“Europe is said in many ways” José Maria Silva Rosa University of Beira Interior (Covilhã) Europe, its said, is in crisis. Some deem it to be a permanent condition. That’s why krisis, better yet, Europe’s kriseis, never left anyone indifferent. As Nietzsche would claim, more than a hundred years ago, «Europe is a patient that should be very grateful for the incurableness and perpetual transformation of its illness: these conditions, allways anew, and the dangers constantly renovated, the pains and the means of information, finally begot an intellectual irritation bordering the frontiers of genius and which, somehow, is the mother of all genius.» (F. Nietzsche, FRG. 24, The Gay Science, 1882) If we are to take seriously one of the most sharp ‘doctors’ and ‘psychologists’ of the european psyche, and of the nihilistic processes of the production of meaning in the Western culture – mythical, literary, religious, moral, philosophical, scientific – perhaps we should ask ourselves for the whereabouts of that ‘intellectual irritation’, that nowadays appears no longer as the mother of any genious, but as the coryphaeus of rythmic and endless elegies. Returning to Greece, like the author of The Birth of Tragedy – is Europe, when all is said and done, like Penelope, Proserpine, and all the other thousand names of nostalgia? Is Europe a perpetual looking back, a nostalgia not only from Greece but, one wonders, of phoenician beaches where the kidnapping of Zeus has devoted her to the West (as some ethymology wants)? In an opposite sense, also Husserl (in the Viena Conference The Crisis of European Humanity and Philosophy, May 5th, 1935) undertakes a speech about Europe: «I want to venture, in this conference, the attempt to raise new interest over a subject, so often treated, the European crisis, developing the historical-philosophical idea (or the teleological sense) of European humanity. By showing the essential function, in this sense, philosophy and its branches, our sciences, have to play, I hope to shed new light over the European crisis». If Europe is, then, a certain “spiritual eidos” in quest for the universal, with a teleological horizon (and not only archaeological), as the author of The Crisis of Mankind maintains, George Steiner, in his 2004 essay The Idea of Europe, integrating the helenic eidos, adds another essential trait to the discourse the daughter of Argenor has been entertaing about herself for more than 25 centuries: the biblical heritage. In this legacy – from the patriarchal traditions, to Prophets, and the New Testament – what matters is not this looking back, but a new looking forward, even if not eschatological. Europe, as the author of After Babel said, was made in action: walking, pilgrimaging, battling, doing business, eating, drinking (cofee, but also our red wine), and smoking… Three authors, but far more than three little letters. Many others could be added. Europe is definitely an entretien infini, as M. Blanchot would say. And it isn’t possible, nor desirable, in this crossroad of discourses/paths that it has become, to engage again in the quest for the ultimate Word. One can think, and even desire, to deepen Europe’s unity, specially in a shattered time, a krisis period (isn’t a krisis also a cross where something is ‘nailed’ / ‘crucified’?), which seems to be discarding the peripheries, in the West as in the East. Some say it’s biggest challenge will come from the South; others from the Far East. But who could ascertain today where are South or North, East or West of the Europe? A Europa diz-se de muitos modos José Maria Silva Rosa University of Beira Interior (Covilhã) A Europa, diz-se, está em crise. Alguns fazem desta a sua condição permanente. Por isso, a krisis, ou melhor, as kriseis da Europa nunca deixaram ninguém indiferente. Afirmava Nietzsche, há pouco mais de cem anos atrás, que «a Europa é um doente que deve estar muito agradecido pelo carácter incurável e eterna transformação da sua doença: estas condições sempre novas e os perigos também sempre renovados, as dores e os meios de informação geraram finalmente uma irritação intelectual que toca as raias do génio e que, de qualquer modo, é a mãe de todo o génio.» (F. Nietzsche, Frg. 24 de A Gaia Ciência, 1882) Se levarmos a sério um dos ‘médicos’ e psicólogos mais perspicazes dos ínvios processos de produção de sentido da cultura ocidental ― míticos, literários, religiosos, morais, filosóficos, científicos ― talvez devamos perguntar-nos por onde anda hoje a ‘irritação intelectual’ que já não surge como mãe de qualquer génio, mas tão-só mais um corifeu das elegias ritmicamente ditas e tornadas. Regressando igualmente à Grécia, como o autor de A Origem da Tragédia ― será a Europa, afinal, Penélope, Proserpina e os mil outros nomes da saudade: um contínuo olhar para trás, uma nostalgia não apenas da Grécia mas, quem sabe, das praias na Fenícia onde um rapto a fadou ao Ocidente (como uma certa etimologia pretende)? ―, ainda que num sentido diametralmente oposto, também E. Husserl (na conferência de Viena A Crise da Humanidade Europeia e a Filosofia, 5 de Maio de 1935) aventura um discurso sobre a Europa: «Quero arriscar, nesta conferência, a tentativa de suscitar um novo interesse pelo tema, tantas vezes tratado, da crise europeia, desenvolvendo a ideia histórico-filosófica (ou o sentido teleológico) da humanidade europeia. Ao mostrar a função essencial que têm a exercer, neste sentido, a Filosofia e suas ramificações, ou seja, as nossas ciências, a crise europeia receberá também uma nova luz.» Se a Europa é, pois, uma certa «forma espiritual» de demanda pelo universal com horizonte teleológico (e não só arqueológico) como pretende o autor de A Crise da Humanidade…, já G. Steiner, no seu ensaio de 2004, A Ideia de Europa, integrando sem reserva o eidos helénico, acrescenta outro vector essencial ao discurso que de há mais de vinte e cinco séculos a filha de Argenor vem entretecendo sobre si própria: a herança bíblica. Nesta ― desde as tradições patriarcais, ao Novo Testamento, passando pelo profetismo ―, não é sobretudo o olhar para trás que importa, mas muito mais o olhar em frente, mesmo que não escatologicamente. A Europa, no dizer do autor de Depois de Babel, foi feita em acção: a caminhar, em romagem, a guerrear, a comerciar, a comer, a beber (mormente café; e porque não juntar o tinto?), a fumar… Três autores, mas não três letrinhas apenas. Muitas outras se podem acrescentar. A Europa é definitivamente um entretien infini, como diria M. Blanchot. E não é possível nem desejável, nesta encruzilhada de discursos / caminhos em que se tornou, demandar o discurso definitivo. Pode-se pensar e até desejar aprofundar mais a unidade da Europa, sobretudo num tempo estilhaçado, de krisis, que parece descartar as periferias, tanto a Oriente como a Ocidente. Alguns dizem que o seu grande desafio vem hoje do Sul; outros que vem do Oriente? Mas onde fica hoje o Sul, ou o Norte, o Leste e o Oeste?