Experiência, aprendizagem e formação para a Saúde: algumas questões Carlos Otávio F. Moreira (ENSP-FIOCRUZ) Questões para pensar sobre os processos de formação em Saúde: 1) De uma forma geral, os currículos dos cursos do campo da Saúde organizam as experiências educacionais tendo em vista a assimilação de conteúdos, com forte ênfase em aspectos cognitivos, sem muita atenção para os efeitos dessas experiências nas práticas profissionais futuras? Questões para pensar sobre os processos de formação em Saúde: 2) Ou, de uma forma geral, os currículos dos cursos do campo da Saúde organizam as experiências educacionais tendo em vista seus efeitos possíveis na formação de disposições duráveis, ou seja, de uma matriz de práticas de cuidado, gestão e educação em saúde? Hipótese O problema central dos métodos de ensino e aprendizagem nunca foi e nem é uma possível ausência de experiência, mas o caráter ou a qualidade da experiência educacional que eles oferecem e seus efeitos nas práticas profissionais Temas para esse debate: 1. há conexão orgânica entre experiência e educação, pois toda educação se realiza como experiência; 2. a educação, como todos os processos de socialização, é produtora de experiências; 3. uma experiência (positiva ou não) se prolonga em experiências que se sucedem; 4. as características das experiências produzidas nos processos de formação (escolar, educação continuada, educação permanente, etc.) tendem a conformar as práticas profissionais. De onde falamos Perspectiva mais ampla de educação, que não se restringe à noção de transmissão de conhecimento, mas à formação de disposições duráveis (intelectuais, morais e estéticas) e ao desenvolvimento de habilidades, atitudes, etc. Socialização (Dewey, Durkheim); habitus (Bourdieu); competência (Perrenoud). Crítica à redução da educação ao treino das faculdades e à assimilação de conhecimentos (foco cognitivo restrito). Perspectiva genética das estruturas mentais – Piaget, Vygotsky. Experiência e educação Experiência não é um termo que se explique por si mesmo. Se toda educação se consuma através da experiência, não quer dizer que todas as experiências educacionais sejam necessariamente positivas. O termo experiência pode ser relacionado: à vida individual - vivência pessoal, ato ou efeito de experimentar. à vida social - práticas adquiridas com o exercício de uma profissão, arte ou ofício; habilidade, perícia; a processos de pesquisa – tentativa, ensaio, experimentação, experimento, prova, demonstração. A experiência escolar pode ser entendida como um jogo entre dois fatores: condições objetivas e condições internas Condições objetivas: Objetivos de aprendizagem, método e estratégias educacionais; O que faz o professor e o modo como o faz; Livros, equipamentos; Arranjo social global em que as pessoas estão envolvidas. Condições internas: Características e necessidades de aprendizagem dos alunos. Princípio da continuidade da experiência. A qualidade das experiências de formação tem impacto nas experiências posteriores (profissionais, pessoais, etc.). Imediato Longo prazo Aspectos do conteúdo oferecido em uma formação escolar: Lógico: o corpo ou sistema de fatos e conceitos tidos como válidos e que se sustentam por certos princípios, relações e legitimidade no campo de conhecimento em que se inscreve. Psicológico: o modo de viver a experiência de aprendizagem. Experiência e hábito O hábito converte a experiência em algo aproveitável em outras oportunidades princípio da continuidade da experiência Elementos para a formação do hábito (habit) Capacidade de aprendizagem dos indivíduos (plasticidade). Possibilidade de aprender com a experiência Um hábito é em primeiro lugar “uma aptidão executiva, uma capacidade de fazer” (Dewey). Hábito e pensamento reflexivo hábito ação Pensamento reflexivo Autores que dialogam de algum modo com essa perspectiva de John Dewey: Donald A. Schön – Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem Philippe Perrenoud – A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e ação pedagógica John Dewey propôs que o ensino fosse relacionado a atividades, posto que estas criam possibilidades de se experimentar o sentido social das ações. “Só se consegue mentalidade social dedicando-se os homens à atividade conjunta, na qual o uso de materiais e utensílios, por parte de uma pessoa, se relaciona conscientemente com o uso que outras pessoas fazem de suas aptidões e recursos” (Dewey, Democracia e Educação [1916],1959, p. 42). Tentativa de superar dicotomias clássicas dos processos de formação: teórico/prático, mente/mãos, espírito/corpo, interno/externo, experiência/razão. Questões Se os conteúdos ou objetivos de aprendizagem se organizassem em torno de temas relativos à vida social e profissional – que é a sua finalidade – a relação entre as partes do currículo poderia se tornar mais viável e efetiva? Se as matérias (disciplinas) pudessem ser desenvolvidas em conexão ativa e concreta com o mundo social e profissional, elas poderiam também ser correlacionadas entre si? Aquele abraço!