ANTONIO FAGNANI FILHO USO DA MÁSCARA FACIAL NO TRATAMENTO DA DEFICIÊNCIA MAXILAR Monografia apresentada ao CEA - Odonto-Fono de Poços de Caldas - ABO - MG, como parte dos requisitos para obtenção do certificado de conclusão do Curso de Extensão e Pós-Graduação em ORTOPEDIA FACIAL. COORDENADOR: Prof. Dr. Hélio Gomes da Silva. ORIENTADOR: Prof. Dr. Hélio Gomes da Silva. CEA - ODONTO-FONO - ABO - MG 1998 2 CURSO DE EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ORTOPEDIA FACIAL COORDENADOR E ORIENTADOR: Prof. Dr. Hélio Gomes da Silva Coordenador Geral do Curso de Ortopedia Facial do Centro de Estudos Avançados em Odontologia e Fonoaudiologia - CEA – Odonto-Fono – ABO – Poços de Caldas - MG; Chefe da Clínica de Ortodontia e Ortopedia Facial da Divisão de Odontologia do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) – São José dos Campos – SP. 3 DEDICATÓRIA Aos meus Mestres: Dra. Gabriela, Dr. Hélio, Dr. Télson e Dr. Cury, pelos ensinamentos e exemplos; aos meus colegas de turma pela solidariedade, amizade e estímulo, e à minha família pelo apoio, carinho, paciência e compreensão, principalmente nos momentos de ausência para a realização deste trabalho. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar a oportunidade de conviver com pessoas de tão alta capacidade, inteligência e dedicação, em quem posso espelhar-me com tranqüilidade para meu crescimento profissional, moral e intelectual. 5 SUMÁRIO I - Introdução ............................................................................................... 7 II - Revisão da Literatura ............................................................................... 10 III - Proposição .............................................................................................. 20 IV - Bases Teóricas e Fisiológicas da Técnica ................................................ 21 V - Modo de Ação e Efeitos das Forças Fortes Póstero-Anteriores Sobre o Esqueleto Facial ......................................................................... 27 VI - Aparatologia: Características e Confecção .............................................. 32 Máscara Dinâmica .............................................................................. 35 Passos para a Confecção da Máscara Dinâmica ................................... 36 VII - Diagnóstico Diferencial para Determinar o Uso da Máscara Facial Ortopédica ..................................................................... 38 Análise da Estética Facial ................................................................... 38 Análise Intrabucal ............................................................................... 39 Análises Radiográficas ........................................................................ 39 Análise da Direção do Crescimento .................................................... 40 Análise da Maturação Esquelética ...................................................... 40 VIII - Aplicações da Técnica e Princípios Biomecânicos .................................. 42 Indicações .......................................................................................... 42 Contra-Indicações .............................................................................. 44 Época Oportuna de Tratamento ......................................................... 44 Tempo de Utilização e Duração do Tratamento ................................. 46 6 Ponto de Apoio Intrabucal de Aplicação de Força................................ 48 Força Utilizada na Tração Reversa ...................................................... 49 Contenção e Recidiva .......................................................................... 51 IX - Associação com a Expansão Rápida ou Disjunção Maxilar ....................... 53 X - Prognóstico do Tratamento Precoce ........................................................ 55 XI - Discussão ................................................................................................. 58 XII - Conclusões .............................................................................................. 64 XIII - Resumo .................................................................................................. 66 XIV - Referências Bibliográficas ....................................................................... 67 7 I - INTRODUÇÃO O tratamento com a máscara facial ortopédica, é um método terapêutico que permite atuar eficazmente sobre as bases esqueléticas maxilares e mandibulares, ou seja, sobre o equilíbrio total do esqueleto facial5. Entre os meios mais eficazes que dispomos atualmente, se encontram as trações extraorais fortes, que podem ser póstero-anteriores para o tratamento de classe III ou ântero-posteriores para o tratamento de classe II. O princípio de exercer tração das estruturas maxilares, enquanto que ao mesmo tempo aplicamos uma força de contenção sobre a mandíbula, através dos apoios da máscara facial, é um método simples e, do ponto de vista mecânico, suficientemente seguro para usar-se como procedimento terapêutico no tratamento das síndromes prognáticas, na retrusão maxilar e nos fissurados lábiopalatais3,6,7,8,10,14,15,16,20,21,22,23,24, 26 e 27 . A máscara facial ortopédica (Fig. 1), foi criada em 1968 pelo Dr. Jean Delaire2,3,10,11,16,21,24, especialista em Cirurgia Maxilofacial do Hospital Universitário de Nantes, na França, motivado pelas seqüelas que deixava a cirurgia em crianças com lábio e palato fissurados, nos quais o crescimento da maxila se via freiado pelas bridas cicatriciais. O Dr. Pierre Verdon, ortodontista que trabalhava com o Dr. Delaire no mesmo hospital é quem colocava em prática tal método nos pacientes, devido a isto que se encontra citações como sendo este procedimento terapêutico como Método de Verdon, porém em países como França, Alemanha e EUA, se conhece como Máscara Facial Ortopédica de Delaire10. Este método de tratamento, consiste na aplicação de trações extraorais pesadas (superiores às vezes a 1 kg), entre um dispositivo intrabucal, fortemente fixado em todos os dentes existentes no arco dentário superior, e um apoio facial anterior chamado “máscara ortopédica” (devido a que os 8 primeiros dispositivos utilizados pareciam uma máscara de carnaval vazia em seu centro)3. A condição de seguir certas regras práticas de emprego, este método ganha um número particularmente elevado de êxitos no tratamento das dismorfosis dentomaxilares classe III. Com o uso de aparelhos clássicos (removíveis ou fixos) se chega com demasia freqüência a resultados incompletos, e recidivas mais ou menos acentuadas, ou às vezes até a fracassos totais, que conduzem ao tratamento cirúrgico na idade adulta3. As correções que se obtém com esta terapêutica são iguais as obtidas com o tratamento cirúrgico ortognático, quando se deseja realizar um avanço da maxila em alguns milímetros, com a vantagem de ser um procedimento não cruento e muito mais econômico 10. Alguns autores têm observado que o retrognatismo maxilar, com muita freqüência se diagnostica clinicamente como um prognatismo mandibular. A retrognatia maxilar se descreve como uma anomalia sagital entre as bases apicais5,11,21, cuja causa se refere em primeira ordem a hereditariedade11, e com menos força os transtornos metabólicos, estados debilitantes e raquitismo, e com um quadro clínico bastante típico, basicamente dado por um perfil côncavo, mordida quase sempre cruzada no setor anterior, a falta de espaço para os dentes na maxila e uma relação de molares em geral de mesioclusão 11. Embora esta discrepância basal quase sempre evoque um prognatismo mandibular, os estudos cefalométricos atinentes ao seu diagnóstico estrutural, evidenciam participação do retrognatismo maxilar na sua composição facial, isolado ou associado ao prognatismo mandibular 21. A relação entre classe III e prognatismo mandibular esteve vigente com ênfase exagerada durante muito tempo. Trabalhos mais recentes, usando métodos cefalométricos, têm mostrado que a retrusão maxilar faz parte do quadro de prognatismo com uma freqüência que varia de 30% a 63% 2. JACOBSON, citado por Lorenzo 15, 1984, estabeleceu que as classes III esqueletais se encontram agravadas por um micrognatismo ântero-posterior da maxila e, também, que estas anomalias de classe III podem ser determinadas pelas seguintes variantes: 9 1 – A mandíbula pode ser demasiada longa em relação à maxila; 2 – A maxila pode ser demasiada pequena em relação à mandíbula; 3 – A maxila pode ter uma retroposição em relação à mandíbula; 4 – A mandíbula pode ter uma posição protruída em relação à maxila; 5 – Uma rotação para adiante (anti-horária) da mandíbula em relação à base craniana, propiciará que o ponto do queixo se mova em uma posição horizontal mais protrusiva, pelo qual pode-se formar uma mandíbula prognata, junto com uma redução da altura facial ínferoanterior. A proporção estatística da má oclusão de classe III não é alarmante, pois não excede em geral a 10% do total das disgnatias11,15,16,21,24, com uma incidência média de 3% em nossa população21, esta anomalia de desenvolvimento tem uma importante repercussão no aspecto psíquico e social do paciente, posto que, um tratamento inadequado em idades precoces ou a ausência deste, pode trazer como resultado a necessidade de uma intervenção cirúrgica maxilo-facial3,11,15,21. A B Fig. 1 – Dois exemplos de máscaras faciais: A – com barras laterais, B – com barras paramedianas. 10 II - REVISÃO DA LITERATURA Embora existam alguns relatos sobre experiências clínicas de mesialização de dentes desde a segunda metade do século XIX, somente após a década de 40 é que se intensificaram os estudos do emprego da tração reversa da maxila na terapia ortodôntica e ortopédica. A revisão da literatura nos revelou que a maioria dos autores suportam a idéia de correção precoce das mordidas cruzadas independente de sua etiologia. Estudos histológicos foram executados inicialmente em Macacus rhesus, por BREITNER*, 1940, citado por Capelozza2, 1990, para avaliar histológicamente as reações teciduais quando da movimentação ortodôntica de dentes posteriores e anteriores na dentadura decídua e mista e sua influência sobre os dentes permanentes. Os resultados comprovaram a migração do germe dentário subjacente e vizinho, cuja direção corresponde àquela das raízes dos dentes predecessores. Posteriormente, esses achados demonstraram em humanos, por MATHEWS**, 1969, citado por Capelozza2, 1990, que o primeiro pré-molar acompanha o movimento ortodôntico translacional do dente decíduo predecessor. Considerando impossível corrigir uma classe III somente por meios ortodônticos, OPPENHEIM***, 1944, citado por Mazzieiro 16, 1995, afirmou que não se * BREITNER, C. The influence of moving deciduous teeth on the permanent sucessors. Amer. J. Orthodont., Oral Surg., 26: 1152-77, 1940. ** MATHEWS, R. Translational movement of first deciduous molars into second molar positions. Amer. J. Orthodont., 55: 276-85, 1969. *** OPPENHEIN, A. A possibility for phisiologic orthodontic movement. Am. J. Orthod. V.30, n.7, p.345-68, July 1944. 11 conseguia, pela mecânica, diminuir ou distalizar a mandíbula, sendo necessária a aplicação de uma técnica que deslocasse a maxila para frente. Deste modo, um aparelho com ancoragem mento occipital, capaz de exercer uma força para anterior na maxila foi descrito por KETTLE & BURNAPP*, 1955, citado por Mazzieiro 16, 1995, que utilizava-se deste aparelho com o objetivo de direcionar o crescimento e normalizar a relação dos incisivos. SICHER**, 1965, citado por Haskel & Faman13, 1985, declarou que o mais importante sítio de crescimento para o desenvolvimento da maxila inclui as suturas frontomaxilar, zigomaticotemporal, zigomaticomaxilar e pterigopalatina (Fig. 2). Sicher notou que estas suturas são paralelas entre si e orientadas de anterior para posterior e de cima para baixo. O crescimento nestes sítios tem o efeito de deslocamento do complexo maxilar para baixo e para frente. É provável que o sucesso na protração facial ortopédica resulta da orientação e disposição favorável das suturas para a direção de arranque. Fig. 2 – A orientação das suturas responsáveis pelo crescimento para frente e para baixo da face. * KETTLE, M. A. & BURNAPP D. R. Occipto-mentual anchorage in the orthodontic treatment of dental deformities due to cleft lip and palate. Br. Dent. J. v.99 n.5, p.11-14, July 1955. ** SICHER, H. Oral anatomy. Fourth ed. pp. 118-112. St. Louis: C. V. Mosby, 1965. 12 Fazendo uso de trações extrabucais com forças pesadas aplicadas em um dispositivo intrabucal fortemente fixado em todos os dentes existentes no arco dentário superior, e com apoio facial anterior, DELAIRE3, em 1968, idealizou e preconizou a utilização da máscara facial ortopédica. Através de estudo transversal, realizado por KUTIN & HAWES*, 1969 e longitudinal, realizado por THILANDER**, 1984, citados por Capelozza2, 1990, também se constatou que quando dentes decíduos em relação de mordida cruzada não são corrigidos, os molares e pré-molares erupcionam em relação de mordida cruzada. Conclui-se, portanto, que a mordida cruzada posterior não tem correção espontânea. Por outro lado, descreve-se na literatura, MATHEWS***, 1969, citado por Capelozza2, 1990, uma correlação positiva entre a correção da mordida cruzada na dentição decídua e a migração na posição adequada dos sucessores permanentes, justificando a sua correção precoce. Associando a mecânica de classe III ou tração reversa à expansão rápida da maxila, HAAS****, 1970, citado por Mazzieiro 16, 1995, demonstrou alcançar um maior deslocamento em direção anterior e inferior quando comparado unicamente à expansão rápida, pois a maxila se apresentava mais móvel e susceptível a atuação ortopédica. * KUTIN, G. & HAWES, R. R. Posterior crossbites in the deciduous and mixed dentitions. Amer. J. Orthodont., 56: 491-504, 1969. ** THILANDER, B. et al. The effect of early interceptive treatment in children with posterior cross-bite. Europ. J. Orthodont., 6: 25-34, 1984. *** MATHEWS, R. Translational movement of first deciduous molars into second molar positions. Amer. J. Orthodont., 55: 276-85, 1969. **** HAAS, A. J. Pelatal expansion: Just the biginning of dentofacial orthopedics. Amr. J. Orthod., v.57, n.3, p.219-55, March 1970. 13 Atenção especial é dada à classe III incipiente por CLIFFORD*, 1971, citado por Capelozza2, 1990, com mordida cruzada anterior envolvendo inicialmente estruturas dento-alveolares e que quando interceptada precocemente favorece o desenvolvimento normal da dentição. Quando postergada a correção, o problema que era de ordem dento-alveolar se desenvolve afetando adversamente estruturas esqueléticas, a maxila e mandíbula. Há também quem preconize a correção da má oclusão na dentição mista, prendendo-se a outros parâmetros. O conceito de que uma posição mais favorável dos dentes decíduos colabora para o desenvolvimento de uma face mais harmônica é antigo, HAHN**, 1955, citado por Capelozza2, 1990, já fazia essa afirmação, suportando a hipótese de que um desenvolvimento global mais adequado da criança, incluindo o rendimento escolar e comportamento, seria reflexo de alterações psicológicas favoráveis introduzidas pelo ganho estético, confirmado também por CLIFFORD*, 1971, citado por Capelozza2, 1990. Por meio de um aparelho constituído de uma mentoneira com ganchos e cuja ancoragem era cervical e craniana, HICKHAM***, 1972, citado por Mazzieiro16, 1995, apresentou um caso clínico empregando a tração reversa. Segundo ele, esta terapêutica possui a finalidade de mover dentes e segmentos ósseos em direção anterior, fechar grandes espaços pela movimentação para anterior dos dentes posteriores, e quando associado a um “splint” maxilar, mover a maxila em direção anterior. * CLIFFORD, F. O. Cross-bite correction in the deciduous dentition: principles and procedures. Amer. J. Orthodnt., 59: 343-9, 1971. ** HAHN, G. W. Treatment in the deciduous dentition. Amer. J. Orthodont., 41: 255-61, 1955. *** HICKHAM, J. H. Reverse Headgear. J. Clin. Orthod., v. 6, n. 1, p. 41-3, 1972. 14 Utilizando dois macacos como amostra e aplicando uma força em direção anterior, DELLINGER*, 1973, citado por Mazzieiro 16, 1995, verificou por meio de implantes metálicos e sobreposições radiográficas, o deslocamento anterior da maxila. Em cada animal instalou-se um aparelho minnie expander e aplicou-se uma força para anterior e paralela ao plano oclusal durante 7 dias. Segundo o autor, um deslocamento anterior da maxila parece possível quando uma força ortopédica para anterior e paralela ao plano oclusal for corretamente aplicada. KAMBARA**, 1977, citado por Mazzieiro 16, 1995, estudou os efeitos da força extrabucal para anterior, encontrando alterações nas suturas envolvidas e um deslocamento no sentido anterior com rotação anti-horária da maxila. Aplicando forças extrabucais para anterior no complexo dento-facial de macacos e observando as áreas de tensão e o efeito do tempo de contenção para a estabilidade dos casos de tração reversa, JACKSON***, 1979, citado por Mazzieiro 16, 1995, observou microscopicamente uma proliferação celular na sincondrose esfeno-occipital, aumento da largura das suturas crânio-faciais e remodelação óssea nos ossos adjacentes às suturas, indicando que as forças extrabucais para anterior, aplicadas à maxila, foram transmitidas às estruturas cranianas. Além disso, os animais apresentaram suave crescimento mandibular, enquanto que na ATM não se observou nenhuma alteração, sugerindo que o deslocamento * DELLINGER, E. L. A preliminary study of anterior maxilary displacement. Amer. J. Orthodont., v. 63, n. 5, p. 509-16, May 1973. ** KAMBARA, T. Dentofacial changes produced by extraoral forward force in the Macaca irus. Amer. J. Orthodont., v. 71, n. 3, p. 249-77, March 1977. *** JACKSON, G. W. et al. Experimental and pos experimental response to anteriorly directed extra-oral in young macaca nemestrina. Amer. J. Orthodont., v. 75, n. 3, p. 318-33, 1979. 15 maxilar não influenciou a mandíbula ou a ATM. Por fim, o grau de recidiva foi diretamente proporcional ao tempo de contenção. DELAIRE ET AL.4, 1979, relataram que o equilíbio do maxilar superior em relação aos outros ossos do esqueleto craniano e o equilíbrio das unidades e estruturas esqueléticas deste maxilar, entre elas, depende de numerosos fatores, constitucionais e funcionais: tamanho e forma da base anterior do crânio, estática craniofacial e funções orofaciais. Neste equilíbrio, a orientação do maxilar superior, em relação à base do crânio, desempenha um papel fundamental. As forças ortodônticas e ortopédicas ântero-posteriores, com apoio occipitocervical ou ântero-anteriores (com máscara facial) podem modificar esta orientação e, por conseguinte, melhorar o mau equilíbrio maxilar das classes II e III de Angle. BUÑO*, 1979, citado por Lorenzo 15, 1984, considera que quando o tratamento é precoce, ainda os casos de origem hereditária ou transmitidos geneticamente, com meios ortopédicos se atenua as discrepâncias e gera as condições funcionais de estímulo ao crescimento do maxilar superior. Deste modo, diminue a gravidade resultante de uma mandíbula superdesenvolvida e uma maxila em hipocrescimento. A síndrome do prognático, MOYERS**, 1983, citado por Garcia Revalderia10, 1990, descreve como uma associação de sinais, tais como uma insuficiência maxilar conjugada com um excesso mandibular, associado a uma língua em posição baixa (glossoptosis). É necessário reeducar a língua em sua postura e reorientar sua pressão para * BUÑO, I. Los prognatismos mandibulares. Critérios y métodos de tratamento. Rev. Cub. Ortod. 1979, 1:1-21. ** Symposium Honoring Prof. Robert E. Moyers: Clinical alteration of the growing face. Michigan, Craneofacial growth series, monograph number 14, 1983, p. 63. 16 cima e para frente, para produzir uma mudança total devido a modificações dos hábitos linguais, deixando assim de ser uma causa de anomalia morfológica e sim tenderá a sua correção. Isso deve ocorrer ao mesmo tempo que a correção morfológica da anomalia dentofacial, a fim de permitir a compatibilidade volumétrica e o espaço disponível para a língua. HASKEL & FARMAN13, 1985, relacionam uma possibilidade maior de sucesso no tratamento do retrognatismo maxilar com a visualização e evidência da sutura da pré-maxila-maxila, através de exames radiográficos e ou tomografias computadorizadas, pois, seria esta uma importante área de estimulação adicional para remodelação da pré-maxila. A B Fig. 3 – A – Presença da sutura pré-maxila-maxilar em crânio seco infantil. B – Ausência da sutura pré-maxilamaxilar em crânio seco adulto. HATA*, 1987, citado por Mazzieiro 16, 1995, estudou os efeitos da deformação no crânio humano, resultantes das forças de tração reversa aplicadas na maxila, por meio de manômetros de esforço e transdutores de deslocamento. Utilizando-se de um crânio seco de um jovem de aproximadamente 12 anos, aplicou-se forças de protração nas seguintes regiões: (1) na altura do arco superior, (2) 5 mm acima do plano palatino e (3) 10 mm acima do * HATA, S. et al. Biomechanical effects os maxillary protraction on craniofacial complex. Amer. J. Orthodont. Dentofacial Orthopedics, v.91, n.4, p.305-11, Apr., 1987. 17 plano de Frankfurt. Em todos os casos observou-se rotações do complexo maxilar, além de uma constrição da porção anterior do palato, e concluiu que as forças de protração aplicadas paralelamente ao plano oclusal e ao nível do arco superior, provocaram uma rotação antihorária e um movimento anterior da maxila. Para se evitar esta rotação, os autores utilizam um vetor de força para baixo e para frente, o que também é recomendado por HICKHAM14, 1991. Infelizmente, a aplicação de forças sobre os elementos dentários limita o potencial de mudanças ortopédicas e freqüentemente provoca movimentos indesejáveis nos mesmos. Utilizando implantes de titânio colocados em ossos faciais, SMALLEY*, 1988, citado por Mazzieiro16, 1995, constatou que eles promoveram ancoragem estável para a protração do complexo maxilofacial, produziram um movimento para anterior deste complexo, sem alterações significantes no complexo dentoalveolar, e que 80% da movimentação esquelética foi mantida após a remoção da tração, sugerindo que este tipo de tração possa ser utilizado no intuito de se obter melhores resultados. VALENTE25, 1989, através de estudo realizado com crianças brasileiras com idade entre 9 a 13 anos, estudou o grau de prognatismo facial considerando as relações entre os ângulos SNA e SNB com o ângulo da flexão da base do crânio (NSAr e NSBa). Observou que existe uma correlação, estatisticamente significativa, entre o ângulo da flexão da base do crânio NSAr ou o NSBa com os ângulos SNA e SNB, podendo este influir diretamente na relação sagital das bases apicais, tanto na maxila como na mandíbula. * SMALLEY, W.M. et al. Osseointegrated titanium implants for maxilary protraction in monkeys. Amer. J. Orthod. Dentofacial Orthopedics, v.94, n.4, p.285-95, Oct., 1988. 18 Avaliando o efeito biomecânico da força extrabucal em direção anterior, por meio do método do elemento finito, TANNE et al.22,23, 1989, constataram que alterando-se as direções de aplicação de forças de protração observava-se variados padrões de deslocamento do complexo maxilar e que uma força aplicada em 45 º graus para baixo levava a um reposicionamento igual do complexo maxilar tanto na direção horizontal quanto na vertical. CANUT1, 1990, estudando os efeitos da protração maxilar pela medição através do laser, apreciou deformações em cada estrutura craniofacial diferente, com efeitos no arco dental, no malar, na maxila, osso nasal, processo pterigóide do osso esfenóide, e nos ossos da abóboda craniana (frontal, esfenóide, temporal e occipital). Deformações são também percebidas nos ossos da órbita. Utilizando-se forças de 500g, pode-se encontrar deformações em ossos distantes do ponto de tração aplicado. SALAGNAC20, 1991, relatou que as insuficiências maxilares ânteroposteriores apresentam freqüentemente uma insuficiência de posição da arcada superior, representada pela falta de espaço para os caninos superiores, e que trações póstero-anteriores da máscara facial ortopédica aplicadas diretamente sobre os incisivos superiores, permitem obter o espaço necessário para o posicionamento dos caninos superiores. GRANDORI12, 1992, utilizando modelos matemáticos de estudo para avaliar as forças ortopédicas da máscara facial, concluiu que a variação do desenho geométrico da máscara facial (altura do apoio frontal e/ou mentoniano), não influenciam fortemente os resultados finais obtidos, porém, o ângulo formado pela linha de ação da força externa e o plano oclusal, é um parâmetro decisivo para se determinar indesejáveis rotações anteriores da maxila, e porque o queixo é até certo ponto sensível à mudanças na 19 direção de força desta variável. FABRI, 1995, em monografia sobre a expansão rápida da maxila relata que, é uma técnica que tem sua indicação em todos os casos de classe III, dando maior equilíbrio, melhor estética e maior facilidade de trabalho, pois deixa a maxila solta para facilitar a protração anterior, corrigindo as mordidas cruzadas posteriores e a falta de desenvolvimento transversal na retrognatia maxilar. SILVA FILHO21, 1995, através de estudo sobre má oclusão de classe III, relata que a utilização da tração reversa da maxila, baseia-se na possibilidade de se influenciar positivamente na remodelação dos ossos da face média, antes da maturidade esquelética, com a aplicação de forças extrabucais pesadas em direção anterior. A protração maxilar atua, principalmente, nos locais de crescimento do complexo nasomaxilar. Estudos experimentais têm demonstrado um deslocamento anterior significante (1 a 4 mm) do complexo nasomaxilar, acompanhado de alterações significantes nas suturas crâniomaxilares (frontomaxilar, zigomaticomaxilar, palatomaxilar, pterigopalatina, zigomaticotemporal) e na tuberosidade maxilar. A estabilidade dos efeitos tem relação direta com o período de contenção DELAIRE8, 1997, conclui que a tração póstero-anterior usando a máscara facial ortopédica, pode apenas concluir parte do tratamento da classe III, melhorando a posição e orientação da maxila, tornando possível melhorar o desenvolvimento facial, mas se faz necessário a complementação por outras terapias funcionais para o desenvolvimento das regiões ântero-laterais (peri-prémaxila) da face média, que requerem normalização da postura muscular (labial, mentoniana, lingual, velo-faríngea) e das funções orofaciais (respiração nasal, deglutição, mastigação, fonação, etc.). 20 III - PROPOSIÇÃO O tratamento da classe III (retrognatismo maxilar e ou prognatismo mandibular), principalmente quando sua origem provém de fatores esqueletais, é bastante complexo e de longa duração. O profissional está lutando contra o padrão esqueletal e a direção de crescimento, dos elementos que nem sempre se podem controlar com a terapia ortodôntica e ortopédica por mais oportuno que seja o tratamento. Na maioria dos casos, para que os resultados satisfaçam plenamente os anseios do profissional e do paciente, a terapia deve ser combinada, ortodôntica-cirúrgica. A proposta deste trabalho é de discorrer sobre uma técnica de tratamento, que possa alterar o prognóstico desta anomalia de desenvolvimento facial, contribuindo com o nosso arsenal terapêutico no intuito de proporcionarmos ao nosso paciente, uma condição de tratamento menos traumática, mais econômica e funcional, e que possa atuar o mais precocemente possível, para poupá-lo de todas as mazelas que poderia sofrer com um crescimento e desenvolvimento anômalo. Será analisado a seguir o uso da máscara facial (tração reversa da maxila), principalmente em seu embasamento biológico, fisiológico e modo de ação das forças fortes póstero-anteriores empregadas pela técnica, aprofundando no conhecimento de seus princípios biomecânicos, diagnóstico diferencial e associação com a expansão rápida da maxila, com o objetivo de registrar e transmitir um conhecimento embasado clínica e cientificamente, através de todos os trabalhos e experiências relatadas na revisão da literatura, possibilitando aos profissionais que quiserem fazer uso deste simples, porém extremamente eficaz recurso terapêutico ortopédico, o conhecimento da aparatologia empregada e de suas aplicações clínicas. 21 IV - BASES TEÓRICAS E FISIOLÓGICAS DA TÉCNICA3 A eficácia particular do tratamento por meio da máscara facial ortopédica, provém do feito de que está baseada em quatro propriedades fundamentais do crescimento facial: a) As variações de orientação da maxila, com relação à base craniana ( e por outro lado a mandíbula) como conseqüência da existência de uma verdadeira articulação fronto-maxilar. b) As mudanças de situação e orientação das arcadas alvéolo-dentárias (e especialmente a arcada alvéolo-dentária superior) em suas bases suportes, sob a influência das forças que se exercem sobre elas. c) As variações de crescimento da pré-maxila, segundo as condições funcionais as quais está submetida. d) O desenvolvimento particular da cartilagem condiliana: crescimento adaptativo, regido essencialmente pelas condições locais, biodinâmicas, que são transmitidas para a mandíbula e seu sistema de movimentação meniscopterigoideano lateral. Cada uma destas propriedades deve ser detalhada: 1º - Variação da orientação do maxilar com respeito a sua base craniana e a mandíbula: Resulta da existência de uma verdadeira articulação, de natureza membranosa, situada a nível das suturas frontomaxilares (articulações frontomaxilares). No feto e no recém-nascido, existe a esse nível uma verdadeira fontanela frontomaxilonasal. Na criança pequena, o estreitamento da extremidade superior dos ramos ascendentes maxilares, associada a ossificação incompleta do ganchoso, favorece os 22 movimentos especialmente a báscula do maxilar ao redor de um eixo transversal que une as duas articulações frontomaxilares. A orientação geral da maxila (formada por dois ossos maxilares superiores unidos por sua base), é assim regulada pelo equilíbrio das estruturas que a rodeiam. Na infância, logo na adolescência, esta orientação tende a fixar-se como conseqüência da ossificação das suturas faciais, levando em conta que a altura dos ossos maxilares (a nível de seus ramos e fracas variações de sua orientação) podem acarretar importantes modificações de situação nos dentes superiores (Fig. 4). Fig. 4 – Uma variação da angulação da maxila em mais ou menos 2º, com relação a sua orientação normal, a converte em prognata ou retrognata. Notamos também que as suturas frontomaxilonasais e maxilopalatinas, submetidas às forças da mastigação, estão incompletamente soldadas na idade adulta e que a situação da articulação frontonasal debaixo do seio frontal, favorece os movimentos de báscula. O crescimento e avanço maxilar depende dos seguintes movimentos (Fig. 5) que vai realizar: - crescimento sagital: movimento de avanço, junto a sua base de implantação frontal (a) e pela rotação maxilar anterior (b); 23 - crescimento vertical: por abaixamento da maxila (c); - crescimento transversal: espaçamento dos maxilares superiores (d). Fig. 5 - Movimentos responsáveis pelo crescimento maxilar. A orientação da maxila durante o crescimento pode assim variar, logo fixar-se sob a influência do equilíbrio das forças que se exercem sobre ela, em particular sobre sua parte básica, alvéolo-dentária (por ação da língua, dos lábios, da mastigação). Normalmente a bigorna maxilar se orienta de tal forma que recebe as melhores condições mecânicas, os golpes do martelo mandibular. O pilar anterior maxilar, constituído pelos ramos verticais de reforço da apófise ascendente do maxilar superior, está então dirigido de tal forma que sua prolongação para baixo passa pela sínfise mentoniana (pelo ponto mentoniano ósseo). Em caso de desequilíbrio facial (em certas dismorfoses dentofaciais), a maxila está anormalmente protruída ou retruída (Fig. 6). Em ausência de compensação alvéolo-dentária, é que resultam transtornos oclusais (onde a importância varia em função da longitude da base do crânio, a altura maxilar, a longitude e a orientação da mandíbula). Nota-se, por outro lado, que no caso particular de um paciente operado de uma fissura lábio-maxilar total com divisão palatina, a união interna dos fragmentos maxilares agravam a regressão da parte anterior do maxilar. 24 A B C Fig. 6 - A – Exemplo de face equilibrada: o eixo da apófise ascendente maxilar (pilar anterior da face) passa um pouco adiante da cortical posterior da sínfise mentoniana. B – Exemplo de dismorfose dento-maxilar de classe II, divisão I, com inclinação para frente do pilar anterior da face. C – Grave dismorfose dento-maxilar de classe III. O eixo das apófises ascendentes maxilares passa muito por trás da sínfise mentoniana. As trações extraorais pesadas exercidas de trás para frente sobre a maxila (por intermédio da arcada dentária e graças ao emprego da máscara ortopédica), constitue um meio realmente eficaz para reduzir as básculas maxilares posteriores (e a união interna dos fragmentos ósseos das fissuras lábio-maxilares). 2º - Mudanças de situação e de orientação das arcadas alvéolo-dentárias sobre suas bases maxilar ou mandibular, segundo as forças que se exercem sobre elas. A realidade, e as vezes a importância das variações de altura dos dentes e do osso alveolar que os suporta, com respeito as suas basais, maxilar ou mandibular, é bem conhecida e se sabe que as intrusões ou extrusões dos molares e pré-molares superiores (especialmente), podem ser de grande amplitude e rapidez. Sem dúvida, a situação destes dentes por baixo dos seios maxilares, favorece esses deslocamentos verticais. Podem também existir deslocamentos ântero-posteriores para frente ou para trás, do conjunto de dentes de uma arcada; este último pode ser então considerado como uma verdadeira unidade esquelética. 25 Esses deslocamentos, para frente (comprovados pela redução da distância entre os ápices dentários e a espinha nasal anterior), podem ser obtidos pelas trações com a máscara ortopédica. A oscilação da arcada dento-alveolar superior e do plano oclusal desta arcada, são também possíveis. 3º - Variações do crescimento da pré-maxila, segundo as condições funcionais a que está submetida: Apesar de não ser uma peça esquelética, a pré-maxila permanece separado parcialmente da maxila pela sutura incisivo-canina, que perdura durante vários anos na criança, e possui particularidades de crescimento bem especiais e necessita especialmente: 1 – Relações oclusais normais: boas relações e funções dos caninos e incisivos; 2 – Um bom equilíbrio morfofuncional labiolingual. A perda destas boas condições funcionais, nas classes III, acarreta uma insuficiência do crescimento pré-maxilar, onde os efeitos se unem ao desencaixe das bases ósseas. A redução tão rápida como é possível desse desencaixe e a manutenção em boa posição da maxila durante um tempo suficiente (este, graças à máscara ortopédica), volta a dar à pré-maxila melhores condições funcionais e, por conseguinte, melhora seu próprio crescimento (o qual pode até compensar integralmente suas insuficiências anteriores). Esta noção do melhoramento secundário do crescimento da maxila e da pré-maxila (depois da redução de seu desencaixe em relação à mandíbula) e o regresso a boas funções de oclusão, mastigação, deglutição, etc., é fundamental para compreender e analisar os resultados que se obtém nas classes III e pela máscara ortopédica. 4º - Propriedades adaptativas do crescimento da cartilagem condilar: 26 Muito diferente das outras cartilagens de crescimento, especialmente das cartilagens de conjugação dos ossos longos (nos quais o crescimento é resultado sómente por fatores constitucionais e humorais), as propriedades adaptativas do crescimento da cartilagem condília dependem essencialmente de particularidades anatômicas da mesma. 1) – Existência de duas capas distintas, prolongando aquelas do periósteo do colo condílio; - Capa fibrosa superficial - Capa profunda mitótica 2) – Aspecto particular desta capa profunda, formada não por condroblastos diferenciados, e sim por células jovens não diferenciadas em condroblastos, e que por esta razão se chamam pré-condroblastos, que não estão dispostos em capas seriadas, como os condroblastos das cartilagens diafisoepifisários. 3) – Correções estreitas entre o periósteo pericondíleo, e a cartilagem condilar, o menisco intraarticular e facias do músculo pterigoideo lateral. A ação freadora ou excitadora dos fatores locais sobre a quantidade do crescimento condíleo, tem sido demonstrada por numerosas experimentações animais, transplantações ou cultivos organotípicos, de côndilos e observações clínicas (ortodônticas e cirúrgicas). As ações locais, transmitidas à cartilagem condílea podem, por outro lado, modificar a direção de crescimento (as ações sobre a quantidade e direção podem, evidentemente, agregar-se e conjugar suas conseqüências). Em resumo, está agora demonstrado que a cartilagem condílea não tem um crescimento autônomo, predeterminado (em quantidade e direção) e não sujeito a apenas conformação e orientação da mandíbula; ao contrário, é o deslocamento para baixo e para frente desta, durante o crescimento facial que produz o crescimento compensador da cartilagem condílea. Se o deslocamento para baixo e para frente é mudado (exagerado, freado ou mal dirigido), resultará em uma modificação do crescimento mandibular. 27 V - MODO DE AÇÃO E EFEITOS DAS FORÇAS FORTES PÓSTERO-ANTERIORES NO ESQUELETO FACIAL As pesquisas clínicas e experimentais tem mostrado que estas forças agem diretamente: sobre a maxila, a arcada dentoalveolar superior, a mandíbula, e indiretamente: sobre os outros elementos do esqueleto facial e das funções orofaciais 6, promovendo modificações que podem ser de dois tipos20: as imediatas, visualizadas por mudanças de aspecto radiográfico de certas estruturas maxilares e mandibulares (SNA, SNB, SND e ANB), e as secundárias que traduzem as mudanças de situação dos elementos esqueléticos e dentários sob o efeito das trações, e que são observadas nos meses e anos seguintes, sendo o reflexo de novas condições da atividade das diversas funções orofaciais, e do novo equilíbrio craniofacial. - A maxila: quando submetida a uma força se desloca para frente, para cima ou para baixo, sendo que esta rotação depende do ponto de aplicação e linha de força 2,3,6,7,12,16-18,20,22,23, tendendo a bascular para frente, abrindo o ângulo formado com a base anterior do crânio. Este movimento, é uma resposta secundária à aplicação de forças no sentido anterior 6 e, não obstante, é condicionado pela abertura e a persistência da atividade das suturas membranosas que unem a maxila com os outros ossos que a circundam. Ocorre rapidamente, pois atua no mesmo sentido do processo normal de crescimento 3,4,6,7,8,10,13,16,18,21. Portanto, isto é mais confortável no paciente mais jovem. Inversamente, isto é impossível em idades avançadas (pelo menos em condições clínicas), e no caso de crânio-facio-estenose (fracasso total nas síndromes de Crouzon, por exemplo)6,7. O valor de SNA aumenta em média 3º, com uma variação máxima de 7º já registrada, sendo que, o aumento de 1º de SNA, corresponde a um avanço de 1 mm do ponto A20. Secundariamente, essas modificações na maxila se traduzem por um 28 remodelamento progressivo da região alveolar do ponto A, com modificações da concavidade, uma aparição progressiva das raízes anteriores do pilar anterior maxilar (testemunho de uma função incisivo-canina restabelecida), que aparece mais denso e mais completo e modificações da curvatura do orifício piriforme. - A arcada dentoalveolar superior: é também deslocada para frente e migra com a sua base maxilar2,3,6,10,16,17,20,21. Isto é possível graças ao fenômeno de aposição e reabsorção nos ligamentos dentoalveolares. Esta migração é mais rápida na criança jovem, mas é ainda possível mais tardiamente, notadamente na adolescência e no adulto (mas em um grau bem menor) 6. Pode se observar também, uma tendência de constrição do arco superior, com inclinação para vestibular dos incisivos e extrusão dos dentes póstero-superiores, dependendo do ponto e linha de aplicação de força2,3,16,,18,21. - A mandíbula: rebatida para trás sob a influência da pressão mentoniana, tende também a modificar sua direção de crescimento (rotação horária da mandíbula) 2,6,17,18,20,21; talvez exista também uma redução do seu crescimento, particularmente ao nível da cartilagem condiliana2,5,6,7,8,21. É observado a inclinação lingual dos incisivos inferiores2,16,21. No valor de SNB, observa-se uma tendência de redução deste ângulo de 0 a 2º (valor médio 1º), com uma redução máxima de -6º; o SND tende a ter uma redução de igual amplitude que o SNB. Isto traduz um efeito de retrocesso e descenso da mandíbula sob o efeito das trações. A redução de SNB associada a um aumento de SNA, ocasiona uma normalização do valor do ângulo ANB. Secundariamente, essas modificações se traduzem na mandíbula por uma remodelação da face anterior da sínfise mentoniana, com aparição de uma nova concavidade da zona do ponto B, que se modela sob a ação do lábio 20 (Fig. 7). - Os outros elementos do esqueleto facial: são igualmente modificados, porém, indiretamente: mudanças de posição e forma das peças esqueléticas mobilizadas, acontecem pelas modificações funcionais. Esta noção muito importante deve ser bem entendida: toda dismorfose 29 Fig. 7 – As trações póstero-anteriores exercem sua ancoragem dentária, basculando a maxila para frente. A ação sobre a mandíbula que, no caso de tração paralela ao plano de oclusão, é inversamente basculada para baixo e para trás. dentofacial, em todas as suas variações, traduz em efeito um equilíbrio (patológico) entre a forma do esqueleto, a situação e a postura dos tecidos moles, e das funções orofaciais (cuja sustentação é ao mesmo tempo do esqueleto e dos tecidos moles). Assim, nas dismorfoses de classe III, a maxila está muito para trás e muito pequena em proporção à mandíbula e à língua (e vice-versa). As anomalias mandíbulo-linguais podem ser a origem das anomalias maxilares, ou inversamente. Qualquer que seja, uma vez as anomalias esqueléticas e funcionais constituídas e equilibradas, é necessário, para passar da etapa patológica à uma etapa normal, normalizar ao mesmo tempo as formas e as funções: 1) a forma e a posição relativa da maxila, da mandíbula, de suas arcadas; 2) as funções de mastigação, deglutição, respiração, postura e movimentos de todos os tecidos moles: língua, músculos naso-lábio-genianos e lábiomentoniano, etc. A melhoria do esqueleto, sob as influências das forças ortopédicas, favorece essas funções. Assim, o avanço da maxila que aumenta a capacidade da abóboda palatina, permite à língua subir e se liberar do arco mandibular, agindo assim mais na maxila (favorecendo o crescimento, notadamente da sua região anterior, a pré-maxila) e menos na 30 mandíbula. A direção e a quantidade de crescimento desta, tende portanto, a se modificar; paralelamente, a arcada dentoalveolar tende a se normalizar assim como a região do ponto B. Esta melhora da forma, secundária à melhora das funções, favorece ainda a melhora desta. Um círculo favorável se estabelece, conduzindo à normalidade anatômica e funcional (novo estado de equilíbrio normal e estabilidade), que é a meta de todo tratamento ortodôndico e ortopédico. Mas, isto não pode ser obtido sem que, depois desta normalização, não exista mais nenhum fator deformante, suscetível a novas deformações. No caso da persistência destes fatores deformantes, novas deformações e disfunções serão provocadas, então indubitavelmente, a recidiva poderá ser total. Outros efeitos observados são o aumento do terço inferior da face, deslocamento do nariz para frente com conseqüente aumento da convexidade do perfil2,26, preenchimento progressivo dos sulcos nasogenianos e das regiões malares suborbitárias20. Outras manifestações secundárias à distância, tem sido observadas, principalmente ao nível da base do crânio, com mudanças de orientação do clívus esfenoidal com respeito ao clívus occipital, ao redor da sincondrose esfeno-occipital1,20. Isto demonstra que ainda não são conhecidos todos os efeitos provocados pela ação da máscara facial ortopédica, que parece desencadear um cataclismo sutural cuja totalidade das repercussões a distância são, todavia, desconhecidas. Todas estas modificações provocadas pelos efeitos das forças fortes póstero-anteriores, e suas variações mais importantes, se observam nos pacientes mais jovens (antes dos 9 anos de idade), havendo então, um grande interesse em aplicar o mais precocemente possível estas trações. Nos pacientes com mais idade, as modificações da orientação maxilar tem sido pouco importantes, quase nulas. A ação obtida foi sobre o avanço de toda a arcada dentoalveolar superior. 31 Estas modificações proporcionadas por este tratamento, nos mostra que, principalmente se aplicados em idades mais precoces, transforma completamente a noção de desarmonia dentomaxilar e condena as extrações de pré-molares superiores, nos pacientes com insuficiências maxilares ântero-posteriores20. Fig. 8 – Ação das trações com a máscara em uma classe III com retro-maxilia e mandíbula normal: Estado no começo do tratamento - retro-maxilia - braquipremaxilia - retro-alveolia superior - linguo versão dental superior Os efeitos das trações A harmonização secundária - báscula para frente da maxila - equilíbrio maxilo-mandibular - avanço da arcada alveolar superior - crescimento pré-maxilar - controle do crescimento condílio (em idades jovens) - normalização das versões dos dos incisivos Fig. 9 – Ações das trações com a máscara em uma classe III com retro-maxilia e prognatismo mandibular: Estado no começo do tratamento - retrognatia maxilar - braquipremaxilia - vestíbulo versão dental superior - prognatia mandibular - báscula do ramo ascendente mand. com abertura do ângulo goníaco - linguoversão incisivos inferiores Os efeitos das trações - báscula para frente da maxila - avanço da arcada alveolar superior - freio do crescimento condílio e modificação da direção (tratamentos prolongados) - Note-se as versões dentárias: lingual superior e vestibular inferior A harmonização secundária - equilíbrio maxilo-mandibular - mudança de direção do crescimento condilar - formação do ângulo goníaco - ascensão do mento ósseo - reparação da concavidade do ponto B 32 VI - APARATOLOGIA: CARACTERÍSTICAS E CONFECÇÃO Existe uma diversidade de aparelhos que se aplicam à tração reversa, mas os tipos mais utilizados são a mentoneira com ganchos de Hickham (Sky Hook) e a máscara facial16. O Sky Hook é um aparelho com ancoragem extrabucal occipital, constituído por um apoio de resina acrílica na região do mento (mentoneira) da qual saem duas hastes verticais paralelas à linha mediana. Neste tipo de aparelho a força é dissipada no mento, sendo indicada nos casos onde a necessidade de ação sobre a mandíbula é maior 16. As máscaras faciais, em geral, apresentam dois pontos de apoio na face: mento e testa, deixando a área do malar livre para um possível reposicionamento anterior. Esses apoios são confeccionados em acrílico e revestido com tecido almofadado 3,10,11,16,21. A vantagem destes dois pontos faciais de apoio é a estabilidade mecânica, permitindo a utilização de elásticos com maior magnitude de força, sem nenhuma deflexão do aparelho, o que não ocorre com as mentoneiras modificadas (Sky Hook) 21. De acordo com o desenho empregado na confecção da máscara, ou do autor, as barras verticais que unem esses apoios faciais podem variar em número e formato. DELAIRE3, 1979, (Fig. 10), utiliza duas barras verticais paramedianas (colocadas paralelamente ou a alguma distância da parte média da face), ou laterais, que unem os apoios frontal e mentoniano, este último, podendo variar em relação à face; uma barra horizontal ligada às barras verticais, cuja altura em relação ao plano oclusal pode variar, e com ganchos ou dispositivos rosqueáveis para a colocação dos elásticos para realização da tração extrabucal. 33 A B Fig. 10 – A - Máscara facial ortopédica de J. Delaire, e B - sua aplicação na face. PETIT*, 1983, citado por Garcia Revalderia11, 1993, utiliza semiarco frontal único que deverá ser posicionado paralelo à linha mediana da face (Fig. 11); possui uma barra transversal ondulada, para apoio dos elásticos de tração, e que pode ter a altura regulável em relação ao plano oclusal, com possibilidade de regulagem dos apoios frontais e mentoniano. Fig. 11 – Máscara facial modificada de Petit. * PETIT, H. Adaptations following accelerated facial mask therapy. Michigan, 1983. (Monograph number 14). 34 Para qualquer tipo de máscara facial, é necessário um dispositivo de ancoragem intrabucal na maxila, que pode ser fixo (mais indicados e mais usados) ou removível, para localização do ponto de apoio de força. DELAIRE 3,7, preconizou a utilização de um dispositivo de ancoragem dentária fixo, feito de um arco duplo vestibular e lingual, de fio redondo 0,8 mm, contornando todos os dentes do arco dentário, pela vestibular e pela lingual, soldado à duas bandas nos primeiros molares permanentes (Fig. 12). Outros tipos de aparelhos fixos poderão ser utilizados como disjuntores (Haas, Hyrax, McNamara, Quadrihélice, Bi-hélice, etc.)2, e aparelhos removíveis como placas encapsuladas com parafuso, desde que bem adaptadas e retentivas. Fig. 12 – A - Vista oclusal do arco duplo de VERDON. B – Vista lateral e ação sobre o 1º molar permanente e variação no plano de força aplicado. Existe uma relação direta entre a intensidade das forças e a superfície de apoio cutânea, pois, quanto maior a superfície de apoio, a força se distribuirá mais e será mais tolerável. Isto sugere que o apoio frontal e mentoniano devam ser o mais amplo possível. Porém, existe outro inconveniente, no caso das máscaras fabricadas de uma só peça, que são rígidas, não permitem os movimentos da mandíbula, e sobre a qual está apoiada, de tal forma que ao abrir a boca o paciente arrasta a máscara para baixo e o apoio frontal se desloca, com o risco de molestar a área dos olhos11. É por isso que se reduz o diâmetro do apoio frontal, o 35 mais distante possível das sobrancelhas. Para resolver esta dificuldade, se criaram em 1980 as máscaras dinâmicas, que são mais simples e funcionais. Máscaras Dinâmicas11: Podem apresentar deslizamento frontal ou mentoniano, unidos por uma curva central única. Isto as fazem suficientemente confortáveis e com uma melhor adaptabilidade por parte dos pacientes, pois poderão dormir de lado, assim como permitem os movimentos de abertura e fechamento mandibular (Fig. 13). Também possibilitam aumentar a superfície do apoio frontal, o que favorece uma maior tolerância para a intensidade da força que iremos aplicar. Fig. 13 – A – As máscaras dinâmicas são suficientemente confortáveis e tem uma boa aceitação. B – Os pacientes podem dormir de lado e realizar movimentos de abertura e fechamento com relativa facilidade. Outro dos problemas encontrados no início da fabricação das máscaras clássicas, era de ter que realizar previamente uma máscara do paciente, sobre a qual se confeccionava a mesma; este método resultava um tanto embaraçoso, já que os pacientes, por serem crianças, não prestavam a cooperação suficiente. Posteriormente se fizeram máscaras sem moldar a zona nasal, e então se obteve uma melhor cooperação. Outro dos métodos na 36 fabricação da máscara, foi o de confeccionar todos os elementos diretamente sobre a face do paciente; isto junto ao desenho escolhido, trazia como conseqüências várias provas, que aumentaram o número de visitas e o tempo do paciente nas sessões. Com o método da confecção da máscara dinâmica, se resolveram alguns dos inconvenientes anteriores. Passos na Confecção da Máscara Dinâmica: 1 – Na primeira visita, se realiza uma moldagem do paciente da fronte e do mento com cubetas pré-fabricadas; 2 – No laboratório, se obtém os modelos em gesso, sobre os quais se traçam os limites dos apoios frontal e mentoniano, para sua posterior confecção em acrílico; 3 – Também se procederá a confecção da argola, que será introduzida no apoio mentoniano, com fio 1,0 mm, e sobre a qual deslizará a curva central (Fig. 14). 5 – A curva central será de fio 1,5 ou 1,8 mm, e seu extremo superior se dobrará em forma de T, onde irá se encaixar em dois tubos fabricados com tiras metálicas de bandas, que serão introduzidas dentro do acrílico do apoio frontal e permitirão o deslizamento da curva para anterior, segundo o desejado para cada caso em particular, e sem Ter a necessidade de prová-la no paciente para sua fixação (Fig. 15); 5 – Na Segunda visita do paciente, se medirá a altura a qual será colocado o arco pré-labial, de acordo com a força de tração desejada em cada paciente individualmente, e se procederá a solda deste arco à curva central, para finalizar a confecção da máscara (Fig. 16). Hoje em dia não se confecciona mais clinicamente por motivos axiomáticos: tempo de cadeira, desconforto para o paciente e qualidades similares em relação às disponíveis no mercado21. Essas máscaras são encontradas prontas no mercado, mesmo na indústria nacional. 37 Fig. 14 – No apoio mentoniano se introduz uma argola de fio 1,0, por onde deslizará a curva central nos movimentos de abertura e fechamento. Fig. 15 – Se propõe articular, como mostra a figura a curva central com o apoio frontal. Com isso se pode proporcionar mais dinamismo à máscara (se torna menos rígida) e mais cômoda. Além do mais, se confecciona esta parte sem necessidade de provas, pois se adapta a qualquer paciente. Fig. 16 – Máscara facial dinâmica terminada. Na Segunda visita do paciente só é necessário posicionar e soldar o arco pré-labial. 38 VII - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL PARA DETERMINAR O USO DA MÁSCARA FACIAL ORTOPÉDICA Para se realizar o diagnóstico diferencial, além do exame clínico intra e extrabucal, é necessário a avaliação de exames radiográficos complementares, onde se tem como base o estudo da telerradiografia e as medidas cefalométricas, radiografia carpal de mão e punho, para análise da direção do crescimento e maturação esquelética 18,26. Análise da Estética Facial: Observa-se no aspecto frontal a proporcionalidade entre os terços faciais, simetria das hemifaces, vedamento labial (condições da musculatura perioral) e postura da cabeça em relação ao corpo e pescoço. Lateralmente, observa-se o contorno facial (convexidade ou concavidade), as proporções dos terços faciais, os ângulos nasolabial e queixo-pescoço, inclinações da cabeça em relação à coluna cervical e o vedamento labial. É uma característica peculiar dessa anomalia um perfil mole deprimido a nível da base do nariz, e uma relação labial invertida, ou seja, o lábio superior se posicionando atrás do lábio inferior, devido à retroposição ou retrognatia maxilar, determinando um perfil côncavo facial. A região malar pobre revela a deficiência de face média e o excesso no comprimento da linha queixo-pescoço, denuncia o prognatismo mandibular. 39 Análise Intrabucal: Será analisado principalmente a relação sagital dos arcos dentários, observando-se a relação de molares e caninos (classificação de Angle), trespasse horizontal e vertical a nível de incisivos, compressões maxilares e mandibulares, presença de mordidas abertas ou cruzadas, anteriores ou posteriores, parciais ou totais, postura e tonicidade da língua e também as funções orais como respiração, mastigação, deglutição, fonação, sucção, etc. Análises Radiográficas: A radiografia ortopantomográfica (panorâmica) é importante para observação da presença ou ausência de anormalidades dentárias e estruturais. Através da telerradiografia de perfil e das análises cefalométricas, observa-se as características esqueletais crânio-faciais do paciente, principalmente, as relações basais sagitais da maxila e da mandíbula em relação à base do crânio e entre si, bem como as suas proporções longitudinais, a inclinação da base do crânio, o biotipo facial, a tendência de crescimento, as relações dos arcos dentários com suas bases apicais e entre si. As análises cefalométricas mais utilizadas para esse diagnóstico são as que proporcionam avaliação do crescimento e relacionamento basal, e possibilitam avaliar a tendência do crescimento esqueletal, que são: Björk-Jarabak, J.Delaire, padrão USP, Bimler, McNamara e o eixo Y de Downs. Os estudos cefalométricos atinentes ao diagnóstico estrutural dessa anomalia, evidenciam a participação do retrognatismo maxilar na sua composição facial, isolado ou associado ao prognatismo mandibular, e, na determinação do posicionamento espacial das bases apicais envolvidas, a análise cefalométrica assume importância como complemento das 40 informações extraídas da análise intrabucal, e, sobretudo, para a definição da posição dos incisivos nas suas respectivas bases apicais. Análise da Direção do Crescimento: Tão importante como estabelecer os objetivos do tratamento, fazendo um bom diagnóstico diferencial, também é ter um claro conhecimento da direção do crescimento crâniofacial. Para estudar a direção do crescimento facial utiliza-se o eixo Y de Downs e o índice de Björk-Jaraback, determinando se a tendência do crescimento será favorável à terapia ou favorecerá a intensificação da anomalia. No caso da classe III esqueletal, qualquer que seja a direção do crescimento, não beneficiará de todo o tratamento26. Se a tendência for para baixo e para frente, estará potencializando o crescimento da mandíbula e dificultando a ação inibidora do apoio mentoniano da máscara facial. Se for para baixo e para trás, terá que se ter muito cuidado com a orientação da força elástica intra-extraoral da máscara, que já possui um componente extrusivo; deve-se observar que a resultante da força elástica seja o mais horizontal possível, para impedir que se abra a mordida. Análise da Maturação Esquelética: Quanto a maturação esquelética, pode-se dizer que é um fenômeno muito bem demonstrado, de que o crescimento esquelético maxilar e mandibular e suas fases de aceleração, lentidão ou retardo são simultâneos com o crescimento longitudinal dos ossos longos. 41 A radiografia de mão e punho, é um meio excelente para fazer o diagnóstico de maturação esquelética, porque através da observação do carpo, metacarpo e falanges, podemos determinar com facilidade e exatidão uma série de sucessivos estados de ossificação, que se correspondem com fases de aceleração ou retardo do crescimento esquelético longitudinal, maxilar e mandibular. Existe uma equivalência entre os estados de ossificação da mão e a concentração hormonal de cada paciente (STH, estrógeno e testosterona). O conhecimento de todos estes fenômenos é de suma importância, pois permitem ao ortodontista e ortopedista, tentar influir sobre o crescimento dos maxilares no momento oportuno, tanto para tratar de estimular o crescimento ou frená-lo, na medida que seja possível. 42 VIII - APLICAÇÕES DA TÉCNICA E PRINCÍPIOS BIOMECÂNICOS Indicações: O uso da máscara facial ortopédica (tração reversa), para obtenção de uma resposta ortopédica maxilar está indicada nas seguintes situações: 1 – Falta ou deficiência de desenvolvimento sagital da maxila, combinada ou não com um excesso de desenvolvimento mandibular1 – 26; 2 – Perfil côncavo1 – 26; 3 – Lábio superior curto, delgado e posicionado atrás do lábio inferior 3,4,6,7,8, 26; 4 – Oclusão em classe III de molar e canino, e cruzada ou de topo a nível de incisivos3,16,21,26; 5 – Tratamento de pacientes portadores de fissuras lábio-palatais, que pela própria natureza da lesão e forma de tratamento, apresentam deficiência de crescimento maxilar nos sentidos ântero-posterior, vertical e transversal, predominando a deficiência ântero-posterior2,3,4,6,10,16,21. Esta deficiência ocorre principalmente, pela perda de tecido que se produz pelo colapso dos fragmentos maxilares, como resultado de um quadro clínico que se assemelha ao prognatismo mandibular, quando o que ocorre verdadeiramente é um freamento deste crescimento devido às bridas cicatriciais, produto da intervenção cirúrgica em idades precoces, que impendem seu desenvolvimento normal. Se esta má relação esquelética se deixa sem tratamento até depois do surto de crescimento puberal, a correção ortopédica se torna difícil e pode necessitar do avanço maxilar por vias cirúrgicas, com o fim de estabelecer uma oclusão funcional10. Portanto, o tratamento com máscara facial para promover o desenvolvimento da maxila na dentição 43 decídua ou mista, antes do pico de crescimento, se pode eliminar ou diminuir em muito a necessidade de uma outra intervenção cirúrgica na idade adulta. 6 – Necessidade de mesialização dos segmentos posteriores do arco dentário superior, para o fechamento de espaços resultantes de extrações, diastemas generalizados ou ausência congênita de dentes, não alterando a relação inicial de perfis esteticamente aceitáveis16; 7 – Nas insuficiências da pré-maxila, onde exista uma normoposição dos dentes posteriores, insuficiência de espaço para os caninos e uma relação de bordo a bordo dos incisivos. Trações póstero-anteriores com a máscara ortopédica, são aplicadas diretamente sobre os incisivos superiores, permitindo obter os espaços necessários para o posicionamento dos caninos superiores20, atuando diretamente nas suturas incisivo-caninas e interincisiva média (Fig. 17 ). Fig. 17 – Mostra a normoposição dos setores laterais, espaço insuficiente para os caninos e relação de bordo a bordo dos incisivos, denunciando a insuficiência pré-maxilar. 44 Contra-Indicações: 1 – Essas trações extra-orais são contra-indicadas nos casos de crânio-facio-sinostoses prematuras7; 2 – Alguns autores relatam que a tração reversa da maxila contribui para aumentar a altura facial2,16,21,24,26, promovendo um giro da mandíbula no sentido horário, o que seria extremamente prejudicial em um paciente que apresente predomínio de crescimento vertical severo, com hiperdivergência acentuada dos planos crânio-faciais e AFAI muito aumentada. O excesso de crescimento vertical com aumento do terço inferior da face acaba mascarando a real magnitude da discrepância sagital, piorando muito o prognóstico. O tratamento, por sua vez, torna-se bastante limitado, uma vez que aumentar ainda mais a AFAI poderia comprometer a face. Provavelmente poderia se sugerir a associação com o tratamento cirúrgico. Época Oportuna de Tratamento: Vários autores são unânimes no que se refere ao tratamento precoce das mordidas cruzadas posteriores e ou anteriores2,7,9,16,18,20. A participação da maxila no diagnóstico da classe III beneficia o prognóstico de tratamento precoce, fornecendo a opção por uma abordagem não cirúrgica, desde que o paciente não apresente a síndrome da face longa. Nestes casos, o tratamento deve ser iniciado precocemente por duas razões2,5,9,10,21,26: 1ª - A tração anterior da maxila funciona na mesma direção do crescimento; 2ª - O movimento anterior do arco superior apresenta boa estabilidade. 45 DELAIRE7,8,26, aconselha iniciar a terapia entre 4 a 6 anos de idade até antes dos 9 anos, alegando que neste período contamos com a segura ajuda do crescimento em favor da terapia, e que depois desta idade, os resultados serão limitados. VEAS26, 1985, utiliza a terapia em pacientes maiores de 9 anos, introduzindo certas variantes na técnica, e conclui que o importante não é a idade cronológica do paciente, e sim a etapa de maturação esquelética em que ele se encontra, ressaltando a importância da análise da maturação esquelética, através da radiografia carpal. GARCIA REVALDERIA10, 1990, relata a utilização da máscara facial ortopédica em paciente adulto de 23 anos de idade, com bons resultados, depois que foi previamente estudado por uma equipe multidisciplinar, e se recomendou, dada as suas características individuais que apresentava, que se podia impor de início um tratamento com este recurso ortopédico. Embora de certo modo limitada pela colaboração do paciente, a correção precoce desta anomalia se torna axiomática frente aos conhecimentos atuais sobre o crescimento e desenvolvimento crânio-facial, e pela estabilidade dos resultados obtidos, principalmente na região posterior, onde trabalhos histológicos comprovam que o movimento dos dentes decíduos, induzem a migração do germe dentário vizinho e subjacente, sendo esta migração na mesma direção do movimento das raízes dos dentes decíduos2. A intervenção precoce pode favorecer o desenvolvimento normal da face, das suas estruturas e das funções por ela realizadas, objetivando assim, evitar que se torne uma classe III esqueletal severa, que exigiria na idade adulta um tratamento cirúrgico para sua correção, e, proporcionando também, uma melhor qualidade de vida para o nosso paciente. 46 Tempo de Utilização e Duração do Tratamento: O tempo de uso (horas/dia) da máscara facial ou outros aparelhos para tração reversa, apresenta uma variação considerável quando recorremos à literatura especializada, variando de 12 à 24 horas de uso por dia2,18,21. DELAIRE3, 1979, orienta o uso durante toda a noite e mais algumas horas durante o dia, em casa, associando às vezes, especialmente em pacientes jovens com dentição decídua, trações intermaxilares oblíquas de classe III. Para melhor eficácia das forças extraorais noturnas, DELAIRE7, 1988, indica a associação, durante o dia, de um outro aparelho funcional, suprimindo as interferências oclusais e melhorando as funções oro-faciais, e conclui que, as trações exclusivamente noturnas são particularmente eficazes, não danosas para as suturas, os tecidos moles do mento, para as ATMs, os elementos dento-alveolares, e respeita a personalidade dos pacientes, e, que as trações permanentes (24 horas), podem ser extremamente nefastas para alguns desses elementos (pior se forem muito fortes), podendo ocasionar reabsorções dento-alveolares. Por essa razão, desaconselha totalmente. MAZZIEIRO16, 1995, relata que para dentição decídua e início da mista, a utilização dos aparelhos durante 12 horas por dia é mais preconizada, enquanto que na dentição permanente aconselha-se um período maior de uso, podendo ir até 24 horas por dia. SILVA FILHO21, 1995, preconiza a utilização por um período mínimo de 14 horas por dia, sendo que o ideal, seria seu uso de 16 a 18 horas por dia, mas para isso é essencial que ela seja confortável ao paciente, estimulando sua colaboração. O uso contínuo é recomendado por vários autores, para que se consiga mudanças rápidas e ideais. Porém, nem sempre contamos com a total cooperação do paciente, principalmente quando há o envolvimento de aspectos sociais. Por este motivo, é melhor se recomendar ao paciente que não vá à escola com a máscara, evitando-se assim um desconforto psicológico para o mesmo. 47 A máscara deve ser usada de forma ativa até que se obtenha um trespasse horizontal positivo (2 a 4 mm) 2, com sobrecorreção da maxila, minorando deste modo a conseqüência de futuras recidivas. O tempo de tratamento, quando numa fase precoce, aproxima-se de 1 ano, estando na dependência não só da colaboração do paciente, quanto da severidade da discrepância sagital. Para DELAIRE3, 1979, a duração do tratamento é muito variável, de acordo com os casos, especialmente segundo a forma anatomoclínica e a idade dos pacientes, podendo assim chegar de alguns meses a vários anos, se o paciente especialmente: a) apresentar forma anatômica grave; b) é tratado tardiamente no período de dentição permanente, ou seja, depois dos 12 anos; c) possui disfunções orais (em particular com posição baixa habitual da língua e deglutição atípica). Para SARNAS & RUNE*, 1987, citados por Mazzieiro 16, 1995, os efeitos ortopédicos sobre a maxila demonstram-se imprevisíveis, pois não evidenciam correlação aparente com a idade cronológica, com o pico de crescimento estatural e com duração da terapia de protração. Além disso, em seus estudos, utilizando uma amostra de 17 pacientes, concluíram que nenhum fator isolado permitiu identificar quais pacientes poderiam se beneficiar com o tratamento. Porém, os autores recomendam que a protração maxilar seja aplicada num período experimental de 3 a 5 meses, pois constitui a única alternativa não cirúrgica com potencialidade de promover o deslocamento anterior da maxila. A protração prolongada poderia provocar um deslocamento anterior do arco dentário superior sobre sua base óssea, inclinando os incisivos superiores excessivamente para vestibular. *SARNAS, K. V. & RUNE, B. Extraoral traction to the maxilla with face mask: a follow-up of 17 consectively treated patients with and without cleft lip and palate. Cleft Palate J., v. 24, n. 2, p. 95-103, April 1987. 48 Ponto de Apoio Intrabucal de Aplicação de Força: A localização do ponto de apoio de aplicação da força nos aparelhos intrabucais é muito importante para obtenção dos resultados, e deve ser selecionado considerando-se as dimensões verticais das estruturas dentárias e esqueléticas e a quantidade de deslocamento anterior esperado no tratamento de cada paciente2,3,6,7,12,16,22,23. A força aplicada na região de molares e pré-molares promove a extrusão dos molares, rotação anti-horária da maxila, com uma rotação mais anterior e superior do assoalho nasal, com o ponto A deslocando-se para frente e para cima e mordida aberta anterior 1,2,16,18,21,22,23. Neste caso, se o paciente apresentar uma tendência à mordida aberta, o local de aplicação de força deve ser anteriorizado, de preferência na altura dos caninos6,7,18,21,22,23, potencializando o deslocamento da maxila em direção anterior, sem os efeitos colaterais verticais negativos sobre a intercuspidação, que aumenta a rotação horária da mandíbula2,3,21,22,23. Autores como MCNAMARA JR*, 1987, e TURLEY**, 1988, citados por Capelozza2, 1990, preconizam o uso de apoios em caninos. Segundo GRANDORI12, 1992, a variação do ângulo formado pelo plano oclusal e o plano da linha de ação da força externa (inclinação dos elásticos de tração em relação ao plano oclusal), é um parâmetro decisivo para se determinar o sentido de rotação anterior da maxila22. Baseado neste fato, e tendo a possibilidade de regulagem da altura da barra horizontal das máscaras faciais, em relação ao plano oclusal do paciente, onde serão ancorados os elásticos de tração, pode-se trabalhar o sentido e a inclinação da força de tração extrabucal, de acordo com as necessidades do nosso paciente. Se estivermos diante de um caso * McNAMARA JR., J. A. An orthopedic approach to the treatment of class III malocclusion in young patients. J. Clin. Orthodont., 21: 598-608, 1987. ** TURLEY, P. K. Orthopedic correction of class III malocclusion with palatal expansion and custon protraction headgear. J. Clin. Orthodont., 22: 314-25, 1988. 49 de mordida aberta, poderemos direcionar essa variante para frente e para baixo; se for um caso de sobremordida, deverá ser no início dirigida em direção ao plano oclusal e, em função da redução da supraoclusão incisiva, as trações serão orientadas mais obliquamente para baixo e, uma vez conseguido o salto da relação incisivo-canino, elas por fim, serão dirigidas mais obliquamente para baixo e para frente (e completadas por trações elásticas durante a noite e às vezes também algumas horas durante o dia)3. No caso de não haver variações verticais, a tração elástica deverá ser paralela ao plano oclusal3,12,21. Os elásticos saem dos ganchos bilaterais soldados na região anterior do aparelho expulsor, e unem-se à barra anterior da máscara facial. Os elásticos devem passar, passivamente, entre os lábios, sem desconforto para o paciente (Fig. 18). A B Fig. 18 – A – Vista oclusal de um expansor fixo de hyrax modificado, com ganchos soldados na região dos caninos para fixação dos elásticos de tração; B – Vista lateral da posição dos ganchos. Força Utilizada na Tração Reversa: O nível de força ortopédica é determinante, para que o deslocamento maxilar anterior ocorra. Na literatura os níveis de força total aplicada variam entre 400 e 2.000g2,3,6-8,12-16,18,20-23,26, e muitos autores recomendam o seu aumento progressivo, permitindo uma melhor adaptação do paciente21. 50 DELAIRE3,6,7, em seus trabalhos, explica que a força de tração varia segundo os casos (tolerância do paciente, importância e rapidez da ação desejada). Durante os primeiros tratamentos, utilizava de 200 a 600g somente. Atualmente, utiliza correntemente forças mais fortes que chegam de 1 a 1,5 kg, e às vezes mais. HICKHAM14, 1991, relata que a protração maxilar requer de 600 a 800g de força de cada lado. Para vestibularizar os dentes superiores anteriores, uma força de 400g de cada lado é suficiente (o mesmo diz SALAGNAC20), e para a mesialização dos molares, utiliza-se uma força de 500 a 600g. COZZANI*, 1981, citado por Mazzieiro 16, 1995, afirma que existem vários métodos de aplicação de forças na protração, variando de acordo com o tipo de aparelho empregado no arco superior. Se o aparelho fixo for utilizado, pode-se aplicar forças pesadas, superiores a 1000g de cada lado. Quando se emprega aparelhos removíveis, essa força pode ser de 500g de cada lado ou mais, dependendo da retenção do aparelho. Os elásticos mais utilizados para realizarem as trações são os de força de tração forte números 5/16, 1/4 ou 3/16. Para se conseguir a força desejada de tração, muitas vezes é preciso utilizar mais de um elástico em cada lado de aplicação da força, usando-se o tensiômetro para calibração da força. Os elásticos deverão ser trocados a cada 3 a 5 dias de uso, sendo que todos deverão ser sempre trocados simultaneamente, para se evitar possíveis desequilíbrios de forças. * COZZANI, G. Extraoral traction and class III treatment. Amer. J. Orthodont. V.80, n.6, p.638-50, Dec. 1981. 51 Contenção e Recidiva: A literatura é escassa em trabalhos sobre contenção e recidiva da tração reversa. Em seu trabalho, JACKSON*, 1979, citado por Mazzieiro 16, 1995, observou substancial recidiva do complexo maxilar após o término da atuação de forças, sendo o grau de recidiva proporcional ao tempo de contenção. NANDA**, 1980, citado por Mazzieiro 16, 1995, estudando primatas, observou que a protração dos ossos do terço médio da face permaneceu estável após um período de 6 meses de contenção, indicando uma aplicação clínica comparável em humanos. GARCIA REVALDERIA10, 1990, relata que o não uso da contenção, consequentemente, poderá provocar uma recidiva total. Alguns autores deixam a própria máscara como contenção durante uns 6 meses, para que se efetue a sinostosis das suturas. Outros utilizam aparelhos funcionais, em uma fase retentiva dos resultados, podendo ser um bionator ou um corretor de funções para classe III, igual ao utilizado nas progênies com supraoclusão invertida de incisivos, que obrigue a língua a se elevar e se aplicar contra a parte anterior do palato 7. Segundo DELAIRE3, 1979, as trações podem ser desativadas lentamente, obtendo-se bons resultados, ou, por prudência, se faz a substituição do aparelho fixo de ancoragem por um aparelho funcional, melhorando a adaptação dos setores anteriores e a intercuspidação dos dentes (por trações elásticas verticais quando necessário). Em todos os casos, uma vigilância atenta à estabilidade dos resultados se faz necessária e, a repetição * JACKSON, G. W. et al. Experimental and pos experimental response to anteriorly directed extraoral in young macaca nemestrina. Amer. J. Orthodont., v. 75, n. 3, p. 318-33, 1979. ** NANDA, R. Biomechanical and clinical considerations of a modified protraction headgear. Amer. J. Orthodont., v. 78, n. 2, p. 125-39, Aug. 1980. 52 eventual das trações póstero-anteriores (em caso da necessidade por intermédio de aparatologia removível) no caso da desarmonia da oclusão. Quando a redução dos transtornos oclusais é incompleta e se chega a um fracasso, um tratamento cirúrgico, ao final do crescimento da puberdade, se faz necessário. Na espera da cirurgia, as trações da arcada dentária superior poderão, no entanto, prosseguir a fim de manter os resultados já alcançados na maxila, o que permite obter um melhor resultado final. SALAGNAC20, 1991, relata que as recidivas, alguns meses depois da interrupção das trações, quando os resultados pareciam satisfatórios, se deve geralmente a duas causas principais: - uma interrupção prematura das trações antes de se ter obtido uma normalização do equilíbrio craniomaxilar e maxilomandibular, e - a persistência, no momento da interrupção das trações, de um desequilíbrio entre a nova situação do complexo maxilomandibular e o conjunto das diferentes funções orofaciais. Devido à esses motivos, a complementação terapêutica funcional se faz necessária, objetivando manter os resultados obtidos e conduzir a uma verdadeira mudança de comportamento das diferentes funções e principalmente da língua, cuja ação deve estar voltada para a maxila. Nesse estado que se convém assegurar uma boa função respiratória e um bom contato bilabial normal. O retorno à oclusão normal não evita as recidivas se o esqueleto profundo e, principalmente todas as funções oro-faciais, não estiverem suficientemente normalizadas3,6,7,8,10,20. Na maioria dos casos, as trações extraorais sobre a máscara facial ortopédica não representam, pois, mais do que um dos tempos (inicial e essencial) do tratamento, que será completado por outros meios ortopédicos, ortodônticos ou cirúrgicos3,8. 53 IX - ASSOCIAÇÃO COM A EXPANSÃO RÁPIDA OU DISJUNÇÃO MAXILAR Vários estudos têm demonstrado que consideráveis alterações esqueléticas podem ser obtidas com diversos métodos de força para protração maxilar. Porém a protração associada à expansão rápida ou disjunção da maxila apresenta alguns benefícios, mesmo em casos em que a expansão lateral não é necessária2, pois a expansão desarticula a maxila, o que intensifica os efeitos da tração reversa, e inicia uma resposta celular nas suturas, se tornando imprescindível na potencialização dos efeitos das forças de tração pela máscara facial18,19,21. Este procedimento, promove também a correção da mordida cruzada posterior, que freqüentemente está presente na classe III2,9,16,18,19. Existem dois fatores básicos que justificam a sua importância21: 1 – A disjunção maxilar parece deixar a maxila mais vulnerável ao reposicionamento esquelético anterior, ocorrendo a separação não somente da sutura palatina mediana, mas também das suturas circum-maxilares9,13. O efeito do tracionamento imediato à expansão rápida torna-se mais evidente do que nos casos de tração sem expansão rápida prévia21. 2 – O aparelho utilizado (normalmente disjuntores fixos) proporciona uma ancoragem eficiente e segura para garantir o tão almejado efeito ortopédico. O aparelho atua como um splint nos dentes superiores, facilitando a transmissão de forças dos dentes para a maxila, minimizando os efeitos ortodônticos indesejáveis. Além destes, podemos mencionar outros fatores que justificam o uso da expansão rápida: - Corrige a mordida cruzada posterior que normalmente acompanha o padrão esquelético de 54 classe III, causada por um crescimento transversal deficiente da maxila (atresia real) ou simplesmente pelo retroposicionamento do arco dentário superior em relação à mandíbula (atresia relativa)9; - Impede a constrição da porção anterior do palato, que pode ocorrer com o avanço maxilar 21; - Promove o alargamento da base das fossas nasais, dilatando-as e favorecendo a ventilação das vias aéreas superiores (grande importância para os pacientes respiradores bucais) 19. Como aventado, a atresia maxilar na má oclusão de classe III pode ser real ou relativa, e o diagnóstico diferencial é conseguido analisando-se os modelos de gesso em oclusão9,21. Se, ao corrigirmos a discrepância ântero-posterior nos modelos, ocorrer o descruzamento da mordida, a atresia maxilar deve ser considerada como relativa; se ao contrário, ao corrigirmos a discrepância sagital nos modelos, a mordida posterior continuar cruzada, a atresia maxilar deve ser considerada real. A atresia real da maxila denota um melhor prognóstico para os casos de classe III, pois denuncia uma maior contribuição da mesma para a má oclusão, e constitui-se na principal indicação de expansão rápida ou disjunção na dentição permanente. Entretanto, quando se atua em níveis mais precoces, a expansão é indicada tanto para os casos de atresia real quanto relativa, sendo que na primeira ativa-se o parafuso expansor por um período maior de tempo (7 a 14 dias) do que na Segunda (4 a 5 dias), ou até romper a sutura. Os aparelhos mais indicados para este procedimento são os expansores tipo McNamara ou Haas, que são dentomucosuportados, com ganchos localizados na altura dos caninos. Expansores tipo Hyrax também podem ser utilizados. Definitivamente, a ERM não induz o avanço maxilar 21 definido na literatura. Pode ocorrer um aumento no trespasse horizontal, com aparente melhora ânteroposterior entre as bases apicais na leitura cefalométrica (ângulos ANB e NAP). Porém, isto se dá em função quase exclusiva de mudanças posturais ocorridas na mandíbula, que gira para baixo e para trás9. 55 X - PROGNÓSTICO DO TRATAMENTO PRECOCE O sucesso do tratamento não está relacionado com a etiologia da má oclusão, mas sim com seus aspectos estruturais21. Os 5 fatores seguintes constituem o critério de seleção e determinam o prognóstico do tratamento precoce, com a expansão rápida coadjuvada pela tração reversa da maxila. 1 - Retrognatismo Maxilar: A má oclusão de classe III pode estar associada a um retrognatismo maxilar, prognatismo mandibular ou a uma combinação de ambas as discrepâncias sagitais15. O diagnóstico preciso nas fases de dentição decídua e mista é fundamental. Essa abordagem terapêutica está indicada para os casos com participação da maxila. Quanto maior o envolvimento mandibular, pior o prognóstico de tratamento precoce, visto que, a influência que se tem sobre o controle do crescimento mandibular é muito pequena, e a mecânica está sendo aplicada na estrutura errada (maxila). A melhor indicação para o uso da máscara facial seria, portanto, no retrognatismo maxilar, isolado ou associado a um prognatismo mandibular discreto21. A maxila, por seu crescimento intramenbranoso, é mais vulnerável aos fatores ambientais, respondendo melhor ao tratamento ortopédico. 2 - Deslocamento Anterior Funcional da Mandíbula: Grande parte dos pacientes portadores de uma má oclusão de classe III possuem desvios funcionais da mandíbula para anterior. A diferença entre RC (Relação Cêntrica) e MIH (Máxima Intercuspidação Habitual), indica que o problema não é de todo 56 estrutural, e que parte da discrepância sagital é funcional. Na realidade, nesta circunstância, o problema é menos grave do que aparenta ser. 3 - Padrão de Crescimento Facial: A expansão rápida e tração reversa da maxila, contribui para aumentar a altura facial, já que promove um giro da mandíbula no sentido horário 2,16,21,24,26. Assim, a redução da altura facial favorece o prognóstico de tratamento, enquanto que o excesso pode contra-indicar uma terapia precoce não cirúrgica. O paciente não deve apresentar predomínio de crescimento vertical. Pode até apresentá-lo em números, como por exemplo, na análise de McNamara, desde que não haja comprometimento da estética na análise facial, do contrário, limitaria em muito o tratamento, piorando muito o prognóstico do caso 21. 4 - Grau de Compensação Dentária: Na má oclusão de classe III, a compensação dentária é representa pela inclinação dos incisivos superiores para vestibular e dos incisivos inferiores para lingual, numa tentativa de minimizar a discrepância esquelética. Ela representa uma característica marcante na dentição permanente, mas pode começar a ser notada a partir da dentição decídua ou, principalmente, mista. Porém, uma vez que a compensação dentária se mostre bastante característica nestas fases precoces, deve-se considerar a má oclusão como grave; o tratamento ortopédico teria um prognóstico sombrio 21. O melhor instrumento para definir e quantificar o grau de participação dentária na classe III são as análises cefalométricas, através das medidas que relacionam diretamente os dentes com suas respectivas bases apicais; as medidas que relacionam os dentes com as bases apicais, através da base craniana, não são adequadas, visto que o relacionamento entre as bases apicais e craniana encontra-se alterado nas discrepâncias sagitais. 57 5 - Cooperação do Paciente: O nível de conscientização dos pais e a colaboração da criança, já que o uso da máscara facial depende exclusivamente dela, são de fundamental importância, tanto quanto os fatores estruturais mencionados acima, para um prognóstico favorável e para se alcançar os resultados esperados com o tratamento. 58 XI - DISCUSSÃO Existe praticamente unanimidade entre os resultados dos trabalhos pesquisados de diversos autores, sobre vários aspectos da utilização da máscara facial ortopédica, desde a sua indicação, modo de ação e utilização, e os efeitos provindos da ação das trações extraorais fortes. A retrognatia, por ser uma anomalia de crescimento e desenvolvimento, tem sua principal causa na hereditariedade11, tendo como características principais um perfil côncavo, mordida quase sempre cruzada no setor anterior, falta de espaço para os dentes, principalmente para os caninos, na maxila, e uma relação de molares em geral de mesioclusão11,18,20. Tem participação na grande maioria das ocorrências das classes III, e podem se manifestar isoladas ou associadas ao prognatismo mandibular2,15. Por sorte, tem uma prevalência baixa em nossa população, em geral 3% do total das disgnatias21. O embasamento teórico e fisiológico para utilização das trações fortes póstero-anteriores, vem sendo relatado por diversos autores desde a década de 1940, com estudos histológicos em animais2,16 que mostram a possibilidade do deslocamento anterior da maxila, quando uma força ortopédica para anterior e paralela ao plano oclusal é corretamente aplicada; que a influência da dentição decídua e mista sobre os dentes permanentes, comprova a migração do germe dentário subjacente e vizinho, cuja direção corresponde àquela das raízes dos dentes predecessores, sendo também demonstrado em humanos posteriormente, justificando a intervenção precoce. A necessidade de utilização de uma técnica que deslocasse a maxila para frente, já que a utilização de técnicas mecânicas para retrusão da mandíbula eram 59 fracassadas, tem sido relatadas desde 194416, e desde então vários aparelhos foram idealizados para se tentar esse avanço mandibular16, até que em 1968, J. Delaire3,10 apresentou a máscara facial ortopédica. Talvez um dos fatores mais importantes para o sucesso da protração facial seja que, o mais importante sítio de crescimento da maxila, as suturas frontomaxilares, zigomaticotemporal, zigomaticomaxilar, e pterigopalatina, estejam dispostas e orientadas em um sentido favorável à tração exercida pela máscara facial13, atuando no mesmo sentido do crescimento maxilar3,4,6,7,8,10,13,18,21. A existência de uma verdadeira articulação, de natureza membranosa, situada a nível das suturas frontomaxilares, possibilita influenciar nas variações de orientação da maxila em relação à base do crânio e da mandíbula, antes da sua ossificação; as mudanças de situação e orientação das arcadas alvéolo-dentárias (especialmente a superior) em suas bases suportes, sob a influência das forças que se exercem sobre elas; as variações da prémaxila, segundo as condições funcionais as quais está submetida e, o desenvolvimento particular da cartilagem condiliana, sendo um crescimento adaptativo, limitado pelas condições locais, biodinâmicas da mandíbula3,15, também são fatores que embasam a eficácia do tratamento pela máscara facial ortopédica. Com a comprovação de que os efeitos de trações fortes possuem repercussões em suturas e estruturas esqueléticas à distância do seu ponto de aplicação1,16, ficou mais evidente ainda a necessidade e importância da associação com a expansão rápida ou disjunção da maxila, pois, além de corrigir as mordidas cruzadas posteriores muito freqüentes na retrognatia, atua a nível das suturas craniomaxilares como que desarticulando-a, deixando-a mais vulnerável à ação das forças de protração póstero-anteriores2,9,16,18,19,21. Nesses casos os expansores fixos são mais indicados que os removíveis, por promoverem uma melhor ancoragem e estabilidade das trações. 60 Quanto ao modo de ação das forças fortes aplicadas pela máscara facial, pode-se observar que atuam diretamente sobre algumas estruturas e indiretamente sobre outras20. Diretamente atua principalmente na maxila, provocando um deslocamento para anterior que, dependendo do ponto de aplicação e inclinação do plano de força, pode provocar rotações horárias ou anti-horárias2,3,6,7,12,16-18,2-,22,23, principalmente na região da pré-maxila; a arcada dento-alveolar também é deslocada para frente e migra com sua base maxilar2,3,6,10,16,17,20,21; a mandíbula é rebatida para trás sob a influência da pressão mentoniana, tendendo também a modificar sua direção de crescimento (rotação horária da mandíbula)2,6,17,18,20,21, existindo talvez uma redução do seu crescimento, particularmente ao nível da cartilagem condiliana2,5,6,7,8,21. Indiretamente vai atuar sobre os outros elementos do esqueleto facial, provocando mudanças de posição e forma das peças esqueléticas mobilizadas, acontecendo pelas mudanças funcionais6. Várias outras modificações ocorrem pela ação do uso da máscara facial que podem ser de dois tipos20: as imediatas, visualizadas por mudanças de aspecto radiográfico de certas estruturas maxilares e mandibulares, através das análises cefalométricas (SNA, SNB, SND, ANB, etc.), além do perfil e aspecto facial do paciente; as secundárias, que traduzem as mudanças de situação dos elementos esqueléticos e dentários sob o efeito das trações, e que são observadas nos meses e anos seguintes, sendo o reflexo de novas condições da atividade das diversas funções orofaciais, e do novo equilíbrio craniofacial. O restabelecimento das funções orofaciais é fundamental para se conseguir todas as alterações desejadas, bem como para manter o que se conseguiu mecanicamente com o uso da máscara facial. Para se conseguir passar da etapa patológica para a etapa normal é preciso que as funções de mastigação, respiração, deglutição e a postura e movimentos de todos os tecidos moles estejam corretamente sendo executadas, principalmente 61 a respiração nasal e o vedamento labial passivo, proporcionando condições de funcionamento e sobrevivência de todo o sistema, evitando assim as temíveis recidivas2,3,6,7,8,16,18,20,21. Importante observar que com as modificações proporcionadas por este tratamento, se pode repensar nas necessidades de extrações de pré-molares superiores, em pacientes que apresentarem insuficiências maxilares ântero-posteriores, principalmente com a possibilidade de aplicar essas forças nos incisivos superiores, estimulando a sutura incisivocanina, promovendo o avanço da pré-maxila e conseguindo os espaços para os caninos, quando ocorrer essa deficiência20. Os recursos disponíveis para se fazer o diagnóstico diferencial para se determinar o uso da máscara facial ortopédica, são suficientes e fundamentais para termos em mãos dados importantes para nortear o nosso tratamento. As análises clínicas, radiográficas e de idade óssea do paciente, somadas, formam uma importante base de apoio para a utilização da técnica e de quando usá-la. Se fazem importantes também, para se avaliar o prognóstico do tratamento, analisando os fatores determinantes da anomalia como as relações sagitais da maxila e mandíbula e o seu grau de envolvimento, o padrão do crescimento facial, o grau de compensação dentária, deslocamentos funcionais da mandíbula e, no exame clínico o comportamento do paciente e dos pais, frente ao tratamento, proporcionando assim, condições de se estabelecer um prognóstico para o tratamento precoce. Com relação aos aparelhos utilizados pela técnica, pode-se dizer que para a ancoragem intra-bucal, o mais indicado são os expansores maxilares fixos, pois permitem uma aplicação de forças mais pesadas e são mais estáveis2,3,7,16,21, além de facilitar a colaboração do paciente, principalmente em idades mais precoces. As máscaras faciais são as de características dinâmicas, como as descritas no capítulo VI, e que são adquiridas no mercado, não sendo necessária a sua confecção, não importando muito o seu desenho, já que isso não tem grande influência nos resultados finais12. 62 O nível de força total ortopédica aplicada para se conseguir o deslocamento maxilar anterior, apesar de na literatura ser encontrados valores entre 400 e 2.000g2,3,6-8,12-16,18,20-23,26, e de variar a sua necessidade de acordo com o caso (tolerância do paciente, importância e rapidez da ação desejada), recomenda-se que seja entre 400 e 1.000g2,6,7,8,12,13,14,16,18,20,21,26 , e muitos autores recomendam o seu aumento progressivo, permitindo uma melhor adaptação do paciente21. O ponto de apoio intrabucal para aplicação de força deve ser localizado na região de caninos2,6,7,18,21-23, variando-se a altura do apoio na máscara facial, de acordo com a necessidade do caso, podendo-se trabalhar o sentido e a inclinação da força de tração extrabucal. Devido ao fato de se encontrar situações onde pode ocorrer reabsorções dento-alveolares, desaconselha-se o uso contínuo por 24 horas, sendo mais indicado o uso de 16 a 18 horas por dia2,3,6,7,8,16,18,21, associando-se o uso de outro aparelho funcional durante o dia7, desde que o aparelho intrabucal seja removível. Deve-se usar a máscara até que se obtenha um trespasse horizontal positivo (2 a 4 mm), para minorar as conseqüências de futuras recidivas21. O tempo de tratamento é muito variável, já que vários fatores influenciam na sua duração, como: idade do paciente, forma anatomoclínica, presença de disfunções orais (língua baixa e anteriorizada com deglutição atípica) e da colaboração do paciente3,21. Em uma fase mais precoce, aproxima-se de 1 ano, aumentando com a idade. Vários autores são unânimes em indicar o tratamento mais precoce (4 a 6 anos)2,7-10,16,18,20,21,26 desta anomalia, pois assim estaríamos contando com a ajuda do crescimento em favor da terapia, apesar da limitação da colaboração do paciente, mas se torna axiomático frente aos conhecimentos atuais sobre o crescimento e desenvolvimento crâniofacial, evitando que se torne uma classe III esqueletal severa, que exigiria na idade adulta um 63 tratamento cirúrgico, proporcionando também, uma melhor qualidade de vida para o nosso pequeno e indefeso paciente. Deve-se dar atenção especial no momento de se interromper as trações e o uso da máscara facial, pois a não observação dos detalhes atinentes a esse passo, pode-se comprometer todo o tratamento realizado, e deve-se complementar a terapia com aparelhos funcionais objetivando manter os resultados obtidos e conduzir a uma verdadeira mudança de comportamento das diferentes funções e principalmente da língua, cuja ação deve estar voltada para a maxila, buscando-se uma boa função respiratória e um bom vedamento labial passivo. Devido a essas necessidades de complementações e associações com outras técnicas, na grande maioria dos casos de classe III, onde a retrognatia maxilar se faz presente, conclui-se que as trações extraorais com a máscara facial ortopédica, representa apenas um dos tempos do tratamento, muito importante e essencial. 64 XII - CONCLUSÕES 1. O desenvolvimento normal da maxila, não resulta apenas dos movimentos de suas unidades esqueléticas constituintes e aposição e reabsorção óssea superficial, mas também de desenvolvimento específico da sua região anterior, a pré-maxila; 2. Nos casos de classe III, a correção das dismorfoses, não requer apenas que a maxila esteja na posição correta, em relação à mandíbula e à base do crânio, e que a correta oclusão seja alcançada, mas também que o desenvolvimento do eixo-peri-prémaxila, que requer a normalização da postura muscular (labial, mentoniana, língua, velo-faríngea) e as funções orais (respiração nasal, mastigação, deglutição, fonação) sejam alcançadas; 3. As trações extraorais póstero-anteriores da máscara facial ortopédica, devem ser utilizadas com respeito absoluto à fisiologia do crescimento das suturas membranosas, suas orientações e disposições, dos ligamentos alvéolo-dentários e do conjunto do esqueleto crâniofacial, já que atuam no mesmo sentido do processo normal de crescimento; 4. Para melhor eficácia das forças extraorais descontínuas, é indicado a associação, durante o dia, de aparelho funcional que alivie as interferências oclusais e melhore as funções orofaciais, 5. O tratamento da classe III, em idades precoces, com a máscara facial ortopédica, apresenta resultados significativamente mais eficazes e, com boa cooperação dos pacientes, em tempo extremamente curto. É uma condição de indicação fundamental para muitos autores; 65 6. A disjunção maxilar prévia é fundamental, pois deixa a maxila solta e facilita sua protração; 7. Promovem modificações da posição maxilar em relação à base do crânio e à mandíbula, e permitem aumentar o comprimento da arcada alvéolo-dentária superior, promovendo melhores condições para o posicionamento de todos os dentes na arcada; 8. As modificações das relações maxilo-mandibulares, induzem transformações imediatas e secundárias das estruturas ósseas (com mudanças radiográficas), tecidos moles e estética facial; 9. A direção da aplicação da força é uma importante variável para controlar a direção do deslocamento e rotação da maxila, e para induzir mais eficientemente o seu crescimento na direção anterior, e o seu apoio intrabucal é sempre na região dos caninos; 10. A utilização da máscara facial ortopédica, na maioria dos casos, pode apenas concluir parte do tratamento da classe III, melhorando a posição e orientação da maxila, tornando possível melhorar o desenvolvimento facial, mas não representa mais do que um dos tempos (essencial) do tratamento, que será completado por outros meios ortopédicos, ortodônticos ou cirúrgicos. 11. Buscando um melhor conhecimento da biomecânica da máscara facial e de seus acessórios, estaremos melhor capacitados para tratar ortopedicamente o crescimento ou as deformações ósseas, segundo as exigências do caso. É necessário realizar um cuidadoso diagnóstico diferencial e uma correta aplicação da técnica, aproveitando ao máximo esta terapêutica simples, que afeta a antiga teoria que mantém a impossibilidade de modificar a forma, posição e desenvolvimento das bases ósseas, porém não deve faltar em nosso arsenal terapêutico, com o fim de enriquecer nossa experiência e brindar nossos pacientes com os seus muitos benefícios. 66 XIII - RESUMO As alterações estético-faciais, esqueletais e funcionais são uma realidade nos pacientes portadores da retrognatia maxilar (classe III), além das conseqüências psicossociais. Por se tratar de uma anomalia complexa, e de prognósticos muitas vezes sombrios, com indicações de tratamento cirúrgicos, traumáticos e de alto custo econômico, buscou-se através deste estudo, analisar e relatar um procedimento terapêutico que estivesse ao alcance dos ortodontistas e ortopedistas, para oferecer ao paciente um tratamento mais confortável, menos traumático e que, apesar de ter longa duração, ser mais acessível financeiramente e muitas vezes, se obter melhores resultados quando bem indicados. A utilização da máscara facial ortopédica tem se popularizado muito nos últimos anos, e cada vez mais profissionais estão se utilizando deste simples e, do ponto de vista mecânico, suficientemente seguro método terapêutico no tratamento das síndromes dos prognáticos (classe III), da retrognatia maxilar e fissurados lábio-palatais. Isso se deve ao grande número de pesquisas, trabalhos e artigos científicos, bem como o de relatos de casos clínicos, publicados em todos os veículos científicos nos últimos anos, dando o embasamento teórico e científico, e principalmente divulgando o sucesso dos resultados alcançados com esse método terapêutico. Neste estudo, é feita uma revisão da literatura da técnica, assim como das distintas variantes que dele se derivam, fundamentando a sua aplicabilidade clínica e a descrição dos passos para a confecção de uma máscara facial dinâmica. Palavras chave: Máscara facial; retrognatia maxilar; classe III; tração reversa da maxila; protração da maxila. 67 XIV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS* 1. CANUT, J.A. et al. Effects of maxillary protraction determined by laser metrology. Eur. J. Orthod., v.12, n.13, p.340-345, 1990. 2. CAPELOZZA FILHO, L. et al. Expansão rápida e tração extrabucal reversa da maxila na dentadura mista; comentários através de caso clínico. 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