Marcopolo a essa distribuição de capital. Distribuição que eu digo não era concentrada somente em uma pessoa, o grande capitalista. Eram várias pessoas que tinham ações, mas que também trabalhavam para a companhia. Então essa não-concentração nas mãos de um solo poder como um todo, eu acho que foi um grande sucesso da Marcopolo. Então, quando eu entrei em 1984, a Marcopolo ainda realizava uma Assembléia aos sábados de manhã e fazia um churrasco,...., era num Centro de Tradições Gaúchas, um local bem amplo, e participavam às vezes 1000, 1500 pessoas da assembléia e depois tinha um churrasco. Era comum as pessoas darem como legado ações da Marcopolo para os filhos. Então às vezes a família tinha 4, 5 filhos, e cada um era acionista da Marcopolo porque o pai dava não sei quantas ações para ti, então era comum nessa época o capital da comunidade fazer parte, integrar a Marcopolo. Nós tivemos que parar antes dos anos 90 porque foi ficando tão grande isso que não tinha mais lugar pra fazer essa Assembléia com esse almoço junto. Hoje nós fazemos a Assembléia, então só participam acionistas, mas a comunidade vinha toda anualmente aqui na Assembléia, porque também tinha o almoço. Era uma motivação para ganhar o almoço de graça” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) 137 Consta na sua história que ao longo na década de 1970, a empresa também contou com o apoio governamental. Em 1971, com o apoio financeiro do BRDE a firma realizou diversos investimentos dentro de seu plano de expansão. Também no início da década de 1970, a empresa trocou de nome e passou a se chamar Marcopolo. Esta nova marca passa a ser amplamente divulgada para os diversos públicos ligados ao setor. Para o mercado de capitais, a empresa montou um road show, que são apresentações para analistas, acionistas e investidores em potencial. O road show foi realizado tanto no nível nacional quanto internacional. Em 1978, a empresa passou a negociar suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo. Em suma, as respostas da Marcopolo se mantiveram satisfatórias para o serviço de engenhosidade em levantar recursos financeiros. C) Versatilidade Talvez os dois principais acontecimentos que ocorreram no início dessa segunda fase, tenham sido o lançamento do ônibus Marcopolo e mais tarde a alteração da denominação social da empresa. O lançamento do novo ônibus foi um marco na história da empresa dado seu grau de inovação para a época. Já a troca do nome para Marcopolo fez com que a empresa, além de ganhar notoriedade no cenário internacional, conseguisse desassociar o nome da empresa de seus ex-sócios, os irmãos Nicola que se haviam desligado da firma anos antes (versatilidade gerencial). 138 Para chegar a desenvolver esse ônibus que se tornou um produto revolucionário na indústria brasileira, a empresa promoveu, no início de 1968, uma viagem de estudos aos mercados da Europa, Estados Unidos e América Central (versatilidade técnica). Foram enviados os Srs. José A. F. Martins e o então Diretor Técnico, Fiorindo J. Sartori, para analisarem o conceito de ônibus presente em tais mercados. A partir desse projeto secretamente planejado, o novo produto foi desenvolvido. Tal produto apresentou características totalmente novas, que combinavam as tendências dos ônibus presentes na Europa, Estados Unidos e América Latina com as necessidades do mercado nacional (versatilidade empreendedora). Para lançar este produto, a empresa também foi bastante inovadora. O lançamento ocorreu ainda no ano de 1968, no VI Salão do Automóvel, repleto de destaque para atrair a atenção de todo o setor de transporte. De forma inusitada, a empresa adotou uma estratégia que envolveu muito suspense (versatilidade empreendedora). Três peças promocionais foram enviadas pelo correio, cada uma com um intervalo de vinte dias em relação a outra, para todas as instituições brasileiras, públicas ou privadas, com as quais a empresa tivesse algum tipo de negociação – transportadoras de passageiros, bancos, montadoras, fornecedoras, prestadoras de serviço, órgãos governamentais (secretarias de transporte, de turismo, de indústria e comércio), entidades representativas dos setores ligados ao transporte (federações, associações), etc. As mensagens que as peças traziam eram as seguintes: 139 1. “Marcopolo já está com viagem marcada”; 2. “Você que é empresário, vai vibrar com as novidades que a Marcopolo trará!”; 3. “No Salão do Automóvel você tem encontro marcado com a Marcopolo”. A nova marca lançada naquele salão de automóvel recebeu muita dedicação por parte da empresa. O nome escolhido, fruto de indicações internas, foi Marcopolo, uma adaptação do nome do notável navegador Marco Polo em apenas uma palavra. O nome foi fortemente identificado com o produto ônibus, pois fazia alusão a qualidades atribuídas ao navegador, como viagem, ousadia, audácia e versatilidade, e que deveriam caracterizar o ônibus lançado (versatilidade empreendedora). Por outro lado, para o mercado internacional o ônibus Marcopolo se tratava de um produto de origem italiana, em virtude da associação com o veneziano Marco Polo e da popularidade dos carrozzieri, mestres no design de veículos. Para desfazer o mal entendido, o slogan “O Ônibus Brasileiro” foi adotado nas apresentações gráficas, contendo uma faixa nas cores verde e amarela. Para consolidar a marca em todos os mercados, esse slogan também foi traduzido para o espanhol, inglês e francês. 140 Inserida em uma indústria, onde cada vez mais se exigia produtos com qualidade e inovadores, a Marcopolo foi criando as bases que lhe permitiram um avanço na tecnologia empregada. Ao decidir expandir seu parque fabril, um minucioso projeto foi elaborado para que as novas instalações tivessem os melhores sistemas de produção, capazes de tornar a fábrica altamente racionalizada e produtiva, qualidades imprescindíveis para um alto grau de customização (versatilidade gerencial). Sempre disposta a mudar, desenvolver-se e encontrar soluções, muitas vezes pouco usuais, a Marcopolo seguia desenvolvendo a habilidade de ser versátil. Outros três episódios, não necessariamente em ordem cronológica, ilustram bem tal habilidade. O primeiro foi o lançamento da Geração IV, no ano de 1983, no auge da crise pela qual a empresa passou. Mais uma vez, contando com eficientes campanhas de marketing, a empresa conseguiu ter êxito no lançamento desse ônibus, que contou com uma série de novidades. Segundo documentos da época, o material publicitário da nova linha de produtos ressaltava a evolução tecnológica perseguida e conquistada pela empresa e a função sócio-econômica desse avanço (versatilidade técnica). O segundo acontecimento envolve o desenvolvimento da tecnologia CKD, que permitiu realizar exportações de veículos completamente desmontados (versatilidade técnica). O primeiro contrato foi firmado com uma empresa venezuelana no em 1971, e nos anos subseqüentes, a empresa foi cada vez mais 141 desenvolvendo e dominando tal tecnologia, a qual lhe permitiu exportar para diversos países no mundo (versatilidade empreendedora). O terceiro episódio está presente no início da década de 1980, quando a empresa atravessou sua pior crise. Como as encomendas de ônibus atingiram um volume baixo, grande parte da mão-de-obra da Marcopolo encontrou-se ociosa. As demissões foram inevitáveis. No entanto, para suavizar os efeitos da crise, a empresa passou a utilizar alguns setores de que dispunha para realizar serviços para terceiros (versatilidade empreendedora). Segundo a entrevista com o Sr. João Carlos, naquela ocasião o setor de pintura prestou serviços para empresas como a Madecenter, companhia sediada em Bento Gonçalves que fabricava cadeiras, e Móveis Florence. Ao analisar o conjunto de evidências que exploram as versatilidades técnicas, gerencias e empreendedoras, todas relacionadas a habilidade da empresa em perceber oportunidades produtivas, pode-se dizer que a Marcopolo apresentou respostas satisfatórias para o serviço da versatilidade. D) Julgamento O período entre os anos 1968 e 1986, apresenta tanto evidências que sugerem uma boa capacidade de julgamento da Marcopolo, como também 142 decisões que, por sua vez, não impediram que a firma vivesse sua pior crise no início da década de 1980. Os principais fatos que sugerem uma boa capacidade julgamento da empresa nessa fase são: o lançamento do novo produto em 1968, a mudança de nome para Marcopolo três anos mais tarde, o investimento no mercado externo e em tecnologias novas como o CKD, e a aquisição das concorrentes Eliziário (1970) e Nimbus (1977), que permitiram grande crescimento da produção da empresa ao longo da década de 1970. Vale destacar que até a aquisição da Eliziário, a Marcopolo era uma encarroçadora que atuava basicamente no segmento de rodoviários. Com a aquisição da Eliziário, a empresa passou a dedicar a fábrica de Porto Alegre para a produção de urbanos como lembra o Sr. Valter Gomes Pinto: “O nosso DNA, vamos dizer assim, o sangue nosso, começou com o rodoviário. E depois nós tivemos que fazer opções. E isso começou quando começamos a adquirir outras fábricas. Primeiro foi a Eliziário de Porto Alegre. A Eliziário era uma fábrica que fazia, praticamente, rodoviários. Eles faziam o Bi-Campeão (referência ao bicampeonato de futebol no Chile em 1962) e nós fazíamos o Veneza naquela época. Aí, certa ocasião, nós tomamos certa decisão: fazer os urbanos em Porto Alegre e os rodoviários aqui, em Caxias.” (Entrevista Sr. Valter Gomes Pinto) Outra importante decisão, ainda dentro dessa segunda fase, foi a constituição da MVC Componentes Plásticos, cujo objetivo, inicialmente, era produzir peças de plástico para a indústria automobilística, uma necessidade que estava para aumentar cada vez mais, conforme foi explicado na entrevista com o Sr.Carlos Zignani: 143 “O que nós percebemos é o seguinte... O ônibus, cada vez mais, substitutos vão sair pelo plástico. Até o aço...isso é uma questão de tempo. A estrutura de aço, futuramente, deve ser com compostos de kevlar, não sei o que... São compostos de plásticos que vão substituir, e nós verificamos que internamente hoje, cada vez mais o plástico está sendo utilizado...a traseira já é plástico, o teto já é de plástico.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) No entanto, este período também foi marcado por decisões não tão bem sucedidas. Em 1972, a empresa deu início a um projeto visando produzir não só carrocerias, como chassis. Foi estabelecida uma joint venture com a Cummins Nordeste S. A. lndustial (unidade brasileira da Cummins Engineering Company, dos Estados Unidos) e a Van Hool lntemational S. A., da Bélgica. Um chassi do tipo tubular com suspensão a ar e direção hidráulica foi lançado, no entanto sucessivas mudanças na política governamental brasileira prejudicaram as importações da Cummins, o que resultou no fim do projeto. Na década de 1970, com a crise do petróleo, o governo federal deu maior destaque aos meios de transporte coletivos. Por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado em 1974, a economia brasileira criava condições para o crescimento da indústria nacional e a realização de investimentos por parte das encarroçadoras. Levada por esse bom momento, no final da década de 1970, o então Ministro da Fazenda, o Sr. Delfim Neto, resolveu incentivar as exportações brasileiras criando o Befiex, no qual o Bndes repassaria as linhas de financiamento às empresas exportadoras. Dentro desse contexto, a Marcopolo decidiu realizar novos investimentos, com a abertura de duas novas fábricas. 144 A primeira fábrica foi construída em Caxias do Sul (Ana Rech) e a segunda em Betim, Minas Gerais. Segundo entrevista realizada com o Sr. Carlos Zignani foi implantada uma fábrica em Betim porque a Fiat havia se instalado nessa cidade. A Fiat apesar de iniciante no mercado brasileiro, era vista como uma empresa muito promissora. No entanto, com a crise financeira que atingiu o início da década de 1980, a Marcopolo Minas não conseguiu atingir os resultados esperados e suas atividades foram encerradas em 1984. A fábrica de Ana Rech, outra grande aposta da Marcopolo, também foi inaugurada em meio à crise que a economia vivia. Dotada de processos e tecnologias modernas, esta fábrica foi outra que não atingiu, nos primeiros anos, os resultados esperados, e para piorar a situação da Marcopolo, havia diversos empréstimos serem pagos. Dessa forma, ao analisar como um todo as evidências que tratam o serviço do julgamento, sugere-se que houve um predomínio de respostas insatisfatórias nessa fase. E) Sumário das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase II) Em suma, no que diz respeito ao desafio do empreendedorismo, a Marcopolo, com exceção do serviço do julgamento, cujas evidências apontam que a empresa avaliou o ambiente ao longo da segunda fase de maneira bem otimista 145 e consequentemente insatisfatória, seguiu desenvolvendo capacitações que lhe permitiram responder positivamente a este desafio, conforme apresenta a Tabela 4.13. Tabela 4.13 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase II) 4.2.2. Desafios da Navegação no Ambiente O ambiente inóspito vivido em parte da primeira fase da empresa, no qual a mão-de-obra qualificada era algo escasso e o processo de produção do ônibus era basicamente artesanal, com pouquíssima tecnologia atuante, foi cedendo lugar a ambiente mais desafiador para toda a indústria automobilística, inclusive para as encarroçadoras de ônibus. 146 No cenário econômico nacional, o período que compreende os anos de 1968 a 1986, foi marcado por momentos de extraordinário crescimento da economia brasileira, como no período entre os anos de 1969 e 1973, conhecido por “Milagre Brasileiro”. No entanto, também foi durante essa segunda fase, que o parque industrial brasileiro viveu sua pior crise, um período de estagnação econômica que compreendeu quase toda a década de 1980, apelidada de década perdida, fazendo com que diversas empresas brasileiras fechassem as portas. A Marcopolo, apesar de todos os desafios e dificuldades enfrentados chegou à segunda metade da década de 1980 avariada, porém pronta para realizar uma das principais transformações de sua história. A seguir serão apresentados os principais fatos que fizeram parte da história na Marcopolo nesse período, e que indicam em que medida a empresa desenvolveu capacitações para navegar no ambiente que ela estava inserida, possibilitando-a criar e capturar valor e assegurar a legitimidade organizacional. A) Captura de Valor O início dessa fase é marcado pelo lançamento do ônibus Marcopolo, fruto de um amplo projeto de pesquisa, que incluiu viagens de estudo aos principais mercados estrangeiros e levantamento de informações com os principais clientes da empresa do mercado interno (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Tal sucesso fez com que a empresa trocasse sua razão social de Nicola para 147 Marcopolo, aproveitando a popularidade e a reputação que o produto havia criado e dessa forma também desassociando o nome da empresa dos irmãos Nicola, que se haviam desligado da empresa anos antes (estratégia de evitar; tática de ocultar). O novo produto trouxe diversas novidades, principalmente quanto ao design. Uma delas, marcante na época foi a modificação do local destinado à exposição do itinerário, que passou a ser exibido internamente. Segundo depoimentos da época, o lançamento do Marcopolo revolucionou o conceito brasileiro de ônibus, tanto que mais tarde diversas das novidades apresentadas por esse modelo passaram a ser incorporadas, também, pelos seus concorrentes (estratégia de desafiar; tática de desafiar). No início da década de 1970, na medida em que a empresa também ficava conhecida internacionalmente por Marcopolo, foram realizados os primeiros contratos de exportação através de uma nova tecnologia. Por meio da tecnologia CKD, as carrocerias eram enviadas em peças (ou kits) e posteriormente eram montadas no local de destino. Ao realizar um contrato com uma empresa da Venezuela, a Marcopolo tornou-se a primeira empresa da indústria automobilística brasileira a vender tecnologia (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Devido a este contrato a empresa conseguiu criar e capturar valor, vender produtos e tecnologia, seja através de CKD ou MKD, a diversos clientes nos mais variados países (Gana, Equador, Chile, etc) nos anos seguintes. 148 Ao longo da década de 1970, a economia mundial foi assolada pela crise do petróleo. A economia brasileira também foi afetada, principalmente no setor de transportes. Assim, em 1974, o governo federal lançou o II Plano Nacional de Desenvolvimento, cuja ênfase principal se concentrou nos meios de transporte coletivos. Não há evidências de que tenha havido pressão por parte das empresas ou as entidades ligadas para o lançamento de tal plano desenvolvimentista. No entanto, esse plano gerou entusiasmo por parte dos sócios da Marcopolo em continuar investindo no crescimento da empresa (estratégia de consentir; tática de aderir), pois se vislumbrava que somente através da implantação de sistemas de transporte de massa, o governo atingiria os índices de economia de combustível desejados. Nessa década, a Marcopolo fez bom proveito das diversas oportunidades geradas, principalmente trazidas pelas novas linhas para o transporte coletivo, pela renovação e ampliação das frotas, como também pelo crescimento das exportações (estratégia de negociar; tática de equilibrar). Em depoimento no livro comemorativo da empresa o Sr. José Martins destaca alguns fatos que mostram a forma como a Marcopolo foi navegando no ambiente e capturando valor nos primeiros anos da década de 1970. “Nos primeiros anos da década de 70, houve a primeira crise do petróleo e, por isso, o governo fez um apelo muito forte à população para que usasse veículos de transporte coletivo. O ano de 1970 foi, então, o momento de grandes lançamentos: surgiu o Marcopolo II, com motor dianteiro, com modificações em alguns componentes, nas janelas e em alguns detalhes na frente do ônibus. Concomitantemente, foi lançado o Veneza, urbano, 149 com teto reto, que também era uma mudança significativa, pois até então o comum eram os ônibus de teto redondo. Não fomos os pioneiros no lançamento do teto reto, mas, como achamos bonito, pensamos que valia a pena investir. Deu excelentes resultados. Em 1972, lançamos o microônibus Marcopolo Júnior, com o qual a empresa ganhou o Prêmio Distinção Indústria; pelo design e funcionalidade do produto. O Marcopolo III, lançado no ano de 1974, era montado exclusivamente sobre chassis com motor traseiro, além de ter seu design modificado, de forma a introduzir o teto reto na linha de ônibus rodoviários. A linha de urbanos, no mesmo ano, foi inovada com o Veneza Expresso.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 41) Ocorre também no início da década de 1970, uma primeira tentativa da empresa em produzir, também, chassis para ônibus. Tal projeto foi desenvolvido, em 1972, através de uma joint venture com uma empresa americana (Cummins) e uma belga (Van Hool). Apesar de chegarem a lançar um chassi do tipo tubular, as sucessivas alterações na política governamental do Brasil, no que se refere às importações, acabaram por prejudicar o projeto e então foi decidido descontinuá-lo (estratégia de evitar; tática de proteger). Ainda que o contexto político brasileiro dos primeiros anos da década de 1970 fosse incerto e agitado, a Marcopolo lançou uma série de ônibus rodoviários (Marcopolo II, Marcopolo III e Marcopolo SE), urbanos (Veneza, Veneza Expresso, Sanremo e Sanremo ST) e o microônibus Marcopolo Júnior, com o objetivo de conquistar clientes e aumentar sua participação de mercado (estratégia de desafiar; tática de desafiar). No ano de 1975 a empresa quase dobrou seu faturamento em relação ao anterior (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 42). 150 Em 1975, a Marcopolo atuava no mercado brasileiro com outras nove encarroçadoras de ônibus. Nesse momento, a empresa já era capaz de fabricar em departamentos próprios, uma série de componentes que antes eram terceirizados como poltronas, janelas, sanitários, cinzeiros, sistemas de bar e geladeiras (estratégia de desafiar; tática de fugir). Segundo entrevistas realizadas com os diretores da empresa, alguns dispositivos produzidos pela Marcopolo, como a porta e o ar-acondicionado do ônibus, requerem grande investimento tecnológico e conhecimento, em virtude da complexidade e importância que eles representam para a qualidade do produto final. Em 1977, a Marcopolo, em virtude de sua reputação e capacidade técnica, liderou um consórcio (estratégia de manipular; tática de cooptar) que envolveu diversas empresas para o lançamento de uma linha de trolebus, um veículo de tração elétrica sobre pneus, que no início da década de 1980 ganhou fôlego no Brasil, através de um programa criado pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) em parceria com o Ministério dos Transportes e o BNDES. No entanto, nos anos seguintes, tais veículos foram gradativamente sendo deixados de lado e desativados no Brasil, dada à falta de interesse dos empresários de ônibus nacionais, o que fez com que sua produção fosse abandonada (estratégia de consentir; tática de aderir). Ainda em 1977, surgem os ônibus articulados como uma outra opção de transporte tanto para as cidades como para o transporte intermunicipal. A Marcopolo foi a primeira empresa a produzir esse tipo de ônibus no Brasil 151 (estratégia de desafiar), o que demonstra sua posição de vanguarda e constante desafio no cenário nacional. Nesse final de década, para enfrentar a concorrência internacional a Marcopolo foi aprimorando seus níveis de produtividade e assim ganhou competitividade (estratégia de desafiar). Como resultado a empresa foi, ano a ano, aumentando suas exportações, alcançando níveis expressivos para o setor na época. No início da década de 1980, atingiu o valor de 20 milhões de dólares em exportações. Também deslumbrada pelo bom momento da economia nacional ao longo da década de 1970, a Marcopolo decidiu construiu duas fábricas, em 1977, uma em Caxias do Sul (Ana Rech) e outra localizada em Betim, Minas Gerais (Marcopolo Minas). No entanto, as previsões de bons ventos para a década seguinte não se confirmaram, e a economia brasileira entrou em crise justamente no momento em que as novas fábricas foram inauguradas. Dessa forma em 1984, a empresa decidiu interromper as atividades na fábrica de Minas Gerais, a qual nunca mais voltou a operar (estratégia de consentir; tática de aderir). O ônibus Paradiso foi um lançamento da Marcopolo, no ano de 1983, inspirado nas tendências dos mercados internacionais, principalmente o europeu. Este ônibus foi determinante para a retomada dos bons resultados da empresa. Integrante da Geração IV, o Paradiso foi o primeiro ônibus high deck do Brasil, consistindo em um ônibus com um design diferenciado e mais alto. Este conceito de ônibus lançado pela Marcopolo revolucionou o mercado brasileiro, a ponto de 152 diversas rodoviárias brasileiras precisarem ser adaptadas para comportar esse tipo de ônibus (estratégia de moldar; tática de influenciar). A título de ilustração, a seguir segue a Tabela 4.14 contendo uma lista não exaustiva de evidências de criação e captura de valor, proporcionadas pela Marcopolo, entre os anos de 1968 e 1986, para alguns stakeholders. Tabela 4.14 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1968 e 1986 Stakeholder Governo Comunidade (Caxias do Sul) Clientes (Empresas de Ônibus) Acionistas Criação de Valor Captura de Valor - Investimentos alinhados com II Plano Nacional de Desenvolvimento, focado nos meios de transporte coletivos. - Contribuição na implementação de novas linhas para o transporte coletivo, ajudando na renovação e ampliação das frotas - Geração de Emprego, Renda e atração de novos investimentos para a cidade de Caxias do Sul. - Primeiro ônibus brasileiro exportado para a Europa (1973) - Primeira empresa a produzir ônibus articulados no Brasil - Consolidação da Tecnologia CKD - Mudança de nome da empresa e rompimento do vínculo com os irmãos Nicola. - Constituição da MVC Componentes Plásticos em São José dos Pinhais, no Paraná. - Venda de novos produtos e serviços - Legitimidade perante a comunidade mesmo nos momentos de maior dificuldade - Reconhecimento de seus produtos (como o ônibus Marcopolo) por clientes e por feiras internacionais - Venda de ônibus por meio da nova tecnologia - Solidificação da marca Marcopolo no Brasil e no mercado externo - Crescimento das exportações - Crescimento e integração da fábrica de componentes plásticos na operação 153 B) Legitimidade Organizacional A estreita relação da empresa com a cidade de Caxias do Sul, seguiu sendo um traço presente na análise da segunda fase da trajetória da Marcopolo. A comunidade caxiense sempre depositou seu capital na empresa. Como prova disso, as assembléias gerais realizadas anualmente pela empresa eram sucessos de público. Anos mais tardes tal assembléia, nos moldes em que funcionava, deixou de existir e passou a ser dirigida somente aos acionistas da Marcopolo. Antes a Marcopolo promovia um grande churrasco que levava toda a comunidade para dentro da empresa (estratégia de manipular; tática de cooptar) como lembra o Sr. Carlos Zignani. Ao longo das décadas de 1970, os colaboradores da empresa e a comunidade caxiense seguiam participando das diversas iniciativas promovidas pela Marcopolo. O Grêmio Atlético Nicola passou a ser Grêmio Atlético Marcopolo (GAM) e seguiu investindo nas equipes que participavam das diversas competições municipais e estaduais e divulgavam o nome da empresa (estratégia de manipular; tática de cooptar). Em 1982, foi fundada a Associação dos Funcionários Marcopolo (AFM), que passou a englobar as atividades esportivas e sociais, desenvolvidas respectivamente pelo GAM e pela FAN (Fundação Assistencial Nicola). 154 No ano de 1986, atendendo aos pedidos que surgiram em uma das reuniões da AFM, foi criado o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) batizado de Marco da Tradição. Tal instituição funcionou como um lugar onde os funcionários da Marcopolo podiam se reunir, tomar chimarrão, dançar, cantar, promover festas e principalmente, cultivar as tradições do estado do Rio Grande do Sul. A Rústica Marcopolo foi uma atividade criada pela AFM, que era não restrita apenas aos funcionários da empresa e se tornou um grande evento na cidade de Caxias do Sul. A divulgação, que começou em 1986, virou tradição no meio esportivo e passou a reunir significativo número de famosos atletas nacionais e internacionais (estratégia de manipular; tática de cooptar). Junto com as práticas esportivas desenvolvidas periodicamente pela Marcopolo, quase que desde a sua fundação, a empresa criou, na década de 1980, um programa de apoio e patrocínio a atletas das mais diversas modalidades esportivas, e mais uma vez estendeu tal programa à comunidade caxiense. A título de curiosidade, segundo entrevistas realizadas com funcionários da empresa, os corredores ou velocistas eram os principais beneficiados com estes patrocínios, pois segundo os dirigentes da empresa, como os produtos da empresa (os ônibus) “corriam”, os atletas patrocinados deveriam ser identificados com o exercício da corrida. A alteração, em 1971, de seu nome de Nicola para Marcopolo, além de agregar ao nome da empresa toda a popularidade que os ônibus Marcopolo estavam conquistando, fez com que a empresa, enfim, conseguisse desassociar 155 seu nome dos irmãos Nicola que, em 1967, haviam se desligado da empresa (estratégia de evitar; tática de ocultar). A marca, e consequentemente o nome Marcopolo foi muito bem recebido pelas diversas empresas e entidades que formavam o setor, e a marca Marcopolo foi se tornando mundialmente conhecida. As estratégias de marketing foram determinantes na conquista de novos mercados, sejam nacionais ou internacionais. Em 1974, devido ao empenho e bons resultados da empresa no mercado externo, a ela foi entregue o Prêmio Exportação da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil), do Rio Grande do Sul. Ao longo dessa segunda fase, diversos foram os certificados, prêmios e diplomas que a empresa recebeu dos mais diversos órgãos, como pode ser observado pela Tabela 4.15. Tabela 4.15 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1967 e 1986 ANO DESCRIÇÃO 1967 Certificado de Empresa de Capital Aberto, conforme processo nº GEMEC – R- 67/2189 Diploma de participação no VI Salão do Automóvel Honra ao Mérito “Quem é Quem na Economia Brasileira” “Gran Prêmio” na classe veículos motorizados 1968 1968 1969 1970 1970 1972 1972 1973 1974 1974 Sr. Paulo Bellini recebe o título de Industrial do Ano Diploma Participação VII Salão do Automóvel Honra ao Mérito “Quem é Quem na Economia Brasileira” Prêmio ao Sucesso em Marketing Prêmio Distinção Indústria com o microônibus Marcopolo Jr. Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Prêmio Exportação ÓRGÃO EXPEDIDOR Banco Central do Brasil Salão do Automóvel Revista Exame – SP Feira Internacional de Santiago – Chile Salão do Automóvel Revista Exame – SP Souza Cruz FIERGS – Federação das Indústrias do Estado do R.G.S. Revista Visão Revista Visão ADVB/RS – Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil 156 1974 1975 1976 1977 1978 1981 1982 1983 1983 1985 1986 1986 Prêmio Jornal Externo Prêmio Mérito Industrial, concedido ao Sr. Paulo Bellini Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Troféu Homem de Aço, conferido ao Sr. Paulo Bellini Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Prêmio “Os Bem Sucedidos” Categoria Material de Transporte Certificado “As Maiores do Transporte” Certificado “As Maiores do Transporte” Prêmio Distinção Indústria com o ônibus rodoviário Paradiso ABERJE – São Paulo FIERGS Revista Visão Revista Visão Revista Visão Revista Visão Revista Visão AARS Revista Visão Revista Bolsa – RJ Editora TM Ltda – SP Editora TM Ltda – SP FIERGS Fonte: Memorial Marcopolo Através das atividades publicitárias, a Marcopolo não só divulgava a imagem de seus produtos, como também proporcionava campanhas para estimular a conscientização coletiva, cujo principal objetivo era integrar a empresa à sociedade. A primeira dessas campanhas foi intitulada “Não Seja um Perigo na Estrada” e visava à redução da violência no trânsito rodoviário (estratégia de manipular; tática de cooptar). No auge da crise mundial do petróleo, mais precisamente em 1974, a empresa lançou outra campanha com o objetivo de enfatizar seu produto, principalmente em virtude do contexto econômico da época: “O mundo está aprendendo a andar de ônibus novamente. Marcopolo está ensinando” (estratégia de manipular; tática de cooptar). Já a Receita Marcopolo foi uma campanha de lançamento de novos produtos – urbanos e rodoviários – que ofereciam maior conforto. A finalidade era a mesma, e através dela a empresa conseguiu estimular 157 que os proprietários deixassem seus automóveis em casa e passassem a usufruir dos serviços dos ônibus (estratégia de manipular; tática de influenciar). Os representantes da Marcopolo formaram um importante canal de atendimento que permitiu que a empresa gerasse confiança nos mercados internacionais (estratégia de manipular; tática de cooptar). Além disso, graças à reputação da Marcopolo, que estava cada vez mais respeitada e sólida no cenário internacional, a empresa foi capaz de desenvolver diversas parcerias com os principais fabricantes de chassis de ônibus, como Mercedes-Benz, Scania e Volvo. Tais parcerias foram fundamentais para o cumprimento de diversos pedidos e em muito contribuiu para promoção e bons resultados de ambas integrantes da cadeia, a fabricante do chassi e a encarroçadora (estratégia de manipular; tática de cooptar). Por outro lado, a crise pela qual a empresa passou no início da década de 1980 foi marcante em sua trajetória. No entanto, a mesma soube contornar a situação com lançamentos de produtos bem sucedidos, como a Geração IV em 1984, e, principalmente com a introdução de técnicas de produção japonesas, cujos primeiros estudos ocorreram entre 1985 e 1986. C) Sumário das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase II) 158 Esse conjunto de evidências presentes em sua história, entre o período de 1968 e 1986, indica que a Marcopolo possui elementos que lhe permitiram ser bem sucedida ao navegar no ambiente no qual esteve inserida, principalmente pelo uso de estratégias ativas (desafiar, manipular) em diversos momentos. Dessa forma, a Marcopolo tem se mostrado capaz de responder o desafio da navegação no ambiente de forma satisfatória, conforme indica a Tabela 4.16. Tabela 4.16 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase II) 4.2.3. Desafios da Gestão da Diversidade Ao longo da segunda fase, a Marcopolo realizou diversos movimentos de expansão, seja através das aquisições realizadas, Eliziário e Nimbus, seja através da implantação de novas fábricas, como foi o caso da unidade de Ana Rech e a Marcopolo Minas. Ao experimentar essa mudança de tamanho, a firma, em teoria 159 passou a estar mais exposta aos desafios da diversidade, cujas conseqüências podem ser a fragmentação ou a integração. Da mesma forma como observado na primeira fase de sua história, nesta segunda fase, a Marcopolo buscou a criação e desenvolvimento de mecanismos que estimulassem a integração organizacional. Já na escolha do nome do produto que foi lançado em 1968, a empresa envolveu todos os funcionários da empresa, inclusive os que trabalhavam nas fábricas. O nome do novo produto, resultado de um trabalho coletivo da empresa, mostrou-se bem sucedido nos anos seguintes. Tal aproximação entre diretoria e funcionários servia, também, como elemento de motivação adicional, como lembrou um ex-funcionário em entrevista realizada. Outro importante veículo de integração da empresa eram os boletins informativos, já lançados na década de 1960. Com a mudança do nome da empresa, o periódico passou a se chamar O Veneziano, outra referência ao navegador Marco Polo. Em 1974, a empresa foi premiada pela ABERJE (Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresas) no III concurso nacional de revistas e jornais de empresas. A partir de 1984, apesar de trazer outro novo nome, Polo Informativo, o informativo interno seguia cumprindo o objetivo de manter o funcionário da empresa atualizado sobre os assuntos que envolviam a Marcopolo, abordando questões de segurança, saúde, esportes, economia e cultura. Em 1984, foi criada uma publicação bilíngüe denominada Rota das Notícias, que passou a levar as notícias da empresa aos clientes, fornecedores, acionistas, autoridades, 160 organizações e instituições brasileiras ou estrangeiras, que mantinham alguma relação com a Marcopolo. Os esportes e diversas outras atividades sociais, que passaram a ser coordenadas pela AFM (Associação dos Funcionários Marcopolo), seguiam formando importante elemento de integração da Marcopolo. A AFM difundia a prática e o desenvolvimento do esporte amador, organizava e patrocinava reuniões e atividades artísticas, sociais e cívicas. Em conjunto com a Marcopolo, a AFM realizava diversas iniciativas com o intuito de treinar e desenvolver os recursos humanos da empresa, adequando-os dentro de uma mesma cultura. Através da AFM também se prestava uma série de serviços assistenciais como: assistência financeira, médico-farmacêutico- hospitalar, educacional, cultural, recreativa e esportiva, e alimentar aos associados e seus dependentes. Os funcionários da empresa contavam com uma sede campestre, com 180.000 m2, que possuía quadras poliesportivas, uma cancha de bochas, um galpão crioulo utilizado pelo Centro de Tradições Gaúchas, churrasqueiras, restaurantes, parque de diversões, área de lazer, além do estádio Estádio Ody Brito. Segundo as entrevistas realizadas, a maioria dos funcionários utiliza essa estrutura de lazer oferecida pela empresa, levando com eles seus familiares, o que contribuiu para um aumento da integração organizacional da empresa. Também segundo depoimentos, vale ressaltar que grande parte dessas 161 benfeitorias foi construída pelos próprios funcionários da empresa, nos fins de semana, na forma de mutirão. Quando se aborda a questão da integração organizacional no período que compreende 1968 e1986, é necessário salientar os impactos que a crise vivida, no início da década de 1980, tiveram sobre a empresa. Segundo depoimentos, foi um período marcado por inúmeras demissões de funcionários. Dados internos da empresa indicam que a Marcopolo contava com 3500 funcionários em 1978, porém chegou ao ano de 1984 com 2330 funcionários, uma redução maior que 30% de seu quadro de pessoal. Segundo entrevistas realizadas, nesse momento a diretoria da empresa se reuniu e promoveu encontros com os funcionários, para explicar a difícil situação pela qual a empresa atravessava, e discutir e criar mecanismos que ajudassem a Marcopolo sair dessa crise, conforme lembrou o funcionário Jaime Bertelli: “O lado negativo que eu vi dentro da Marcopolo foi lá, em 1981, 1983, quando a Marcopolo entrou numa profunda crise, não estou dizendo aqui que foi por causa da Marcopolo, administração, não. Você pode ver que tem até outras empresas em Caxias grandes que tiveram o mesmo problema ou pior, não quero fazer nome... Então, aquilo, como ser humano, também não estou falando por mim, o que me marcou muito, foram os nossos diretores, o Paulo Bellini, o Valter, o Martins, na época... quando fizeram uma janta, aí no Rincão da Lealdade, eu vi os diretores se comovendo, pedindo ajuda pra todos, todo mundo unido, trabalhando, não medindo esforços, acreditando na Marcopolo, e doía quando chamavam o pessoal, botava no pátio e dizia: – Vocês passam tal dia para acertar as contas!” “Então, imagina o que aconteceu... Começou pelo seguinte, lá em 1983 ela tomou todas as forças e levantou vôo rapidamente, porque nós fomos muito felizes... vamos falar bem claramente, pelos nossos técnicos, pelo nosso poder de conhecer ônibus, que foi lançado um ônibus que aí... os nossos concorrentes sentiram. Então aí foi, lançou-se um produto...” (Entrevista Sr. Jaime Bertelli) 162 Em suma, nesta segunda fase a Marcopolo continuou criando laços entre os funcionários da empresa, que iam além de bens, instalações ou serviços. Ao entrar na empresa, como alguns entrevistados apontaram, os funcionários eram colocados diante de uma forte cultura e além de se adaptarem, passavam a gostar da forma como a empresa funcionava. Pode-se dizer também que devido à forma pela qual a empresa manteve sua reputação e integridade, apesar das diversas demissões que ocorreram no auge da crise do início da década de 1980, que a Marcopolo seguiu desenvolvendo capacidades para responder de modo construtivo ao desafio da diversidade, como indica a Tabela 4.17. Tabela 4.17 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase II) 163 4.2.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais Mantendo uma das principais características presentes na primeira fase da análise, a Marcopolo seguiu acreditando, ao longo da segunda fase, que a gestão de pessoal era uma questão chave para a empresa ser bem sucedida. Como já explicitado anteriormente, a indústria de carrocerias de ônibus, ao contrário de diversas indústrias mais automatizadas, requer muita mão-de-obra no processo de fabricação do produto final. Apesar dos avanços de ferramental e tecnologia em relação à fase anterior, os procedimentos utilizados no processo produtivo ainda eram substancialmente artesanais. Dessa forma, antecipar, formar, reter e renovar, não só no nível gerencial, como também no nível operacional, tornava-se uma questão vital para o funcionamento da empresa, e a seguir serão apresentadas evidências que descrevem de que forma a empresa respondeu ao desafio da formação de recursos qualificados. A) Antecipação Ao longo da segunda fase da empresa, não foi verificado, em documentos institucionais, a existência de práticas formalizadas ou deliberadas que visavam à antecipação na contratação e formação de recursos humanos para prováveis necessidades. 164 No entanto, por meio de entrevistas com funcionários e ex-funcionários da Marcopolo, foram identificadas diversas histórias de funcionários que se deslocaram entre as diversas áreas funcionais e unidades de negócio, e construíram carreiras bem sucedidas na empresa. Dentre alguns exemplos de funcionários que foram assumindo posições em novos negócios, pode-se citar o Sr. José Albino, funcionário que entrou na empresa em 1954. Durante o período que esteve na empresa, ele participou de projetos no Uruguai, Venezuela e diversos estados do Brasil, foi transferido para Porto Alegre, no momento da aquisição da encarroçadora Eliziário, onde permaneceu por alguns anos, como também participou de projetos em firmas terceirizadas da Marcopolo no final da década de 1980 e início da década de 1990. Caminho parecido percorreu outro entrevistado, o Sr. Jaime Bertelli, que entrou na empresa em 1971, com 21 anos, passou por algumas unidades da Marcopolo, assim como por diversas áreas funcionais como Informática, Engenharia, Logística, muitas delas estruturadas por ele mesmo. Em 1970, os Srs. José Martins e Valter Pinto foram eleitos diretores da empresa e em 1973, o Sr. Raul Tessari foi contratado pela Marcopolo para o setor administrativo-financeiro. Inicialmente, ele cuidou das áreas de recursos humanos, jurídico, e gestão das relações da empresa com o mercado de capitais. Segundo depoimentos coletados, o trabalho realizado pelo Sr. Tessari foi determinante para que a empresa se mantivesse à frente das transformações que ocorriam, desde 165 avanços de tecnologia a novas teorias de administração. Em 1977, o Sr. Raul Tessari também se tornou diretor da empresa. No período de 1964 a 1968, a Marcopolo, então Nicola, possuía a seguinte diretoria: Dorval Nicola (Diretor Gerente), Paulo Bellini (Diretor Gerente), Fiorindo Sartori (Diretor Técnico) e José Wilson T. Costa (Diretor Industrial). Mais tarde, com a integração de novos membros no corpo diretivo da empresa, a Marcopolo desfrutava da estrutura apresentada na Tabela 4.18, o que demonstra a importância que os Srs. José Martins, Valter Pinto e Raul Tessari foram ganhando dentro da empresa. Tabela 4.18 – Diretoria da Marcopolo entre 1969 e 1980 Cargo DiretorPresidente 1969 1970 - 1974 1975- 1976 1977 - 1980 Paulo Bellini Paulo Bellini Paulo Bellini Paulo Bellini Fiorindo Sartori Fiorindo Sartori José A. F. Martins José A. F. Martins José A. F. Martins Valter G. Pinto Valter G. Pinto Valter G. Pinto Raul Tessari Raul Tessari José Wilson T. Costa Diretores Fonte: Livro Comemorativo 50 Anos B) Formação A Marcopolo iniciou essa fase com os mesmos princípios que nortearam a fase anterior, ou seja, a empresa permanecia acreditando que seus funcionários 166 deveriam ser os melhores profissionais existentes no setor em que ela estava inserida. Para isso, a empresa continou com convênios com instituições de qualificação profissional do setor, como o SENAI. Juntamente com os aperfeiçoamentos nos procedimentos de produção e a racionalização de layout de fábricas, os constantes treinamentos especializados foram determinantes para os saltos de produtividade ao longo da década de 1970. Em 1977, a Marcopolo registrou um número de 1.036 funcionários beneficiados com treinamento, que iam desde a integração inicial e o TWI (Training Within lndustry) até os cursos dirigidos aos supervisores. A Associação dos Funcionários da Marcopolo (AFM) foi outro importante meio utilizado na promoção de treinamentos e no desenvolvimento de recursos humanos, através da divulgação e implantação de diversas atividades. Assim como na fase anterior, os periódicos internos foram, também, instrumentos que auxiliaram na formação e treinamento de pessoal. Tais boletins levavam informações aos funcionários e os mantinham atualizados quanto a novas técnicas ou procedimentos para manusear determinadas ferramentas ou matérias-primas. C) Renovação Embora não exista uma série histórica confiável sobre a evolução do número de funcionários da empresa ao longo da década de 1970, alguns registros 167 isolados apontam que em virtude do expressivo crescimento ao longo dessa década, o ritmo na contratação de novos funcionários para seu quadro de pessoal foi acelerado. Ao incorporar concorrentes como a Eliziário, de Porto Alegre, e a Nimbus, de Caxias do Sul, a Marcopolo além de absorver novas técnicas que às vezes não dominava absorvia, também, novos funcionários. Em termos de pessoal, uma importante contratação nesse período, como já mencionado, foi a do Sr. Raul Tessari. Desde o início, seu trabalho foi marcado pela atualização e a mudança de conceitos nos sistemas administrativos e financeiros da empresa. Como já mencionado também, sua atuação passou pelos campos jurídicos, financeiros e de administração de pessoal. Por outro lado, as boas contratações de pessoal ao longo da década de 1970, foram ofuscadas pela série de demissões que ocorreram com a crise dos primeiros anos da década de 1980, quando a empresa sofreu uma drástica redução de seus pedidos e teve que adequar sua estrutura de pessoal àquela realidade. Tal processo de demissão envolveu profissionais de todos os níveis hierárquicos. Ainda no que diz respeito à renovação, entre 1985 e 1986 teve início um dos movimentos mais marcantes na história da empresa, determinante para as transformações que ocorreram na fase seguinte. Nessa época foram realizados os primeiros estudos sobre as novas técnicas japonesas de produção. Foi, então, realizada uma viagem ao Japão pelo Presidente Paulo Bellini e pelo Diretor Industrial Cláudio Gomes, com o intuito de entender o sistema japonês com maior 168 detalhe. O material trazido foi cuidadosamente estudado pela diretoria da Marcopolo para que nos anos seguintes ocorresse uma grande transformação daentro da empresa. D) Retenção No que se refere à retenção de pessoal, a segunda fase foi o momento mais crítico de sua história. Tomando com base os 3500 funcionários que a Marcopolo registrava em seu quadro de pessoal em 1978, e comparando com os 2330 registrados em 1984, nota-se uma redução de 33,4% no número de funcionários. A crise vivida na década de 1980 teve impacto direto no quadro de pessoal. Segundo as entrevistas, tentou-se ao máximo segurar essas pessoas, porém mesmo buscando novas formas de trabalho para evitar a ociosidade de pessoal, não foi possível evitar inúmeras demissões. Nos primeiros anos dessa fase, a Marcopolo realizou algumas aquisições e novos funcionários foram incorporados a sua estrutura. A empresa cresceu em capacidade e em número de funcionários. No entanto, a crise revevertou essa trajetória e acarretou mudanças. No auge da crise, a fábrica da Eliziário que funcionava em Porto Alegre teve sua estrutura levada para Caxias do Sul. A unidade de Minas Gerais, com poucos anos de funcionamento, foi outra que 169 sofreu as conseqüências da crise que afetou a indústria automotiva e foi desativada, sem mesmo gerar lucros. Apesar desses episódios, segundo as entrevistas realizadas, a comunicação com os funcionários era franca por parte dos diretores e superiores e a sensibilidade dos funcionários pela crise por que a empresa passava era imensa. Os funcionários compreendiam o motivo das demissões, tanto que se procurava demitir pessoas mais jovens, solteiras e sem filhos no lugar de pessoas que já tinham família constituída. Após a crise, diversos funcionários demitidos foram recontratados. Ao longo da visita realizada na fábrica, e mais tarde comprovada pelos dados enviados pelo Marcopolo, percebe-se a existência de muitos funcionários que entraram na empresa ao longo dessa segunda fase (1968 – 1986) e que seguem na empresa até os dias atuais (2007), muitos dos quais sem nunca terem trabalhado em outra empresa. E) Sumários das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase II) Dessa forma, apesar de todos os obstáculos atravessados ao longo dessa fase, as evidências indicam que a Marcopolo prosseguiu desenvolvendo habilidades que lhe permitiram ser bem sucedida apenas na formação de recursos gerenciais. Por outro lado, mesmo ameaçada pela crise que marcou o início da 170 década de 1980, a empresa apresentou respostas consideradas insatisfatórias na Antecipação, Retenção e Renovação de recursos gerenciais. No entanto, como houve um esforço da empresa, reconhecido pelas entrevistas realizadas, também não é possível afirmar que as respostas da Marcopolo também foram completamente insatisfatórias. A Tabela 4.19 apresenta o resultado da resposta para tal desafio, mostrando que não há predominância de respostas satisfatórias ou insatisfatórias para antecipação, retenção e renovação. Tabela 4.19 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase II) 4.2.5. Desafios da Gestão da Complexidade Nesta segunda fase, a empresa passou a ter planos bem mais ambiciosos, adquirindo algumas concorrentes e realizando uma série de investimentos fora de 171 Caxias do Sul. Existem alguns episódios que podem ilustrar a forma como a empresa se portou perante questões complexas das mais diversas naturezas. Para superá-las, foram desenvolvidos procedimentos sistemáticos, com os quais a Marcopolo foi alimentando seu aprendizado e incorporando-os à empresa. Um bom exemplo foi a decisão da empresa em investir em contratos de tecnologia, principalmente nas tecnologias CKD e MKD. Ao formalizar um contrato de tecnologia, o diretor Raul Tessari afirmou: “No momento em que produzimos tecnologia para o exterior, essa tecnologia fica agregada ao nosso produto também no mercado nacional e isso justifica a posição de destaque que a Marcopolo ocupa em nosso mercado” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 46) De fato, ao investir na tecnologia CKD, e dominá-la, a Marcopolo começou a estabelecer contratos de exportação até então inimagináveis para a empresa e inéditos para a indústria brasileira. As exportações por meio desse módulo tornavam a empresa mais competitiva, afinal o frete era reduzido, e permitia que a empresa atingisse mercados, cujas barreiras alfandegárias eram, até o momento, impeditivas. Ao longo dessa fase, a empresa começou a desenvolver habilidades em adquirir empresas, como a Nimbus e a Eliziário, uma grande concorrente na ocasião, e a realizar investimentos robustos, como foi o caso da construção de duas novas fábricas, uma em Caxias do Sul (Ana Rech) e outra na cidade de Betim, em Minas Gerais (Marcopolo Minas). Nessas expansões a empresa 172 passou, também, a aumentar seu quadro de funcionários sabendo sustentar a integração da organização. Apesar do momento econômico no país não ser o mais adequado no momento de inauguração das fábricas, o fato de desenvolver tal habilidade foi importante para os planos de expansão que marcaram a fase seguinte. A crise econômica da década de 1980, sem dúvida, teve forte impacto no funcionamento da empresa. Por outro lado, ao contrário de muitas empresas que fecharam as portas ou decretaram concordata nesse momento, a Marcopolo manteve-se em funcionamento, porém com tamanho reduzido. A habilidade que a empresa desenvolveu em navegar no ambiente e manter sua integração, como já mencionado, foi determinante para a empresa recuperar-se. Ainda no aspecto da navegação do ambiente, a Marcopolo passou também a transitar de forma mais efetiva pelas esferas governamentais, deixando se ser somente influente na cidade de Caxias do Sul e no estado do Rio Grande do Sul. Passou, também, a participar ativamente de entidades do setor, como Fabus e Simefre. Seu estande no Salão do Automóvel, que ocorria em São Paulo, tornouse uma parada obrigatória de políticos, empresários e pessoas ligadas ao setor de transporte segundo relatos da época. O mesmo ocorreu, em 1986, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul. O estande que a empresa montou teve a visita do então presidente de república José Sarney. Outro evento que demonstra o destaque que a empresa vinha 173 ganhando nacionalmente foi a inauguração da unidade de Ana Rech que contou com a presença do presidente da república João Baptista de Figueiredo. Com a saída dos irmãos Nicola no fim da primeira fase, novos líderes tiveram que surgir dentro da empresa. Nesse momento que a empresa um corpo diretivo e projeta-se também no mercado de capitais brasileiro, promovendo o lançamento de ações da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo. Por fim, vale destacar a importância que a Associação dos Funcionários da Marcopolo (AFM), tinha perante os funcionários e a comunidade caxiense. Além dss diversas iniciativas sociais que objetivam o bem estar dos funcionários e seus dependentes, através das inúmeras modalidades e competições esportivas, o nome da Marcopolo era levado aos diversos cantos do país. Apesar de ser claros alguns mecanismos criados para resolver questões complexas, buscando a resolução de problemas de forma sistemática e fomento do aprendizado, a empresa correu certo risco em fechar as portas no início da década de 1980, que talvez pudesse ter sido evitado. Fábricas recém inauguradas se tornaram ociosas e a empresa chegou ao ponto de desativar a fábrica de Minas Gerais sem que a mesma chegasse a atingir lucro. Inúmeras demissões foram realizadas, o que impactou claramente as respostas ao desafio da formação de recursos gerenciais. Dessa forma, mesmo com diversas evidências de respostas construtivas para alguns desafios ao longo dessa fase, não há evidências suficientes que 174 garantam que as respostas da Marcopolo foram de fato satisfatórias para o desafio da complexidade. Em suma, para esta segunda fase marcada pela crise vivida pela empresa, houve um equilíbrio entre as respostas satisfatórias e insatisfatórias em relação aos desafios de crescimento, o que é expresso por um símbolo de neutralidade, como pode ser visto na Tabela 4.20. Tabela 4.20 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase II) 175 4.3. Fase 3 – As Técnicas Japonesas e a Internacionalização: 1987 a 2006 A terceira fase de análise da trajetória da Marcopolo teve início em 1987 e se estende até o ano de 2006. Ao longo desse período, ocorreram profundas mudanças na organização. A primeira delas ocorreu logo após a crise econômica do início da década de 1980, sendo representada pela implantação das técnicas ou filosofia japonesa de administração da produção, um marco dentro da empresa. A segunda é marcada pelo processo de internacionalização que teve início em 1991 e ganhou força dentro na empresa nos anos seguintes. Se em 1987, 13% do faturamento da empresa tiveram origem no mercado externo, em 2006, esse valor saltou para 47%. Vale ressaltar, também, que por diversos anos (1993, 2000, 2001, 2002, 2004 e 2005) a participação da Marcopolo no mercado brasileiro de carrocerias de ônibus foi superior a 50%. A seguir os principais acontecimentos que marcaram essa terceira fase serão apresentados, alguns podem já ser visulaizados no Gráfico 4.7. A partir desses acontecimentos, será realizada uma análise da terceira fase com o intuito de identificar de que forma a Marcopolo respondeu aos cinco desafios do crescimento. Gráfico 4.7 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1987 e 2006 176 14,000 a a 1 Fase De 1949 a 1967 Inauguração Fábrica Planalto Saída Irmãos Nicola 8,000 6,000 2,000 0 Ingresso José Martins Início Prod. Com Chassi Brasileiro Ingresso Valter Gomes JK inicia expansão da indústria automotiva no Brasil Fundaçã o da Nicola & Cia. LTDA Criação da FAN Fechamento Marcopolo Minas Contrato CKD para Gana Mudança de nome para Marcopolo 1o Contrato CKD Ações Bovespa Início Divers. Não Relacionada 1a Exportação Desativação Planalto Crise no México 50% Ciferal Desativaçã o Argentina Portugal Ônibus Volare Escola Formação Profisiional Avaliação Rússia e China Argentina Plano Real Aquisição Nimbus Aquisiçã o Eliziário Colômbia Criação da Fundação Marcopolo Fábrica Ana Rech Marcopolo Minas México Técnicas Japonesas Fim Diver. Não Relacionada Transf. Tecn. China África do Sul Troféu Busbuilder of the Year 100% Ciferal 19 49 19 51 19 53 19 55 19 57 19 59 19 61 19 63 19 65 19 67 19 69 19 71 19 73 19 75 19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01 20 03 20 05 Produção de Ônibus* 10,000 3 Fase De 1987 a 2006 Viagem ao Japão Lançamento Ônibus Marcopolo 12,000 4,000 a 2 Fase De 1968 a 1986 *Não inclui Volare e Furgões 4.3.1. Desafios do Empreendedorismo A) Ambição A Marcopolo apresentou um crescimento vertiginoso ao longo dos anos que compreendem esta terceira fase. Enquanto em 1987, a produção anual de ônibus foi de 2.845 unidades, em 2006, foi de 12.815. Tais resultados, que podem ser observados no Gráfico 4.8, não incluem os furgões e os ônibus Volare, modelo de ônibus que a Marcopolo lançou na década de 1990, e que nos anos seguintes, passaram a representar significativa participação na receita da empresa. 177 Gráfico 4.8 – Produção da Marcopolo entre os anos 1987 e 2006 16,000 14,000 3a Fase De 1987 a 2006 Produção de Ônibus* 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 *Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo (1987 – 1997) e Relatórios Anuais (1998 – 2006) A Marcopolo saiu da crise econômica da década de 1980, muito determinada a crescer. Para isso, a empresa acreditou que um bom caminho seria por meio da diversificação não relacionada. Em 1987, a MVC Componentes Plásticos, localizada em São José dos Pinhais, iniciou suas atividades. Em 1988, seguindo o programa de diversificação de investimentos, a Marcopolo participou do projeto de privatização da Caraíba Metais S.A., única produtora de cobre eletrolítico no Brasil. Nesse mesmo ano, foi constituída a Polo Agenciadora de Negócios Ltda., cujo objetivo era agenciar negócios em geral. Em 1989, a Marcopolo entrou no setor financeiro por meio de uma participação no capital do Banco Arbi, que possuía sede em São Paulo, e filiais no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Ainda 178 dentro dessa estratégia de diversificação, em 1995, a Marcopolo adquiriu 50% das quotas de participação da Dinaço Ind. e Com. de Ferro e Aço Ltda, empresa especializada na transformação e beneficiamento de aço. Outro caminho traçado pela Marcopolo para crescer, conforme já mencionado, foi o mercado externo. Seja através de exportações ou por meio de unidades fabris espalhadas pelo mundo, a Marcopolo se tornou uma das maiores encarroçadoras de ônibus no planeta. Em 1991, a Marcopolo adquiriu sua primeira planta no exterior, em Portugal, através de uma joint venture com o grupo Evicar, tradicional organização portuguesa ligada ao ramo de veículos. O principal objetivo da Marcopolo através dessa parceira era se aproximar da mais moderna tecnologia de ônibus do mundo, a européia, e dessa forma trazer tal tecnologia para o Brasil para modernizar seus produtos. Em 1992, a Marcopolo firmou um contrato de exportação com a Dina Autobuses, do México, no qual a Marcopolo fornecia a carroceria e a Dina, o chassi. Essa parceria se manteve até 1994, ano em que o México entrou em crise e, por conseqüência, a Dina acabou fechando as portas. A crise do México teve um forte impacto negativo na Marcopolo, já que na época, esse país era um grande mercado consumidor de seus produtos. Com isso, a empresa, temporariamente reduziu seu foco no mercado externo, só retomando os investimentos, em 1997 com a aquisição de todo controle da fábrica de Portugal. 179 “Em 1997, o mercado externo voltou a ser enfocado como uma das prioridades da empresa, totalmente sintonizada com uma economia globalizada e competitiva. A Marcopolo Indústria de Carroçarias S.A. em Coimbra – Portugal, a partir do ano passado, passou a pertencer integralmente à Marcopolo S.A. Essa nova posição acionária está permitindo que sejam tomadas as medidas necessárias para o crescimento daquela unidade.” (Fonte: Relatório de Administração 1997). Visando crescer, a empresa realizou uma série de investimentos no mercado externo nos anos seguintes. Em 1998, foi inaugurada a Marcopolo Latinoamérica S.A., na Província de Córdoba, cidade de Rio Cuarto, na Argentina, com uma capacidade inicial de produção de 1.200 unidades por ano. Anos mais tarde, em 2003, tal fábrica foi desativada devido à crise econômica que afetou a Argentina. Em 1999, ela constitui uma nova fábrica no México, Polomex S.A., em Aguascalientes. Em 2000, a empresa constitui uma fábrica na Colômbia, em conjunto com a Superbus de Bogotá S.A., denominada Superpolo. Nesse mesmo ano, a Marcopolo comprou parte dos ativos da Volvo South África e constitui sua primeira fábrica na África do Sul, em Johanesburgo. Em 2001, a Marcopolo transferiu suas instalações de Aguascalientes para Monterrey, no México, pois foi firmado um acordo com a Mercedes-Benz do México que passou a deter 26% do capital social da Polomex. A Polomex passou a montar, no México, os ônibus com carrocerias Marcopolo sobre chassis produzidos pela Mercedes-Benz. 180 Também em 2001, teve início o projeto de transferência de tecnologia com a cidade de Chaugzson, China. A Marcopolo assinou acordos técnicos de transferência de tecnologia para a IVECO, uma das empresas líderes, na Europa, na fabricação e comercialização de ônibus e caminhões. Em 2006, a Marcopolo decidiu expandir suas atividades para mercados do oriente. Os países escolhidos foram a Rússia e a Índia. Na Índia, foi realizada uma joint venture com o Grupo Tata, formando a Tata Marcopolo Motors Limited, para a instalação, em Dharward, de uma fábrica cujo potencial de crescimento foi estimado imenso. No mercado interno, a Marcopolo passou a ser a maior encarroçadora de ônibus brasileira já nos primeiros anos da terceira fase, superando a Caio em 1989. No entanto, foi no ano de 1998 que a empresa alcançou um outro objetivo como informou o Relatório de Administração do mesmo ano: “Na continuidade de seus esforços para atingir a liderança absoluta no mercado, a empresa logrou alcançar, em 1998, a participação maior em todos os segmentos do setor: rodoviários, micros e, pela primeira vez em sua trajetória industrial no Brasil, a maior produção também em ônibus urbanos.” (Fonte: Relatório de Administração 1998). Para dar seqüência a esta trajetória de crescimento que envolvia desde a liderança no mercado interno como a conquista de vários mercados externos, a Marcopolo realizou, também, algumas aquisições no mercado brasileiro. Em 1999, a Marcopolo adquiriu 50% da Ciferal, uma de suas principais concorrentes, e dois anos mais tarde, 100% do controle. Na fábrica da Ciferal, 181 localizada no Rio de Janeiro, passou a concentrar-se a maior parte da fabricação de ônibus urbanos, historicamente a principal linha da Ciferal. No início de 2007, a Marcopolo adquiriu 39,6% do capital da fabricante San Marino Ônibus e Implementos Ltda, conhecida principalmente pela marca Neobus. A Neobus localizava-se também na cidade de Caxias do Sul e atuava basicamente no segmento de microônibus. Ao longo da terceira fase, diversos foram os investimentos com o intuito de elevar a capacidade, e principalmente os padrões de qualidade, segurança e produtividade das fábricas. Em 2003, um investimento de R$ 10,0 milhões foi destinado à fábrica de Ana Rech, que envolveu desde a elaboração de novo layout das linhas de montagem, construção de túnel de acesso, novo sistema de iluminação natural, avançadas cabines e estufas de pintura. Também foi construída nesta unidade uma pista de testes, a primeira no gênero no país e uma das mais equipadas do mundo, com circuito planejado para simular as mais diversas condições de tráfego existentes no Brasil e no exterior. A partir do ano 2000, a Marcopolo decidiu concentrar seus investimentos na fabricação de ônibus (IAN, 2000). Diversas atividades não-relacionadas, como a participação na Dinaço, foram abandonadas. No entanto, a empresa fez, também, investimentos em negócios relacionados diretamente ao seu produto, como na MVC, unidade responsável pela fabricação de componentes em plástico. Em 2003, a Marcopolo, com intuito de oferecer ao mercado equipamentos de climatização integrados aos ônibus produzidos pela empresa, adquiriu 40,0% de 182 participação na Webasto, fabricante de equipamentos de ar condicionado veicular, localizada em Caxias do Sul. Como se observa no Gráfico 4.9, em 1998, a Marcopolo atingiu a marca dos 100.000 ônibus produzidos. No entanto, nota-se que a produção nas primeiras cinco décadas de existência será, provavelmente, superada pela produção de sua última década. Entre 1999 e 2006, a empresa já produziu 85.991 unidades, o que reforça a trajetória de expressivo crescimento nesta última fase. Gráfico 4.9 – Produção da Marcopolo Anual e Acumulada (1949 - 2006) 14,000 200,000 180,000 160,000 10,000 140,000 120,000 8,000 100,000 6,000 80,000 60,000 4,000 40,000 Produção de Ônibus (Acumulado) Produção de Ônibus (Exercício) 12,000 2,000 20,000 0 19 49 19 51 19 53 19 55 19 57 19 59 19 61 19 63 19 65 19 67 19 69 19 71 19 73 19 75 19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01 20 03 20 05 0 Exercício Acumulado Fonte: Memorial Marcopolo (1949 – 1997) e Relatórios Anuais (1998 – 2006) A título de ilustração, a centésima milésima unidade produzida foi um ônibus modelo Paradiso Double Decker. Assim como em diversos outros 183 lançamentos, a Marcopolo foi pioneira no país na fabricação desse tipo de veículo. Outros lançamentos que marcaram a indústria brasileira e, por conseqüente esta fase foram: o microônibus S&S (exportado para os EUA), o urbano Torino Ligeirinho (para a cidade de Curitiba) e os miniônibus Volare e o Escolarbus. A Tabela 4.21 apresenta os produtos lançados entre os anos 1987 e 1999. Tabela 4.21 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1987 e 1999 NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES Strada Cross 1987 Rodoviário Microônibus S & S 1988 Micro Senior G IV Articulado Torino Fratello Torino Ligeirinho Viaggio GV 850 Viaggio GV 1000 Viaggio GV 1150 Paradiso GV 1150 Paradiso GV 1450 Allegro GV Torino GV Três portas Torino GV Articulado Torino GV Biarticulado 1989 1991 1991 1991 1992 1992 1992 1992 1992 1993 1993 Micro Urbano Van Urbano Rodoviário Rodoviário Rodoviário Rodoviário Rodoviário Intermunicipal Urbano 1993 Urbano 1994 Urbano Paradiso GV 1450 Low Driver Paradiso 1800 Double Decker 6x2 1995 Rodoviário Inicialmente produzido para o sistema de transporte coletivo da cidade de Curitiba. Lançado na Expobus 94 1995 Rodoviário Lançado na Expobus 94 Para terrenos difíceis Exclusivo para o mercado norteamericano. Nas versões Massimo, Persona e Presto Especial para a cidade de Curitiba Lançado na Expobus 92. Lançado na Expobus 92. Lançado na Expobus 92. Lançado na Expobus 92. Lançado na Expobus 92. 184 NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES Torino GV Low Entry Torino Articulado GV Torino GV Trolebus Paradiso GV 1800 DD/8x2 Viaggio GV Paradiso GV 1450 1996 Urbano Lançado na Expobus 96 1996 Urbano Com motor traseiro 1996 1996 Urbano Rodoviário Lançado na Expobus 96 Prêmio Distinção Indústria 1996. 1996 1996 Rodoviário Rodoviário Com 14 metros. Com salão de jogos no piso inferior traseiro. Senior GV Fura-fila 1996 1998 Micro Urbano Volare Andare Viale Biarticulado Viale 1998 1998 1998 1998 Escolarbus Torino 1999 1999 Minibus Rodoviário Urbano Urbano Pesado Minibus Urbano Veículo Leve sobre Pneus, especial para a cidade de São Paulo. Fonte: Memorial Marcopolo Em suma, a busca pelo mercado externo, e sua crescente participação no mercado interno reforçam que a Marcopolo apresentou respostas satisfatórias no serviço da ambição. B) Engenhosidade em levantar recursos financeiros Neste tipo de indústria, tão ou mais importante que levantar os recursos necessários para a realização de investimentos em novas fábricas ou linhas de montagem, os fabricantes de ônibus necessitam que existam fontes de 185 financiamento para estimular os investimentos dos operadores de transportes de passageiros. Ao longo das últimas décadas, a Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial do BNDES), o Crédito Direto ao Consumidor e o Leasing se constituíram na maior parte das fontes de financiamento das empresas de transporte de passageiros. Além de contar com tais linhas de financiamento para estimular suas vendas, a Marcopolo, ao longo da terceira fase, buscou, também, outras formas para levantar recursos financeiros. Segundo entrevistas, além fazer uso do capital da comunidade, a Marcopolo foi extremamente bem sucedida ao recorrer ao mercado de capitais justamente no auge da crise econômica pela qual a empresa passou. “Então eu vim pra cá, mas vim como gerente financeiro, aí a primeira coisa nós tínhamos que capitalizar a empresa e fomos para o mercado de capitais. Fizemos um lançamento de ações na época, me lembro 3 milhões na moeda da época, não sei quanto é que era na época, e já conseguimos uma renegociação da dívida. A partir dali nós buscamos primeiro capital de risco, fizemos uma subscrição de capital, fomos ao BNDES buscar empréstimos para a renegociação de toda a dívida existente e tivemos sucesso nos dois pacotes. O BNDES fez um financiamento de longo prazo para a companhia, nós buscamos um mercado de risco. A partir dali, a Marcopolo de 1984 pra cá só deslanchou, e em 1986/87 com uma filosofia nova de produção, nós começamos a crescer, dinheiro não faltava, pegamos um período maravilhoso.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) Segundo os depoimentos relatados, ao sair da crise a empresa passou a gozar de abundante acesso a capital para financiar seus investimentos, o que viabilizou seus planos de expansão. Em 1996, a empresa instituiu seu programa 186 de ADR’s (American Depositary Receipts), no entanto, como o volume de negociações nunca foi alto, a empresa cancelou o programa em 2004. No entanto, os investidores estrangeiros há tempos vêem a Marcopolo como uma boa opção de investimento. Tanto que, segundo o Sr. Carlos Zignani, diretor de relação com investidores da Marcopolo, mais de 50% das ações preferenciais da empresa estão nas mãos de investidores estrangeiros. Em 2002, a empresa aderiu ao nível de 2 de Governança Corporativa da Bovespa, sendo a primeira empresa industrial brasileira a adotar tais padrões e regras, o que proporciona maior transparência aos investidores. Nesse mesmo ano, momento de profunda incerteza política devido à eleição presidencial que se aproximava, a empresa realizou um novo lançamento de capital, cujo resultado foi acima das expectativas da empresa, como contou o Sr, Carlos Zignani. “Fizemos um novo lançamento de capital em 2002, buscamos capital de risco, no pior momento, foi em setembro de 2002, quando o Lula, era uma ameaça, nos fizemos o lançamento de capital, foi o único do ano feito no Brasil. E a Marcopolo ainda teve sucesso captando 100 milhões de reais. Teve 30% a mais de procura. Destes, 20% foram lançados no exterior, e para efeito de mercado era a pior coisa que podia acontecer, e se o Lula ganhar naquela época, para o mercado externo. Mas a Marcopolo era muito, como é que eu vou dizer, é nome muito forte já porque nós tínhamos operações.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) A partir da terceira fase, a empresa também passou a desenvolver a habilidade em realizar investimentos, principalmente aqueles feitos dentro de seu 187 processo de internacionalização, por meio de joint ventures com grandes grupos locais e grandes corporações multinacionais. Em 2005, a Marcopolo, com a finalidade de reduzir a dependência dos clientes por financiamento de terceiros, constituiu o Banco Moneo S.A. Este banco, através de operações de crédito direto ao consumidor, capital de giro e Finame, passou a possibilitar a aquisição de produtos Marcopolo, gerando, cada vez mais, um impacto positivo no lucro da empresa. Com base nas evidências apresentadas, pode-se dizer que a Marcopolo manteve as respostas satisfatórias ao serviço da engenhosidade de levantar recursos financeiros. C) Versatilidade Assim como nas fases anteriores, a Marcopolo se mostrou uma companhia capaz de gerar idéias e se envolver em projetos inovadores, que foram se transformando em alternativas bem sucedidas para a empresa. No que tange à estrutura organizacional, a forma como as técnicas japonesas foram implementadas, por si só, se constitui na principal evidência que indica a capacidade da empresa vislumbrar oportunidades não tão óbvias, implementá-las e ter êxito (versatilidade empreendedora). Uma viagem de estudo 188 foi realizada ao Japão e diversas informações sobre o sistema japonês foram coletas na forma de fitas-cassetes, anotações pessoais e etc. A diretoria da empresa reuniu-se e foi constatado que tal sistema só poderia ser implantado na empresa através da participação espontânea dos funcionários. A implementação do sistema envolveu a participação da gerência, dos funcionários e do Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais (IMAM), cujos professores ministraram palestras e cursos a diversas equipes da Marcopolo (versatilidade gerencial). O processo de internacionalização seguido pela empresa surge como outra evidência nessa terceira fase, que indica a capacidade da empresa em vislumbrar uma oportunidade, que além de proporcionar saltos de crescimento expressivos nos últimos anos, deixou a empresa menos vulnerável às incertezas do mercado interno. Também nesse sentido, a primeira fábrica instalada em Portugal, funcionou como um grande laboratório para empresa, pois a partir dele saíram diversas inovações que modernizaram os produtos da Marcopolo (versatilidade empreendedora). Ao longo da terceira fase, a Marcopolo, além investir no lançamento de novos produtos, passou a vender, também, serviços. Dentre os principais produtos lançados nesse período que mostram o intuito da empresa de entrar em novos nichos de mercado, estão: 189 • Os microônibus S&S, vendidos para o mercado, americano, principalmente para locadoras de veículos e transportadoras de turistas; • O Ligeirinho, um ônibus especial, desenvolvido para atender às características inovadoras do sistema de transporte coletivo proposto para a cidade. Estes ônibus não possuem catracas nem degraus, pois as portas de embarque são conectadas às estaçõestubo por uma plataforma móvel, facilitando o acesso dos passageiros; • O microônibus Volare, desenvolvido em parceria com Agrale, que veio a se tornar uma alternativa atraente para diversas cidades brasileiras, principalmente por se tornar uma opção ao transporte de passageiros em vans. Ao vislumbrar oportunidades em sistemas de transporte, como o Ligeirinho de Curitiba, a Marcopolo abre seu leque de produtos não só para os ônibus convencionais. A empresa acredita que não só no Brasil, como diversos em diversos países da América Latina, tais sistemas seriam uma boa solução para cidades cujo tráfego de veículos é intenso (versatilidade empreendedora). A Marcopolo também acredita que serviços adicionais relacionados aos transportes, como os de assistência técnica, além de agregar valor ao produto da 190 Marcopolo, aumentam as vendas. A partir dessa perspectiva de criar negócios relacionados ao seu produto principal, o ônibus, a Marcopolo constituiu o Banco Moneo em 2005, para facilitar a venda de veículos, oferecendo linhas de financiamento aos seus clientes (versatilidade empreendedora). Nos últimos anos, a Marcopolo criou estrutura de fábricas em diversos continentes no mundo, que têm lhe permitido, cada vez mais, desfrutar as vantagens do global sourcing. Através deste regime, a empresa passou a produzir ou comprar os componentes dos ônibus nas regiões que apresentam menor custo, e enviá-los para as diversas linhas de produção espalhadas no exterior (versatilidade gerencial). Segundo as entrevistas realizadas, para o futuro, a empresa acredita que o plástico é material que cada vez mais, substituirá as ligas metálicas e outros materiais (versatilidade técnica e empreendedora). Além de seguir investindo neste negócio, vislumbrando oportunidades para a indústria automobilística, a Marcopolo, apesar dos resultados nos últimos anos, acredita que as fibras de plástico, também serão aceitas em outros setores como, o de móveis e residências. O apanhado de evidências indica que a Marcopolo apresentou respostas satisfatórias ao serviço da versatilidade, tanto nos aspectos técnico, gerencial e empreendedor. 191 D) Julgamento Ao longo da última fase, é possível identificar que em diversos momentos a Marcopolo tomou decisões que marcaram sua trajetória, contribuíram para seu processo de crescimento, reduzindo possíveis ameaças que colocariam em risco sua existência. A primeira delas foi a decisão de implementar um novo sistema de produção, baseado na filosofia japonesa, principalmente quando considerado o jeito como tal sistema foi implementado. O sistema Marcopolo não proporcionou, apenas, mudanças nas linhas de produção e montagem da empresa e de seus fornecedores. Criou uma nova atmosfera dentro da empresa, onde cada funcionário se tornou parte fundamental para o êxito coletivo. As técnicas japonesas implementadas visavam à organização, limpeza, qualidade, e etc, e à redução dos estoques em conjunto com os novos procedimentos de resolução de problemas. Isto permitiu que a Marcopolo alcançasse excelentes resultados nas diversas áreas. Ao longo dessa fase, a Marcopolo também tomou outras medidas para ganhar sinergia administrativa e reduzir custos, e tentar reduzir os riscos no negócio em que ela estava inserida. Em 1987, sua fábrica em Porto Alegre, a Eliziário foi incorporada e toda a produção passou a concentrar-se em Caxias do Sul, objetivando a redução de custos. Nessa mesma época, a empresa iniciou um processo de diversificação, que se por um lado mostrou-se bem sucedido no negócio de plásticos, através da 192 MVC Componentes Plásticos, não teve o mesmo resultado nas empresas Caraíba Metais, Banco Arbi e Dinaço. No início dos anos 2000, a empresa decidiu abandonar os negócios não relacionados diretamente ao ônibus. Como outra alternativa para mitigar o risco de seu negócio, e desta vez sendo bem sucedida, a empresa a partir da década de 1990, deu início ao seu processo de internacionalização, se lançando no mercado internacional. A idéia de aumentar suas operações no mercado externo, iniciado com a fábrica instalada em Portugal, em 1991, ganhou força após o baque econômico enfrentado pela empresa em 1994 tanto no mercado brasileiro, como no México, um grande mercado consumidor de seus produtos no momento, como relatou o IAN de 1994: “A despeito do efeito negativo no desempenho de 1994 provocado pelo problema cambial a partir do inicio do segundo semestre, a estratégia mercadológica da Marcopolo seguirá dando ênfase a um continuado esforço, no sentido de direcionar parcela significativa da produção para tradicionais mercados no exterior, bem como ao desenvolvimento e penetração em novos, onde seja detectado potencial. O objetivo é estabelecer uma base de proteção contra as freqüentes flutuações nos níveis de demanda interna e, destarte, utilizar a capacidade instalada uniformemente. Esta política vem trazendo excelentes resultados, cabendo destacar os elevados negócios com o mercado mexicano durante os anos de 1992 e 1993.“ (IAN 1994) No sentido de utilizar sua capacidade instalada de forma uniforme, e reduzir custos, com a crise de 1994, a empresa manteve a unidade Planalto desativada até ano de 1998, quando o microônibus Volare foi lançado, e a fábrica reativada para produzir esta nova linha de ônibus menores que estavam surgindo. Nos anos seguintes, uma nova reorganização da produção foi realizada com a aquisição de uma grande concorrente nacional, a Ciferal. 193 No início da década de 1990, a Marcopolo promoveu processo de desverticalização da produção e terceirização de serviços, que envolveu uma série de componentes, como poltronas e janelas, que passaram a ser produzidos por terceiros. Toda a produção de produtos de resina também foi transferida a um fornecedor que se instalou em um terreno vizinho à fábrica. Em um primeiro momento tal processo pareceu vantajoso, pois além de reduziu custos com pessoal e liberou espaços nas fábricas que permitiram a unificação de atividades em uma só planta. No entanto, com o passar do tempo, a empresa percebeu que para alguns componentes a terceirização se mostrou desastrosa. Diversos fornecedores, muitos destes fundados por ex-funcionários da Marcopolo, passaram a negociar, também, com concorrentes da empresa. Então, a empresa tomou a decisão de voltar a fabricar alguns desses componentes considerados estratégicos, como as poltronas e a fábrica de resinas, internamente. Ao longo da década de 1990, a Marcopolo decidiu, também, realizar uma mudança organizacional da empresa com o objetivo de preparar a empresa para as próximas gerações, através de um novo modelo de gestão. Para isso, foram contratadas firmas de consultoria de gestão e consultores independentes, que suportaram a empresa na promoção de mudanças e auxiliaram os controladores da Marcopolo repensarem o futuro da empresa de uma forma diferente. “Mas nada disso teria sido possível se a empresa não tivesse percebido, após a crise de 1994, que não bastava ter uma fábrica limpa, kanban, etc., que era preciso ter não só qualidade total, mas competitividade total, e que era necessário repensar o futuro da empresa.... E para isso foi fundamental 194 a contratação de consultoria externa e a implementação de um plano de metas que permitiram orientar a empresa para resultados, aferir o desempenho e recuperar o crescimento da produtividade e o entusiasmo geral pela empresa. Os indicadores estabelecidos eram não apenas técnicos, como os vigentes até então, mas também voltados para as vendas e os lucros. Estes passaram a ser desdobrados na estrutura da empresa, permitindo o estabelecimento de uma política de remuneração variável para os empregados, de acordo com o seu desempenho.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA. Marcopolo S.A. (B), 1999, pg. 7) Durante essas mudanças, os controladores passaram para uma diretoria corporativa, saindo do dia-a-dia da companhia, e inclusive, passaram a trabalhar fora no escritório da Marcopolo. Diretorias executivas foram criadas e formadas por executivos para que a empresa também pudesse se desenvolver em termos de gestão. Nos seguintes, um conselho de herdeiros foi constituído para preparar, também, os filhos dos controladores da empresa. De forma geral, a terceira fase da empresa, foi marcada por diversas respostas positivas ao desafio do Empreendedorismo. Além de obstinada a crescer, seja no mercado externo ou interno, a Marcopolo cultivou e desenvolveu os serviços empreendedores que a tornam uma empresa versátil, hábil em levantar recursos financeiros. No que tange ao serviço do julgamento, apesar de diversas decisões acertadas, algumas ações como a estratégia de diversificação, alguns parcerias firmadas, o investimento na fábrica da Argentina e uma tentativa pouco exitosa de terceirização de atividades, fazem com que as respostas ao serviço do julgamento não sejam plenamente satisfatórias. 195 O resumo dos serviços empreendedores que indicam a forma como a firma respondeu a este desafio estão na Tabela 4.22. Tabela 4.22 – Resumo das Respostas ao Desafio da Empreendedorismo (Fase III) 4.3.2. Desafios da Navegação no Ambiente Ao sair da crise vivida no início da década de 1980, a Marcopolo iniciou sua trajetória em uma nova fase, repleta de aumentos expressivos em seu tamanho, se considerarmos, principalmente, número de fábricas, capacidade instalada, número de ônibus produzidos e número de funcionários. Para atingir esse nível, a Marcopolo teve que superar as dificuldades impostas pelo ambiente em que esteve inserida e desta forma foi, mais uma vez desenvolvendo habilidades que visaram à criação e captura de valor e a legitimidade organizacional. A seguir serão descritas as principais evidências que 196 sugerem de que forma a Marcopolo fez uso das respostas estratégicas (Oliver, 1991), ao longo da terceira fase de análise, e quanto estas respostas contribuíram ou não para que a empresa tivesse êxito no desafio da navegação no ambiente. A) Captura de Valor A terceira fase de análise teve início em 1987, ano seguinte à viagem que o Sr. Paulo Bellini, e o então Diretor Industrial Cláudio Gomes fizeram ao Japão, com o intuito de visitar empresas, assistir palestras e observar as instalações e procedimentos que faziam parte das empresas japonesas. Até esse momento, a situação da Marcopolo era a seguinte, como descreveu um dirigente da empresa: “Era uma fábrica suja, desorganizada com layout funcional, com estoque excessivo jogado pelo chão. Quando não se encontrava uma peça porque ela estava perdida em meio da confusão, resolvia-se o problema requisitando à fabricação ou ao almoxarifado a peça desejada. Esta medida aumentava os desperdícios com a produção excessiva ou com estoques supérfluos porque a fabricação nunca produzia uma única peça nem o setor de compras adquiria uma única unidade. Prevalecia a concepção do lote econômico, sob a crença de que era necessário otimizar os custos de preparação de máquinas ou de pedido nas compras. A falta de planejamento e controle dos estoques ocasionava outros problemas. Assim, por exemplo, eu lembro que quando em 1983 se lançou a Geração IV, a fábrica estava cheia de peças da geração anterior, que foram desperdiçadas.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo S.A. (A), 1999, pg. 5) Os resultados dessa visita estabeleceram um marco na história da Marcopolo. Nos anos posteriores à viagem, a Marcopolo implementou um sistema próprio, o Sistema Marcopolo, que contou com a participação de todos os funcionários da empresa. A introdução da filosofia presente no Sistema Marcopolo 197 foi orientada pela implantação de dois sistemas: o SUMAN, cujo objetivo era aprimorar o local de trabalho e as condições de trabalho, e pelos elementos do SIMPS, que visava a motivar o trabalho, otimizar o fluxo de materiais, evitar desperdícios e diminuir o tempo dos processos produtivos. Nos primeiros anos da implementação, a empresa enfrentou barreiras internas, porém obteve êxito na nova filosofia, cujos resultados positivos foram percebidos nas mais diversas formas, desde redução de desperdícios até a redução da rotatividade de pessoal (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Nos primeiros anos da década de 1990, a empresa estava com o Sistema Marcopolo implementado, e somando-se os problemas vividos no ano de 1994, parte dos funcionários da empresa já não estava mais tão motivado. Nesse contexto, a empresa realizou diversas mudanças e implementou uma série de programas que visavam elevar a motivação de pessoal, como também, programas que focavam a questão da qualidade total (estratégia de negociar; tática de pacificar). Neste sentido, a empresa passou a perceber a necessidade de buscar a certificação pelas normas ISO, uma exigência que muitos clientes em potencial no exterior, passaram a questionar (estratégia de consentir; estratégia de cumprir). Segundo relatos, embora conhecida, a qualidade Marcopolo precisava ser mais tecnicamente ordenada e padronizada para que a empresa pudesse se firmar no contexto mundial. A certificação internacional, além de ser uma exigência do 198 mercado, funcionou como uma forma de unificar as visões internas sobre qualidade, as quais nem sempre convergiam. Em 1994, a Marcopolo deu início à implantação do Programa de Certificação ISO 9000. Em outubro de 1996, a Marcopolo recebeu a Certificação ISO 9002 e, em abril de 1997, a Certificação ISO 9001, ambas conferidas pelo órgão certificador holandês Det Norske Veritas. A Marcopolo foi a primeira montadora brasileira de carrocerias a obter tal certificado, que a tornou reconhecida internacionalmente. Mais tarde, a Marcopolo atingiu, ainda dentro de seu Plano Global de Qualidade, a conquista da certificação ISO 14000, que trata a questão da preservação do meio ambiente. Algumas iniciativas foram surgindo através das normas ISO, e mais tarde através da filosofia Kaisen, que almeja a melhoria contínua, fizeram com que a questão da qualidade passasse a direcionar as ações da empresa, sempre buscando a captura de valor para a empresa. Em 1995, a política da empresa foi assim determinada visando fortificar sua reputação perante seus stakeholders: “A Marcopolo tem como objetivo a melhoria do ambiente e dos processos, produtos e serviços, a fim de satisfazer seus clientes e colaboradores” (estratégia de manipular; tática de influenciar). Ao longo dos últimos anos, a Marcopolo estudou o lançamento de novos produtos e serviços, como os serviços de assistência técnica, para atender alguns clientes. Tais produtos e serviços, além de ser fonte de receita, valorizam, também, a marca Marcopolo. 199 Já o sistema de transporte é considerado pela diretoria da empresa um produto que possui um potencial enorme de crescimento no país. Para levar tal projeto adiante, a Marcopolo, em conjunto com alguns parceiros, tramitou dentro da espera pública, realizando palestras para prefeitos, vereadores e secretários municipais de transporte, mostrando-lhes as vantagens de implementar um sistema de transporte moderno (estratégia de manipular; tática de influenciar). Muitas vezes a Marcopolo chegou a apoiar financeiramente parte destes projetos. Realizar parcerias para agregar valor ao seu produto faz parte da Marcopolo desde sua fundação. Ao longo da história da indústria de carrocerias de ônibus, as montadoras de chassis sempre desempenharam um papel importante na cadeia, pois além de fabricarem ônibus completos, também forneciam chassis para as encarroçadoras. No entanto, ao longo da década de 1980 e 1990, estas fabricantes de chassis foram, no Brasil, se concentrando apenas na fabricação de chassis e plataformas para ônibus. Em 1996, a Mercedes Benz, uma das maiores fabricantes de ônibus do mundo, interrompeu, também, sua produção de ônibus completos no Brasil, alegando não ser tão competitiva quanto uma encarroçadora de ônibus. Tal fato indica a força das encarroçadoras de ônibus brasileiras, que passaram a fazer do Brasil um dos principais produtores de ônibus do mundo, e a Marcopolo, como a maior encarroçadora brasileira, se aproveitou da saída da Mercedes Benz para ganhar mercado (estratégia de desafiar; tática de desafiar). 200 Por depender da fabricação de chassis para seu funcionamento, no momento de investir na operação em uma nova região, a Marcopolo segue sempre a mesma receita, conforme relatado pelo Sr. Carlos Zignani. Segundo ele, é muito importante se associar a um grande grupo da região, principalmente um que produza chassis. Caso este parceiro não possua chassi, a Marcopolo averigua quem é o fabricante local com maior penetração no mercado (estratégia de negociar; tática de barganhar). Por meio dessa estratégia a Marcopolo teve êxito ao entrar em diversos mercados importantes, como México e Colômbia, sendo que neste último, até sua entrada, não havia sequer um ônibus Marcopolo em circulação (estratégia de desafiar; tática de desafiar). A Marcopolo realizou uma joint venture na Colômbia, constituindo a Superpolo em 2000, e em 2007 já detinha 40% do mercado colombiano. Em 2007, o parceiro colombiano propôs a mudança do nome Superpolo para Marcopolo da Colômbia por, segundo as entrevistas com diretores da Marcopolo, perceber que a Marcopolo além de se tornar uma grife de ônibus, conseguiu criar e capturar valor em sua incursão na Colômbia (estratégia de manipular; tática de cooptar).. A importância de um parceiro de chassis é tanta que em 2000, a Marcopolo acabou por adquirir duas empresas na Argentina, Laureano S.A. e Laureano Gonzales S.A, que no momento detinham a exclusividade de concessão da Mercedes-Benz Argentina em determinada região. Segundo o Relatório de Administração 2000, as aquisições tiveram como objetivo estratégico, garantir a 201 comercialização e o regular suprimento de chassi para ônibus à Marcopolo Latinoamerica devido ao risco econômico eminente que a Argentina vivia (estratégia de evitar; tática de ocultar). Para agregar valor a sua marca, a Marcopolo, ao longo da terceira fase, lançou uma série de modelos, agora também por meio das diversas fábricas espalhadas pelo mundo. Em 2003, por exemplo, foram desenvolvidos aproximadamente 30 novos modelos de ônibus para atender demandas específicas de clientes, tanto do mercado interno quanto do externo. Dar visibilidade aos produtos da empresa em competições esportivas internacionais, tem sido um marca registrada dos últimos anos. Em 2004, a empresa desenvolveu um ônibus especialmente para o transporte de atletas e turistas durante os Jogos Olímpicos de Atenas. Em 2007, os ônibus da Marcopolo foram vistos em competições como os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro e a Copa América da Venezuela como sinal da reputação e força da marca da empresa (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Ao longo da última fase de análise, a Marcopolo realizou duas aquisições no cenário nacional. A primeira foi a Ciferal, grande concorrente da Marcopolo, principalmente no segmento de urbanos, localizada no Rio de Janeiro. Em poucos anos, a Marcopolo transformou uma operação até o momento deficitária em lucrativa (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Em 2007, das fábricas da Ciferal no Rio de Janeiro saem grande parte dos ônibus urbanos produzidos pela Marcopolo no Brasil, sendo muitos em direção ao mercado externo. 202 Em 2007, a Marcopolo adquiriu quase 40% da Neobus, uma concorrente, também localizada em Caxias do Sul, que apresentou expressivo crescimento nos últimos anos, principalmente no segmento de microônibus. Em 2007, as duas fabricantes ainda operavam de forma separada, sem qualquer sinergia. Segundo entrevista realizada com o Sr. Carlos Zignani, a aquisição da Neobus teve um caráter defensivo, pois seria complicado para a Marcopolo o fato de ter um grande fabricante europeu instalado na sua porta, com acesso a sua mão-de-obra, aos fornecedores, e etc (estratégia de evitar;tática de ocultar). A Marcopolo, nos últimos anos, também tem realizado algumas ações para aumentar suas vendas e resolver um grave problema, característico de sua indústria, a sazonalidade da demanda, que ocasiona a falta de cadência da produção. Historicamente, o segundo semestre concentrava a maioria dos pedidos, pois as empresas de transporte de passageiros se preparavam para renovar suas frotas. Através da Fabus e das prefeituras municipais, foram criados alguns mecanismos, como o ano de fabricação para estimular a renovação de frota. Através desse mecanismo (estratégia de manipular; tática de controlar), os donos de empresas de transporte passaram a renovar a frota no primeiro semestre, pois isso lhe daria uma remuneração maior na tarifa cobrada. Outra ação tomada pela Marcopolo que contribuiu para o balanceamento da produção e tem criado e capturado valor para a empresa foi seu processo de internacionalização (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Em alguns países, o período de férias não coincide com o Brasil, e isso permite cadenciar melhor a 203 produção. O fato de a empresa estar presente em mais de 100 países, também, contribui para que a produção da Marcopolo não seja afetada pelas oscilações e pela sazonalidade da demanda brasileira. A título de ilustração, a seguir segue a Tabela 4.23 contendo uma lista não exaustiva de evidências de criação e captura de valor, proporcionadas pela Marcopolo, entre os anos de 1986 e 2006, para alguns stakeholders. Tabela 4.23 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1986 e 2006 Stakeholder Governo Fornecedores Clientes (Empresas de Ônibus) Outras Encarroçadoras Acionistas Criação de Valor - A brigada de incêndio da Marcopolo atende também algumas cidades do RS, como auxílio do Corpo de Bombeiros local. - Implementação de sistemas de transportes em diversas cidades - Diversos fornecedores se instalaram em Caxias do Sul graças à Marcopolo e passaram a se integrar ao Sistema Marcopolo de Produção - Primeira encarroçadora brasileira a implementar a ISO - Lançamento do serviço de assistência técnica - Lançamento de novos modelos - Estabelecimento de parcerias para penetrar em alguns mercados, como na Colômbia (Superpolo) - Estabelecimento de mecanismos para balancear a demanda evitando a sazonalidade na produção - Aquisição da Ciferal Captura de Valor - Legitimidade perante os governos municipal e estadual - Venda de soluções de transporte - Redução de custos logísticos e maior qualidade dos componentes produzidos - Diferencial em relação aos concorrentes - Venda de novos modelos - Venda de novos serviços - Entrada em novos mercados - Crescimento de vendas e aumento das exportações - Redução de desperdícios e diminuição do tempo dos processos produtivos com as técnicas japonesas - Reestruturação da Ciferal 204 e turnaround da operação - Aumento da sua linha de produtos (urbanos) B) Legitimidade Organizacional Ao longo da terceira fase, a Marcopolo não só tomou medidas para capturar valor, mas também, para assegurar a sua legitimidade organizacional diante de seus múltiplos stakeholders. A Marcopolo manteve sua posição como umas das empresas mais influentes de Caxias do Sul, como do Rio Grande Sul. Em Caxias do Sul, os dirigentes da Marcopolo estão envolvidos em atividades vão desde a Câmara de Comércio até o maior time de futebol da cidade, o Esporte Clube Juventude (estratégia de negociar; tática de pacificar). Segundo entrevistas realizadas, o ritmo de funcionamento da Marcopolo funciona como termômetro para a atividade econômica de Caxias do Sul. Há uma preocupação coletiva da comunidade com o desempenho da empresa. Além de movimentar grande parte do PIB da cidade, seja direta ou indiretamente, o parque metal-mecânico que a Marcopolo ajudou a desenvolver em Caxias do Sul, é um dos mais expressivos do Brasil (estratégia de desafiar; tática de atacar). No momento da implementação do Sistema Marcopolo, graças à credibilidade e reputação conquistadas, a empresa levou diversos fornecedores de outras regiões a instalarem fábricas em Caxias do Sul (estratégia de manipular; tática de controlar). 205 Dessa forma, Caxias do Sul se tornou cluster de autopeças e de mão-deobra especializada para toda a indústria de ônibus e veículos pesados. Diversas concorrentes da Marcopolo possuem fornecedores em Caxias do Sul. Outras encarroçadoras, como Metalbus e a Neobus, se fixaram em Caxias do Sul, em virtude da cidade contar com a toda a estrutura propícia à fabricação de ônibus que a Marcopolo ajudou a desenvolver. Em 1994, na tentativa de racionalizar atividades e reduzir custos na fabricação de componentes, a Marcopolo passou a terceirizar diversos serviços, e lançou também um forte programa de desverticalização da produção, passando a terceiros a fabricação de diversos componentes que, antes, eram fabricados internamente. Nesse processo, diversos funcionários foram demitidos, no entanto muitos passaram a atuar, em empresas próprias, mas como fornecedores da Marcopolo por orientação da própria empresa (estratégia de manipular; tática de controlar) que queria reduzir custos, porém manter o controle sob todo o processo. Mais tarde, tal programa de desverticalização foi revisto, pois se mostrou desastroso para alguns componentes considerados estratégicos, então a Marcopolo voltou a produzi-los internamente. Com o intuito de aperfeiçoar os sistemas da empresa e qualificar seus funcionários, a Marcopolo levou diversas técnicas mais modernas de produção aos seus fornecedores. Tal fato era questão primordial para implementar o SIMPS na Marcopolo (estratégia de manipular; tática de controlar) e foi plenamente aceito por diversos fornecedores graças à reputação e aos resultados positivos 206 apresentados dentro da empresa. Alguns fornecedores da Marcopolo, em linha com o sistema implementado, chegam a entregar mais de uma vez por dia, diretamente na linha de produção das fábricas. Muitos desses fornecedores trabalham no conceito de qualidade assegurada, ou seja, a Marcopolo não confere a mercadoria que é entregue. A Marcopolo abre a porta de suas fábricas para visitação para os diversos públicos (estratégia de negociar; tática de barganhar). Semanalmente, são diversas empresas, escolas, universidades e associações das mais diversas naturezas que entram em contato com a empresa, interessadas em conhecer o processo de fabricação de um ônibus, e principalmente, o muito badalado Sistema Marcopolo de produção. Por outro lado, os funcionários da Marcopolo têm, também, a oportunidade de conhecer o funcionamento de diversas fábricas localizadas no Brasil e no mundo, atrás de aprendizado e renovação do conhecimento. Em Caxias do Sul, a empresa tem uma ligação direta com as principais entidades, associações comerciais e agremiações. A empresa também desenvolve em parceria com a Universidade de Caxias do Sul diversos projetos. Como exemplo, nos últimos anos, devido ao processo de internacionalização da empresa, a Marcopolo levou a Universidade de Caxias do Sul a estruturar um amplo programa de línguas (estratégia de manipular; tática de cooptar), pois havia a necessidade de encontrar pessoas que dominassem idiomas como mandarim, árabe, russo, e até o momento a universidade não oferecia esse tipo de formação. 207 Além de patrocinar e participar de atividades culturais em Caxias do Sul, como a Festa da Uva, e manter o Centro de Tradições Gaúchas, a Marcopolo, sempre visando manter a reputação construída e o prestígio conquistado dentro da cidade, apóia uma série de pesquisadores da comunidade caxiense. A eles oferece incentivo à publicação e à exposição de seus trabalhos (estratégia de manipular; tática de cooptar). No que tange a projetos sociais, a Marcopolo presta auxílio à Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul (APADEV) e colaborou na construção do Centro Educacional para Deficientes Visuais, uma instituição capacitada e equipada para atender aos portadores desse tipo de deficiência. A Marcopolo fornece, também, os recursos necessários para o funcionando desta instituição. Os funcionários da empresa que compõem a Equipe Interna de Combate a Incêndios (EICI) são vistos por toda a Marcopolo como exemplos de dedicação, coragem e orgulho. Eles constituem uma das mais valiosas Brigadas de Incêndio particulares do Rio Grande do Sul, que devido à boa estrutura, atende também à região nordeste do estado, como auxiliar do Corpo de Bombeiros local (estratégia de manipular; tática de cooptar). Ao longo dos últimos anos, a Marcopolo foi, cada vez mais, dando projeção a sua marca e a sua organização no nível nacional. A empresa, a partir dos anos 2000, passou a fazer parte, anualmente, da lista das melhores empresas brasileiras para se trabalhar, promovida pela Revista Exame. Em 2003, a 208 empresa, a partir do reconhecimento de seus funcionários, ocupou a 4ª colocação. Nove anos antes, em 1994, a Marcopolo foi destaque em uma edição da revista americana Forbes, cujo título da matéria foi “Evoluindo para a Perfeição”. Esta revista incluiu a Marcopolo no ranking das 100 melhores pequenas empresas do mundo. Nesse período a Marcopolo, mais uma vez, recebeu diversos prêmios. Um dos mais importantes foi o troféu Busbuilder of the Year 2004, recebido na Busworld, na Bélgica. A Tabela 4.24 apresenta os principais prêmios, diplomas e certificados conquistados pela empresa entre os anos de 1987 e 1999. Tabela 4.24 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1987 e 1999 ANO DESCRIÇÃO 1987 Certificado “As Maiores do Transporte” Troféu Mérito Industrial – Destaque Setorial – Transportes Prêmio Mérito Industrial, concedido ao Sr. Paulo Bellini Troféu Caxias 114, categoria Administrador, conferido ao Sr. José A. F. Martins Troféu UNIVIDA Editora TM Ltda – SP FIERGS IBDF 1992 1992 1993 1994 1994 O Equilibrista do Ano, concedido ao Sr. Raul Tessari O Administrador do Ano, concedido ao Sr. Paulo Bellini Prêmio Exportação - Pela Segunda vez Destaque do Ano em Recursos Humanos Diploma a Empresa do Ano Diploma Honra ao Mérito Destaque Empresarial do Ano 1994 1994 Diploma de Agradecimento ADESG/RS Certificado de Participação na EXPO NORTE Associacion 1987 1990 1992 1992 1992 ÓRGÃO EXPEDIDOR FIERGS Jornal Pioneiro e Rádio São Francisco Zero Hora e Unibanco – RS AANERGS ADVB/RS ABRH – Serrana Revista Exame – SP ARCOL – RS FEDERASUL de Comerciantes e 209 94 1995 1995 1996 1996 1996 1997 1997 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1999 Industriales de Concepcion e Asociacion Rural del Paraguay TOP of MIND – 3º lugar - RS- (marcas mais Revista Amanhã – RS lembradas) Certificado 7º ETRANSPORT ETRANSPORT – RJ Prêmio Distinção Indústria com o ônibus FIERGS rodoviário Paradiso DD Certificado ISO 9002 DET NORSKE VERITAS – Certificadora Ltda. Brasil Prêmio Desempenho – Maior empresa no Fundação Instituto Miguel Calmon de setor de Auto Peças e Material de Transporte Estudos Sociais e Econômicos do Estado do Rio Grande do Sul Certificado ISO 9001 DET NORSKE VERITAS – Certificadora Ltda. Brasil Prêmio Desempenho – Maior empresa no Fundação Instituto Miguel Calmon de setor de Auto Peças e Material de Transporte Estudos Sociais e Econômicos do Estado do Rio Grande do Sul Prêmio Líder Empresarial Setorial, recebido Gazeta Mercantil pelo Sr. Paulo Bellini - Presidente Prêmio Mérito do Transporte Urbano NTU Brasileiro, concedida ao Sr. José A. F. Martins Prêmio Exportação ADVB/RS Prêmio Excelência Empresarial Fundação Getúlio Vargas – SP Diploma Destaque Especial Festa da Uva Festa Nacional da Uva Turismo e Empreendimentos A Melhor entre as Melhores da Indústria Revista Transporte Moderno Prêmio Exportação Brasil AEB Melhor Empresa de Carrocerias de ônibus Revista Transporte Moderno Prêmio Líder Empresarial do MERCOSUL, Gazeta Mercantil recebido pelo Sr. José A. Martins, VicePresidente Corporativo Diploma de Agradecimento à Marcopolo S.A. Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra Certificado de Participação no 10º Festival de SEBRAE Turismo de Gramado 4º Prêmio Distinção Indústria FIERGS Fonte: Memorial Marcopolo No final de 2007, o então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, anunciou o nome de José Martins, vice-presidente do Conselho de Administração da empresa, como um dos 15 conselheiros escolhidos para compor o Conselho Curador que vai fiscalizar a nova rede pública de TV. O Sr. José Martins é também presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Carrocerias para Ônibus, 210 da Associação do Aço do Rio Grande do Sul e do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários. Tais evidências sinalizam a atuação ativa que a Marcopolo tem buscado e tem conquistado dentro esferas governamentais e políticas. C) Sumário das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase III) Em suma, o período entre 1987 e 2006, apresenta diversos fatos que mostram que a Marcopolo seguiu navegando no ambiente no qual esteve inserida, de forma mais ativa, buscando de forma contínua desenvolver novas oportunidades de crescimento, através de monitoramento adequado das pressões do ambiente. A Tabela 4.25 ilustra o resumo das respostas da empresa ao desafio da navegação no ambiente para essa terceira fase de análise. Tabela 4.25 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase III) 211 4.3.3. Desafios da Gestão da Diversidade Um traço marcante da Marcopolo, que iniciou na fundação da empresa e se estendeu ao longo das três fases é a relação de proximidade que os dirigentes da companhia possuem com os funcionários, independente do nível hierárquico que ocupam. O Sr. Paulo Bellini, por exemplo, no final de todos os anos, visita todas as fábricas da Marcopolo, para cumprimentar e agradecer a todos os funcionários o trabalho realizado naquele ano. Ele também entrega um souvenir, como um broche ou uma caneta, como sinal desse agradecimento. Em contrapartida, os funcionários se reúnem dentro dos setores onde trabalham e também preparam uma surpresa ao Sr. Paulo Bellini. Há uma sala na sede corporativa da empresa, somente para guardar esses mimos que são entregues aos dirigentes da empresa. Sr. Paul Bellini, por exemplo, já recebeu quadros, camisas com dedicatórias, e os mais diversos artefatos, como miniaturas de ônibus, raquetes de tênis e etc, todos confeccionados pelos funcionários da empresa, muitas vezes com as sobras de material utilizado na fabricação dos ônibus. Ao longo da terceira fase, a Marcopolo desenolveu mecanismos que fortaleceram a integração da empresa. O principal deles, o SUMAN (Sugestão de Melhoramentos do Ambiente Marcopolo), funciona basicamente em pequenos 212 grupos, com o objetivo de levantar problemas e buscar soluções para melhorar o ambiente e o processo de trabalho. Os grupos são espontâneos, formados por afinidade, nos quais qualquer funcionário da empresa pode participar, porém há certa preferência para funcionários do mesmo setor ou de funções interligadas. (UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR, 1996) Para funcionar, o grupo designa um líder e um nome para se denominar. As reuniões para discutir os problemas ocorrem durante o horário normal do expediente. Os grupos utilizam o popular quadro “Espinha de Peixe” para levantar problemas e indicar possíveis soluções. Embora o processo tenha começado somente com a aplicação genérica dos 5 “S” (Organização, Ordem, Limpeza, Conservação e Disciplina), aos poucos, os grupos foram ampliando sua atuação, buscando, também, racionalização de métodos e processos. Os grupos utilizam também um quadro conhecido como “Presença e Estado Emocional” para facilitar as relações entre os mais diversos níveis, visando à melhoria da comunicação, o entendimento e o respeito pelos sentimentos das pessoas. Neste quadro, cada trabalhador registra sua presença e escolhe uma placa com as cores, verde (bom), amarelo (regular) ou vermelho (ruim) para designar seu estado emocional naquele dia. Conforme o estado de espírito do funcionário varia ao longo do dia, a cor da placa pode ser alterada, e dessa forma, todos que trabalham em determinada área ficam sabendo como cada um se sente. Os supervisores têm o dever de oferecer ajuda e soluções para aqueles que estão enfrentando problemas. Neste quadro 213 também são indicados os funcionários responsáveis pela limpeza do banheiro naquele dia. Esta sugestão partiu dos próprios funcionários, pois eles mesmos perceberam que se fossem obrigados a limpar o banheiro, acabariam tomando mais cuidado com sua preservação. A questão da supervisão foi algo que sofreu grande modificação dentro da Marcopolo. Se antes, eram necessários diversos níveis hierárquicos, após a implementação do Sistema Marcopolo, a ênfase dada à chefia foi redirecionada aos muitos grupos de trabalho. Em entrevista realizada com o Sr. João Carlos, um dos responsáveis pela implementação do SUMAN na empresa, ele comentou que os grupos de SUMAN se constituíram uma das melhores mudanças ocorridas na empresa, pois, graças e eles, todos os funcionários passaram a participar da supervisão da operação. Tais iniciativas em busca de qualificação dos funcionários e melhoria do ambiente de trabalho, não ficaram restritas somente aos funcionários das fábricas localizadas em Caxias do Sul. Foram oferecidos treinamentos aos funcionários das empresas controladas, aos representantes comerciais e aos prestadores de serviços, cujo objetivo maior era a agilização do atendimento aos clientes e a padronização do sistema de informações externas a fábrica. Nos anos seguintes, o Sistema Marcopolo também foi implementado na Ciferal, no Rio de Janeiro, e nas fábricas localizadas fora do país. Muitos desses funcionários foram levados a Caxias do Sul e treinados dentro das instalações das unidades de Ana Rech e Planalto. Todas as fábricas da empresa, com exceção da 214 fábrica de Portugal, possuem os mesmos layouts, processos, sistemas integrados e etc. Em 2007, a empresa estava terminando a implementação de seu Código de Conduta para as unidades localizadas fora do Brasil. O Código de Conduta na Marcopolo foi uma ferramenta de gestão, criada em 2005, cujo objetivo era promover um relacionamento fundamentado no respeito, na confiança e na transparência, e assim assegurar a perpetuidade das empresas que fazem parte da Marcopolo (Relatório da Administração, 2005). Segundo entrevistas realizadas, até o ano de 2005, ocorreram alguns episódios na empresa que envolviam conflitos de interesses, como por exemplo, funcionários que eram também fornecedores, filhos de diretores que eram também representantes comerciais, o que pode representa um indício de fragmentação na organização. O Código de Conduta na Marcopolo serviu para orientar a empresa nesse tipo de questão. No mesmo ano, em 2005, o Conselho de Administração da Marcopolo aprovou a constituição de um Conselho de Herdeiros, com o intuito de preparar seus componentes para o processo sucessório, entendendo a conveniência e recomendações do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Neste mesmo ano, 2005, a Marcopolo foi incluída pela sétima vez consecutiva no Guia Exame - As Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil. Antes, a Marcopolo instituiu diversos programas para reconhecer o comprometimento e empenho de seus funcionários. Em 1986, foi criado o Prêmio Honra ao Mérito Marcopolo, que homenageia os funcionários que completam 215 qüinqüênios de trabalho na empresa. Os funcionários com menor tempo de serviço na empresa recebem certificados e premiações em dinheiro, já os mais antigos ganham viagens e broches de ouro. Entre 1986 e 1999, 7.500 colaboradores já haviam recebido essa premiação. Já nessa época, os empregados da Marcopolo eram chamados de colaboradores. Mais tarde, uma pesquisa interna foi realizada com toda a empresa para identificar qual nome os funcionários da empresa gostavam de ser chamados, e a denominação “colaborador” continuou apresentando a maior simpatia pela maior parte da empresa. Em 1987, foi implantado em toda a empresa o programa EFIMAR (Eficácia Marcopolo), com o objetivo de beneficiar os colaboradores pelos resultados positivos obtidos, através de um plano de remuneração variável. Já o Programa Vida, teve o intuito de manter um ambiente de trabalho saudável e satisfatório para seus funcionários, por meio de diversas atividades que também são oferecidas suas famílias. Tal programa contou com a parceria do Serviço Social da Indústria e da Organização das Nações Unidas. Algumas das atividades desenvolvidas foram (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999): • A família na empresa, com o objetivo de proporcionar às(os) esposas(os) de colaboradores, o convívio com a empresa; • Um dia especial na Marcopolo, momento em que filhos de colaboradores participam de programação especial, realizada no período das férias 216 escolares, tendo a oportunidade de conhecer as funções desenvolvidas pelos pais; • Chalheres, um encontro anual que promove a integração entre as colaboradoras; • Programa de prevenção e assistência a drogatização, cujos objetivos são levar esclarecimentos, aos colaboradores e familiares, sobre temas como alcoolismo, uso abusivo de alguns medicamentos e substâncias químicas, e promover encaminhamentos quando necessários; • Campanhas de vacinação. A Associação dos Funcionários Marcopolo (AFM) manteve seu caráter integrador ao longo da terceira fase de análise, promovendo diversas atividades, como a organização da 1ª Olimpíada Marcopolo, realizada no ano em que a empresa completou 40 anos, e criação de uma loja de vestuário, artigos esportivos e material escolar. Através dos diversos mecanismos desenvolvidos, a Marcopolo seguiu demonstrando seu pioneirismo na concessão de benefícios, serviços aos colaboradores e na busca pela qualidade de vida de seus funcionários. Tais atitudes somadas à visão que envolvimento de seus funcionários era determinante para fazer as transformações dentro da empresa, ajudaram a Marcopolo a consolidar sua reputação perante seus funcionários e clientes. 217 Devido a este conceito de participação que empresa imprimiu em suas atividades, e acabou se tornando um traço marcante na empresa, tudo indica que a Marcopolo seguiu desenvolvendo respostas satisfatórias ao desafio da diversidade, como indica a Tabela 4.26. Tabela 4.26 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase III) 4.3.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais A terceira fase de análise mostra que a questão da formação de recursos qualificados manteve sua importância como um desafio a ser tratado pela empresa. Ao longo desta terceira fase, conforme será apresentado, a Marcopolo desenvolveu diversos mecanismos para levar seus planos de expansão adiante, principalmente no que tange ao processo de internacionalização da companhia. 218 A seguir seguem as principais evidências que mostram a forma como a empresa tratou as questões da antecipação, formação, renovação e retenção de recursos gerenciais. A) Antecipação Em 1989, a Marcopolo deu início ao planejamento de uma escola. Inicialmente, esse investimento foi destinado aos filhos dos funcionários da Marcopolo, porém em seguida se estendeu aos jovens em geral, mesmo que não tivessem algum vínculo com a empresa. A escola foi inaugurada em 1991 a partir de um convênio com o SENAI do Rio Grande do Sul, e ao longo desse período formou muitos jovens (113 formados até o ano de 1999), que em seguida passaram a integrar o quadro de funcionários da empresa. Além da Escola, a Marcopolo desenvolveu outros mecanismos que visavam à preparação e antecipação de recursos. A partir do momento que teve a idéia de criar uma rede de representantes espalhada pelo Brasil, a Marcopolo passou a preparar seus funcionários para assumir tais posições, que podiam ser tanto no Brasil como também, mais tarde, no exterior. Segundo entrevistas realizadas com os diretores da empresa, tal conhecimento prévio do funcionamento da empresa e dos produtos da Marcopolo e era decisivo para a adaptação dos funcionários e o bom resultado das vendas. 219 Ao longo da terceira fase, a empresa também precisou estar preparada para iniciar seu processo de internacionalização. No início, as equipes eram enviadas sem muito respeitar a vontade do funcionário, pois a urgência falava mais alto. Em seguida, a empresa foi se estruturando para que o processo de internacionalização não fosse traumático para nenhum funcionário e fosse encarado como uma oportunidade única que empresa estava oferecendo. Em 2007, diversos dos executivos que tocam as operações em fábricas, como a do México e Portugal, são funcionários, cujas carreiras foram construídas em Caxias do Sul. Para estabelecer operações em culturas mais distintas da latino-americana e portuguesa, o processo de internacionalização exigiu outras medidas da direção da empresa. Há funcionários brasileiros espalhados pelas diversas fábricas da Marcopolo. Para se instalar em países como Índia e Rússia, a Marcopolo procurou formar alguém que tivesse, nestes casos, ascendência indiana ou russa. O objetivo era que estes funcionários, que já dominavam a língua e conheciam a cultura local, se tornassem mais tarde o gerente do projeto. Em entrevista realizada, o Sr. Carlos Zignani comentou como funcinava esta estratégia: “É claro, nós criamos um programa, desde a preparação na linguagem. Preparação na cultura para os países, aonde as pessoas iriam, e também nesse desenvolvimento nós trouxemos muita gente do exterior pra cá. Tem uma coisa que acho importante... Vamos para Rússia! O que nós fizemos primeiro? Quando pensar em Rússia, contrata alguém do país para ele já começar a fazer o levantamento socioeconômico do país. Aí ele faz tudo isso. Aí procuramos um parceiro, e ele vai sempre sendo envolvido. Depois no final, o que ele é? Ele é o gerente do projeto. Acabou-se, ele tá lá na Rússia. Ele é um descendente de russos, casou com uma russa, estudou na Rússia. Facilita tremendamente a entrada no país.... Nós tivemos com um chinês também... O indiano é o Chian (?). Ele trabalhou na 220 Volkswagen, ele é um descendente de indianos, e isso facilita a entrada no país. Cultura já consegue facilitar, já faz o meio de campo, e ele já vai ser o gerente do projeto.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) Por ser tratar de uma indústria intensiva em mão-de-obra, a Marcopolo precisa contar constantemente com funcionários preparados para desempenhar determinadas funções. Ao longo da entrevista realizada com o Sr. João Carlos Ferreira, gerente do SUMAN, foi identificado a existência de tal preocupação dentro da Marcopolo. O Sr. João Carlos foi um dos grandes responsáveis pela implementação do SUMAN entre os anos de 1986 a 1992, porém em 1992 ele se desligou da empresa, retornando dez anos mais tarde. Segundo a entrevista realizada, da mesma forma que havia pessoas aptas a substituí-lo naquela oportunidade, o entrevistado comentou que a empresa tem essa preocupação de sempre dispor de pessoas preparadas para assumir postos de trabalho que surgem. “Vicente: Quando você saiu, em 1992, tinha alguém preparado para assumir? João Carlos: Sim. Alguém que trabalhava comigo, que eu coordenava. Essa preocupação a gente tem de preparar alguém para ficar no lugar da gente. Porque aqui, a nossa própria supervisão, o pessoal gira, o pessoal está em uma linha, daqui a pouquinho numa outra. Está na fabricação, daqui a pouquinho vem pra linha. Está numa área, daqui a pouquinho vai pra outra. Então, a gente gira. Então, a gente não tem essa preocupação de – ah essa área aqui é minha e ninguém bota a mão! – Não tem essa preocupação, porque a gente gira bastante.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira) No que tange à sucessão, a Marcopolo criou um conselho de herdeiros para trabalhar nesta questão. Em 2006, por exemplo, os membros do Conselho de 221 Herdeiros participaram de diversos eventos promovidos por IBMEC Educacional, IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e FBN (Family Business Network). B) Formação A questão da formação de recursos qualificados, bem como nas fases anteriores, continuou ocupando importância dentro da Marcopolo ao longo da terceira fase de análise. Diversos mecanismos, alguns já criados nos anos anteriores, foram aperfeiçoados para que a empresa pudesse formar seus funcionários dentro do maior nível de qualificação. Por meio da visita realizada à sede da empresa em Caxias do Sul, notou-se que a empresa possui toda a estrutura necessária para possibilitar a formação necessária. As entrevistas realizadas confirmaram esta observação: “Aqui pode entrar sem saber fazer nada. Vem gente da colônia, entra aqui, a Marcopolo ensina. Nós não temos esse problema. Na produção aqui, se o cara não souber fazer nada, melhor ainda. A gente ensina, e fica bom. Aqui, no trabalho que a gente faz, é muito difícil tu pegar um profissional já formado, a não ser que ele já trabalhou na nossa concorrente..... Só se trabalhou lá. Porque senão o pessoal vem aí sem saber fazer nada e a gente treina. Vem da colônia, a gente bota aqui, vai treinando, vai ajeitando, daqui a pouquinho o cara está bom. Inteligência todo mundo tem. É só você saber usar, pro lado positivo e aí vai embora. O elogio, ele é fundamental.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira) Ao longo da década de 1990, a Marcopolo criou duas escolas de treinamento interno, ambas com auxílio do SENAI. Uma está situada na fábrica 222 Planalto e outra na Ana Rech. Com um corpo docente formado por uma equipe de instrutores da própria empresa, e com a supervisão pedagógica e a organização do currículo por parte do SENAI, a Marcopolo, realizou os investimentos (máquinas, equipamentos, espaço físico e salários) que possibilitaram a formação de centenas de jovens. Além da parte profissionalizante, disciplinas como Matemática, Segurança, Relacionamento Interpessoal e Visitas Técnicas fizeram inicialmente parte do programa, que constantemente passa por reformulações para acompanhar os avanços tecnológicos e as transformações do mercado. A estrutura da escola é também aproveitada na formação operacional dos demais colaboradores. Em suas instalações também são realizados treinamentos aos clientes sobre a operação e manutenção dos veículos adquiridos. Por meio do Programa de Incentivo à Educação, que concede bolsas de estudo aos colaboradores para realização de cursos nos níveis de ensino fundamental e médio, graduação, pós-graduação e mestrado, a empresa estimula também a formação acadêmica. Para isso, a empresa conta com diversos convênios, inclusive com a Universidade de Caxias do Sul. Já o Projeto Caminhar ofereceu aos colaboradores a oportunidade de conclusão dos estudos até a 4ª série do ensino fundamental. Tal projeto é realizado dentro das dependências da empresa e ao longo da década de 1990, concedeu certificados a mais de 100 funcionários. 223 O Centro Marcopolo de Educação Corporativa (CEMEC) foi criado em 2001 com o objetivo de auxiliar na formação dos executivos na empresa. Segundo as entrevistas realizadas, foi realizado um levantamento das principais competências necessárias a cada função e com o suporte da Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram elaborados módulos que contribuíram para a formação dos gestores da empresa. Ao longo de um programa que levou quatro anos, mais de cem gestores da Marcopolo, inclusive funcionários baseados em outros países, foram treinados. O curso teve sua grade curricular especialmente desenvolvida com foco no processo de internacionalização da empresa Ao longo da terceira fase de análise, diversas outras atividades também contribuíram para formação dos recursos da Marcopolo, como as visitas ao Japão para aprendizagem, que iniciaram na década de 1980 e ainda são recorrentes dentro da empresa. No início da implementação da filosofia japonesa, diversos treinamentos foram oferecidos aos funcionários da empresa, por uma série de instituições, como o Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais (IMAM). Visitas a outras empresas, principalmente as industriais, também fazem parte da formação de muitos funcionários da Marcopolo. De acordo com uma base de dados fornecida pela empresa, que contém informações referentes aos treinamentos realizados pela Marcopolo entre os anos de 1995 a 2006, foi possível obter alguns números que demonstram que a questão da formação de recursos qualificados ocupa espaço importante dentro 224 dos investimentos da empresa. A Tabela 4.27 apresenta alguns indicadores, que englobam todos os funcionários das filiais brasileiras. Tabela 4.27 – Alguns Números Referentes aos Treinamentos Realizados pela Marcopolo entre 1995 e 2006 Total de Treinamentos Realizados 278.496 Total de Funcionários Beneficiados 15.281 Total de Cargos que Obtiveram algum Tipo de 886 Treinamento Tipos de Treinamentos Realizados 3.247 Fonte: Elaboração Própria, baseada em base de dados fornecida pela empresa. C) Renovação No que tange à renovação, o principal evento que marca a transformação e a renovação dos recursos humanos da Marcopolo foi a introdução da filosofia japonesa na empresa. Tal implementação, como já mencionado, só foi possível graças à participação de todos os funcionários da empresa. Para isso também foi contratado o serviço de consultores e professores especializados no assunto, como José Maurício Banzato e Reinaldo A. Moura do IMAM. O Prof. Banzato realizou diversos cursos e assessorias sobre Just-in-Time/Kanban, na Marcopolo, entre o período de novembro /dezembro de 1986 e março de 1987. 225 Alguns anos mais tarde, em 1994, a empresa se viu envolvida em mais uma crise. Nesse momento, mais uma vez, a empresa recorreu aos serviços de consultorias externas para implementar uma série de iniciativas que objetivavam recuperar o crescimento da empresa: “Mas nada disso teria sido possível se a empresa não tivesse percebido, após a crise de 1994, que não bastava ter uma fábrica limpa, kanban, etc., que era preciso ter não só qualidade total, mas competitividade total, e que era necessário repensar o futuro da empresa.... E para isso foi fundamental a contratação de consultoria externa e a implementação de um plano de metas que permitiram orientar a empresa para resultados, aferir o desempenho e recuperar o crescimento da produtividade e o entusiasmo geral pela empresa. Os indicadores estabelecidos eram não apenas técnicos, como os vigentes até então, mas também voltados para as vendas e os lucros. Estes passaram a ser desdobrados na estrutura da empresa, permitindo o estabelecimento de uma política de remuneração variável para os empregados, de acordo com o seu desempenho.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA. Marcopolo S.A. (B), 1999, pg. 7) Segundo a entrevista realizada com o Sr. Carlos Zignani, nesse período, 1994/95, a Marcopolo contratou uma consultoria americana de gestão, a Athur D. Little, para redesenhar o modelo da organização. Em 1995, a estrutura da companhia passou a sofrer as primeiras mudanças. Os controladores foram para uma diretoria corporativa, saindo do dia-a-dia da companhia, passando a trabalhar, inclusive, fora do escritório da Marcopolo. Nesse momento, também foi criada a diretoria executiva, composta por executivos, que segundo o Sr. Zigani, permitiu que a Marcopolo começasse a se renovar também em termos de gestão. Nos anos seguintes, a companhia seguiu realizando mudanças em sua estrutura organizacional de modo a buscar novas oportunidades de negócios e 226 aprimorar o funcionamento da empresa, como se observa no Relatório de Administração de 1999. “Para fazer frente às novas oportunidades de negócios e perspectivas comerciais em fase de concretização, a empresa reformulou sua estrutura organizacional. Foram criadas as diretorias de Operações Internacionais e de Operações Comerciais no Brasil, com o objetivo de fortalecer as vendas e prestar um atendimento mais especializado aos clientes. Instituiu-se ainda a diretoria de Estratégia e Desenvolvimento, com a função de formular e direcionar as estratégias de longo prazo, acompanhar a evolução do setor, de novos mercados e de produtos. Foi também formalizada a diretoria de Engenharia, Aquisição e Logística, responsável, na sua área, pelo desenvolvimento de tecnologias e criação de contínuos diferenciais competitivos para a organização.” (Fonte: Relatório de Administração 1999). No entanto, apesar dos elementos apresentados e principalmente da introdução das técnicas japonesas de administração como elemento de renovação na empresa, não há elementos suficientes que indicam que a empresa tem dado respostas de fato satisfatórias na questão da renovação dos recursos gerencias. D) Retenção Segundo o Relatório da Administração de 2006, a Marcopolo estruturou um plano de carreira para seus funcionários para promover o crescimento profissional a partir da aquisição gradativa de competências e do domínio de novas habilidades pelos colaboradores. Além de receberem treinamento e orientação específica sobre o funcionamento do Plano, os colaboradores tiveram à sua disposição os perfis de todos os cargos e os mapas de carreira (que demonstram 227 as possibilidades de crescimento), em quiosques em diversos locais nas unidades e também pela Intranet da empresa. A política da empresa era dar prioridade ao aproveitamento do pessoal da casa via o Programa de Recrutamento Interno. Por outro lado, um dos principais pontos negativos apontados pelos funcionários da empresa em pesquisa realizada pelo Guia Você S.A./Exame - 150 Melhores Empresas Para Você Trabalhar 2007, foi que o plano de carreira da empresa parecia não ser do conhecimento de todos os colaboradores. Apesar de tal ponto negativo, a Marcopolo manteves-e presente em tal guia ao longo dos últimos nove anos (1999 – 1997), tendo ocupando posições de destaque entre as dez primeiras colocações. Mesmo tendo atravessado crises que afetaram o ambiente de tarablho, os funcionários apresentam muita identificação pela empresa. Através da visita realizada à sede da empresa e consequentemente das entrevistas e conversas realizadas com os funcionários, o carinho que os mesmos demostram pela empresa, como também a vontade de fazer carreira dentro da empresa, são sentimentos presentes na maioria dos funcionários. Segundo estas entrevistas, os funcionários dificilmente trocam a Marcopolo por outra empresa, como informou o Sr. Carlos Zignani. “A Marcopolo, como eu vou dizer, utiliza muito a mão-de-obra e motiva muito, dá muito treinamento. Possibilita para quem quer crescer o seu desenvolvimento. Dá desafios, acho que até foi muito acentuado nos últimos quinze anos, até mais do que no período logo que eu entrei, mas a Marcopolo sempre tem um carinho muito grande com as pessoas, tanto é que as pessoas... isso é um diferencial. As pessoas não saem da Marcopolo. Às vezes até ganhando menos, mas preferem ficar aqui porque sabem que aqui tem uma valorização. Às vezes não é só o dinheiro que 228 conta, mas a valorização pessoal, a oportunidade de se desenvolver, a oportunidade de apresentar propostas e ser ouvido, isso é importante.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) Devido a diversos mecanismos, muitos deles desenvolvidos desde seus primeiros anos, a Marcopolo manteve ao longo da terceira fase a característica de ser uma empresa onde a média de tempo de casa de seus funcionários é alta se comparada a diversas empresas brasileiras. De acordo com o Guia Você S.A./Exame - 150 Melhores Empresas Para Você Trabalhar 2007, o tempo médio na empresa de seus funcionários é 8.5 anos. A Tabela 4.28 abaixo apresenta uma listagem com alguns funcionários ou ex-funcionários da Marcopolo, que possuem mais de 30 anos de empresa. De acordo com o cadastro de funcionários disponibilizado pela empresa, verificou-se que existem 14 funcionários (ou ex-funcionários) que têm (ou tiveram) mais de 40 anos de empresa, 202 entre 30 e 40 anos, 793 entre 20 e 30 anos e 2851 entre 10 e 20 anos. Tais números demonstram que a empresa detém uma habilidade de retenção de pessoal. Tabela 4.28 – Lista de Funcionários da Marcopolo com Elevado Tempo de Casa 229 Fonte: Elaboração Própria, baseada em cadastro fornecido pela empresa. No que tange à rotatividade de pessoal, a Marcopolo apresentou nos últimos anos índices de rotatividade baixos, ao redor de 1% como se observa através da Tabela 4.29. Tabela 4.29 – Quadro de Pessoal e Índice de Rotatividade entre 2000 e 2006 230 Fonte: Relatórios de Administração 2002 e 2006 E) Sumário das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase III) Em suma, ao analisar o desafio da formação de recursos qualificados, notase que a Marcopolo, foi bem sucedida nas respostas a este desafio, tanto nas questões de antecipação, formação, renovação e retenção, como a Tabela 4.30 apresenta a seguir. Tabela 4.30 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase III) 231 4.3.5. Desafios da Gestão da Complexidade A terceira fase de análise da Marcopolo é o período que contém maior número de evidências em relação aos mecanismos desenvolvidos pela empresa para lidar com a questão da complexidade de forma sistemática. Um grande marco na forma como a empresa passou a tratar a resolução de problemas, sem dúvida, se deu com a implantação das técnicas japonesas de produção. Com implementação dessa nova filosofia, o ambiente da empresa mudou completamente. Segundo depoimentos coletados, todos os funcionários passaram a ser responsáveis pela supervisão e pela melhoria e aperfeiçoamento dos processos da Marcopolo. Grupos de melhorias foram montados, e a partir deles começaram a surgir as soluções para os diversos problemas que eram apontados pela gerência ou pelos próprios funcionários. Segundo entrevistas realizadas com diversos 232 funcionários, a capacidade da empresa em implementar tal filosofia na organização, com a participação voluntária de seus funcionários, foi determinante para a renovação e retomada do crescimento ao final da década de 1980. Segundo o Sr. João Carlos Ferreira, um dos principais responsáveis pela implementação do Sistema Marcopolo na empresa, os próprios funcionários passaram a perceber as melhorias que as novas técnicas e os procedimentos que estavam gerando para a empresa: “Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida! Daquele dia em diante, eu passei a não ter um olho só, eu tinha 52. Pra cuidar da qualidade, pra cuidar da limpeza, pra cuidar da organização. Minha vida facilitou um monte. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. E aí o pessoal continuou trabalhando e eu passei a enxergar coisa que eu pisava em cima e eu não via. Quando você está em um trabalho que não tem um sistema de trabalho, e hoje a gente tem, e sabe disso, nós trabalhamos aqui e a gente sabe, tudo fica difícil.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira) O próprio Sr. João Carlos, relata alguns exemplos de problemas que a nova filosofia ajudou a resolver dentro da empresa: “Pode ser um problema até de vassoura. E isso aconteceu! Trabalhava numa área de pré-montagem e tinham 34 bancadas. Cada bancada tinha uma vassoura e o setor sujo pra caramba, porque ninguém limpava. Aí o grupo resolveu, conversou com o pessoal e resolveu fazer: nós vamos botar 15 vassouras – 5 vassouras aqui, 5 vassouras ali e 5 vassouras aqui com uma pá. E é para ela estar sempre ali. É até mais fácil para a supervisão cobrar. Quantas vassouras sobraram? Eram 34, nós usamos 15, sobraram 19... Além do que eu como supervisor, se eles resolveram colocar aqui, senão tiver ali eu vou perguntar, não foram vocês que escolheram, como é que pode, onde é que está a vassoura? Se ela tiver quebrada, por que está quebrada? Troque! Então tu visualizas melhor e parece que não é nada. Ah, problema da vassoura, isso aí não bota em cartão, não bota em nada, isso se resolve fácil... Não é assim, não resolve fácil. Tinham 34 e o setor sujo pra caramba, ninguém varria. Cada bancada tinha uma vassoura. Com 15 nós resolvemos o problema.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira) 233 “Deixa-me ver um que deu um problema de qualidade... Um painel! Nós tínhamos um painel que a gente colocava lá na montagem A. E aí com a mudança de sistema, ele vinha, passava pela pintura, o pessoal botava caixa em cima e sujava ele. Nós chegamos até isolar ele. Ele chegava aqui na hora de usar, tinha que repintar. O que a gente fez? A gente conversou com pessoal, que fizeram uma pré-montagem nele e hoje, a gente coloca no primeiro posto aqui. E aí, cuida todo ele pra trás... É uma coisa de qualidade que o pessoal coloca também pra melhora, pra reduzir desperdício. Montamos uma célula de chapa de alumínio, montamos uma célula de retalho de chapa de alumínio, de retalho de aço, de retalho de tudo. Hoje não botamos pra fora nada, só os pedacinhos pequenininhos. A gente aproveita tudo de material. Uma vez, nós botávamos um monte de coisa fora. Então, é você ir trabalhando a conscientização desse pessoal, porque aqui também nós temos que cuidar. Aqui também, nós temos que fazer isso, nós temos que fazer redução de custo, que nós dependemos daqui. Se a fábrica aonde eu trabalho vai mal, eu também vou mal. Se a fábrica aonde eu trabalho vai bem, e ela tem lucro, ela pode daqui a pouquinho dividir comigo alguma coisa. Nós temos aí o nosso. E se ela não der lucro o que vai acontecer comigo?” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira) Com a introdução do Sistema Marcopolo, isto é o SIMPS e o SUMAN, alguns indicadores foram claramente afetados, principalmente nos primeiros anos da nova filosofia, como se observa nas Tabela 4.31 e Tabela 4.32. Tabela 4.31 – Dados Relativos à Atuação dos Grupos de Melhoria (1987 – 1997) 234 Fonte: FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo S.A. (A) e (B), 1999 Nota-se na Tabela 4.31 o elevado número de problemas que foram solucionados a partir dos grupos de melhoria, que englobavam boa parte dos funcionários da empresa. Através da Tabela 4.32, que aborda indicadores de produção e emprego, observa-se uma redução do absenteísmo médio e do número total de acidentes e afastamentos. Vale ressaltar que houve, também, uma redução do ciclo de produção dos ônibus, tanto rodoviários como urbanos. Tabela 4.32 – Alguns Indicadores de Produção e Emprego (1987 – 1997) Fonte: FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo S.A. (A) e (B), 1999 Em 1994, a Marcopolo atravessou mais uma crise, por conta da valorização do real e da crise de um grande mercado consumidor, o México. Nesse momento, alguns bons indicadores da empresa foram abalados, como produtividade e rotatividade, pois a empresa promoveu uma redução de pessoal e transferiu as 235 operações da fábrica Planalto para Ana Rech. Nesse momento, foram implementados novos programas para estimular a motivação dos empregados, como o PROMASOL-PQI (segurança, organização e limpeza com produtividade, qualidade e idéias). Foi também nesse período que a Marcopolo percebeu a necessidade de buscar a certificação pelas normas ISO, uma exigência que muitos clientes, principalmente no exterior estavam apresentando. Ao contrário de muitas empresas, a Marcopolo não contratou uma consultoria externa, e as certificações ISO 9002 e 9001 foram alcançadas em 1996 e 1997, respectivamente. Segundo relatos, em algumas áreas da Marcopolo os padrões eram até superiores ao exigido na certificação, e apesar de alguns setores apresentarem manuais bem precisos, outras áreas não os possuíam. Além se ser uma exigência do mercado internacional, as certificações ajudaram a unificar as visões internas sobre qualidade, que nem sempre convergiam (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA. Marcopolo S.A. (B), pg.3). Por meio da comprovação da ISO, foi possível para empresa obter a formalização e a equalização dos processos, ganhando um ritmo sistemático do fluxo de produção, agilizando e aprimorando o atendimento aos clientes e intensificando parcerias com os fornecedores. (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 61). Com o passar do tempo, a Marcopolo foi conquistando diversas outras certificações, como a ISO 14000, que trata a preservação do meio ambiente. 236 No que tange à qualificação de pessoal, a Marcopolo não beneficiou somente seus funcionários. A empresa realizou treinamentos ao pessoal técnico das empresas controladas, aos representantes comerciais, como também aos prestadores de serviços, o que possibilitou a agilização do atendimento aos clientes e a padronização do sistema de informações externas a fábrica, demonstrando a habilidade da Marcopolo em navegar no ambiente ao capturar valor e assegurar a legitimidade da organização. Ao longo da terceira fase, a Marcopolo implementou outros dois mecanismos que orientaram a gestão da empresa em questões bem complexas. O primeiro foi a elaboração do Código de Conduta. Por meio desse código, segundo as entrevistas realizadas, a empresa procurou disciplinar diversas situações que ocorriam na vida da empresa. “O Código de Conduta da Marcopolo está respaldado em princípios claros de boa Governança e se pauta em práticas que sejam do conhecimento de todos. Esse conceito tem a ver com a qualidade de atitudes e ações das pessoas, podendo se afirmar que o ser humano é o grande direcionador da Governança Corporativa... A base para o Código de Conduta é o relacionamento interpessoal, fundamentado no respeito, na confiança e na transparência, essenciais para garantir a perpetuidade das Empresas que fazem parte da Marcopolo.” (Código de Conduta) Tais padrões de condutas passaram a refletir no relacionamento entre os agentes que fazem parte do ambiente da Marcopolo, como colaboradores, acionistas, clientes, fornecedores de produtos e serviços, representantes comerciais, sindicatos, entidades de classe, governo, imprensa e a comunidade em geral. 237 Três anos antes, a Marcopolo implementou um programa denominado Gestão de Valor Agregado (GVA), para orientar o foco dos objetivos estratégicos e das ações operacionais para a agregação de valor ao negócio (Relatório de Administração 2002). O sistema GVA foi desenvolvido com a participação da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (EAESP) e com o apoio da consultoria de gestão, The Boston Consulting Group (BCG). “Como instrumento de trabalho, facilita a simulação e a análise da eficiência na gestão do capital de giro e dos efeitos de novos investimentos na rentabilidade da Companhia. Rigidez nos controles de sucata, no retrabalho e no desperdício de materiais, eficiência da mão-de-obra e controle de horas extraordinárias permitiram uma melhoria nas margens. Igualmente, novos procedimentos de logística e gestão de estoques, contas a receber e investimentos de capital proporcionaram um aumento do giro do capital empregado no negócio. O sistema de remuneração variável adotado pela companhia utiliza, também, a metodologia do GVA para avaliação de desempenho dos colaboradores.” (Relatório de Administração 2002) Além de implementar um sistema que facilitou a gestão das atividades da empresa, ainda em 2002, a empresa aderiu ao nível de 2 de Governança Corporativa da Bovespa, sendo a primeira empresa industrial brasileira a adotar tais padrões e regras. Ao longo da terceira fase, a Marcopolo se manteve bem sucedida nas questões de integração da organização e formação dos recursos qualificados, como comentou o Sr. Carlos Zignani. “Então nós temos muitos programas de suporte, de apoio, de treinamento, mas principalmente de participação nos resultados também, quer dizer, precisamos deixar as pessoas motivadas, depois nós para comentar para você, nosso pessoal ganha talvez quase dois salários por ano de participação nos resultados. São sistemas que nós estamos criando ao 238 longo do tempo que comprometam as pessoas, dêem motivação e que as pessoas também estejam preparadas para assumir cargos, para assumir novos desafios.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani) Outras duas evidências que demonstram a forma como a Marcopolo foi desenvolvendo habilidades para tratar questões complexas foram a introdução do modelo de compras através do regime de Global Sourcing e as estratégias que passaram a ser adotadas para o processo de internacionalização. As compras através do Global Sourcing permitiram que a empresa se tornasse menos exposta às oscilações de preços de seus fornecedores, muitas vezes impactadas pelas variações cambiais, tornando seu produto mais competitivo em relação a seus competidores em nível mundial. Já o processo de abertura de novas operações, seja no Brasil ou no exterior, por alguns momentos na história da Marcopolo não alcançou o desempenho esperado, como nos seguintes casos: Marcopolo Minas (fase II), parceria com a Dina no México, fábrica na Argentina que foi desativada, e contrato de transferência de tecnologia para a China. Em seus últimos investimentos, Colômbia, México, Rússia e China, a empresa tem sido mais cautelosa na análise do mercado, na escolha de seus parceiros locais, na estruturação do modo de operação, e na elaboração de planos de crescimento. Por meio deste continuo auto-aprendizado proporcionado pelos diversos mecanismos criados e aperfeiçoados, destacando principalmente a filosofia japonesa de administração, pode-se dizer que Marcopolo, ao longo da terceira 239 fase de análise, seguiu buscando a resolução de problemas de forma sistemática, se tornando menos vulnerável a eventuais adversidades. Através de tais mecanismos, como se observa na Tabela 4.33, a Marcopolo foi bem sucedida em suas respostas em todos os desafios que compõem a gestão da complexidade: empreendedorismo (com exceção do serviço julgamento), navegação no ambiente, gestão da diversidade e formação de recursos gerenciais. Tabela 4.33 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase III) 240 5. CONCLUSÃO 5.1. CONCLUSÕES GERAIS A Marcopolo chega ao início do século XXI na posição de liderança na indústria de carrocerias de ônibus. Mesmo não tendo seu nome associado aos primórdios da indústria de ônibus no Brasil, como a Grassi que fechou as portas na década de 1970 e a Caio, fundada em 1946 por José Massa, que trabalhou na Grassi por 18 anos. Seguindo a visão de Chandler (1990), a Marcopolo não foi a primeira a primeira a investir na indústria de ônibus, e no início seus modelos não chegaram a ser revolucionários. De acordo com as próprias entrevistas realizadas, admitiuse que era comum aproveitar as idéias da concorrência nacional, como dos produtos feitos fora do Brasil para aperfeiçoar os modelos da Marcopolo. No entanto, de acordo com as evidências levantadas, a Marcopolo desde sua fundação tem realizado investimentos consideráveis em produção, gestão e principalmente marketing e distribuição. Apesar disso, não se pode caracterizá-la como uma first mover, pois neste estudo não foi pesquisada a história de suas concorrentes em um nível profundo. O apetite da Marcopolo pelo mercado externo é observado desde a primeira fase da análise, sendo que seu pioneirismo em exportações de ônibus no 241 Brasil culminou mais tarde com o domínio da tecnologia CKD e com o processo de internacionalização. A empresa, também, soube desenvolver estratégias interessantes de marketing e distribuição, através das campanhas de lançamentos de seus produtos, da participação de feiras de ônibus nacionais e internacionais e da estruturação de uma rede de representantes no Brasil e mais tarde, por todo o planeta. Os ônibus da Marcopolo circulam em mais de 100 países em todo o mundo. Apoiando-se também nos fatos expostos, esta dissertação teve o objetivo de responder a seguinte pergunta e para isso tomou-se o ferramental proposto por Fleck (2006) para fundamentação teórica: Quais desafios enfrentam as organizações e como lidam com eles para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em seu tamanho ao longo de suas trajetórias, para se manterem firmes em direção à longevidade saudável? A análise da trajetória de crescimento da Marcopolo indica que a firma, ao longo dessas quase seis décadas, apresentou respostas satisfatórias aos desafios de crescimento, em grande medida ligadas ao pólo da autoperpetuação, ou seja, em direção a longevidade saudável. Eis porque a empresa conseguiu crescer de 242 forma consistente, superar as diversas adversidades que encontrou e se destacar no cenário internacional como umas das principais fabricantes de carrocerias do mundo. Para entender como a empresa se mantém na liderança do mercado e a caminho da longevidade saudável, foi preciso analisar elementos que fazem parte dos seus primórdios, como por exemplo sua habilidade em levantar recursos financeiros, e a forma como a empresa respondeu ao desafio da diversidade de maneira construtiva. A Tabela 5.1 traz uma síntese das respostas oferecidas pela firma, a cada um dos desafios de crescimento e suas dimensões de análise, ao longo das três fases em que sua história foi dividida. Tabela 5.1 – Resumo das Respostas da Marcopolo aos Desafios de Crescimento 243 Quanto a cada desafio, vale destacar os seguintes comentários e que onde residem os principais pontos fortes da empresa em direção a longevidade saudável: Empreendedorismo: Ao longo de toda sua história a Marcopolo mostrouse com ímpeto em crescer. Em determinado momento tal ímpeto levou a empresa a passar por riscos desnecessários, como os maciços investimentos no final de década de 1970, que não foram revertidos em lucros no início da década de 1980. No que tange à engenhosidade em levantar fundos, talvez resida nesse quesito, uma grande particularidade da Marcopolo em relação a diversas empresas brasileiras. A empresa sempre se mostrou hábil em levantar fundos, mesmo nos ambientes inóspitos vividos no início da empresa e no meio da década de 1980. O fato do capital da comunidade de Caxias do Sul financiar os primeiros movimentos da empresa fortaleceu sua imagem e reputação na cidade. Como já mencionado, é no serviço do julgamento que as respostas da empresa se mostraram menos satisfatórias. No entanto, em virtude das experiências desastrosas parece que a empresa aprimorou, nos últimos anos, sua maneira de avaliar o ambiente, dado uma análise mais sólida de seus movimentos, como a entrada em países que a empresa há tempos estuda, como Índia e Rússia. 244 Navegação no Ambiente: Com origem em uma cidade fora do eixo econômico brasileiro, a Marcopolo desde cedo mostrou habilidade em navegar no ambiente no qual esteve inserida, seja almejando criação e captura de valor ou legitimidade organizacional. Atualmente a marca Marcopolo é vista com sinônimo de ônibus em mercados onde ela está presente. A cidade de Caxias do Sul se tornou um dos principais pólos metal-mecânico do Brasil, muito devido à influência exercida pela Marcopolo. A empresa, por meio das marcas Marcopolo, Ciferal e Neobus, é líder em todos os segmentos de ônibus, e seu produto apesar de mais caro é visto como diferenciado pelas empresas de ônibus, sejam elas de transporte urbano ou rodoviário. Por último e não menos importante, vale destacar a habilidade da empresa em criar mecanismos favoráveis a um melhor balanceamento de sua demanda, evitando ociosidade em suas fábricas e equilibrando sua produção ao longo do ano. Tais mecanismos criados são em parte, também, pelo bom trâmite da empresa nas esferas municipal, estadual e federal. Gestão da Diversidade: Mesmo antes de visitar a empresa, o volume de publicações que destacavam os valores da empresa e a relacionamento com seus colaboradores (essa é a forma que preferem ser chamados), já impressionava. Após a visita, foi possível confirmar que a admiração pela empresa, por parte dos habitantes de Caxias do Sul e principalmente os 245 próprios colaboradores, transcendem o horário de expediente. A empresa além de ser o primeiro empregador de muitos colaboradores, em muitos casos é o único também. De acordo com entrevistas realizadas, o funcionário ao ingressar na Marcopolo é rapidamente introduzido à cultura da empresa e seus respectivos valores, se acostumando e se sentindo bem com a filosofia da Marcopolo. Dificilmente deixa a empresa, mesmo por uma remuneração mais atraente. A empresa, com a plena participação dos colaboradores, oferece inúmeras atividades aos seus colaboradores e aos seus familiares, o que fortalece a integração organizacional. Formação de Recursos Gerenciais: Mão-de-obra qualificada nunca foi uma prerrogativa dos maiores centros econômicos do Brasil, não podendo ser diferente em Caxias do Sul. No início a empresa passou por diversas dificuldades. No entanto, graças a Metalúrgica Abramo Eberle, uma insipiente, porém necessária mão-de-obra especializada esteve disponível em Caxias do Sul nos primeiros anos de vida da empresa. Antevendo a necessidade de recursos qualificados para seu crescimento, a empresa firmou parcerias com diversas instituições, para oferecer boa formação para seus funcionários. Atualmente, a empresa tem internamente uma escola para formação de técnicos e um relacionamento muito próximo com a Universidade de Caxias do Sul. 246 Gestão da Complexidade: No início, como ocorreu nas maiorias empresas contemporâneas à Marcopolo, grande parte do aprendizado era empírico e na “marra”. Com o passar do tempo, a empresa foi desenvolvendo procedimentos, processos, e um sistema, para gerir seu processo produtivo com eficiência. Sem dúvida, o grande salto da Marcopolo veio com a implementação depoimentos, das além técnicas de japonesas aperfeiçoar de processos, produção. reduzir Segundo custos de desperdícios, o Sistema Marcopolo ofereceu uma forma de resolução de problemas de forma sistemática. Pela visita realizada, foi possível ver em campo o Sistema Marcopolo e seus inúmeros instrumentos regendo a linha de produção da empresa. Quanto ao fomento do aprendizado, vale destacar que a Marcopolo se tornou uma empresa internacional e metade de seu faturamento tem origem no mercado externo. Embora a Marcopolo tenha tropeçado em algumas parcerias e alguns investimentos, a empresa tem se mostrado nos últimos anos mais cometida e com uma estratégia sólida ao escolher os mercados que deseja entrar e os parceiros com os quais vai se relacionar. Ao retomar o framework proposto por Fleck (2007) (página 1) que aborda a ambivalência que o tamanho pode trazer para a organização, vemos que a Marcopolo conseguiu superar aspectos negativos desta ambivalência, sendo 247 capaz de renovar suas rotinas e relações com o ambiente, escapando de efeitos colaterais, como a inércia, rigidez e resistência a mudanças. Quando se considera apenas a terceira fase de análise da empresa, período também com maior disponibilidade de dados coletados, nota-se que foi nesse período que a empresa se tornou líder no mercado brasileiro. Mesmo com fábricas em diversas localidades, seja no Brasil ou exterior, percebe-se que apesar de uma estrutura maior e uma operação mais complexa, a empresa não tem apresentado sinais de inércia, rigidez e resistência a mudanças, como se espera para uma organização deste porte. A forma como foi introduzido o Sistema Marcopolo de Gestão é a principal evidência que a empresa, que na ocasião já era uma das maiores encarroçadoras do Brasil, não estava presa a práticas de gestão, ou hábitos enraizados, que podiam obstruir a implementação de mudanças. Adotando uma estratégia alternativa, a diretoria da Marcopolo não impôs a adesão do sistema por seus funcionários. Por meio de palestras opcionais que ocorriam após o expediente, o sistema foi atraindo a atenção dos funcionários e gradativamente foi abraçado pela empresa. Passados os anos, ele se tornou um dos pilares que sustentam o funcionamento da Marcopolo, se constituindo no principal indício que a empresa passou a responder de forma satisfatória o desafio da complexidade. A força desse sistema na cultura da empresa é enorme, pois além de contribuir para uma renovação constante dos processos produtivos que regem a empresa, tem papel 248 fundamental nas respostas aos outros desafios do crescimento como na navegação do ambiente, vide a influencia do regime produtivo da Marcopolo com os fornecedores. O estudo dessas inter-relações por si só já merece ser objeto de uma pesquisa futura. 5.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Assim como já defendido por Dantas (2007), a falta de uma metodologia que permita empregar indicadores quantitativos para a avaliação de uma empresa sob a ótica dos arquétipos de Fleck (2006), se constituiu no maior desafio para o autor. Apesar de alguns trabalhos já buscarem caminhos menos subjetivos, através da atribuição de notas para as respostas e somando-os para o cálculo de um indicador, esta metodologia de análise ainda está bem fundamentada em critérios qualitativos. De fato, quando se mergulha em um estudo desta natureza, é difícil mensurar com precisão o que, em minha opinião, parece ser imensurável. Diversos outros autores conviveram com o mesmo desafio em seus trabalhos, como Porter (1990), que não chegou a quantificar suas 5 forças, e nem por isso esse ferramental perdeu seu importância e aplicabilidade para a literatura acadêmica e para o ambiente corporativo. No entanto, de fato há um caminho 249 amplo que pode ser percorrido para que as respostas das empresas aos desafios do crescimento sejam mais bem quantificadas. Outro desafio nesta pesquisa foi falta de estudos setoriais sobre a indústria de carrocerias de ônibus. Se no caso da indústria automobilística (entenda-se veículos leves) há ampla literatura disponível, no caso da indústria de ônibus, são poucas as fontes de informação que contam a história da indústria de ônibus. Nessa linha, outro desafio foi traçar comparação do tamanho da Marcopolo com as maiores fabricantes globais. Não existe uma entidade internacional que congregue apenas as empresas genuinamente encarroçadoras de ônibus. As grandes fabricantes de chassis, que até o final da década de 1990 produziam monoblocos no Brasil, quase sempre são unidades de grandes montadoras, como Volkswagen, Volvo, Scania e Daimler Chrysler. Essas empresas reportam para a OICA sua produção de ônibus na forma consolidada (monoblocos + chassis), o que impede um cálculo preciso da participação na Marcopolo no mundo. No entanto, esta dificuldade em apontar o tamanho da Marcopolo no cenário mundial desperta uma curiosidade. Embora pareça uma grande empresa, a Marcopolo poderia ser comprada por uma grande montadora internacional? Qual seria de fato sua relatividade no ambiente global? Utilizando uma base de dados que engloba apenas parte de sua história, entre 1981 e 2006, construiu-se o Gráfico 5.1, que traz os indicadores de tamanho (Receita/PIB), desempenho (Lucro/PIB) e a produção de ônibus da empresa 250 nesse período. Percebe-se que apesar do crescimento de produção dos últimos anos, como entre 1999 e 2005, a empresa não teve alterado seu tamanho na economia como um todo, o que tira parte do brio do crescimento apresentado. Gráfico 5.1 – Curva de Crescimento da Marcopolo entre 1981 e 2006 Curva de Crescimento do Grupo Marcopolo (1981 a 2006) 16,000 14,000 0.15% 12,000 10,000 0.10% 8,000 0.05% 6,000 Produção de Ônibus Indicador de Tamanho (Receita / PIB) e Desempenho (Lucro/PIB) 0.20% 4,000 0.00% 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 -0.05% 2,000 0 Receita / PIB Lucro / PIB Produção Fonte: Relatórios Anuais de 1983 a 2006, Grigorovski (2004), Banco Central e Memorial Marcopolo Olhando o ambiente brasileiro de negócios, seria interessante traçar curvas e realizar estudos comparativos com outras encarroçadoras brasileiras, como a Caio, a Busscar e até mesmo a Ciferal (antes de ser adquirida pela Marcopolo), para entender os isomorfismos da indústria e desvendar em quais pontos estas empresas realmente diferem entre si ao ponto da Marcopolo ter ocupado a liderança do mercado. 251 No que tange apenas a Marcopolo, vemos uma diretoria que comanda a empresa há décadas. Nessa questão foi identificada uma falta de evidências suficientes pra tratar a questão da renovação na última fase de análise. Será que a empresa de fato estaria pronta para caminhar sem a presença de seu fundador e dos outros controladores? Os valores da empresa estariam ameaçados? Em linha com a segunda pergunta, há outra questão a ser estudada, diretamente relacionada com o processo de internacionalização vivido principalmente na última década. Os fortes valores que unem e fortalecem a integração organizacional estariam ameaçados com a expansão da empresa para países com culturas tão diferentes da brasileira? 252 6. REFERÊNCIAS ABREU, Cláudio. Kortrijk mostra o melhor do ônibus. Revista Abrati, n.35, Brasília, Dez. 2003, p. 42. ANFAVEA. Indústria Automobilística Brasileira: 50 Anos, 2006 ANFAVEA. Anuário da Indústria Automobilística Brasileira / Brazilian Automotive Industry Yearbook, 2006 BARNARD, C. The Functions of the Executive. 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Esta nomenclatura é a mesma utilizada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), fundada em 15 de maio de 1956, que reúne as empresas fabricantes de autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus) e máquinas agrícolas automotrizes (tratores de rodas e de esteiras, colheitadeiras e retroescavadeiras) com instalações industriais no Brasil. A Anfavea foi criada no Brasil com três atribuições principais: estudar temas da indústria e do mercado de veículos e máquinas agrícolas, coordenar e defender interesses das empresas associadas e patrocinar exposições automotivas e outros 265 eventos de caráter institucional. Essa associação iniciou as mais importantes campanhas institucionais da indústria automotiva, como por exemplo, a primeira Exposição Automobilística Brasileira, montada no Rio de Janeiro em 1957, e os salões do Automóvel, realizados em São Paulo a cada dois anos, a partir de 1962. Um mês após a fundação da Anfavea, no dia 16 de junho de 1956, Juscelino Kubitschek assinou o Decreto 39.412, decretando a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA). Este episódio faz com que se considere o dia 16 de junho de 1956 como a data de nascimento da indústria automobilística no Brasil. O BNDES, fundado em 1952, era um dos órgãos do governo federal que fazia parte do GEIA e com voz bem ativa na formulação do programa da indústria. O GEIA tinha por objetivo instalar a indústria automobilística e promover a rápida fabricação dos bens de consumo (carros de passeio) e dos bens de produção (veículos de carga); estes últimos sendo prioritários no início da indústria. Outra finalidade do GEIA era suavizar os efeitos sobre o balanço de pagamentos, em virtude das crescentes importações tanto de carros de passeio como de veículos de carga e transporte de passageiros. Os mecanismos utilizados eram as definições de normas de instalação, de metas de produção e de planos de nacionalização, como a autorização e acompanhamento dos projetos. Por meio do GEIA, o governo federal lançou um conjunto de decretos que inibiram a importação e estabeleceram incentivos de natureza cambial e fiscal. Alguns exemplos dessas medidas foram: a concessão de cotas para importação 266 de peças não produzidas no país, o câmbio favorecido para importação de equipamento e a isenção tarifária para importação de componentes destinados a automóveis. Os direitos aos incentivos só eram dados aos projetos aprovados pelo GEIA. Foi estabelecido também um programa de nacionalização rápida para as peças: já em 1960, caminhões e veículos utilitários deveriam atingir 90% de nacionalização, e jipes e carros de passeio, 95%. O esforço para produzir os insumos no país incluía financiar e incentivar a indústria de autopeças pelo BNDES, bem como estabelecer maior participação da manufatura nacional. Após várias medidas governamentais, dezoito empresas apresentaram projetos, mas apenas onze tiveram projetos implantados. Não era proibido financiar empresas estrangeiras, porém era indispensável analisar o grau de prioridade de investimento em setores específicos e apurar se tal prioridade só poderia mesmo ser atendida por uma empresa estrangeira. A indústria automobilística era vista como prioritária pelo governo e foi considerado que sua criação deveria ter participação de capital externo, ou seja, dos fabricantes internacionais de automóveis, no entanto, com um programa de gradativa nacionalização. No ano de 1967, o Geia foi substituído pelo Grupo Executivo da Indústria Mecânica (GEIMEC), que em 1969 foi absorvido pelo Grupo Executivo da Indústria Automotora (GEIMOT). O Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI) foi também criado, e sua autorização era necessária para os investimentos. Era o 267 CDI que coordenava as atividades de obtenção de recursos, como a concessão de incentivos e os financiamentos do BNDES. Em 1970, com a reorganização do CDI, oito Grupos Setoriais foram estabelecidos, entre os quais o GS-VI e então (a partir de 1976) o GS-V, que cuidavam da indústria de veículos automotores e componentes. Ao longo desses cinqüenta anos, a indústria automobilística brasileira, assim como o país, passou por diversas transformações; cresceu, se modernizou, abriu fronteiras e em 2005, segundo dados da Organisation Internationale des Constructeurs d'Automobiles (OICA), o Brasil apareceu como o 9º maior produtor mundial de veículos (automóveis mais veículos comerciais, que engloba comerciais leves, caminhões e ônibus), com quase 4% da produção mundial, como pode ser visto na Tabela 7.1. 268 Tabela 7.1 – Produção Total de Veículos por País em 2005 Rank Country Cars 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 United States Japan Germany China South Korea France Spain Canada Brazil United Kingdom Mexico India Russia Thailand Italy Belgium Turkey Iran Poland Czech Rep. Malaysia South Africa Indonesia Taiwan Australia Sweden Argentina Austria Portugal Slovakia Ukraine Romania Netherlands Slovenia Hungary Uzbekistan Egypt Finland Serbia Other countries Grand total 4,321,272 9,016,735 5,350,187 3,078,153 3,357,094 3,112,961 2,098,168 1,356,198 2,009,494 1,596,296 989,840 1,264,000 1,068,145 277,603 725,528 895,788 453,663 725,000 540,000 599,472 405,000 324,875 233,492 323,819 316,414 288,659 182,761 230,505 137,602 218,349 196,722 174,538 115,121 138,393 148,533 87,512 48,034 21,233 12,574 299,266 46,009,207 Commercial Vehicles 7,659,640 1,782,924 407,523 2,629,535 342,256 436,047 654,332 1,332,165 518,806 206,753 680,563 362,755 283,054 847,713 312,824 33,177 425,429 92,200 85,443 5,458 158,837 200,396 261,059 122,526 78,299 49,919 136,994 22,689 81,533 0 19,037 20,264 65,627 39,558 3,482 8,302 21,189 411 1,605 116,847 20,456,561 Total 11,980,912 10,799,659 5,757,710 5,707,688 3,699,350 3,549,008 2,752,500 2,688,363 2,528,300 1,803,049 1,670,403 1,626,755 1,351,199 1,125,316 1,038,352 928,965 879,092 817,200 625,443 604,930 563,837 525,271 494,551 446,345 394,713 338,578 319,755 253,194 219,135 218,349 215,759 194,802 180,748 177,951 152,015 95,814 69,223 21,644 14,179 416,113 66,465,768 Market Share 18.0% 16.2% 8.7% 8.6% 5.6% 5.3% 4.1% 4.0% 3.8% 2.7% 2.5% 2.4% 2.0% 1.7% 1.6% 1.4% 1.3% 1.2% 0.9% 0.9% 0.8% 0.8% 0.7% 0.7% 0.6% 0.5% 0.5% 0.4% 0.3% 0.3% 0.3% 0.3% 0.3% 0.3% 0.2% 0.1% 0.1% 0.0% 0.0% 0.6% 100.0% Change to 2004 0% 3% 3% 9% 7% -3% -9% -1% 9% -3% 6% 8% -3% 21% -9% 3% 7% 4% 4% 35% 19% 15% 21% 4% -4% 0% 23% 2% -3% -2% 15% 59% -27% 35% 24% 19% 40% 0% -7% 3,1% Fonte: OICA 269 A OICA foi fundada, em Paris, no ano de 1919 e é uma organização que compreende 42 associações nacionais em todo o mundo, incluindo aquelas que fazem parte dos principais países produtores. A organização mantém um comitê permanente que conduz atividades nas áreas de tecnologia, políticas econômicas e industriais, e consolida as estatísticas da indústria mundial. O Comitê também coordena os salões internacionais de automóvel. Segundo os dados da OICA, os cinco maiores fabricantes mundiais de veículos em 2005 foram General Motors, Toyota, Ford, Volkswagen e DaimlerChrysler, nesta ordem. Abaixo é possível visualizar na Tabela 7.2, a produção em unidades dos maiores fabricantes de veículos neste ano. Tabela 7.2 – Produção Total de Veículos por Fabricante em 2005 Rank 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 Fabricante General Motors (Opel-Vauxhall-GM Daewoo) Toyota Ford (Jaguar-Volvo cars) Volkswagen Group DaimlerChrysler (with Evobus) Nissan Honda PSA Peugeot Citroën Hyundai-Kia Renault-Dacia-Samsung Suzuki-Maruti Fiat-Iveco-Irisbus* Mitsubishi BMW Mazda Daihatsu Avtovaz Dongfeng (without Citroën) Fuji (Subaru) Beijing AIG (without Hyundai- Isuzu) FAW Group (without VW, Toyota, Mazda) SAIC-Sangyong (without GM&VW) Isuzu Chana Automobile Liability Tata (Telco) Harbin Hafei Automotive Total Unidades 9,097,855 7,338,314 6,497,746 5,211,413 4,815,593 3,494,274 3,436,164 3,375,366 3,091,060 2,616,818 2,071,707 2,037,695 1,331,060 1,323,119 1,287,561 1,011,249 721,492 593,055 591,825 559,190 539,029 518,353 510,730 422,168 419,445 225,260 Rank 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 Fabricante Volvo-Renault Trucks-Mack Gaz Chery Auto Anhui Jianghuai Auto Paccar-Daf Zhejiang Geely Manhindra&Mahindra Navistar Changhe Aircraft Industrie Nanjing Auto Jinbei Auto Holding Porsche Hino MAN-ERF-NEOMAN Bus UAZ Great Wall Motor Kamaz Scania Soueast Auto Industrial Ijmach-Avto Nissan Diesel MG Rover Evobus Total Manufacturers shown Others manufacturers (China, India, Russia, Poland, Turkey) Total production Total Unidades 215,420 214,755 185,588 167,436 149,629 149,532 125,994 122,326 115,652 111,397 109,505 98,135 97,381 76,066 68,687 67,657 62,324 59,506 58,649 49,803 41,071 29,141 7,309 65,318,744 1,146,664 66,465,408 Fonte: OICA 270 A OICA é representada pelo Brasil por meio da Anfavea, que conta com 24 fabricantes associados, os quais produzem automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. Estes 24 fabricantes exportaram em 2005 um total de US$ 11,2 bilhões, um volume que correspondeu, aproximadamente, por 10% das exportações brasileiras. Outro bom resultado para o setor no Brasil em 2005, foi a produção de cerca de 2,5 milhões de veículos. Essa foi a melhor marca da história, como pode ser visto no Gráfico 7.1 Gráfico 7.1 - Produção Brasileira de Veículos (1957-2005) Produção de Veículos (1957 - 2005) 3,000,000 2,500,000 2,000,000 1,500,000 1,000,000 500,000 19 57 19 59 19 61 19 63 19 65 19 67 19 69 19 71 19 73 19 75 19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01 20 03 20 05 0 Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006 271 Neste mesmo ano, a indústria automobilística brasileira foi responsável por 106 mil empregos, 5,2% de acréscimo em relação aos postos de trabalho de 2004. (ANFAVEA. Indústria Automobilística Brasileira: 50 Anos, 2006). No anexo 8.2, encontra-se a produção total e por segmento de veículos no Brasil de 1957 a 2005. Em 2005, incentivado pelo crédito do consumidor, 1,7 milhões de veículos novos foram vendidos no Brasil, com uma participação de 5% de importados – aproximadamente 88 mil unidades. Observa-se pelo Gráfico 7.1 que alcançar a produção de 2,5 milhões de unidades não foi um resultado conquistado em um curto espaço de tempo. Enquanto no ano de 1999, o Brasil atingiu sua menor produção nos últimos 10 anos, com 1.356.714 unidades, a marca recorde obtida em 2005 representa um acréscimo de 86,4% em relação a 1999. Para se poder dimensionar o tamanho do parque automotivo brasileiro, a Tabela 7.3 mostra a produção acumulada de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) entre o período de 1957 a 2005. Tabela 7.3 – Produção Acumulada de Veículos (1957-2005) AUTOMÓVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL 36,105,689 6,894,293 2,843,980 613,757 46,457,719 Fonte: ANFAVEA 272 Como já apresentado, na década de 1950 foram concedidos pelo governo brasileiro uma série de benefícios para estimular a produção nacional. Estes incluíam taxas de câmbio mais favoráveis apenas para a importação de peças que não eram fabricadas localmente, e crédito para financiamento de máquinas e equipamentos destinados à instalação e ampliação do parque fabril brasileiro. Após a fase de implantação, o setor automotivo brasileiro cresceu no período de 1968 a 1974, a taxas médias de 20% ao ano. Este crescimento é explicado graças aos mecanismos de crédito criados pelo governo para consumidor adquirir veículos. Em 1978, o Brasil rompeu a barreira de 1 milhão de unidades/ano. No entanto, as sucessivas crises econômicas no Brasil e no mundo, mudaram o andamento do setor durante as décadas de 1980 e início de 1990. Entre 1990 e 1992, foram vendidas menos unidades que no período de 1978 a 1980. O setor automotivo apresentava baixa produtividade, defasagem tecnológica, contava com altos custos ao longo da cadeia e era pouco competitivo internacionalmente. Com o objetivo de reverter tal situação, governo, indústria, concessionários e trabalhadores reuniram-se entre 1992 e 1993 e montaram um acordo automotivo, que resultou em diversas metas para o setor. Entre algumas medidas adotadas destacaram-se as reduções da carga tributária, IPI e ICMS, e consequentemente do preço ao consumidor final, como também a manutenção dos empregos existentes e a ampliação das linhas de 273 financiamento. Embora não discutido nos acordos, mas por iniciativa governo Itamar Franco, no ano de 1993, o carro popular chegou ao mercado. No ano de 1995 foi aprovada a política industrial para setor e no ano de 1997, como resultado, foram produzidos 2 milhões de unidades (vide Gráfico 7.1), com o recorde de vendas de 1,9 milhões de unidades, ao mercado interno. Os bons números desse ano estimularam algumas montadoras, como Renault, Peugeot Citroën e Honda, a instalar fábricas no país. As já existentes, como Ford, General Motors e Volkswagen, optaram por ampliar e modernizar antigas fábricas, como também abrir novas unidades fabris no país. A indústria automobilística nacional, que engloba o setor de autopeças, investiu US$ 32 bilhões no período 1994-2005. Em 2005, a capacidade instalada permitia a produção de 3,5 milhões de unidades/ ano. Nesse mesmo ano, a indústria automobilística, sem o setor de autopeças, correspondia a 11,5% do PIB industrial. O setor de autopeças correspondia a 3,5%. Ao longo desses cinqüenta anos – período em que se considera a existência da indústria automobilística nacional – foram desenvolvidos projetos exclusivamente nacionais. Entre alguns exemplos estão a motorização 1.0, que segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE), em 2005, respondeu por 54,6% das vendas ao mercado interno. Outra tecnologia desenvolvida no Brasil permitiu a criação dos veículos flex fuel que funcionam tanto com álcool como com gasolina. Em dezembro de 2005, estes veículos representaram 73,2% das vendas do mercado interno (Anuário 274 FENABRAVE 2005). No que se refere à arrecadação de tributos (IPI, ICMS, PIS e Cofins), o volume arrecadado com a indústria automobilística foi de R$ 21 bilhões em 2005. 7.1.1. Indústria de Ônibus Mundial Um dos segmentos da indústria automotiva é constituído pelos veículos de carga, como os ônibus e caminhões. A produção mundial de ônibus visa a atender principalmente as regiões em desenvolvimento, onde se concentra a maior parte da demanda. As regiões com forte crescimento populacional tendem a demandar mais transportes coletivos, como, por exemplo, a China, Índia, Rússia, Paquistão, Tailândia e Indonésia. A indústria mundial de carrocerias de ônibus é bastante diversificada, formada aproximadamente por 250 principais fabricantes, que utilizam chassis de 50 diferentes fornecedores. Segundo os dados da OICA, a produção mundial de ônibus atingiu 256.758 mil unidades no ano de 2005, com um aumento de 15% em relação a 2004. A evolução da produção mundial é apresentada no Gráfico 7.2. Gráfico 7.2 – Produção Mundial de Ônibus (1997-2005) 275 Evolução da Produção Mundial de Ônibus 256,758 244,329 221,436 198,178 188,220 172,948 168,896 139,521 115,933 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: OICA Segundo os dados da OICA, em 2005 o Brasil tornou-se o segundo maior produtor de ônibus do mundo, ao atingir a produção de 35.266 unidades. Logo em seguida, com a terceira posição e uma produção de 34.259 unidades, ficaram os EUA. A China com uma produção de 77.138, se firma como o maior produtor mundial de ônibus. O Gráfico 7.3 mostra o comportamento da produção mundial entre 1997 e 2005 dos 8 países que em 2005, eram os maiores produtores de ônibus. Gráfico 7.3 – Produção Mundial de Ônibus por País (1997-2005) 276 Evolução da Produção Mundial de Ônibus por País 90,000 80,000 70,000 60,000 50,000 40,000 30,000 20,000 10,000 0 1997 1998 CHINA BRAZIL 1999 2000 UNITED STATES OF AMERICA 2001 SOUTH KOREA 2002 RUSSIA 2003 JAPAN GERMANY 2004 SWEDEN 2005 TURKEY Fonte: OICA Os dados consolidados pela OICA não apresentam séries contínuas para todos os países, exemplo EUA, como também não considera a produção de alguns mercados com grande volume de ônibus fabricados, como a Índia e alguns países do sudeste asiático. Como nem todos os países são membros da OICA por meio de alguma associação, não existe um número absolutamente preciso que forneça a real participação mundial. Por outro lado, mesmo com as informações disponibilizadas já é possível identificar que a produção de ônibus tem se concentrado em alguns países. No Gráfico 7.4 observa-se que, entre 2003 e 2005, mais de 80% da produção mundial de ônibus foi determinada por 8 países. O Brasil, em 2005, obteve 13,7% da produção mundial. 277 Gráfico 7.4 – Participação na Produção Mundial de Ônibus por País (2003-2005) Participação no Mercado Mundial - Produção Ônibus 100% 11.5% 12.2% 13.6% 3.6% 4.7% 3.3% 4.1% 3.3% 3.4% Outros 5.2% 5.0% 4.6% SWEDEN 5.0% 6.0% 4.7% 7.4% 5.7% 60% 7.8% 7.7% 50% 12.6% 11.9% 90% 80% 70% 5.0% 8.2% GERMANY JAPAN TURKEY 40% 12.2% 13.3% SOUTH KOREA 11.8% 13.7% RUSSIA UNITED STATES OF AMERICA 30% BRAZIL 20% 30.1% 32.2% 30.0% 2003 2004 2005 CHINA 10% 0% Fonte: OICA A participação no mercado de ônibus por montadora é outro dado difícil de ser conseguido pela base de dados da OICA. A dificuldade surge da falta de homogeneidade em relação à definição de ônibus pela OICA. Dessa forma, para efeito de participação de mercado, acabam-se misturando dentro de um mesmo grupo, veículos com capacidade de passageiros diferentes ou com pesos em toneladas diferentes. Com dados da OICA de 2005, foi montada a Tabela 7.4, cujo objetivo é mapear quais são os maiores fabricantes de ônibus e em quais países estão 278 instaladas suas fábricas. Pela coluna “Tipo de Ônibus” da Tabela 7.4, é possível perceber que existem diferenças entre os veículos produzidos pelos diversos fabricantes, discriminando basicamente a capacidade de passageiros e o peso em toneladas. Ao se considerar apenas os fabricantes que definem e especificam seus ônibus como veículos de 5 ou 6 toneladas, percebe-se que no ano de 2005 a Daimler Chrysler (Mercedes Benz) foi o maior fabricante, seguido pela FIAT (Iveco). Vale destacar, pela Tabela 7.4, que ambos os fabricantes possuem operação no Brasil. Outro desafio em analisar os números da produção mundial de ônibus, é explicitar quanto foi produzido pelas fabricantes de chassis, pelas encarroçadoras e pelas fabricantes de monoblocos, já que a montagem do ônibus é dividida, geralmente, em dois tipos de empresas. A parte mecânica do ônibus, que compreende a plataforma de sustentação e o sistema motriz, que é denominado chassi, em geral, é fabricada pelas grandes montadoras mundiais que fabricam também veículos leves e pesados. Já a carroceria, é produzida pela encarroçadora, que também se encarrega do acabamento e da montagem final do ônibus. As maiores encarroçadoras fabricam, ainda, diversas peças e componentes para a confecção de um ônibus, como perfis e partes plásticas, poltronas, janelas, e diversos outros itens, com o objetivo de atender a necessidade dos clientes. As 279 fabricantes de monoblocos são aquelas que fabricam o ônibus a partir de uma única peça que compreende tanto o chassi como a carroceria. As principais marcas mundiais de fabricantes de chassis estão presentes no mercado brasileiro: a Mercedes-Benz (líder do setor), a Scania, a Volvo, a Volkswagen (que fabrica esse tipo de veículo apenas no Brasil), Iveco (retornou ao país em 2000) e a Agrale (de capital nacional). Na Tabela 7.4, pode-se observar a produção dessas empresas no Brasil em 2005. A General Motors e a Ford já participaram do mercado brasileiro, mas o abandonaram. No Brasil, estas grandes montadoras estão associadas a Anfavea e no que tange ao segmento de ônibus, fabricam apenas chassis. No entanto, até a década de 1990, grande parte destas empresas produzia, também, monoblocos no Brasil. A última a encerrar a produção de monoblocos (ônibus completos) no Brasil foi a Mercedes Benz, fato ocorrido no ano de 1996. Ainda no que diz respeito ao Brasil, o registro de um ônibus no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) é feito, na maioria dos casos, pelo fabricante de chassi. Desta forma, como são as associadas da Anfavea que compõem as estatísticas da OICA, a participação mundial de ônibus não especifica no detalhe, a fatia correspondente a cada encarroçadora. Os principais fabricantes de ônibus mundiais são Mercedes-Benz, Scania, Volvo, Evobus, Irisbus, MAN (Neoplan), Van Hool, VDL Bus Groep (VDL Berkhof Heerenveen, VDL Berkhof Valkenswaard, VDL BOVA, VDL Bus International, VDL Jonckheere, VDL Kusters, APTS, VDL Coach & Bus Center and Busland), 280 Salvador Caetano e Alexander Dennis. Todas estas fabricantes são sediadas na Europa. Algumas pertencem a grandes conglomerados industriais, como é o caso da VDL Bus, divisão de ônibus do grupo VDL, com um faturamento, em 2005, equivalente a 45% (ou 450 milhões de euros) do Grupo VDL. Em 2002, o maior grupo europeu, era o Evobus, controlado pela Daimler Chrysler, e formada pela união das marcas Mercedes-Benz e Setra em 1995. Neste ano, esta empresa alcançou 28,8% do mercado. Em 2002, a Irisbus apresentou-se como o segundo maior grupo industrial de ônibus acima de três e meia toneladas da Europa, com participação de 27,4% no total do mercado europeu. A Irisbus é controlada pela Iveco, que engloba a fabricação de ônibus originalmente da Fiat (Itália), Renault (França), Karosa (Eslováquia) e Ikarus (Hungria). (Revista Abrati, n.35, Brasília, Dez. 2003, p. 42.). No ano de 2005, esta empresa produziu 8.512 ônibus. Em 2002, a terceira posição pertencia ao MAN (Neoplan), com 11,6% do mercado europeu. Outra grande empresa do setor é a portuguesa Salvador Caetano, que possui uma joint-venture com a Mercedes-Benz e produziu 2509 unidades no ano de 2006. 281 Tabela 7.4 – Produção Mundial de Ônibus por Fabricante e País em 2005 Daimler Chrysler 8,054 Toyota 52,237 Austrália Áustria Portugal Argentina Canadá Polônia República Tcheca Espanha Itália França Turquia México 5,360 337 Gaz , Uralaz and Paz (Sibal) 12,615 2,298 1,851 393 2,430 3,069 1,262 23 14,081 Navistar 13,943 10,760 Volvo 2,141 6,177 EVOBUS 591 625 5,258 Scania Nissan Alemanha Suécia China 16,854 20,391 FIAT GM - Daewoo Russia Brasil Estados Unidos da América 99,629 2,753 3,047 527 872 1,356 168 341 6,053 MAN 3,532 1,560 Iribus 695 1,864 VW 5,102 958 1,334 132 1,640 397 Total Hyundai Japão MONTADORA Coréia do Sul PAÍS Tipo de Ônibus Fabricado 99,629 16 Passageiros 53,350 6 Toneladas 52,237 10 Passageiros 21,587 5 Toneladas 14,081 6 Toneladas 13,943 5 Toneladas 10,760 16 Passageiros 10,406 5 Toneladas 7,309 6 Toneladas 6,141 5 Toneladas 6,053 10 Passageiros 5,919 6 Toneladas 5,796 5 Toneladas 5,499 6 Toneladas HINO 5,269 5,269 - Isuzu 3,176 3,176 10 Passageiros 1,524 16 Passageiros Nissan diesel Total 1,524 110,389 76,313 30,797 30,724 14,081 12,615 9,224 8,790 6,689 5,709 4,821 4,027 3,952 1,640 1,320 872 393 168 132 23 322,679 Nota: É possível que existam algumas distorções entre a tabela acima e o Gráfico 3.3 – Produção Mundial de Ônibus por País (1997-2005). Apesar de todos os dados partirem da mesma fonte (OICA), diferentes relatórios foram utilizados. No caso da China, não foi identificado no relatório por montadora qual fabricante, além da FIAT, contribui para a produção de 77.138 ônibus no ano de 2005, como pode ser observado no gráfico 3.3. Fonte: OICA 282 7.1.2. Indústria de Ônibus no Brasil De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei 9.503, de 23 de Setembro de 1997, os ônibus são classificados como: veículo automotor de transporte coletivo com capacidade para mais de vinte passageiros, ainda que, em virtude de adaptações com vista à maior comodidade destes, transporte número menor. Já a classificação de micro ônibus é: veículo automotor de transporte coletivo com capacidade para até vinte passageiros. No anexo 8.3 encontram-se as definições dos diversos segmentos de ônibus – Urbano, Intermunicipal, Rodoviário, Micro, Midi e Mini. Dada tais definições, pode-se dizer que os fabricantes de carrocerias de ônibus desempenham um papel fundamental dentro do Brasil. De acordo com um estudo do IPEA de 2003, 90% da movimentação e transporte de pessoas no Brasil é realizada por meio de ônibus. O Brasil conta com uma rede viária pavimentada com aproximadamente 130 mil quilômetros sobre um território com dimensões continentais de aproximadamente 8,5 milhões de Km2. Segundo o IBGE, a população brasileira em 2006 era de 186,7 milhões de habitantes. Segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em 2003, a frota de veículos automotores no Brasil era de 36.658.501 veículos, e de acordo com o Anuário 2006 da Fenabrave, em 2006, a frota de ônibus ativa no 283 Brasil totalizou 395.393 veículos, o que, por estimativa, representaria cerca de 1% da frota nacional. Segundo o Fenabrave, em 2006, a região sudeste era a região que compreendia a maior frota, com 208.088 ônibus, uma parcela de 52,6% do total de ônibus. No que diz respeito à idade, pode-se dizer que em 2005 havia um envelhecimento na frota de todas as regiões do país, sendo a média nacional de 13,6 anos, como se observa no Gráfico 7.5. Gráfico 7.5 – Frota Circulante de Ônibus por Região do Brasil em 2006 Frota Circulante de Ônibus no Brasil 15.7 14.8 13.1 13.0 395,393 13.6 11.4 208,088 74,045 63,856 30,190 19,214 Sul Sudeste Norte Frota Nordeste Centro-Oeste Brasil Idade (anos) Fonte: Anuário FENABRAVE 2006 284 No Brasil, existem três grandes associações que representam os interresses das empresas que fabricam ônibus no país. Estas são: a Anfavea, o Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus). A Anfavea, como já mencionado, congrega as grandes montadoras globais de veículos, que no caso brasileiro, são as principais fabricantes de chassis de ônibus. O Simefre foi constituído em 17 de setembro de 1934 teve seu reconhecimento como entidade sindical em 15 de maio de 1941, pelo Ministério do Trabalho e desempenha diversas atividades como órgão de classe. Reúne empresas de todos os portes, localizadas em quase todos os Estados do País, representando assim o universo dos fabricantes de materiais e equipamentos ferroviários, rodoviários e de duas rodas do Brasil. As encarroçadoras que estão associadas ao Simefre são as seguintes: Busscar Ônibus S/A, Ciferal Indústria de Ônibus Ltda, Companhia Manufatureira Auxiliar (CMA), Induscar Ind. e Com. de Carrocerias Ltda, Irizar Brasil Ltda, Marcopolo s/a , Mascarello Carrocerias e Ônibus, Metalbus Indústria Metalúrgica Ltda (Maxibus) e San Marino Ônibus e Implementos Ltda. De acordo com do Simefre, vide Gráfico 7.6, percebe-se que ao longo das últimas 3 décadas (1978-2006) a produção e exportação de carrocerias têm aumentado, apesar de apresentar alguns momentos recessão, como o vivido no meio da década de 1980, quando diversas encarroçadoras fecharam as portas. 285 Na década de 1990, o setor apresentou um bom crescimento na produção e elevou a fatia destinada às exportações ano a ano. As encarroçadoras brasileiras abriram escritórios comerciais em diversos países, e os ônibus brasileiros podem ser encontrados nos cinco continentes do planeta. A Marcopolo, uma das maiores encarroçadoras brasileira, já havia exportado, até 2005, para mais de 80 países. A partir deste contexto, pode-se dizer que o Brasil consolidouse como um dos maiores players nesta indústria no mundo. Por outro lado, segundo os dados do Simefre, apesar de em 2006 ter ocorrido um aumento na produção de carrocerias em 9% em relação a 2005, ocorreu um decréscimo das exportações da ordem de 23% em relação ao mesmo ano. Enquanto em 2005 as exportações representaram 37% da produção, em 2006, este valor passou para 26,1%. Uma das principais causas da queda das exportações foi determinada pela valorização da moeda brasileira, o Real, que tornou o produto brasileiro mais oneroso e desta forma menos competitivo – em 2005, o dólar fechou o ano em R$ 2,32 e em 2006, a cotação final no ano foi R$ 2,13, registrando uma queda de 8,2% (Fonte: Bacen). Gráfico 7.6 – Produção e Exportação de Carrocerias de Ônibus (1978-2006) 286 Produção e Exportação de Carrocerias de Ônibus (1978-2006) 40% 35% 30% 20,000 25% 15,000 20% 15% 10,000 10% 5,000 5% 0 0% 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 Volume em Unidades 25,000 Produção Exportação Part % Mercado Externo Fonte: SIMEFRE A Fabus, outra entidade do setor, é uma associação que congrega os fabricantes de carrocerias para ônibus no Brasil. Foi criada em 02 de Junho de 1.959 na cidade do Rio de Janeiro por sugestão do Sr. Fritz Weissmann, que na ocasião era diretor-presidente da encarroçadora de ônibus Ciferal. Caio, Carbrasa, Cermava, Ciferal, Cirb, Grassi, Metropolitana, Pilares e Vieira foram as empresas que estiveram presentes na ata de fundação. No ano seguinte (1960) as Carrocerias Nicola (Marcopolo) se juntou ao grupo e em 1966, Nielson, Eliziário, Bons Amigos e Furcare passaram a integrar a associação. Somente mais tarde vieram as encarroçadoras: Striuli, Caio Norte, Iasa e Incasel. No anexo 8.4, segue a lista das empresas que participaram da fundação da Fabus e o nome dos funcionários que as representavam. A lista dos expresidentes dessa associação pode ser encontrada no anexo 8.5. 287 Part. % do Merc. Externo na Produção 30,000 De acordo com o estatuto da Fabus, sua missão é defender a classe, subsidiar tecnologicamente os órgãos gestores e oferecer produtos com segurança e conforto. Em 2006, as principais encarroçadoras de ônibus estavam associadas à Fabus. A Tabela 7.5 apresenta quem são essas empresas, suas logomarcas e algumas informações sobre elas; como o ano de fundação, onde se localiza a sede e outras observações relevantes. Tabela 7.5 – Empresas Associadas à Fabus em 2006 Logomarca Ano de Fundação 1946 UF Cidade SC Joinville Chamava-se Carroceria Nielson até 1990 Induscar - Ind. e Com. de Carrocerias Ltda. (Caio) 1946 SP Botucatu Entrou em concordata em 1999. Passou a chamar-se Caio Induscar em 2001. Marcopolo S.A. 1949 RS Ciferal Comércio, Indústria e Participações Ltda. 1955 RJ Duque de Caxias Comil Carrocerias e Ônibus Ltda. 1985 RS Erechim San Marino Ônibus e Implementos - Neobus Ltda. 1991 RS Irizar Brasil Ltda. 1998 SP Botucatu Única estrangeira no Brasil. Pertence ao grupo espanhol Irizar. Mascarello Carrocerias e Ônibus 2003 PR Cascavel Ex-controlada da Comil. Passa a ser uma empresa independente em 2003. Encarroçadora Busscar Ônibus S.A. Observações Caxias do Sul Chamava-se Nicola & Cia até 1971. Em 1999, teve 50% do seu controle adquirido pela Marcopolo. Em 2001, os outros 50% foram adquiridos. Massa falida da encarroçadora Incasel, leiloada em 1985. Caxias do Sul Em 1999 a San Marino compra a Neobus (SP). Em Fev/2007, 39,59% do controle é adquirido pela Marcopolo. Fonte: Fabus, Panorama Setorial, Site das Empresas. Em 2006, as carrocerias eram fabricadas por oito principais grupos: 1) Marcopolo/Ciferal, 2) Caio-Induscar, 3) Busscar, 4) Comil, 5) Mascarello, 6) San Marino/Neobus (em fevereiro de 2007, a Marcopolo adquiriu 39,59% do controle), 7) Irizar e 8) Metalbus (Maxibus) - empresa fundada em 1995, sediada em Flores 288 da Cunha (RS), que não está associada à Fabus, mas ao Simefre. Além destas, duas grandes empresas de transporte de passageiros e de cargas possuem encarroçadoras próprias (CALANDRO, Maria; CAMPOS, Silvia, 2003). Uma delas é a Viação Cometa, que passou a fabricar seus ônibus em 1985, pois seu fornecedor, a Ciferal, havia falido em 1982. Desde então, sua própria encarroçadora, a Companhia Manufatureira Auxiliar (CMA), associada ao Simefre, tem fabricado ônibus exclusivamente para a Viação Cometa. (Panorama Setorial, Gazeta Mercantil, v. II, p. 46, 1999). A Itapemirim foi outra companhia que montou sua própria encarroçadora, cujo nome é Tecnobus. Apesar de encontrar-se inativa em 2007, a Tecnobus, que começou a operar em 1983, fabricou grande parte da frota do grupo Itapemirim. Segundo a Fabus, no ano de 2006, a Marcopolo/Ciferal foi o maior produtor de carrocerias no Brasil (não inclui a produção das fábricas sediadas em outros países), atingindo a produção de 8.242 unidades, sendo 4.999 da Marcopolo e 3.243 da Ciferal. Tal produção consolidada equivale a equivale a 22,6 ônibus por dia (8.242 ônibus/365 dias). Em segundo lugar esteve a Caio-Induscar com 5.964 unidades, e em seguida Busscar e Comil, com a produção de 3.996 e 2.221 unidades respectivamente. No Gráfico 7.7, observam-se as produções brasileiras das cinco maiores, e também, as mais antigas encarroçadoras de ônibus. Nota-se que ano de 2001, a encarroçadora Caio-Induscar esteve desativada, o que elevou a fatia de mercado de suas concorrentes naquele ano. Vale ressaltar que com a aquisição da Ciferal 289 (2001) e com o processo de internacionalização, a Marcopolo vem remanejando sua produção para outras fábricas – para a própria Ciferal e para fábricas localizadas em outros países – o que explica a queda de produção nos últimos anos. Gráfico 7.7 – Evolução da Produção no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006) Evolução da Produção - Principais Encarroçadoras de Ônibus (FABUS) 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 0 MARCOPOLO INDUSCAR (ex-CAIO) BUSSCAR CIFERAL COMIL Fonte: Fabus Em 2005, a San Marino/Neobus e a Mascarello, que são empresas mais recentes (vide Tabela 7.5) associaram-se à Fabus. O Gráfico 7.8 mostra a participação na produção brasileira das empresas associadas à Fabus nos anos de 2005 e 2006, e por meio dele, observa-se que a encarroçadora San 290 Marino/Neobus obteve expressivos 11% da produção nacional, em unidades, no ano de 2006. Entre 2005 e 2006, segundo os dados da Fabus, o crescimento da produção nacional foi de 10,1%, passando de 22.231 para 24.478 unidades. Nesse período, as empresas que obtiveram maiores crescimentos, nesta ordem, foram: Busscar (38,5%), San Marino/Neobus (20,4%), Mascarello (18,1%) e CaioInduscar (7,7%). Por outro lado, as empresas que apresentaram menores taxas de crescimento, ou até mesmo decrescimento na produção, foram: Ciferal (3,8%), Marcopolo (3,1%), Comil (-5,2%) e Irizar (-6,8%). Gráfico 7.8 – Participação na produção brasileira de ônibus em 2005 e 2006 Evolução - Participação Produção Nacional (FABUS)* *O Volare e o Furgão não são computados para efeito de participação de mercado 100% 2% 4% 2% 4% 90% 11% 9% 80% 10% 11% 14% 13% 13% 16% 22% 20% 25% 24% 2005 2006 70% 60% 50% 40% IRIZAR MASCARELLO COMIL SAN MARINO - NEOBUS CIFERAL BUSSCAR MARCOPOLO INDUSCAR (ex-CAIO) 30% 20% 10% 0% Fonte: Fabus 291 Examinando a produção nacional de ônibus por encarroçadora, percebe-se que estas empresas competem (ou competiram) em sete segmentos (ou categorias) distintos de ônibus; sendo estes: Urbano, Rodoviário, Intermunicipal, Micro, Mini-Ônibus, Especial e Trolebus. Essa distinção permite um melhor entendimento do mercado brasileiro. O Gráfico 7.9 apresenta a evolução da produção da indústria brasileira dividida pelos sete segmentos de ônibus, que fazem ou fizeram parte da indústria. Ao longo dos anos, nota-se que os ônibus urbanos, seguidos pelos rodoviários foram os mais produzidos. No entanto, comparando os anos 2001 e 2006, nota-se que foram os ônibus micro que obtiveram o maior crescimento, com incremento de 60%. Já no último ano (2006), foi o segmento de ônibus intermunicipais, o qual apresentou maior crescimento dentro da indústria, de 90%, atingindo 992 unidades. Já os segmentos Especiais e Trolebus, em nenhum momento mostraram-se relevantes no total da produção de carrocerias no Brasil. Gráfico 7.9 – Evolução da Produção no Brasil por Tipo de Carroceria (1971-2006). 292 Evolução da Produção por Tipo de Carroceria 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 0 URB. ROD. MICROS INTER. MINI-ÔNIBUS TROL. ESPEC. Fonte: Fabus Nos últimos trinta e seis anos (1971 – 2006), é possível perceber diversos movimentos das encarroçadoras dentro do mercado de ônibus. Nesse período, aquisições foram feitas, fábricas foram montadas e marcas foram criadas com o objetivo de ajustar a produção das encarroçadoras às mudanças na demanda. Na Tabela 7.6 foram selecionados determinados períodos da produção nacional de ônibus para ilustrar a atuação das encarroçadoras nos principais segmentos – Urbano, Rodoviário, Micros e Mini-Ônibus. Empresas que atuam em todos os segmentos são chamadas de full-liner. A tabela completa, com a evolução entre os anos de 1971 a 2006 da participação nacional, por segmento e encarroçadora, encontra-se no anexo 8.6. No anexo 8.6, também foram apresentados os dados dos segmentos 293 Intermunicipal, Especial e Trolebus, excluídos da Tabela 7.6, por refletirem participações de menor relevância. De acordo com a Tabela 7.6, o segmento de Urbanos teve seu auge na participação nacional no início da década de 1990, porém apresentou um decréscimo na participação nacional nos anos seguintes. Em 2006, este segmento representou 51,8% da produção. Já a participação do segmento Rodoviário se manteve estável, quase sempre entre 25 e 35%, ao longo da série. Vale ressaltar que os ônibus rodoviários são aqueles de maior valor agregado e maior preço. A partir do final da década de 1990, os segmentos Micro e Mini vêm ampliando sua participação na indústria. Nota-se nesse período que algumas empresas passaram a se posicionar também nestes segmentos. Em 2007, a maioria das encarroçadoras atua em todos os segmentos, ou seja, são full-liners, porém com intensidades diferentes. Avaliando pela Tabela 7.6 a produção nacional de ônibus no ano de 2006, nota-se que no segmento de Urbanos, a Caio –Induscar é líder com 38,6% da produção, superando o grupo Ciferal e Marcopolo que possui 30,9% (Ciferal conta com 24,1% e Marcopolo 6,8%). O segmento de Rodoviários é liderado pela Marcopolo (42,6%), que é seguida pela Busscar (33,1%). O segmento de Micros tem a San Marino/Neobus como líder (29,8%) e o de Minis é liderado pela Mascarello (29,4%). 294 Tabela 7.6 – Evolução do market share das encarroçadoras por segmento de ônibus Década de 70 1971 1976 Década de 80 1981 1986 Década de 90 1991 1996 Anos 2000 2001 2002 Segmento Encarroçadora 2003 2004 2005 2006 Urbanos Marcopolo 16.1% 22.1% 18.9% 14.0% 18.5% 24.3% 35.7% 30.6% 27.6% 10.6% 10.6% 6.8% Caio Induscar 38.8% 33.5% 41.8% 53.5% 32.3% 40.2% 0.0% 33.2% 43.5% 50.2% 40.0% 38.6% Rodoviários Micros Mini-Ônibus Ciferal 6.9% 9.3% 8.0% 16.6% 15.3% 16.8% 22.3% 17.9% 18.6% 28.4% 22.9% 24.1% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.7% 15.3% 32.7% 10.7% 4.0% 4.5% 7.0% 11.2% Comil 1.4% 1.9% 2.4% 0.5% 1.5% 3.3% 9.2% 7.6% 6.4% 6.3% 8.6% 7.1% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 6.9% 8.9% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 4.0% 3.3% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Urbanos na Indústria 61.1% 60.5% 53.6% 53.4% 71.6% 73.2% 52.1% 55.7% 54.7% 52.7% 55.3% 51.8% Marcopolo 35.4% 38.9% 43.7% 44.0% 48.4% 52.8% 57.8% 65.0% 65.0% 54.5% 44.7% 42.6% Caio Induscar 2.4% 7.8% 1.9% 1.5% 0.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.8% 2.9% 3.7% 3.5% Ciferal 47.2% 22.4% 13.0% 4.3% 1.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Busscar 9.6% 15.7% 33.6% 44.1% 40.8% 35.5% 34.4% 15.0% 9.9% 16.0% 29.9% 33.1% Comil 5.4% 7.3% 7.7% 4.8% 8.9% 11.6% 7.9% 10.6% 13.5% 17.6% 13.2% 12.2% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.3% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.1% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.5% 10.7% 9.0% 8.4% 7.2% Part % Rodoviários na Indústria 32.6% 31.6% 28.4% 37.7% 23.6% 22.1% 30.4% 25.8% 24.7% 29.8% 26.9% 26.3% Marcopolo 45.5% 18.2% 16.8% 45.7% 73.6% 65.8% 60.4% 52.3% 55.8% 53.3% 24.7% 22.9% Caio Induscar 54.5% 77.4% 75.7% 54.3% 25.5% 34.0% 0.0% 23.2% 25.8% 23.6% 12.4% 19.0% Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 3.9% 2.4% 2.0% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 24.8% 6.9% 2.5% 5.3% 8.2% 11.8% Comil 0.0% 4.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 14.9% 17.7% 15.9% 13.8% 10.5% 6.5% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 32.7% 29.8% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.1% 8.0% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Micros na Indústria 5.1% 5.7% 15.2% 7.8% 4.6% 3.0% 13.9% 13.1% 16.8% 15.4% 12.5% 15.2% Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 8.2% 12.8% 2.0% 0.5% 0.8% 0.0% Caio Induscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 19.9% 18.5% Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 49.3% 60.5% 63.1% 57.9% 29.0% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 42.5% 26.7% 34.9% 41.5% 19.2% 10.3% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 37.9% 21.9% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 13.1% 29.4% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Mini-Ônibus na Indústria 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.6% 5.4% 3.8% 2.1% 3.0% 2.6% Notas: Os dados da Marcopolo incluem Carrocerias Elizário (comprada em 1971 e encerrada em 1986) e Marcopolo Minas (encerrada); Caio Inuduscar inclui Caio Norte e Caio Rio (ambas encerradas); Ciferal inclui Reciferal (encerrada) Os segmentos Intermunicipal, Especiais e Trolebus, com participações de mercado mais discretas, não foram incluídos nesta análise. Fonte: Fabus 295 7.1.3. A História da Indústria O registro da história da indústria de ônibus no Brasil está descrito a seguir. É digno ressaltar que esta exposição não é uma completa reunião das informações coletadas, sendo um filtro da variada bibliografia pesquisada. O objetivo desta seção é identificar os acontecimentos que marcaram e transformaram a economia e a indústria brasileira nas últimas décadas e assim descrever a como foi a evolução do setor de carrocerias de ônibus no Brasil. As principais fontes de informação utilizadas para a descrição do histórico da indústria foram: • Os estudos setoriais A Indústria do Ônibus da Gazeta Mercantil (Análise Setorial: A Indústria de Ônibus, Volume I e Volume II; Panorama Setorial, Gazeta Mercantil, Out. 1999); • O livro comemorativo dos 50 anos da Anfavea (ANFAVEA. Indústria Automobilística Brasileira: 50 Anos, 2006), • O artigo Complexo Automotivo do BNDES (SANTOS, Angela; BURITY, Priscilla. BNDES 50 Anos - Histórias Setoriais: O Complexo Automotivo, Dez. 2002); • O suplemento especial de 50 anos da indústria automobilística no Brasil (Indústria Automobilística: 50 Anos de História; Suplemento Especial, Gazeta Mercantil, 18 Set. 2006); 296 • O anuário da Anfavea com os dados mais atualizados da indústria (ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira, 2006); • Livro comemorativo dos 50 anos da Marcopolo (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999). 7.1.3.1 Os Primórdios do Ônibus A primeira vez que se utilizou a palavra ônibus foi na França em 1826. O autor foi Stanislas Baudry, cidadão que fazia o transporte de pessoas, por meio de veículos de tração animal entre a cidade de Nantes e o balneário de Richebourg. A parada final, em Nantes, se localizava próxima a um armazém que se chamava Omnibus, propriedade de um sujeito chamado Omnes. A palavra omnibus tem origem no latim e significa para todos. Relata-se que Baudry teria se apropriado da palavra com a intenção de associá-la a seus veículos e ao local de saída. Em janeiro de 1828, Baudry, junto com seus sócios, criou uma rede de serviços em Paris que se chamava L’Entreprise des Omnibus. Após isso, esse nome foi adotado também por outros operadores para designar os veículos de transporte. Os primeiros ônibus datam do final do século XIX e início do século XXI, e foram fabricados pela Mercedes-Benz, na Alemanha. Em 1895, foi Karl Benz quem construiu o primeiro ônibus com motor a explosão que se tem notícia. 297 Assim, com o passar do tempo, os ônibus foram se modernizando e segmentando, e passaram a adquirir características específicas para atender às diversas finalidades e aos mercados que foram surgindo. Em 1837, começa a história do ônibus no Brasil com a chegada ao Rio de Janeiro do ônibus com dois andares puxado por burros, importado da França. No ano seguinte, ainda no Rio de Janeiro, foi fundada a primeira empresa de transporte coletivo do País, a Companhia de Omnibus, cujos veículos também eram puxados por burros. Apenas em 1900, o transporte coletivo se moderniza com a instalação, em São Paulo, da primeira linha de bondes elétricos, operados pela The São Paulo Tranway, Light & Power Co. Ltda. Tais ônibus ainda não se assemelhavam àqueles de motor de explosão e rodas de borracha maciça da Daimler-MotorenGesellschaft, que em 1905 começaram a circular em Berlim e Paris, para mais tarde se espalharam pelo mundo. No Brasil, a presença dos primeiros veículos motorizados data de 1904, com a importação dos automóveis modelo A, fabricados pela Ford dos Estados Unidos. Nesse período, o transporte coletivo de passageiros era realizado por veículos de tração animal. O primeiro ônibus, embora ainda sem esta designação, foi construído pelos irmãos Luiz e Fortunato Grassi em 1911. Sua finalidade era atender o transporte por carruagens. Este veículo foi montado com o chassi do caminhão francês Dion-Bouton, além de uma carroceria aberta nas laterais e bancos de madeira. 298 Somente em 1924, treze anos mais tarde, tal experiência foi repetida por Quirino, filho de Luiz Grassi. Ele construiu uma jardineira em madeira para 12 passageiros sobre o chassi do caminhão Ford T, com capacidade para 12 pessoas. Naquela época, já havia as primeiras indústrias de autopeças. Em 1927, José Massa, italiano de 23 anos, ingressou como eletricista e mecânico na Grassi S.A. Indústria e Comércio, e por lá permaneceu por 18 anos. Após sua saída, junto com dois irmãos, ambos revendedores da Ford, José Massa abriu uma fábrica de carrocerias, a Caio. A Figura 7.1 mostra uma foto de um ônibus da década de 1930. Até 1970, quando encerrou suas atividades, a Grassi era uma das mais importantes encarroçadoras de ônibus do País. Figura 7.1 – Ônibus do tipo "mamãe me leva" construído pela Grassi 299 Fonte: Museu Virtual do Transporte Urbano - http://www.museudantu.org.br/ Em 1932 a General Motors lança o primeiro ônibus com carroceria fabricada no Brasil. Até a década de 1950 foram importados milhares de ônibus montados e chassis, que foram encarroçados localmente. As primeiras importações volumosas de chassis curtos de caminhões, adaptados para ônibus, foram feitas em 1950 por Alfred Juzykowski, no Rio de Janeiro. Uma dos principais empregos desses chassis leves, para caminhões de seis toneladas, era na fabricação de lotações - microônibus que marcaram época no transporte urbano, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. O sucesso do negócio fez com que Jurzykowski instalasse uma linha de montagem também em São Paulo e em 1953 fundasse a Mercedes-Benz do Brasil. Em 12 de janeiro de 1946, a Companhia Americana Industrial de Ônibus (Caio) iniciou suas atividades com 120 funcionários, em um barracão no bairro industrial do Brás em São Paulo. Em 30 dias foi produzida a primeira carroceria e um ano depois, a produção já era de 12 por mês. Em 1948, a empresa construiu uma fábrica maior, que começou a operar em 1952. Também no ano de 1946, em Joinville, Santa Catarina, os irmãos marceneiros e de ascendência sueca Augusto Bruno Nielson e Eugênio Nielson começaram a produzir móveis, esquadrias e balcões de madeira. No ano seguinte, começaram a reformar carrocerias de ônibus, e logo em seguida, também passaram a produzir cabines para caminhão e camionetas também em madeira. 300 Em 1949, a Marcenaria Nielson & Irmão fabricou a primeira carroceria de madeira para ônibus. Em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, neste mesmo ano de 1949, surgiu a Nicola & Cia. No ano seguinte, já contava com 16 funcionários que produziam carrocerias de madeira sobre chassis de caminhão, pois não havia no mercado brasileiro chassis especiais para ônibus. Seu primeiro ônibus levou 90 dias para ser montado. Nessa época, as jardineiras de madeira possuíam bancos revestidos de couro, motor isolado à frente da carroceria e as janelas com grade. Os modelos rodoviários possuíam bagageiro externo no teto e o acesso era feito por uma escada instalada na traseira do veículo. As primeiras carrocerias de estrutura metálica surgiram em 1952, desenvolvidas pelo projetista de Ruggero Cardarelli, cuja base de vigas em “U” sustentava todo o conjunto. As ferramentas foram construídas internamente e as chapas de 1,8 milímetros (mm) de espessura e os perfis em formato ômega eram dobrados por viradeiras manuais. A madeira também foi substituída pelo plástico no revestimento interno da carroceria. Com essas modificações, a carroceria ficou 50% mais leve em relação àquelas de madeira, o que acabou permitindo uma ampliação da capacidade de passageiros. Na Nicola & Cia, as primeiras carrocerias de aço também foram produzidas em 1952 sobre chassis de ônibus já fabricados no Brasil. 301 7.1.3.2 Surgimento da Indústria de Autopeças Na década de 1920, tem início a fabricação de autopeças para prover a reposição dos componentes dos veículos importados. As primeiras empresas de autopeças produziam baterias e faróis. Em 1951, foi criada a associação industrial do setor que, mais tarde, deu origem ao Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças) - o representante oficial do setor. No entanto, a indústria de componentes foi fortalecida no Brasil, somente após a consolidação da produção de veículos automotores, que se deu no final da década de 1950. Inspiradas no modelo nacionalista vigente com o governo Getulio Vargas no Estado Novo, as indústrias de autopeças foram atuantes na modernização da legislação do setor, com a criação dos chamados acordos horizontais. Em 1952, no segundo mandato de Getulio Vargas foi criada a Subcomissão para Fabricação de Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis. Este decreto estabelecia o predomínio do capital nacional para os fornecedores de autopeças como, também, contratos de longo prazo para o fornecimento de componentes, o que beneficiou a evolução do setor. Essa proteção da indústria que era conduzida por um índice obrigatório de nacionalização dos veículos, fez com que as montadoras transferissem tecnologia e ensinassem novos métodos de organização às empresas brasileiras, o que gerou diversos impactos favoráveis, como a profissionalização do setor. As 302 indústrias de autopeças, por trabalharem para diversas montadoras, aprenderam a produzir uma grande variedade de componentes em pequenos volumes e por meio de diferentes estilos de produção. Tal versatilidade foi mais tarde decisiva para a exportação de peças de reposição e componentes. A década de 1960, que se iniciou com a posse e logo a renúncia do presidente Jânio Quadros, continuou desfavorável pelo curto período do mandato do presidente João Goulart. Foi um período de instabilidade tanto política quanto econômica, com indicadores inflacionários altos, e que acabou culminando em um golpe militar. Em conseqüência disso, a indústria automobilística acabou passando por período difícil. Em 1964, a inflação chegou a 100%, e as montadoras foram acusadas de praticar abusos de preços e de serem as principais responsáveis pela inflação. Nessa época, as montadoras forçaram o rompimento da tutela do Estado sobre o setor de autopeças, e romperam contratos exclusivos e de longo prazo. Isto lhes permitiu buscar novos fornecedores, e as empresas de autopeças foram postas umas contra as outras para forçar a queda nos preços de componentes. Em decorrência disso, as montadoras passaram a dividir com os fornecedores a responsabilidade pelo controle de estoques e transferiram a eles parte do risco dos investimentos. No começo do regime militar, a política econômica adotada pelo ministro da Fazenda Roberto Campos era claramente favorável ao capital estrangeiro, o que implicou na fusão entre as montadoras com o objetivo de fortalecer a atividade 303 industrial. Em 1967, de 11 montadoras restaram 7, e como efeito muitos fornecedores acabaram perdendo seus clientes. As montadoras se fortaleceram e conseguiram baixar o índice obrigatório de nacionalização de seus veículos para 85% e em seguida aumentaram o grau de verticalização. O então ministro da Fazenda Antonio Delfim Neto, oriundo da mesma escola de Roberto Campos, aproveitou-se dessa conjuntura para criar o Programa de Benefícios Especiais para o Financiamento às Exportações (Befiex). O grau de verticalização aumentou, provocando o fortalecimento do cartel da indústria automobilística. Os incentivos fiscais e as facilidades de importação previstas no programa beneficiaram apenas grandes fábricas de autopeças de capital nacional e multinacional e as próprias montadoras. No fim da década de 1960, o pequeno grupo de montadoras respondia por mais de 50% das autopeças consumidas por elas mesmas. A intervenção do Estado sobre o setor automotivo se fortaleceu via controle de preços e trouxe a volta do sentimento nacionalista, em uma segunda fase do regime militar. Com isso visava-se ao fortalecimento das empresas de capital nacional. O Controle Interministerial de Preços (CIP) foi criado, e assim passou-se a exigir que as empresas solicitassem aumento de preços. Esta solicitação podia ser ou não autorizada. Com a finalidade de proibir as montadoras de integrarem verticalmente os produtos que vinham sendo adquiridos de fornecedores, em 1979, o presidente Ernesto Geisel baixou a resolução 63. Depois de sentar com o setor de autopeças, 304 o governo passou a dificultar os pedidos das montadoras e começou a limitar as importações. Por outro lado, acabou provocando a formação de um cartel do segmento de autopeças. A cartelização possibilitou às grandes empresas expandir suas exportações, que atingiram 5% da produção. A década de 1980 foi marcada pela estagnação de indústria automobilística, com poucos lançamentos de produtos e contração da produção. Em compensação, o início da década de 1990 foi marcado pela abertura das importações pelo governo Fernando Collor de Mello, o que levou as montadoras e indústrias de autopeças a modernizar seus produtos, implementar programas de implantar de qualidade e desenvolver a produtividade. Tais iniciativas tinham como finalidade colocar os produtos brasileiros no mesmo nível dos importados. A modernização do parque automotivo exigia volumosos investimentos. No entanto, por falta de recursos, as indústrias de autopeças começaram a ser absorvidas por empresas maiores e, mais tarde, pelo capital internacional. Empresas até então líderes em seus segmentos como Cofap e Metal Leve foram adquiridas pela Fiat e Mahle, respectivamente. 7.1.3.3 A Formação da Indústria Automobilística A importação de veículos antecedeu a indústria de autopeças. Em 1904, inúmeros veículos da marca Ford já circulavam pelas ruas estreitas do Rio de 305 Janeiro, em particular o modelo A, primeiro automóvel criado por Henry Ford. Em 1919, a Ford montou sua primeira linha de montagem no Brasil e começou a importar veículos desmontados em kits completos (CKD) ou parcialmente montados (MKD). A General Motors começou a importar veículos desmontados em 1925. O ritmo de importação e montagem só esfriou com a crise de 1929. No entanto, o primeiro período Vargas mostrou interesse pela industrialização com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para produzir aço e estimular a indústria nacional. A CSN, construída em Volta Redonda (RJ), foi inaugurada em 1941. A importação de veículos desmontados retornou no começo dos anos 30 e persistiu até o final da década, quando se iniciou a Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, as importações foram interrompidas. Terminada a guerra, foram retomadas e prosseguiram até 1959 - os veículos procediam também de países europeus, além dos Estados Unidos. A partir daí, a produção local teve início, com a indústria automobilística praticamente instalada. O mesmo Estado Novo transformou a Fábrica Nacional de Motores (FNM), que produzia e conservava motores de aviões durante a guerra, em uma montadora estatal de caminhões. A produção de ônibus começou na década de 1940, com as primeiras carrocerias de madeira montadas sobre chassis de caminhões. Estes chassis foram primeiramente importados, mas depois passaram a ser fornecidos pela indústria local. 306 A construção do trecho da BR – 116, ligando o Rio de Janeiro (então a capital da República) a São Paulo por Eurico Gaspar Dutra (1946-50), que depois levou de rodovia Presidente Dutra, e as rodovias Anhanguera e Anchieta, pelo governo paulista, unindo a capital paulista ao litoral a ao interior, foram mais um estímulo ao desenvolvimento da indústria automobilística. A campanha de nacionalização do petróleo do segundo período Vargas (1951-54) e a Comissão de Desenvolvimento Industrial se somaram ao desejo de produzir veículos automotores no Brasil. Em 1948, a CSN já produzia 480 mil toneladas de aço por ano. Em 1952, o presidente Vargas baixou as primeiras medidas restritivas às importações, por meio do Aviso no 288 do Banco do Brasil, o qual proibia a importação de componentes automotivos similares aos produzidos no Brasil. O presidente tinha por objetivo conter o desequilíbrio da balança de pagamentos, que se agravava com as importações. Em 1953, o Aviso no 311, da Carteira de Comércio Exterior (Cacex), proibia a importação de veículos montados. Em 1954, Vargas instituiu a Subcomissão para a Fabricação de Jipes, Tratores, Caminhões e Carros, liderada pelo almirante Lúcio Meira, para desenvolver uma estratégia de industrialização de veículos automotores no Brasil. As tradicionais importadoras resistiram às ameaças do governo para não instalarem fábricas no Brasil, o que gerou queixas por parte de Lúcio Meira. Ele acreditava que ao obrigar as montadoras, as fábricas acabariam sendo instaladas. 307 Ao assumir em 1956, o presidente da Republica, Juscelino Kubitschek, baixou alguns decretos fixando a taxa de câmbio, racionando recursos para importações de produtos automotivos e habilitando apenas as empresas que atendessem às exigências do índice de nacionalização. Para fiscalizar o cumprimento dessas determinações criou o Grupo Executivo para a Indústria Automotiva (GEIA), com mais poderes do que a subcomissão criada por Getulio Vargas em 1954. O GEIA foi presidido pelo então ministro da Viação e Obras Públicas, o almirante Lúcio Meira. O GEIA ganhou destaque no Plano de Metas do novo governo. Além do ministro Lúcio Meira, o GEIA era composto pela Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), pela Carteira de Comércio do Banco do Brasil (Cacex), pelo Ministério da Guerra, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e pelo Conselho de Política Aduaneira. No momento da criação do GEIA, algumas montadoras já operavam no Brasil, como a Fábrica Nacional de Motores (FNM), no Rio de Janeiro desde 1949; a Willys Overland do Brasil e Vemag, de capital nacional; a Mercedes Benz, a Scania Vabis e a Sinca, de capital misto, que eram associadas a empresas brasileiras. Havia também Ford, General Motors, International Harvester, Volkswagen e Toyota, todas de capital estrangeiro. Essas montadoras tiveram que submeter seus projetos de produção e de veículos ao GEIA. O consumo com importação girava em torno de US$ 200 milhões e o governo Kubitscheck se dispôs a diminuir essa quantia, 308 nacionalizando os veículos por meio da substituição de componentes importados por outras fábricas do Brasil. Sua meta era obter em cinco anos 95% da nacionalização em peso dos automóveis e 90% em peso dos caminhões. Não há menção quanto aos ônibus, cujos fabricantes de carrocerias eram de capital nacional. No entanto, como os chassis naquela época eram derivados dos caminhões, as regras deveriam ser as mesmas desses veículos. O decreto no 39.568, de 12 de junho de 1956, estabelecia prazos para os índices de nacionalização para os caminhões que ficavam mais rígidos ano a ano. Os prazos e os índices determinados podem ser vistos na Tabela 7.7. Tabela 7.7 – Data de vigência e índices determinados para a nacionalização de caminhões Data de Vigência Índice de Nacionalização 31 de dezembro de 1956 35% 1º de julho de 1957 40% 1º de julho de 1958 65% 1º de julho de 1959 75% 1º de julho de 1960 90% Fonte: Panorama Setorial Somente em 14 de maio de 1997, por meio da Medida Provisória no 1.53222 transformada em Lei no 9.449, o índice de nacionalização dos veículos 309 produzidos no Brasil baixou de 90 para 60%. Nesse momento, terminava-se o ciclo de proteção à industria nacional, vigente por 40 anos. Como efeito, a indústria nacional inseriu-se no global sourcing – modelo de compras que permite às montadoras se abastecerem com peças e componentes das mais diversas origens, visando à redução de custos. Em 1956 o parque industrial de autopeças produzia baterias e velas de ignição, além de peças de reposição. Estes componentes não representavam 30% do peso de um veículo. Para estimular a instalação das fábricas no Brasil, o governo federal permitiu o ingresso de máquinas e equipamentos sem cobertura cambial. As montadoras utilizaram-se por vários anos desta prerrogativa para aumentar suas remessas ao exterior. Além disso, importavam componentes em valores mais altos do que os praticados no mercado, o que impactava a balança de pagamentos. As despesas de importação totalizaram US$ 70 milhões no primeiro ano, justamente o dobro da quantia programada. Em 1957 a ociosidade das fábricas chegou a 67%, o que encareceu os preços dos veículos. Neste momento o GEIA abriu uma sindicância para apurar os motivos dos altos preços dos veículos brasileiros. Por meio da Resolução no 41 do GEIA, teve início a restrição de produção de dois veículos que competiam na mesma categoria pela mesma fábrica. Em 1964, foi alcançada a produção acumulada de um milhão de veículos produzidos no Brasil (1957 – 1964). Essa marca foi atingida através das 11 montadoras e 1.600 fábricas de autopeças instaladas no ABC Paulista (Santo 310 André, São Bernardo e São Caetano). Nessa época, esse parque automotivo contava com 46 mil pessoas empregadas e formava a região com maior concentração industrial do país. No final da década de 1960, o país passou a deter o maior parque industrial automotivo da América Latina e uma indústria de autopeças capaz de abastecer 99% das necessidades das montadoras. A produção, que em 1957 foi de apenas de 30.542 veículos, saltou para 145.548 em 1961, vide Gráfico 7.10. A década de 1960 também foi marcada por fusões na indústria automotiva, como, a Chrysler que comprou a Sinca; a Volkswagen, a Vemag; a Ford, a Willys; e a Alfa Romeo, a FNM. Gráfico 7.10 – Comparação da Produção Total de Veículos e Ônibus no Brasil (19572005) Produção de Veículos (Total) vs Produção de Ônibus* 40,000 3,500,000 35,000 3,000,000 30,000 2,500,000 25,000 2,000,000 20,000 1,500,000 15,000 1,000,000 10,000 500,000 5,000 0 19 5 19 7 1 958 5 19 9 6 19 0 6 19 1 6 19 2 1 963 6 19 4 6 19 5 6 19 6 1 967 6 19 8 6 19 9 7 19 0 7 19 1 1 972 7 19 3 7 19 4 7 19 5 1 976 7 19 7 7 19 8 7 19 9 8 19 0 1 981 8 19 2 8 19 3 8 19 4 1 985 8 19 6 8 19 7 8 19 8 1 989 9 19 0 9 19 1 9 19 2 9 19 3 1 994 9 19 5 9 19 6 9 19 7 1 998 9 20 9 0 20 0 0 20 1 0 20 2 2 003 0 20 4 05 0 TOTAL ÔNIBUS Fonte: Anfavea - Anuário 2006 311 Produção de Ônibus Produção de Veículos (Total) *Inclui ônibus completos, chassis e carroçarias 4,000,000 No período de 1968-73, conhecido como Milagre Brasileiro, a produção automotiva saltou de 279.715 veículos para 750.376. Em 1978, foi ultrapassada pela primeira vez a barreira de um milhão de veículos, com 1.064.014 unidades produzidas neste ano. Em seguida, o governo federal criou o Controle Interministerial de Preços (CIP) para evitar cartelização de preços em um oligopólio, que se concentrava cada vez mais. Por meio do Gráfico 7.10, pode-se observar que a indústria de ônibus brasileira cresceu em um ritmo próximo à indústria automobilística. Apesar de parecer ser mais sensível, ou seja, com taxas de crescimento mais voláteis, a indústria de ônibus cresceu menos entre 1957 a 2005. Neste período enquanto a indústria automobilística (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) cresceu a uma taxa de 9,6% ao ano, a indústria de ônibus, 5,9%. O Gráfico 7.11 traça uma comparação das taxas de crescimento da indústria automobilística e da indústria de ônibus, ano a ano. Ao todo, o período de 1957 a 2005 compreende 49 anos e 48 taxas de crescimento. Em 25 anos, o ônibus cresceu mais que a indústria, e em outros 23 anos, cresceu menos. Entretanto, como já mencionado, a indústria de ônibus cresceu menos que a automotiva entre o período que compreende 1957 e 2005. Pelo Gráfico 7.11 observa-se que a indústria de ônibus apresenta mais momentos de quedas expressivas na produção que a automobilística. Além disso, por 17 vezes a indústria de ônibus apresentou decréscimo na produção, contra 10 312 vezes da automobilística. Também nota-se pelos Gráfico 7.10 e Gráfico 7.11 que a indústria de ônibus sentiu mais os efeitos dos primeiros anos da década de 1980 que a automobilística como um todo. A década de 1980 foi uma década muito ruim para toda a indústria de autoveículos – ela cresceu apenas 4% em relação à década de 1970, sendo o pior crescimento da sua história. Nesse período a produção de automóveis cresceu 1%; comerciais leves, 42%; de caminhões diminuiu 22%; e ônibus cresceu 22%. A produção de ônibus só se recuperou a partir da segunda metade da década. O anexo 8.2 apresenta a produção detalhada da indústria ano a ano. Gráfico 7.11 – Comparação do Crescimento (%) Ano a Ano - Veículos vs Ônibus (19572005) Crescimento (% ) Ano x Ano - Veículos (Total) vs Ônibus* 120% *Inclui ônibus completos, chassis e carroçarias 100% 80% 60% 40% 20% 19 5 19 7 5 19 8 5 19 9 6 19 0 6 19 1 6 19 2 63 19 6 19 4 6 19 5 6 19 6 6 19 7 6 19 8 6 19 9 7 19 0 7 19 1 7 19 2 7 19 3 7 19 4 7 19 5 7 19 6 7 19 7 7 19 8 7 19 9 8 19 0 8 19 1 8 19 2 8 19 3 8 19 4 8 19 5 8 19 6 8 19 7 8 19 8 8 19 9 9 19 0 9 19 1 9 19 2 9 19 3 9 19 4 9 19 5 96 19 9 19 7 9 19 8 9 20 9 0 20 0 0 20 1 0 20 2 0 20 3 0 20 4 05 0% -20% -40% -60% Cresc % Veículos Total Cresc % Ônibus Fonte: Anfavea - Anuário 2006 313 Comparando-se a produção acumulada por década, percebe-se que aquela de maior produção para a indústria de ônibus foi a de 1990, com uma produção total entre 1991 e 2000 de 203.237 veículos. A segunda melhor década foi de 1980 com 118.012 veículos produzidos, apenas 15,8% superior à década de 1970, com 101.897. A década de 1960 fechou com a produção de 40.808 ônibus. Ademais, só nos primeiros 5 anos do século XXI (2001 – 2005), a indústria brasileira de ônibus já havia produzido 137.003 unidades, o que a colocou de vez como uma das maiores do mundo. 7.1.3.4 A Evolução da Indústria de Ônibus A produção de ônibus no Brasil viveu seu primeiro grande momento na segunda metade da década de 1960. Até 1966 a produção brasileira não havia passado das 4 mil unidades por ano. A partir deste ano, o crescimento apresentou uma curva ascendente por três anos seguidos (1966 – 67 – 68), chegando a 7.044 unidades em 1968. No entanto, nos dois últimos anos da década, a produção voltou a cair. Segundo os dados da Anfavea, a produção média da década de 1960, foi de 4.081 ônibus. Tal queda na produção no final da década levou ao fechamento de algumas fábricas de chassis e de carrocerias, que não conseguiram sobreviver às 314 oscilações do mercado de ônibus no Brasil, que prosseguiram pelas décadas seguintes. Entre as sobreviventes dessa crise, porém não por muito tempo, estava a Magirus, fábrica de chassis que registrou prejuízos operacionais nos dois últimos anos da década de 1960. Para aproveitar a capacidade ociosa no início da década de 1970, a Magirus resolveu produzir caminhões. A Metropolitana, outra encarroçadora carioca, lançou em 1953, o microônibus com estrutura de alumínio desenvolvida por Fritz Weissmann - sócio da empresa que mais tarde dela se afasta para fundar a Ciferal. Mais tarde, a Metropolitana adquiriu a Vieira e a Cermava, encarroçadoras cariocas que haviam fechado as portas. Devido à ampliação do limite da idade dos ônibus urbanos do Estado da Guanabara, imposta pelo governo local, a produção mensal da Metropolitana, que era de 65 carrocerias baixou para 50. Após a aquisição da Cermava e Vieira, sua participação no mercado de urbanos no Rio de Janeiro aumentou de 45% para 80%. Em 1972, a Metropolitana apresentou dois novos modelos de carrocerias, sendo uma de alumínio e a outra de aço. Parte do processo seguia da seguinte maneira: Os perfis extrudados de duralumínio de 3 milímetros (mm) de espessura eram fixados às colunas da estrutura com rebites especiais. As vigas e colunas eram unidas na parte inferior às longarinas, aparafusadas e ligadas ao chassi por cantoneiras. As partes frontal e traseira eram em fibra de vidro. Internamente, teto, colunas e painel tinham revestimento de fórmica, piso revestido em peroba com forro de passadeira em plástico. Os assentos tinham contorno em tubos de aço e 315 revestimento em plástico. As portas, do tipo sanfona, tinham acionamento pneumático. A Metropolitana seguiu construindo carrocerias de alumínio até janeiro de 1976, quando foi adquirida pela Caio. A Striuli foi mais uma encarroçadora que faliu. Sua produção mensal chegou a 45 carrocerias e caiu para 5 em meados de 1971. Neste momento, o grupo Thomeu, que possuía duas operadoras de transporte urbano no Rio de Janeiro e detinha 50% de seu capital da Striuli, incorporou-a por completo. Nos meses seguintes, a produção para suprir as empresas do grupo aumentou para 8 ao mês, e mais tarde, em 1972, chegou a 15 unidades. A partir de 1970, a Ciferal, empresa fundada em 1955 e que produzia carrocerias rodoviárias, passou a produzir também carrocerias urbanas para vender fora do Estado da Guanabara, já que na época este Estado era território exclusivo da Metropolitana. Esse primeiro modelo urbano era todo de alumínio, com linhas retas e ventilação natural através de aberturas no teto. A Carbrasa foi outra encarroçadora carioca, que sofreu os efeitos da crise no final da década de 1960 e entrou em concordata em 1971. Em 1970, na cidade de Caxias do Sul (RS), a Furcare, que mais tarde se chamou Nimbus, enfrentou dificuldades devido a um incêndio em suas instalações. Apesar disso, em 1971, lançou o modelo rodoviário Nimbus com estrutura metálica, poltronas em couro, compartimento do motorista separado dos passageiros, iluminação de ventilação com controle individual e a novidade do serviço de som a bordo. Em 1976, a Marcopolo adquiriu a Nimbus. A Hennemann, 316 de Novo Hamburgo (RS), foi outra encarroçadora gaúcha que acumulou experiência ao longo de 25 anos na produção de carrocerias urbanas e para microônibus. Durante a década de 1970, Empresa Brasileira de Transporte Urbano (EBTU) exerceu a regulamentação do transporte urbano. Em 1978, veio a colaboração da Empresa Brasileira de Planejamento e Transportes (Geipot), que ao lado da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), iniciou os estudos para desenvolver uma padronização dos veículos urbanos. Foi criado o Projeto Padron que estabelecia três categorias de ônibus: • Pequeno: Com 10 metros e 75 passageiros. Para serviços de alimentação de corredores; • Médio: Com 12 metros e 105 passageiros. Para grandes centros urbanos; • Articulado: Com 17 ou 18 metros de comprimento e 165 passageiros. Para ser utilizado em corredores exclusivos para ônibus. Algumas exigências básicas faziam-se presentes nos três casos: piso a 80 cm do solo (na Europa já se exigia altura de 45 cm) e ruído máximo de 83 decibéis (na Europa o limite era de 75). O peso máximo para o veículo de dois eixos era de 18 toneladas, sendo 6 no dianteiro e 12 no eixo de rodado duplo traseiro. Os pesos máximos excediam aos limites da Lei da Balança, que na época estabelecia limite máximo no eixo dianteiro de 5 toneladas e traseiro de 10,5. Até essa época, 317 os chassis de ônibus eram em grande parte, derivados de caminhões – com motor traseiro, suspensão com feixes de molas e cambio mecânico. Um dos defensores do ônibus Padron, argumentava que no Brasil, a Mercedes-Benz utilizava 30 quilos de estanho na solda dos chassis, produto que havia sido abandonado pela matriz alemã pelo menos dez anos antes. Outro crítico do transporte público brasileiro afirmou que os veículos que rodavam no país em 1979 estavam pelo menos 30 anos de atraso em relação aos que circulavam na Europa. Por outro lado, a EBTU procurava um veiculo que consumisse um combustível alternativo ao óleo diesel, não apenas por questões ambientais, e sim porque o país enfrentava dificuldades decorrentes da segunda crise do petróleo, que ocorreu no final da década de 1970. A primeira empresa a apresentar um protótipo foi a Ciferal, cujo veiculo era um trolebus de alumínio, com garantia de 8 anos e vida útil de 15. A Caio se uniu à Villaris e à Massari e desenvolveu um trolebus com as características do Padron da EBTU. Neste projeto a Caio fez a carroceria, a Villares o conjunto de tração elétrica e a Massari, o chassi. A EBTU acabou não aprovando o projeto, pois decidiu optar por um sistema mais moderno de tração elétrica por chopper. A) Mercado Interno 318 Desde a origem da indústria de ônibus, a produção de chassis e de carrocerias tem sido feita sob encomendas prévias. No início, como quase não havia exportações, vide Gráfico 7.12, a produção coincidia com as vendas ao mercado interno. Assim, todas as oscilações na produção constatadas durante as décadas de 1950 e 1960 eram conseqüências diretas do aumento ou redução da demanda interna. Gráfico 7.12 – Evolução da Exportação de Ônibus pelo Brasil (1957-2005) Exportação de Ônibus* pelo Brasil *Inclui ônibus completos, chassis e carroçarias 20,000 60.0% 18,000 40.0% 12,000 10,000 30.0% 8,000 20.0% 6,000 4,000 10.0% 2,000 0 0.0% 19 6 19 1 6 19 2 6 19 3 6 19 4 6 19 5 6 19 6 67 19 6 19 8 6 19 9 7 19 0 71 19 7 19 2 7 19 3 74 19 7 19 5 7 19 6 7 19 7 7 19 8 7 19 9 80 19 8 19 1 82 19 8 19 3 8 19 4 8 19 5 86 19 8 19 7 88 19 8 19 9 9 19 0 9 19 1 92 19 9 19 3 9 19 4 9 19 5 9 19 6 9 19 7 98 19 9 20 9 0 20 0 0 20 1 0 20 2 0 20 3 0 20 4 05 Ônibus Exportados 14,000 Ônibus Exportados Participação % na Produção Fonte: Anfavea - Anuário 2006 Na década de 1960, o mercado de ônibus passou por uma ascensão, seguida de queda, que se estendeu até a década de 1970. Algumas empresas 319 Participação % na Produção 50.0% 16,000 começaram a exportar para conseguir sustentar o nível de produção. A Marcopolo, antiga Nicola & Cia, com sede em Caxias do Sul (RS), deu um passo além na exportação de veículos prontos. Em 1970, um acordo com a Venezuela foi estabelecido pela Marcopolo com o objetivo de construir 2 mil carrocerias, no período de 10 anos, na cidade de Guanare, a 150 quilômetros da capital, Caracas. Segundo Paulo Bellini, diretor da empresa na época, esse contrato foi decisivo para assegurar a sobrevivência da empresa, que sofria os efeitos de uma retração do mercado interno (Análise Setorial: A Indústria de Ônibus, Volume I; Panorama Setorial, Gazeta Mercantil, Out. 1999, pág. 46). No período do Milagre Brasileiro, no final dos anos 70, mercado de ônibus teve seu ânimo retomado. Foram construídas novas rodovias e algumas prefeituras passaram limitar a vida útil do ônibus em cinco anos, o que acabou determinando a renovação da frota dessas cidades. Naquela ocasião a frota brasileira de ônibus brasileira era composta por 72 mil ônibus (em 2006 era de 395.393), já uma das maiores do mundo. No entanto, sua idade média era elevada, o que exigia das fabricantes uma produção anual de 10 mil veículos para atender as exigências de renovação. Desta forma, a produção média anual nos últimos quatro anos desta década (1977/78/79/80) foi de 13.866 veículos. Em 16 de fevereiro de 1971, veio outra contribuição para o crescimento do mercado de ônibus interno. A Portaria GB-279 reduziu o Imposto de Produtos 320 Industrializados (IPI) para os ônibus rodoviários de 12 para 6%. O BNDE oferecia prazo de financiamento de 36 meses, o que beneficiou as vendas. Tal expectativa nas vendas, fez com que as fábricas anunciassem novidades no que tangia ao conforto e segurança nos veículos, principalmente no segmento rodoviário. A Magirus introduziu suspensão a ar, ar condicionado e motores mais potentes enquanto a Carbrasa, desenvolveu um chassi de motor traseiro. O mercado de carrocerias de ônibus sofreu um grande golpe no início da década de 1980, quando a produção saiu de 12.267 unidades em 1981, para 5.643, em 1984. Mesmo após resistir a duas crises do petróleo, em 1973 e 1979 e à maxidesvalorização do cruzeiro em 1981, das 14 encarroçadoras de ônibus restaram apenas 5 (Marcopolo, Caio, Ciferal, Busscar e Comil). O Gráfico 7.13 mostra a evolução da produção de carrocerias e monoblocos, segundo as empresas associadas à Fabus. Gráfico 7.13 – Evolução da Produção no Brasil de Carrocerias e Monoblocos (1971-2006) 321 Evolução da Produção Nacional - Carrocerias e Monoblocos (FABUS) 30000 25000 20000 15000 10000 5000 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 0 CARROCERIAS MONOBLOCOS TOTAL Fonte: Fabus Ainda assim, alguns grupos empresariais, de relevância para a época, se aventuraram dentro do mercado de carrocerias. A Cobrasma - fabricante de vagões de trem e outros equipamentos ferroviários - introduziu no mercado o ônibus em aço inoxidável, enquanto as outras encarroçadoras discutiam as vantagens do alumínio em relação ao aço carbono. A principal vantagem do aço era uma resistência total à corrosão. Esse ônibus rodoviário foi denominado Trinox e possuía 13,29 metros de comprimento, três eixos e capacidade para transportar 42 a 50 passageiros. Apesar do ingresso de novos fabricantes de carrocerias, a demanda do mercado interno não se matinha crescente, e seguia oscilando. Isto fez da década de 1980 um período ruim para a indústria, que, segundo os dados da Fabus, 322 chegou ao fim com uma produção total de 88.805 carrocerias, com um aumento de 8% sobre as 82.175 unidades produzidas na década de 1970. A década de 1990, por sua vez, obteve um incremento de 82% sobre a década anterior, com um total de 161.890 carrocerias fabricadas. O crescimento nas vendas da década de 1990 foi influenciado por diversos fatores. Em 1991, houve uma correção das tarifas e a Agência Especial de Financiamento (Finame), do BNDES, promoveu estímulos à renovação da frota urbana. A obrigatoriedade do vale-transporte, que passou a garantir a arrecadação da tarifa pelas empresas transportadoras, foi outro fator que alavancou as vendas internas no início dessa década. Em virtude da manutenção das tarifas remunerativas, da oferta de leasing, consórcio e outras modalidades de financiamento, a produção de carrocerias cresceu 66% entre 1990 e 1991, e 16,2% entre 1991 e 1992, atingindo a marca de 17.830 carrocerias de ônibus neste último ano, conforme se observa no Gráfico 7.13 B) O Mercado Externo As exportações de ônibus completos, de chassis e de carrocerias se constituíram a principal saída das fábricas brasileiras para escoar o excesso de produção, principalmente porque o mercado interno sofre constantemente profundas oscilações. Segundo os dados da Fabus, ao longo dos últimos 11 anos 323 (1996 – 2006), as exportações de carrocerias de ônibus saltaram de 2.119 unidades em 1996, para 7.996 em 2004 - no auge de exportações. Em 2006 foram enviadas 6.106 carrocerias ao mercado externo. Pelo Gráfico 7.14, nota-se que as 8 encarroçadoras associadas à Fabus têm exportado continuamente, sendo umas mais e outras menos agressivas – Mascarello e Neobus são associadas somente a partir de 2005. A Marcopolo (sem incluir os números da Ciferal, adquirida em 1999) tem se mostrado a maior exportadora em volume de carrocerias, enquanto a Busscar se mantém na segunda posição. Mais uma vez vale ressaltar que o processo de internacionalização vivenciado pela Marcopolo reduz suas o volume de suas exportações, pois as carrocerias passam a ser produzidas em fábricas localizadas em outros países. Em 2006, o rodoviário passou a ser o segmento de carrocerias com maior volume exportado, 3.494, representando 57% das exportações de carrocerias. O segmento de micros ficou com a segunda posição com 1.293 carrocerias exportadas, e 21% do total. Já, os urbanos, segmento mais exportado em 2005, teve 1.111 carrocerias exportadas, o que equivaleu a 21% do total. Gráfico 7.14 – Evolução da Exportação de Carrocerias por Encarroçadora (1996-2006) 324 Exportação de Carrocerias por Encarroçadora (1996 - 2006) 5,000 4,000 3,000 2,000 1,000 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 MARCOPOLO C A IO CIFERAL BUSSCAR COMIL IRIZAR MASCARELLO NEOBUS 2005 Fonte: Fabus O êxito do mercado externo dos ônibus brasileiros se mostrou tão grande, que, para algumas encarroçadoras tem representado um componente importante da receita total. O Gráfico 7.15 mostra a evolução da participação das exportações na produção das principais encarroçadoras brasileiras. Empresas como Marcopolo, Busscar e Comil, tradicionais encarroçadoras do mercado brasileiro, chegaram a apresentar em alguns anos, participação das exportações superior a 40% da produção. Os anexos 8.6 e 8.7 apresentam, respectivamente, informações mais detalhadas das exportações brasileiras de autoveículos, bem como, de carrocerias de ônibus por segmento e encarroçadora. Motivada pelo bom momento das exportações, a indústria brasileira de ônibus tem dado novos passos dentro de uma estratégia de internacionalização. 325 2006 Desta forma, além de vender e prestar assistência técnica a seus clientes em diversos lugares mundo, as encarroçadoras brasileiras têm se expandido para o exterior por meio de instalações de filiais ou subsidiárias. Em outros casos, o caminho escolhido tem sido através de parcerias em joint ventures com outras encarroçadoras de ônibus ou com fabricantes de chassis. Marcopolo, Busscar e Comil são exemplos de empresas que já possuem fábricas no exterior, o que também pode explicar parte da queda na participação das exportações na produção destas encarroçadoras como mostra o Gráfico 7.15. Com a operação no exterior, o volume das exportações se reduz, uma vez que os ônibus passam a ser fabricado perto de seus clientes. Gráfico 7.15 – Participação da Exportação na Produção das Encarroçadora (1996-2006) Participação da Exportação na Produção das Encarroçadora (1996 - 2006) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996 1997 MARCOPOLO IRIZAR 1998 1999 2000 C A IO MASCARELLO 2001 CIFERAL NEOBUS 2002 2003 BUSSCAR Total 2004 2005 2006 COMIL 326 Fonte: Fabus Outro motivo que pode explicar em parte a queda das exportações nos últimos anos é a valorização cambial do Real. Com a moeda brasileira valorizada, o ônibus brasileiro perde competitividade no mercado internacional. Desta forma, algumas empresas já pensam em maneiras de se protegerem contra as oscilações da moeda. Com a construção de fábricas em outros países, muitas delas se colocam em condição de multinacionais, e passam a comprar dos fornecedores que apresentam as melhores condições comerciais. Assim se o Real valorizou, um fornecedor brasileiro pode ser preterido por um fornecedor russo, por este apresentar uma proposta comercial mais atrativa. A América Latina, com maior ênfase a América do Sul, sempre foi o melhor mercado para as montadoras brasileiras de chassis e para as fábricas de carrocerias de ônibus. Por diversos momentos, principalmente com o Real desvalorizado alguns países da África e Oriente Médio optaram pelos ônibus brasileiros, se constituindo também importantes mercados para os fabricantes brasileiros. A Tabela 7.8 indica quais regiões foram as maiores importadoras dos ônibus brasileiros. Estes números incluem ônibus completos, carrocerias e chassis. Tabela 7.8 – Exportação de Ônibus Brasileiros por Continente de Destino (2003 – 2004) 327 2003 Continente 2004 Cresc. Export. Unidades % Unidades % 03 - 04 América do Sul 5,051 54% 8,623 67% 71% América Central 751 8% 679 5% -10% América do Norte 246 3% 316 2% 28% Europa 250 3% 34 0% -86% África 1,596 17% 1,689 13% 6% Ásia 1,340 14% 1,519 12% 13% 86 1% 87 1% 1% 9,320 100% 12,947 100% 39% Oceania Total Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006 Em 2004, dos 8.623 ônibus exportados para a América do Sul, 3.170 foram destinados ao Chile, 1.935 à Argentina e 1.744 à Colômbia, o que fez dos três países o principal mercado brasileiro. Neste mesmo ano, outros países como Egito, Costa Rica, África do Sul, Peru, Arábia Saudita, Indonésia também se mostraram atrativos, com importações superiores a 250 ônibus. O anexo 8.9 traz o detalhe das exportações brasileiras de autoveículos, por país, nos anos 2003 e 2004. As exportações de ônibus podem ser feitas sob três formas diferentes – ônibus completos, carrocerias e chassis –, e em geral ocorrem através de licitações internacionais, em que uma mesma montadora pode fazer parceria com mais de uma encarroçadora, dependendo do tipo ou modelo da carroceria. Nada impede que outro tipo de negociação ocorra, como quando as encarroçadoras 328 vendem seus produtos no exterior – carrocerias – independente do fabricante de chassi. Em virtude dos diferentes modelos de negociação, a Fabus divide as exportações de carrocerias em diretas ou indiretas, estas últimas sendo realizadas por meio do fabricante de chassi. As exportações diretas são mais comuns, e de acordo com os dados da Fabus, nos últimos 11 anos, sempre representaram mais de 70% das carrocerias exportadas. Em 2005, representou das 85% das exportações e em 2006, 96%. Outra modalidade comum na indústria de ônibus ocorre quando as encarroçadoras fazem parcerias para utilizar as instalações de fabricantes de chassis de outros paises. Em 1992, no México, dois grandes negócios envolvendo encarroçadoras brasileiras tiveram início - a Marcopolo firmou um acordo com a Dina Autobuses para fornecer carrocerias e transferir tecnologia; enquanto a Busscar, fez acordo semelhante com a Mexicana del Autobuses (MASA). No ano seguinte, em 1993, a Mercedes-Benz juntamente com a Caio decidiram construir uma fábrica de ônibus em Monterrey, também no México, com investimento de 25 milhões. Enquanto a fabrica da Mercedes-Benz/Caio não ficou pronta, foram exportados para o México 1.200 ônibus em 1994, sendo 560 completos e 640 carrocerias de microônibus desmontadas para serem montadas sobre chassis Mercedes-Benz produzidos no México. Esses microônibus eram destinados a substituir vans e peruas no transporte urbano da Cidade do México, onde circulavam 96 mil desses veículos. 329 Em 2001, após a Marcopolo rescindir seu acordo com a Dina Autobuses, e a Mercedes-Benz fazer o mesmo com a Caio, que acabava de falir, ambas as empresas, Marcopolo e Mercedes-Benz México firmaram um acordo de associação e cooperação, envolvendo a Polomex S.A., controlada da Marcopolo. 7.2. A História da Marcopolo O registro da história da Marcopolo, ao longo de seus 58 anos (1949 – 2007) está descrito ao longo desta seção. Assim como destacado na história da indústria, vale ressaltar que esta descrição não é uma completa reunião das informações coletadas. É apenas um filtro da variada bibliografia pesquisada, cujo principal objetivo é reconstituir a trajetória da empresa, apontando os principais acontecimentos que marcaram sua história. As principais fontes de informação utilizadas para a descrição do histórico da indústria foram: Livro comemorativo dos 50 anos da Marcopolo (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999). Livro comemorativo dos 55 anos da Marcopolo (Marcopolo: 55 Anos, 2004); Relatórios de Administração de 1983 a 2006; 330 O estudo setorial A Indústria do Ônibus da Gazeta Mercantil (Análise Setorial: A Indústria de Ônibus, Volume II; Panorama Setorial, Gazeta Mercantil, Out. 1999); A dissertação de mestrado Expansão internacional para a china: estudo de caso de uma empresa brasileira (DE GÓES, Bruno Barreto. Expansão internacional para a china: estudo de caso de uma empresa brasileira, Instituto COPPEAD de Administração, 2006). O artigo Marcopolo: A Japonização no Sul do País (UEHARA, Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996) O artigo O Entendimento do Sucesso Internacional da Marcopolo: Uma visão com Base em Recursos (HEXSEL, A.E. O Entendimento do Sucesso Internacional da Marcopolo: Uma visão com Base em Recursos. Apresentado no Congresso ENANPAD 2003) 7.2.1. Fase 1: De 1949 a 1970 – Os primeiros passos Em 1910, a cidade de Caxias do Sul contava com 18.000 habitantes, 186 casas comerciais e 335 firmas fabris. Neste período, o trem surge como meio de transporte de matéria-prima, mão-de-obra, produtos beneficiados oriundos do exterior e do centro do país, e pessoas. A chegada do trem também ativou as exportações dos produtos da região fazendo com que Caxias do Sul vivenciasse o 331 crescimento urbano. Na década de 1920, os caminhões surgem como outra opção para diminuir as distâncias. A chegada do automóvel faz com que uma viagem a Porto Alegre passasse a levar um dia. Motivada por estas transformações, em 1942 é inaugurada a BR-1116, importante via que conectou Caxias do Sul com os grandes centros fornecedores e consumidores. No processo de consolidação político-econômica, Caxias do Sul foi construindo uma economia focada no setor industrial, apesar da atividade principal, até o final da década de 1950, ainda ser a vinicultura. Em 1950, Caxias contava com 54.000 habitantes, 413 firmas fabris e 450 casas comerciais. O espaço geográfico, como localização e topografia da região, não foi uma característica que facilitou o crescimento e desenvolvimento de Caxias do Sul. Desde o início da colonização, as carretas tinham que ser adaptadas para superar as dificuldades do relevo. Ao superar esses desafios, a região começou a dar os primeiros passos em direção ao desenvolvimento. Devido à falta de tecnologia, produzir uma carroceria de ônibus naquela época era um grande desafio, pois exigia grande quantidade de tempo e de mãode-obra. Um grupo de profissionais decidiu enfrentar este desafio e abriu uma empresa em Caxias do Sul, cuja atividade principal seria a fabricação de carrocerias para ônibus. O grupo era formado de dois pintores, dois chapeadores, dois carpinteiros e um lustrador, habilidades indispensáveis ao processo de encarroçamento. 332 No dia 06 de agosto de 1949, a Nicola & Cia. Ltda foi fundada com nove sócios, quinze funcionários e um capital inicial de Cr$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil cruzeiros). Segundo o contrato de constituição, em sua cláusula terceira, a empresa tinha por objetivo: “a exploração do ramo de FABRICAÇÃO DE CARROCERIAS, PINTURAS e CHAPEAÇÃO DE AUTOMÓVEIS e tudo o mais que lhe convier”. Os sócios fundadores da empresa foram: Dorval Antonio Nicola, Doracy Luiz Nicola, Nelson João Nicola, Arnoldo Fabian, Arno Steffen, Arno Evaldo Cornel, Jacob Acker, Américo Cunha Cerqueira, na época gerente da agência local do Banco do Brasil, e sua esposa Nedy Maria Branco Cerqueira. Em maio de 1950, Paulo Pedro Bellini, que segue exercendo suas atividades na empresa (2007), ingressa na empresa cuidando do almoxarifado e da contabilidade. O Livro Comemorativo dos 50 anos da companhia destaca uma declaração de Paulo Bellini sobre seu ingresso na empresa: “Eu tinha 22 anos quando comecei a trabalhar na empresa (...) Com a saída de três sócios dos oito que a iniciaram, o (Dorval) Nicola precisava de alguém que comprasse as quotas. O meu pai me deu o dinheiro para eu poder entrar na sociedade. (...) Ingressei nesse ramo, porque era uma coisa interessante, atrativa, pelo fato de que um ônibus até hoje impressiona. Isso foi muito positivo e, naquela época, um ônibus já era considerado uma maravilha.” (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 22) Para constituir uma empresa para a fabricação de carrocerias, os fundadores levaram em consideração algumas informações obtidas junto a proprietários de empresas de ônibus que operavam naquela época em Caxias do 333 Sul. Em 1950, circulavam 40 ônibus na cidade e havia um movimento diário de entradas e saídas de 400 veículos entre automóveis, ônibus e caminhões. O contrato social de constituição, datado de 06 de agosto de 1949, registra a empresa como Nicola & Cia. Ltda, porém na época ela era conhecida como Carrocerias Caxiense, nome que fazia referência a cidade de origem. Na constituição da empresa, a estrutura administrativa foi definida em função da profissão e das habilidades técnicas de seus sócios, desta forma, cada um era responsável por um setor, como solda, pintura, chapeação e fabricação, acabamento interno, serviços burocráticos e etc. Desde cedo, dois grandes objetivos eram comuns a todos os setores da companhia (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 29): Proporcionar máximo conforto e segurança ao público que se utilizava dos transportes coletivos; e Oferecer aos proprietários de linhas de transporte e frotistas carrocerias que, pelas suas credenciais de qualidade, se tornassem realmente fatores de sucesso em seus negócios. Num pavilhão próprio, na esquina das ruas 13 de Maio com Os 18 do Forte, em Caxias do Sul, a idéia de montar ônibus começou a ganhar forma. O pavilhão de madeira, com dois pisos e 290 m2 de área construída, abrigou a empresa de 1949 até 1957. Naquela época, no horário do almoço, alguns funcionários aproveitavam o tempo para jogar bola na rua, em frente à fábrica. O primeiro time 334 de futebol criado contava com Dorval Nicola, Doraci Nicola e Paulo Bellini (sócios fundadores da empresa) e outros tantos funcionários da empresa. Em 1956, foi criado o Grêmio Atlético Nicola (GAN), primeiramente como time de futebol e depois como instituição que congregava diversas modalidades esportivas. Os familiares dos funcionários também tinham oportunidade de acompanhar o time em jogos locais ou em outros municípios. Muitas vezes os mascotes da equipe eram os filhos dos próprios funcionários-atletas. Alguns dos triunfos do Grêmio Atlético foram as conquista dos campeonatos municipal e estadual de futebol amador. Em 1949, a primeira carroceria de ônibus foi montada para a empresa de transportes Pérola, uma das primeiras empresas de transporte coletivo de Caxias do Sul. Como o processo de produção era basicamente manual, a montagem da primeira carroceria consumiu todas as horas de trabalho durante quase três meses. A produção do ônibus era totalmente artesanal. O chassi de caminhão precisava ser cortado e emendado tanto no comprimento quanto na largura nesse período não existiam chassis específicos para ônibus no Brasil. A estrutura da carroceria e dos bancos era de madeira de lei (angico, cedro, canela, açoitacavalo; os vidros das janelas) e cortada uma a uma. As poltronas eram estofadas com fibras vegetais acondicionadas em aniagem e revestidas em couro. A adaptação do chassi consumia muita perícia e horas de trabalho e dos operários e mestres. A madeira, em sua maior parte trazida do Paraná, era 335 cuidadosamente trabalhada por um carpinteiro. As amarrações eram feitas com ferragens produzidas no setor de ferraria da própria fábrica. A construção dos pára-choques era auxiliada pela forja e ainda exigia um acabamento com o esmerilho. A solda a oxigênio acompanhou a fabricação por um longo período e exigia especialização do operador. A colocação de vidros nas janelas também requeria cuidados. No início eram utilizados vidros de 4 e 5 mm, mas em pouco tempo chegou de São Paulo a novidade do vidro temperado. A empresa fazia os moldes das janelas e os enviava aos fornecedores de São Paulo ou Porto Alegre onde eram cortados. Por volta da metade da década de 1950, surgiram os chassis especiais para ônibus, agilizando assim o processo de fabricação das carrocerias. Mas apenas alguns clientes traziam os chassis especiais da Aclo, Mercedes-Benz ou Scania. A maioria seguia levando chassis de caminhão para serem transformados e por isso a fábrica utilizou esses chassis até o início da década de 1960. Igualmente, a madeira com que era feita a estrutura de uma carroceria foi, aos poucos, sendo substituída pelo metal. Desta forma, os novos procedimentos utilizados para fazer uma carroceria de ônibus foram sendo gradativamente adaptados com a utilização do ferro. A redução de peso dos ônibus foi a grande vantagem trazida pelas carrocerias metálicas. Com a chegada de novos equipamentos importados, como a primeira solda a ponto e a máquina movida a ar comprimido para o corte curvo de chapas, estimulava-se a modernização do produto. 336 Os primeiros clientes da fábrica foram as empresas de transporte Pérola, Santos, Grazziotin, Bressan, Expresso Rex (de Lages), e uma empresa da cidade de Caçador. Estas empresas enviavam o chassi e assinavam o pedido que também valia como contrato, já que ficavam registradas as características básicas do ônibus, como o número de lugares, adaptações necessárias ao chassi, e a cor das poltronas e da parte externa. As vendas eram realizadas principalmente por Dorval Nicola e por Paulo Bellini, que acumulavam outras funções na empresa recém constituída. Quando não estavam negociando com os clientes, o primeiro estava na fábrica pintando, e o segundo, organizando a parte administrativa. O material de divulgação para apresentar o produto a um futuro cliente consistia em algumas fotografias, através das quais eram mostrados padrões e características dos veículos. Após a realização do contrato, a própria empresa deveria financiar o valor total da carroceria para o cliente. O tempo de parcelamento poderia ser de até 24 ou 30 meses. Tal prática buscava atender às necessidades do cliente, mas acabava criando dificuldades à empresa, pois o parcelamento afetava o seu capital de giro. Em depoimento, Paulo Bellini registrou as dificuldades vividas no início da empresa. “Fomos tocando na base do peito e do trabalho. Atravessamos períodos difíceis e crises financeiras. Foi uma época de grande aprendizado. Nossa qualidade, apesar do esforço, ainda deixava a desejar. Convivemos com problemas administrativos; passamos por mais de uma reformulação de diretoria; enfrentamos atrasos significativos com fornecedores; ouvimos reclamações de clientes, justificadas ou não. Era difícil estruturar nosso corpo funcional. Tivemos que aprender a lidar com os assuntos ligados ao Fisco, nas diversas esferas; aprendemos a transitar nas esferas 337 governamentais... realmente, o início da fábrica foi para nós um grande aprendizado.”(UEHARA, Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 113) Em 1954, cinco anos após a constituição da empresa, a Nicola & Cia. Ltda passou a se denominar Carrocerias Nicola S.A. – Manufaturas Metálicas, uma sociedade anônima. Nesta ocasião já era necessário um espaço maior para ampliar a fábrica. A nova sede, com 3.100m2, foi construída em 1957 sobre um terreno cedido por Mário Sartor e sua esposa Lida Scola Sartor, com o objetivo de incentivar a ocupação de um loteamento junto a essa área. Mais tarde, esta área foi denominada Bairro Planalto. Por contar com uma operação ampliada, suas ações foram vendidas por meio de uma estratégia “corpo-a-corpo” e não através da bolsa. Para negociá-las, os sócios recorreram a familiares, parentes e amigos, pois a empresa ainda não possuía projeção no mercado. Segundo declarações de Paulo Bellini foi um período bem difícil: “Quando estávamos no fim da construção, em 1957, não tínhamos dinheiro nem para pagar o que estava feito, tínhamos muitas dívidas, não tínhamos capital de giro. Soubemos, então, que havia um movimento no estado para estimular a formação de empresas de capital aberto. Foi isso que fizermos, transformamos a Nicola em empresa de capital aberto e começamos a trabalhar para vender suas ações. Imagina a dificuldade que foi, naquela época, dar um passo como aquele! Nosso sucesso foi alcançado pela persistência e sobretudo pelo nosso entusiasmo.”(Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 26) Realizada a transferência para o pavilhão, os sócios acreditavam que a nova fábrica possuía espaço para atender a demanda por um período bastante 338 longo. Tal decisão, associada à política de implementação da indústria automobilística no país e a formação do GEIA, impulsionou os negócios da empresa, que começou a produzir os primeiros ônibus com chassis brasileiros, já fornecidos pelas primeiras fábricas do setor, Mercedes-Benz e Scania. Com a mudança de local da fábrica, em 1957, foi possível ampliar a produção já estimulada pelas vendas e pelos planos do governo federal. A empresa chegou ao maior centro consumidor do país, São Paulo, que havia se tornado um centro promissor para o produto. O ônibus chamado Nicolinha despertou o interesse de empresários do setor de transportes, pois transmitia a imagem de conforto e qualidade para motoristas, passageiros e proprietários de veículos. Os primeiros anos da década de 1960 contestaram aquilo que parecia certo. A conjuntura político-econômica desse período trazia reflexos para os vários setores da sociedade brasileira, contrariando o incentivo à industrialização ocorrida na década anterior. No entanto, a introdução do Crédito Direto ao Consumidor (CDC) foi uma medida decisiva para estimular o ramo da indústria automotiva. Os problemas gerados pelos longos parcelamentos passaram a ser amenizados pelo CDC, instituído pelo governo brasileiro. A partir desse momento, os clientes passaram a fazer as operações de crédito diretamente com os bancos. Em decorrência disso, em 1965 a empresa precisou ampliar suas instalações e construiu um segundo pavilhão, com uma área de 2.240 m2. Em 1967, os irmãos Nicola se retiraram da sociedade e constituíram uma fábrica de 339 furgões, chamada Furcare. Mais tarde a Furcare passou a se chamar Nimbus, e em 1977 foi incorporada pela então Marcopolo. Com a construção do segundo pavilhão a empresa seguia com planos de expansão. Tais metas incluíam elevação da capacidade produtiva por meio da ampliação da área construída, da introdução de máquinas e equipamentos modernos e da admissão de novos colaboradores. Por exemplo, em 1968, a fábrica teve sua capacidade produtiva aumentada em 40% e em um segundo momento, em 80% com relação ao ano anterior. Ainda em 1968, ocorreu a programação do lançamento de um novo modelo de ônibus. O novo produto foi denominado Marcopolo. O produto e a marca tiveram tanto êxito que a imagem da empresa passou a ser conhecida como Marcopolo. Devido à crescente conquista e consolidação dos mercados interno e externo e ao rápido desenvolvimento, originaram-se várias reestruturações administrativas as quais foram capazes de conferir maior agilidade às atividades técnicas, operacionais e até mesmo de gerenciamento. A Revista Seleções do Reader's Digest, já em setembro de 1968, em um suplemento especial intitulado Perfis do Rio Grande do Sul, destacava o trabalho de Paulo Bellini, como DiretorPresidente de Carrocerias Nicola S. A. Manufaturas Metálicas, ressaltando a filosofia de trabalho da empresa: “Fazendo de sua filosofia de trabalho o lema ‘a organização é antes de tudo o homem’, os dirigentes de Carrocerias Nicola S.A. sabiam onde queriam chegar. A meta que se propunham atingir, a de fabricar somente 340 produtos de alta qualidade, ao fundarem a empresa há 19 anos, só seria possível, assim admitiam, se constituíssem uma equipe verdadeiramente homogênea em todos os seus escalões, de dirigentes e comandados, do pessoal técnico e administrativo." (Set/1968, no320, s.p.) A década de 1960 representou bastante em termos de qualificação de pessoal. As contratações de engenheiros e de técnicos nas diversas áreas cresceram. A atualização dos processos produtivos, a implantação de programas de treinamento, assim como o apoio do GEIA, aumentou a produção da empresa. Nessa época, a fábrica já possuía completos serviços de corte, polimento, galvanoplastia, carpintaria, mecânica, ferramentaria, estamparia, pintura, fabricação de janelas, serralheria e estofaria, orientados todos pelo Departamento de Engenharia. Suas oficinas e depósitos estavam equipados para atender aos pedidos de peças complementares para reposição, através do sistema de numeração e catalogação. Para a Nicola, a base da produção era formada por treinamento, aperfeiçoamento e a pela qualificação dos colaboradores. Nesse período, o ônibus era um produto resultante muito mais da mão-de-obra do que do maquinário utilizado. Desta forma, a empresa desejava fazer de seus profissionais os melhores do setor. Primeiramente, os ensinamentos foram transmitidos dos mestres para os aprendizes, funcionários mais jovens ou com menor experiência. O próprio periódico interno era usado nesse processo, publicando artigos que apresentavam instruções e novas técnicas para utilizar determinada ferramenta ou matéria-prima. 341 Na década de 60, a busca da tecnificação levou muitos funcionários a realizar cursos em empresas estabelecidas fora do estado do Rio Grande do Sul, ou mesmo através de convênios firmados entre a empresa e instituições de qualificação profissional, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). O apoio destas entidades auxiliou bastante na formação do maior número de pessoas. Muitos começaram como alunos e ao concluírem os cursos protagonizaram histórias de sucesso nos anos que se seguiram, como relatou Nestor Perottoni, que alcançou o cargo de Titular da Assessoria Jurídica e integrou o Conselho de Administração da empresa: “Ingressei na empresa em 1963, foi meu primeiro e único emprego. (...) Fui um dos primeiros a ter o estudo pago pele empresa. Eu era auxiliar escriturário do almoxarifado. (...) A filosofia da empresa já era diferente." (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 64) A administração da empresa apoiava os cursos tanto de área técnica como na área de relações interpessoais. Os nomes dos participantes eram divulgados e estes eram presenteados, como forma de estimular o quadro de colaboradores a se engajar no processo de capacitação e qualificação do ambiente de trabalho. Em 1964, dois representantes instalados, um em São Paulo e outro em Curitiba, atendiam aos clientes e trabalhavam para ampliar o mercado em nível nacional. Nesse mesmo ano, a empresa abriu uma filial comercial no Rio de Janeiro, que era um mercado difícil, pois foi o primeiro a ter uma legislação para a 342 padronização do transporte coletivo, como também possuía vários fabricantes locais de ônibus. Desta forma um trabalho foi realizado com a fábrica, para adequar o produto a esse mercado. A conquista de novos mercados se tornava mais complicada devido à localização geográfica da fábrica, no extremo sul do país, longe dos tradicionais centros comerciais. Em 1966, a empresa transformou-se em Sociedade de Capital Autorizado, ao se enquadra na nova Lei do Mercado de Capitais. Nesse mesmo ano, foi registrado um índice de aumento do faturamento de 87%, em relação ao período anterior. Para manter esse bom resultado, a empresa iniciou a instalação de uma rede de filiais, representantes e escritórios nas principais cidades do país, já com o plano de prestar assistência, serviços de pós-vendas e fornecer peças de reposição às empresas de transporte. Mais tarde, vários países, também foram englobados pela área de vendas. Os profissionais envolvidos nesse processo tinham outras atribuições além da comercialização de carrocerias, como manter contato permanente com os clientes e transmitir à fábrica suas opiniões sobre a performance dos veículos. No final da década de 1960, como resultado de pesquisas técnicas e experiências práticas, a empresa acabou por reestruturar todo o sistema de fabricação de suas carrocerias, introduzindo importantes melhoramentos: maior curvatura no arco do teto; maior profundidade nos perfis das laterais e dos arcos; maior espessura das chapas com que eram fabricadas as carrocerias. 343 Com essas inovações, as carrocerias apresentavam mais características de resistência, durabilidade, segurança e economia. Mais tarde, a empresa instalou uma cabina especial para pintura, equipada com estufas mistas (elétricas e a vapor), que permitiu uma secagem mais rápida e cores mais brilhantes e duráveis. As carrocerias eram tidas como leves levando em conta sua capacidade de passageiros, tamanho e resistência. A carroceria urbana média, para 32 passageiros, pesava 2.575 kg e a rodoviária média, para 28 passageiros, 2.790 kg. Nessa mesma época, a empresa lançou a Série Prata, que era composta por ônibus mais simples e mais baratos. Lançou também a Série Ouro, com ônibus luxuosos e com um custo mais elevado. A experiência não teve o êxito esperado, já que a maioria dos clientes não comprava os ônibus da Série Prata. Quem os encomendava, solicitava algumas trocas ou acréscimo de alguns itens, e no final acabava adquirindo um ônibus da Série Ouro. Esse fato levou a empresa a definir-se pela fabricação de modelos diferentes. Na ocasião, os ônibus rodoviários da Série Ouro eram montados sobre chassis FNM com 20 poltronas-leito, chassis Scania Vabis com 33 lugares, ou chassis Mercedes-Benz com 39 lugares. Poderiam ter geladeira, rádio, calefação, cintos de segurança, toalete e iluminação individual. Em 1968, a empresa promoveu uma viagem de estudos aos mercados da Europa, Estados Unidos e América Central. Para analisarem o conceito dos ônibus presentes naqueles mercados. Foram enviados o engenheiro José A. F. 344 Martins, que havia integrado o quadro de profissionais da empresa em 1966, e o então Diretor Técnico, Fiorindo J. Sartori. Um novo projeto passou a ser cuidadosamente estudado após essas visitas. Um produto com características totalmente novas foi desenvolvido reunindo as idéias trazidas de mercados estrangeiros com as necessidades do mercado nacional. Surgiu então um ônibus montado sobre chassi Mercedes-Benz e Magirus Deutz, com três versões: Rodoviário, Rodoviário com Toalete e CarroLeito. O desafio da escolha de um nome para o novo ônibus foi lançado a todos os integrantes da fábrica. Após uma pesquisa, foi escolhido o nome Marcopolo por ter sua origem no grande viajante Marco Polo. Para Valter G. Pinto, responsável, nesse momento, pelo trabalho de marketing da empresa, foi um desafio encontrar um nome para o ônibus, pois como o produto pretendia ser um marco na história do transporte coletivo brasileiro, ele deveria sugerir ou lembrar um grande feito histórico (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 40). Em 1968, com essa denominação, o ônibus rodoviário foi exibido no VI Salão do Automóvel, realizado em São Paulo. Como uma das novidades, foi apresentada a modificação do local destinado à exibição do itinerário. Até aquele momento, o itinerário aparecia fora, na parte superior do ônibus. A partir daí, o itinerário começou a ser exibido internamente, no pára-brisa, permanecendo assim até hoje. O lançamento do Marcopolo revolucionou o conceito brasileiro de ônibus 345 e tal foi o seu sucesso que três anos depois a empresa adotou seu nome como denominação social. Em 1960, ocorre o passo inicial para a conquista do mercado externo, com a abertura da primeira representação comercial no exterior. Em 1961, a Carrocerias Nicola vendeu duas carrocerias urbanas à Compañia de Omnibus Pando S.A. (COPSA), do Uruguai. A partir daí, os ônibus fabricados pela Marcopolo começaram a rodar por todo o continente americano. O prestígio de seus ônibus garantiu a participação em diversas concorrências internacionais e os investimentos nas feiras internacionais foram intensificados a partir de 1965. Em 1968, no período de lançamento do ônibus Marcopolo, a empresa participou de várias feiras internacionais, como a Feira Internacional do Pacífico, em Lima (Peru), e em 1969, a Feira Internacional de Santiago (FISA), no Chile, onde obteve o Gran Premio na classe de veículos motorizados. Participou, também, de eventos na Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A Marcopolo, desde sua fundação, tem se preocupado com criação de estratégias comerciais. Na década de 1950, época em que o chassi não era específico para ônibus, o cliente já precisava conhecer os procedimentos utilizados na produção de um ônibus para avaliar em que aspectos esse produto se diferenciava dos da concorrência. Pensando nisso, a empresa abria as portas de sua fábrica para clientes e fornecedores, para que estes pudessem ver o processo de fabricação dos seus ônibus e assim comprovar a qualidade e a 346 confiabilidade do produto. As vendas realizadas e os resultados das visitas eram mais tarde divulgados aos trabalhadores. No final da década de 1950, a empresa produzia peças publicitárias que além de divulgar os produtos e suas características, realçavam o processo de fabricação dos ônibus. O material apresentava máquinas e equipamentos de que dispunha a fábrica para transmitir a imagem de uma empresa alinhada com o avanço tecnológico da época. Em 1960, a propaganda da empresa já era veiculada em todo o Brasil, através dos folhetos distribuídos pelas filiais e representantes e de anúncios em revistas da época, como a edição brasileira da Revista Seleções do Reader's Digest, que publicava na contracapa um anúncio destacando o conforto, o rendimento e a segurança das carrocerias urbanas e rodoviárias Nicola. Em 1963, a empresa desenvolveu uma campanha bem original, ao oferecer aos seus clientes, como brinde de final de ano, assinaturas das melhores revistas em circulação no país. Em 1968, quando ocorreu o lançamento no VI Salão do Automóvel do novo ônibus, houve amplo destaque para marcar o acontecimento. O ônibus projetado deveria chamar a atenção de todo o setor de transportes. Então, a empresa adotou uma estratégia diferente, cheia de suspense, para instigar a curiosidade das pessoas ligadas ao segmento de veículos. 347 A campanha que antecedeu o lançamento do ônibus Marcopolo foi composta por três peças promocionais, com as seguintes mensagens (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 80): 1. “Marcopolo já está com viagem marcada”; 2. “Você que é empresário, vai vibrar com as novidades que a Marcopolo trará!”; 3. “No Salão do Automóvel você tem encontro marcado com a Marcopolo”. Para causar impacto, a cada vinte dias, as peças foram enviadas uma a uma pelo correio para todas as instituições brasileiras, públicas ou privadas, com as quais a empresa tivesse algum tipo de negociação: transportadoras de passageiros, bancos, montadoras, fornecedoras, prestadoras de serviço, órgãos governamentais (secretarias de transporte, de turismo, de indústria e comércio), entidades representativas dos setores ligados ao transporte (federações, associações), etc. As mensagens também foram enviadas aos diretores, gerentes, chefias, secretárias da empresa e pessoas da coletividade empresarial. Como forma de aguçar ainda mais a curiosidade de todos e garantir o elemento suspense, a postagem da correspondência foi feita nos mais diferentes pontos do território nacional, impedindo qualquer tentativa de decifração do enigma. Somente às vésperas da realização do VI Salão do Automóvel que as 348 empresas receberam o convite para o coquetel de lançamento do Ônibus Marcopolo, no estande de Carrocerias Nicola S.A.. A empresa investiu intensamente na marca lançada naquele Salão do Automóvel: MARCOPOLO. A marca foi uma adaptação do nome do célebre navegador veneziano Marco Polo em uma única palavra. O nome era adequado ao produto, pois além de se associar à viagem, lembrava ousadia, audácia e versatilidade, qualidades atribuídas ao navegador e que deveriam também caracterizar o ônibus lançado. O sucesso foi tal que, em pouco tempo, a marca Marcopolo se impôs fortemente no mercado. No entanto, o mercado internacional achava que pelo nome Marcopolo se tratava de um produto italiano, em virtude da fama que sempre tiveram as atividades dos carrozzieri, mestres no design de veículos. Para desfazer a questão, a empresa adotou o slogan "O Ônibus Brasileiro", utilizando-o nas apresentações gráficas, e reforçando por uma faixa nas cores verde e amarela. Na ocasião, o slogan foi traduzido para o espanhol, inglês e francês, ajudando a consolidar a marca em todos os mercados. O periódico Polo Informativo (Ano I, Nº 03, p. 07) explicitava aos públicos da empresa a razão do novo slogan. Outro novidade na empresa foi a implantação dos Sistemas CKD (Completely Knocked Down) e MKD (Medium Knocked Down), caracterizado pela venda de tecnologia e de produtos desmontados (CKD) ou semi-desmontados (MKD). 349 Em 1968, a organização técnica era o ponto alto da empresa. O Departamento Técnico existente foi ampliado e a equipe evoluía nos desenhos, acrescentando mais detalhes. A tecnificação foi dando uma nova dimensão ao sistema. Nesse período, a empresa começou a desenvolver a operação de CKD. Nesse processo, as carrocerias eram enviadas em peças, em kits, e posteriormente armadas em outro local. Além do Sistema CKD, a empresa desenvolveu o sistema MKD e, junto ao know-how, preparou também os estudos para implantação, racionalização de produção e orientação administrativa, até o fornecimento de equipamento especial para produção em série. 7.2.2. Fase 2: De 1971 a 1980 – A 1ª Expansão O sucesso do ônibus Marcopolo fez também com que a empresa adotasse uma nova postura no que se refere à conquista de outros mercados, usando como estratégia a diversidade de linhas para atingir os mais variados segmentos do transporte coletivo. A marca "Marcopolo" passou a ser amplamente divulgada e aceita pelos diversos públicos ligados ao setor, direta ou indiretamente. Para atingi-los foram utilizadas diversas estratégias. Por exemplo, para abordar o mercado de capitais, a empresa elaborou um road show, que é um conjunto de apresentações feitas para analistas, acionistas, investidores em potencial e interessados em conhecer a empresa. 350 Em 1970, a Marcopolo iniciou sua primeira fase de expansão com a aquisição da empresa Carrocerias Eliziário de Porto Alegre, uma das principais encarroçadoras de ônibus da época. Em 1971, ocorreu a aprovação, em Assembléia de Acionistas, da alteração da denominação social da empresa para Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus. Ao mesmo tempo, ocorreu a transformação da sociedade de capital autorizado para sociedade de capital subscrito. Ainda em 1971, teve início uma nova etapa de implantação do plano de expansão da empresa, com a colaboração financeira do BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento Econômico S.A.). Visando à construção de mais 4.996m2, este plano compreendia a construção de dois pavilhões industriais, a ampliação da área administrativa, além da instalação da rede de hidrantes e da aquisição de equipamentos industriais. De olho em um crescimento acelerado e dona de produtos bem aceitos no mercado, como o ônibus Marcopolo, a empresa buscou novos empreendimentos, como a obtenção de licença de fabricação dos produtos da Monogran lndustries lnc (indústria norte-americana especializada no fornecimento de sanitários químicos para aviões, ônibus, trailers, camping) para a América do Sul. A partir de 1971, os primeiros ônibus equipados com as novas toaletes começaram a ser produzidos e atingiram uma boa aceitação das empresas transportadoras. Ao longo da década de 1970, a equipe administrativa sofreu significativas alterações em virtude da expansão da empresa. Em 1970, José A. F. Martins e Valter Gomes Pinto se integraram a equipe diretiva por convite de Paulo Bellini, 351 diretor-presidente. Eles se juntaram a Fiorindo J. Sartori e José W. T. Costa. Em 1975, o convite foi estendido a Raul Tessari. No anexo 8.10 encontra-se a composição da diretoria da Marcopolo entre os anos de 1949 a 1998. Entre 1969 e 1973, período conhecido como “milagre econômico”, a inflação estava sob controle e os bancos se transformavam em grandes conglomerados. Nesta mesma época, a indústria acelerava seu processo de concentração e o capital estrangeiro voltava a movimentar a economia nacional. O governo brasileiro começou a realizar grandes obras de infra-estrutura, então estradas e vias públicas passaram a receber grande parte dos investimentos. A década de 1970 manifestou também os reflexos da chamada "crise do petróleo" na economia nacional e mais precisamente no setor dos transportes. No entanto, em 1974, foi lançado o II Plano Nacional de Desenvolvimento, que deu ênfase especial aos meios de transporte coletivo pelo governo federal. Tal plano deu ânimo aos sócios de continuar investindo na empresa, pois eles acreditavam que para atingir os índices de economia de combustível esperados pelo governo, a implantação em todas as cidades de sistemas de transporte de massa seria uma grande solução. As condições necessárias para um desenvolvimento seguro das fontes produtivas foram proporcionadas pela criação de novas linhas para o transporte coletivo, pela renovação e ampliação das frotas e pelo desenvolvimento das exportações, além do clima de confiança transmitido pelas autoridades governamentais. 352 Ao final da década de 1970, a Marcopolo acelerou a ampliação de seu parque fabril com base nesse conjunto de expectativas favoráveis e montou mais duas unidades fabris, uma em Betim (MG) e outra em Caxias do Sul (RS). Em 1979, em Caxias do Sul, teve início a construção da nova fábrica da Marcopolo, no bairro de Ana Rech. Foram construídos inicialmente 30.000m2 em uma área de 223.832m2. A transferência para as novas instalações projetava a implantação de modernos sistemas de produção, planejados e desenvolvidos para conseguir um alto grau de produtividade. Ambas as unidades foram inauguradas somente no início da década de 1980 No bairro de Ana Rech, ficou a linha de montagem dos ônibus rodoviários e na fábrica do Bairro Planalto, permaneceram todos os setores ligados à produção de ônibus urbanos e de peças. O então engenheiro José A. F. Martins, atual vicepresidente da empresa, relatou com detalhes os lançamentos que sucederam ao Marcopolo e a estratégia adotada para atender ao mercado: “Nos primeiros anos da década de 70, houve a primeira crise do petróleo e, por isso, o governo fez um apelo muito forte à população para que usasse veículos de transporte coletivo. O ano de 1970 foi, então, o momento de grandes lançamentos: surgiu o Marcopolo II, com motor dianteiro, com modificações em alguns componentes, nas janelas e em alguns detalhes na frente do ônibus. Concomitantemente, foi lançado o Veneza, urbano, com teto reto, que também era uma mudança significativa, pois até então o comum eram os ônibus de teto redondo. Não fomos os pioneiros no lançamento do teto reto, mas, como achamos bonito, pensamos que valia a pena investir. Deu excelentes resultados. Em 1972, lançamos o microônibus Marcopolo Júnior, com o qual a empresa ganhou o Prêmio Distinção Indústria; pelo design e funcionalidade do produto. O Marcopolo III, lançado no ano de 1974, era montado exclusivamente sobre chassis com motor traseiro, além de ter seu design modificado, de forma a introduzir o teto reto na linha de ônibus rodoviários. A linha de urbanos, no mesmo ano, foi inovada com o Veneza Expresso.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 41). 353 A partir de 1972, a empresa deu seqüência à idéia de produzir um chassi. A idéia foi desenvolvida através de uma joint venture entre a Cummins Nordeste S. A. lndustrial (unidade brasileira da Cummins Engening Company, dos Estados Unidos), a Van Hool lnternational S. A. (da Bélgica) e a Marcopolo. Ainda na década de 1970, foi lançado um chassi do tipo tubular com suspensão a ar e direção hidráulica. No entanto, as contínuas mudanças na política governamental brasileira em relação às importações prejudicaram bastante a Cummins, e o projeto não continuou. Nos cinco primeiros anos da década de 1970, apesar de estar contexto político incerto e turbulento, a Marcopolo lançou os ônibus rodoviários Marcopolo II, Marcopolo III e Marcopolo SE; os urbanos Veneza, Veneza Expresso, Sanremo e Sanremo ST; e o microônibus Marcopolo Júnior. Em janeiro de 1975, o faturamento da empresa mostrava um crescimento de quase 100% em relação ao ano anterior. O principal responsável por tal índice de crescimento foi o aumento na produtividade, em virtude do treinamento especializado dos colaboradores e da racionalização do layout da fábrica. Já nesse período, poltronas, janelas, sanitários, cinzeiros, sistemas de bar e geladeiras eram produzidos na própria empresa. Cada departamento equivalia a uma fábrica. O departamento de poltronas, por exemplo, fabricava 144 a 150 poltronas/dia e a seção de janelas produzia de 100 a 150 peças/dia.. 354 Em 1975, a Marcopolo estava atuando no mercado brasileiro juntamente com outras nove empresas encarroçadoras e na disputa pelo mercado ela realizou diversos investimentos. Em 1976, adquiriu a concorrente Nimbus (ex-Furcare), cujo nome mais tarde, em 1979, foi alterado para Invel. Em 1977, uma nova linha de trolebus - veículo de tração elétrica sobre pneus - começou a ser desenvolvida pela Marcopolo. Encarregada da coordenação do projeto e da montagem do veiculo, a Marcopolo liderou o consórcio de empresas envolvidas, que incluía a Ansaldo do Brasil Equipamentos Eletromecânicos S.A., como idealizadora do Projeto e fornecedora de equipamentos elétricos e de serviços, e as empresas SAAB - Scania do Brasil S.A., INEPAR S.A. Indústria e Construções e Bardella Boriello Eletromecânica S.A. (BBE), como fornecedoras dos componentes eletro-eletrônicos e eletromecânicos necessários à fabricação do ônibus. Ainda em 1977, os ônibus articulados foram lançados como uma nova opção de transporte para algumas cidades e para as ligações intermunicipais. A Marcopolo foi a primeira empresa a produzi-lo. Em 1971, a Marcopolo investiu em concorrências na África do Sul e, pela primeira vez, tentou o mercado europeu. Na América, mesmo concorrendo com fabricantes europeus e americanos, firmou contrato para fornecimento de carrocerias à ESCA (Ensamblaje Superior C.A), na Venezuela. Em Guacara (Venezuela), a Marcopolo acompanhou as instalações de uma fábrica, cujo layout industrial foi desenhado em Caxias do Sul e os técnicos da empresa venezuelana 355 treinados para a montagem local das carrocerias. Esse tipo de contrato foi o primeiro do gênero realizado pelo Brasil, especializando a empresa em realizar operações em CKD, pois antes a Marcopolo só exportava unidades totalmente montadas (CBU). Em 1974, a experiência com o sistema CKD chegou a África. Em Accra, Gana, foi montado o microônibus Marcopolo Júnior. Em Gana, uma equipe da Marcopolo permaneceu por seis meses para implementar o projeto e treinar técnicos africanos. As peças e materiais do conjunto CKD eram enviadas do Brasil. Este foi um marco na história das exportações do Brasil. Nessa mesma época, após participar da Brasil Export 73, em Bruxelas, um desses veículos foi adquirido por uma empresa de transportes da Bélgica, tornando-se o primeiro ônibus brasileiro exportado para a Europa. Em 1974, a Marcopolo recebeu o Prêmio Exportação, conferido pela Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB), do Rio Grande do Sul, em virtude das estratégias de marketing para abrir novos mercados e aumentar o número de exportações. Em 1975, as exportações cresceram mais de 100% em relação ao ano anterior. Os principais fatores que contribuíram para este índice foram a montagem de carrocerias urbanas modelo Veneza, na Empresa Metrobus Del Equador, no Equador, como também a rede de representantes, que já atuavam na América do Sul, América Central, África e Ásia. Posteriormente a Marcopolo realizou exportações através dos sistemas CKD/MDD, como Chile (1976) e Peru (1988). A Tabela 7.9 apresenta o ano, os 356 grupos mecânicos que forneceram chassis e os países que adquiriram os ônibus da Marcopolo através deste sistema. Tabela 7.9 – Alguns Países onde a Marcopolo exportou através de CKD/MKD Ano 1972 1974 1975 1976 1988 1992/93 EXPORTAÇÃO CKD/MKD Grupo Mecânico / Chassi País Reo Mark - MB Venezuela Hino Ghana Cummins Equador Pegaso - MB Chile Volvo Peru Scania e Diva México Fonte: Livro Comemorativo 50 Anos Os sistemas CKD/MKD permitiram a Marcopolo ampliar suas transações no mercado internacional, possibilitando-lhe avançar ainda mais nos processos de aperfeiçoamento de seu pessoal e de desenvolvimento de suas técnicas de produção. Essa política manteve-se no decorrer da década de 1970. Em certo momento da formalização de um contrato de tecnologia, Raul Tessari, ex-diretor da Marcopolo, relatou: “No momento em que produzimos tecnologia para o exterior, essa tecnologia fica agregada ao nosso produto também no mercado nacional e isso justifica a posição de destaque que a Marcopolo ocupa em nosso mercado.“ (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 46) Associado tal política, existia a participação da Marcopolo em várias feiras nacionais e internacionais. Os estandes da empresa se tornaram paradas 357 obrigatórias de ministros e chefes de Estado, diretores de entidades, industriais e empresários ligados ao setor de transporte. Em 1978, a Marcopolo participava com 41% do mercado nacional de carrocerias rodoviárias, porém com 21% do mercado total. Juntamente com suas subsidiárias, Carrocerias Eliziário S.A. e Nimbus S.A., foram produzidas 3.021 unidades do total das carrocerias fabricadas no país. O Gráfico 7.16 apresenta os números relativos à década de 1970. Gráfico 7.16 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1970 4,000 30% 3,500 25% 3,000 Produção 2,000 15% 1,500 10% 1,000 5% 500 0 0% 1971 1972 1973 1974 1975 Produção Marcopolo 1976 1977 1978 1979 1980 Part. de Mercado % Fonte: Fabus No final da década de 1970, as exportações da Marcopolo atingiram níveis expressivos para o setor. Somente no primeiro semestre de 1979, a empresa 358 Market Share % 20% 2,500 exportou o equivalente a 12 milhões de dólares, volume superior ao exportado em todo o ano anterior. Em 1980, a Marcopolo atingiu a cifra de 20 milhões de dólares em exportações, um aumento de 106,7% em relação a 1979. Através da rede de representantes no exterior, a Marcopolo gerava confiança e proporcionava um amplo atendimento aos seus clientes. Em 1981, esse grupo contribuiu para que o total das exportações da empresa chegasse aos 2 milhões de dólares. Para operar o processo de vendas no mercado internacional, a Marcopolo buscou parcerias com os fabricantes de chassi, como Mercedes-Benz, Scania e Volvo. Tais parcerias tinham a finalidade de definir objetivos para a promoção de ambas as empresas (a fabricante do chassi e a da carroceria), como também de realizar a entrega dos lotes de ônibus. 7.2.3. Fase 3: De 1981 a 1990 – Os Piores Anos e a Onda de Diversificação No início da década de 1980, o desaquecimento da economia brasileira afetou especialmente o setor industrial, agravando o nível geral de desemprego, promovendo uma alta das taxas de juros e constantes aumentos nos preços dos combustíveis. Esses elementos juntos influíram de forma negativa na renovação das frotas das empresas de ônibus nacionais. A produção de ônibus, em 1981, que foi de 15.267 unidades, foi decrescendo sucessivamente, e em 1984 atingiu apenas 6.650 unidades. Essa redução em quase de 57% da produção nacional 359 teve reflexos no envelhecimento da frota brasileira, que naquele período chegou a ter 53,9% dos ônibus com idade superior a oito anos, idade considerada exagerada na ocasião. O Gráfico 7.17 mostra a produção brasileira, a produção da Marcopolo e a participação de mercado no Brasil ao longo da década de 1980. Gráfico 7.17 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1980 18,000 30% 16,000 25% 14,000 20% 10,000 15% 8,000 6,000 10% 4,000 5% 2,000 0 0% 1981 1982 1983 1984 Produção Nacional 1985 1986 Produção Marcopolo 1987 1988 1989 1990 Part. de Mercado % Fonte: Fabus Em 1983, o nível de emprego industrial na Grande São Paulo havia caído 19% em relação a 1980. A inflação fechou o ano em 211% e o PIB teve uma queda de 3,4%. O período foi marcado por intensos movimentos nacionais como o Diretas Já – mobilização nacional que reivindicava eleições diretas para Presidente da República. As greves e as paralisações reuniram milhões de pessoas nos grandes centros brasileiros. 360 Market Share % Produção 12,000 Em 1986, o lançamento de planos econômicos, como o Plano Cruzado, aumentou a produção e fez cair a inflação. Em setembro de 1986, a indústria nacional teve um crescimento da ordem de 29% em relação à média de 1981, e a inflação no final do ano baixou para 62,36%. Em 1987, com o fim do congelamento de preços, os efeitos inflacionários reapareceram, assim como as greves e novos planos econômicos. O país vivia uma forte recessão, com desemprego e taxas de juros elevadas, o que inviabilizava novos investimentos por parte da iniciativa privada. Como observado no Gráfico 7.17, nota-se que o setor de fabricação de carrocerias de ônibus também sentiu os sentiu os reflexos da recessão, visto que apenas em 1981, a produção de carrocerias no Brasil atingiu o número de 15.000 unidades produzidas. A busca de soluções para as dificuldades do momento levou a Marcopolo a lançar novos produtos e a comercializá-los através de novos sistemas de financiamento, como consórcio e leasing. No dia 20 de fevereiro de 1981, com a presença de João Baptista de Figueiredo, Presidente da República, foi inaugurada a unidade fabril de Ana Rech, cujas obras haviam iniciado em 1979. Esta unidade, dez anos mais tarde, chegou a ocupar 52.199 m2 de área construída, quase o dobro da área inicial de 30.000 m2. Em 2007, a unidade de Ana Rech contava com 321.000 m2 de área física e 69.000 m2 de área construída. Em 1983, foi realizado um investimento de mais de dois milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento para lançar uma nova linha de produtos, que 361 estivesse caracterizada pela mais alta tecnologia e segurança. Em 1984, ano seguinte, a Marcopolo já produzia e comercializava nos mercados nacional e internacional, a Geração IV de seus ônibus, que foi composta pelos rodoviários Paradiso, Viaggio e Strada; pelos urbanos Torino (nas versões Standard, Padron, XP - Expresso, Trolebus, Romeu e Julieta e Articulado); pelos microônibus Senior (nas versões Executivo, Turismo, Urbano e Escolar) e FB-4000 (nas versões Escolar, Turismo, Executivo e Urbano). A Marcopolo, para superar esse período de crise nacional, reavaliou e modificou seus processos e sistemas de gerenciamento e de produção. Tais medidas cooperaram para que a empresa se recuperasse da crise sofrida no início da década de 1980, quando diversas empresas fecharam as portas ou entraram em concordata, como foi o caso do Grupo Randon, o maior grupo de Caxias do Sul, com faturamento de US$ 1,2 bilhões em 2006. (Melhores & Maiores, EXAME, 2007). Em 1984, foram encerradas as atividades da controlada Marcopolo Minas S.A., unidade fabril inaugurada em Betim (MG) em 1981. Essa decisão foi motivada pela forte recessão do mercado de ônibus urbanos no Brasil, e tal unidade não havia operado com lucro desde sua fundação (Relatório de Administração, 1984). A Tabela 7.10 apresenta o volume de carrocerias produzidas pela Marcopolo Minas durante os quatro anos que esteve em funcionamento: 362 Tabela 7.10 – Produção da Marcopolo Minas S.A. entre 1981 e 1984 SEGMENTO URBANO INTERMUNICIPAL ESPECIAL TOTAL 1981 295 18 0 313 1982 258 45 5 308 1983 430 14 0 444 1984 288 30 0 318 TOTAL 1,271 107 5 1,383 Fonte: Fabus A partir de 1984, a empresa começou a dedicar parte de sua estratégia à diversificação de atividades. Foi constituída a Marcopolo Distribuidora de Peças Ltda, incorporando as filiais da Marcopolo instaladas em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Foi constituída também em novembro de 1984, a controlada Marcopolo Agro-Florestal Ltda. para dedicar-se ao setor de reflorestamento e agricultura da companhia. Em 1985, a Marcopolo Minas S.A. incorporou a controlada Marcopolo Distribuidora de Peças Ltda. e transferiu sua sede para Caxias do Sul (RS). Em 1986, dando seguimento ao projeto de diversificação, foi instalada uma unidade fabril em São José dos Pinhais, no Paraná, da MVC Componentes Plásticos – empresa especializada inicialmente na fabricação de produtos fiberglass. Numa área total de 55.000 m2, com 5.000 m2 de área construída, sua implantação tinha por objetivo a produção de peças em fibra de vidro utilizadas nos ônibus. Essa fábrica também abastecia as montadoras de caminhões, tratores e similares, e fornecia componentes para outros segmentos da indústria, como a de móveis e a construção civil. 363 Em 1987, a Elizário S.A. Carrocerias e Ônibus foi incorporada com o objetivo de melhorar o desempenho global do grupo. Neste mesmo ano, foi constituída a Marcoveza e a MP – Participações e Administração Ltda., cujo objetivo era controlar e administrar as participações da Marcopolo em outras empresas. Em 1988, foi constituída a Polo Agenciadora de Negócios Ltda., cuja finalidade era agenciar negócios em geral. Ainda em 1988, dentro do programa de diversificação de investimentos, a companhia decidiu participar do projeto de privatização da Caraíba Metais S.A., única produtora de cobre eletrolítico no Brasil. O cobre eletrolítico é a matéria-prima para a industrialização de fios e cabos para energia e telecomunicações, radiadores, tubos, placas, vasilhames, ligas metálicas (com destaque para o latão e o bronze), além de outras finalidades. Em 1989, ano de seu 40º aniversário, por meio da Polo Agenciadora de Negócios Ltda., a Marcopolo iniciou uma participação no capital do Banco Arbi S.A., com sede em São Paulo e filiais no Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ainda em 1989, foi constituída a Marcopolo Paraná Veículos e Componentes Ltda., cujo objetivo era fabricar e comercializar ônibus, veículos automotores, carrocerias e componentes para a indústria automobilística. Com a Geração IV, resultado de uma mudança significativa principalmente nos setores de engenharia e de produção, a Marcopolo renovou sua imagem no Brasil e no exterior. A empresa identificou que para lançar uma nova linha de 364 produtos, o trabalho dos engenheiros e projetistas não eram condições suficientes. Foi realizada uma grande mudança em todo o setor de produção, para que o foco estivesse mais direcionado às necessidades apontadas pelos usuários. Os produtos da Geracão IV foram criados a partir das necessidades assinaladas pelos clientes e foram aprimorados seguindo o mesmo referencial. Tal foco contribuiu para a consolidação da imagem da Marcopolo no mercado e para o seu reconhecimento mundial como uma das maiores indústrias do ramo. Em 1986, devido ao sucesso da Geração IV, a Marcopolo recebeu seu segundo Prêmio Distinção Indústria com o ônibus rodoviário Paradiso. Ainda na década de 1980, a Marcopolo vive uma das principais transformações de sua história. Inspirada nas práticas japonesas, a Marcopolo decidiu aprofundar-se na questão da qualidade, através da implantação de uma nova mentalidade de administração e de produção. O processo teve início em 1986, numa viagem técnica ao Japão, organizada pelo Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais (IMAM), através dos professores Reinaldo A. Moura e José Maurício Banzato. Nesta visita, o Presidente Paulo Bellini, e o então, Diretor Industrial, Cláudio Gomes, conheceram as políticas japonesas de administração e produção e seus diversos programas nas áreas de segurança, organização, treinamento e qualidade, e retornaram ao Brasil com 14 fitas-cassetes contendo palestras e informações pessoais, alem de outras tantas informações escritas. De volta a 365 Caxias do Sul, os viajantes reuniram a diretoria e a gerência e expuseram suas conclusões. Os métodos japoneses foram divulgados aos empregados e a eles foi proposto que o método fosse implementado na Marcopolo. De acordo com depoimentos de Paulo Bellini, a Marcopolo acreditava a implementação do sistema japonês não ocorreria sem o comprometimento dos funcionários: “Nós acreditamos no que vimos. E, embora não soubéssemos como implantar o sistema aqui, tínhamos uma certeza: nada aconteceria por imposição da direção, precisaria haver o convencimento e a participação espontânea de nossos colaboradores. Este era o grande segredo do sucesso e o grande desafio.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 30) No período de novembro de 1986 a março de 1987, para dar seqüência ao processo, o professor Banzato realizou diversos cursos e assessorias sobre Justin-Time/Kanban na empresa, com o envolvimento de colaboradores de diversas áreas. A equipe da Marcopolo, a seguir, realizou diversas outras visitas ao Japão, com a finalidade de aprofundar conhecimentos e buscar subsídios para a implantação da filosofia japonesa de administração e produção. As palestras intituladas “Conheça as Características da Indústria Japonesa”, realizadas fora do horário normal de trabalho e com participação espontânea, foram a forma encontrada para iniciar a implantação. A primeira parte era dedicada à cultura japonesa. A segunda parte se discutia a parte mais técnica do sistema produtivo japonês, incluindo o kanban, o uso de prateleiras e controles 366 visuais. A terceira parte dava importância aos aspectos comportamentais, envolvendo relacionamento e ambiente. No final das palestras, ministradas pelo Diretor Industrial, estimulava-se o espírito crítico, sugerindo que os participantes comentassem com seus colegas suas impressões sobre o conteúdo da palestra. Isto funcionou como “marketing” na empresa, que por fim resultou na participação de cerca de 90% dos colaboradores. No encerramento, o Diretor-Presidente fazia a entrega de certificados e fotos e aproveitava a oportunidade para exercitar a participação dos empregados, solicitando sugestões sobre a forma de distribuí-los. Em seguida, os princípios da nova filosofia tiveram início num primeiro setor, o Setor de Pintura a Pó. Juntamente com seu supervisor, três grupos foram organizados e dedicaram-se a melhorar o ambiente do local de trabalho. Os primeiros grupos desenvolveram idéias que despertaram a curiosidade e o interesse de outros setores, que começaram a ter iniciativas semelhantes. A empresa passou a difundir os resultados do trabalho dos grupos através de fotos e cartazes nos quadros murais. Isto fez com que todos os setores da empresa ficassem mais motivados, o que estimulou um trabalho de integração. Mais tarde, como declararam Reinaldo Moura e José Banzato, professores do IMAM, a Marcopolo transformou-se em modelo de implantação para diversas empresas em nacionais e internacionais: “Receba, Paulo Bellini, e transmita a toda a sua diretoria a aos demais colaboradores da família Marcopolo, os nossos sinceros cumprimentos pela extrema dedicação, entusiasmo determinação e muito trabalho para 367 obter esse reconhecido sucesso que é a Marcopolo, um belo exemplo brasileiro e mundial, hoje e no futuro.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 30) Todo esse processo deu origem ao Sistema Marcopolo, um conjunto de técnicas que objetivava a produção com qualidade, num bom ambiente de trabalho, por pessoas satisfeitas. A filosofia do SUMAM (Sugestões de Melhoramentos no Ambiente Marcopolo) e a técnica do SIMPS (Sistema Integrado Marcopolo de Produção Solidária) são os princípios básicos do Sistema Marcopolo, e estes foram os responsáveis pelas principais mudanças ocorridas na Marcopolo neste período (UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 117). O SUMAM tem por objetivo levantar problemas e buscar soluções para melhorar o ambiente e o processo de trabalho. Os grupos são espontâneos, formados por afinidade, podendo participar qualquer colaborador da empresa. Para funcionar, o grupo escolhe um líder e um nome para se autodesignar. As reuniões ocorrem durante o horário normal de expediente. Embora o processo tenha começado somente com a aplicação genérica dos 5 “S” (Seiri – Organização, Seiton – Ordem, Seiso – Limpeza, Seiketsu – Conservação, Shitsuke – Disciplina), gradativamente os grupos se inclinaram a ampliar sua atuação, em nível de racionalização de métodos e processos. O SIMPS alia a técnica conhecida como kanban com a filosofia just-in-time e objetiva otimizar os processos produtivos, evitar desperdícios, além de reduzir 368 estoques e melhor controlá-los. Segundo Luiz. C. Boff, Gerente de Produção da época, de 1986 a 1994, o clico de produção foi reduzidos de 30 para 7 dias, e em 1994, se produzia o dobro pela metade do espaço (UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 117). Esse sistema envolve confiabilidade e boas relações entre fornecedores e clientes internos e externos. A empresa, por sua vez, investiu muito na implantação e implementação dessa filosofia oferecendo as condições necessárias para que todos os setores se engajassem nela. Em 1989, um novo desafio era lançado aos colaboradores da Marcopolo: toda a energia deveria ser canalizada, agora, para a qualidade do produto. Começa, então, o preparo para a produção da Qualidade Assegurada, mais um passo que resultou em sucesso dentro e fora da empresa, projetando a Marcopolo, seu produto e sua equipe no mercado. No ano de 1977, a Marcopolo registrou um número de 1.036 funcionários beneficiados com treinamentos, que incluíam desde a integração inicial e o TWI (Training Within lndustry) até os cursos destinados aos supervisores. Em 1986, após a implantação da filosofia japonesa, houve uma maior diversificação quanto à oferta de atividades de capacitação, pois tiveram início os treinamentos voltados ao SUMAM e ao KAIZEN, para a formação e o aperfeiçoamento constantes dos líderes e das equipes atuantes. Também foram oferecidos treinamentos ao pessoal técnico das empresas controladas, aos representantes comerciais e aos prestadores de serviços, cujo 369 grande objetivo era a agilização do atendimento aos clientes e a padronização do sistema de informações externas a fábrica. O Sistema Marcopolo, através do SIMPS, do SUMAM e do sistema de qualidade, foi implantado não só nas fábricas de Caxias do Sul, mas também nas empresas controladas, e sendo mais tarde estendido aos fornecedores, que receberam assistência para a implantação dessa filosofia. A Marcopolo iniciou o kanban internamente e, paulatinamente com seus fornecedores externos. A preocupação central passou a ser a entrega de materiais diretamente na linha de montagem sem inspeções previas de qualidade pelo pessoal da empresa. Inicialmente as entregas passaram a ser semanais e para a surpresa da Marcopolo alguns fornecedores sugeriram entregas diárias. Em 1989, a Marcopolo começou o planejamento de uma escola. O investimento no capital humano passou a ser direcionado àqueles que eram vistos como as promessas de uma nova geração. Em um primeiro momento, tal investimento de restringia aos filhos dos colaboradores, porém, mais tarde, esse capital passou a ser investido nos jovens em geral, independente da existência de qualquer vínculo com a empresa. Antes, em maio de 1988, a Marcopolo instituiu a Fundação Marcopolo (FM), entidade dotada de personalidade jurídica, sem fins lucrativos, com autonomia patrimonial, administrativa e financeira que teve por objeto social promover o bemestar social de seus colaboradores. A Fundação oferecia benefícios variados como: o Programa de Incentivo a Educação, coordenado pela Área de 370 Treinamento, que custeia parte dos estudos dos colaboradores, nos níveis de 1o grau, 2o grau, graduação ou pós-graduação; convênios com diversos estabelecimentos comerciais e escolas de informática; e empréstimos para colaboradores que necessitam de recursos para tratamento de saúde e para construção. Os planos de saúde e o atendimento médico-odontológico são oferecidos pela empresa, sendo o último feito nas próprias unidades fabris, o que contribui para a segurança do colaborador. Ainda em 1988, ônibus Marcopolo chegaram ao mercado norte-americano. Foi a primeira vez que um fabricante latino-americano estabelecia exportações regulares com os EUA. As primeiras unidades do microônibus S&S (Shuttle Bus) tiveram grande aceitação no mercado, em virtude do design, acabamento e conforto. Este microônibus foi especialmente criado para atender ao transporte de passageiros em curtos e médios percursos, a uma fatia do mercado norteamericano: Comercializado por seu distribuidor exclusivo Stewart & Stevenson em 1988 e 1989, o microônibus S&S, produzido nos modelos S-25 e S-28, foi considerado revolucionário para os padrões americanos da época. Para fabricá-lo, a empresa precisou desenvolver uma série de materiais em conjunto com seus fornecedores, além de uma rigorosa adaptação do projeto às normas técnicas norte-americanas. O microônibus apresentava características diferenciais como largura das portas, maior do que a convencional, e a disposição das poltronas no formato de 371 “U”, que tornava a circulação interna mais fácil. Esses modelos foram usados principalmente em hotéis e aeroportos – na condução de locadores de automóveis dos parques de estacionamento até às áreas de embarque – além de realizar o transporte em passeios para pequenos grupos de turistas. Por meio desse produto a Marcopolo ganhou força no mercado internacional e deu um passo em direção a um mercado sofisticado, pois sua equipe teve a oportunidade de conhecer novos materiais e processos, e uma outra normatização internacional. Ao produzir o S&S para os EUA, a Marcopolo obteve também grande repercussão no cenário internacional, deixando o produto brasileiro em destaque. Ainda em 1988, o Peru recebeu por dezoito meses, até 1989, uma equipe de técnicos da Marcopolo para a capacitação de pessoal e a montagem de 300 ônibus Torino em parceria com a Volvo. As unidades, enviadas em MKD desde Caxias do Sul foram montadas nas instalações das fábricas Etransa (em Lima) e Morillas (em Trujillos). Em 1988, houve uma redução da rotatividade da mão-de-obra de 37,9%, em 1987, para 13,8%, principalmente devido aos programas de apoio e assistência aos colaboradores e seus familiares. Em 1989, a rotatividade da mãode-obra atingiu 12,4%. (Relatório de Administração, 1989) Em 1990, com a introdução do Plano Brasil Novo, mais conhecido como “Plano Collor”, o mercado de transporte de passageiros foi severamente afetado. Em 1990, a produção brasileira baixou de 12.658 para 11.076, uma queda de 372 12,5%. De imediato, as mudanças estruturais e conjunturais implementadas pela nova equipe provocaram cortes de investimentos para reposição das frotas devido a diversos fatores, como o seqüestro de liquidez nas empresas, congelamento de preços e salários, defasagem tarifária, aumento nos níveis de desemprego e falta de financiamento a longo prazo, tanto ao mercado interno quanto ao externo. Em junho de 1990, além dos problemas enfrentados pela indústria com a mudança de governo, a Marcopolo enfrentou, também, uma greve geral dos metalúrgicos. Neste ano, a rotatividade da mão-de-obra passou de 12,4%, em 1989, para 24,9%, em razão das mudanças governamentais na política salarial e da reestruturação administrativa. (Relatório de Administração, 1990) 7.2.4. Fase 4: De 1991 a 2006 – A Internacionalização Uma das maiores contribuições das exportações para a Marcopolo foi o aperfeiçoamento técnico da própria atividade industrial. A empresa foi crescendo junto com a industrialização e com o incremento das exportações do país. Em 1991, a Marcopolo lançou o expresso Ligeirinho em Curitiba (PR), cidade referência nacional da área do transporte coletivo. O Ligeirinho se tratou de um ônibus especial, que foi desenvolvido por meio de parceria entre Marcopolo, URBS (Urbanização de Curitiba S.A.) e IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba). 373 O Ligeirinho fez parte de um sistema de transporte coletivo e inovador que foi proposto para a cidade. Os ônibus não possuíam catracas (elas ficavam na entrada das estações de embarque e desembarque), liberando mais espaço interno para os passageiros. Não existiam degraus: as portas de embarque, localizadas no lado esquerdo do ônibus, eram conectadas às estações-tubo por uma plataforma móvel, facilitando o acesso dos passageiros, inclusive de deficientes físicos. Tais características tornaram a parada no ponto bem mais rápida. Pequenas obras de superfícies foram necessárias para sua implantação, ocasionando poucos traumas para a cidade. Seu traçado pode ser alterado e ampliado com facilidade, e seus usuários não são privados da paisagem urbana. Em 1992, um ano após a implantação, tamanho foi o sucesso do novo ônibus que Curitiba já contava com seis linhas regulares e outras 15 em fase de implantação. Ainda em 1991, a coordenação do Projeto Megacidades conheceu o Sistema Ligeirinho e o divulgou em Nova York, sede do projeto. Em 1992, o sistema foi testado em uma linha de 7,5 km ao sul da ilha de Manhattan, em Nova York. Em 1999, os ônibus Marcopolo participavam com 71% do total de 361 ônibus Ligeirinho em circulação na capital paranaense e na região metropolitana integrada, mostrando o sucesso do projeto e a confiança em relação à Marcopolo. O lançamento do Marcopolo Geração V foi outro projeto lançado na década de 1990. Os primeiros modelos dessa nova linha de ônibus foram os rodoviários Paradiso GV e Viaggio GV. O projeto partiu de um sistema produtivo mais ágil, 374 capaz de fabricar veículos com melhores relações de consumo, aerodinâmica, desempenho e eficiência. Também se buscou melhorar características de espaço interno, conforto, segurança, economia operacional e facilidade de manutenção. Em 1992, no momento de lançamento da Geração V, a produção nacional no setor havia crescido pelo segundo ano consecutivo, superando em 15,1% o ano anterior. A Marcopolo, nesse período, apresentou um crescimento de 18%, acima da média nacional. Tal crescimento foi em razão da prática de tarifas públicas realistas, ao financiamento de projetos integrados de transporte urbano, por parte da FINAME, da intensificação do uso do leasing, do Crédito Direto ao Consumidor, dos consórcios e à utilização do Vale Transporte como instrumento de política social. Nesse mesmo ano, o governo brasileiro criou o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) para apoiar a modernização das empresas brasileiras que precisavam se ajustar à abertura econômica e à forte concorrência estrangeira. Para isso, contou com a assessoria do engenheiro japonês Kazuo Tsuchia, especialista da Japan Productivity Center. Em visita oficial ao Brasil, ele declarou-se impressionado com a Marcopolo, comentou que a fábrica da Marcopolo era surpreendente e que a empresa possuía controle de qualidade superior até ao de muitas empresas do Japão. (UEHARA, Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 120) A Marcopolo vem colecionando prêmios desde quando as carrocerias eram feitas de madeira. O microônibus Marcopolo Jr., o Paradiso, o Paradiso Double 375 Decker e o minibus Volare conquistaram o Prêmio Distinção Indústria da FIERGS nos anos 1972, 1986, 1996 e 1999. Ao longo dos anos, os ônibus da Marcopolo receberam diversos prêmios tanto de entidades nacionais como internacionais. A qualidade dos produtos Marcopolo, apesar de reconhecida e comprovada pelo mercado brasileiro, precisava ser mais tecnicamente ordenada e padronizada para que pudesse definitivamente se firmar no contexto mundial. Dessa forma, em 1994, a Marcopolo deu início à implantação do Programa de Certificação ISO 9000. Com a experiência no trabalho em equipe conquistada na implantação do Sistema Marcopolo, a empresa seguia acreditando que as transformações só iam ocorrer com sucesso se todos os colaboradores participassem, sendo ouvidos e tendo suas opiniões respeitadas. Nesse contexto, a empresa iniciou a implantação do programa de qualidade. A Marcopolo foi atravessando as etapas do programa e em 1995 definiu sua política da seguinte forma: “A Marcopolo tem como objetivo a melhoria do ambiente e dos processos, produtos e serviços, a fim de satisfazer seus clientes e colaboradores”. Em outubro de 1996, a Marcopolo recebeu a Certificação ISO 9002, e em abril de 1997, a Certificação ISO 9001, ambas conferidas pelo órgão certificador holandês Det Norske Veritas. Ao conquistar tais certificações, além de ter garantida a qualidade de seus produtos e serviços, a Marcopolo se tornou a primeira montadora brasileira de carrocerias a ser certificada e reconhecida internacionalmente. 376 Por meio da comprovação da ISO, a Marcopolo obteve a formalização e a equalização de seus processos. A empresa também agilizou e melhorou o atendimento a clientes e intensificou as parcerias com fornecedores. Outro objetivo importante atingido pelo Plano Global de Qualidade foi certificação ISO 14000. Esta normatização tratou a questão de preservação do meio ambiente. A partir de 1999, a empresa começou a realizar a separação de resíduos de acordo com o respectivo destino. Em 1991, a Marcopolo deu início a uma nova fase de expansão para ampliar sua presença em outros mercados. Neste ano a empresa iniciou uma joint-venture com o grupo português Evicar, forte distribuidor de veículos industriais produzidos pela empresa holandesa DAF, entre outras. Através dessa associação a Marcopolo iniciou o seu processo de internacionalização com a instalação desta sua primeira fábrica fora do Brasil, localizada na cidade de Coimbra, em Portugal. A Marcopolo S.A. participou com 66% do capital desta nova empresa. Em função da participação do país no bloco econômico da comunidade européia, nos seus primeiros anos de atuação, a Marcopolo Portugal concentrouse na prospecção de mercados, pesquisando as necessidades do consumidor europeu, para posteriormente desenvolver um produto que atingisse os índices de satisfação do usuário. A fábrica de Portugal, inicialmente com pequena capacidade de produção, possibilitou o acesso da Marcopolo aos mercados da União Européia e o intercâmbio tecnológico entre as unidades industriais da 377 empresa. De acordos com dados de 2006, a fábrica em Portugal ocupava uma área de 28.000m2, dos quais 7000m2 são de área construída, e sua capacidade de produção era de 250 unidades/ano. Ainda em 1991, ocorre a cisão parcial da Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus, resultando na constituição da Companhia Marcopolo de Participações. A companhia incorporou a controlada direta, MP Participações e Administração Ltda., e indireta Polo Agenciadora de Negócios Ltda. A proposição dessa cisão foi sugestão dos acionistas que entendiam que a Marcopolo S.A. devia dedicar-se ao seu ramo de atividade. Eles argumentavam que os investimentos em outras áreas traziam dificuldades ao mercado para melhor avaliar o desempenho da Marcopolo, pois a empresa sempre estaria à mercê do resultado de outras companhias, como a Caraíba Metais S.A. e o Banco Arbi S.A. (Relatório de Administração 1990). Ainda em 1991, foi constituída a ILMOT Internacional Corporation S.A. Em fevereiro de 1992, a Marcopolo estabeleceu um contrato com a Dina Autobuses, do México. Esta operação envolveu a exportação de ônibus completos (400 ônibus Paradiso e 2.500 unidades pelo sistema CKD) e a transferência da tecnologia de fabricação. O contrato, com vigência de dez anos, estabelecia o fornecimento de peças, componentes e técnicas de montagem de carrocerias. Em 1992, devido às mudanças na legislação, foi preciso uma nova alteração, porém o nome Marcopolo permaneceu e a denominação social trocou Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus para Marcopolo S.A. Neste mesmo ano é constituída a Marcopolo Empreendimentos e Participações Ltda. e a Marcopolo 378 International Corporation S.A, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, trading que tinha como função buscar alternativas de financiamento aos importadores dos produtos da empresa. A partir de 1993 a Marcopolo passou a centralizar seus investimentos no exterior na Marcopolo International Corporation. Então foram transferidas para essa empresa a participação na Ilmot International Corporation S.A. e a participação na Marcopolo Empreendimentos e Participações Ltda. Ainda em 1993, a Revista Exame distinguiu a Marcopolo com o título de “A Empresa do Ano” pelo melhor desempenho no setor de Material de Transporte. Na edição de 07/11/1994, a Revista Forbes incluiu a Marcopolo no ranking das “100 Melhores Pequenas Empresas do Mundo” e neste mesmo ano a Marcopolo recebeu o prêmio “Destaque Empresarial” conferido pela Associação Comercial e FEDERASUL em Porto Alegre (RS). Em 1994, foi Iniciado o programa de transferência das atividades de montagem, administração e vendas da unidade Planalto para unidade Ana Rech, o que gerou benefícios como redução de custos, integração das atividades e melhor atendimento aos clientes. No primeiro ano de transferência, a unificação dessas atividades contribuiu com uma economia superior a R$1.300.000,00 (Relatório de Administração, 1995). Nesse processo que envolveu a racionalização das atividades de duas fabricas em uma, cerca de 500 funcionários foram demitidos. Muitos deles, em 379 torno de uma centena, tornaram-se parceiros da Marcopolo e exerceram atividades que eram terceirizadas por ela. Segundo depoimento de Paulo Bellini: “Essa foi a solução adotada para suprir a falta de fornecedores de alguns produtos, além de necessitarmos de terceiros confiáveis, que utilizem os mesmos sistemas que nós, pois precisamos receber peças para o dia, ou até duas vezes por dia e não para um mês.” (UEHARA, Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 119) Em 1995, a Marcopolo adquire 55% das quotas de participação da Dinaço Ind. e Com. de Ferro e Aço Ltda, empresa especializada na transformação e beneficiamento de aço, localizada em Caxias do Sul (RS). No mesmo ano, a empresa lança o ônibus rodoviário Paradiso Double Decker, sendo pioneira no país na fabricação desse tipo de veículo. Neste mesmo ano, foi autorizado funcionamento da Marcoprev Sociedade de Previdência Privada, cuja finalidade era a concessão de benefícios complementares aos da Previdência Social a todos os funcionários da Marcopolo. A Marcoprev foi instituída para substituir e ampliar o antigo Plano de Suplementação Previdenciária Marcopolo (PSPM) que empresa mantinha desde 1991. Ainda em 1995, a empresa encaminhou pedido de registro de programa de ADR's (American Depositary Receipts) em nível 1, programa que passa a ser instituído a partir de 1996. Em 1995, a Mercedes Benz do Brasil, comunicou iria paralisar a produção de ônibus completos até o final do ano de 1996 para concentrar-se na fabricação de chassis e plataformas para ônibus. Essa decisão 380 fez com que as indústrias do setor, e principalmente a Marcopolo, agregassem um volume significativo a seus programas de produção. No Relatório de Administração do ano de 1996, foi destacado o seguinte trecho que transmite o momento que a empresa vivia: “A Marcopolo preocupada com a expansão de seus negócios e com o objetivo de sempre manter um elevado grau de atendimento aos seus clientes e um adequado retorno aos seus acionistas, está desenvolvendo intenso trabalho nos programas de redução de custos, melhoria da qualidade e produtividade, bem como a procura de novas alternativas. Isto tudo vem sendo realizado com base em um criterioso programa de Planejamento Estratégico, no qual estão engajadas todas as forças da empresa. De outra parte, a Marcopolo vem colaborando com grande empenho junto à Associação Nacional dos Transportes Públicos – ANTP, Associação Nacional dos Fabricantes de Carroçarias para Ônibus – FABUS e Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, no sentido de sensibilizar e alertar as autoridades governamentais para a necessidade urgente e inadiável da PRIORIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO SOBRE O TRANSPORTE INDIVIDUAL. Para tal, essa será sua grande missão sócio-política em 1997.” (Relatório da Administração, 1996, p. 9) Nesse ano, 1996, foi constituída a Polo Serviços em Plástico Ltda. e da Polo Investimentos Ltda. Neste mesmo ano, em conseqüência de toda essa transformação, uma reestruturação administrativa foi necessária, configurando a direção da Marcoplo da seguinte forma: um Conselho de Administração, constituído pelo Presidente e por dois conselheiros; uma Diretoria Corporativa, composta pelo Presidente, pelo Vice-Presidente e por dois Diretores; e uma Diretora Executiva, que conta com um Diretor Geral, um Diretor de Operações, um Diretor Comercial e um Diretor Administrativo Financeiro. 381 Segundo depoimentos de Carlos Zignani, atual Diretor de Relação com os Investidores (RI), a profissionalização da empresa foi um marco na história da Marcopolo. “Um momento muito importante foi quando a alta diretoria da Marcopolo percebe que deveria haver mudanças na gestão dos negócios da organização, principalmente no sentido de profissionalizar a companhia. Essa mudança foi um marco na história da empresa.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 32) Em 1997, a Marcopolo adquiriu o controle total da Dinaço lnd. e Com. de Ferro e Aço, que passou a compor a estrutura corporativa da Marcopolo S.A. No mesmo ano, o mercado externo voltou a ser enfocado como uma das prioridades da empresa, pois desejava estar sintonizada com uma economia globalizada e competitiva (Relatório de Administração, 1997). A Marcopolo Indústria de Carrocerias S.A. em Coimbra, Portugal, passou a pertencer integralmente à Marcopolo S.A. Em 1998, foi inaugurada a Marcopolo e Latinoamerica S.A., na Província de Córdoba, cidade de Rio Cuarto, na República Argentina, com uma capacidade inicial de produção de 1.200 unidades/ano, destinada a produzir carrocerias urbanas para o próprio mercado argentino e demais países do Cone Sul. Na continuidade de seus esforços para atingir a liderança absoluta no mercado, a empresa logrou alcançar, em 1998, a participação maior em todos os segmentos do setor: rodoviários, micros e, pela primeira vez em sua trajetória industrial no Brasil, a maior produção também em ônibus urbanos (Relatório de 382 Administração, 1998). O Gráfico 7.18 apresenta a evolução da participação de mercado da Marcopolo por segmento de ônibus entre 1983 e 2006. Gráfico 7.18 – Evolução do Market Share por Segmento de Ônibus da Marcopolo de 1983 a 2006 Evolução Market Share - Tipo de Ônibus 80.0% 70.0% 60.0% 50.0% 40.0% 30.0% 20.0% 10.0% 0.0% 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 Rodoviários 1993 Urbanos 1994 1995 Micros 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Minis (LCV) Fonte: Relatórios de Administração de 1983 a 2006 Em 1999, a empresa reformulou sua estrutura organizacional para fazer frente às novas oportunidades de negócios e perspectivas comerciais. Foram criadas as diretorias de Operações Internacionais e de Operações Comerciais no Brasil, com o objetivo de fortalecer as vendas e prestar um atendimento mais especializado aos clientes. Foi instituída a diretoria de Estratégia e Desenvolvimento, com a função de formular e direcionar as estratégias de longo prazo, acompanhar a evolução do setor, de novos mercados e de produtos. Foi 383 2006 também formalizada a diretoria de Engenharia, Aquisição e Logística, responsável, na sua área, pelo desenvolvimento de tecnologias e criação de contínuos diferenciais competitivos para a organização. (Relatório da Administração, 1999) Neste mesmo ano de 1999, em parceria com as empresas Volvo e Eletra, foi desenvolvido um veículo com tecnologia de propulsão hibrida, por motores a diesel e elétrico. A empresa também lançou o Volare, um minônibus integral, direcionado ao sistema de transportes especiais, e o Escolarbus, projetado para atender às necessidades especificas do transporte escolar. Ainda em 1999, a Marcopolo passou a administrar a Ciferal, empresa sediada em Duque de Caxias, Xerém, no Rio de Janeiro, ao adquirir 50% de seu capital votante e total. Em 2000, a Marcopolo S.A. firmou acordo com a Superbus de Bogotá S.A. (Superbus), líder na fabricação e comercialização de carrocerias para ônibus na Colômbia, para constituir neste país uma sociedade com a denominação social de Superpolo S.A.. Nesta sociedade, a Superbus participou com 50% do capital social, e a Marcopolo participou, através de sua controlada Ilmot International Corporation S.A., com os outros 50%. Em 2000, por meio da subsidiária integral Ilmot International Corporation, a Marcopolo concluiu a operação de aquisição, por US$ 4,2 milhões da totalidade do patrimônio líquido das empresas Laureano Gonzales S. A. e Laureano S. A., estabelecidas na cidade de Rosário, Província de Santa Fé, Argentina. Essas empresas detinham a exclusividade de concessão da Mercedes-Benz Argentina em região demarcada. Estas aquisições tiveram como objetivo garantir a 384 comercialização e o regular suprimento de chassi para ônibus à Marcopolo Latinoamerica. Em 2000, a Marcopolo e a Mercedes-Benz México de C.V., empresa do grupo DaimlerChrysler AG, firmaram um acordo de Associação e Cooperação, envolvendo a Polomex S.A. de C.V., controlada da Marcopolo. Na ocasião, por intermédio da subsidiária Ilmot International Corporation, houve um aumento de capital de US$ 6,2 milhões na Polomex. A Mercedes-Benz México passou a deter 26% do capital social da Polomex a partir de janeiro de 2001, mediante aumento de capital de US$ 2,2 milhões. A Polomex teve como objetivo a montagem de ônibus com carrocerias Marcopolo sobre chassis produzidos, principalmente, pela Mercedes-Benz. As instalações da Polomex foram transferidas de Aguascalientes para Monterrey, no Estado de Nuevo Leon, próximo à fabrica de chassi da Mercedes-Benz. Em 2000, a Marcopolo iniciou a montagem do ônibus urbano intermunicipal Torino na cidade de Pietersburg, África do Sul, em parceria com a Scania South África Pty. Ltd.. Ainda em 2000, as empresas Polo Investimentos Ltda. (Polo) e MVC Componentes Plásticos Ltda. (MVC), controladas da Marcopolo S.A., únicas sócias quotistas da empresa Dinaço Indústria e Comercio de Ferro e Aço Ltda. (Dinaço), iniciaram operação de venda da totalidade das quotas desta empresa (Dinaço) para a Tyco Flow Control do Brasil Ltda. Com essa operação, a Marcopolo visava a focar seus investimentos para a sua atividade principal no setor de ônibus. (IAN, 2000) 385 Nesse mesmo ano, 2000, a Marcopolo avançou nos planos de reorganização administrativa para dar suporte à expansão dos negócios no Brasil e no exterior. O Sr. José Rubens De La Rosa foi designado para ocupar o cargo de Diretor Geral cumulativamente com as funções de Diretor Administrativo e Financeiro, o Sr. Carlos Zignani passou a desempenhar funções estratégicas junto à Diretoria Corporativa e o Sr. Carlos Casiraghi assumiu a Direção Geral da Polomex. Dando continuidade ao “Projeto África” foi instalada, em Johanesburg (na África do Sul), uma fábrica própria, cujas atividades iniciaram em novembro de 2001. Tal fábrica fazia parte do complexo industrial foi da Volvo South África (PTY) Limited, adquirido em parte pela Marcopolo. Paralelamente, continuava em vigor a aliança estratégica realizada em 2000, com a Scania South Africa Pty. Ltd., com fábrica na cidade de Pietersburg. Em 2001, a Marcopolo assumiu o controle total da Ciferal. Ainda em 2001, a Marcopolo seguiu buscando oportunidades em outros mercados. Neste ano teve início do projeto de transferência de tecnologia com a cidade de Chaugzson – China. A Marcopolo S.A. assinou acordos técnicos de transferência de tecnologia para a Iveco, uma das empresas líderes, na Europa, na fabricação e comercialização de ônibus e caminhões. Em 2002, a Marcopolo implementou o programa Gestão de Valor Agregado (GVA), cuja finalidade era orientar o foco dos objetivos estratégicos e das ações operacionais para a agregação de valor ao negócio. O sistema GVA foi 386 desenvolvido com a participação da Escola de Administração de empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (EAESP) e com o apoio técnico do The Boston Consulting Group. Ainda em 2002, a empresa aderiu ao nível de 2 de Governança Corporativa da Bovespa, sendo a primeira empresa industrial brasileira a adotar tais padrões e regras. Mesmo com os problemas enfrentados com a crise na Argentina, em 2002 o resultado financeiro conquistado através do mercado externo foi responsável por 62,9% da receita da empresa, maior participação até então registrada. Gráfico 7.19 apresenta a evolução da participação do mercado interno e externo na receita da Marcopolo no período de 1984 a 2006. Gráfico 7.19 – Participação dos Mercados Interno e Externo na Receita da Marcopolo Participação dos Mercados Interno e Externo na Receita 8.7% 13.0% 15.9% 10.8% 9.5% 26.0% 15.2% 19.5% 24.5% 28.4% 40.7% 34.7% 42.3% 50.8% 91.3% 87.0% 84.1% 89.2% 90.5% 74.0% 75.5% 71.6% 65.3% 49.2% 1986 1987 1988 1989 1990 1991 56.7% 62.9% 46.9% 49.4% 52.7% 55.5% 84.8% 80.5% 59.3% 1984 1985 49.5% 1992 1993 1994 % Mercado Interno 1995 1996 1997 1998 57.7% 50.5% 1999 2000 43.3% 37.1% 2001 2002 53.1% 50.6% 47.3% 44.5% 2003 2004 2005 2006 % Mercado Externo Fonte: IAN e Relatórios da Administração de1984 a 2006 387 Em 2003, a Companhia destinou R$ 10,0 milhões na unidade de Ana Rech, em nova linha de montagem, com o objetivo de elevar ainda mais os padrões de qualidade do produto, segurança, ambiente de trabalho, produtividade e preservação do meio ambiente. Esses investimentos envolveram desde a elaboração de novo layout das linhas de montagem, construção de túnel de acesso, novo sistema de iluminação natural, avançadas cabines e estufas de pintura. Seguindo padrões internacionais, foi construída, na unidade Ana Rech, a maior da companhia, uma pista de testes, a primeira no gênero no país e uma das mais equipadas do mundo, com circuito planejado para simular as mais diversas condições de tráfego existentes no Brasil e no exterior. Neste ano, a Marcopolo adquiriu 40,0% de participação na Webasto. A empresa, estabelecida em Caxias do Sul (RS), fabricava equipamentos de ar condicionado veicular. O objetivo da operação era oferecer ao mercado equipamentos de climatização integrados aos ônibus produzidos pela Marcopolo. Durante o exercício de 2003, foram desenvolvidos aproximadamente 30 novos modelos de ônibus para atender demandas específicas de clientes, tanto do mercado interno quanto do mercado externo, como uma nova versão do rodoviário Andare, que foi desenvolvido especialmente para o transporte de atletas e turistas durante os Jogos Olímpicos 2004 de Atenas. Em 2003, foram montadas 3.680 carrocerias no exterior, o que correspondeu a aproximadamente 26,0% da produção total da companhia. Desse 388 total, 46,0% foram montadas no México, 40,0% na Colômbia, 10,0% África do Sul e 4,0% em Portugal. Na Argentina, as controladas Mapla e Laureano tiveram as atividades paralisadas devido a situação vivida pela economia desse país. Ao final de 2003, a Marcopolo retomou as exportações diretas para clientes localizados naquele país, tendo embarcado 130 ônibus num montante de US$ 9,5 milhões, sendo os pagamentos realizados de forma antecipada. Ainda 2003, A MVC desenvolveu um conjunto de painéis estruturais compostos a partir do plástico reforçado com fibra de vidro (fiberglass), denominado “Wall-System”. Essa tecnologia possibilitou o lançamento da “Casa Prática” - MVC. Em janeiro de 2004, o projeto recebeu aprovação técnica e homologação do financiamento pela Caixa Econômica Federal, sendo habilitado à comercialização. Neste mesmo ano, a Marcopolo conquistou a 4ª colocação no ranking das 100 Melhores Empresas para Você Trabalhar no Brasil da Revista Exame. Em 2004, devido ao sucesso do modelo CITMAX, lançado pela Ciferal em 2003, o market share do segmento de urbanos voltou a ampliar-se em 2004, atingindo a participação de 48,6% do mercado. Neste mesmo, também foram desenvolvidos novos produtos, como os ônibus da família Viale Europa, voltada ao segmento de ônibus urbanos, que foram montados na unidade de Coimbra (Portugal) para disputar os mercados da comunidade européia. Em 2004, foram montadas 4.349 carrocerias no exterior, o que representou 27,3% da produção total da companhia. 389 Ainda em 2004, além de receber o troféu Busbuilder Of The Year 2004, na Busworld, em Kortrijk, na Bélgica, a Marcopolo teve sua nova linha de montagem da unidade de Ana Rech inaugurada pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Em julho de 2005, foi constituído o Banco Moneo S.A. com a finalidade de reduzir a dependência dos clientes por financiamento de terceiros. Neste mesmo ano foram contratadas por esse banco 143 operações de crédito direto ao consumidor (CDC), capital de giro e FINAME, envolvendo mais de R$ 18 milhões, que além de possibilitar a aquisição de produtos fabricados pela Marcopolo, resultaram num lucro líquido de R$ 917 mil. Em 2005, as controladas no exterior fabricaram 5.618 unidades, um crescimento de 29,2% sobre as 4.349 fabricadas em relação a 2004, o que representou 34,1% da produção total da companhia. O mercado doméstico sofreu retração em 2005, registrando uma queda de 9,0%. Ao contrário, as exportações, que em 2004 já haviam crescido 12,1%, avançaram outros 115,7% em 2005. Dois negócios pontuais ocorridos em 2005, como o projeto Transantiago que absorveu cerca de 1.600 unidades e o Catar que absorveu mais de 400, explicaram o bom desempenho daquele ano. Por um conjunto de fatores ocorridos naquele ano, o Relatório da Administração buscou retratar como a Marcopolo percebia o segmento de carrocerias: “(..) A fim de assegurar menores oscilações no nível das atividades e nos resultados, a Administração vem prosseguindo em estratégias que objetivam minimizar os riscos da concentração em mercados, especialmente o interno. A ênfase dada às exportações e a implantação de 390 unidades fabris em blocos econômicos importantes são mecanismos utilizados na pulverização de mercados e clientes. As exportações para mais de oitenta países, aliadas às atividades desenvolvidas nos mercados onde a Companhia opera unidades fabris vêm gerando mais de 50,0% da receita líquida consolidada. As taxas de crescimento econômico brasileiro, e as dos principais mercados da Companhia no exterior, podem influenciar o nível da demanda dos produtos fabricados e comercializados pela Marcopolo. O governo tem forte influência na economia brasileira: alterações na política monetária, fiscal e tributária podem afetar os negócios, a condição financeira e os resultados da Companhia. Para diminuir possíveis impactos resultantes dessas variáveis, a empresa além de diversificar os mercados procura pulverizar a receita de clientes, de forma que nenhum desses represente mais de 5,0% das vendas. Os portos brasileiros, um dos gargalos da infra-estrutura, são uma ameaça real às exportações, porque sua capacidade está saturada e os custos não são competitivos. (...) A eficiência operacional da empresa decorre, dentre outros fatores, do emprego de tecnologias, métodos e processos desenvolvidos pela própria Companhia. Tais conhecimentos e o know how podem vir a ser copiados por concorrentes e, conseqüentemente, afetar a competitividade e os resultados. Consciente desse risco, a Companhia tem constantemente desenvolvido novos processos e sistemas de segurança para proteção de sua tecnologia (..).” (Relatório da Administração, 2005) Em maio de 2005, O Conselho de Administração, entendendo a conveniência e recomendações do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), aprovou a constituição de um Conselho de Herdeiros com o objetivo de preparar seus componentes para o processo sucessório. Neste mesmo ano, 2005, a Marcopolo foi incluída pela sétima vez consecutiva no Guia Exame - As Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil. Outro destaque neste ano foi a implantação do Código de Conduta na Marcopolo, uma ferramenta de gestão, cujo objetivo era promover um relacionamento fundamentado no respeito, na confiança e na transparência, e assim assegurar a perpetuidade das empresas que fazem parte da Marcopolo (Relatório da Administração, 2005). 391 Em 2006, foram destinados R$ 40,4 milhões às diversas unidades, contra R$ 24,7 milhões em 2005. Do total, R$ 23,5 milhões foram aplicados em máquinas e equipamentos produtivos; R$ 10,9 milhões em equipamentos de computação e softwares; e R$ 6,0 milhões em instalações industriais, das quais R$ 3,8 milhões na nova fábrica da Colômbia, R$ 1,7 milhões na fábrica da Rússia e o restante em outras controladas (Relatório da Administração, 2006). Em 2006, a Marcopolo decidiu expandir suas atividades para mercados do oriente. Os primeiros passos foram nos territórios da Rússia e Índia. Na primeira quinzena de janeiro de 2007, a joint venture Russian Buses Marco concluiu a readaptação das linhas de montagem, instalações da rede de força e iluminação, ar comprimido e assentamento dos MLJV e equipamentos de produção, na cidade de Golitsin, onde iniciará a produção de ônibus. Na Índia, a joint venture Tata Marcopolo Motors Limited localizada em Dharward acenou com a possibilidade de tornar-se importante operação no exterior, quando em plena produção. Os primeiros modelos de ônibus a serem fabricados foram definidos e são do tipo “low entry” que serão utilizados nos “Jogos da Commonwealth” a serem realizados na cidade de Nova Delhi, em 2010. A produção de ônibus para o transporte urbano e escolar deverá iniciar no final de 2007, ou início de 2008, após a conclusão das instalações da fábrica. Na Marcopolo, cerca de 50 colaboradores trabalham no projeto em regime de dedicação exclusiva, enquanto a TATA alocou ao projeto outros 20 funcionários. 392 Em 2006, os membros do Conselho de Herdeiros participaram de eventos de aprimoramento promovidos pelo IBMEC Educacional, IBGC e FBN (Family Business Network). O Plano de Carreira na Marcopolo foi estruturado para promover o crescimento profissional a partir da aquisição gradativa de competências e do domínio de novas habilidades pelos colaboradores (Relatório da Administração, 2006). A política da empresa é dar prioridade ao aproveitamento do pessoal da casa, via o Programa de Recrutamento Interno. A Gráfico 7.20 apresenta evolução do número de funcionários pertencentes ao quadro da Marcopolo (controlada) entre os anos de 1988 e 2005. Gráfico 7.20 – Número de Funcionários da Marcopolo (Controladora) entre 1988 e 2005 Evolução do Número de Empregados (Maiores & Melhores) 5,121 4,400 3,675 3,838 1989 1990 3,630 1991 1992 1993 2002 2003 2004 2005 4,253 3,582 3,295 1988 4,969 5,549 4,541 4,389 3,762 5,055 5,460 1994 1995 1996 3,523 1997 3,755 3,427 1998 1999 2000 2001 Fonte: Revista Exame – Publicação Melhores & Maiores (1988 a 2005) 393 No primeiro trimestre de 2007, a produção de carrocerias foi prejudicada pela irregularidade no suprimento de chassi que teve início no final de dezembro de 2006 e perdurou até fevereiro de 2007. Foram penalizados os clientes que aguardaram pelos chassis modelo 2007 e, conseqüentemente, as encarroçadoras cuja produção dependia deles. Estas se viram na contingência de estender as férias iniciadas no final de dezembro para janeiro e fevereiro e, em alguns casos, forçando-as à temporária redução da jornada semanal de trabalho para quatro dias. Em 05 de março de 2007, a Marcopolo anunciou a aquisição de 39,6% do capital social da empresa San Marino Ônibus e Implementos Ltda., situada em Caxias do Sul, que também atua no segmento de fabricação de carrocerias para ônibus. Embora atuem no mesmo segmento de negócios, tanto a Marcopolo como a San Marino seguem com suas atividades de forma independente, porém buscando o desenvolvimento de sinergias e o aumento da competitividade de cada uma. A Figura 7.2 mostra os mercados no mundo onde a Marcopolo atuava em 2007. Figura 7.2 – Marcopolo no Mundo em 2007 394 Fonte: Marcopolo – Fact Sheet 1º Trimestre 2007 395 7.3. Análise das Entrevistas Tabela 7.11 – Freqüência das falas por Desafio e Período Tabela 7.12 – Análise das Entrevistas 396 # 1 En tr CZ 2 CZ 3 CZ 4 Trecho Entrevista E nessa época, em 40, 50, nesta década aí, surge a Marcopolo, como uma empresa que tinha o objetivo de produzir ônibus. Ela começa com 17 pessoas, sendo que todos eram sócios e funcionários ao mesmo tempo. Então começa como uma empresa que tinha o objetivo de produzir ônibus, mas que algumas pessoas entraram com capital e outras com trabalho. Dat a 194 9 Desafio(s) Encontrado(s) Desafio #1 Desafio #2 Desafio #3 EMP Ambição EMP DIV Engenhosida Integração de Financeira EMP - Engenhosidade Financeira Resposta Res Res Res p. #1 p #2 p #3 ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 194 9 EMP Versatilidade E desde o inicio a Marcopolo sempre utilizou muito capital da comunidade. As pessoas subscreviam ações da Marcopolo, a Marcopolo na época se chamava Carrocerias Nicola. 194 9 NAV Negociar CZ Eram 3 irmãos Nicola mais Paulo Bellini, e outras pessoas que eram todas sócias, então na década de 50 por aí, 60, ainda era muito comum, a medida que a empresa ia crescendo, ela tomava capital da comunidade. 194 9 5 CZ As pessoas aplicavam na Marcopolo em cotas, seja lá o que for, e recebiam anualmente um dividendo, juros, uma coisa assim 194 9 EMP Engenhosida de Financeira NAV - Captura de Valor ☺ ☺ 6 CZ Ela começa em 49 produzindo carrocerias de madeira, já em 54 ela passa a ser pioneira, passa a produzir a primeira carroceria metálica no Brasil. 195 4 NAV Desafiar EMP - Versatilidade ☺ ☺ 7 CZ Nessa década, também de 50 a 60, surge a industrialização no Brasil. O Governo Juscelino traz a Indústria Automobilística no Brasil, cria esse tal de GEIA , que era Grupo Executivo da Indústria Automobilística, e a partir daí então a Marcopolo, com 6 anos de existência, começa então um desenvolvimento da industria automobilística e a Marcopolo aproveita esse momento. 195 7 NAV Consentir Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ NAV EMP Legitimidade Engenhosida Organizacion de al Financeira EMP - Engenhosidade Financeira ☺ 397 ☺ ☺ 8 CZ já em 57 sai então desse local aqui da 18 do Forte, transfere a fábrica pra cá (Bairro Planalto) com muita dificuldade, investiu o dinheiro que não tinha, inclusive, e aí sempre foi buscando o dinheiro da comunidade pra crescer 195 7 EMP Engenhosida de Financeira EMP Ambição EMP Expansão Produtiva ☺ ☺ ☺ 9 CZ 197 2 EMP Engenhosida de Financeira NAV Legitimidade Organizacion al NAV Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 1 0 CZ 198 4 EMP Engenhosida de Financeira NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração ☺ ☺ ☺ 1 1 CZ Aqui é uma Assembléia Geral de 1972, a Marcopolo não era capital aberto, os acionistas estão assistindo uma demonstração dos resultados da companhia em 1972. Você vê: governança corporativa, busca de capital já fazia parte do DNA da companhia. Eu credito muito a força da Marcopolo a essa distribuição de capital Então, quando eu entrei em 1984, a Marcopolo ainda realizava uma Assembléia aos sábados de manhã e fazia um churrasco, na época se chamava Rincão da Gandaia (?), era um Centro de Tradições Gaúchas, um local bem amplo, e participavam às vezes 1000, 1500 pessoas da assembléia e depois tinha um churrasco. Era comum as pessoas darem como legado ações da Marcopolo para os filhos. Então às vezes a família tinha 4, 5 filhos, e cada um era acionista da Marcopolo porque o pai dava não sei quantas ações para ti, então era comum nessa época o capital da comunidade fazer parte, integrar a Marcopolo. NAV Legitimidade Organizacion al CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 1 2 CZ 1a Fas e: 194 9a 196 7 195 7 ☺ ☺ 1 3 CZ a Marcopolo se transfere em 1957 para esse novo local, um prédio pequeno, pouco capital e produzindo já, começa a indústria automobilística a se desenvolver no Brasil e começam a aparecer os primeiros chassis produzidos no Brasil e que também ao longo dos anos seguintes já começa a desenvolver um chassi para fazer ônibus efetivamente. Era um veiculo que não era mais um caminhão era um chassi. Aí entra a Mercedes-Benz, logo em seguida, nos anos 60/61, entra a Scania, em 76 por aí entra a Volvo, e aí vem depois a Volkswagen. 195 6 EMP Ambição Motor de Crescimento Contínuo Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ 398 1 4 CZ E a Marcopolo sempre se especializando em termos de desenvolvendo a tecnologia porque tivemos que fazer tudo aqui dentro, design, engenharia, desenvolvimento de componentes, fábrica de poltronas, fábrica de portas, fábrica de janelas, e assim vai porque não existia no mercado alguém que fizesse 1 5 CZ 1 6 CZ 1 7 CZ A Marcopolo então buscando, imagina nós, as matériasprimas todas na época vinham de São Paulo, até hoje ainda vem, aço, qualquer matéria-prima vinha de São Paulo, tinha que trazer para Caxias, trazer para Caxias o chassi, monta a corroceria, e às vezes tinha que devolver para o mercado, de novo para São Paulo. Era distante dos grandes centros consumidores e distante dos grandes centros abastecedores de matéria-prima A grande felicidade eu diria da Marcopolo foi estar em numa cidade, em uma comunidade que tinha mão-de-obra boa, formada, treinada, e que conseguia metalurgia, que conhecia marcenaria, que conhecia costura porque poltrona tem que ser costurada, nós tínhamos uma mão-de-obra na cidade que nos permitiu fazer isso. E uma mão-de-obra extremamente produtiva, além se ser especializada era uma mão-de-obra produtiva, uma mão-de-obra então que compensava então todos os outros custos de trazer todas as matérias primas, montar aqui e devolver, quer dizer, seria um custo adicional. em função de todas essas condições que a cidade tinha e que a Marcopolo aos poucos foi também criando mão-deobra. Nós criamos escolas, escolas de treinamento interno, usamos muitos recursos das escolas daqui da comunidade, como o próprio SENAI, nos anos 90 nós criamos duas escolas de formação profissional interna, com um convenio com o SENAI e até hoje funciona, uma aqui nessa fábrica e outra na Ana Rech, em que os meninos são formados e recebem um diploma como formandos do SENAI, a Marcopolo sempre teve muito cuidado com a mão-de-obra, treinamento e motivação, 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 NAV Captura de Valor Ambiente Inóspito 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Formar CPX Fomento do Aprendizado Motor de Crescimento Contínuo ☺ ☺ NAV - Consentir NAV - Desafiar ☺ ☺ ☺ ☺ FRH Renovar CPX - Busca Abrangente de Soluçoes 399 ☺ ☺ 1 8 CZ 1 9 CZ 2 0 CZ 2 1 CZ nosso presidente até hoje, as coisas que ele cuida, ele quer saber como estão as pessoas. Ele ainda hoje, todos os anos, no Natal e quinze dias antes do Natal, ele passa na fábrica toda, cumprimenta um por um, um ano ele dá um botton da Marcopolo, no outro ano ele dá uma canetinha, mas passa de um por um, cumprimentando, agradecendo o trabalho, ele faz questão de fazer isso porque nossa indústria é muito artesanal. Depende muito da mão-de-obra artesanal, não somos uma indústria de processos, como é uma indústria química, uma siderúrgica, nós dependemos das pessoas, nossa linha de montagem são pessoas, e equipamentos nós usamos muito, mas para produzir os componentes, mas na linha de montagem é manual é basicamente mão-de-obra. E nós precisamos ter uma mão-de-obra que tenha qualificação e tenha comprometimento com o negócio. Então nós temos muitos programas de suporte, de apoio, de treinamento, mas principalmente de participação nos resultados também, quer dizer, precisamos deixar as pessoas motivadas, depois nós para comentar para você, nosso pessoal ganha talvez quase dois salários por ano de participação nos resultados. São sistemas que nós estamos criando ao longo do tempo que comprometam as pessoas, dêem motivação e que as pessoas também estejam preparadas para assumir cargos, para assumir novos desafios. Nós tínhamos pessoas muito motivadas, mas ao mesmo tempo nosso presidente sempre teve muita preocupação de trazer gente especializada. Então nesta década de 60 entra esse senhor que comentei contigo, Walter Gomes Pinto, que foi buscado de um mercado. Entrou também o Engenheiro Martins, que hoje é nosso controlador. Ele veio da Dana Albarus, é uma empresa que trabalhava com a fabricação de componentes para a indústria automobilística. Foi um engenheiro que veio aqui e agregou valor a companhia. 194 9 DIV Integração Tod as as Fas es DIV Integração 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX - Busca de Soluções Abrangentes 196 4 FRH Renovar Integridade Organizacion al NAV Legitimidade Organizacion al NAV - Legitimidade Organizacional DIV Integração FRH - Reter EMP - Versatilidade ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 400 ☺ ☺ 2 2 CZ Então sempre teve essa preocupação, e muita preocupação com comercialização também. Veja que já em 1961, a empresa tinha 10/11 anos, já fez a primeira exportação de ônibus, e conta aqui também aqui dentro da historia que a Marcopolo exporta o primeiro ônibus em 1961 para o Uruguai Este é o Sr. Walter Gomes Pinto, este é Martins, e este já saiu da companhia. Mas são dois que entraram na década de 60, buscados pelo Paulo Bellini, um engenheiro para cuidar da nossa área industrial e este era comercial/marketing. Então ali começa, fim de 1961 a Marcopolo realiza a primeira exportação. 2 3 CZ 2 4 CZ 2 5 CZ Olha aqui como era a linha de fabricação na época, tudo, um artesanato o equipamento, extremamente modestos para época, não tinha nada. 2 6 CZ 2 7 CZ Em 1949 começou fazendo carrocerias de madeira. A estrutura era toda de madeira, como se faz uma janela, uma esquadria, como a gente diz. E já em 1952 começa a se produzir toda a estrutura de aço e toda a parte externa aqui era toda de aço, porque na comunidade, em Caxias, já existia uma indústria metalúrgica bem instalada que inicia com a Metalúrgica Abramo Eberle. Aqui começa então todo o sistema. Acho que o grande salto da Marcopolo foi dado nessa ida e volta ao Japão. Aí trouxe toda uma tecnologia nova, efetivamente a Marcopolo deu um salto porque a filosofia japonesa de produção de encaixava exatamente no tipo de produto que nós fazemos e principalmente porque nós trabalhamos só com produtos customizados. Entendeu então, a forma de produzir, através do Just in Time e do Kanban caía como uma luva para a empresa. 196 1 EMP Ambição Ambiente Desafiante/Estimulante 196 4 EMP Julgamento FRH Antecipar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 196 1 EMP - Ambição ☺ 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 198 6 Ambiente Inóspito Motor de Co-evolução ☺ EMP Versatilidade EMP Julgamento Folga Organizacion al ☺ 401 2 8 CZ 2 9 CZ 3 0 CZ E nosso presidente teve uma felicidade muito grande de não impor de cima para baixo, a utilização dessa filosofia, e como que foi implementado? Assim que ele voltou do Japão, junto com o diretor industrial na época, ele começou a fazer palestras no auditório e foi espalhado na fábrica para quem quisesse assistir como é que funcionava, como é que era a filosofia japonesa de produção. Ao final do expediente as pessoas de candidatavam e ouviam a palestra no auditório. E aos poucos então, a partir dessas palestras que eram dadas eu sei que teve 50 turmas aí, porque no máximo eram 50 pessoas que davam no auditório, inscritas e era uma palestra por semana, começava na segunda-feira final da tarde, das 17 às 19hs. Era segunda e terça, quinta e sextafeira. Então as pessoas ficavam aí para ouvir as palestras do presidente sobre técnicas japonesas de produção. E a medida que ele foi explicando, algumas pessoas vieram, e uma delas foi esse João Carlos, ele cuidava de uma área de pintura, de tratamento anti-corrosivo, e começou a fazer algumas coisas, começou a organizar, foi um dos pioneiros então a utilizar isso, por isso então que depois ele acabou virando um ícone. Por isso, ele foi um pioneiro, foi o primeiro. Ele era um mestre na fábrica e implementou isso na área dele e começou a melhorar, a criar quadros, sistemas. Primeiro começa com limpeza, organização e começou a criar. Quando ele fez, outros começaram a fazer e o movimento começou de baixo para cima e não de cima para baixo. Então isso facilitou tremendamente a utilização de todas as técnicas japonesas que envolviam 12 sistemas, desde troca rápida de ferramentas. Nós mudamos todos os equipamentos para produzir então não mais, antes nós trabalhávamos por lote econômico e depois passamos a produzir a unidade que efetivamente era consumida. Várias e várias épocas quando eu entrei ainda era assim. Produzia uma peça, tem que fazer por lote econômico, armazenava-se às vezes então peças para um ano. Imagina um ônibus, que temos mais de 500 modelos diferentes um do outro, quantas peças tínhamos que ter. 198 6 EMP Versatilidade FRH Formar DIV Integração ☺ ☺ ☺ 198 6 EMP Ambição DIV Integração NAV Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 198 6 EMP Versatilidade EMP Julgamento CPX - Busca de Soluções Abrangentes ☺ ☺ 402 3 1 CZ 3 2 CZ 3 3 CZ 3 4 CZ 3 5 CZ A fábrica de Ana Rech foi projetada para produzir 10 ônibus por dia naquele sistema antigo, e hoje no mesmo tamanho nós estamos produzindo 30/40 por dia, sem ampliar a área, porque nós conseguimos racionalizar espaço, racionalizar estoque. Só produzir através do JIT, ou seja, produz carro por carro, individualmente, nosso sistema permite isso, e nós trocamos todos os equipamentos, que permitem então fazer grande variedade de peças com baixo volume. Essa é a característica da Marcopolo. Nós somos o contrário, grande variedade de peças com pequenos volumes, porque eu faço o ônibus individualmente. Então nós tivemos que trocar todos os equipamentos. Hoje nossos equipamentos são auto-programáveis porque eu não tenho como ter, cada peça tem que ter uma ferramenta para cortar, faço uma peça, boto a ferramenta, troco, faz de volta. Então nós temos equipamentos que são auto-programáveis pelo CAD, e que faz corte a laser, em de fazer por uma prensa, tem outro sistema, e isso foi então adaptado pela companhia, e isso deu para a Marcopolo uma competitividade muito grande, criamos uma tecnologia nova e isso começa com a introdução do Sistema Toyota de Produção ou Filosofia Japonesa de Produção. 198 6 EMP Versatilidade 198 6 Mas o que nós temos que pensar um pouco é que nos anos 60, a Marcopolo começa então a exportar, começa a criar mercados aonde ela tem atuação então muito forte, cria a rede de representantes em cada estado, cria uma rede de representantes fora do Brasil, começa com o Uruguai e aí vai expandindo, pro Chile. Mas a Marcopolo sempre foi a pioneira em muitos desenvolvimentos e os outros sempre copiaram. Crescimento e Renovação Organizacaio nal CPX Resolução Sistemática de Problemas ☺ ☺ EMP Versatilidade Crescimento e Renovação Organizacaional ☺ ☺ 198 6 EMP Versatilidade EMP - Julgamento ☺ ☺ 196 0 NAV Desafiar EMP - Ambição ☺ ☺ 1a Fas e: 194 9a 196 7 NAV Desafiar NAV - Manipular ☺ 403 ☺ 3 6 CZ 3 7 CZ 3 8 CZ 3 9 CZ 4 0 CZ Outra questão, com a introdução da filosofia japonesa de produção, nós passamos a incorporar os fornecedores também ao Sistema Marcopolo. Então nós procuramos trazer fornecedores de São Paulo para Caxias do Sul. Nós trouxemos fornecedores de outras regiões que se instalaram em Caxias. Hoje nós temos fábricas de vidros em Caxias, fabricantes de borracha, de faróis, lanternas, luz de freio, tudo feito em Caxias. Fabricantes de limpador de párabrisas, e nós fomos estimulando não só fabricantes externos como também nós utilizamos muito a terceirização. A partir da terceirização dos anos 90, por aí começa. Primeiro nós terceirizamos os serviços que nós consideramos meio, como por exemplo restaurantes, transportes, atividades que não eram atividades fim, mas ao mesmo tempo nós também terceirizamos algumas tarefas da companhia que geraram companhias paralelas à Marcopolo ou sempre integradas à Marcopolo que fornecem, e Caxias do Sul virou um cluster produtor de autopeças para ônibus, mas também para veículos pesados. Hoje basicamente quando se fala em ônibus se fala também em uma indústria de peças para ônibus que fica em Caxias do Sul. Os outros fabricantes de fora de Caxias, vem em Caxias buscar essas peças, porque a Marcopolo criou toda essa estrutura. E nós estimulamos esses fornecedores a também se desenvolverem. Então anualmente nós íamos e ainda vamos às feiras na Europa, e na ida a essas feiras, nós levamos os fornecedores juntos. Para se ter uma idéia, o que acabou acontecendo na cidade, várias joint ventures foram feitas por esses fornecedores com empresas européias. Muitas desses itens estratégicos do ônibus, ou são feitos por nós, ou são feitos por fabricantes muito próximos a nós, a nossa companhia. 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Manipular NAV Legitimidade Organizacion al CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ ☺ 199 0 EMP Julgamento FRH - Reter DIV Fragmentaçã o 2a Fas e: 196 8a 198 6 Tod as as Fas es NAV Manipular NAV - Captura de Valor ☺ ☺ NAV Captura de Valor NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ EMP Julgamento NAV - Captura de Valor ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 404 6 4 1 CZ Outra coisa, nosso fornecedor enxerga nossa linha de montagem através da internet, então ele sabe o momento adequado que ele tem que fornecer o pára-brisa para evitar que a gente tenha estoque, então ele já entrega no JIT também. Os fornecedores abastecem a nossa linha de montagem diretamente através do sistema JIT. 4 2 CZ Toda essa tecnologia foi sendo desenvolvida ao longo da história da Marcopolo, e aí vem desde o desenvolvimento de produtos. Isso tudo é feito internamente. 4 3 CZ Todos esses veículos sempre foram desenvolvidos internamente. E a Marcopolo sempre buscou crescimento da companhia com esses desenvolvimentos, mas ao mesmo tempo fez muitas aquisições. 4 4 CZ Então nós compramos várias companhias, nós compramos a Eliziário em Porto Alegre, compramos uma outra em Caxias chamada Invel, tinha a Nimbus, adquirimos a Ciferal no Rio de Janeiro. 4 5 CZ Aí teve um momento nos anos 60 quando entra o Martins e Seu Walter na companhia, os Nicola saem da companhia e formam essa Furcare. 3a Fas e: 198 7a 200 6 Tod as as Fas es Tod as as Fas es 2a Fas e: 196 8a 198 6 196 1 NAV Captura de Valor EMP - Versatilidade ☺ ☺ NAV Captura de Valor Motor de Crescimento Contínuo ☺ ☺ EMP Expansão Produtiva Motor de Crescimento Contínuo EMP Ambição ☺ ☺ ☺ EMP Expansão Produtiva EMP Ambição EMP Julgamento ☺ ☺ ☺ DIV Fragmentaçã o FRH Antecipar FRH - Reter ☺ 405 4 6 CZ Olha, certo eu não sei, mas o que eu tenho informações é que houve um desentendimento entre as famílias e aí eles resolveram sair e o Paulo Bellini adquiriu as cotas dos outros e aí que ele traz então o Martins e o Walter 196 1 DIV Fragmentaçã o 4 7 CZ Esses dois aqui entram logo que saem os Nicola e o Tessari entra depois, ele entra uns 10 anos depois como administrativo e financeiro. FRH Antecipar 4 8 CZ as Carrocerias Nicola eram conhecidas nessa época e no Salão do Automóvel de 1968, a Marcopolo faz um marketing muito grande em cima de um ônibus que ia ser lançado. Inclusive fez pesquisa nacional 4 9 CZ 5 0 CZ o Walter conta a história de que era mandada correspondência do Brasil inteiro para várias empresas, dizendo “Marcopolo vem aí!”, algumas largavam de São Paulo, do Rio, e ninguém sabia de onde era, e olha no Salão do Automóvel você vai ver o Marcopolo chegando, mas ninguém sabia quem era o Marcopolo. O Marcopolo chega nesse Salão do Automóvel e o Marcopolo era o ônibus da Nicola, isso foi em 1968 se eu não to enganado. O ônibus teve tanto sucesso que logo em seguida foi trocada a Razão Social da Carrocerias Nicola para Marcopolo Carrocerias e Ônibus, uma coisa assim. Então aí conta um pouco da saída dos Nicola. 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 5 1 CZ Aí entra a geração I de ônibus, a geração II, III, IV, V, hoje nós já estamos VI e já estamos pensando na VII também, e a Marcopolo sempre procurou desenvolver e fazer equipamentos na história dela. Nós fazemos carrocerias de ônibus, se é pequena, grande, média, urbana, rodoviária, FRH Antecipar FRH - Formar ☺ ☺ CPX - Busca Abrangente de Soluçoes EMP - Julgamento ☺ ☺ CPX - Busca Abrangente de Soluçoes NAV - Desafiar ☺ ☺ 197 0 2a Fas e: 196 8a FRH - Reter EMP - Julgamento CPX Fomento do Aprendizado NAV - Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 406 ☺ não interessava. 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 197 8 NAV Consentir EMP Ambição EMP Expansão Produtiva EMP Julgamento 5 2 CZ Nos anos 70, de 65 até 75, nós tivemos a revolução do Brasil, o País cresce muito, e a Marcopolo aproveita as oportunidades. 5 3 CZ Em 78/79, planejou fábricas novas. Planejou esta fábrica de Ana Rech e montou uma fábrica em Minas Gerais, chamada Marcopolo Minas. 5 4 CZ 2a Fas e: 196 8a 198 6 NAV Negociar 5 5 CZ Foi em Betim, porque a Fiat se instalou em Betim, e a Fiat na época era iniciante, mas já tinha uma visão de que a gente ia crescer muito e a Fiat já fabricava no Brasil caminhões, que onde é a Ciferal hoje, no Rio de Janeiro. Fabricava caminhões Iveco/Fiat e também antes disso era FMN e depois virou Fiat, depois virou Iveco. Então nós montávamos carrocerias vindas do Rio de Janeiro e montávamos nessa unidade aqui. Só que em 81/82 o Brasil entra em uma crise financeira muito grande, várias empresas aqui em Caxias do Sul, inclusive a Randon pediu concordata, 198 1 Ambiente Inóspito 5 6 CZ a Marcopolo teve muitas dificuldades como conta a história, e essa planta como mercado caiu tremendamente, a planta não teve sucesso e ela foi fechada e foi encerrada a atividade dela em 1984. 198 4 EMP Julgamento Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ ☺ EMP Julgamento ☺ ☺ EMP Versatilidade ☺ ☺ NAV - Consentir NAV - Consentir 407 5 7 CZ Não, mas teve muitas dificuldades financeiras nos anos 80, até 83, de 82 a 84 foi um período muito crítico, a Marcopolo demitiu muita gente, eu inclusive entrei depois que tinha passada a crise, mas eu entrei no lugar de um gerente financeiro que havia sido demitido Então eu entrei em 1984 quando o Brasil estava se recuperando, a indústria automobilística, a indústria de ônibus estava se recuperando. 198 2 NAV Consentir EMP - Julgamento 5 8 CZ 198 4 NAV Consentir Ambiente Desafiante/Estimulante 5 9 CZ Em 82 por aí, em 83, a Marcopolo lança uma geração nova de ônibus, a geração IV, que teve muito sucesso. Foi um produto que foi desenvolvido, ele tinha vários atrativos, moderno, e teve muito sucesso o produto e a Marcopolo então deslancha Em 86/87 entra a filosofia nova de produção e ela ficou muito competitiva, e ela cresceu tremendamente. 198 3 EMP Versatilidade NAV - Desafiar ☺ ☺ 6 0 CZ 198 6 EMP Versatilidade NAV Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 6 1 CZ Nós chegamos de 15/20 a 37, quase 40% do mercado, então ela teve um crescimento bastante acentuado, e em 84 ela lança a geração IV, em 86/87 introduz a filosofia nova de produção. 198 6 Crescimento e Renovação Organizacaional ☺ 6 2 CZ Nos anos 90 ela adquire a planta de Portugal......Ela faz uma joint venture não. Ela adquiriu uma fábrica, 100% Marcopolo.....Acho até que ela entrou com um sócio, tá certo. 199 1 EMP Ambição EMP Julgamento EMP Engenhosida de Financeira ☺ ☺ ☺ 6 3 CZ Essa planta já tinha a visão de que a Marcopolo estava competindo no mundo inteiro, não só na América Latina. Nós já estávamos presentes nos países africanos, Oriente Médio, e nós começamos a perceber que nossos competidores não eram mais os brasileiros e sim muitos europeus que competiam conosco 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Ambição NAV Desafiar EMP Julgamento ☺ ☺ ☺ Crescimento e Renovação Organizacaio nal 408 6 4 CZ 6 5 CZ 6 6 CZ 6 7 CZ 6 8 CZ e a nossa tecnologia apesar de ser ainda evoluída para Brasil, mas em termos europeus não era. Então, o que nós decidimos adquirir a planta de Portugal que tinha por objetivo estar mais próximo da melhor tecnologia existente no mundo que era a européia e dentro, logo depois, já se acenava Portugal vai estar na Comunidade Econômica Européia, 2 anos depois Portugal entrou na comunidade. Também nós entramos pela facilidade de língua, mas o objetivo era estar próximo da melhor tecnologia de ônibus que era a européia. Então o objetivo não era produzir ônibus, vender ônibus, era estar próximo e trazer essa tecnologia mais moderna para modernizar os produtos na Marcopolo.....Ainda é muito pequena porque ela teve esse escopo principal que era absorver a melhor tecnologia, trazer e melhorar os produtos no Brasil. Já na Geração V lançada em 1992 ela já conseguiu trazer boas inovações em termos de produto, e os produtos da Geração V já tem uma característica bem “europeuizada”, vamos dizer assim, com vários componentes que eram produzidos na Europa nós trouxemos para o Brasil e já produzimos aqui. Primeiro, vários equipamentos usados internamente, desde o ar condicionado. Nosso ar brasileiro era muito de má qualidade, equipamentos internos, Tv’s, geladeiras, bares, essas coisas todas nós trouxemos a tecnologia da Europa. Sistemas de revestimento internos que eram muito artesanais, nós conseguimos industrializar, outra coisa, modernizamos muito nossas janelas e portas internas, o porta-pacotes, que é esse que vai em cima da cabeça das pessoas, também foi modernizado através dessa tecnologia que trouxemos da Europa. Então a Geração V já teve muita característica que nós usamos, e introduzimos aqui através dessa cabeça de ponte que nós usamos com Portugal A Marcopolo então tem uma história de exportação e ao mesmo tempo de exportar tecnologia. Em 1974, a Marcopolo vendeu tecnologia para Gana, e aparece fotos aqui. Ela vende tecnologia para a montagem de uma fábrica em Gana. 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar EMP Versatilidade EMP Julgamento ☺ ☺ ☺ EMP Julgamento NAV Captura de Valor DIV Fragmentaçã o ☺ ☺ ☺ 199 2 NAV Captura de Valor EMP - Versatilidade 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Captura de Valor Crescimento e Renovação Organizacaio nal CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ ☺ 197 4 EMP Versatilidade EMP Ambição NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ 409 6 9 CZ Em 1979 foi para o Equador e Venezuela, 197 9 EMP Versatilidade EMP Julgamento NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ 7 0 CZ em 1992, a Marcopolo já tem com a geração V produtos que tem condição de competir a nível mundial, 199 2 NAV Captura de Valor NAV Desafiar CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 7 1 CZ em 1992 ela vende tecnologia para a Dina, uma empresa mexicana, e essa empresa então ela monta os ônibus os ônibus Marcopolo no México, com chassi Dina e carroceria Marcopolo. 199 2 EMP Versatilidade EMP Julgamento NAV Negociar ☺ 7 2 CZ 199 2 EMP Versatilidade NAV - Negociar ☺ 7 3 CZ 199 4 EMP Julgamento NAV - Consentir 7 4 CZ 199 4 NAV Consentir EMP Julgamento CPX Resolução de Problemas Sistemática ☺ 7 5 CZ De 1992 a 1994, nós vendemos ou comercializamos, alguns dos primeiros 500 ônibus foram montados aqui do Brasil completos e a partir dali foram montados na Dina e a Marcopolo então, com a presença na Dina, nós montamos as linhas de montagem da Dina e ela produz de 1992 a 1994, 3500 ônibus no México. Em 1994, o país quebra praticamente, o México desvaloriza a moeda 3 vezes praticamente, o dólar que tava 3 foi pra 10 e aí varias empresa mexicanas quebraram e a Dina quebra também. Ela tinha tentado adquirir uma empresa americana, mas não teve sucesso e com a quebra do mercado mexicano, de 1994 a 1998, nós praticamente não vendemos nenhum ônibus pro México e nesse período para uma empresa que tinha um volume muito grande de exportação pro México, perder isso foi um baque bastante grande e claro que nós procuramos outros mercados, mas o mercado mexicano era extremamente pesado. Nós fomos em busca de outros mercados. Nós fomos para a África do Sul, os fomos para os países africanos, o Oriente Médio foi um período que nós prospectamos muito esse mercado, 3a Fas e: 198 7a EMP Versatilidade EMP Julgamento EMP Ambição ☺ ☺ ☺ 410 200 6 7 6 CZ Nós, em 1994/95 com a crise do México nós tivemos uma redução muito grande na produção. 199 4 7 7 CZ 199 4 7 8 CZ 7 9 CZ Também aqui no Brasil, que foi introduzido o Plano Real. Com essa introdução do Plano Real nós tivemos uma redução na produção, depois de você for olhar o histórico da produção brasileira, nessa época cai bastante a produção no Brasil e a Marcopolo também diminui muito a produção. Nesse mesmo período, 1994/95, a Marcopolo contrata uma consultoria externa, com o objetivo de redesenhar nosso modelo de organização. Então nós contratamos uma empresa chamada Arthur D. Little, americana, e neste ano, início de 1995, se muda um pouco a estrutura da companhia. Os controladores vão para uma diretoria corporativa, saem do dia-a-dia da companhia, inclusive vão trabalhar fora no escritório, fora da Marcopolo e criam-se diretorias executivas, formadas por executivos e nesse aspecto, a Marcopolo começa a se desenvolver bastante e vou chamar assim, também em termos de gestão. Sentiu-se a necessidade de criar um novo modelo de organização, até porque os controladores que estavam eram executivos ao mesmo tempo e estavam com uma idade avançada e entenderam que tinham que pensar no futuro. 8 0 CZ E a partir dali com essa contratação dessa consultoria que se muda a figura deles NAV Consentir NAV - Captura de Valor NAV - Consentir 199 4 EMP Julgamento 199 4 EMP Julgamento 199 4 NAV Negociar FRH Renovar Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ FRH - Formar ☺ ☺ EMP - Julgamento ☺ ☺ 411 ☺ 8 1 CZ e eles passam a participar de uma diretoria corporativa que nada mais era quer uma preparação para o conselho de administração. E cria-se então diretores executivos e a partir então dessa mudança, a empresa começa a trabalhar também com planejamento estratégico. . Contrata-o primeiro no final de 1995, início de 1996, um consultor externo, do Rio de Janeiro.... Ele é um consultor de planejamento estratégico que mora no Rio de Janeiro. Trouxemos ele pra cá e a Marcopolo desenvolve planejamento estratégico. E aí é que sai a idéia da internacionalização da Marcopolo. Na verdade a internacionalização com Portugal não tinha o objetivo mercadológico, ela tinha o objetivo de absorver tecnologia para melhorar os produtos no Brasil, então não era dentro da mesma filosofia de hoje de internacionalização, tanto é que Portugal continua hoje naquele marasmo, produzindo 20 carrocerias por ano (?). Desde o escopo inicial não era o objetivo de ser uma produtora, a idéia era de absorver, melhorar e trazer tecnologia pro Brasil pra melhorar a produção brasileira. Então ali se decide pela internacionalização, então nós começamos a ver onde tinham oportunidades, até porque a Marcopolo já tinha nessa época, 1996 por aí, 1995, mais de 40% do mercado. 8 2 CZ 8 3 CZ 8 4 CZ 8 5 CZ Para nós crescer no Brasil ia custar muito caro, então a Marcopolo decide que o mercado da Marcopolo era o mundo. 8 6 CZ Então nós desenhamos uma série de projetos e o objetivo principal era sempre estar presente em blocos econômicos. 199 4 FRH Antecipar EMP Julgamento DIV Integração ☺ ☺ ☺ 199 5 EMP Ambição EMP Versatilidade Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Fragmentaçã o EMP Versatilidade EMP Expansão Híbrida ☺ ☺ 199 6 EMP Ambição EMP Julgamento NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 EMP Ambição EMP Julgamento NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ EMP Ambição EMP Expansão Produtiva EMP Expansão Produtiva ☺ ☺ ☺ 412 6 8 7 CZ Então a Marcopolo começa com a Argentina, com a primeira planta, muito embora já tivesse Portugal, mas dentro de um novo modelo que nós queríamos... 199 8 EMP Julgamento EMP Expansão Produtiva NAV Desafiar ☺ ☺ 8 8 CZ Portugal, o que aconteceu, nós compramos uma empresa que funcionava como se fosse uma empresa portuguesa, não integrada ao Sistema Marcopolo. 199 1 DIV Fragmentaçã o NAV Captura de Valor EMP Versatilidade ☺ ☺ 8 9 CZ Na Argentina não. Nós começamos na Argentina fazendo uma réplica da Marcopolo. 199 8 EMP Julgamento CPX Fomento do Aprendizado DIV Integração ☺ ☺ 9 0 CZ 199 8 EMP Julgamento CPX Fomento do Aprendizado DIV Integração ☺ ☺ 9 1 CZ Então nós fomos pra Argentina por quê? Primeiro porque era próximo, facilidade de língua e também na época tinha a história do Mercosul, que era extremamente importante, então nós em 1997/98 já foi inaugurada a primeira planta no exterior dentro dessa nova filosofia e a Marcopolo se instala na Argentina com uma planta para produzir ônibus replicando um modelo nosso, que teve realmente sucesso, foi a primeira planta onde nós conseguimos levar pessoas do Brasil e replicar uma operação no exterior. Em seguida nós decidimos, nós já estávamos presentes no Mercosul, pensamos no bloco econômico da América como um todo, nós tínhamos Pacto Andino e Nafta. Então já em 1999 nós resolvemos ter unidades próprias nesses dois países e formamos então uma joint venture no México e outra na Colômbia. 199 9 EMP Ambição EMP Expansão Produtiva EMP Julgamento ☺ ☺ ☺ 413 9 2 CZ No México nós começamos com uma unidade 100% Marcopolo, nós nos instalamos em Águas Calientes que é no interior do México. 200 0 EMP Expansão Produtiva NAV Desafiar EMP Julgamento ☺ ☺ 9 3 CZ 200 1 NAV Negociar EMP Engenhosida de Financeira EMP Julgamento ☺ ☺ ☺ 9 4 CZ 200 1 NAV Negociar ☺ 9 5 CZ Passado um ano, um ano e pouco, a Mercedes nos procura para fazer uma joint venture, perguntando se nós tínhamos interesse em transferir nossa fábrica de Águas Calientes para a fábrica deles em Monterrey. Em 2001, nós fomos para Monterrey e ficamos dentro da fábrica da Mercedes Benz. Ela monta então os chassis e nós as carrocerias. A fábrica de Águas Calientes nós fechamos, transferimos tudo para Monterrey e nesse momento então, em 2001, a Mercedes Benz entra de sócia com 26% e a Marcopolo com 74%. Nós produzimos com todos. Podia ser Mercedes, Scania, Volvo. Mas aí quando nós fechamos a parceria com a Mercedes, mas por quê? Porque ela era a maior fabricante local, maior de chassi, e nós achamos interessante a operação como um todo que tem uma participação interessante, e realmente a joint venture é uma ótima, só que nós ficamos meio bloqueados de produzir sobre Scania e Volvo. Aí o que aconteceu, a Volvo trouxe uma fábrica que ela tinha na Finlândia, o produto da Finlândia para o México, a Scania se “parcerizou” com a Irizar, que é um fabricante espanhol 9 6 CZ e além disso ainda foi um outro fabricante brasileiro, que é a Neobus, que se instalou no México. Então tem 4 fabricantes. 200 1 NAV Consentir Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ 9 7 CZ Mas hoje basicamente nós temos uma boa participação de mercado com a Mercedes Benz. Pra nós é importante essa joint venture porque facilitou nossa entrada no mercado, o conhecimento que a Mercedes Benz tinha do mercado, que era extremamente importante e conseguir uma parceria Mercedes/Marcopolo era tudo que nós queríamos. Bom pros 3a Fas e: 198 7a 200 NAV Negociar EMP - Julgamento ☺ ☺ 200 1 EMP - Julgamento NAV - Consentir 414 dois na verdade, porque a Marcopolo tem a melhor carroceria e o chassi Mercedes Benz é muito bem refutado, muito embora Scania e Volvo também sejam, mas o Mercedes tem um nome excelente 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 9 8 CZ pra nós é importante estar sempre no mercado, como estratégia nossa, com o maior fabricante local ou com o melhor fabricante de chassis porque nós precisamos do chassi para montar carrocerias então nós sempre buscamos a parceria com a fabricante de chassis. 9 9 CZ 1 0 0 CZ Ah sim, isso conta, porque eu não estava aqui, mas a Marcopolo buscou uma tecnologia alemã. Era uma parceria Marcopolo, Cammus e ....eram 3 parceiros. Isso tem no livro. Eram 3 parceiros. Nós fizemos uma fábrica de chassi na Bahia, com incentivos fiscais de 100%, mas não deu sucesso o negócio e inclusive naquela época, o Schmidt que é da Randon, hoje diretor de relação com investidores, foi pra Bahia. Ele era Marcopolo. Na época, nos anos 70 acabou não dando certo e aí a empresa fechou o negócio. V: A Marcopolo também tem uma parceria grande com a Agrale, né? Z: Hoje sim. Também isso fez parte do plano estratégico de nós termos em 1 0 1 CZ Começa em 1990 na verdade com a entrada do Colllor, o que ele começou a dizer, que aqui no Brasil só tinha carroça, então começa a se incentivar a importação de veículos mais modernos e aí entram várias, essas vans começam a entrar, eram pro transporte clandestino, e nós percebemos que nós deveríamos ter um veículo menos para combater as vans. Aí nós fomos em busca de uma parceria, primeiro fomos para a Coréia, visitamos a Kia, Hiundai, trouxemos vários chassis. 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Negociar EMP Julgamento CPX Resolução Sistemática de Problemas ☺ ☺ EMP Julgamento NAV - Consentir NAV Negociar EMP - Versatilidade ☺ ☺ ☺ ☺ NAV Desafiar EMP Julgamento EMP Versatilidade 415 ☺ ☺ 1 0 2 CZ Montamos algumas carrocerias, só que a Kia já tinha assinado contrato com um grupo brasileiro aqui e que importaria os veículos da Kia e eles não quiseram ceder esses veículos para a Marcopolo e nós tivemos que procurar as montadoras e ninguém se interessou em fazer esse chassi, então nós procuramos a Agrale e ela desenvolveu o chassi para a Marcopolo para fazer o Volare e foi em 1998. Junho de 1998 voltamos a reabrir a unidade que tínhamos fechado em 1994 com a crise. Essa unidade (Planalto) tinha encerrado. Transferimos toda a fábrica para Ana Rech e aí em 1998 com a introdução no Volare nós reabrimos essa planta para produzir. Em 1994, com a crise que deu, nós transferimos tudo para Ana Rech, linha de montagem não tinha mais nada, inclusive todo os escritórios foram transferidos para Ana Rech e em 1998, quando passa basicamente a crise, nós começamos crescer com Argentina, com México, Colômbia. Tinha também esse plano do Volare e nós reabrimos a planta aqui com o Volare, com essa parceria com a Agrale. Nós reabrimos a planta da Planalto. Então, nós reabrimos a planta com um novo produto. Hoje esse produto corresponde a 25% da nossa receita, 25 % da receita é o Volare, 25 % da receita global. 199 8 NAV Desafiar 1 0 3 CZ 199 8 EMP Julgamento 1 0 4 CZ 199 8 EMP Julgamento 1 0 5 CZ 199 8 1 0 6 CZ Como é que é nossa estratégia? Primeiro: estar presente em vários locais, vários blocos econômicos. Segunda estratégia: ter um parceiro importante, o melhor parceiro na região, sempre buscando. Principalmente o parceiro que tenha chassi. Se não tem chassi, nós procuramos sempre fabricante local que tenha melhor penetração no mercado. CZ No caso da Colômbia, quando nós fomos pra Colômbia e começamos a pesquisar o Pacto Andino, nós fomos na Colômbia por quê? Por que foi Colômbia? Exatamente porque nós nunca tínhamos vendido nenhum ônibus para a Colômbia, na história da Marcopolo. Era o único mercado da América do Sul que nós não conseguíamos vender, era um mercado que tinha fabricantes locais, e que era um mercado 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 1 0 7 EMP - Versatilidade ☺ ☺ ☺ ☺ NAV - Desafiar ☺ EMP Julgamento NAV - Captura de Valor ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado NAV Desafiar CPX - Busca de Soluções Abrangentes ☺ ☺ ☺ EMP Ambição NAV Desafiar EMP Julgamento ☺ ☺ ☺ EMP Versatilidade NAV Consentir 416 bastante fechado em termos econômicos. Aí nós decidimos vamos pra Colômbia, é lá que nós temos que ir. 1 0 8 CZ Aí nós buscamos quem era o principal fabricante e fizemos uma joint venture com ele. Isso foi a Superpolo, em 1999/2000. 200 0 EMP Versatilidade 1 0 9 CZ 200 7 EMP Julgamento NAV Captura de Valor 1 1 0 CZ 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade 1 1 1 CZ CZ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 EMP Versatilidade 1 1 2 Hoje nós temos 35-40% do mercado colombiano, o nosso parceiro está extremamente feliz, inclusive ele propôs a mudança do nome Superpolo para Marcopolo da Colômbia porque ele percebe que o nome Marcopolo hoje é uma grife em ônibus. Nós, dependendo do tipo de produto, temos várias alternativas de fornecimento. Eu posso fornecer o ônibus completo do Brasil, eu posso fornecer em PKD, em SKD ou CKD, completamente desmontado. Dependendo do produto, se é um produto de bom valor agregado, é até possível eu mandar ele completo do Brasil, porque o custo de transporte ele não vai...um produto de US$ 100 mil, eu pagar US$ 3 mil, é 3% do frete, então é possível eu remeter do Brasil. E depende também de volumes. Quando é um produto de baixo valor agregado, como é um Urbano que vale 20 – 25 mil dólares, 3 mil dólares é quase 10% do frete. É muito caro. Então o que nós fazemos? Nós exportamos eles desmontados e montamos localmente. Então o custo do frete baixa muito porque dentro do contêiner eu posso levar de 3 até 6 unidades. Então o frete fica extremamente barato. Outra questão importante, quando nós mandamos um produto daqui para um mercado comum, se eu mandar ele desmontado eu não tenho impostos de importação porque eu vou utilizar mão-de-obra local e a partir desse local eu exporto pro bloco, também não tem impostos. Então a Marcopolo fica muito competitiva. EMP Versatilidade NAV - Negociar ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ ☺ NAV Captura de Valor NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ NAV - Desafiar 417 6 1 1 3 CZ 1 1 4 CZ 1 1 5 CZ 1 1 6 CZ 1 1 7 CZ Foram colocando, mas que nós vamos quebrando as barreiras através de montagens, ou de joint ventures locais ou no sistema produtivo em si. No momento em que eu mando esses veículos desmontados, e monto lá, eu uso mão-de-obra, eu uso alguns componentes localmente e a tarifa de importação vai pra zero ou muito baixo. Então nós conseguimos ser competitivos através dessa estratégia. Mesmo hoje com o cambio bastante... Aí, claro, o que nós fomos fazendo? Como o custo do Brasil ta ficando muito elevado, nós estamos nacionalizando os componentes, então hoje 70% do que nós produzimos na Colômbia, vem de lá, é comprado lá, adquirido lá. No México já estamos em 40%, então porque, isso fica pra nós bastante importante, fica flexível, porque um dia se mudar aqui, eu posso voltar a fornecer do Brasil de novo. Então essa é a estratégia. Veja então, que em termos de Brasil e América Latina, nós estamos no Mercosul, Pacto Andino e Nafta, nossa planta no México também tem o objetivo de futuramente penetrar no mercado americano e canadense. 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade EMP Julgamento NAV Manipular ☺ ☺ ☺ EMP Versatilidade NAV Desafiar CPX Resolução de Problemas Sistemática ☺ ☺ ☺ Em 1988/89, nós fizemos uma parceria com a S&S, Stweart & Stevenson, que era do Texas, uma empresa texana, que nós trazíamos o chassi americano, fazíamos o microônibus e devolvíamos o ônibus completo para ser comercializado lá, o microônibus. Nós vendemos mais de 500 de ônibus. Só que na época nós não havíamos desenvolvido uma tecnologia, que hoje já temos, o PKD, ou seja, eu consigo fazer o veículo, o ônibus todo, sem o chassi. E nós não tínhamos desenvolvido isso e isso nós desenvolvemos a partir de 1994. 198 8 EMP Julgamento NAV - Negociar ☺ 199 4 EMP Versatilidade EMP - Julgamento 200 7 EMP - Ambição ☺ 418 1 1 8 CZ O PKD ele vai todo montado, a carroceria, menos os componentes mecânicos. E essa operação ela ficava muito cara trazer todo o chassi dos EUA, produzir a carroceria e devolver pra lá, o custo acabou inviabilizando a operação. Então nós comercializamos em 1989/90 uns 500 microônibus, pra várias empresas, desde National, Hertz, todas essas locadoras de veículos, mas também em 1994, quando o México quebra a Dina procurou uma saída que era exportar para os EUA, e nós, o chassi Dina e a carroceria Marcopolo foram colocados dentro na norma americana e ela conseguiu exportar em 1994, mesmo estando quebrada, uns 1000 ônibus para os EUA, mas mesmo assim não conseguiu se recuperar. Então tem muitos Viaggio Marcopolo rodando nos EUA com o chassi da Dina. O grande problema, e é porque não entramos porque a Mercedes não tem chassi dentro da norma americana, ela não tem chassi homologado, nós teríamos facilidade em fazer a carroceria homologar. 1 1 9 CZ 1 2 0 CZ 1 2 1 CZ Aí vai até 1999/2001 quando entramos na Colômbia, México e 1999 adquirimos a Ciferal, dentro também de uma proposta estratégica de crescimento. 1 2 2 CZ 1 2 3 CZ mas já em 1998 eles já haviam perdido todo o patrimônio, não tinham ganham dinheiro, perderam um monte de dinheiro e aí procuraram a Marcopolo, na verdade nós também nos aproximamos pois sabíamos de todas as dificuldades e aí adquirimos 50% da Ciferal já em 1999, e entramos então com a gestão Marcopolo. Aí sim nós mudamos toda a planta, paramos 70/90 dias de produzir e introduzimos toda a tecnologia Marcopolo na Ciferal, final de 1999, já começou a produzir ônibus da Marcopolo, não mais Ciferal, com a marca Ciferal, mas com os ônibus da Marcopolo. 198 9 199 4 NAV - Negociar EMP Versatilidade NAV - Negociar NAV - Consentir ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 199 9 EMP Ambição Crescimento e Renovação Organizacaio nal EMP Expansão Produtiva ☺ ☺ ☺ 199 8 NAV Negociar EMP Julgamento EMP Ambição ☺ ☺ ☺ 199 9 DIV Integração ☺ ☺ EMP - Versatilidade 419 1 2 4 CZ Mas ainda sim, em 2000, ainda perdemos dinheiro, era um negócio que não estava rendendo e em 2001, nós adquirimos os outros 50%, aí ficou 100% Marcopolo. 200 0 EMP Ambição EMP Julgamento NAV Captura de Valor 1 2 5 CZ 199 8 NAV - Consentir 1 2 6 CZ 199 8 NAV - Consentir 1 2 7 CZ Em 1998 houve uma crise bastante grande, me lembro 12/13 de janeiro, quando a moeda brasileira desvaloriza de 1,20 e vai pra quase 2 reais. Aí um monte de empresa entraram em dificuldades tremenda, a Caio e a Busscar que eram... Vicente: Mas por quê? A dívida estava em dólar? Zignani: A dívida tava dolarizada. Na época todo mundo tomava dinheiro em dólar porque era muito barato, aí terminou o primeiro governo FH, quando ele assume o segundo governo dele, 12 dias depois, aí ele decreta uma desvalorização e aí nas empresas, a dívida praticamente dobrou. A Caio estava muito endividada, quebrou e a Busscar, de Joinvile, entrou em dificuldades financeiras enormes. Em 2000, a Caio quebra. Em 1998, no caso da Busscar teve um outro fenômeno, foi o seguinte: o presidente, Sr. Haroldo morre em um acidente aéreo em 1998 e assume os dois filhos, de 34 anos e 32, e eles não tinham ainda preparado a sucessão, não tinham experiência, e eles começaram a fazer um monte de...seguir os passos da Marcopolo. Nós fomos para o México, eles foram para o México. Gastaram, compraram uma empresa na Noruega, sei lá, fizeram um monte de besteira, e ainda dá o problema, em 1999, do problema financeiro e a Busscar enfrenta uma dificuldade financeira muito grande, não quebrou, mas entrou em dificuldade financeira bastante grande, e agora, após 7 anos de dificuldades financeiras que estão se recuperando. Então ela quebra em 2000, nesse período, como ficou em dificuldades a Caio, e a Marcopolo tinha adquirido a Ciferal, nossa participação de mercado chegou a 50%, até mais de 50%. É claro, que depois que eles reativam, eles voltam e retomam o mercado. 200 0 NAV - Consentir ☺ ☺ 420 1 2 8 CZ Além disso, a Marcopolo continua então a estratégia de internacionalização. Nos adquirimos, fizemos uma joint venture na África do Sul, também foi em 2000/2001, 200 0 EMP Ambição CPX Fomento do Aprendizado EMP Engenhosida de Financeira ☺ ☺ ☺ 1 2 9 CZ a empresa continua, e também estamos buscando oportunidades de crescimento. Em 2005 agora, anunciamos fábrica na Índia, fábrica na Rússia, em 2001 vendemos tecnologia para a Iveco na China. 200 1 EMP Ambição EMP Versatilidade EMP Julgamento ☺ ☺ 1 3 0 CZ 200 1 CPX Fomento do Aprendizado EMP Versatilidade NAV Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 1 3 1 CZ 200 1 EMP Julgamento CPX Fomento do Aprendizado CPX - Busca de Soluções Abrangentes ☺ ☺ 1 3 2 CZ Nós fizemos uma venda de tecnologia de 3 modelos de ônibus, uma urbano, um rodoviário e um micro. A nossa contratação foi para fornecer esses modelos, a tecnologia toda, montar a fábrica e dar o start up, botar a fábrica funcionando. Então foi 2001, 2002 e 2003, basicamente nós entregamos a planta funcionando para a Iveco, recebemos US$ 12 milhões pela venda de tecnologia, só que a Iveco, a CBC/Iveco quebrou, a empresa não funcionou porque era uma joint venture com uma empresa chinesa estatal. A empresa quebrou e nós ficamos então na China (1:10:00), até hoje nós estamos na China, primeiro porque tínhamos toda essa transferência para ser feita e depois porque nós tínhamos interesse em continuar tendo uma operação na China. Mas até o momento nós não conseguimos identificar um parceiro que seja adequado para nosso negócio. O risco é muito grande na China e nós transformamos essa unidade em uma trade de compras. Então nós estamos com uma unidade lá com mais de 20 funcionários só identificando fornecedores e trazendo esses fornecimentos para o Brasil. Rússia começou a funcionar a planta agora em março de 2007 e na Índia ainda, nosso diretor está lá essa semana para definir o local no qual nós vamos ter a planta, mas provavelmente será em Dharward, já está anunciada inclusive, mas a confirmação deve estar acontecendo hoje, com o grupo Tata. Essa é uma joint venture para produzir volumes bastante elevados, 51% é Tata e 49% é Marcopolo. 200 7 EMP Engenhosida de Financeira EMP Julgamento EMP Ambição ☺ ☺ ☺ 421 1 3 3 CZ 1 3 4 CZ 1 3 5 CZ 1 3 6 CZ 1 3 7 CZ 1 3 8 CZ Porque o custo da China e da Índia são muito parecidos. E nosso parceiro é hoje um grande produtor de veículos pesados, fabrica chassi, fabrica automóveis, fabrica caminhonetes, tem um braço Tata Motors, mas além disso o Grupo Tata tem siderúrgicas, tem Telecomunicações, tem Alimentos... eu sei que há vários setores que eles atuam. Comenta-se inclusive que eles têm 7% do PIB indiano, é do Grupo Tata a Marcopolo sempre foi uma empresa que me atraía muito, eu tinha conhecimento...mas veja bem, que não foi só isso. Eu saí de uma outra empresa que eu era diretor financeiro e vim pra cá como gerente financeiro, ganhando menos que eu ganhava lá na outra. Mas eu acreditava que a empresa tinha potencial e que ela ia crescer. Então eu vim pra cá, mas vim como gerente financeiro, aí a primeira coisa nós tínhamos que capitalizar a empresa e fomos para o mercado de capitais. Fizemos um lançamento de ações na época, me lembro 3 milhões na moeda da época, não sei quanto é que era, na época já conseguimos uma renegociação da dívida. A partir dali nós buscamos primeiro capital de risco, fizemos uma subscrição de capital, fomos ao BNDES buscar empréstimos para a renegociação de toda a dívida existente e tivemos sucesso nos dois pacotes. O BNDES fez um financiamento de longo prazo para a companhia, nós buscamos um mercado de risco. A partir dali, a Marcopolo de 1984 pra cá só deslanchou, e em 1986/87 com uma filosofia nova de produção, nós começamos a crescer, dinheiro não faltava, pegamos um período maravilhoso. Mas ao mesmo tempo, em 1994/95 quando nós fizemos aquela reestruturação administrativa, cria-se a figura da diretoria corporativa e depois cria-se... continua com a diretoria corporativa, mas começa a funcionar o conselho de administração, em que começa a participar pessoas de fora da companhia, indicados pelos acionistas minoritários e 200 7 CPX Fomento do Aprendizado 198 4 NAV Legitimidade Organizacion al 198 4 EMP Versatilidade 198 4 EMP Engenhosida de Financeira 198 6 EMP Engenhosida de Financeira 199 4 NAV Legitimidade Organizacion al EMP Versatilidade NAV Negociar FRH - Reter EMP Engenhosida de Financeira EMP Julgamento NAV - Negociar EMP Ambição NAV Captura de Valor DIV - Integração ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 422 ☺ ☺ pelos preferencialistas. Aí então, depois entra pessoas indicadas pelo Banco Central, atualmente Bradesco/Trampton, em 2002 nós aderimos o nível 2 de governança corporativa 1 3 9 CZ Fizemos um novo lançamento de capital em 2002, buscamos capital de risco, no pior momento, foi em setembro de 2002, quando o Lula, era uma ameaça, nos fizemos o lançamento de capital, foi o único do ano feito no Brasil. E a Marcopolo ainda teve sucesso captando 100 milhões de reais, teve 30% a mais de procura, destes, 20% foram lançados no exterior, e para efeito de mercado era a pior coisa que podia acontecer, e se o Lula ganhar naquela época, para o mercado externo. Mas a Marcopolo era muito, como é que eu vou dizer, é nome muito forte já porque nós tínhamos operações. Nós fizemos em 1996 o lançamento de ADR, mas o projeto só teve custo, ninguém aderiu, aí nós cancelamos em 2004 o projeto de ADR. Mas hoje nós temos mais de 50% das ações PN estão no exterior. 1 4 0 CZ 1 4 1 CZ Então a Marcopolo tem todo esse carisma, vamos dizer assim, por ser uma empresa exportadora, por ter presença em vários países com fábricas, por ter em mais de 100 países produtos rodando, por ter presença na Europa, por ter presença no mercado mexicano, tudo isso dá uma facilidade de penetração no mercado 1 4 2 CZ mas nós não temos tido dificuldades em ter acesso a capital.Toda hora estamos sendo procurados para absorver mais capital, mas a Marcopolo hoje já está muito capitalizada e temos recursos para continuar a internacionalização e crescer mais ainda. 200 2 EMP Julgamento 199 6 EMP Julgamento 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Manipular CPX Fomento do Aprendizado EMP Engenhosida de Financeira EMP Julgamento NAV Desafiar EMP Engenhosida de Financeira ☺ ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ EMP - Engenhosidade Financeira 423 ☺ 1 4 3 CZ Eu diria que o BNDES hoje não é um grande empecilho de dar crédito para empresas que tenham condições de dar garantias, às vezes tem até questões políticas, 1 4 4 CZ 1 4 5 CZ pega no caso da Busscar, a gente sabe de Joinvile que ela não paga impostos, tem endividamento bastante grande, não paga os bancos, renegocia, o próprio governador de Santa Catarina ele é de Joinvile, então protege muito a empresa, é uma empresa que dá 3 a 4 mil empregos, então é importante para a comunidade que ela continue ativa. Normalmente, a falência, como é que vou dizer, não paralisa a atividade, pelo contrário, ela volta como uma cooperativa, ela volta como outra, assim como aconteceu na quebra da Caio, a própria Ciferal quebrou várias vezes, ela quebrou no Rio de Janeiro, ela tinha uma Ciferal de São Paulo, quebrou, aí ela se transformou em Condor, quebrou, se transformou-se em Tancor, quebrou, transformou-se em Neobus, quebrou, e aí acabou vindo a Neobus para Caxias do Sul, os caras compraram todos os equipamentos e começaram a montar em Caxias, a Neobus. Nós, recentemente, anunciamos que compramos 40% da Neobus, que é um fabricante bem na porta. 1 4 6 CZ Nós adquirimos por uma questão de uma barreira defensiva, imagina que um fabricante europeu viesse e adquirisse uma empresa na nossa frente, a 500 metros de distância, tendo nossa engenharia próxima, mão-de-obra, acesso a fornecedores, seria muito complicado ter alguém com mais potencial econômico que eles têm. 3a Fas e: 198 7a 200 6 Tod as as Fas es Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ Ambiente Piedoso ☺ 200 7 EMP Ambição EMP - Julgamento ☺ ☺ 200 7 EMP Expansão Híbrida NAV - Evitar ☺ ☺ 424 1 4 7 CZ Surgiu a oportunidade, nós fomos lá e adquirimos 40% da companhia, e claro que nós temos a intenção de adquirir mais, mas tudo é uma questão de tempo. 200 7 EMP - Ambição ☺ 1 4 8 CZ ☺ CZ 3a Fas e: 198 7a 200 6 199 3 FRH - Formar 1 4 9 1 5 0 CZ 1 5 1 CZ No início, claro, eu entrei como gerente financeiro, fui em busca de soluções para a companhia, principalmente na parte financeira, e realmente tivemos muito sucesso, em 1992/93, deu uma crise na área de compras e suprimentos, como eu tinha tido um bom sucesso na área financeira, bom agora tu vai lá pra área de suprimentos e compras, e resolve o problema. Fui pra lá, trabalhei dois anos nessa área. Nós tivemos a crise, ela se originou nas terceirizações em que nós tivemos alguns terceirizados ocultos, e que ao mesmo tempo terceirizaram e eram sócios do negócio. Entendeu, isso trouxe uma crise até de confiança, e negociações ficaram muito complicadas. Fornecedores que tinham o preço extremamente elevado porque tinham gente com interesse por trás, entendeu? Então nós procuramos resolver todo esse problema, e em um ano e meio, por aí, já estava resolvido. Voltei de novo para o financeiro, mas aí como diretor financeiro. Resolvida toda a crise, aí nós contratamos, na época era gerente de suprimentos e compras. Eu voltei para o financeiro, mas como diretor, e em 1994 ainda, entra toda a crise do Plano Real, crise do México, contratação de nova consultoria, que aí foi criada a diretoria, então eu passo a ser diretor, daí um ano e pouco depois eu passo a ser diretor geral, fiquei até o ano 2000, em 1998 nós fomos buscar outro diretor financeiro e era exatamente esse o objetivo de fazer uma transição pra ele, a intenção era essa de ser diretor geral. Então, em 2002 ele passou a diretor geral e eu fiquei como diretor de relação com investidores e também como coordenador entre os controladores e o executivo. DIV Fragmentaçã o 199 4 FRH Formar 199 8 FRH Antecipar CPX Resolução de Problemas Sistemática NAV Consentir EMP - Julgamento FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ ☺ 425 ☺ 1 5 2 CZ Então, hoje eu faço o papel também de secretário do conselho, sou eu quem organizo todas as pautas do conselho, as reuniões, coordeno o conselho fiscal. 200 7 FRH - Reter ☺ 1 5 3 CZ 200 6 FRH - Reter ☺ 1 5 4 CZ Nós criamos um banco, o Banco Moneo, eu sou o diretorsuperintendente do banco também, mas eu acho que a atitude que eu tomei foi acertada, tanto é que mesmo vindo da outra empresa, de diretor para gerente, ganhando menos, no longo prazo foi uma boa troca. Eu já estou há 23 anos na Marcopolo, conheço um pouco da história, porque tenho que ficar contando toda hora Sou de Caxias do Sul, formado pela Universidade de Caxias do Sul, e na Marcopolo eu percebia que tinha muita oportunidade, então eu fiz muitos cursos, muitas imersões, a Marcopolo possibilitou um crescimento meu bastante grande, fiz INSEAD na França, visitas, ao Japão também fui, Coréia, tive muitas oportunidades mundo a fora. 1 5 5 CZ 1 5 6 CZ 1 5 7 CZ A Marcopolo, como eu vou dizer, utiliza muito a mão-de-obra e motiva muito, dá muito treinamento. Possibilita, pra quem quer crescer, o seu desenvolvimento. Dá desafios, acho que até foi muito acentuado nos últimos quinze anos, até mais do que no período logo que eu entrei, mas a Marcopolo sempre tem um carinho muito grande com as pessoas, tanto é que as pessoas... isso é um diferencial. As pessoas não saem da Marcopolo, às vezes até ganhando menos, mas preferem ficar aqui porque sabem que aqui tem uma valorização. Às vezes não é só o dinheiro que conta, mas a valorização pessoal, a oportunidade de se desenvolver, a oportunidade de apresentar propostas e ser ouvido, isso é importante. Vicente: Como é que foi isso, em relação a uma multinacional, pra enviar seus funcionários expatriados para outros países? Zignani: É claro, nós criamos um programa, desde preparação na linguagem. Preparação na cultura pros países, aonde as pessoas iriam, e também nesse 3a Fas e: 198 7a 200 6 Tod as as Fas es Tod as as Fas es NAV Legitimidade Organizacion al 3a Fas e: 198 7a 200 NAV Negociar DIV Integração FRH - Reter FRH - Formar NAV Legitimidade Organizacion al FRH Formar NAV - Legitimidade Organizacional FRH Antecipar FRH Formar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 426 ☺ ☺ desenvolvimento nós trouxemos muita gente do exterior pra cá. 1 5 8 CZ 1 5 9 CZ 1 6 0 CZ 1 6 1 CZ Nós trouxemos muitos chineses, que vieram para o Brasil, e os primeiros estágios eles fizeram aqui. Então nós tivemos que fazer aculturamento, em termos de alimentação, linguagem, cultura geral mesmo. Mas então, nós criamos por exemplo, eu me lembro, nos hotéis nós tivemos que ensinar o pessoal dos hotéis a fazer a alimentação adequada para os chineses, para os russos, árabes...cultura, o cara não come carne de porco, o outro não come não sei o que... Nós temos uma área, dessa escola de formação profissional, ela treina, além das nossas pessoas, nós treinamos pessoas de manutenção dos nossos clientes. Então vêm comitivas da Arábia, vêm comitivas da China, Índia, México, Colômbia. Uma vez por mês nós temos uma comitiva aqui. Para explicar como é que troca um pára-brisa, como é que troca um limpador de pára-brisa, se quebra uma janela, como é que faz a troca, como é que regula a porta... Tudo isso pra nós é marketing. Se o veículo funcionar bem, o cliente repete a compra. Mas se tiver uma boa assistência técnica, uma boa rede de distribuição de pecas, e um bom treinamento que a gente possa possibilitar, valoriza o produto.....Isso pra nós é um diferencial, é um argumento de venda. É um diferencial a princípio e um argumento de venda Vicente: O preço é um pouco mais acima também por isso? Zignani: É um pouco mais acima por isso, mas eles sabem que não vão ficar na mão nunca 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar EMP - Versatilidade ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Captura de Valor CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺ ☺ NAV Captura de Valor Crescimento e Renovação Organizacaional ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Manipular NAV - Captura de Valor ☺ ☺ 427 1 6 2 CZ 1 6 3 CZ 1 6 4 CZ Pedroni: As duas coisas. Tu também não pode forçar ninguém a ir, porque a mudança é grande. Eu lembro, vou contar a passagem da China que foi logo quando eu entrei na empresa também, que nós começamos a escolher as pessoas que seriam monitores. Então, por exemplo, se você vai montar, vai vender tecnologia para um país, completamente diferente, cultura diferente, hábitos, costumes diferentes, nós tínhamos que escolher dentro da fábrica, pessoas que tivessem habilidades específicas. Olha, precisaria de um cara bom em solda, um cara bom em elétrica, então transformamos em monitores. Então bota esse pessoal em sala de aula, aí vai o Bisi conversar sobre cultura, explicar como é que funciona lá, para que as pessoas pudessem levar para suas famílias como é que funciona isso, como é que é lá, quais são os hábitos, como é que o povo chinês se comporta, o que é, por exemplo, um bom relacionamento com um chinês. Claro que nós também tivemos que aprender porque nós não conhecíamos. Então aonde é que a gente foi buscar? Tem um coisa que acho importante... Vamos para Rússia! O que nós fizemos primeiro? Quando pensar em Rússia, contrata alguém do país para ele já começar a fazer o levantamento socioeconômico do país, aí ele faz tudo isso, aí procuramos um parceiro, aí ele vai sempre sendo envolvido, depois no final, o que ele é? Ele é o gerente do projeto. Acabou-se, ta lá na Rússia. Ele é um descendente de russos, casou com uma russa, estudou na Rússia. Facilita tremendamente a entrada no país. Nós tivemos com um chinês também. Zignani: O indiano é o Chian (?). Ele trabalhou na Volkswagen, ele é um descendente de indianos, e isso facilita a entrada no país. Cultura já consegue facilitar, já faz o meio de campo, e ele já vai ser o gerente do projeto. Pedroni: E vai alimentar a empresa com informações importantíssimas, facilita, encurta um monte de caminhos. 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Negociar 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Antecipar 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Antecipar EMP - Versatilidade FRH Formar EMP Julgamento FRH - Formar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 428 ☺ 1 6 5 CZ 1 6 6 CZ 1 6 7 CZ 1 6 8 CZ Pedroni: Pra citar como exemplo, tem uma turma que vai agora dia 4, vão para a Índia. Inclusive tem um instrutor lá do escola de formação que o Carlinhos (Zignani) falou. Ele vai lá junto com o pessoal. Ele deve ficar lá por 3 – 4 meses, volta, fica um tempinho aqui porque tem família. Então, na nossa política de expatriado se faz o contrato por 2 meses, pode ser prorrogado, depois ele volta... vai outra pessoa. 25% a mais...é depende do contrato, mas normalmente é isso... A oportunidade é muito grande. Claro que tem outros fatores que tem que associar, a questão da língua. Se você for lá fábrica de Ana Rech hoje, talvez nesse horário não, nós temos lá grupos lá no nosso centro de treinamento que estão em imersão no inglês. Nós temos um grupo que está aqui, que está aqui, tá em imersão, pelo menos aprendendo algumas expressões mais tradicionais, mais comuns, em russo. Tem pessoas que de repente nem falam inglês, mas nem adianta falar inglês, então vai direto pro russo. Então nós contratamos, nós temos um jovem hoje aqui, além do Yuri (?) que ta lá, Yuri é nosso homem da Rússia que ta lá. Nós temos um professor aqui, professor de russo que está ensinando o pessoal aqui... como é que cumprimenta... então está criando uma espécie de manualzinho, porque nós temos que fazer tudo traduzido, tem que fazer manuais em russo, tudo, tudo, tudo. A pessoa que vai pra lá, tem que aprender a linguagem deles. Com a China tivemos problema até de arrumar tradutor, intérprete, como é que nós íamos conseguir....graças a essa né, a própria Universidade de Caxias, ela se mexeu e montou aí um programa de línguas e a questão do mandarim que não tinha. Até a Marcopolo colocar os chineses aqui, não se ouvia falar em mandarim. E nós pressionamos... até o próprio árabe que não tem até em Caxias gente que fala árabe. Nós tivemos que buscar em São Paulo pessoas que falam árabe, para fazer tradução simultânea nos 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV - Negociar ☺ FRH - Formar ☺ FRH Antecipar NAV Manipular FRH Formar NAV Negociar NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ ☺ ☺ 429 ☺ treinamentos... 1 6 9 CZ 1 7 0 CZ Zignani: Ah, eu esqueci de comentar, além da escola, nós temos o Centro Marcopolo de Educação Corporativa, CEMEC. Explica o que é, o que faz isso aí...isso foi criado em 2001. Pedroni: Na verdade o CEMEC... quando a gente fala em negócios, em internacionalização, o que a empresa precisa saber, bom, pra mim continuar crescendo, pra mim perpetuar o negócio, eu preciso definir quais são as competências essenciais pro meu negócio. Definida as competências... o que é competência essencial. Defino quais são as competências, defino quais são as funções estratégicas e aí quem são as pessoas que estão ocupando essas posições estratégicas e quais pessoas eu vou preparar, eu enquanto estiver ocupando as funções estratégicas, eu vou preparar para me suceder...imagina assim, eu sou o diretor, e estou ocupando uma função estratégica, é uma competência essencial pro negócio, a partir daí eu preciso preparar alguém. Então foi criado esse centro exatamente pra isso, a tendência é que viesse a desenvolver essas pessoas para qu Se eu não tenho então, eu tenho condições...eu estou considerado apto a entrar no processo ou vou ficar... aí nós buscamos então a Fundação Getúlio Vargas. É uma entidade de peso, tiveram outras... na época eu não participei dos processos...uma entidade que trouxessem, agregassem conhecimento, não que as outras não agreguem. Mas a FGV de São Paulo foi escolhida na época, aí foi feito todo um programa. Eram 135 pessoas escolhidas na época, que eram os participantes, foram 4 turmas, aí vinham pessoas que estavam lá na posição de gestores, que estavam no México, Portugal, em alguns módulos... em sua grande maioria vinham para o Brasil, era um encontro por 200 1 FRH Antecipar FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ 200 1 FRH Formar FRH Antecipar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ 430 mês, com 4 grupos. Toda a semana tinha um módulo com 4 turmas. Foi um treinamento de 4 anos e o pessoal de qualificou...então hoje nós temos um grupo bem preparado... formação de gestores. 1 7 1 CZ 1 7 2 CZ Nós temos um conselho de herdeiros que está trabalhando na sucessão. Isso já está bem encaminhado. Agora na semana passada, foi apresentado no conselho todo um projeto, ainda não foi aprovado, mas a idéia é continuar a família Belini sendo.. Seu Paulo já está com 80 anos, e aos poucos ir se afastando, aí entra um dos filhos dele, mas só no Conselho de Administração, a companhia continua sendo... Na África do Sul, isso, o Mauro. Ele teve na África do Sul. Nós também, em 2005 introduzimos um código de conduta na companhia, que acho que aí resolveu. Tinham umas questões de conflitos de interesses, vamos dizer assim, e um dos casos é que o filho do presidente era representante na África do Sul, até não se entendia que era muito...ele quem desbravou, mas aí a companhia resolveu terminar o assunto...e a Marcopolo adquiriu toda a representação. Nís tivemos aqui um outro caso, de um outro diretor, que era ao mesmo tempo fornecedor e diretor da companhia, nós resolvemos também. Então isso ficou resolvido também através do Código de Conduta, então hoje todo mundo sabe o que a empresa espera dele, o que nós queremos e como ele deve se comportar perante os vários públicos. 200 7 EMP Julgamento FRH Antecipar DIV Integração ☺ ☺ ☺ 200 5 DIV Integração CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 431 1 7 3 CZ Vicente: A cultura da empresa, as fábricas são similares, são próximas. Zignani: São similares, talvez Portugal esteja mais fora do nosso padrão. Como Portugal começou fora, ela tem uma vida própria... os sistemas todos não são integrados conosco, é uma empresa pequena, ainda Portugal... mas o restante nós... Vicente: E a Ciferal, no Rio de Janeiro, mais recente. Zignani: Tudo igual. Vicente: E se um dia eu tiver a oportunidade de conversar com alguém que está lá também, eles se sentem Marcopolo mesmo? Zignani: Sim. Pedroni: Nós temos lá uma Escola de Formação, vai inaugurar uma escola de formação... Zignani: Filosofia de produção, é tudo igual... Pedroni: Modelo de fábrica, layout de fábrica, processos, tudo igual... 3a Fas e: 198 7a 200 6 1 7 4 CZ Nós trouxemos um monte de gente quando nós adquirimos a Ciferal, o pessoal veio pra Caxias, quantos homens vieram? Trouxemos um pessoal do Rio de Janeiro, que passou várias semanas em Caxias trabalhando na linha de montagem, vendo como é que era, para depois poder replicar lá. 1 7 5 CZ Pedroni: E hoje nós temos muito isso, acho que é importante isso, que hoje nós temos...essa semana agora voltaram ontem dois mexicanos...Então quer implementar o Simps e o Sumam com nossa filosofia, vieram duas pessoas de lá, ficaram duas semanas conosco. Ficaram aqui, voltaram, há todo um programa de treinamento pra eles, e voltam pra lá ainda mais aculturados com nosso sistema. Tem sempre gente nova entrando, gente nova assumindo novos postos, então o pessoal vem... 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV - Integração DIV Integração DIV Integração ☺ CPX - Resolução de Problemas Sistemática CPX Resolução de Problemas Sistemática FRH Formar ☺ ☺ ☺ ☺ 432 ☺ 1 7 6 CZ Vicente: Ultimamente, bem, no último relatório trimestral, eu vi que o market share da Marcopolo está caindo no Brasil... Zignani: Sim, isso inclusive já tá..no segundo semestre..Tem um problema de abastecimento em janeiro e fevereiro. As montadoras não acreditaram que o mercado ia crescer, nós dizíamos que ia crescer, e o segundo aspecto, foi que nós superamos e introduzimos um produto novo, uma segunda geração de ônibus urbanos que foi introduzido na Ciferal. Nós sempre introduzimos em janeiro e fevereiro que são os meses mais fracos do ano, e aí teve toda uma curva de aprendizado que agora já tá resolvido. Então foi uma perda de market share. 200 7 NAV - Consentir 1 7 7 CZ Normalmente, anos de eleições municipais... o ano da eleição e talvez o ano um pouco o ano anterior, são períodos, em que as prefeituras, que são o poder concedente, que na verdade...empresa pública hoje no Brasil de transporte, só tem uma em Porto Alegre chamada Carrife (?), mas é muito pequena. Então todas as empresas são privadas, só que o poder concedente é a prefeitura, e a prefeitura, ela faz normalmente, ela faz exigências quando ta próximo da eleição municipal...bota mais ônibus novo, porque o prefeito vai fazer a campanha em cima do transporte público, então um ano antes, começa mais ou menos, uma renovação das frotas. Mas isso pode não ser verdade em alguns períodos porque o produto, ele tem que ter financiamento. É importante para ter sucesso, um ano de eleições municipais que tenha financiamento, que a taxa de juros não esteja num patamar extremamente elevado, senão o cara não renova. E que as tarifas estejam, também, remunerando o investimento. Então tem períodos, como deve dar nesse período no a 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV - Consentir 433 1 7 8 CZ 1 7 9 CZ 1 8 0 CZ Sim, nós temos duas instituições. Uma chamada Fabus e outra Simefre. No Simefre, o presidente é o Martins da Marcopolo. E na Fabus, também é. Dentro da Fabus, tem várias comissões, comitês na verdade, que trabalham no aspecto de padronização da frota, que a Marcopolo faz parte com o Paulo Mutter (?). Ele é o coordenador da comissão chamada Cotepa (?). Ele é o coordenador dessa comissão que trata de padronização de veículos, tanto urbanos, como rodoviários...mas é um trabalho que é feito pela Fabus. Além disso, ela faz também ações políticas. Por exemplo, renovação de concessões, aumento de prazo de financiamento, de taxa de juros, ações dentro do DNER, etc...a Fabus faz esse trabalho. Mas faz também em conjunto, ela se junta com uma instituição chamada Abrati...NTU, que é outra instituição. Uma é mais de rodoviário e outra é mais de urbano. Então nós pegamos essas instituições junto com a Fabus, o Martins então coordena tudo isso, promove ações nos ministérios, nos órgãos de governo, BNDES e outras instituiçõ hoje o grande problema do ônibus é o pedágio. O pedágio encarece muito as viagens, porque é pago por eixo, paga como um caminhão. Às vezes o cara ta andando com o ônibus mais vazio e tem um custo muito caro de pedágio. Mas isso não se conseguiu resolver. Tem muitas outras questões. Entidades reguladoras, aí cada estado, cada prefeitura cria uma norma do ônibus, é incrível. Pega no Rio de Janeiro, só pode ter ônibus com porta, sei lá, de 1,80 m.. não pode ter poltrona em estofado. Cada cidade, cada estado quer, gosta de criar uma norma. Cabe ao Simefre através das outras instituições procura padronizar um pouco isso, senão nós vamos ter cinco mil municípios e cada município resolve criar uma legislação especial pro ônibus...aí tem que ter, como é que se diz, elevador para os incapacitados... 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV - Manipular ☺ NAV - Negociar NAV - Desafiar ☺ 434 1 8 1 CZ 1 8 2 CZ 1 8 3 CZ 1 8 4 CZ 1 8 5 CZ Eu acho que ainda, nosso ônibus é ruim. Mas o problema é que o ônibus de piso baixo, é um veículo com portas amplas, fácil entrada e saída...só que é um veículo que custa mais caro, aí vai ter que ter uma tarifa maior, aí muitos empresários não colocam, a prefeitura... A tecnologia existe, mas ainda nós produzimos veículos que não são adequados... Curitiba criou um sistema de transporte que possibilita então a utilização de veículos articulados, bi-articulados, aonde tem estações que o passageiro não precisa subir degrau nenhum...essa aqui é uma foto antiga, mas é um sistema aonde cai uma plataforma e o passageiro já embarca sem subir nenhum degrau. Isso já tem no Brasil, na Colômbia...hoje o mais moderno sistema de transporte sobre pneus é o de Bogotá. Temos o Transantiago, no Chile, e agora ta saindo o Transcali, na Colômbia. Nós procuramos motivações para que as prefeituras façam esse sistema de transporte. Aí nós nos juntamos também com as montadoras de chassis, porque também têm interesse. Vicente: E a Marcopolo está de olho não só em ônibus, nas também em.. Zignani: Sistemas de Transporte. Nós, inclusive, temos parcerias com empresas que fazem isso. Não é da Marcopolo, mas tem várias empresas que projetam esses sistemas de transporte. Uma delas é do Cloraldino Severo, ex-ministro dos transportes. E que quando nós percebemos que há uma cidade que ta interessada, nós motivamos também. Nós levamos eles para fazer palestras, pras câmaras de vereadores, pro prefeito, pro cara da área de transporte, pra secretaria de transporte, pra mostrar que pode implementar um sistema de transporte mais moderno, que dá pra fazer isso, que dá pra fazer aquilo...Então nós levamos uns consultores que fazem isso, então nós às vezes até 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 NAV - Consentir EMP - Versatilidade ☺ NAV - Manipular ☺ EMP Ambição EMP Versatilidade Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ ☺ EMP Ambição EMP Versatilidade NAV Manipular ☺ ☺ ☺ 435 colaboramos financeiramente para esses projetos...É um outro campo que a Marcopolo tem muito interesse, desenvolvimento de sistemas de transporte, que ajuda depois a vender produtos. 1 8 6 CZ 1 8 7 CZ 1 8 8 CZ Aqui em São Paulo, acho que já tem bastantes corredores... O Rio de Janeiro que ainda não está muito motivado para isso, mas eu diria até que a frota do Rio de Janeiro não é uma frota velha. É uma frota relativamente nova, só que é ainda meio bagunçado o sistema de transportes. Muitas empresas que atuam, não têm corredores... E muita van, muita van. Mas aí, acho também que tem muitas questões que quem não quer muito resolver o problema são as transportadoras...então tem muito interesse por trás, da própria empresa transportadora que não tem interesse em modernizar. Sim. Eu diria o seguinte, até quando eu entrei na Marcopolo, a grande preocupação era a cadência de produção. Pegava períodos de extremamente alta produção e outros períodos baixos. Principalmente pegava primeiro semestre, fraco. Segundo, fortíssimo. Porque era o período que todo mundo queria renovar os ônibus...ah, segundo semestre. Nós conseguimos com várias ações modificar um pouco isso, através de que sistema? O segundo semestre é muito forte em rodoviários e nós precisávamos que no primeiro semestre fosse, então, de urbanos. Deixar mais, incentiva mais o segundo semestre pra produzir rodoviários, e produzir urbanos. O que nós, através de Fabus e etc, conseguimos fazer? Nós fomos nas prefeituras e incentivamos a renovação da frota, e que houvesse na formação da tarifa, uma motivação para renovar a frota através da idade média dos veículos. Quanto mais nova a frota ganha uma remuneração maior na tarifa. Então foi criado o ano de fabricação. Com isso o que acabou acontecendo, ninguém quer comprar ônibus no segundo semestre, porque já em janeiro ele tem um veiculo com um ano de uso, e a 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 Ambiente Desafiante/Estimulante 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV - Consentir NAV - Manipular ☺ 436 remuneração dele fica menor na medida em que a frota vai envelhecendo. Então ta todo mundo com isso renovando a frota no primeiro semestre. Então é muito forte em urbanos no primeiro semestre, aí pra nós fica bom, porque o segundo semestre é o rodoviário. 1 8 9 CZ 1 9 0 CZ 1 9 1 CZ Segundas outras ações que foram tomadas: com a internacionalização da Marcopolo e com a busca de novos mercados, nós conseguimos, também, mudar em alguns países o período de férias. O período de férias não é o mesmo do período nosso aqui, dos latino-americanos, de janeiro a fevereiro. Então nós fomos em busca de mercados no Oriente Médio e outros mercados que não tem esse período. Então a gente consegue balancear um pouco mais isso com países que têm férias em julho, agosto. Então foi outra forma que nós conseguimos. E a presença nossa em mais de 100 países também acaba dando uma...hoje 45% da nossa produção ela é exportada. Então a sazonalidade brasileira, com esse mercado aqui, eu consigo distribuir melhor os negócios no mundo e fazendo uma produção mais balanceada, mais constante. Vicente: Eu vi que umas das iniciativas que a Marcopolo teve, foi exportar primeiro e depois internacionalizar com fábricas no exterior... Zignani: Essa foi a estratégia. Pra mitigar o risco e também teve esse problema, como é que vou dizer, a sazonalidade diminuir. 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade NAV - Desafiar ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade NAV - Desafiar ☺ ☺ EMP - Julgamento ☺ 437 1 9 2 CZ 1 9 3 CZ 1 9 4 CZ 1 9 5 CZ Vicente: A outra que eu também vi, mas que ocorreu na década de 80, e agora está mais em stand by, foi a diversificação dos investimentos. Na década de 80, ela comprou a Caraíba Metais... Zignani: Tivemos a participação no Banco Arbi. A Dinaço, foi outra que nós compramos e vendemos. Aquela parceria que nós tivemos na Bahia foi com a Van Hool. Teve uma época, na década de 80, que o negócio era diversificar... nós só dependemos do ônibus, estamos aqui com a produção cheia, fazendo hora extra, mas no mês seguinte tinha que demitir, reduzir quadro. Então nós tivemos uma serie de ações pra evitar essa sazonalidade. Nós começamos a trabalhar mais com hora extra, até bem com a filosofia japonesa. Até 10% de crescimento da produção nós podemos usar com hora extra. Quando isso ultrapassa muito os 10%, então ta na hora de começar a admitir gente. Então na década de 80 foi diversificação, então nós compramos o banco, investimos em Caraíba Metais, buscamos Dinaço, que era outra atividade, mas depois nós percebemos que a nossa vocação era produzir ônibus, é isso que nós sabemos fazer e a partir dali então, desse planejamento estratégico, nós fomos olhar assim: Nós produzimos 10.000 ônibus, o mundo produz 200.000, pra nós, aumentar de 10 pra 20 mil no mundo, iria aumentar de 5% a produção pra cima, só aumentar isso, já dobrava o tamanho da Marcopolo. Por que se concentrar somente no Brasil? Vamos buscar as oportunidades que tem fora do país. A partir dali que surge internacionalização, a busca de novos mercados. Vamos crescer fora do Brasil e não ficar só dependendo da economia brasileira, que no ano que tava a crise, em 1982, a Marcopolo dependia somente do mercado brasileiro e em 1994 de novo, apesar de ter buscado oportunidades no mercado, mas aí naquele ano quebra o México, que era o principal cliente da Marcopolo, ai o Brasil também entra em crise, e esses dois países representavam 80% da produção. 2a Fas e: 196 8a 198 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Julgamento EMP - Expansão Nula NAV - Consentir ☺ 2a Fas e: 196 8a 198 6 EMP Julgamento EMP - Expansão Produtiva ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Julgamento EMP - Expansão Produtiva 438 1 9 6 CZ Vicente: Por outro lado, um desses investimentos foi a MVC, foi em 1986. Mas essa, vocês não saíram porque era muito relacionado com o negócio... Zignani: Não saímos porque ela era...a tecnologia do plástico veio da MVC. O que nós percebemos é o seguinte... O ônibus, cada vez mais, substitutos vão sair pelo plástico. Até o aço...isso é uma questão de tempo. A estrutura de aço, futuramente, deve ser com compostos de kevlar, não sei o que...são compostos de plásticos que vão substituir, e nós verificamos que internamente hoje, cada vez mais o plástico está sendo utilizado...a traseira já é plástico, o teto já é de plástico. 198 6 EMP Julgamento EMP - Expansão Híbrida ☺ 1 9 7 CZ 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Julgamento EMP - Versatilidade ☺ 1 9 8 CZ Ele é mais barato, mais leve, mais fácil de trabalhar com esses materiais. Nós vimos que a evolução do plástico vai ser muito maior do que foi a do aço, e de outros componentes. Foi por isso que nós decidimos continuar com a unidade de plástico. E a fábrica de aço que era de tubos... mas a tecnologia do plástico está sempre em evolução, fazendo várias tecnologias novas...e outras que, peças que... com esse moldezinho aqui tu copia uma peça plástica sem nenhuma dificuldade....... Já existe a possibilidade de produzir um ônibus praticamente todo se plásticos, mas essa questão de compostos não... mas é uma questão de 10 - 15 anos, hoje praticamente um fórmula 1 é todo de fibra. Então tem a história da casa ainda que não vamos falar não, esquece... Vicente: A casa não está dando certo, a casa de plástico? Zignani: É uma boa idéia, mas ainda...não sei se o País não está maduro, nós ainda não estamos maduros...é preconceito né? Uma casa de plástico. Mas na verdade ninguém diz que é plástico. Você pega uma fibra de vidro, tu bate é uma fibra de vidro... Na outra empresa que eu trabalhei, antes de vir pra cá, era uma empresa de casa préfabricada, e usava a fibra de vidro para revestimento interno. Então, é um negócio que tem mais de 25 anos, mas ainda é preconceito. É que ninguém a casa de madeira, como é que é, o lobo mau derruba a casa dele... A casa de alvenaria de 200 7 EMP Julgamento NAV Consentir NAV Desafiar 439 ☺ alvenaria é mais resistente. Tem uns mitos então. 1 9 9 CZ 2 0 0 CZ 2 0 1 CZ Zignani: Isso nós temos uma em Goiânia, que fica dentro da Mitsubishi, mas ela só produz para a Mitsubishi, toda a parte de plástico da L200 (?), da S4 (?) e da Pajero Full. Tem também uma no México. No México produz componentes pro ônibus, pra indústria automobilística. Vicente: E vende também pra concorrentes? Zignani: Algumas coisas pra concorrentes no caso do México sim, no Brasil não. Nós fornecemos alguns componentes para uma empresa chamada Aico (?). Na década de 80 então, teve um momento aí que se pensava em diversificação, diversificar as atividades da Marcopolo, buscar outras atividades, mas depois na década de 90, nós consolidamos que a Marcopolo tinha a vocação para ônibus e iríamos ficar em ônibus, e íamos crescer em ônibus mundo a fora. Então vem esse plano estratégico que a Marcopolo busca, e hoje estamos muito focados em ônibus, ou em algumas atividades paralelas, o banco... Mas aquilo era banco... Naquela época o Banco Arbi tinha sede no Rio de Janeiro e não tinha essa finalidade. 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Negociar NAV - Captura de Valor ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP - Julgamento 2a Fas e: 196 8a 198 6 EMP - Expansão Nula ☺ ☺ 440 2 0 2 CZ 2 0 3 CZ 2 0 4 CZ Vicente: E o Banco Moneo ele veio.. Zignani: Esse veio para financiar produtos Marcopolo. Vicente: E já tem até uma certa contribuição no.. Zignani: Já tem uma boa contribuição. Nós estamos crescendo bastante. No dia 1º de julho ele completa dois anos de atividade. E o banco tem ajudado muito nas operações de rede. Nós estamos pensando em atividades que possam agregar valor ao negócio Marcopolo. Já tem o banco. Daqui a pouco pode ter uma empresa de serviços e assistência de transportes...mas eu estou sempre olhando para o negócio ônibus. Nós temos duas grandes divisões, do ônibus grande, e nossa divisão do ônibus pequeno, que pode ter mais espaço para crescer veículos menores. Como nós tínhamos falado que é um objetivo da Marcopolo, ter um veículo menor, tipo uma van, coisa assim. Que poderia também ser utilizada no transporte coletivo, mas isso pode demorar muito tempo ainda, até encontrar um... Nós temos o parceiro russo que produz van. Estamos olhando de repente, pode ser um novo nicho de mercado... Vicente: Aí é tudo fabricado aqui, ou o chassi de van também é por fora? Zignani: Não, é que nem fabricar um automóvel, é uma coisa única. Mas por exemplo o parceiro russo já tem alguma possibilidade. Ele trabalha com uma van, mas que tem a possibilidade de ter um chassi também. Ele poderia ou só trazer o chassi ou trazer o veículo completo da Rússia, mas aí é questão de análise. Até já trouxemos duas, fizemos uns testes, mas o veículo não está adequado às condições brasileiras... 200 5 EMP - Expansão Híbrida 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Ambição 200 7 EMP Julgamento EMP Versatilidade EMP Expansão Produtiva CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 441 ☺ Tem muita oportunidade ainda de crescimento da companhia, mas infelizmente hoje, do jeito que nós estamos com o câmbio desfavorável, a nossa saída é nacionalizar os componentes que nós mandamos do Brasil e produzir lá fora ou adquirir lá fora. Estamos num momento que nós chamamos de ter que talvez exportar emprego. Por que nós não exportamos empregos ainda? Porque nós diminuíamos as exportações de componentes, mas ao mesmo tempo a produção brasileira está crescendo. Nós estamos absorvendo essa mão-de-obra, e nós não temos diminuído. Ao contrário, como o consumo interno está crescendo, nós estamos absorvendo essa mão-de-obra internamente. E eu entrei em 1964, continuaram me convidando então, aí eu acertei os problemas que eu tinha em Porto Alegre e vim pra cá em 1964. 200 7 V G Eu achei que tinha uma perspectiva interessante, era um negócio que estava iniciando praticamente. 2 0 8 V G Porque, em 1949, demorava 90 dias para fazer uma unidade. Eram feitas em madeira, não tinha chassi no mercado nacional. Chassis eram caminhões que existiam aqui, adaptados. Era Ford,...,....,Acro, Leilan, aquelas marcas européias, americanas algumas, e nós não tínhamos. 2 0 9 V G Então em 1957, a fábrica veio pra cá e vindo pra cá foi o ano que começou a indústria automobilística no Brasil. Mercedes Benz começou a produzir os primeiros chassis nessa época. Então, iniciou ali em 1957, uma visão nova de mercado e eu acompanhava isso. 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 195 7 2 0 5 CZ 2 0 6 V G 2 0 7 196 4 NAV Desafiar EMP Versatilidade EMP Julgamento FRH - Reter ☺ ☺ NAV - Legitimidade Organizacional ☺ Ambiente Inóspito NAV - Consentir ☺ 442 ☺ 2 1 0 V G Então quando eu vim pra cá, eu via que era um negócio com boas possibilidades, que tinha futuro. O relacionamento com o pessoal era muito bom, e eu logo quando decidi em vir pra cá, tive alguns problemas com as outras empresas que eu atendia aqui em Caxias 2 1 1 V G Zignani: Você foi convidado pelo Seu Paulo? Valter: Pelo Paulo e pelo Dorval. Dorval Nicola foi o iniciador e logo depois entrou Seu Paulo Bellini. Aí ta na história o ano certo, saiu Dorval Nicola. Aí ta na história o ano certo, saiu Dorval Nicola. Aí quando saiu Dorval Nicola, e eu vim trabalhar com ele, 2 1 2 V G e aqui nós tínhamos um representante em todo país, só tinha um canal de vendas. Nem era canal... Zignani: Um vendedor. Valter: Um vendedor no Brasil inteiro, e toda a produção era canalizada por ele. 2 1 3 V G Então nós ficamos em uma situação de bastante expectativa, porque nós estávamos começando a indústria automobilística, com crescimento. 2 1 4 V G E saiu o sócio que era de vendas e o principal elemento de vendas. Apesar que logo que eu entrei, logo nos primeiros anos, eu já via que nós tínhamos que mudar essa questão de não ter um só para vender. Aí começou o Airton (?) lá em Curitiba. Zignani: Foi criada uma rede de representantes. Valter: Foi criada uma rede de representantes. Zignani: Isso a partir de 1967. 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 196 7 NAV - Legitimidade Organizacional ☺ FRH - Antecipar ☺ NAV - Consentir Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ NAV Negociar EMP - Versatilidade ☺ ☺ 443 2 1 5 V G 2 1 6 V G 2 1 7 V G 2 1 8 V G 2 1 9 V G 2 2 0 V G Logo depois entrou o Martins. Então, nessa fase começou a crescer. Então, logo depois que o Nicola saiu, eu tive que ir pra São Paulo. Fui convidado, já que saiu sua excelência, que era nosso chefe supremo. Então, eu tive que ir para São Paulo, e indo para São Paulo, o Antonio Carlos Wilker que estava em São Paulo, e ele veio dentro do nosso programa abrir o mercado do Rio Grande do Sul. A fábrica era aqui, mas não se vendia nenhuma unidade dentro do RS. Aqui tinha a famosa Eliziário, de Porto Alegre. Uma fábrica mais antiga que a nossa, que depois veio a ser comprada por nós. Nós compramos a Eliziário mais tarde, como compramos mais tarde a Furcare, que virou Nimbus... E o Antonio Carlos veio pra cá. Então estando em SP, de lá nós fizemos a abertura de várias frentes, lembra do Capeli (?)... nós fizemos Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal, tava começando Brasília...Bahia, então nós criamos uma rede de representantes para escoar a produção que estava aumentando, em função de ter mais chassis, e etc. O nome do produto foi ficando mais conhecido e foi mudado. Zignani: Existiu aquela fase do Nicola e da Nicola. A Nicola éramos nós, a fábrica de carrocerias Nicola, e o Nicola era ele, que era o nome dele, o Dorval Nicola. Naquele tempo nós tínhamos Série Ouro, era por série, agora é geração... Aí chegaram vários nomes, entre os quais chegou um nome que tava bem pro modelo do ônibus. Nós tínhamos um nome que pessoal tava gostando, que era Bertioga. Em função desse Bertioga surgiu, porque é uma praia no litoral paulista, surgiu a idéia do logotipo das seis pontas e com a rodinha laranja no centro que é o nosso logo até hoje. Nós tivemos alguns problemas no início, logo 196 6 1a Fas e: 194 9a 196 7 197 0 2a Fas e: 196 8a 198 6 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 FRH Antecipar FRH - Formar FRH - Renovar ☺ ☺ ☺ EMP Expansão Produtiva EMP - Ambição ☺ ☺ FRH Antecipar EMP - Versatilidade ☺ ☺ DIV - Fragmentação EMP Versatilidade EMP Ambição Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ 444 ☺ depois que nós lançamos isso, com uma empresa lá de São Paulo. Nossa criação, e naquele tempo quem nos ajudava muito era a AMPM (?). Era famosa, foi a maior agencia do Brasil, nascida em Porto Alegre, mas que fechou depois algum tempo 2 2 1 V G 2 2 2 V G 2 2 3 V G 2 2 4 V G Então, era segundo o publicitário... o que quer dizer isso? Então era um espectro solar, era a idéia do símbolo. Então nós tivemos alguns problemas com a empresa de Lustres Pelotas, de São Paulo, que tinha a mesma idéia, só que não tinha a bolinha laranja no meio. Discutimos bastante tempo até conseguir na justiça. Então, lançamos um dos modelos naquele Salão do Automóvel, no tempo que era no Ibirapuera. Lançamos um modelo de ônibus com o nome Marcopolo, unindo Marco Polo, que nós achávamos que era viajante, etc. Nós tínhamos problemas, já iniciando as exportações. Nós começamos a pesquisar mercado e etc. E logo depois fizemos o primeiro CKD que foi pra Gana, então nós tentamos traduzir isso carrocerias, e traduzindo para o inglês era bus body. Então, Bus Bodies Nicola era uma confusão louca e nós estávamos procurando. E nós conseguimos isso, botamos bem o nome Marcopolo no ônibus, no produto, e nós fomos levando até parar com essa história do Nicola e da Nicola que era... E hoje nós temos muito mais tempo Marcopolo do que Nicola. Então fui convidado, e o Martins estava aqui também, fomos convidados a ocupar um lugar de diretor, eu e o Martins, e voltei pra Caxias. Aí nós já tínhamos uma rede, nós tínhamos alguma coisa já montada em Caxias. 196 8 NAV - Desafiar ☺ 196 8 EMP Versatilidade Crescimento e Renovação Organizacaional ☺ ☺ 197 0 NAV - Evitar DIV - Integração 2a Fas e: 196 8a 198 6 FRH - Reter FRH - Antecipar ☺ ☺ 445 2 2 5 V G Eu voltei pra cá, então aqui continuando com isso, havia uma época que em todo setor de vendas era comigo... Fizemos um trabalho externo também, nós tínhamos já um representante de vendas no Uruguai, depois nós fomos pro Chile, pro Peru e fomos abrindo diversos representantes porque nós já estávamos iniciando as exportações como ponto significativo pras vendas Não vendíamos um ônibus para a Argentina, a Argentina tinha uma indústria forte... 2 2 6 V G 2 2 7 V G Mas o Uruguai e o Chile, com a presença nossa, que nossa idéia era sempre levar os ônibus para as feiras, aonde tínhamos facilidade com vendas... Não ainda, no nosso produto, mostrar um catálogo bonitinho e etc, porque você sentar, precisa ver, precisa manobrar. Hoje o nome é test drive... 2 2 8 V G Pra isso nós tínhamos: ah vamos pro Chile? E a Mercedes: Ah, como é que isso vai ser a assistência técnica do chassi se comprar? Pó, nós tínhamos brigas com a Mercedes, com a Scania. Zignani: Dependia também do chassi. Se o cara não tivesse lá fora, não tinha como vender. Valter: E muitas vezes, nós tivemos casos sérios com a Mercedes. A Mercedes tinha um representante no Uruguai, e tudo tinha que passar pela mão dele. Mas nós atendíamos aqui, às vezes, diretamente o cliente com chassis e tudo, e o representante vinha saber depois, aí nós tínhamos que pagar. Sempre reservando a condição de assistência técnica, porque nós nunca dávamos a assistência técnica pra um motor.. 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 EMP Versatilidade EMP - Ambição NAV - Evitar EMP Versatilidade NAV - Negociar ☺ ☺ EMP - Ambição ☺ ☺ 446 2 2 9 V G 2 3 0 V G 2 3 1 V G 2 3 2 V G 2 3 3 V G Nossa área aqui, hoje ainda estava vendo..Nós fizemos um pavilhão em 1957, aumentamos em 1962.....chegou ao ponto que nós tivemos que sair daqui e agora o filme está se repetindo em Ana Rech. Quando nós fomos para Ana Rech, em 1981, também não tínhamos nada ali, e hoje basicamente aquela área de Ana Rech está todo construída. O Carlinhos (Zignani) que é responsável por isso, de vez em quando, quando dá uma chance ele compra mais um terreno. Zignani: Tá ficando cada vez mais difícil né.. Valter: Porque a fábrica Marcopolo quer comprar, então o preço do terreno sobe. Porque somos nós que temos interesse. ... Mas desde que nós entramos, tanto eu como o Martins, a convite do Paulo. Eu entrei juntamente a convite do Dorval, mas hoje o Paulo que ficou... E desde aquela época, sempre fomos comprando as ações, porque as ações praticamente eram locais. Depois que cresceu, que abrimos o capital. Valter: Primeiro, lançamos ações na cidade. Tinha um grupo aqui. E nós, desde o inicio fomos fazendo. Por isso que todos, praticamente, no levantamento de capital, as novas ações... Zignani: Comprando e investindo, comprando, comprando... Como membro da diretoria nós tínhamos que suportar os problemas que existiam, não é mesmo? Não havia uma compra, naqueles tempos, que se não de devia dar um aval pessoal, pra conseguir. Eu comprava chassis em São Paulo, tinha que comprar alguns chassis e a Mercedes tinha um bolo de notas promissoras nossas assinadas antecipadamente. Quando faturava, já tinham duplicatas ali, eram duplicatas já aceitas e nós tínhamos que dar nossas garantias. Chegando em tempos que a situação era tão difícil, que até ordenados. Minha retirada mensal foi suspensa. Tod as as Fas es EMP Expansão Produtiva Tod as as Fas es Tod as as Fas es 1a Fas e: 194 9a 196 7 2a Fas e: 196 8a 198 6 EMP Julgamento EMP Ambição NAV - Negociar DIV Integração NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ EMP Engenhosida de Financeira EMP - Engenhosidade Financeira EMP Engenhosida de Financeira ☺ NAV - Negociar ☺ ☺ ☺ 447 2 3 4 V G 2 3 5 V G 2 3 6 V G 2 3 7 V G Tivemos um período... Zignani: A dificuldade foi em 1981... Vicente: Em qual ano? Zignani: 1982 deve ter sido? Valter: Foram uns anos aí difíceis, mas nós estávamos no barco, sem trocadilhos entre barco e ônibus. Nós estávamos aqui e fomos vencendo as dificuldades e tendo mais condições em penetrar em mercados, exportação. O nome ajudou muito. E nós lançamos inclusive, uma das campanhas que fizemos quando surgiu aquele nome Marcopolo, então nós tivemos que fazer toda... o material que nós fazíamos as campanhas e etc era: Marcopolo, o ônibus brasileiro pra dizer que Marcopolo...Então aí fizemos de: de bus brasileno, de brazilian bus, de autobus brasilienne... Vicente: Achavam que Marcopolo era italiano? Valter: Marco Polo é italiano. E nós já tínhamos naquela ocasião um design interessante e os reis do design são os carrozzieri italianos, e sempre tiveram então... e nós procuramos dirigir... que Marcopolo era um ônibus brasileiro. Vicente: Qual foi a grande novidade desse ônibus que causou esse alvoroço na época? Valter: As linhas que ele tinha, design já era bastante revolucionário pra época e chegando ao ponto, o design foi muito...Eu tava lembrando que a Geração V foi a que deu, mas nós já fomos muito felizes na Geração II, III e IV. A IV foi a última que foi feita aqui (Planalto). Mas high deck é o conceito do Paradiso que é o ônibus mais alto. E isso é inspiração dos nossos designers, coisas que eles estão sempre a par, visitando feiras na Europa e etc, nós sempre fomos muito abertos a isso. O pessoal sempre...Quando nós fizemos isso, revolucionou completamente o mercado, tanto é que as rodoviárias tiveram que ser adaptadas. Os portões de entrada das garagens tiveram que se adaptados, porque ele batia, era tão alto que nós tivemos.... Zignani: Não cabia nas coberturas das rodoviárias. 198 1 197 0 196 8 198 4 CPX - Resolução de Problemas Sistemática NAV Desafiar NAV Legitimidade Organizacion al EMP Versatilidade Crescimento e Renovação Organizacaional NAV Manipular Crescimento e Renovação Organizacaio nal NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 448 Valter: Batiam. Os primeiros ônibus, nós tínhamos que estacionar fora da cobertura na rodoviária de São Paulo porque o ônibus era alto. 2 3 8 V G Então, nós sempre puxamos isso, puxamos essas coisas. Obviamente, nós tivemos casos de funcionários que saíram e foram fazer imitações. Então nós sempre tivemos a liderança, pode-se dizer, no design. 2 3 9 V G Então como disse, outras fábricas, até fizeram alguns modelos até melhores que os nossos, nas suas épocas. E nós aí, tivemos que aperfeiçoar os nossos. 2 4 0 V G Então, nós estamos aí com a Geração VI vitoriosa, com uma aceitação de toda as empresas, não só aqui, mas nas exportações que nós fizemos, nos países onde nós trabalhamos, completamente aceito o modelo como atualizado. 2 4 1 V G O nosso DNA, vamos dizer assim, o sangue nosso, começou com o rodoviário. E depois nós tivemos que fazer opções, e isso começou quando começamos a adquirir outras fábricas. Primeiro foi a Eliziário de Porto Alegre. A Eliziário era uma fábrica que fazia praticamente rodoviários. Eles faziam o BiCampeão (referência ao bicampeonato de futebol no Chile em 1962) e nós fazíamos o Veneza naquela época. Aí, certa ocasião, nós tomamos certa decisão: fazer os urbanos em Porto Alegre e os rodoviários aqui, em Caxias. Isso foi até certo tempo. Tod as as Fas es Tod as as Fas es 3a Fas e: 198 7a 200 6 197 0 CPX Fomento do Aprendizado NAV Desafiar EMP Versatilidade NAV Legitimidade Organizacion al CPX - Fomento do Aprendizado Crescimento e Renovação Organizacaional EMP Ambição EMP - Julgamento ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 449 ☺ 2 4 2 V G Anos depois nós fomos adquirir a Ciferal no Rio de Janeiro. E hoje nós temos isso bem dividido: os rodoviários em Caxias, os micro e os minis nesta fábrica e os urbanos no Rio de Janeiro. E agora, nessa conjuntura atual, hoje, 2007, nós estamos com um excesso de demanda dos ônibus urbanos. O rodoviário continua também. Então, nós estamos socorrendo assim, estamos fazendo urbanos aqui. Uma parte, nós estamos fazendo uns 30 urbanos por dia? Zignani: 20 no Rio e 10 aqui. Valter: Então estamos dando uma mão aí. Então nós temos modelos na linha da Marcopolo. Nosso modelo chefe é o Paradiso, e temos os urbanos, que posso dizer que o modelo chefe seja o Torino, que é feito no Rio de Janeiro e um pouco aqui. Hoje não. Hoje nós já somos conhecidos em todos os segmentos e somos líderes em todos os setores. Microônibus, depois nós temos a fase Volare, mas isso é outra coisa. Ônibus urbanos, articulados. 2 4 3 V G 2 4 4 V G 2 4 5 V G 2 4 6 V G Mas nós temos hoje, com esse conjunto, com essas famílias, um poder de fogo muito grande. O que quero dizer? Nós podemos atender grandes pedidos em reduzidos espaços de tempo. Nenhuma fábrica hoje instalada, posso até dizer em nível mundial, tem essa capacidade que nós temos. Nós chegamos a fazer 1000 ônibus articulados pro Chile, numa concorrência que houve lá, em questão de meses. Zignani: 3 – 4 meses. Não é qualquer empresa que consegue fazer altos volumes de produção rapidamente. 2 4 7 V G Hoje uma fábrica que faça... acho que não existe na Europa hoje uma fábrica que faça 5000 ônibus. 5000 ônibus é 500 por mês. 500 por mês, em 20 dias de trabalho, imagina aí quantos tem que fazer. Então 5000 ônibus por ano é uma grande produção. Nós 16 mil e poucos ônibus no ano 199 9 EMP Ambição 200 7 EMP Versatilidade 200 7 EMP Julgamento EMP Versatilidade CPX - Fomento do Aprendizado EMP - Versatilidade 3a Fas e: 198 7a 200 6 200 7 NAV Captura de Valor 200 7 NAV Captura de Valor CPX - Fomento do Aprendizado EMP - Versatilidade EMP - Versatilidade ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 450 ☺ passado no conjunto de fábricas Marcopolo. 2 4 8 V G 2 4 9 V G 2 5 0 V G E essa aceitação do produto chegou ao ponto de hoje, nós estamos nessa liderança que nós exercemos no país, exercemos também em outros países, onde nós temos uma presença. O Chile é um mercado, eu diria de 6 – 7 mil unidades. Peru é outro país, que o escritor lá escreveu um livro, que quando saía de casa, a mãe dizia pro filho: Cuidado con los Marcopolos. Marcopolo é sinônimo de ônibus, não é mesmo. Aquela vez que nós fornecemos 300 ônibus pro Peru, montamos lá uma parte. Então o nome ajudou, (35:00) isso que o Carlinhos falou, o próprio ajuda por ser uma unidade que está sempre rodando. Nós temos aqui um outdoor ambulante, tá sempre na rua. Copa América, nós fornecemos 100 ônibus, para transportar todas as delegações. Valter: Todos os juízes do Panamericano são transportados em ônibus nossos. No ano passado, na Nigéria, naquele evento lá... Nos Jogos Olímpicos da Grécia, de Atenas, nós fornecemos também um volume grande, esses eventos assim... Vamos ver o que vai acontecer agora na África do Sul né, estamos trabalhando lá... Vicente: Com a Copa? Valter: A Copa. Mas nesse correr do tempo, por ser uma unidade que necessita muita mão-de-obra pra fazer um ônibus. 200 7 NAV - Legitimidade Organizacional 200 7 EMP Versatilidade Nós temos, relativamente, poucos clientes. Não são milhões de empresas de ônibus. Nossos clientes... Nós procuramos atender então a essa demanda que existe, de uma maneira que, agora as unidades do exterior também têm as suas responsabilidades. 200 7 NAV Negociar NAV Negociar NAV Legitimidade Organizacion al Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 451 ☺ 2 5 1 V G Estamos fazendo agora....fizemos todo o início do projeto de Curitiba que deu frutos, sistemas de ônibus integrados que se aplicam a corredores e etc, nós começamos em Cutitiba. Fizemos o de Bogotá. Zignani: O Transmilênio. Valter: Fizemos esse o... Zignani: O Transantiago que nos obrigou fazer 1000 ônibus em pouco tempo. Agora estamos em Cali, na Colômbia. Zignani: O Transacali. 3a Fas e: 198 7a 200 6 2 5 2 V G 200 7 2 5 3 V G E vamos chegar aos dias de hoje com novidades no exterior, entre as quais, uma que deve ter a perspectiva muito grande é a fábrica da Índia, que nem começou a construir a fábrica, mas ganhou um pedido de 500 ônibus. Antes dela ficar pronta, vamos ter que adaptar lá um local especial para poder atender quantidades assim, importantes. Zignani: Mas é claro, tem histórias aí. O primeiro ônibus demorou 90 dias para ser feito. Agora a próxima meta é fazer 90 num dia. 2 5 4 V G Valter: E aí tem o número de colaboradores, que agora no mês passado chegou a 11 mil. Temos, em números redondos, 8500 aqui e 2500 lá fora. Zignani: Quando eu entrei tinham 2 mil, 2 mil e pouco. 200 7 2 5 5 V G E eu estava lhe dizendo naquele raciocínio anterior que não existem milhares de empresas de ônibus. Pois, então, cada empresa... Você vai lá na linha hoje e vê 5 linhas (?) diferentes. Aqui tem uns 10 carros Sênior para Santos. Então, quando dá 10, 15, 20 para um cliente, é um refresco na linha. Faz 20 iguais né. Então, apesar que as empresas têm seu marketing. As empresas que nós dependemos e sua excelência, o passageiro. O passageiro tem que pagar passagem para andar no ônibus, para eles comprarem ônibus... Tod as as Fas es 200 7 EMP Expansão Produtiva EMP - Versatilidade ☺ NAV - Legitimidade Organizacional ☺ EMP Ambição NAV - Captura de Valor DIV - Integração EMP Versatilidade Ambiente Desafiante/E stimulante ☺ ☺ ☺ NAV Negociar ☺ ☺ 452 ☺ 2 5 6 V G Hoje a gente faz uma foto dessa, que explode...É o conceito que se usa muito para a publicidade, os ônibus urbanos. 200 7 EMP - Versatilidade 2 5 7 V G NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ V G 3a Fas e: 198 7a 200 6 200 7 NAV Captura de Valor 2 5 8 Zignani: Seu Valter, ele perguntou, se pudesse escolher andaria de Marcopolo. Lembra que ele fez? Muitas rodoviárias aonde têm linhas complementares, complementares não, de mesmo percurso, muitas vezes o cara diz: eu vou México se for de Marcopolo. Escolhe o ônibus que ele vai. No México nós tivemos muito disso. O pessoal só queria andar de Marcopolo. Pedroni: Nós tivemos uma visita agora, o pessoal aqui da Marcopolo pra Volvo no mês de junho. O cuidado que nós tomamos também. Claro, quando nós contratamos uma empresa, você tem olhas os ônibus que ela tem. Se não tiver Marcopolo, nós vamos pegar outra empresa. Marcopolo, nós viajamos de Marcopolo. Zignani: Contrata uma empresa terceirizada, tem que ter Marcopolo. DIV Integração NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ 2 5 9 V G Zignani: Seu Valter, um pouco da história aí, como é que a Marcopolo arrumava dinheiro da comunidade? Como é que nós fazíamos? Vendia ações? Anunciava e os caras vinham aqui comprar? Valter: Sempre foi boca a boca, sempre era isso. E a confiança, não é mesmo... Zignani: O pessoal vinha aqui e comprava ações como se aplicasse dinheiro num banco? Faziam uma aplicação financeira em ações da Marcopolo. 1a Fas e: 194 9a 196 7 EMP Engenhosida de Financeira NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ 2 6 0 V G Nós tínhamos aí... uma assembléia nossa tradicional. Era feita num local aqui, e o local teve cada vez... era no Rincão da Lealdade. Mas vinha todo mundo. Nós fazíamos a assembléia e depois tinha um churrasco. O que valia mais, o churrasco ou assistir o demonstrativo?.. Eu não sei. No final sempre tinha mais gente. Aí vinham os familiares das pessoas. 1a Fas e: 194 9a 196 7 EMP Engenhosida de Financeira NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ ☺ 453 2 6 1 V G Zignani: Compravam para os filhos também, como se fosse também uma obrigação para os filhos. Valter: Puro orgulho das pessoas aqui. 2 6 2 V G 2 6 3 V G 2 6 4 V G E aqui tem...nós somos sim a maior empregadora da cidade. Emprego sim. Depois vem a Randon. Mas o comércio fica assim. Tem bastante serviço agora, o comércio fica tranqüilo, não é mesmo? Tá despedindo gente, não tem serviço, começa o ...isso é sintomático na cidade. Como é que tá a Marcopolo? Nós estamos lá na Câmara de Indústria e Comércio, segundas-feiras, o pessoal que às vezes nem é ligado a indústria. Mas todo o pessoal que é importantíssimo pra cidade. O plano de saúde é isso aqui, o comércio é isso aqui. Nós temos convênios com todos os ...., farmácias, ..., médicos, hospitais, livrarias. Caxias é segunda cidade do estado, marchando celeremente pros 500 mil habitantes, temos 420 sem os flutuantes. Com os flutuantes passa de 450 mil. E nós temos um pátio em Ana Rech onde tão os chassis. Visível não é escondido. Tá lá no pátio. Mas o pessoal que tá por ali, já pode ver: tá cheio o pátio, tá vazio o pátio. Se tá vazio o pátio, uma tarefa que ele pode fazer em 10 minutos, ele.... Zignani: Acomoda. Valter: Isso é sintomático. Agora, estamos às vésperas de um dissídio coletivo, que sai essa semana. Zignani: Tá movimentado lá. Pedroni: Hoje na manhã não vieram. Eu cheguei lá, às 4 da manhã, e não apareceram por causa da chuva. Valter: Estão em grande movimento. Primeiro com o negócio da emenda 3, aquilo que eles estavam protestando. Chegaram a parar as fábricas aqui. Vicente: Teve uma greve esse ano. Pedroni: Sim, apareceu na televisão, no Jornal Nacional. 1a Fas e: 194 9a 196 7 200 7 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV - Legitimidade Organizacional NAV Manipular NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ DIV - Integração ☺ DIV - Fragmentação ☺ 454 Zignani: E agora, tão de novo aqui. Agora nos próximos dias, até ir notando por aí, você vai ver... 2 6 5 V G 2 6 6 V G 2 6 7 V G 2 6 8 V G Mas por quê? As fábricas estão admitindo e tem muito serviço. Mesmo admitindo e sem serviço, vou reclamar de que? Não tem nem serviço! Tem muito serviço e estão admitindo, agora que vou fazer pedidos! É que nós precisamos, como eu disse, mão-de-obra pra nós...e manter essa turma incentivada e orgulhosa de fazer... e os indiretos que nós temos aí, não é mesmo. Inauguramos um ginásio de esportes agora que é um os maiores do estado. Temos uma sede aí. Plano de saúde com tudo que tem direito. Temos escolas pros filhos dos funcionários. Essa escola, o filho do funcionário fica dois anos lá, quando sai da escola tem emprego garantido. O pai tá trabalhando e vai lá dar uma olhada pra ver se o filho tá aprendendo... Vicente: Como é que foi essa evolução assim, que o senhor percebe, desde a década de 60, quando o senhor entrou, até hoje? Essa motivação, esse comprometimento... era difícil naquele momento? Valter: Sim, tudo, tudo equipe... Se tem uma condição, esse orgulho que eu falei, não é de quem dirigiu... É do pessoal que recebeu esse empuxe assim. É claro que tem alguém pra tocar 200 7 DIV - Fragmentação Tod as as Fas es 3a Fas e: 198 7a 200 6 Tod as as Fas es DIV - Integração ☺ DIV Integração NAV Desafiar NAV Legitimidade Organizacion al FRH - Reter NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ ☺ ☺ 455 ☺ 2 6 9 V G As normas...as novas...aquelas famosas normas japonesas, técnicas..que o Paulo esteve no Japão uma vez trouxe uma série de coisas. Senão mandamos uns 15, 20 pro Japão Pedroni: Foi até mais eu acho. No ano passado, foram 2, no ano passado foram 5 e esse agora, em setembro, vão mais 4. Nos últimos 3 anos, estamos mandando 11 Zignani: Mais de 20 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade FRH Renovar Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ ☺ 2 7 0 V G 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Antecipar FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ 2 7 1 V G FRH Formar DIV Integração ☺ ☺ V G Tod as as Fas es Tod as as Fas es Ambiente Inóspito 2 7 2 Evoluiu muito aqueles princípios de Kanban e Just in Time, aquelas coisas. Hoje já são adaptados à ônibus... Naquele tempo não se falava em internet de jeito nenhum...Hoje está evoluindo. Então os ensinamentos que saem de lá são up to date, novos também. São ensinamentos que... vão 5 esse ano. Então nós precisamos manter sempre...E o pessoal é muito receptivo. Muitos nos perguntam como é que um tipo de indústria dessa, que necessita de muita mão-de-obra, floresceu nessa região aqui. Na empresa Randon, não é tanto como nós, mas também precisa de mão-de-obra. Então, os que vieram aqui em 1875, os italianos que vieram, já traziam no sangue uma caixinha de ferramentas, uma coisa...essa aptidão. Hoje não sei como tá o nosso mix de pêlo-duro (?), italiano, alemão...já mudou. Mas na origem é isso. Eu acho que outra condição interessante que devemos somar a isso tudo, é esse tempo. Nós estamos com 13oC lá fora e 20oC aqui. E nós tivemos uma fábrica na Bahia. Na ocasião lá, com um presidente. No Carnaval tiravam 15 dias de folga, porque ninguém aparece. Aqui, não tem feriado de Carnaval. Zignani: No Rio de Janeiro pára. Valter: Aqui não tem um dia: segunda, terça, tudo é dia útil. Mais esse clima ajuda o cara a se sentir melhor, ele come melhor. No final de semana, toma um vinhozinho e etc. Zignani: Trabalha mais para esquentar... Valter: O clima ajuda, o clima ajuda. Porque se fosse calor permanente, calor permanente... Hoje no futebol tava 37oC, lá em Portodaz (Venezuela) (?)... Então o clima aqui também nos dá uma certa condição...Então somando tudo isso, a gente chega num ponto aí, ainda sabendo que a NAV - Negociar ☺ 456 responsabilidade é muito grande, porque... 2 7 3 V G Zignani: É uma cidade muito empreendedora. As pessoas investem... 2 7 4 V G 2 7 5 V G O mercado pra comprar ônibus... então nós temos o compromisso de atender. Chega no fim do ano... não posso entregar porque a fábrica tá cheia, não se o que mais. Tem que dar um jeito de atender. Mas nós estamos cumprindo nossos compromissos e etc. Estamos entregando aí os produtos aí, sempre com aquele grau de qualidade que é muito importante. Por ser um tipo de produto, daqueles que eu falei, que a mão-de-obra é importante. Não uma máquina (?) que faça sempre igualzinho. Nós temos que estar sempre acompanhando. A questão de qualidade aqui... Às vezes, você fecha uma lateral do ônibus e deixa algum fio frouxo lá dentro... daqui a um mês está estourado. Oriente Médio, eu tive várias vezes... Aí as equipes foram se formando.. Zignani: Nós sempre procuramos outra colocação, talvez seja importante. Tu viu que, quando Seu Valter falou, que o nosso representante era alguém da casa. Saía de dentro da Marcopolo e ia, porque ele tinha conhecimento da forma e funcionamento da companhia e sabia como vender o ônibus. O ônibus é customizado, o cliente escolhe do jeito que ele Tod as as Fas es Tod as as Fas es Tod as as Fas es Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ DIV - Integração ☺ FRH Antecipar FRH Formar FRH - Reter ☺ ☺ 457 ☺ quer. E pra nós é sempre importante. Então toda a nossa rede, brasileira, praticamente são esses funcionários da Marcopolo. No exterior, alguns também são. Valter: Gente que trabalhou aqui conosco. 2 7 6 V G Zignani: No Oriente Médio, nós temos gente daqui... Valter: XXXX (?) estava aqui agora está assumindo Goiânia. Zignani: O Vítor XXX (?) agora que está indo para a Bahia. O Cleimar (?) foi pro Rio... Lucena (?) que é ex-Marcopolo. Ferrari (?) que é ex-Marcopolo.......Tudo, basicamente, cada representante.... todos eram ex-Marcopolo, trabalhavam aqui dentro....oportunidades....E sempre assim, a Marcopolo sempre foi. É uma empresa muito geradora de oportunidades e as pessoas gostam disso. Tod as as Fas es FRH Antecipar FRH Formar FRH - Reter ☺ ☺ ☺ 2 7 7 V G 200 7 FRH Antecipar FRH Formar FRH - Reter ☺ ☺ ☺ 2 7 8 V G Valter: Nós temos um lugar muito importante, quer dizer, o homem que vai conduzir uma fábrica. Que vai crescer extraordinariamente essa da Índia, que nós estamos começando. Zignani: E é o diretor industrial atual que vai pra Índia. Valter: Que teve uma temporada no México e agora vai pra Índia, não é mesmo? Gente nossa, que tem a nossa confiança, saber que ele vai tocar... Tem o Toledo lá em Portugal 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Antecipar FRH Formar FRH - Reter ☺ ☺ ☺ 458 2 7 9 V G Por isso que disse, como o número de clientes, são poucos. Então eles têm que ter o conhecimento. O cliente tem essa confiança, o que tudo isso gera também, que é um ponto favorável ao nosso marketing, é o valor de revenda do produto. Isso que nós falamos é importante, porque amanhã ele vai trocar o ônibus. O cara que compra um de segunda mão, sabe que o Marcopolo tem um outro valor.... Zignani: Vende primeiro e apura um valor melhor que os outros competidores. 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Manipular NAV - Captura de Valor ☺ ☺ 2 8 0 V G 2a Fas e: 196 8a 198 6 NAV Consentir CPX - Resolução Sistemática de Problemas 2 8 1 V G A empresa procurou se adaptar aquela condição. Um grande parêntese, procura se adaptar ao dólar baixinho agora.... temos que achar um jeito, porque o dólar vai a R$2,40, ai que bom. Vai talvez a R$1,93, que já tá bom. E naquela época foi isso. Nós tivemos aqui ...sabendo que as dificuldades eram grandes, que o mercado não estava comprando. Até havia um ditado naquela época que dizia assim: Ninguém comprava nada. Até os que não pagam, não estão comprando. Imagina... Redução no próprio salário, e cada um ... Zignani: Fechamos a Marcopolo Minas naquela época, mais ou menos.. Valter: Tivemos uma fábrica novinha... Vicente: Ela, nunca mais mexeram nela? Valter: Ela não. Fechamos, vendemos. Tivemos que tomar essas posições todas, difíceis na ocasião. 198 4 EMP - Julgamento 2 8 2 V G É, transferimos a Eliziário de Porto Alegre...veio pra cá. EMP - Julgamento ☺ 2 8 3 V G Mas se superou aquilo, se superou o problema. Depois, em outras ocasiões, quando nós lançamos aumentos de capital, tivemos todo o sucesso. O último inclusive, foi em 2002. Porque demanda usa capital. Esses investimentos no 2a Fas e: 196 8a 198 6 3a Fas e: 198 EMP Engenhosida de Financeira CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺ ☺ 459 exterior e etc, tudo isso aí, são valores que....isso é a venda que se faz, o dinheiro que volta, que se aplica....... 7a 200 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 197 7 2 8 4 V G Nós ainda, meio estropiados, saíamos daquela fábrica. Zignani: Aquela fábrica lá eu lembro. Fecharam Minas. Tinha um avião, foi vendido. Nunca mais comprou avião. Valter: Nunca. 2 8 5 V G 2 8 6 V G 2 8 7 V G 2 8 8 BI Zignani: É que teve um momento Seu Valter, em 1977/78, quando o Delfim foi Ministro da Fazenda, que ele incentivou a exportação...era a solução. Criou o Befiex e o Bndes tava dando financiamento para as empresas se adaptarem e criarem novas fábricas, aí nós fizemos a Marcopolo Minas e a Marcopolo Ana Rech. Quando ficou pronta as fábricas, aí o mercado, crise. Aí tinha os empréstimos a pagar e a produção desaparecendo. Aí dá o desespero em todo mundo. Foram anos duros até 1984, basicamente. Em 1984, que começa a economia brasileira a se recuperar. Então nós temos ainda os dois mercados, o de exportação e o mercado nacional. Praticamente meio a meio para os dois. Então, a gente procura administrar isso de uma forma...porque esse tipo de produto também, você começa a comprar, comprar, e a tendência dele é ter uma frota padrão pra não estar tendo muito custo de manutenção, de peças, então aí se a gente não pode fornecer... Agora o dólar tá.... vou parar de fornecer um ano, dois, aí depois eu volto... Então a gente tem a obrigação de continuar fornecer, procura diminuir custos, isso tudo faz parte do jogo. E como eu sabia soldar, esse foi um dos motivos que eu fui convidado pelo Doracy Nicola para trabalhar na Nicola. E eu aceitei a proposta e vim a trabalhar com eles, em 1954. Entrei como auxiliar geral e no passar dos anos fui trabalhando, e na década de 60, em 61 mais ou menos, eu passei a ser mestre de setor. E trabalhei por muitos anos 198 4 EMP Julgamento CPX - Fomento do Aprendizado NAV Negociar EMP - Julgamento ☺ NAV - Negociar 200 7 EMP Versatilidade 195 4 FRH Formar ☺ EMP Julgamento CPX Resolução de Problemas Sistemática FRH - Reter ☺ ☺ ☺ ☺ 460 ☺ como mestre até a década de 70, mais ou menos, e ali eu passei a supervisor de área, era um cargo um pouco mais elevado. 2 8 9 BI 2 9 0 BI 2 9 1 BI 2 9 2 BI E viajei bastante pela Marcopolo, como assistência social. E viajei pela Marcopolo para vários estados do Brasil. Fui para a Venezuela, pra Montevidéu.. E em 1972, a Marcopolo fez uma venda para Venezuela de carros em CKD, e eu tive o privilégio de ser o primeiro cara, eu e mais um colega, o Santo XXXX (?)... Nós fomos os primeiros a sair, pela Marcopolo, para fora do Brasil, na montagem de carros. Depois eu fui mais duas ou três vezes pra Venezuela, e dei assistência técnica para a Marcopolo em Montevidéu, e outros estados do Brasil. E, em 1976, eu fui transferido de Caxias para Porto Alegre. A Marcopolo tinha uma empresa em Porto Alegre que se chamava Eliziário. Então eu fiquei por um período, de mais ou menos 8 anos, trabalhando em Porto Alegre, pela Marcopolo. Só que troquei da Marcopolo para a Eliziário, porque era outra razão social, então eu fiquei lá em torno de 8 anos. Na década de 80, em 1983 mais o menos, eu voltei para Caxias. Fiquei alguns meses parado porque eu me aposentei nesse período e depois eu retornei a Marcopolo novamente, aonde fiquei até 1994, trabalhando na Marcopolo. Quando, essa empresa que eu estou hoje, que é a Tuto (?) Transporte, pegou um trabalho grande da Marcopolo, preparação de chassis e terceiro eixo, articulações de carro e tal, um serviço grande. E esse trabalho eram duas ou três empresas que faziam fora daqui, terceirizadas pela Marcopolo. Então, eu passei junto a essa empresa que é a Tuto Transporte, que eu estou até hoje 197 2 FRH Formar FRH - Reter ☺ ☺ 197 6 FRH Formar FRH - Antecipar ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 200 7 FRH - Reter FRH - Reter NAV - Captura de Valor ☺ ☺ 461 2 9 3 BI Aqui na Marcopolo eu fiz muitos bons amigos, grandes amigos. Eu gostei muito de trabalhar na Marcopolo, me orgulho até hoje da Marcopolo, mesmo não estando mais, mas me orgulho muito da Marcopolo porque é uma empresa muito grande, muito boa. E o pessoal é muito competente e sabem dar valor aos funcionários da Marcopolo. Inicialmente, sabe que a firma era pequena, eu não me recordo, mas éramos em torno de 40 e poucos funcionários na época. Então a gente tinha muitas dificuldades porque não se tinha o maquinário. O serviço era muito artesanal, né. 2 9 4 BI 2 9 5 BI 2 9 6 2 9 7 BI BI Naquela época, também não era muito fácil tu conseguir um emprego na cidade. Então, quando o cara adquiria um bom emprego, o cara tinha que manter aquilo. 2 9 8 BI E eu tive um período muito bom dentro da Marcopolo, e eu não tenho assim um grau de estudo, mas eu tinha muita boa vontade no trabalho e fui me destacando na empresa, Então a gente tinha que ir aprendendo solda. Naquela época não existia essa solda mig, que existe hoje. Era solda eletrodo com máquinas mais comuns, e solda oxiacetileno (?) que era usado muito. Então, eu aprendi muito a soldar. Eu conhecia bastante dessa solda oxiacetileno, então eu soldava muito. E eu fui sempre assim, muito curioso no trabalho, eu queria aprender tudo, e fui me destacando dentro da empresa. Em 1961, eu passei a mestre de setor já. Mais vontade de trabalhar e conhecimento Tod as as Fas es 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 196 1 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 Integridade Organizacion al DIV - Integração Ambiente Inóspito Ambiente Inóspito FRH - Formar FRH - Formar ☺ ☺ ☺ NAV - Legitimidade Organizacional FRH Formar ☺ FRH - Reter ☺ ☺ ☺ 462 7 2 9 9 BI 3 0 0 3 0 1 3 0 2 BI 3 0 3 BI Depois retornei a Caxias. Depois de um período parado, depois voltei para Marcopolo, e eu fiquei num trabalho nas firmas que tinham fora da Marcopolo, terceirizadas. 3 0 4 BI Na Marcopolo, e ficava cuidando daquela parte como desenho, programação, entregando pro pessoal e cuidando da qualidade do produto. Então eu saía pra fora da empresa e voltava, controlava essas partes. Até 1994. BI BI aonde em 1968, a Marcopolo lançou o carro Marcopolo. Eu trabalhei, por um período, eu acho que de 2 anos dentro do protótipo do Marcopolo, ali aonde estavam sendo construídos os carros novos e participei do Salão do Automóvel em São Paulo A gente subiu, questão de 15, 20 dias antes pra terminar o carro lá, porque foi onde a Marcopolo lanço o primeiro carro, o Marcopolo 1. E depois veio o Marcopolo 2, eu participei também do protótipo, trabalhei nas linhas de montagem, como mestre depois como chefe de setor. Depois fui a Porto Alegre, fiquei naquele período na Marcopolo, também como chefe de um setor grande lá, parte de acabamento... pintura e acabamento. 196 8 196 8 197 0 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 NAV Desafiar EMP - Ambição NAV - Desafiar FRH - Formar EMP - Versatilidade FRH - Renovar ☺ ☺ NAV - Captura de Valor FRH Antecipar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 463 3 0 5 BI Dei assistência, na Marcopolo, em Montevidéu. Eu ia, ficava 15 dias lá, e voltava. Ficava mais uns dias aqui, voltava pra lá. A Marcopolo começou a fazer umas vendas bastante grandes para o Uruguai, então eu andei bastante nessa andança da Marcopolo. 3 0 6 BI Mas até hoje gosto da Marcopolo. E Tenho boas lembranças do que foi essa empresa. 3 0 7 BI Ah não, naquela época quando eu entrei a firma era dirigida pelo Sr. Waldemar José Negrini, que era gerente, e tinha o Doracy Nicola, que eram os dois homens que administravam tudo ali, e tinha o Fiorindo Sartori, mas o Fiorindo Sartori já tinha mais um grau de...eu acho que ele era diretor industrial. E o Sr. Waldemar José Negrini era o gerente. 3 0 8 BI 3 0 9 BI Eu sempre mantive boa relação com eles, porque eu aceitava aquilo que eles pediam e eu trabalhava. Eu era um funcionário assim, bom pra empresa. A prova tá que eu fiquei todos esses anos na empresa porque eu demonstrei que eu tinha vontade e qualidade no trabalho. Mas sempre fiz boas amizades com eles e me deva bem...fiz grandes amigos dentro da Marcopolo, que até hoje a gente é. Depois ali na década de 50, em 55, a gente criou um time de futebol. O Paulo jogou com nós, o Paulo Bellini jogou com nós. O time rendeu uns 2, 3 anos jogando futebol, eu, Paulo e mais uma turma. 3 1 0 BI E tive assim, bastantes amigos bons e sempre trabalhei bastante dentro da Marcopolo e sempre gostei muito da Marcopolo. 1a Fas e: 194 9a 196 7 Tod as as Fas es 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 Tod as as Fas FRH - Formar DIV Integração ☺ Integridade Organizacional FRH - Renovar NAV Negociar DIV Integração ☺ ☺ Integridade Organizacion al ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ 464 ☺ es 3 1 1 BI Naquela época nós não tínhamos guilhotina pra cortar chapa, nós não tínhamos essa tecnologia que tem hoje. Tudo era feito à mão. 3 1 2 BI Tanto que usava muito a sabedoria do funcionário. Então, entrava um cara novo na empresa, tu levava um tempão pra ajudar ele, porque hoje é montagem, tu sabe com que é a empresa, hoje é montagem. 3 1 3 BI O pessoal tá na linha de montagem, mas recebe essa peça pronta pra colocar. Antigamente não se tinha, se produzia a peça para colocar no carro. Não se usava alumínio, nós não tínhamos fibras na época. Não existia fibra, não existia alumínio. Quando eu entrei era só chapa de aço preta, então era tudo mais difícil para se produzir. 3 1 4 BI 3 1 5 BI Não estou bem lembrado, mas eu acho que na época que eu entrei em 1954, se produzia dois ônibus por mês, no máximo três, e depois a firma foi crescendo, e foi aumentando a produção. Na fábrica que era na 13 de Maio com a 18 do Forte, no centro. E em 1957, a firma se transferiu lá para a Planalto, onde hoje é a matriz lá embaixo. E em 1957 a firma foi transferida pra lá. Então, naquela época, você como é, a empresa não tinha refeitório... o ônibus que nós pegávamos no centro e vinha até.....na Planalto. Depois nós tínhamos que caminhar mais umas três quadras para chegar na empresa. 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 195 4 195 7 Ambiente Inóspito FRH Formar DIV - Integração ☺ ☺ Ambiente Inóspito NAV - Desafiar ☺ EMP Ambição NAV - Captura de Valor ☺ ☺ Ambiente Inóspito DIV Fragmentaçã o CPX Resolução Sistemática de Problemas 465 3 1 6 BI Vicente: Quem trazia era um ônibus da empresa? Bino: Era o ônibus da empresa, mas ele não ia até em frente da empresa. No início, nem ônibus da empresa. Quando eu ingressei não, lá na 13 de maio não. A gente apanhava ônibus de linha e saltava na parada e ia para a empresa. 3 1 7 BI Não existia fardamento. Hoje na produção, o pessoal tá de fardamento, botinão,óculos...na época, não existia nada disso. Você trazia uma roupa velha de casa e trocava aqui. Não tinha...Para se ter uma idéia são 53 anos... 3 1 8 BI Às vezes eu paro no tempo para pensar o que era aquela época, o trabalho e o que é hoje... Eu vi esse grupo fantástico que é hoje que é a Marcopolo crescer. 3 1 9 BI 3 2 0 BI Então, eu vi esse grupo crescer, andei bastante pela Marcopolo, e até hoje quando eu vejo o nome Marcopolo, eu falo da Marcopolo, eu me orgulho da Marcopolo, porque eu passei boa parte da minha vida aqui dentro. E tu precisa gostar daquilo que tu faz. Eu acho que tu sempre cresce dentro de uma empresa, dentro de uma coisa, tu gostando daquilo que tu faz. Se tu não gostar, tu não tem como ficar também. Vicente: Vários funcionários também tiveram a oportunidade de crescer assim como o senhor na empresa? Bino: Vários. 3 2 1 BI Quando eu passei a mestre na Marcopolo, em 1961, então nós éramos um turma de amigos ali, e quando os gerentes me chamaram, o diretor era o Sartori e o Leivino (?) me chamaram oferecendo a oportunidade, depois eu desci na empresa e virei pra aquela turma lá e pedi pra eles: Olha, a 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 Tod as as Fas es Tod as as Fas es Tod as as Fas es 196 1 Ambiente Inóspito DIV - Integração Ambiente Inóspito Integridade Organizacional ☺ Integridade Organizacion al DIV - Integração FRH - Formar FRH Formar DIV Integração ☺ ☺ ☺ Integridade Organizacion al ☺ ☺ 466 ☺ firma está me oferecendo isso, isso e isso. Mas eu sozinho não vou conseguir nada, preciso do apoio de vocês. Nós tudo somos amigos, então eu preciso que vocês me dêem um apoio para eu provar para a empresa que eu posso fazer isso. 3 2 2 BI Então nós estávamos criando naquela época uma organização do almoxarifado, código de materiais e aquela coisa toda, aí custou um pouco mais, mas graças a Deus eu venci a parada e mostrei para o meu diretor e o meu gerente, que a gente podia fazer aquilo. Mas não eu sozinho, mas com o auxilio dos meus colegas de trabalho. 3 2 3 BI E mais adiante eu fui promovido a outros cargos, transferido de um setor para outro, como eu te falei antes eu trabalhei no protótipo, trabalhei 3 2 4 BI 3 2 5 BI Depois, eu não se em 1970, ou por aí, a Marcopolo criou uma linha de montagem, uma linha de micros, que começou a surgir. A Mercedes lançou uns carros micros, que é o LO912 que existe hoje... Então a Marcopolo criou uma linha de montagem que era a linha de micros. E eu fui designado para montar essa linha. Então, começou-se com micro e devagarzinho, eu montei a linha de micro na Marcopolo. Fui o primeiro chefe da linha de micro, fui eu. A gente montou aquela linha e foi muito bem. Então eu fico muito orgulhoso do que a Marcopolo ofereceu pra mim dentro da Marcopolo, e o meu crescimento dentro da Marcopolo O povo criou, eu não lembro a data a Fundação Marcopolo, que tem uma Sede Campestre bem grande aqui, fora da cidade aqui. E a gente usou bastante aquilo. Tem lá o campo de futebol, tem CTG lá que a gente aproveitou bastante. Eu hoje estou afastado, não vou mais. Mas antigamente a gente ia bastante. Baile, assistir futebol, esse tipo de diversão ...uma parquezinho.. Uma vez eu até levei meus netinhos pra 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 197 0 CPX Fomento do Aprendizado 2a Fas e: 196 8a 198 6 NAV Legitimidade Organizacion al FRH Antecipar FRH Formar DIV Integração Integridade Organizacion al FRH - Formar FRH Renovar Integridade Organizacion al DIV - Integração ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 467 ☺ ☺ brincar lá, a gente aproveitou bastante. 3 2 6 BI 3 2 7 BI 3 2 8 BI A Marcopolo criou há muitos anos também, uma loja pra vender roupa e calçado para os funcionários. Assistência para esse pessoal. A Marcopolo sempre foi muito boa, muito grande nesse sentido, por isso eu vou dizer uma coisa pra ti, que aqui dentro de Caxias hoje, a Marcopolo é a maior empresa que tem aqui... a Marcopolo e a Randon, duas... Mas o pessoal que trabalha se orgulha de trabalhar na Marcopolo e o pessoal da cidade busca ver se consegue trabalhar na Marcopolo. Porque a Marcopolo oferece uma boa assistência para os funcionários e deve ser uma das empresas que mais bem paga também os funcionários hoje em Caxias. Então todo mundo quer e vê se consegue trabalhar na Marcopolo, prova até que hoje a Marcopolo de Caxias deve estar com mais de 5000 funcionários, só em Caxias. Então é uma bela empresa, e muito boa. Apesar de eu estar fora já, eu falei pra ti, há 13 anos, mas faz... sempre junto Naquele tempo, era aquilo que falei pra ti, no início não existia maquinário, então pra ti cortar uma chapa... Aí, como fazia a porta do carro? Vou te dar um exemplo aqui pela porta, tinha que fazer a porta do ônibus. Naquele tempo nem trema nós não tínhamos, era metro. Você conhece aquele metro de madeira e de alumínio? Era aquilo, era metro... Então tu tinha tua caixa de ferramenta... Vicente: Cada um tinha uma caixa de ferramenta? Bino: Cada um com sua caixa de ferramenta. E a gente usava muito a tesoura pra cortar chapa. Então ... eu não usava a tua, tu não usava a minha, para não estragar... Então pra ti fazer essa porta, tu tinha que pegar uma chapa de ferro. Tu tirava toda a medida da porta, aí tu botava a chapa em cima de uma mesa grande e riscava toda ela com as medidas. Tu tinha todas as medidas, riscava toda ela ali. E depois tu levava aquela chapa, precisava de uns dois ou Tod as as Fas es NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ Tod as as Fas es Ambiente Inóspito ☺ EMP - Versatilidade 468 três para levar aquela chapa... Tu conhece facão de cortar chapa? Cortava aquela chapa com facão. Depois tu tinha que dobrar e 3 2 9 BI 3 3 0 BI Aquilo foi indo, nós tínhamos a caixa de ferramentas e aquilo foi indo. A empresa foi crescendo um pouco, então a empresa foi lá, comprou uma guilhotina. Com uma guilhotina já facilitou, já economizou aquela mão-de-obra de cortar a chapa com facão. Depois foi aperfeiçoando, comprando outras dobradeiras, e foi comprando máquina. E chegou a um ponto que hoje tá a Marcopolo. E naquela época lá, tinha bastante solda, desta solda oxiacetileno, tinha solda elétrica, mas o oxigênio era bastante usado, soldar reforços e tinha uma série de coisas. E normalmente, quando entrava uma pessoa nova na empresa, um funcionário novo, tu tinha sempre que botar ele junto com outro, pra ele aprender né. Foi em 1986, tá. Então, começou a viajar ao Japão, o Cláudio Gomes. A direção, vários deles viajaram ao Japão, e buscaram lá do Japão... eles trouxeram uns slides pra nós, e mostraram... Aí começou a ser implementado dentro da Marcopolo o Kanban. Aí, foi destinado uma série de pessoas aí, que devem estar até hoje na Marcopolo. O João Carlos foi uma das pessoas que foi. E vários foram. Então começaram a criar prateleiras, criaram kanban, criar coisas do sistema japonês. Foi aonde partiu assim uma grande organização dentro da Marcopolo e limpeza 1a Fas e: 194 9a 196 7 EMP Ambição EMP Versatilidade FRH Formar ☺ ☺ ☺ 198 6 FRH Antecipar EMP Versatilidade NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ 469 3 3 1 BI 3 3 2 BI 3 3 3 BI 3 3 4 BI Aqui tem nos corredores, até nos banheiros tinha… Agora faz um tempinho que eu não entro nos banheiros aqui. Tinha uns paninhos de lã, pra você pisar, e andar em cima. Porque o pessoal vem com um botinão de dentro da fábrica… e lá dentro da fábrica sempre tem um pó, uma sujeira, alguma coisa. Depois tu vai andar e vai ver. Até esses paninhos pro pessoal andar dentro dos banheiros.. tu não vê ponta de cigarro dentro da Marcopolo, não vê um palito de fósforo dentro dos corredores da Marcopolo. É uma coisa que tu se sente muito bem. O pessoal gosta, e trabalha aqui por causa desse tipo de coisa. Então a Marcopolo pega os funcionários e bota eles numa integração, vários dias, e doutrina o cara para aceitar aquilo. E o cara entra, se adapta aquilo e se sente bem. Então, a Marcopolo aí em 1986 começou a criar esse kanban e estabeleceu todas as prateleiras do mesmo tamanho, todos os corredores iguais, e assim ta até hoje. Ela começou a se destacar a organização bonita e bem feita na Marcopolo. E trabalhou uma equipe grande, foi montando, começou por um setor, foi pro outro… Nós tínhamos umas prateleiras ao longo da fábrica, que tinha peça lá que o pessoal não sabia… então tu leva tanto, aí faltou a peça tal, porque tu não achava naquela montoeira… Então depois dessa organização, até em economia de peça e matériaprima tu tem Foi mostrado muitos slides para o pessoal, foi conversado, foram feitas muitas reuniões. Esse diretor, o Gomes, não está mais no grupo, mas ele foi um dos caras que batalhou bastante. O próprio Paulo fez muitas reuniões com o pessoal. Pegou a maestria, a chefia geral, e foi mostrando, foi colocando na cabeça de todo mundo, e exigindo... No começo foi mostrando, depois a Marcopolo exigiu, nós temos que partir para isso aqui…esse é o ponto final que nós precisamos ter. Aí o pessoal, começou a todo mundo aceitar aquilo e olha onde ta hoje a Marcopolo. 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração CPX Resolução de Problemas Sistemática Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ Tod as as Fas es 198 6 DIV Integração CPX Fomento do Aprendizado Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ EMP Versatilidade NAV Captura de Valor DIV Integração ☺ ☺ ☺ 198 6 EMP Ambição EMP Versatilidade NAV Negociar ☺ ☺ ☺ 470 3 3 5 BI Eu acho que é uma coisa boa porque todo mundo aceita aqui dentro, porque todo mundo gosta, gosta. A Marcopolo… se tu entrevistar 20 caras aqui dentro, 20 vão te dizer praticamente a mesma coisa que disse, que gostam de estar aqui…. Se o cara é demitido daqui, o cara fica louco. As duas grandes empresas daqui… tem mais empresas boas, mas eu não estou dizendo que são só essas duas. Caxias tem um monte de empresa boa. Todas devem ser boas…Mas o que tu vê na cidade assim, comentários de gente que não trabalha aqui, são fora daqui… o pessoal fala da Marcopolo, todo mundo fala bem… E esta evolução aqui ta cada vez melhor. A Marcopolo tem um centro médico aqui espetacular, dentário, aqui tem tudo, tem uma assistência pro pessoal que é uma barbaridade. Aqui dentro tem dois bancos, tem farmácia, tem uma assistência médica e dentária fantástica… Então você se sente bem trabalhando aqui. Tem um plano de médicos muito bom para os familiares. Quem não quer trabalhar numa empresa dessa? Vicente, tu deve conhecer muita empresa boa no Rio, tem empresas boas, todo mundo tem, todo o Brasil tem, mas tem saído numas revistas aí que diz quais são as empresas mais cobiçadas para trabalho. A Marcopolo deve estar situada dentro das primeiras 10 do Brasil. Tu já viu isso? 3 3 6 BI 3 3 7 BI 3 3 8 BI 3 3 9 BI Então, o nosso Brasil é grande, é imenso, e essa empresa já está colocada em 4o, 5o lugar, é porque.... tem algo bom e diferente de muita gente, porque tu olha quantas milhões de empresas tem no Brasil, e a Marcopolo de classificar no 4o lugar, 5o lugar, isso é uma coisa muito boa né. É porque todo mundo quer trabalhar. Então, o que eu podia te dizer? 3 4 0 BI Em Caxias é. Caxias é uma cidade, ela tem a origem italiana. Bastante aqui nessa região da serra e o pessoal é bastante trabalhador, viu. Bastante responsável, bastante trabalhador…. Tod as as Fas es 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 Tod as as Fas DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacion al NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ 471 es 3 4 1 BI E é difícil tu encontrar um lugar, pode ser igual, mas mais batalhador que o pessoal aqui dessa região é difícil. Pessoal daqui é bastante trabalhador e aceita a coisa. 3 4 2 BI Vicente: O que o senhor chama de aceitar a coisa? Bino: Aceita assim, tu entrar numa empresa, as determinações da empresa. O pessoal aceita. É aqui também eu acho que os funcionários são bem pagos, em Caxias do Sul. Os salários aqui são bons em razão de outros lugares, o salário daqui é bom. Então o pessoal aqui ta contente. 3 4 3 BI 3 4 4 BI A Marcopolo fez uma venda.. porque tem CKD, MKD e PKD. São os três… CKD é peça por peça, o carro. MKD, seria assim uma lateral montada, uma frente, uma traseira e o teto montado. Então vai dentro de contêiner grande e lá você só junta as partes. E PKD é o carro pronto né. Quando sai daqui e vai pro México, só falta o chassi embaixo. E nós fomos montar CKD. Então, foram uns gabaritos grandes que a Marcopolo montou aqui, gabaritos. Fez todos os gabaritos da frente, traseira lateral e teto, e depois foi pra Venezuela. E lá foi chumbado e nivelado. Lá, tu tinha que pegar peça por peça, botar num gabarito, soldar ela ali, pra depois tirar do gabarito pra montar o carro. Aí tu começa a montar o carro. Tu coloca o chassi na linha, aí a primeira coisa que tu tem que fazer é nivelar ele, pra começar a trabalhar. Colocar o barroteamento (?), peça por peça. Com o desenho, tudo por medidas do desenho…trabalhar só com o desenho.. O chassi era deles lá, lá da Venezuela. Mas nós fomos montar só a parte externa, a Marcopolo vendia a carroceria. Então, a gente foi lá. Começou do zero a montar uma fábrica muito bonita que fica lá em Valencia. Valencia é uma cidade industrial, é no estado de Carabobo, na Venezuela. Tod as as Fas es 2a Fas e: 196 8a 198 6 Tod as as Fas es 2a Fas e: 196 8a Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ EMP Ambição EMP - Versatilidade ☺ ☺ NAV - Captura de Valor ☺ 472 198 6 3 4 5 BI Eu fiquei na primeira vez 72 dias. E depois na segunda vez, não sei… fiquei mais 36 dias, na outra vez, não lembro… coisas assim, eu tive 3 vezes lá. Na primeira vez nós montamos uma série de carros, que a Marcopolo tinha vendido primeiro, que era Série Ouro. Então, na segunda vez já foi montado o Veneza I 3 4 6 BI Vicente: E como é que foi? O senhor foi lá porque o senhor quis, o senhor pediu? Bino: Não, não… a firma pediu… 3 4 7 BI Eu aprendi muito dentro dessa empresa, muito mesmo, com o Martins, que é o superintendente do grupo hoje, José Antônio Fernandes Martins. Aprendi muito com esse homem. Esse homem é extraordinário. Vicente: Aprendia como assim? Bino: Tudo, tudo…Administração de empresa. Dentro da empresa, a administrar e …. Vicente: Mas como é que ele passava pra você Bino: Ela fazia reunião com nós. Ele veio de Porto Alegre, ele entrou na nossa empresa em 1964. Vicente: Em 1966. 3 4 8 BI Quando o Martins veio pra Marcopolo, pra Nicola, o diretor industrial era o Fiorindo Sartori e o Waldemar José Negrini era o gerente geral da empresa. Era ele mais o Doracy Nicola, mas ele tinha se retirado da empresa. O Nelson e o Doracy se retiraram, mas eu não lembro o ano, em 1966/67. Vicente: Eles saíram aí entraram o José Martins e o … foi mais ou menos no mesmo período. Bino: É, quando o Nelson Nicola e Doracy Nicola se 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 2a Fas e: 196 8a 198 6 NAV Captura de Valor 2a Fas e: 196 8a 198 6 FRH Renovar FRH - Formar NAV - Desafiar DIV Integração ☺ ☺ ☺ FRH Formar Integridade Organizacion al FRH - Antecipar ☺ ☺ ☺ ☺ 473 ☺ retiraram, eles montaram a empresa deles. Aí o Fiorindo Sartori ficou. Nessa época, o Martins e o Sartori eram diretores industrial. 3 4 9 BI 3 5 0 BI 3 5 1 BI 3 5 2 BI Eu sei que eram três irmãos, o Dorval que era diretorpresidente, o Doracy e o Negrini eram gerentes, eles ali que comandavam toda a empresa e o Nelson Nicola era o homem, o terceiro irmão, comandava a pintura, o setor de pintura da Marcopolo. Mas eu não sei dizer por qual motivo que eles se retiraram não. A gente ficou assim… até tomou de surpresa na época…ah, o pessoal ta saindo. Eles montaram uma tal de Furcare, né, O Martins sempre foi um homem de muita vontade, inteligente, pra caramba. Um homem muito inteligente, tem uma visão extraordinária…e ele começou várias reuniões com nós e terminando, o homem estabelecia metas pra nós né… olha nós temos que buscar isso, buscar aquilo… ele incentivou, ele levou esse troço a uma explosão…muito bom, muito espetacular esse homem…uma maravilha. Todos! Mas sempre tu acha que tem um que se destaca. O Martins foi uma coisa. Muito bom. Ele tinha muito contato com nós da fábrica, com a chefia. Ele fazia muita reunião e descia muito para o piso de fábrica. E ele enxergava uma coisa ou outra, e ele fazia reunião, quando terminava, explicava pra nós, e ….. E foi embora, a empresa cresceu bastante. Essa empresa ta com cinqüenta e? Vicente: Mas lá então para esse primeiro Marcopolo do Salão do Automóvel. Eu li que esse Salão do Automóvel foi um alvoroço… Bino: Foi aonde explodiu a Marcopolo Vicente: E depois muda o nome da empresa para Marcopolo. Bino: Aí muda o nome… 2a Fas e: 196 8a 198 6 DIV Fragmentaçã o 2a Fas e: 196 8a 198 6 DIV Integração FRH Formar 2a Fas e: 196 8a 198 6 196 8 DIV Integração FRH Formar EMP Ambição FRH - Reter Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ Crescimento e Renovação Organizacaional 474 3 5 3 BI 3 5 4 BI 3 5 5 BI 3 5 6 BI E o Salão do Automóvel, a gente foi daqui lá uma equipe pra lá...esse carro saiu de Caxias... Sabe como é que ele sai de Caxias. Todo ele coberto com um pano, amarrado tudo, e esse carro viajava só à noite. Durante o dia ele ficava escondido na beira de estrada, em postos....viajava só de noite. O carro viajou assim.. Saía daqui de noite. Não sei até que ponto, porque a gente não foi com ele, foi com outro carro. Mas ele viajou.... era surpresa, né. Então ficava escondido num posto, de noite viajava, e foi pra SP assim. E nós fomos terminar o carro na garagem da Reunidas Paulista. Vicente: Mas como é que era... era um carro que era muito novo mesmo? Era bem diferente? Bino: 100% diferente do outro. Vicente: Por que? Bino: Porque naquele carro já foi criado uma série de peças de fibras que não existiam, não existia fibra antes. A frente dele ficou completamente diferente. O Pasete criou um monte coisas...o carro ficou novo. Novo, novo, novo. 196 8 196 8 EMP Versatilidade Crescimento e Renovação Organizacaional ☺ ☺ Vicente: Como eram essas criações de coisas novas? Bino: Tinha o pessoal de projetista, que ficava bolando, que até hoje tem. Vicente: Eles olhavam alguma coisa na Europa? Bino: O pessoal vai comprando tudo que é revista, vai olhando novidade na Europa. A Marcopolo tem um protótipo muito grande, que tem uma série de rapazes e projetistas, aí desenhistas, que trabalham em cima do produto, sempre para inovação. A empresa não pode parar. Tu pega um carro, bota ele no mercado, e tu fica com ele vários e vários anos, ele fica desgastado. Os outros lançam carros novos, então tu tem que ter sempre novidade pra poder mostrar pro cliente. Coisa nova e aperfeiçoamento. O carro tem que ser bom, produto bom,... Então essas empresas, a Marcopolo e outras encarroçadoras do Brasil, elas têm um protótipo grande e estão sempre trabalhando em cima de inovações, portapacotes, portas novas, porta-pacotes, bancos novos, Tod as as Fas es CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ Tod as as Fas es Ambiente Desafiante/E stimulante ☺ ☺ EMP - Versatilidade EMP Ambição EMP Versatilidade ☺ 475 ☺ oferecendo mais conforto para o passageiro, melhor qualidade do produto. Porque se ela parar no tempo, sabe... tem um desgaste grande, aí você não vende mais. E é um produto caro, você tem que ter coisa boa, e novidade para vender, não é isso? 3 5 7 BI Vicente: Tem muita diferença entre esses chassis? Bino: Tem. As fábricas de chassis cresceram muito, desenvolveram muito. Hoje tem a Mercedes, tem a Scania, tem a Volvo, tem a Volkswagen (?). Cada um vai cada vez lançando coisas novas... Vicente: E para vocês é igual aqui, se chegar. Ou tem alguma diferença? Bino: Tem. Todos eles são um pouco diferentes uns dos outros. Encarroçadora não tem novidade, ela se adapta a todos. Vicente: Quando é diferente, a adaptação é grande ou não? Bino: É tudo um diferente do outro. Não tem assim, tudo é igual. Porque a Volkswagen tem um sistema, a Mercedes, outro. A Mercedes tem vários e vários chassis. Tu tem um monte opção se tu quer comprar chassi... ela te oferece várias opções de comprar. Ela tem pequeno, médio e grande... então tu pode escolher... Tod as as Fas es CPX Resolução de Problemas Sistemática 3 5 8 BI Era chassizinho de caminhão, Chevrolet, Ford... Depois começou a vir as primeiras unidades do Alfa Romeo.... Depois veio vários chassis, veio Acro...porque o Acro era um chassi inglês. Então começou a aparecer por aí o Acro, tinha o Acro hidramático, tinha outro, o Alfa Romeo. Depois começou a vir outros tipos de carro, a Mercedes... porque custou um pouco a vir chassi pro Brasil, acho que foi em 1959/60... 1a Fas e: 194 9a 196 7 Ambiente Inóspito CPX - Busca Abrangente de Soluçoes NAV Negociar NAV - Consentir ☺ ☺ ☺ 476 ☺ 3 5 9 BI Ainda era difícil naquela época. Mas o mercado, tinha essa Eliziário de Porto Alegre, que era um forte concorrente... Vicente: De urbanos? Bino: De urbanos e rodoviários, tinha tudo. A Nicola também fazia urbano e rodoviário. Ali pelos 60, por ali, a mais grande que tinha aqui na região era a Eliziário de Porto Alegre, ela era muito maior que a Nicola, mais conhecida, um potencial maior 1a Fas e: 194 9a 196 7 Ambiente Desafiante/E stimulante 3 6 0 BI Vicente: Como é seu senhor enxerga, sendo a Eliziário maior, a Marcopolo era menor, e a Marcopolo foi comprando outras empresas. Como é que o senhor vê isso? Porque? Bino: Eu acho que o pessoal da Marcopolo se antecipou, correu na frente, cresceu mais, desenvolveu mais, mostrou um produto melhor, e os outros foram parando no tempo. Alguma coisa aconteceu parecida, foi o que aconteceu, a Marcopolo cresceu... O que posso dizer é que hoje a Marcopolo está situada entre as maiores do mundo né, como fábrica de ônibus e na época que eu entrei, não era. E hoje tu vê o que é o Grupo Marcopolo. 2a Fas e: 196 8a 198 6 EMP Ambição 3 6 1 BI 198 1 3 6 2 BI Eu vi uma crise muito grande na Marcopolo foi... o início da crise foi no inicio de 80, que durou uns 2, 3 anos, uma coisa meio difícil assim... a Marcopolo contornou a situação assim tá.. Eu estava em Porto Alegre na época, quando começou essa crise, a gente dispensou gente lá, bastante em Porto Alegre, em 1983 a Marcopolo fechou a empresa em Porto Alegre. Então ela trouxe toda de lá pra cá, que lá era produzido o Torino, urbano, mais volume maior...e a Marcopolo trouxe pra cá porque achava que não tinha mais porque manter aquela fábrica, tão perto aqui de Porto Alegre...em 1983 ela fechou e trouxe tudo pra cá. 198 3 NAV - Desafiar EMP Versatilidade NAV Captura de Valor NAV - Negociar EMP Julgamento NAV - Evitar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ FRH - Reter 477 3 6 3 BI Vicente: Como é que os funcionários encaravam na fábrica, no chão que estava faltando trabalho? Bino: Todo mundo fica assustado. O pessoal procura fugir de perto de ti... Tu já sabe disso, tu tá estudando, tu sabe como é a situação. O pessoal quando te vê, tu aparecer perto, um chefe aparecer... o pessoal fica assustado, não é isso? Porque todo mundo quer...puxa, o cara tá vindo lá..será que ele vão chamar nós para demitir... então é uma situação muito ruim, muito triste. 2a Fas e: 196 8a 198 6 3 6 4 BI 2a Fas e: 196 8a 198 6 NAV - Evitar DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 3 6 5 BI 200 7 EMP Expansão Produtiva EMP Ambição Folga Organizacion al ☺ ☺ ☺ 3 6 6 BI Eu estava em Porto Alegre quando foi inaugurada aqui. Eu estava em Porto Alegre naquela época. Mas a gente vinha seguidamente, eu e o engenheiro Carvalho (?), a gente vinha participar de reuniões aqui, então, nessas reuniões o Martins, o Paulo, todo mundo colocava a situação. Olha, nós temos que tomar esse rumo, isso, isso e isso. E a gente seguia instruções deles, que tu sabe, empresa é empresa. Empresa precisa viver, todos precisam viver, mas na empresa se der uma situação, digamos se der uma crise, a empresa não pode ficar com todo mundo senão cada vez se torna pior. Infelizmente acontece esse tipo de coisa, mas graças a Deus hoje, Caxias, faz muito tempo que nós não vemos que as empresas têm umas crises dessas... É, a Marcopolo tem esses carros que vão em PKD, vão pro México. A Marcopolo tem Colômbia, que até saiu no jornal, não sei se foi antes de ontem, ou na semana passada, que a Marcopolo tá abrindo outra fábrica na Colômbia né. Então a Marcopolo manda muita peça daqui pra fora, então o setor de fabricação está sempre com bastante trabalho. E a Marcopolo hoje está sólida, tá bem firme. É um grupo hoje... Olha, eu .... tive oportunidade, mas tive medo.... Eu fui convidado pelo Roger XXX (?) pra trabalhar com ele, até hoje trabalho com ele, mas tive muitos amigos meus, que tão aí fora, que trabalharam comigo aqui dentro que hoje são fornecedores da Marcopolo. Todos eles se deram bem. Todo mundo bem, bem situado,... tão com umas firmas maior outros menor, mas tão tudo aí, muito bem. Trabalham pra Marcopolo, trabalham pra Randon, trabalham pra outras, 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH - Reter ☺ FRH - Reter NAV - Negociar 478 mas todo mundo se deu bem. 3 6 7 BI 3 6 8 BI 3 6 9 BI 3 7 0 BI Vicente: E também, quando foi implementado o JIT aqui, o Kanban, as técnicas japonesas, também foi passado para os fornecedores? Bino: Foi, foi...tem alguns que a Marcopolo tem fornecedores que a Marcopolo não confere a mercadoria deles. A responsabilidade de qualidade e de quantidade é deles. Se houver um problema no troço, ele é responsável por... Então, se ele chega aqui, traz 10 óculos e coloca na prateleira. Ninguém da Marcopolo vai examinar. Ah,... mudou 1000% da coisa. Naquela época, poxa, quando eu entrei, sabe o que nós tínhamos de condição? Nós tínhamos, um rapaz que é um grande amigo meu, serviu até o exército comigo, ela já morreu, faz anos..o Odir Brito (?), se faltava uns parafusos.... ele pegava a bicicleta e corria na ferragem pra buscar pra nós o que faltava. Era assim naquela época. Bino: Eu lia todos os boletins da Marcopolo, agora... Era tudo mais difícil. Hoje você vê, tá tudo muito mais prático, mais fácil. Naquela época lá era tudo mais difícil, pra empresa e pro funcionário. Se não tinha muita coisa, não tinha...faltava um rebite lá... aí o Brito, falecido Brito....pegava o Brito, pegava a bicicleta, que corria lá na centro, leva meia hora, uma hora, voltava lá na ferragem e buscava...E faltou solda, vai buscar, sei lá... Então era tudo assim. Hoje não. Hoje um funcionário da Marcopolo não pede nada do que ele precisa, tá tudo na prateleira pertinho dele. E desce do carro, 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 1a Fas e: 194 9a 196 7 Ambiente Inóspito EMP - Versatilidade ☺ DIV - Integração Ambiente Desafiante/E stimulante EMP Versatilidade ☺ Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ 479 ☺ pega a peça e põe pra dentro do carro. Não tem mais nada desse tipo de coisa... Então foi criado o kanban, esse troço, facilitou tudo. 3 7 1 BI Ah, todo mundo. E o pessoal vai gostando, e vão se adaptando no sistema. Ferramenta também, surgiu parafusadeira, roscadeira. Hoje é uma facilidade. Antigamente era tudo com chave de fenda. 3 7 2 BI Vicente: Além disso o Sistema Marcopolo propõe que os funcionários dessem sugestões... Bino: Todo mundo...tem o nome aqui, como é que diz... Tu pode até criticar o teu colega se ele fizer coisa errada. Tu pode criticar teu colega, colocar o nome lá. Depois aquilo é examinado por umaa comissão aí da Marcopolo. Então é bom porque todo mundo trabalha livre. Se tu acha que aquele tipo de furadeira que tu tá trabalhando não é bom, não é adequada pro teu trabalho, tu pode escrever lá e botar lá, que tu precisa de uma furadeira maior, menor ou mais leve pra tu ter mais... 3 7 3 BI Vicente: Mas o pessoal faz isso? Bino: Faz, o pessoal faz. O pessoal gosta de fazer isso. Faz, pode crer que faz. 3 7 4 BI Aquilo teve um incentivo muito grande dentro da empresa. Todo mundo quis participar. Todo mundo queria participar. Então o troço foi meio rápido porque todo mundo queria participar do kanban. Então aquilo foi embora...cada setor 1a Fas e: 194 9a 196 7 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 Ambiente Desafiante/Estimulante EMP Ambição EMP - Julgamento ☺ ☺ ☺ CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ EMP Ambição DIV Integração CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ 480 3 7 5 BI 3 7 6 BI 3 7 7 BI 3 7 8 BI queria ganhar do outro, queria fazer melhor. Eu queria fazer melhor que tu, e tu queria fazer melhor que eu. Então quem levou vantagem nisso? Foi o global.... a empresa ganhou com isso porque o pessoal gostou de fazer a coisa. 7a 200 6 Naquela época não existia praticamente reuniões com grupos e coisas... Naquela tempo a chefia, tinha um cargo novo fazer uma coisa, eram determinadas duas, três pessoas... mas era difícil existir...poucos mestres e etc, mas era muita pouca reunião. Hoje não. Hoje todo mundo participa. Hoje a Marcopolo tem várias salas aí, que é determinado um grupo numa reunião aqui, e outro lá...então o negócio funciona muito bem. A organização da Marcopolo é muito boa. Eu acho que tu teve, tu foi premiado no teu negócio. Tu escolheu uma empresa muito boa. Tu foi premiado mesmo. Tu escolheu uma das melhores empresas do Brasil, pra tu fazer um trabalho pra ti. Tu vai ser premiado nisso! E tu entrevistar outra pessoa assim do tempo passado, ele vai te dizer talvez alguma coisa diferente, mas muito pouca coisa. Ele vai te dizer a mesma coisa que eu, porque todo mundo que trabalhou aqui... existe, existe... o Pelé...o Pelé vai dizer que teve um time que ele não gostou também, mas se tu entrevistar 10 eu te digo que 9,8 vão dizer a mesma coisa que eu, que gostaram da empresa, que a empresa foi muito boa. Bino: Não, eu posso dizer que eu vivi tudo mil maravilhas aqui na Marcopolo, eu tive meus trancos e barrancos também, algumas divergências... Vicente: Como assim? Bino: Com um chefe, alguma coisa...não, coisas que acontecem, mas vamos dizer assim, 98% de alegria, 2% fica...porque não existe troço..tu vê, existe briga em tudo que é lugar, discussão... aqui dentro da Marcopolo só teve alegria, criei uma bela família...eu vivi, criei meus filhos trabalhando dentro da Marcopolo... Tod as as Fas es DIV Integração 200 7 Integridade Organizacional DIV - Integração ☺ ☺ ☺ Tod as as Fas es DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ Tod as as Fas es DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ 481 3 7 9 BI Eu no Uruguai, por exemplo, antes da Venezuela, a Marcopolo começou a fazer exportação pra Montevidéu, então aqui pertinho... Eu andei muito em Montevidéu, muitas vezes... Tinha um problema, eu ia lá e resolvia o problema... o pessoal reclamava, não funcionava uma coisa, eu ia lá vê, consertar e ajudar, fazer isso, fazer aquilo, e instruir o pessoal e tal. E eu andei muito ali, e sempre gostei do serviço, e sempre fui muito pontual com a empresa Marcopolo. Viajei bastante, viajei de avião, viajei de ônibus, viajei de carro pra Marcopolo, e me orgulho bastante do que eu fiz pra Marcopolo. Me orgulho da Marcopolo comigo também. É, a prova tá aí que o Zignani...eu sou amigo do Paulo, me encontro com o Paulo. O Martins, o Zignani, o Valter, com todos esses caras que são os diretores, a gente se encontra, se abraça, conversa, bate um papo. 3 8 0 BI 3 8 1 BI 3 8 2 BI E eu gostava do time da Marcopolo, eu fui um dos fundadores do time da Marcopolo também. Vicente: Do time de futebol? Jogava também? Eu li que o time ganhava bastante... Bino: Fizemos um time jóia. Eu, Paulo Bellini... jogava o Doracy Nicola, jogava o Cláudio Coltro, esse que era pra ti entrevistar também hoje aqui, fizemos um time... 3 8 3 BI Bino: Sim, a Marcopolo hoje já anda sozinha. Isso aqui tá uma organização tão grande, tão bem montada, bem grande, que a Marcopolo anda sozinha... Ela tem uma equipe muito boa, que dirige a Marcopolo, muito boa, cuida que é a direção da Marcopolo...esse pessoal...muito boa e a Marcopolo hoje anda sozinha. 2a Fas e: 196 8a 198 6 Tod as as Fas es 3a Fas e: 198 7a 200 6 1a Fas e: 194 9a 196 7 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Formar FRH Renovar FRH - Reter ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ 482 ☺ 3 8 4 BI 3 8 5 BI 3 8 6 BI 3 8 7 BI 3 8 8 JB Aí nós íamos jogar, e ganhamos o jogo deles de 1 a 0. Aquilo deu um incentivo, alavancou o time, todo mundo começou a ... Nós fomos vice-campeão no ano, em 1955. Fomos vicecampeão. Aí entrou o Brito, que não participou do primeiro ano. Aí o Brito incentivou, começou a jogar. Aí foi, fizemos um time bom. Fomos em muitos anos campeão. Fomos o primeiro campeão sul-brasileiro foi, aqui do sul, foi a Marcopolo, em 1967. A Marcopolo já foi no México disputar o campeonato mundial interclubes. A Marcopolo foi no México disputar já. Foi representando o Brasil no México. Foi vice-campeão lá México. E os poucos que foram, disse que o juiz até deu umas rafiadazinhas (?) contra a Marcopolo.... Disputou Brasil, México, e não tô lembrado mais...foi em 1997, foi no México disputar um título lá. Sempre. Tem uma sede campestre muito bonita ali. A empresa sempre apoiou. Hoje tá com um time muito bom. Marcopolo deve ter 4 sul-brasileiros já. A Marcopolo tem 4 sul-brasileiros e aqui na cidade nós fomos campeão numa época lá 8, 11 anos consecutivos. Com um time muito bom, o pessoal levava capricho. Depois, a Marcopolo disputa tudo, disputa basquete, vôlei... tudo que é tipo de competição. Marcopolo patrocinava corredores de maratona. Eu acho que até no Rio a Marcopolo patrocinava um corredor pra correr a maratona. Nós tínhamos uma guria que trabalhava aqui dentro, Rosa, ela participou de tudo que foi maratona em São Paulo, Rio, ela foi para o exterior correr também. Então a Marcopolo patrocinava corrida. Por que corrida? Porque ônibus corre né. Uma vez eu fiz uma pergunta pro Valter, por que a Marcopolo só patrocina corrida? Porque o que o ônibus faz, não corre? Então nós temos que patrocinar corredor. Ah, o esporte até hoje aqui tem bastante, aqui dentro da Marcopolo é bastante incentivado. entrei na Marcopolo dia 1º de setembro de 1970 foi meu primeiro e último emprego, estou imaginando isso aqui. Vicente – Você tinha quantos anos? Jaime – Tava com 21 anos. Aí, na época era mais difícil que hoje pra tu conseguir emprego. 1a Fas e: 194 9a 196 7 DIV Integração Integridade Organizacion al NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 199 7 DIV Integração Integridade Organizacion al NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração Integridade Organizacion al NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ EMP Versatilidade Integridade Organizacion al NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 197 0 FRH - Reter ☺ 483 3 8 9 JB 3 9 0 JB 3 9 1 JB 3 9 2 JB 3 9 3 JB 3 9 4 JB E aí, a Marcopolo me deu uma baita oportunidade dia 1º de setembro na função de Espírito Santo, trabalhava no Espírito Santo. A Marcopolo na época tinha comprado a Eliziário, que é de Porto Alegre, hoje é fechada. Então aí, nós, eu fiquei 4 anos no Espírito Santo carregando caminhão como estava estudando já na época a Marcopolo dava muita oportunidade pra quem está estudando e em 1974 eu fui pra engenharia, fiquei na engenharia, nós montamos um setor, hoje seria o computador do produto, o que define os materiais que vão para fabricar cada ônibus É, eu fiquei uns, não sei quanto tempo, dentro da engenharia, depois surgiu uma função nova lá, pros anos 80, que chamavam de Coordenador de Sistemas Industriais era o momento em que a Marcopolo começou o famoso computador Labor, então eu comecei a me deslocar, primeiro, dentro da engenharia a desenvolver um sistema operacional, como se trabalha, né, um programador, um cara que entende de informática, ah, mas sim um operador que conhece como a Marcopolo trabalhava, daí, eu saí, passei por todas as áreas: processo, vendas, compras, PCP, tudo voltado a implantação do sistema. Aí, eu passei 2 anos no CPD, larguei o CPD peguei logística, aí, trabalhei na logística, da logística eu voltei pra processos e hoje eu estou na engenharia, e isso foi... bem rápido. O que me marcou?! Me marcou mesmo na Marcopolo foi em 1986, eu diria que aí foi a virada da Marcopolo e onde é que o Paulo Bellini, Paulo Bellini que é nosso presidente, e o nosso diretor industrial, que era o Cláudio Gomes que foram pro Japão. Foram pro Japão pra ver o que tinha no Japão, qual era a tecnologia que usavam, aí foi a virada. Que virada fizeram? Me recordo muito bem que o Cláudio Gomes reuniu todas as noites, depois da hora, dava palestra sobre Japão, começando a vender tecnologia japonesa pra todos os colaboradores da Marcopolo. 197 0 FRH - Formar ☺ 197 4 FRH Antecipar FRH - Renovar ☺ ☺ 198 0 FRH Antecipar FRH - Formar ☺ ☺ 198 0 FRH Antecipar FRH - Formar ☺ ☺ 198 6 EMP Julgamento ☺ ☺ 198 6 EMP Julgamento ☺ ☺ EMP Ambição NAV Legitimidade Organizacion al EMP - Versatilidade 484 ☺ 3 9 5 JB 3 9 6 JB 3 9 7 JB 3 9 8 JB 3 9 9 JB E aí são coisas assim que começam a te marcar, tipo, na época nos chamavam de operários... operários, funcionários, e eu jamais pensava que nós íamos ser chamados de colaboradores, ai começou a ser somente colaboradores, e explicavam tudo que acontecia lá, o que eles viam de novo e tal, e no fim davam um certificado de participação, viu como me marcou. Quem participou da explanação de como o Japão funciona. Partindo daquele momento aonde o pessoal nosso não acreditava, a Marcopolo começou a mudar, mudar em tudo: em organização, nós usamos, não sei se tu ouviu falar, nós usamos a sigla SIMPS, tu vai falar com o João Carlos, João Carlos é o nosso especialista, então ele vai te explicar bem. Então esse SIMPS é um sistema japonês, mas adaptado a Marcopolo. É o sistema marcopolo de produção de produção integrada... aí tem várias ferramentas que trabalham nela, e a Marcopolo começou a trabalhar em cima delas, nas ferramentas, e aí, começou a nova sistemática de programação, famoso kanban. Começamos a trabalhar no kanban, começou a se reduzir estoque, nós praticamente não trabalhávamos com estoque, começou uma nova cultura muito difícil de ser implantada, por causa da nossa sistemática, isso impediu... o mais complicado no ser humano é mudar, então é uma mudança cultural, ela foi muito complicado. Começou na época a ter respeito, não que não tivesse respeito antes, respeito ao ser humano, e assim, foi evoluindo, evoluindo. Aí, em um período sempre ia alguém pro Japão, ver novas tecnologias, ver novas sistemáticas, ver o que tinha de novo. Eu não posso deixar de falar que tive um convite em outubro do ano passado, fui pro Japão também. 198 6 NAV Desafiar NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 198 6 CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar ☺ ☺ NAV Captura de Valor CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado NAV - Legitimidade Organizacional FRH - Renovar ☺ 485 ☺ 4 0 0 JB Então, eu diria sendo assim tão bairrista, mas Marcopolo é uma empresa muito semelhante, parecida, com a sistemática japonesa, mas também que nós estávamos em um grupo de 20, pessoal de humanas, um grupo bem estruturado. Esse ano vão mais quatro coordenados pela área do Pedroni e 4 0 1 JB todo mundo admirava o que a Marcopolo fazia e realmente nós aprendemos muita coisa, ainda, sempre temos o que aprender, mas o que nos deixou mais assim realizados, é que a Marcopolo já estava no caminho, tem algumas coisas que podem ser melhoradas, e é por isso que nós vamos pra lá... isso é o lado positivo da coisa. 4 0 2 JB 4 0 3 JB 4 0 4 JB O lado negativo que eu vi dentro da Marcopolo foi lá em 1981, 1983, quando a Marcopolo entrou numa profunda crise, não estou dizendo aqui que foi por causa da Marcopolo, administração, não. Você pode ver que tem até outras empresas em Caxias grandes que tiveram o mesmo problema ou pior, não quero fazer nome. Então, aquilo, como ser humano, também não estou falando por mim, o que me marcou muito, foram os nossos diretores, o Paulo Bellini, o Valter, o Martins, na época... quando fizeram uma janta, aí no Rincão da Lealdade, eu vi os diretores se comovendo, pedindo ajuda pra todos, todo mundo unido, trabalhando, não medindo esforços, acreditando na Marcopolo, e doía quando chamavam o pessoal, botava no pátio e dizia “Vocês passam tal dia para acertar as contas”, então, imagina o que aconteceu. Começou pelo seguinte, lá em 1983 ela tomou todas as forças e levantou vôo rapidamente, porque nós fomos muito felizes... vamos falar bem claramente, pelos nossos técnicos, pelo nosso poder de conhecer ônibus, que foi lançado um ônibus que aí, quase reverteu os nossos concorrentes sentiram. Então aí foi, lançou-se um produto, na época diziase que nosso produto, realmente, o nosso produto não estava de acordo com o nome da Marcopolo, e foi lançado um ônibus novo e esse ônibus tomou as rédeas e tudo na 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 198 1 FRH Formar FRH - Renovar ☺ ☺ NAV Captura de Valor CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ FRH - Reter NAV Consentir DIV Fragmentaçã o 198 1 DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ 198 3 EMP Ambição EMP - Versatilidade ☺ ☺ 486 vida o que te mostra como o negativo, que foi essa parte da crise aí, tu aprende pra tu administrar. 4 0 5 JB Então a Marcopolo partindo daí, partindo de 1986, começou a ter os pés no chão, e essa foi a grande tirada. E hoje a Marcopolo produz tudo isso aí, graças a... o que nós vimos no Japão? Primeiro, respeito pelo ser humano, eles trabalham muito com o processo, eles têm o controle visual, eles trabalham com o sistema kaizen, kaizen é melhoria continua. E por último treinamento, treinamento, treinamento, 4 0 6 JB 4 0 7 JB e a Marcopolo, no meu modo de ver, ela está em cima desses 5 itens, antes de qualquer colaborador trabalhar na função dele, ele é treinado de 3 a 4 semanas pra executar a tarefa... 4 0 8 JB e Marcopolo tem isso aí, podia ser melhor, podia, evidente, tem coisas pra melhorar sempre 4 0 9 JB “A Toyota está usando SAP?”, responderam “Sim, está usando SAP”. Ele continuou a pergunta: “Quer dizer então que o kanban, ele é controlado pelo SAP?”. Responderam: “Não, não existe sistema melhor que o visual”. E a Marcopolo está utilizando sistema visual. 198 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 200 6 Crescimento e Renovação Organizacaional FRH Renovar FRH Formar DIV Integração ☺ ☺ FRH - Formar ☺ EMP - Ambição ☺ NAV Desafiar NAV - Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 487 ☺ 4 1 0 JB 4 1 1 JB 4 1 2 JB 4 1 3 JB 4 1 4 JB Eu particularmente, tenho minhas dúvidas, se nós estaríamos produzindo o que nós estamos produzindo. E nós temos um ponto muito forte que a flexibilidade. Aumentou um produto, mistura ele aqui, passa ele pra cá, e produz ele, tá lá no fim. Então, valorização ao colaborador, queira ou queira não queira, quem cuida do material é ele, ele é o dono, ele sabe o que tem aí... aciona ele, ele compra, ele compra entre aspas, não é emitir uma ordem de compra, é ele que tem que acionar, é ele que tem que vigiar a caixinha pra fazer. Então num momento, deixa a responsabilidade e o comprometimento, a participação. Quem não quer participar? Todos querem participar. Vicente – E foi sempre assim? Jaime – Não, essa veio evoluindo, veio evoluindo. Começou em 1986. Tem uma história por trás disso e cada vez melhorando mais. Tem uma história. Basta ver... uma vez eu tive uma visita com o pessoal da Scania e eles perguntaram para nós qual a forma que a gente tinha para definir e calcular o kanban, qual o sistema de programação, qual é a forma. Aí, nós não temos forma. É tu conversar com a peça. Tu conversar. Todas as áreas têm que se envolver. Conversar como com a peça? Quanto que ela custa, qual o tamanho dela, de onde é que ela vem... tem processo, tem troca rápida de ferramenta, não tem. Qual a quantidade que tu tem que implantar... todos esses dados, peça a peça. Então, no momento que você definir, dificilmente erra. Tem ajustes? Claro que tem ajustes.... Com os fornecedores, se não existir uma parceria, um treinamento, dentro do fornecedor, não funciona. Não funciona por quê? Eu to falando porque na época eu trabalhava na logística, agora eu to meio afastado, mas a lógica é essa, e não muda tanto. Existem fornecedores que entregam 2, 3 vezes por dia. Isso, se tu não treinar eles, vai te faltar peça aqui. E outra, e muito importante, que nós estamos batalhando e está acontecendo, e gradativamente vai melhorando, é a qualidade na origem, tanto dentro da empresa como fora. Porque se vem um lote de peças, 200 7 EMP Versatilidade 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Ambição 198 6 NAV - Captura de Valor DIV Integração Integridade Organizacion al Ambiente Inóspito ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração EMP Versatilidade Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade NAV Negociar NAV Captura de Valor ☺ ☺ ☺ 488 aquele lote é pra um dia, meio dia ou duas horas. Se tiver problema, pára entre aspas, dependendo da peça. Então existe um trabalho quanto a isso. E a Marcopolo hoje é isso. Então, eu diria transparente, devido ao tempo, ao treinamento e ao comprometimento de todos os colaboradores e sabendo que é uma coisa boa e funciona. 4 1 5 JB Existe um programa mestre. Nós chamamos unidade padrão, UP. Nós temos produtividade. Existe a produtividade diária, quantos por centos, quantos carros nós devemos produzir, quantas portinhos nós devemos produzir, quantas janelas. Existe todo um trabalho quanto a isso. 4 1 6 JB 4 1 7 JB Isso nós começamos lá, depois da crise. Eu me recordo que contratado uma empresa de fora e ela começou a implantar a produtividade, a produção diária. De lá pra cá, foi melhorando cada vez, cada vez mais, e nós trabalhamos com ordem de serviço. Só pra você ter um idéia é simples de ver a produção diária, mas existe um trabalho com isso, além de um treinamento, um processo voltado, além de ferramentas, além de gabaritos. Porque são tomados tempos, pra produzir isso aqui, você vai precisar de tanto, então é horas disponível versus o que eu vou produzir, eu tenho a produção diária. Eu particularmente sou engatado em equipe kaizen, sou engatado. Simplesmente engatado. A grande diferença é essas equipes kaizen. Equipe kaizen, como trabalho dentro da Marcopolo, põe uma equipe dentro de uma fábrica de botão, e fica trabalhando 1.5 ano, 2 anos lá dentro, e cada dia tu vai melhorando. 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 200 7 EMP - Ambição EMP Ambição CPX Resolução de Problemas Sistemática ☺ CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado 489 ☺ 4 1 8 JB 4 1 9 JB 4 2 0 JB Basta ver um trabalho que foi feito lá e me marcou, eu fazia parte dessa equipe, é que a monovia que transporta as estruturas de poltronas para entrar na pintura, para dar o tratamento anti-corrosivo, nós trocamos de rumo. É a mesma coisa que tu desviar um rio, nós desviamos ele. Ao invés do operador ir colocar na monovia, a monovia vinha até o colaborador. É, então são coisas desse tipo que a Marcopolo tá... Isso quem? O próprio colaborador que trabalha na... É evidente que tem os cabeças, tem o pessoal com formações diferentes, mas muita coisa é o chão de fábrica que criou e o João Carlos deve explorar bastante sobre isso, ele deve falar do SUMAN, que ele é o especialista. Se tu olhar... nós não falamos no lead time, o lead time de um ônibus. Lá trás, e não faz muitos anos não, lá pelos anos 90 ou coisa parecida, eu to falando que não faz muitos anos... E o ônibus ficava quase 35, 37 dias dentro da produção, entre o início e o fim, na produção. Não era o pedido, era início e fim. E foi reduzindo e tal, e eu diria o seguinte... falta material e não sei mais o que... No entanto, essas novas tecnologias que se chamam de modernas, porque elas não são assim com grande tecnologia e sim com comprometimento...trocar sistemática de programação, né Pedroni? Nós dizíamos assim: “Na época de crise nós precisamos subir na caixa d’ água, dar uma olhada lá em São Marcos, que é uma cidade aqui, tá chegando um chassi de lá, pode entrar direto.” Antes não, tinha que esperar. Agora pode entrar, porque o material tá disponível. Hoje deve demorar quanto? 5 dias, 6 dias? Na própria Ciferal, eu estive lá há pouco, deve demorar 4 dias, tu apertando 3 dias... É isso, e outra coisa muito importante que nós fizemos ônibus personalizados. Se tu olhar, os ônibus não são iguais coisa nenhuma. Do pedido ainda pode ser igual, do próprio cliente, no próximo pedido pode pedir coisa diferente. 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 200 7 EMP Versatilidade CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 490 4 2 1 JB 4 2 2 JC 4 2 3 JC Então deixa que eu vou falar da engenharia só um minuto. A engenharia é de onde parte as coisas, o projeto e tal. E três anos atrás, por isso que eu voltei para a engenharia para acompanhar um projeto. E nós falamos que a mudança na engenharia..... o que foi feito? Nós começamos a trabalhar montando o próprio, parte dentro, parte compramos, seria 3D tu compra, tu não desenvolve internamente.... em cima nós desenvolvemos um sistema interno que nós chamamos de paramétrico, que são regras que nós montamos dentro da engenharia, que no momento em que... esse ônibus aí, tá dentro de tudo aquilo que Marcopolo definiu, esse ônibus nem entra na engenharia, e sim no próprio computador, ele faz a peça.... sem ninguém colocar a mão. Isso não é sonho, é fato... É por isso que nós chamamos que para tu desenvolver um produto tem que ter escopo. No momento em que tu definir o escopo dele, aí é barbada fazer isso. Eu comecei na Marcopolo, eu entrei aqui garotão, tinha 1617 anos, entrei trabalhando na linha de produção, meu primeiro trabalho foi colar tapetes, depois eu fui pro setor de janelas. Vicente: Em que ano isso? João Carlos: Isso foi, que eu fui pro setor de janelas foi em 1973... Vicente: Você entrou aqui em que ano? João Carlos: Em 1971. E eu fui pro setor de janelas. Tive oportunidade, fui trabalhando....... torci aro, torci aro de janela que nem esse aqui. Trabalha com rolete (?) e fazia tudo a muque. Nós usávamos um cabo aqui assim e aí tinha o rolete, nós botávamos o perfil e fazíamos essas janelas que tem aí, você vai ver. Só pra você entender melhor... (Se levanta até a janela da sala e mostra. A entrevista não é gravada com nitidez) João Carlos: Então a gente colocava assim e entortava assim, cortava mais ou menos aqui, entortava aqui e levava até aqui. Aí entortava aqui e trazia até aqui. Nós era em dois. Um fazia força de manhã e o outro soldava. Aí de tarde eu ia soldar e ele ia fazer força. Quando apurava muito, então 3a Fas e: 198 7a 200 6 197 1 197 3 CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado FRH - Reter Ambiente Inóspito ☺ ☺ ☺ EMP - Versatilidade ☺ 491 ☺ ficava dois aqui e só um soldava. Nós trabalhava assim. 4 2 4 JC 4 2 5 JC Aí depois eu passei para ajustador, aí eu tive oportunidade como líder. E aí, em 1978-79, no final de 1978, me convidaram para ser líder em uma outra área, na área de pintura, aonde a gente pintava as estrutura... de lá e eu fui, era um desafio. Aí fui pra lá, porque naquela época era mais difícil do que hoje. Hoje a coisa tá mais fácil para trabalhar. Aí eu fui pra lá, e em 1982 a Marcopolo começou um projeto novo de uma pintura a pó. E aí a gente começou a fazer a pintura a pó na Marcopolo e o pessoal de fora começou a fabricar. E era bem na frente do setor de pintura que eu cuidava, então eu tava sempre junto, ajudando, me metendo e querendo ajudar. E aí, como foi pegar alguém para trabalhar na pintura a pó, como eu já conhecia e tava fazendo testes...nosso engenheiro na época, na época nosso gerente, Sr. Bisi, Gilberto Bisi. E aí, na hora de escolher alguém pra ficar cuidando da área, ele pediu pra mim ficar, porque eu já tinha uma noção, porque eu tava fazendo os testes e tal, pra fazer os tratamentos na janela e pintar. Aí fiquei ali, trabalhando nas duas áreas. Aí, eu fui promovido, em 1983, 1984, eu fui promovido a supervisor, e fiquei trabalhando naquela área até fevereiro de 1987 197 8 FRH Formar 198 3 FRH Antecipar Ambiente Desafiante/Estimulante ☺ ☺ FRH Formar ☺ ☺ FRH - Reter 492 ☺ 4 2 6 JC Pêra aí ó um pouquinho (Interrompe para atender o telefone. Era uma faculdade querendo marcar uma visita à fábrica da Marcopolo) João Carlos:...É visita cara Vicente: Todo mundo quer conhecer? João Carlos: Todo mundo quer conhecer... é complicado. Aí dizer não na hora não pode. Aí depois com jeitinho e tal. Porque nós temos um limite para atender. Mas a gente procura atender o pessoal daqui, que estuda, que trabalha aqui, a aula deles, e alguns de fora... vai longe, na sextafeira, e a gente atende. Depois eu vou te mostrar a fábrica. 200 7 NAV Negociar 4 2 7 JC Seu Paulo foi para o Japão no início de 1986. 198 6 EMP Ambição 4 2 8 JC Aí nós fizemos o curso do IMAM. O pessoal do IMAM veio aqui e deu o curso pra nós das características do Japão e tal. 198 6 FRH Formar 4 2 9 JC Eu trabalhava nessas áreas lá e tinha um pessoal muito unido. 198 6 4 3 0 JC 198 6 EMP Ambição 4 3 1 JC Aí quando terminou, isso na sexta e no sábado, eu passei o final de semana escrevendo, montando o que eu ia falar pro pessoal na reunião. Me empolguei com o sistema. E a gente sempre falou que no Japão as coisas aconteciam e tal... e com aquele negócio de tu montar grupo dentro da tua área e a gente já tinha... na pintura nós já era o primeiro setor da Marcopolo que não precisava controle de qualidade. Era qualidade assegurada. Dentro daquele primeiro setor ali, a gente poderia entrar com qualquer coisa. 198 6 EMP Versatilidade NAV Legitimidade Organizacion al NAV Captura de Valor EMP - Julgamento FRH Renovar EMP Julgamento DIV - Integração ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ DIV - Integração NAV Captura de Valor ☺ CPX Resolução de Problemas Sistemática ☺ ☺ ☺ ☺ 493 ☺ 4 3 2 JC 4 3 3 JC 4 3 4 JC 4 3 5 JC 4 3 6 JC Vicente: Porque aquele setor já tinha e os outros não? João Carlos: Porque havia uma conscientização bastante grande. A gente conseguiu junto com o controle de qualidade, as pessoas que trabalhavam no controle de qualidade, que nós conseguimos implantar no setor lá, a qualidade assegurada. Cada pessoa que fazia, sabia o que estava fazendo, e fazia com qualidade. Então o controle de qualidade, naquela época lá, já fazia por amostragem. Então o controle de qualidade nosso o Claumir (?) era Josué e eles faziam por amostragem. Não olhavam mais as peças que as pessoas faziam. Vicente: Só você participou? Poucos participaram... João Carlos: Não, participou toda a supervisão. Eles formaram vários grupos de todos os níveis dentro da fábrica. Vicente: Só supervisores? João Carlos: De supervisor pra cima. O pessoal de controle de qualidade também participou. E aí, eu cheguei no setor na segunda-feira e falei pro pessoal o que tinha visto, e pedi pra eles formarem grupos, conversar entre eles, e formar uns três, quatro grupos e eu fui pra reunião. Na época nosso gerente era o Luiz Carlos Boff e aí esperei terminar a reunião, não falei nada na reunião, esperei terminar a reunião e conversei com nosso gerente, Luiz Carlos Boff. Não sei se eu fiz certo, mas eu conversei com o pessoal lá, e a essa hora eles já devem ter grupo de SUMAN lá montado. Grupo de melhoria, tinha um nome. Então vamos ver o que é que acontece. : Falei pra eles aquilo que a gente tinha escutado. Que era para eles se escolherem entre eles e formar grupo de 5 a 7 pessoas. 198 6 E aí a gente começou... Quando eu voltei tinham 3 grupos formados já. Aí eu sentei com cada grupo e conversei com cada grupo, mais ou menos como era preciso trabalhar. Oh, primeiro nós vamos cuidar do nosso ambiente, limpeza e organização. Então tudo que for para limpeza e organização, vocês vão falando, levantam... Arrumei uma agenda pra cada grupo. Eram 3, arrumei 3 agendas, e começamos a DIV Integração 198 6 CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Busca Abrangente de Soluçoes DIV - Integração 198 6 DIV Integração 198 6 DIV Integração Integridade Organizacion al 198 6 FRH Formar DIV Integração ☺ ☺ ☺ ☺ EMP - Ambição ☺ ☺ NAV Negociar ☺ ☺ ☺ NAV Negociar ☺ ☺ ☺ 494 acompanhar... 4 3 7 JC 4 3 8 JC 4 3 9 JC 4 4 0 JC Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida! Daquele dia em diante, eu passei a não ter um olho só, eu tinha 52. Pra cuidar da qualidade, pra cuidar da limpeza, pra cuidar da organização. Minha vida facilitou um monte. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. E aí o pessoal continuou trabalhando e eu passei a enxergar coisa que eu pisava em cima e eu não via. Quando tu tá no trabalho que não tem um sistema de trabalho, e hoje a gente tem, e sabe disso, nós trabalhamos aqui e a gente sabe, tudo fica difícil. Tu passa a olhar só a produção e tu esquece de olhar e conversar com quem faz. Então a grande mudança, e eu digo por mim, que eu tive, foi que eu passei a cuidar e conversar com que faz. Não cobrar pra fazer. Essa é a grande mudança. Se eu cuidar, tiver paciência e conversar com as pessoas que fazem, tu não precisa olhar o trabalho delas. O trabalho delas é bem feito. Nós temos a mania de cuidar do trabalho, antes da pessoa. Nós temos que cuidar da pessoa, antes do trabalho. A Marcopolo é uma empresa que é artesanal, então nós temos que cuidar das pessoas, ter paciência com as pessoas. Porque a gente entendeu, desde aquela época, e é umas das coisas que a gente faz hoje. Por isso que a Marcopolo tem essa preocupação. E quem trouxe isso foi nós mesmos e o nosso presidente. 198 6 NAV Captura de Valor EMP - Ambição 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Busca Abrangente de Soluçoes DIV Integração 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ EMP Versatilidade NAV Captura de Valor ☺ ☺ ☺ DIV Integração NAV Negociar ☺ ☺ ☺ 495 4 4 1 JC 4 4 2 JC 4 4 3 JC 4 4 4 JC Depois desse sistema que a gente começou a trabalhar, aí nós começamos a reunir, duas vezes por semana, a supervisão. Aí um chegava lá e contava o que tinha feito. Aí outro chegava lá e contava o que tinha feito no setor dele, o que tava fazendo. Daqui a pouquinho, nós passamos a entender que... oh, vamos dar uma segurada porque um tá fazendo de um jeito, outro tá fazendo de outro... e sim nós não vamos ter um padrão. E para ter um padrão, nós vamos precisar de alguém para coordenar. E aí, o pessoal me escolheu para coordenar. Vicente: Tudo? João Carlos: Todo o sistema. De todas as áreas. Aí montamos. Aí nós escolhemos um nome Na verdade eu comecei a trabalhar, a coordenar o sistema em 1987, em março de 1987. Porque foi o primeiro ano que a Marcopolo deu férias coletivas e eu fiquei trabalhando nas férias coletivas. E sempre tem alguém que não tem férias e tal, e eu fiquei junto com o grupo lá na Planalto, fazendo a manutenção. Aí, depois eu saí de férias no inicio de fevereiro. Aí quando eu saí de férias, não tinha gente escolhida. Aí quando eu voltei, tinham me escolhido. Aí eu comecei a trabalhar no sistema, e estou até hoje. O meu treinamento foi... a gente participou de alguns cursos, o Banzato vinha pra cá na época. Uma outra das coisas que facilitou bastante é o comprometimento da nossa equipe, diretoria, da nossa gerência. Os caras faziam as coisas, vinham, ajudavam, apoiavam, conversavam com a supervisão, estavam sempre comprometidos com o trabalho na época. Foi o grande giro da Marcopolo. João Carlos: Fui, agora fui pro Japão. Em 2006. Esperei 21 anos pra ir ao Japão. Vicente: Aí olhou lá... João Carlos: Olhei lá, e tudo que nós fizemos aqui, é aquilo que acontece lá. E hoje, nós já evoluímos algumas coisas que eles estão fazendo lá hoje, nós já estamos fazendo aqui. Ano passado também foi um colega nosso pro Japão, esse ano também parece que vai um colega nosso para o Japão. 198 7 CPX Fomento do Aprendizado DIV Integração FRH Antecipar ☺ ☺ ☺ 198 7 FRH Antecipar FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ 198 7 EMP Julgamento DIV Integração Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ ☺ 200 6 FRH Renovar ☺ ☺ CPX - Fomento do Aprendizado 496 4 4 5 JC Então, a Marcopolo a partir de 1986/7, ela virou. Então, com esses dois sistemas que implantou, o SIMPS e o SUMAN... 198 7 NAV Negociar CPX - Fomento do Aprendizado 4 4 6 JC CPX - Busca Abrangente de Soluçoes JC 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX Resolução de Problemas Sistemática 4 4 7 EMP Ambição EMP Versatilidade 4 4 8 JC 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração 4 4 9 JC O SIMPS ele cuida do material. Tudo que é material: peça, ferramenta, máquina, equipamento, tudo. E o SUMAN, junto com o RH, cuida das pessoas. Então nós formamos nossa engrenagem. O material sem as pessoas não é nada. As pessoas, sem o material para trabalhar, não é nada. Então nós formamos a engrenagem pra girar esse mostro que hoje é a Marcopolo. Tudo nós fomos desenvolvendo conforme a nossa necessidade. Então, nós fomos atrás daquilo que o Banzato falou. A Marcopolo desenvolveu com orientação do Banzato, que era a pessoa que vinha aqui. Nós desenvolvemos a nossa própria identidade. E eu acho que funciona assim: cada empresa tem que implantar o sistema, ele pode ser o mesmo sistema que funciona igual, mas dentro das raízes da empresa. As raízes da Marcopolo... ela tem o sistema implantado já, que é o nosso SIMPS e SUMAN, que nós trabalhamos pra eles e ele envolve todas as áreas. Daquela época pra cá, uma coisa que ajudou muito, falando isso do nosso diretor, Seu Paulo na época e Seu Gomes (Cláudio Gomes), que era nosso diretor que foi junto com Seu Paulo pro Japão, eles desenvolveram umas palestras pro pessoal conhecer o Japão. Então, de início ajudou bastante. Então, era palestra vai quem quer. Era dois dias. Então o pessoal se inscrevia com a gente, já eu tava trabalhando no sistema... o pessoal se inscrevia com a gente, a gente montava palestra aqui, e montava na Planalto. O Seu Gomes fazia a palestra, a gente ajudava ele, falava da empresa, e ele fazia a palestra sobre o Japão. E o Seu Paulo, na última, o Seu Paulo vinha na palestra. E Seu Paulo dava o depoimento dele. Isso ajudou muito. 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ DIV Integração ☺ ☺ ☺ FRH - Renovar ☺ ☺ FRH - Formar ☺ ☺ 497 4 5 0 JC 4 5 1 JC 4 5 2 JC 4 5 3 JC 4 5 4 JC Foi meio que paralelo. As palestras devem ter começado assim, em março, abril, e nós já estávamos com o sistema mais ou menos andando. Surgiu a idéia da palestra porque a gente se reunia, conversava e surgiu a idéia. Depois a gente entrava na palestra, conversei com Seu Paulo... então vamos fazer isso aí, foi feito aí umas 40 palestras. Vicente: Eu li um pouco sobre isso, que se tirava foto, tinha certificado... João Carlos: A gente dava certificado... Vicente: Como é que ficava a motivação dos funcionários? João Carlos: Muito boa, muito grande, muita gente participando... Junto com isso nós tinha grupos de SUMAN. Todas as áreas passaram a ter grupos de SUMAN . Tinha áreas que tinham 4 grupos. Nós chegamos a ter 210 grupos de SUMAN. Era uma coisa assim muito grande. Aí depois, que eu saí da fábrica em 1992, eu saí... Vicente: Você saiu da empresa? João Carlos: Saí da empresa. E voltei em 2002. Eu fiquei quase 10 anos fora. Vicente: Trabalhando... João Carlos: Trabalhei com assessoria nessa área. E aí depois fui convidado para voltar. Moroni (?) que era nosso diretor me convidou para voltar, ele e o Rogério Toledo, e eu voltei. A gente conversou em 2001, na metade do ano mais ou menos, e eu voltei em 2002, em janeiro de 2002 pra Marcopolo, e estou aí até agora. Vicente: E depois, vocês foram levando isso para outras fábricas? Você participou de algo? João Carlos: Sim, esse trabalho de organização, de prateleiras, kanban e grupo de SUMAN, a gente levou pro Rio de Janeiro... pra São Paulo, lá na filial. Pra Portugal... Vicente: Pra São Paulo? Qual? João Carlos: Pra filial de São Paulo. A distribuidora de peças. E aqui em Caxias, em todos os lugares... 198 6 DIV Integração FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ 199 2 FRH - Reter 200 2 FRH - Reter 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ 498 4 5 5 JC Vicente: Fornecedores? João Carlos: Fornecedores não. Essa parte de trabalho... Fornecedor por enquanto a gente ... Vicente: Fornecedor ficou mais com a parte de kanban... João Carlos: É, a parte mais de kanban, que hoje tá com o pessoal da logística. O pessoal da logística que coordena isso. Mas também não é obrigado nossos fornecedores a fazer kanban. Vai fazer da melhor maneira para atender a gente. O cara que não fizer kanban... pra nós aqui, se o cara desenvolver lá as peças que ele fornece pra gente, e se ele tiver uma caixinha de cada uma, nunca vai faltar peça. Se o cara tiver fazendo um trabalho assim, ele vai trabalhar com a Marcopolo, o tempo todo, e nunca vai faltar peça. A maioria deles é em Caxias. Mas a gente não vai lá, na fábrica deles cobrar para implantar kanban ou coisa parecida. A gente não faz isso. A gente mostra pra eles que é uma boa, não cobra pra ele montar o sistema dentro da fábrica deles. Mas muito deles, eu diria pra ti, uns 70% trabalham com kanban 4 5 6 JC 4 5 7 JC Eu diria que a grande virada nossa foi a participação. Nós tínhamos alto estoque. Nós baixamos nosso estoque. Nós tinha peça aí, que depois que nós implantamos o kanban, nós ficamos 12 meses, 14 meses, sem fazer a peça, dado o estoque que a gente tinha. 4 5 8 JC Vicente: A rotatividade de pessoal também? João Carlos: Melhorou muito. A Marcopolo passou a dar uma assistência maior pras pessoas. O RH nosso se transformou na época... remodelou nosso gerente de RH... foi a melhor fase que a gente teve. A Marcopolo se transformou. Passou a ser uma empresa limpa, organizada, muito bom de se trabalhar. E hoje retomou.... a Marcopolo tá de vento e poupa... 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar NAV - Captura de Valor 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar NAV Captura de Valor EMP Versatilidade DIV Integração ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ CPX Resolução de Problemas Sistemática Crescimento e Renovação Organizacaio nal ☺ ☺ ☺ FRH Renovar DIV Integração ☺ ☺ ☺ 499 4 5 9 JC Vicente: Também, você falou que implementou na Ciferal do Rio, na filial de São Paulo, e nas fábricas fora do país? João Carlos: Lá em Portugal... O SUMAN já existe lá. E tem um pessoal trabalhando, implantando na Colômbia, tem gente no México já... 4 6 0 JC 4 6 1 JC 4 6 2 JC 4 6 3 JC Vicente: É também sua responsabilidade essa parte? João Carlos: Não, aí fica com cada gerente, coordenador de cada fábrica.... A gente vai lá, ajuda a implantar, mas eles que ficam responsáveis. Eu fui pra Portugal, Rio de Janeiro e São Paulo. E aqui, em todos as fábricas que eu sou responsável. Aqui nós temos 4. Temos a Marcopolo Filial Plástico, Filial 1, tem a Marcopolo Delare (?), Volare e a fabricação da Planalto, que eu sou responsável pelo SUMAN, pelo SIMPS. Vicente: Você tem algum, não sei se você tem esse controle, evolução na produtividade na produção pós implementação... antes... alguns números que eu consiga comparar... João Carlos: Não tenho... Vicente: Não tem. Mas você tem de atualmente? João Carlos: O que nós temos atualmente é os números do nosso... Esse é o nosso sistema que estamos trabalhando, SMCQ, Sistema Marcopolo de Competitividade de Qualidade, SIMPS e SUMAN. E aí, aqui é o trabalho que a gente desenvolve com eles. 5 S, Administração Participativa, com Treinamento e Liderança, Layout, Células de Produção, a Movimentação, o Balanceamento de Linha, a Logística, o SIMPS, o Carro-aCarro... O carro-a-carro são as peças que são feitas para fazer um carro. Diminui muito isso. Tu reduz o teu estoque. Tu tem a peça, a matéria-prima, e a peça do carro que tu vai fazer. Então, vamos dizer assim, o kanban já reduz o seu estoque, se tu fizer o carro-a-carro ele vai enxugar mais ainda o seu estoque intermediário. Tu faz a peça e já coloca no carro. 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração EMP Ambição Integridade Organizacional FRH Formar DIV Integração CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ EMP Versatilidade CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ 500 ☺ 4 6 4 JC 4 6 5 JC 4 6 6 JC 4 6 7 JC Vicente: Alguns você consegue fazer carro-a-carro, outras peças, outros componentes não.. João Carlos: Não, mesmo porque não consegue fazer tudo carro-a-carro. Se tu fizer tudo carro-a-carro, tu mata tua fabricação. Então, tu tem que fazer carro-a-carro, tu tem que fazer kanban, e tem que fazer também por programação, porque entra coisa especial também pra fazer, aí tu não tem carro-a-carro, tu não tem kanban. Quando não é especial, tu trata diferente. Então, tu faz por programação, programa o carro pra tal semana, e aí aquelas peças especiais que vai naquele carro, tu bota pra fazer naquela semana. Porque tem dia que o carro entrar dentro da nossa programação, nós temos os dias que entra os carros na linha. Então tu programa o carro para aquele dia e pra aquele horário. Vicente: Minha pergunta é: imagina que dia 1º, dia 2, chega uma encomenda para ser atendida no dia 9. João Carlos: Não tem como. Não é, porque não tem peça pra ele, nem chassi. A não ser que o cara traga o chassi junto, aí a gente pode fazer uma programação diferente. Mas ele chegar na terça, não entra na segunda. Tem que ter uma programação. Ele entra dentro de uma programação, pra gente fazer. O pokaioke que é um dispositivo contra falhas humanas, gabaritos, dispositivos, para facilitar o trabalho. Isso aqui eles mesmos que fazem. Cada operador vai fazer aquilo que é mais fácil pra ele trabalhar e que dê segurança e qualidade. Então eles é que montam. A segurança aqui, que a Marcopolo quer que as pessoas venham trabalhar, trabalhem do início da manhã até o final da tarde, e voltem para suas casas da mesma forma que chegaram aqui. 3a Fas e: 198 7a 200 6 EMP Versatilidade 200 7 CPX - Resolução de Problemas Sistemática 3a Fas e: 198 7a 200 6 Tod as as Fas es EMP Ambição EMP - Julgamento CPX - Busca Abrangente de Soluçoes DIV - Integração CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 501 ☺ 4 6 8 JC 4 6 9 JC 4 7 0 JC 4 7 1 JC Vicente: Nessa época que você entrou aqui, como é que era essa questão. Tinha muito acidente de trabalho? João Carlos: Não, não era muito acidente não. Não tinha muito acidente. A Marcopolo sempre se preocupou com isso, desde a época que eu entrei. Eu nunca me acidentei dentro da fábrica. Vicente: Mesmo fazendo no braço? João Carlos: Mesmo fazendo no braço, mesmo fazendo solda, na ajustagem. Nunca me acidentei dentro da fábrica, que fizesse que perder um dia de trabalho. Me machucava por outras coisas. Por jogar futebol pela Marcopolo, mas no trabalho mesmo, nunca me machuquei. A Marcopolo sempre deu uma condição boa pra gente, pra gente produzir.... E aí o desperdício. Essa é uma coisa que nós estamos fazendo, fazendo um trabalho de SMC (?) que pessoas falarem aonde é que ele vai pegar peça, na hora de aproximar mais a peça. A idéia é pra pessoa reduzir o próprio custo, que nós paga... então as pessoas estão falando de 8 custos, o pessoal de SUMAN. Hoje nosso grupo também trabalha nisso. Então, o espelho que a gente dá. Primeiro, o ambiente de trabalho. O pessoal de SUMAN. Primeiro o ambiente, de limpeza, de organização, de respeito um pelo outro. Que as pessoas venham trabalhar não só porque precisam do trabalho, mas sim pela satisfação de estar aqui dentro e fazer um produto que é nobre. Então as pessoas vim de manhã, dispostas a usar a inteligência. Eu diria que a maior perda que existe dentro das empresas é a perda de inteligência. As pessoas tem as idéias e essas idéias não são aproveitadas. Aqui a gente consegue aproveitar. Nosso grupo de SUMAN senta, uma vez por semana, tem grupo de 5 a 7 pessoas, e eles sentam e eles conversam sobre o que eles podem melhorar dentro da área de trabalho deles. Então é uma das coisas boas que eles têm.. 2a Fas e: 196 8a 198 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV - Integração ☺ CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional ☺ ☺ NAV Captura de Valor ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado DIV Integração 502 ☺ 4 7 2 JC 4 7 3 JC 4 7 4 JC 4 7 5 JC Vicente: Desperdício, você tá botando mais na forma de inteligência... João Carlos: Não, desperdício geral. Pessoal, uma vez botava a peça fora. Aí botava a sobra de tubo.... Aos pouquinhos nós estamos fazendo com que as pessoa tenham cuidado aqui na empresa, o mesmo cuidado que eles têm na casa delas. E alguns que não têm na casa deles, eles estão aprendendo aqui na empresa pra levar pra casa. Isso é uma das coisas que a gente faz... Vicente: Vocês se revezam para limpar o banheiro. João Carlos: Começou em 1986. Primeiro setor que começou a limpar o banheiro foi a pintura a pó. O pessoal, a gente conversou com eles, vamos conversar, o que é que vocês acham... Vamos começar. É de dupla, mas nós vamos limpar em três, porque eu vou estar junto também, e eu também ajudei. As primeiras vezes que foi lavado o banheiro, eu ajudei. Aí depois, o legal foi o dia, nós chegamos lá na terça-feira, que a gente foi lavar o banheiro... Não, o João não vai mais lavar o banheiro, de agora em diante o João não precisa mais lavar o banheiro. Nós não queremos ver o nosso supervisor lavando banheiro. Nosso mestre lavando banheiro. Na época se chamava de mestre, nosso mestre lavando o banheiro. a gente parou. Daquela época pra cá... uma vez tinha gente que limpava e tava sempre suja. E então, a gente achou que se a gente limpar, a gente vai cuidar mais. E é verdade. Hoje nosso pessoal limpa o banheiro e eles têm o quadro de presença e estado emocional, e eles colocam lá quem vai lavar o banheiro. Vicente: Como é que o senhor avalia esse quadro emocional? João Carlos: Depois nós vamos na fábrica e eu vou te mostrar. Vicente: Eu já vi, mas como o senhor avalia? É algo que... 3a Fas e: 198 7a 200 6 NAV Desafiar NAV Captura de Valor DIV Integração ☺ ☺ ☺ 198 6 NAV Desafiar DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 3a Fas e: 198 7a 200 6 3a Fas e: 198 7a NAV Desafiar DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ DIV Integração Integridade Organizacional 503 4 7 6 JC 4 7 7 JC 4 7 8 JC João Carlos: É o melhor quadro que tem na fábrica. 200 6 Vicente: O pessoal é sincero? João Carlos: O pessoal é sincero. Depende muito da área que é, mas se o supervisor for sincero e ir até, e falar com as pessoas, é a melhor coisa que tem. A gente implantou isso aí, a gente ainda não tinha falado sobre SUMAN. Não tinha os grupos de SUMAN ainda. Nós implantamos... isso aí é a melhor coisa que tem. Numa área que tem 25/20 pessoas pra cima, o supervisor não vai adivinhar quem tá bem e quem tá mal. Se a pessoa colocar lá, e tu ir conversar com ele, e resolver o problema, isso dá um crédito muito grande pra supervisão. Então esse quadro depende muito da supervisão. Se o cara for um cara atencioso, e ele conversar com pessoas e ir trás das coisas, é o melhor quadro que tem na fábrica. Não tem outro melhor Vicente: Se o supervisor não está, tem algum treinado para substituir? João Carlos: Sem dúvida. A Marcopolo prepara as pessoas para isso. 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Formar DIV Integração Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ Tod as as Fas es 199 2 FRH Antecipar FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ FRH Antecipar FRH Formar FRH Renovar ☺ ☺ ☺ Vicente: Quando você saiu em 1992, tinha alguém preparado para assumir? João Carlos: Sim. Alguém que trabalhava comigo, que eu coordenava. Essa preocupação a gente tem, de preparar alguém para ficar no lugar da gente. Porque aqui, a nossa própria supervisão, o pessoal gira, o pessoal tá em uma linha, daqui a pouquinho numa outra. Tá na fabricação, daqui a pouquinho vem pra linha. Tá numa área, daqui a pouquinho vai pra outra. Então, a gente gira. Então, a gente não tem essa preocupação de, ah essa área aqui é minha e ninguém bota a mão. Não tem essa preocupação, porque a gente gira bastante. 504 4 7 9 JC 4 8 0 JC 4 8 1 JC 4 8 2 JC Trabalho é trabalho, e o nosso trabalho aqui ele é de apoiar a produção. Tudo aquilo que possa imaginar que eles possam pedir pra gente, eles pedem... Vicente: Como assim? João Carlos: Nós coordenamos aqui, toda a parte do SUMAN. E se tu quer fazer um trabalho, por exemplo, um supervisor quer fazer um trabalho pra mostrar pro pessoal dele como tá a área dele, as coisas boas e as coisas ruins. Aí nós vamos lá, juntos com ele, e tiramos foto e montamos uma palestra pra ele. E ele só vai lá dar a palestra. Entendeu? Isso é um apoio que a gene dá pra eles. Esse é o trabalho. Ajudar eles em tudo que tu possa imaginar e em coisas que tu nem imagina. A gente tá junto, ah tem que fazer a palestra, nós fazemos a palestra. Me ajuda João? Ajudo, dia e noite. Mesmo acompanhamento que a gente dá de dia, eu preciso de alguém pra dar o acompanhamento de noite.... Mesmo porque nós temos grupos de SUMAN também no noturno. E fizemos o trabalho SMC também no noturno. Não, nós temos o diurno, o noturno que começa às 17:18 e vai até às 02:28 da manhã. E o terceiro turno começa às 23:00 e vai até às 07:30 da manhã. É assim que funciona. Vicente: Mas nesse segundo turno são as mesmas atividades que durante o dia, no diurno. João Carlos: É igual, até no número de pessoas. 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX Resolução de Problemas Sistemática 200 7 DIV Integração João Carlos: No meu caso quem fica é a Ana. Normalmente eu fico aqui até mais tarde, normalmente eu saio daqui 20hs, 20:30. E a Ana fica até mais tarde. Aí a Ana ajuda o pessoal, o pessoal vem até aqui, nós coordenamos o grupo, vamos na reunião, fazemos o trabalho de acompanhamento, com todos esses grupos aqui, que aqui tem 57. E aqui é como é que funciona o SUMAN. Porque o SUMAN, as normas dele, porque é que ele existe, a reunião...tudo isso aqui é controlado, isso aqui é o mês de maio. Quantas reuniões era pra fazer, quantas aconteceu, quantos componentes têm, quantos componentes participaram. 200 7 DIV Integração 200 7 DIV Integração CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ CPX - Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ ☺ CPX Fomento do Aprendizado FRH Formar 505 ☺ ☺ 4 8 3 JC 4 8 4 JC 4 8 5 JC 4 8 6 JC Mais componentes, é que em cada reunião, eles convidam uma ou duas pessoas para participar do grupo deles. Então esse grupo aqui, ele é de 6 pessoas em cada grupo. Aqui é dia e noite. 6 pessoas em cada grupo. E na verdade apareceu um a mais aqui porque eles convidaram para participar da reunião. Vicente: Você tem esse histórico aí, desde quando? João Carlos: Desde 2002. A gente tinha o histórico de desde quando começou. Mas como eu fiquei esse tempo fora, se perdeu tudo. Aí quando eu voltei em 2002, a gente refez tudo de novo e começamos com o histórico tudo de novo. Eu vou te mostrar aqui... então aqui a gente controla aqui os problemas levantados, solucionados por grupo. Aqui é por área. A (área) 401 levantou 19 problemas e solucionou 13. No total, nesse ano aqui, eles levantaram 58 e solucionaram 47, 81%. Aqui tem o 402, eles levantou 33 e resolveu... Vicente: Você pode me dar o exemplo de um problema? Só pra ficar mais claro pra mim. João Carlos: Pode ser um problema até de vassoura. E isso aconteceu. Trabalhava numa área de pré-montagem e tinha 34 bancadas. Cada bancada tinha uma vassoura e o setor sujo pra caramba, porque ninguém limpava. Aí o grupo resolveu, conversou com o pessoal e resolveu fazer: nós vamos botar 15 vassouras – 5 vassouras aqui, 5 vassouras ali e 5 vassouras aqui com uma pasinha. E é para ela estar sempre ali. É até mais fácil para a supervisão cobrar. Quantas vassouras sobrou? Eram 34, nós usamos 15, sobrou 19. Além do que eu como supervisor, se eles resolveram colocar aqui, senão tiver ali eu vou perguntar, não foram vocês que escolheram, como é que pode, onde é que está a vassoura? Se ela tiver quebrada, por que tá quebrada? Troque. Então tu visualiza melhor e parece que não é nada. Ah, problema da vassoura, isso aí não bota em cartão, não bota em nada, isso se resolve fácil... Não é assim, não resolve fácil. Tinha 34 e o setor su Integridade Organizacion al ☺ 200 2 CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺ 200 7 CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX Resolução de Problemas Sistemática 200 7 200 7 DIV Integração CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ CPX - Busca Abrangente de Soluçoes CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ DIV Integração CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ ☺ 506 4 8 7 JC Vicente: Mas por que você acha que não varriam? João Carlos: Porque não tava preparado para varrer. É a cabeça de cada um. É a conscientização. 200 7 CPX Fomento do Aprendizado DIV - Integração ☺ ☺ 4 8 8 JC 200 7 EMP Versatilidade CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺ ☺ 4 8 9 JC 200 7 EMP Ambição EMP Versatilidade CPX Resolução de Problemas Sistemática ☺ ☺ ☺ 4 9 0 JC 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração FRH Formar Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ 4 9 1 JC Deixa eu ver um que deu um problema de qualidade...um painel.. Nós tínhamos um painel que a gente colocava lá na montagem A. E aí com a mudança de sistema, ele vinha, passava pela pintura, o pessoal botava caixa em cima, sujava ele. Nós chegamos até isolar ele. Ele chegava aqui, na hora de usar tinha que repintar. O que a gente fez? A gente conversou com pessoal, que fizeram uma prémontagem nele, e hoje a gente coloca no primeiro posto aqui. E aí, cuida todo ele pra trás. É uma coisa de qualidade que o pessoal coloca também pra melhora, pra reduzir desperdício. Montamos uma célula de chapa de alumínio, montamos uma célula de retalho de chapa de alumínio, de retalho de aço, de retalho de tudo. Hoje não botamos pra fora nada, só os pedacinhos pequenininhos. A gente aproveita tudo de material. Uma vez, nós botava um monte de coisa fora. Então é tu ir trabalhando a conscientização desse pessoal, porque aqui também nós temos que cuidar, aqui também nós temos que fazer isso, temos que fazer redução de custo, que nós dependemos daqui. Se a fábrica onde eu trabalho vai mal, eu também vou mal. Se a fábrica onde eu trabalho vai bem, e ela tem lucro, ela pode, daqui a pouquinho dividir comigo alguma coisa, nós temos aí o nosso....e se ela não der lucro o que vai acontecer comigo. Vicente: Ou não ganha nada ou vai perder... João Carlos: Vou perder o meu emprego. E que as fábricas foram feitas para ganhar dinheiro. Não é instituição de caridade. Nós temos compromisso com nossa direção, nós temos compromisso com nosso cliente, nós temos compromisso com a nossa comunidade, com nosso acionista. E nós temos que ganhar dinheiro. Gira em torno disso. 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração ☺ ☺ Integridade Organizacional 507 4 9 2 JC 4 9 3 JC 4 9 4 JC 4 9 5 JC E nós temos aqui dentro, nós viemos aqui para trabalhar, obrigação, nós estamos ganhando pra isso. Não tem ninguém aqui de graça. Todos nós estamos ganhando. Bem ou mal, depende da visão de cada um, porque salário é assim. Pode tá bom pra ti, mas não tá bom pra mim. Tá bom pra mim e não tá bom pra mim. É relativo. Então tem que fazer aquele balanço quanto eu ganho e quanto eu gasto. Se eu gasto mais do que eu ganho, eu vou estar sempre com problema. Não é verdade? Tem que fazer esse balanço. Até nisso nossa supervisão ajuda o pessoal fazer, conversar até esse ponto com eles. Vicente: Eles participam de outras atividades fora daqui? João Carlos: Quem? Vicente: Os funcionários? João Carlos: Participa. Nós temos aí um grupo de apoio, nós temos um grupo de voluntários que fazem trabalho em creche, que fazem trabalho em comunidade. Então pessoal que dá apoio, nós temos um grupo aí que se reúne com pessoal drogado, que usa drogas, que bebe...dependentes químicos. Então, a Marcopolo tem tudo isso. Aqui pode entrar sem saber fazer nada. Vem gente da colônia, entra aqui, a Marcopolo ensina. Nós não temos esse problema. Na produção aqui, se o cara não souber fazer nada, melhor ainda. A gente ensina, e fica bom. Aqui, no trabalho que a gente faz, é muito difícil tu pegar um profissional já formado, a não ser que ele já trabalhou na nossa concorrente. Que era nossa concorrente, a Neobus. Que trabalhou numa outra, tem a Metalbus aí. Só se trabalhou lá. Porque senão o pessoal vem aí sem saber fazer nada e a gente treina. Vê da colônia, bota aqui, vai treinando, vai ajeitando, daqui a pouquinho o cara tá bom. Inteligência todo mundo tem. É só você saber usar, pro lado positivo e aí vai embora. O elogio, ele é fundamental. A Marcopolo se ela lançar um carro hoje, daqui a dois, três meses tem um carro semelhante. O pessoal espera a Marcopolo lançar pra depois inventar... Ninguém lança carro antes da Marcopolo não. Aqui no Brasil, ninguém. Os caras copiam tudo, até a sombra. Tem que cuidar porque os caras 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração Integridade Organizacion al 3a Fas e: 198 7a 200 6 FRH Formar DIV Integração 200 7 NAV Desafiar Integridade Organizacional ☺ ☺ NAV Legitimidade Organizacion al ☺ ☺ ☺ Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ NAV - Manipular 508 copiam tudo. 4 9 6 JC 4 9 7 JC 4 9 8 JC 4 9 9 JC O pessoal tenta fazer, mas primeiro, fazer que nem a Marcopolo faz aqui, que eu saiba tem algumas empresas aí que fazem. Mas hoje as empresas inventam algumas coisa diferente. Eu passei 17 dias e visitei 14 empresas. Das empresas que eu visitei, eu vi em todas elas o 5 S. Aí, tu vem aqui no Brasil, tem 6 S, 7S, 8 S, 10 S. Nós não conseguimos fazer o 5, pra que a gente vai inventar mais? Eu duvido a empresa que tenha o 5 S implantado e funcione 100%. Duvido. Nós aqui dentro da fábrica, não temos tudo implantado porque o 5 S abrange uma enormidade de coisa e nós não temos. Essa é uma das razões. No Japão é só 5 S. Não tem 7, 8. O que é bom pra um, ele vai lá e faz pra ele também. Visitamos fábricas, sai de uma entra na outra, é só o nome diferente. Tudo trabalha com kanban igual. Funciona assim. Aqui já é diferente, ah eu quero fazer alguma coisa diferente. Brasileiro é assim. Gosta de fazer as coisas um pouco diferente. A pior crise que a gente passou foi em 1983, não sei se já comentaram.... foi a pior crise que a gente passou. Nós na produção passamos por fases muito ruins. Eu tive um privilégio, vamos dizer assim, porque eu trabalhava na pintura a pó. E quando nós tivemos essa crise de ônibus, foi pegado o trabalho de terceiros pra gente pintar. Então nós pegamos, pra te dar um exemplo, nós pegamos cadeiras da Madecenter de Bento Gonçalves, pra classe, pra escola. Nós pintamos cadeiras pra Móveis Florence na época, aqui na Planalto. Então, nós naquela época tinha trabalho. Então, a gente passou por uma fase muito ruim, da gente chegar e ter que dispensar pessoas porque não tinha trabalho.... eu fiz isso, de pedi na reunião quando ia conversar com o pessoal, quem é que tinha um pai que morava lá fora, um irmão que morava lá fora, que dava pro cara sair daqui e ir pra lá, porque era uma fase, e nós ia 200 7 Ambiente Desafiante/Estimulante 200 7 Ambiente Desafiante/E stimulante 198 3 Folga Organizacion al EMP Versatilidade 3a Fas e: 198 7a 200 DIV Fragmentaçã o EMP Julgamento FRH - Renovar ☺ ☺ ☺ NAV Desafiar ☺ ☺ ☺ FRH - Reter 509 passar por isso. E a Marcopolo deu a volta por cima 6 5 0 0 JC Nós temos uma direção muito competente. Nossa direção, cara, é muito competente. E ela confia muito nas pessoas. E nós saímos dessa crise por causa disso. 3a Fas e: 198 7a 200 6 198 4 5 0 1 JC E foi lançado o Paradiso e o Viaggio, aí explodiu. Aí voltamos a vender, e a casa cheia. Aí tivemos que parar de fazer terceirização de pintura. 5 0 2 JC Logo que eu saí, em 1992/3, teve uma turbulência grande e depois, dali pra cá, a Marcopolo sempre se manteve. 199 2 5 0 3 JC 200 7 5 0 4 JC Agora, graças a Deus, estamos bem, muito bem. Vicente: Apesar do dólar mais... João Carlos: Mas, se trabalha um pouco mais e se compensa. A Marcopolo fez um trabalho aí que é importante, pra manter a casa cheia. E hoje nós temos mais o mercado interno também. Trabalhamos mais com o mercado interno do que a própria exportação. Vicente: Parece que esse ano... eu conversei com os diretores... parece que o mercado tá bom, muito bom.... Teve um problema no início do ano aqui, de fornecimento... João Carlos: Foi janeiro....mas janeiro normalmente é assim. A Marcopolo, em todos os anos.. em janeiro é falta de chassi, porque as montadoras não tem mais estoque. Então é falta de chassi e a gente sabe disso. Quem trabalha aqui há anos, sabe que em janeiro e fevereiro a coisa é meio complicada. 200 7 DIV Integração EMP Versatilidade Integridade Organizacional EMP Ambição CPX Resolução de Problemas Sistemática NAV - Negociar Ambiente Desafiante/E stimulante NAV - Consentir NAV - Negociar ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 510 ☺ 5 0 5 JC 5 0 6 JC 5 0 7 JC Vicente: Teve uma greve também no início do ano. Uma paralisação... João Carlos: Ficou parado uns dias aí. Teve problema em uma outra empresa e eles resolveram fazer aqui também na Marcopolo. Mas o nosso pessoal aqui não deu problema... O nosso povo aqui é bastante consciente. A Marcopolo, eu acho que está num nível muito bom de conscientização do que se pode melhorar. Existe espaço para melhorar e muito, pra gente melhorar bastante. Existe bastante espaço pra isso. João Carlos: Isso aqui, os grupos de SUMAN de 2002, que eu te falei, até agora. Vicente: Desde 2002, 5 anos e meio, 56 grupos, 17592 problemas levantados, 16872 problemas solucionados e 72 pendentes. Você tem algum problema pendente aí, pra eu ter uma idéia? João Carlos: Fica nos quadros... tá nos quadros. Vicente: Ah, fica nos quadros. João Carlos: Fica nos quadros os pendentes. Pendentes é aquilo que eles colocaram e eles estão trabalhando em cima. Tem um problema lá, eles colocaram lá e estão trabalhando para resolver. Então isso sempre vai ter. 200 7 3a Fas e: 198 7a 200 6 CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺ Isso aqui é quem fez a avaliação. Em maio, com os horários, que acompanhou. Essa aqui é a avaliação, quem ganhou, quem ficou em primeiro lugar, segundo, terceiro, quarto, quinto até o décimo. Aqui é o outro setor. E aqui é... estamos divididos em três áreas aqui nessa unidade 200 7 CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺ NAV Consentir DIV Integração EMP Ambição 511 ☺ 5 0 8 JC A integração que a gente faz. Aqui, a pesquisa que a gente faz, com as perguntas. Vicente: Com todo mundo? João Carlos: Com quem faz a integração 200 7 5 0 9 JC 200 7 5 1 0 JC 5 1 1 JC Isso aqui nós mandamos pra cada pessoa que fez aniversário. A gente manda uma mensagem e dá um presentinho, uma lembrancinha... a pessoa que participa do SUMAN. A gente manda uma mensagem... Vicente: Mas todo mundo participa, não? João Carlos: Não, cada setor tem um grupo de 5 a 7 pessoas. Vicente: Isso, percentualmente são quantos? João Carlos: Ah, tem área que é 30 pessoas, tem área que é 80 pessoas. Vicente: Mas percentualmente da área? João Carlos: Não sei... mas os grupos que a gente faz, são de 5 a 7 pessoas. Normalmente é 7. Então, cada setor tem um grupo de dia e um grupo de noite. E cada grupo, cada reunião que eles fazem, eles podem levar 2 convidados por reunião. Então, daqui a pouquinho, passou todo mundo pelo SUMAN. Correto? Hoje nós temos 86 grupos ao todo. Vicente: O convidado geralmente é alguém do próprio setor que não tá dentro. João Carlos: Que não está participando do grupo. Vicente: Às vezes, o cara não está participando porque não tem espaço... João Carlos: Não participa porque já tem um grupo fechado. Já aconteceu da gente convidar as pessoas a participar do grupo, e de uma área de 45 pessoas, 32 querer participar. Aí tu reúne eles, e eles vão escolher as 7 pessoas que vão participar do grupo. Aí a gente reúne, e eles escolhem. Aí, um diz - eu quero participar. E o outro não, fulano vai participar, ciclano vai participar e a gente vai colocar a relação. Vicente: Quem não participar fica pior assim, em termos de... João Carlos: Não, porque ele sabe que é só 7. E isso não é de agora, é de tempos. E a pessoa sabe que daqui a CPX Resolução de Problemas Sistemática CPX - Fomento do Aprendizado DIV - Integração ☺ ☺ ☺ 200 7 FRH Formar Integridade Organizacion al CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 200 7 FRH Formar Integridade Organizacion al CPX Fomento do Aprendizado ☺ ☺ ☺ 512 pouquinho ele pode participar. E eles fazem rodízio também. Um cara fica 4 meses, 3 meses, 6 meses, aí ele sai e vem outro para participar. 5 1 2 JC 5 1 3 JC 5 1 4 JC Isso eles fazem bastante....é dado um botton com os amigos do SUMAN, as pessoas que participam que ajudam os grupos, e participam assim, sem ser voluntário, então aqui nós...o botton, e tem o supervisor entregando, que o SUMAN está entregando pra ele. Daí ele bota um botton de Amigo do SUMAN pela participação que ele eu, ajudou. Isso aqui é visita. Nesse ano, que 536 pessoas já vieram. Isso aqui é as atividades... Vicente: Visitas de que, de fora? João Carlos: Visitas externas. Essa aqui é a visita de maio, e 536 pessoas até agora... Vicente: Como é que são essas visitas? Você faz uma apresentação? João Carlos: Se tu quiser uma palestra sobre o sistema, mostramos como é que funciona o sistema aqui, e depois levamos eles para a fábrica, para eles ver como é que funciona. Vicente: Todo mundo quer conhecer então isso aqui? João Carlos: Todo mundo quer conhecer. Nós estamos terminando esse mês. Amanha tem visita e sábado também tem uma visita. Até o clube de mães quer visitar... E esse aqui é pro mês que vem. Dia 3 tem... Vicente: O que vocês acham dessas visitas? Vocês ficam orgulhosos de ter gente querendo ver? João Carlos: Isso é bom pro nosso pessoal. O pessoal gosta, porque vindo gente vendo o trabalho deles, que eles estão fazendo. Isso motiva. Isso é bom, pra tu ver que até nisso é bom, porque dá uma satisfação pro nosso pessoal também. 200 7 FRH Renovar 200 7 NAV Negociar 200 7 NAV Legitimidade Organizacion al DIV Integração Integridade Organizacion al NAV - Legitimidade Organizacional FRH Renovar Integridade Organizacion al ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ 513 ☺ ☺ 5 1 5 JC 5 1 6 JC E a gente convida todos os líderes de SUMAN, e vem todos eles acompanhar também essas visitas. A gente não pega supervior, não pega... a gente pega o pessoal do grupo. E isso motiva eles. Eles que levam pra baixo as informações. Então tem a hora de perguntas e respostas, e eles ficam lá e eles ajudam a responder. Isso é um orgulho que tu não faz idéia. Eu trabalhei, no tempo que tive fora, eu dei assessoria. Eu dei assessoria a várias empresas. Várias empresas grandes. Aí depois eu cansei. Depois me convidaram a vir trabalhar.. Vicente: Aí você falava que passou da Marcopolo e participou disso. Pela experiência que você contava... João Carlos: Não precisava nem falar. O pessoal deu... Eu nunca fui me oferecer para trabalhar em uma empresa, pra dar assessoria. Fiz muita coisa. Sempre fui chamado. De um cara que tu vai fazer um trabalho, ele fala...olha, tem um cara fazendo um trabalho lá na fábrica lá. Tá bom e aí, é assim que funciona. 200 7 3a Fas e: 198 7a 200 6 DIV Integração FRH Renovar NAV Captura de Valor NAV - Legitimidade Organizacional ☺ ☺ ☺ 514 ☺ 8. ANEXOS 8.1. PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006) Tabela 8.1 – PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006) Marcopolo Ano Moeda PIB Receita Líquida Lucro Líquido 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Cruzeiros Cruzeiros Cruzeiros Cruzeiros Cruzeiros Cruzados Cruzados Cruzados Novos Cruzados Novos Cruzeiros Cruzeiros Cruzeiros Cruzeiros Reais Real Real Real Real Real Real Real Real Real Real Real Real Real 24,015,788,000,000 48,680,718,000,000 109,386,334,000,000 347,886,015,000,000 1,307,718,616,000,000 3,502,630,801,000 11,103,965,772,000 80,782,983,199 1,170,387,103,582 31,759,184,999,875 165,786,498,000,000 1,762,636,611,000,000 38,767,064,000,000 349,204,679,000 705,640,892,092 843,965,631,319 939,146,616,912 979,275,748,883 1,064,999,711,799 1,179,482,000,000 1,302,136,000,000 1,477,822,000,000 1,699,948,000,000 1,941,498,000,000 2,147,943,788,000 2,322,818,376,000 9,744,675,000 12,052,874,000 17,371,153,000 62,255,156,000 289,761,318,000 794,541,000 3,400,732,000 90,290,553 1,496,685,000 20,591,081,000 128,274,969,000 3,013,483,000,000 68,739,596,000 192,060,000 290,772,000 293,263,000 347,032,000 443,666,000 464,626,000 833,517,000 1,056,557,000 1,481,607,000 1,288,523,000 1,605,445,000 1,709,078,000 1,750,285,000 663,782,000 -512,779,000 -4,711,763,000 4,360,926,000 39,965,521,000 126,206,000 938,735,000 11,834,643 238,257,000 1,092,233,000 16,972,874,000 258,806,000,000 5,281,742,000 -1,978,000 11,590,000 22,130,000 28,807,000 30,134,000 10,078,000 17,204,000 40,139,000 53,809,000 80,936,000 85,022,000 82,401,000 120,841,000 Fonte: Relatórios Anuais de 1983 a 2006, Grigorovski (2004) e Banco Central 515 8.2. Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005 Tabela 8.2 - Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005 ANO 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 AUTOMÓVEIS 1,166 3,831 14,495 42,619 60,205 83,876 94,764 104,710 113,772 128,821 139,260 165,045 244,379 306,915 399,863 471,055 564,002 691,310 712,526 765,291 732,360 871,170 912,018 933,152 585,834 672,589 748,371 679,386 759,141 815,152 683,380 782,411 730,992 663,084 705,303 815,959 1,100,278 1,248,773 1,297,467 1,458,576 1,677,858 1,254,016 1,109,509 1,361,721 1,501,586 1,520,285 1,505,139 1,862,780 2,009,494 COMERCIAIS LEVES 10,871 26,480 41,959 48,735 54,886 67,648 55,397 54,503 46,456 60,735 54,421 66,984 63,073 66,728 73,840 92,329 110,810 126,935 128,895 125,370 73,637 92,235 110,065 115,540 105,264 130,163 106,390 129,429 134,411 145,418 148,847 196,108 205,008 184,754 182,609 201,591 224,387 251,044 239,399 279,697 306,545 247,044 176,994 235,161 214,936 179,861 216,702 318,351 365,648 CAMINHÕES 16,259 26,998 36,657 37,810 26,891 36,174 21,556 21,790 21,828 31,098 27,141 40,642 40,569 38,388 38,868 53,557 69,202 79,413 78,688 83,891 101,368 86,269 93,051 102,017 76,350 46,698 35,487 48,497 64,769 84,544 74,205 71,810 62,699 51,597 49,295 32,025 47,876 64,137 70,495 48,712 63,744 63,773 55,277 71,686 77,431 68,558 78,960 107,338 117,892 ÔNIBUS 2,246 3,674 3,003 3,877 3,602 3,496 2,474 2,704 3,131 3,955 4,665 7,044 5,679 4,058 4,393 5,230 6,362 8,262 10,126 12,059 13,828 14,340 12,832 14,465 13,393 9,820 6,206 7,340 8,385 11,218 13,639 18,427 14,553 15,031 23,012 24,286 18,894 17,435 21,647 17,343 21,556 21,458 14,934 22,672 23,163 22,826 26,990 28,758 35,266 TOTAL 30,542 60,983 96,114 133,041 145,584 191,194 174,191 183,707 185,187 224,609 225,487 279,715 353,700 416,089 516,964 622,171 750,376 905,920 930,235 986,611 921,193 1,064,014 1,127,966 1,165,174 780,841 859,270 896,454 864,652 966,706 1,056,332 920,071 1,068,756 1,013,252 914,466 960,219 1,073,861 1,391,435 1,581,389 1,629,008 1,804,328 2,069,703 1,586,291 1,356,714 1,691,240 1,817,116 1,791,530 1,827,791 2,317,227 2,528,300 Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006 516 8.3. Classificação por Tipo de Carroceria e/ou Serviço • URBANO o Ônibus de uso exclusivo no transporte público dentro do município. o Possui: duas ou mais portas para embarque/desembarque; o Corredor interno mais largo e salão de passageiros; o Bancos duplos e/ou individuais sem reclinação, rígidos ou estofados; De acordo com o chassi sobre o qual é encarroçado, pode ser: o De piso baixo na região das portas (low entry) ou todo ele com piso baixo (low floor). Também pode ter sistema de ajoelhamento (knelling), o qual sob comando do motorista, rebaixa alguns centímetros à frente (lado direito) do ônibus, facilitando o embarque/desembarque. o Pode ter como opcional, ar condicionado e outros acessórios/equipamentos. o O ônibus urbano pode ser também, Midi, Mini , Micro, Articulado ou Bi-articulado. • INTERMUNICIPAL 517 o Ônibus para transporte público usado em linhas que unem dois ou mais municípios em regiões metropolitanas e tem tarifa diferenciada do ônibus urbano. Pode ser usado para realizar viagens entre municípios vizinhos ou entre municípios dentro do mesmo Estado. o Possui: Uma porta de embarque/desembarque; o Poltronas estofadas com um ou mais estágios de reclinação, sem conter necessariamente, os mesmos acessórios que o ônibus Rodoviário; • RODOVIÁRIO o Ônibus para transporte intermunicipal, interestadual, internacional, turismo ou fretamento; o Possui: Uma ou duas portas; (poderá ter também uma porta exclusiva para o motorista) o Poltronas com vários estágios de reclinação, inclusive leito; Opcionalmente, uma série de acessórios tais como: T.V. vídeo, DVD, geladeira, ar condicionado, etc. o Altura diferenciada, de acordo com o tipo de serviço que oferece; Um ou dois pisos (double deck) o Alguns modelos de chassis têm: ABS, TELMA, etc. 518 • MICRO o Ônibus com capacidade para até vinte passageiros que pode ser construído para uso urbano, intermunicipal ou rodoviário; o Possui: Uma ou duas portas; o Poltronas simples ou duplas, em material rígido ou estofado, com ou sem reclinação; o Acessórios diversos tais como nos ônibus Rodoviários. A FABUS estará pleiteando, em breve, junto ao CONTRAN, uma nova classificação para os “Microônibus”, subdividindo-os em “micro ônibus” e “mini ônibus”. • MIDI o Ônibus maior que o micro ônibus e o mini ônibus e menor que um urbano convencional. o Opcionalmente pode ter poltronas, acessórios e equipamentos iguais aos urbanos ou aos Rodoviários, conforme o tipo de serviço que oferece. • MINI o Ônibus com capacidade acima de 10, até 20 passageiros, construído sobre chassis menores, que tem melhor performance no trânsito. 519 o Possui: Opcionalmente, características de urbano ou luxo e conforto conforme o ônibus Rodoviário ou o Intermunicipal, podendo conter acessórios diversos. 8.4. Encarroçadoras fundadoras da Fabus • CIFERAL COMERCIO E INDUSTRIA S/A, representada pelo sr. Fritz Weissmann; • CIA. AMERICANA INDUSTRIAL DE ÔNIBUS (CAIO SUL), representada pelo sr.Luiz Massa; • CIA. AUTOCARROCERIAS CERMAVA, representada pelo sr. Luiz Massa; • CARBRASA CARROCERIAS BRASILEIRAS S/A, representada pelo sr. Gil de Souza Ramos: • CARROCERIAS VIEIRA COM° E INDª S/A, representada pelo sr. José D'Abreu Campanario; • CIRB S/A COM° E INDª, representada pelo sr. Luiz Carlos Capistrano; • FÁBRICA DE CARROCERIAS PILARES LTDA, representada pelo sr. Antonio Augusto Pereira; • FÁBRICA DE CARROCERIAS METROPOLITANA S/A (posteriormente CAIO RIO ), representada pelo sr. João da Silva e 520 • GRASSI S/A INDª E COM°, representada pelo sr. Onaldo dos Santos Galvão. Fonte: Fabus 8.5. Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica) Tabela 8.3 - Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica) 1°- Sr. Fritz Weissmann (CIFERAL) 2°- Sr. Cezar Orlando Salles ( CIFERAL) 3°- Sr. Luiz Massa ( CAIO) 4°- Sr. Alberto Caruso (MARCOPOLO) 5°- Sr. Cláudio Regina (CAIO ) 6°- Sr. José A. F. Martins (MARCOPOLO) 7°- Sr. Cláudio Regina (CAIO) 8°- Sr. Cláudio R. Nielson (BU SSCAR) 521 8.6. EVOLUÇÃO DO MARKET SHARE DAS ENCARROÇADORAS POR SEGMENTO DE ÔNIBUS (1971-2006) Tabela 8.4 – Evolução do Market Share das encarroçadoras por segmento de ônibus (1971 – 2006) Segmento Urbanos Rodoviários Micros Mini-Ônibus Intermunicipal Especial Trolebus 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Marcopolo 16.1% 20.9% 23.3% 23.9% 19.6% 22.1% 22.1% 16.9% 16.7% 17.3% 18.9% 17.7% 20.7% 21.8% 21.1% 14.0% 13.8% 15.4% 14.7% 16.1% 18.5% 20.2% 22.0% 20.8% 19.3% 24.3% 28.8% 32.1% 39.1% 31.8% 35.7% 30.6% 27.6% 10.6% 10.6% 6.8% Caio Induscar 38.8% 32.3% 32.0% 30.6% 33.1% 33.5% 33.3% 33.4% 33.0% 37.9% 41.8% 45.6% 41.0% 51.1% 54.0% 53.5% 44.5% 43.5% 38.4% 31.0% 32.3% 33.6% 31.1% 34.1% 38.5% 40.2% 35.1% 29.1% 11.4% 12.6% 0.0% 33.2% 43.5% 50.2% 40.0% 38.6% Ciferal 6.9% 6.5% 6.3% 8.5% 11.3% 9.3% 7.7% 12.7% 14.6% 11.6% 8.0% 0.2% 6.7% 15.1% 18.6% 28.4% Encarroçadora 2003 2004 2005 2006 16.6% 15.9% 14.5% 19.0% 18.4% 15.3% 13.9% 21.6% 23.7% 17.8% 16.8% 15.9% 14.7% 13.3% 17.7% 22.3% 17.9% 22.9% 24.1% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.9% 5.7% 8.8% 9.8% 9.7% 14.1% 16.2% 13.7% 17.6% 15.3% 16.8% 18.5% 28.8% 31.2% 32.7% 10.7% 4.0% 4.5% 7.0% 11.2% Comil 1.4% 1.1% 1.5% 1.7% 2.5% 1.9% 1.7% 1.3% 1.5% 2.1% 2.4% 2.9% 4.4% 1.2% 0.0% 0.5% 1.2% 2.1% 1.4% 1.6% 1.5% 1.5% 1.7% 2.6% 2.3% 3.3% 3.4% 5.5% 7.5% 6.6% 9.2% 7.6% 6.4% 6.3% 8.6% 7.1% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 6.9% 8.9% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 4.0% 3.3% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Urbanos na Indústria 61.1% 63.5% 63.0% 58.3% 60.9% 60.5% 57.4% 63.1% 58.5% 57.9% 53.6% 59.7% 63.6% 60.3% 64.7% 53.4% 53.9% 63.5% 60.0% 60.1% 71.6% 72.7% 68.9% 67.5% 66.9% 73.2% 65.5% 67.3% 60.5% 48.8% 52.1% 55.7% 54.7% 52.7% 55.3% 51.8% 43.7% 43.3% 38.1% 41.7% 48.1% 44.0% 41.6% 42.4% 44.0% 48.7% 48.4% 52.1% 54.4% 49.4% 50.3% 52.2% 46.8% 47.5% 57.8% 42.6% 48.5% 52.8% 65.0% 65.0% 54.5% 44.7% Caio Induscar Marcopolo 2.4% 2.2% 2.4% 7.7% 12.3% 7.8% 8.3% 5.1% 3.1% 2.9% 1.9% 1.8% 0.7% 1.5% 0.5% 1.5% 2.0% 0.5% 1.4% 1.1% 0.6% 0.0% 0.1% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.8% 2.9% 3.7% Ciferal 47.2% 35.4% 42.3% 36.2% 40.3% 39.0% 26.4% 41.8% 24.5% 33.5% 22.4% 38.9% 22.5% 37.9% 21.2% 41.4% 16.0% 48.1% 15.1% 13.0% 0.3% 0.0% 1.7% 1.0% 4.3% 4.1% 3.6% 3.0% 1.7% 1.2% 0.8% 1.7% 0.9% 0.3% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Busscar 9.6% 12.5% 12.7% 14.0% 17.3% 15.7% 18.5% 23.3% 24.8% 30.7% 33.6% 44.1% 53.1% 48.4% 50.3% 44.1% 40.8% 40.7% 38.0% 39.2% 40.8% 37.9% 34.4% 39.5% 39.8% 35.5% 38.4% 35.7% 39.7% 40.7% 34.4% 15.0% 9.9% 16.0% 29.9% 33.1% Comil 5.4% 6.7% 5.6% 5.3% 6.2% 7.3% 9.5% 9.1% 7.9% 8.2% 7.7% 10.1% 7.4% 6.6% 0.0% 4.8% 7.1% 7.4% 8.4% 8.6% 8.9% 9.1% 9.5% 10.1% 11.5% 11.6% 11.4% 12.1% 13.5% 11.7% 7.9% 10.6% 13.5% 17.6% 13.2% 12.2% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.3% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.5% 10.7% 9.0% 8.4% 7.2% Part % Rodoviários na Indústria 32.6% 29.8% 29.9% 28.6% 26.3% 31.6% 33.4% 26.8% 26.9% 28.2% 28.4% 31.0% 28.8% 29.8% 28.9% 37.7% 34.8% 28.9% 32.7% 33.9% 23.6% 24.2% 27.6% 29.8% 29.6% 22.1% 26.0% 24.2% 29.1% 32.7% 30.4% 25.8% 24.7% 29.8% 26.9% 26.3% 42.9% 0.0% 0.0% 3.5% 0.1% Marcopolo 45.5% 40.4% 100.0% 21.4% 42.4% 18.2% 20.0% 15.4% 30.5% 36.8% 16.8% 0.3% 16.5% 61.0% 55.8% 45.7% 47.0% 56.2% 66.4% 61.7% 73.6% 63.7% 44.9% 62.3% 47.4% 65.8% 67.3% 59.5% 56.6% 49.7% 60.4% 52.3% 55.8% 53.3% 24.7% 22.9% Caio Induscar 54.5% 59.6% 0.0% 73.4% 52.8% 77.4% 75.9% 76.8% 69.4% 63.2% 75.7% 43.2% 44.0% 39.0% 44.2% 54.3% 53.0% 43.8% 32.7% 37.3% 25.5% 36.3% 54.9% 37.7% 52.6% 34.0% 29.2% 18.7% 18.4% 17.6% 0.0% 23.2% 25.8% 23.6% 12.4% 19.0% Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% 0.9% 0.9% 0.0% 0.2% 0.0% 0.0% 0.2% 3.6% 21.8% 6.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.9% 2.4% 2.0% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 7.9% 19.1% 24.8% 6.9% 2.5% 5.3% 8.2% 11.8% Comil 0.0% 0.0% 0.0% 5.2% 4.8% 4.4% 2.6% 0.3% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 11.0% 13.6% 14.9% 17.7% 15.9% 13.8% 10.5% 6.5% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 32.7% 29.8% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.1% 8.0% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Micros na Indústria 5.1% 5.5% 1.8% 8.5% 8.1% 5.7% 7.2% 6.3% 9.2% 8.0% 15.2% 7.1% 5.7% 8.1% 6.2% 7.8% 9.8% 5.6% 7.1% 5.7% 4.6% 2.9% 3.3% 2.4% 3.2% 3.0% 7.7% 8.1% 9.9% 18.5% 13.9% 13.1% 16.8% 15.4% 12.5% 15.2% Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 8.2% 12.8% 2.0% 0.5% 0.8% 0.0% Caio Induscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 19.9% Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 49.3% 60.5% 63.1% 57.9% 29.0% 18.5% Busscar 0.0% 0.0% 100.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 42.5% 26.7% 34.9% 41.5% 19.2% 10.3% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 37.9% 21.9% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 13.1% 29.4% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Mini-Ônibus na Indústria 0.0% 0.0% 0.3% 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.6% 5.4% 3.8% 2.1% 3.0% 2.6% Marcopolo 71.2% 62.5% 21.0% 71.5% 41.7% 0.0% 0.0% 0.0% 2.0% 0.0% 7.4% 45.9% 18.8% 43.8% 0.0% 77.6% 84.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 35.5% 55.0% 0.0% Caio Induscar 0.0% 0.0% 69.1% 0.0% 12.3% 49.1% 53.1% 11.8% 15.0% 12.9% 21.9% 11.2% 12.5% 2.2% 75.0% 22.4% 15.4% 27.4% 50.0% 100.0% 97.1% 51.9% 20.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.3% Ciferal 23.1% 34.4% 9.0% 28.5% 30.5% 50.9% 16.8% 17.4% 27.1% 25.4% 8.7% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 6.3% 0.0% 2.9% 48.1% 60.0% 59.1% 97.9% 11.5% 13.5% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 11.7% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 40.9% 2.1% 52.9% 71.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.8% 0.0% Comil 5.8% 3.1% 0.9% 0.0% 7.5% 0.0% 0.7% 26.3% 24.4% 36.1% 41.3% 39.8% 65.6% 47.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 20.0% 0.0% 0.0% 35.6% 15.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 17.1% 22.9% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 28.2% 12.6% 0.0% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 2.3% 9.5% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% 100.0% 0.0% Part % Intermunicipal na Indústria 1.2% 1.2% 5.0% 1.9% 2.3% 0.6% 1.6% 3.6% 5.0% 3.9% 2.0% 1.1% 1.4% 1.6% 0.1% 1.0% 0.3% 0.8% 0.1% 0.0% 0.2% 0.2% 0.1% 0.2% 0.3% 0.5% 0.3% 0.2% 0.5% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 2.4% 4.1% Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 34.0% 0.0% 16.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 62.5% 0.0% 6.7% 0.0% 0.0% 0.0% 21.6% 0.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Caio Induscar 0.0% 0.0% 0.0% 64.6% 100.0% 82.1% 93.5% 14.8% 88.4% 84.0% 0.0% 0.0% 0.0% 13.3% 0.0% 5.2% 43.8% 0.0% 66.7% 28.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 80.0% 0.0% 0.0% 0.0% 44.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 71.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.7% 4.3% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Especial na Indústria 0.0% 0.0% 0.0% 1.9% 2.3% 1.6% 0.5% 0.3% 0.4% 0.8% 0.0% 0.1% 0.0% 0.3% 0.0% 0.1% 0.3% 1.0% 0.1% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% 100.0% Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 14.8% 77.6% 100.0% 0.0% 100.0% 0.0% 46.5% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.1% 22.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 98.5% 84.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Part % Trolebus na Indústria 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.1% 0.7% 1.0% 0.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.2% 0.6% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Fonte: Fabus 1.5% 100.0% 100.0% Caio Induscar Notas: Os dados da Marcopolo incluem Carrocerias Elizário (comprada em 1971 e encerrada em 1986) e Marcopolo Minas (encerrada); Caio Inuduscar inclui Caio Norte e Caio Rio (ambas encerradas); Ciferal inclui Reciferal (encerrada) 522 0.0% 2002 100.0% 100.0% 100.0% 8.7. Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005) Tabela 8.5 – Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005) ANO AUTOMÓVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 3 52 656 6,611 13,891 47,591 52,629 62,079 56,636 77,388 76,486 115,482 157,228 120,305 132,804 151,962 160,626 138,241 279,530 226,360 164,885 120,377 127,153 243,126 249,607 274,815 189,721 211,565 305,647 291,788 204,024 283,449 321,490 369,925 440,957 603,052 684,259 201 600 2,849 4,662 9,275 11,167 8,281 3,332 7,023 12,874 20,235 32,661 46,581 31,903 35,476 36,631 31,655 44,570 72,654 68,853 53,579 53,282 80,683 62,913 79,996 58,489 70,951 91,712 87,743 57,789 72,529 55,700 42,250 72,883 117,138 155,577 9 3 3 7 4 122 364 3,136 5,754 6,896 7,968 9,032 8,347 10,129 14,270 18,977 18,662 5,400 3,660 7,024 8,945 11,769 17,342 15,948 15,429 8,371 6,416 8,915 11,049 14,532 8,700 8,545 12,438 14,550 8,498 9,293 6,762 5,475 12,820 25,650 38,300 380 170 57 120 207 32 2 18 34 32 932 199 916 1,337 1,015 1,711 1,632 2,018 2,391 4,135 1,065 307 2,053 1,438 1,614 4,113 5,514 4,553 4,984 6,297 9,176 7,953 8,284 6,134 5,212 7,075 6,163 4,488 6,028 6,902 6,765 9,320 12,947 18,943 380 170 57 129 210 35 9 25 409 1,652 13,528 24,506 64,678 73,101 80,407 70,026 96,172 105,648 157,085 212,686 173,351 168,674 196,515 207,640 183,279 345,555 320,476 253,720 187,311 193,148 341,900 331,522 377,627 263,044 296,273 416,872 400,244 274,799 371,299 390,854 424,415 535,980 758,787 897,079 Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006 523 8.8. Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996 – 2006) Tabela 8.6 – Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996 – 2006) Ônibus Exportados Encarroçadora MARCOPOLO MARCOPOLO Total CAIO C A I O Total CIFERAL CIFERAL Total BUSSCAR BUSSCAR Total COMIL COMIL Total IRIZAR IRIZAR Total MASCARELLO MASCARELLO Total NEOBUS Categoria Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal Ano 1996 436 285 101 1997 776 515 97 1998 907 681 121 1999 714 555 180 2000 1,612 903 405 2001 1,755 1,648 431 2002 1,866 2,126 3 395 2003 1,676 2,023 377 12 2004 1,921 2,503 579 3 822 1,388 1,709 1,449 2,920 3,834 4,390 562 38 805 172 289 64 228 7 34 36 4,088 16 283 202 5,006 62 157 263 329 501 181 2 166 278 2005 1,099 1,166 374 3 54 2,696 36 1,252 181 53 2006 1,475 33 321 482 1,522 721 182 265 28 33 61 387 893 300 171 303 50 2 355 1,216 287 290 1,793 413 73 67 2 52 607 284 5,790 2 1,989 212 103 64 2,370 7,319 3,136 930 71 26 11,482 2,112 1,585 399 102 85 4,283 1,838 51 600 2 71 977 353 261 1 270 131 2 75 472 96 1 263 677 169 4 572 49 1 2 848 87 51 235 70 7 283 56 401 600 139 482 158 10 7 972 467 161 339 727 636 134 12 183 260 300 166 316 302 61 194 704 282 103 679 186 187 126 1,089 502 190 106 1 359 323 499 410 799 426 20 1,384 311 649 73 1 31 1,065 395 323 410 426 395 284 1,838 77 90 35 135 112 225 116 138 13 183 47 30 118 13 350 47 146 256 42 296 7,912 61 256 6,106 103 552 56,874 71 739 188 17 650 126 14 12 1,600 124 106 5 1,497 38 124 10 631 88 173 98 50 138 205 2 154 235 172 Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal 167 Rodoviário Urbano Micro Mini Intermunicipal NEOBUS Total Total 78 1,907 59 350 312 2,119 3,614 3,407 2,488 4,832 5,842 Total 14,237 12,438 2,989 413 132 30,209 173 4,238 1,275 104 6,215 6,343 7,996 Fonte: Fabus 524 8.9. EXPORTAÇÃO DE AUTOVEÍCULOS BRASILEIROS POR PAÍS DE DESTINO – CONTINENTES: AMÉRICA DO SUL, AMÉRICA CENTRAL, AMÉRICA DO NORTE, EUROPA, ÁFRICA, ÁSIA E OCEANIA (2003 – 2004) Tabela 8.7 – Exportação de Autoveículos Brasileiros por País de Destino – Continentes: América do Sul, América Central, América do Norte, Europa, África, Ásia e Oceania (2003 – 2004) Europa América do Norte América Central América do Sul PAÍS Argentina Bolívia Chile Colômbia Equador Guiana Paraguai Peru Uruguai Venezuela Total Aruba Bahamas Barbados Costa Rica Cuba Curaçao El Salvador Guadalupe Guatemala Haiti Honduras Ilhas Cayman Ilhas Virgens Jamaica Martinica Nicarágua Panamá Porto Rico República Dominicana Saint Barth Trinidad e Tobago Diversos Países Total Canadá Estados Unidos México Total Alemanha Áustria Bélgica Bulgária Cazaquistão Eslováquia Espanha Estônia Finlândia França Grécia Holanda Hungria Inglaterra Itália Malta Noruega Portugal República Tcheca Romênia Rússia Sérvia e Montenegro Suécia Suíça Ucrânia Total AUTOMÓVEIS 2003 2004 84,816 140,553 130 180 16,331 24,582 11,596 18,163 15,195 17,688 190 771 1,241 2,105 1,239 3,967 5,717 24,293 136,455 232,302 430 51 1 15 1,201 1,308 42 2 195 65 841 746 3,696 5,015 28 32 235 498 4 2 26 397 365 183 873 94 66 - - 8,510 9,572 27,929 165,418 202,919 2,029 45 1 17 70 2 750 53 7 - 13,499 5,270 13,913 176,708 195,891 2,724 25 99 19 109 1,609 15 2,989 334 4,919 COMERCIAIS LEVES 2003 2004 20,399 39,130 11 12 6,912 7,067 7 154 726 1,137 676 1,076 4 96 400 1,694 3 169 29,138 50,535 150 277 185 49 211 10 16 509 473 13 17 54 10 1 1 10 15 98 41 146 1 56 156 10 12 2,027 1,492 3,056 1 24,791 41,385 24,792 41,385 574 557 122 203 31 35 108 178 34 1 269 146 428 800 98 87 1 68 88 28 3,556 3,252 30 705 473 1 1 1 734 4 5,873 6,740 CAMINHÕES 2003 2004 5,352 12,448 41 156 2,554 4,632 262 435 193 276 1 25 68 410 676 45 381 78 739 8,960 19,812 5 17 8 69 12 11 43 56 2 3 8 13 12 23 119 39 56 140 356 1 375 1 375 28 4 21 103 10 17 87 9 38 360 10 1 327 361 ÔNIBUS 2003 2004 782 1,935 9 12 2,308 3,170 1,003 1,744 631 1,025 2 12 290 450 2 15 24 260 5,051 8,623 7 2 2 26 5 140 430 133 43 2 88 91 6 28 13 26 11 3 4 18 6 3 332 8 1 2 751 679 246 316 246 316 3 165 31 17 1 22 2 43 250 34 TOTAL 2003 2004 111,349 194,066 191 360 28,105 39,451 12,868 20,496 16,745 20,126 1 893 1,927 1,945 3,327 1,686 6,057 5,822 25,461 179,604 311,272 580 58 3 17 26 5 1,623 1,940 183 114 244 67 1,152 858 16 4,254 5,572 41 49 304 537 5 3 11 36 3 15 507 396 230 1,034 95 66 738 540 10 1 861 6,289 10,893 17,590 9,572 5,270 27,931 13,913 190,455 218,784 227,958 237,967 2,631 3,284 167 203 35 35 25 99 21 108 269 209 34 1 313 165 428 800 185 87 4 68 88 28 4,415 3,361 53 2 30 712 473 9 1 1 81 1,969 1 10 735 15 4 334 9,439 12,054 Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006 525 África Ásia Oceania PAÍS África do Sul Angola Argélia Camarões Congo Costa do Marfim Egito Etiópia Gabão Gâmbia Gana Líbia Marrocos Moçambique Nigéria Senegal Sudão Tunísia Uganda Zimbábue Total Arábia Saudita Azerbaijão Barein China Cingapura Coréia do Sul Emirados Árabes Unidos Filipinas Hong Kong Índia Indonésia Irã Líbano Japão Jordânia Kuweit Malásia Omã Síria Tailândia Taiwan Turquia Vietnã Diversos Países Total Austrália Nova Zelândia Oceania Francesa Taiti Total Total Geral AUTOMÓVEIS 2003 2004 13,412 59,108 43 78 8,712 4 20 73 6,355 3,083 20 20 50 11 265 1,32 8 110 5,551 447 36 12 1,63 1,988 22,890 79,466 2 57,507 65,192 1 8,592 7,321 2,580 172 701 2 50 70 190 684 682 423 67,194 76,975 440,957 603,052 COMERCIAIS LEVES 2003 2004 5,989 9,970 1 21 93 2 10 11 28 1 4 136 6 5,995 10,277 1 1 5 2,616 10 235 1 25 8 30 1,358 1,186 21 1 1,798 4,020 3,276 1,573 1,869 1,573 1,869 72,883 117,138 CAMINHÕES 2003 2004 845 666 183 496 39 1 69 270 10 72 148 185 137 1 53 2 1,394 1,783 95 180 7 458 1 63 1,741 1,090 64 392 3 10 30 447 150 1 3 6 1,911 2,830 61 117 26 16 87 133 12,82 25,65 ÔNIBUS 2003 2004 223 342 117 73 69 20 5 697 926 33 59 15 7 4 68 87 1 273 148 92 22 4 1,596 1,689 300 276 35 1 36 24 90 112 14 12 2 378 502 24 193 218 44 36 156 84 23 5 5 2 63 224 1,340 1,519 67 70 19 17 86 87 9,32 12,947 TOTAL 2003 2004 20,469 70,086 344 668 69 8,805 26 5 30 39 85 7,121 4,279 53 89 78 11 15 272 1,325 8 254 5,922 1 458 732 36 18 1,723 2,063 2 4 31,875 93,215 395 459 1 5 35 60,131 65,686 1 87 1,741 1,090 164 739 16 15 10 8,592 7,323 378 532 24 3,027 197 701 8 32 243 288 44 36 156 84 23 1,553 2,025 2 22 1 1,801 63 224 682 429 74,465 84,600 1,701 2,056 26 16 19 17 1,746 2,089 535,98 758,787 Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006 526 8.10. Diretoria da Marcopolo no período de 1949 a 1998 1949 – 1951 • Direção Geral Américo C. Cerqueira Arnoldo Fabian Arno E. Cornel Arno Steffen Doracy Nicola Dorval Nicola Jacob Acker Nelson J. Nicola Paulo Bellini 1953 – 1964 • Direção Geral Dorval Nicola Fiorindo Sartori Paulo Bellini 1964 – 1968 • Diretor Gerente - Dorval Nicola • Diretor Gerente - Paulo Bellini 527 • Diretor Técnico – Fiorindo Sartori • Diretor Industrial – José Wilson T. Costa 1969 • Diretor Presidente - Paulo Bellini • Diretores Fiorindo Sartori José Wilson T. Costa 1970 – 1974 • Diretor Presidente - Paulo Bellini • Diretores Fiorindo Sartori José Wilson T. Costa José A. F. Martins Valter G. Pinto 1975 – 1976 • Diretor Presidente - Paulo Bellini • Diretores Fiorindo Sartori 528 José A. F. Martins Valter G. Pinto Raul Tessari 1977 – 1980 • Diretor Presidente - Paulo Bellini • Diretores José A. F. Martins Valter G. Pinto Raul Tessari 1980 – 1995 • Diretor Presidente - Paulo Bellini • Diretor Superintendente - José A. F. Martins • Diretores • Valter G. Pinto Raul Tessari Diretor Adm. Financeiro (a partir de 01.08.95) – Carlos Zignani 1996 – 1998 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO 529 • Presidente - Paulo Bellini • Conselheiros Dílson S. da Fonseca Nestor A. Perottoni DIRETORIA CORPORATIVA • Presidente - Paulo Bellini • Vice-Presidente - José A. F. Martins • Diretor Corporativo - Valter G. Pinto • Diretor Corporativo / Diretor de Relações com o Mercado (até 01.02.98) – Raul Tessari DIRETORIA EXECUTIVA • Diretor Geral (a partir de 01.04.97) / Diretor de Relações com o Mercado (a partir 02.02.98) – Carlos Zignani • Diretor Comercial – Carlos A. Casiraghi • Diretor de Operações – Moacir V. Moroni Diretor Administrativo e Financeiro (a partir de 22.04.97) – José Rubens de La Rosa 530