VI ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO
Educação inclusiva: desafios e perspectivas na contemporaneidade
Universidade Estadual de Maringá
Câmpus Regional de Cianorte
06 a 09 de novembro de 2012
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA PERSPECTIVA DO ENSINO DE
PORTUGUÊS: REFLEXÕES SOBRE OS MANUAIS DIDÁTICOS E AS
DIRETRIZES CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA
Lucinete Aparecida REBOUÇAS - UNESPAR-FAFIPA1
Flávio Brandão SILVA - UNESPAR-FAFIPA2
RESUMO:
Durante o processo de ensino-aprendizagem, com base nas prescrições da gramática
normativa, a escola apresenta ao aluno a norma padrão, como a norma linguística de
prestígio, socialmente aceita. Nessa perspectiva, falar e escrever bem consiste em
utilizar “corretamente” as regras gramaticais. Ao privilegiar a norma padrão, a
gramática normativa acaba desconsiderando a variação linguística que ocorre tanto na
fala como na escrita. Tal postura provoca uma disparidade entre o que está contemplado
na gramática normativa e o que efetivamente ocorre em situações práticas de uso da
língua, que, por sua natureza dinâmica, está sujeita à variação. Assim, nossa intenção é
observar o tratamento dado à variação linguística no processo de ensino e aprendizagem
da língua portuguesa na escola, a partir da análise das Diretrizes Curriculares Estaduais
e dos manuais didáticos utilizados na educação básica, no Estado do Paraná.
Considerando nossa proposta de trabalho, bem como os objetivos estabelecidos, adotouse, como recurso metodológico, a pesquisa bibliográfica. A diversidade linguística é um
assunto ainda pouco explorado no processo de ensino e aprendizagem da língua
portuguesa, pois, na realidade, a escola acaba privilegiando o ensino da norma culta.
Palavras-chave: variação linguística, língua portuguesa, ensino.
1
Acadêmica do terceiro ano de Letras da UNESPAR- FAFIPA, Faculdade Estadual de
Educação Ciências e Letras de Paranavaí. Participa do Projeto de Iniciação Cientifica sobre
variação Linguística. E-mail: [email protected].
2
Professor Mestre. Orientador. Docente do colegiado de Letras da UNESPAR- FAFIPA,
Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí. Coordenador do Projeto de
Iniciação Cientifica de variação Linguística. E- mail: [email protected].
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1 INTRODUÇÃO
A linguagem sempre acompanhou o homem durante o seu processo de evolução,
aliás, tendo um papel essencial nesse processo, uma vez que é por meio da linguagem
que o homem transforma em elemento material conteúdos abstratos, como o
conhecimento, os sentimentos e as experiências vividas. Por meio da linguagem o
homem também interage com o grupo social no qual está inserido.
Ao pensar na linguagem humana tendo em vista sua natureza simbólica,
comunicativa e interacional, devemos nortear nossa reflexão a partir de dois aspectos
bastante relevantes: o primeiro é que os fatos linguísticos são de caráter social e o
segundo é que esses fatos linguísticos devem ser observados a partir da percepção da
variabilidade a que estão submetidos.
Nesse sentido, durante o processo de ensino e aprendizagem, com base nas
prescrições da gramática normativa, a escola apresenta ao aluno a norma padrão, como
a norma linguística de prestígio, socialmente aceita. Nessa perspectiva, falar e escrever
bem consiste em utilizar “corretamente” as regras gramaticais.
Ao privilegiar a norma padrão, a gramática normativa acaba desconsiderando a
variação linguística. Tal postura provoca uma disparidade entre o que está contemplado
na gramática normativa e o que efetivamente ocorre em situações práticas de uso da
língua, que, por sua natureza dinâmica, está sujeita à variação. Assim, nossa intenção é
observar o tratamento dado à variação linguística no processo de ensino e aprendizagem
da língua portuguesa na escola, a partir da análise das Diretrizes Curriculares Estaduais
e dos manuais didáticos utilizados na educação básica, no Estado do Paraná.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA LÍNGUA
PORTUGUESA
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A linguística moderna iniciada por Saussure tinha como objetivo principal
descrever a estrutura do sistema linguístico, o que, sem dúvida, foi um grande avanço
para os estudos da linguagem. Mas se a língua deveria ser entendida como uma
ocorrência social, conforme preconizava o estruturalismo, era, também, de suma
importância, levar em consideração os fatores sociais no processo de descrição das
línguas.
A partir dessa perspectiva, surge a Sociolinguística, que procura descrever as
línguas, direcionando a sua investigação de forma a evidenciar a estreita relação entre
língua e sociedade, a qual nos leva a observar a diversidade étnica e cultural de uma
comunidade, revelando os seus valores e o seu modo de pensar, materializados nas
estruturas linguísticas heterogêneas, efetivamente realizadas pela comunidade dos
falantes de uma língua qualquer.
Diante das considerações acima, a variação linguística é compreendida como a
variação da língua que ocorre em determinados grupos, tempos, espaços e regiões,
sendo reconhecida pelo grupo, muitas vezes entremostrando suas identidades sociais,
que podem ser desvalorizadas pela sociedade, diante da falta de reconhecimento das
variantes linguísticas. Nos dizeres de Camacho (2008), “A variação é o reflexo de
diferenças sociais, como origem geográfica e social, e de circunstâncias de
comunicação” (CAMACHO, 2008: p. 35).
A variação linguística vai além dos espaços temporais e sociais, consiste nos
vários modos de comunicação entre os falantes, que se expressam conforme o grau de
letramento que possuem, bem como, conforme os diferentes momentos de interação
verbal nas relações sociais, que vão de uma conversa informal na família a uma
entrevista de emprego.
A variação linguística está condicionada a vários fatores que vão dos internos
aos externos. Os internos abrangem fonética, fonologia, sintaxe e semântica; os fatores
externos compreendem
faixa etária, gênero, status socioeconômico, mercado de
trabalho e redes sociais que produzem entre si, as variedades que são usadas para cada
situação.
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Os fatores de diversidade linguística não ficam assim limitados aos aspectos
temporal e espacial. Podem-se identificar e distinguir dois falantes de uma
mesma comunidade linguística, geograficamente falando, por suas
características decorrentes de diferente nível cultural. Com efeito, não e
provável que um individuo iletrado se expresse de modo idêntico a um outro
nível cultural mediano ou altamente cultivado(CAMACHO,1988, p.29-30)
As variações linguísticas descritas na sociolinguística se expressam de quatro
maneiras diferentes: a variação histórica, geográfica (diatópica), estilística e social
(diastrática), que são articuladas conforme as práticas linguísticas realizadas em suas
comunidades. “O comportamento normal do falante é variar a sua fala de acordo com a
prática em que ele (a) se encontra” (FARACO, 2008, p.40).
A variação histórica consiste nas mudanças sofridas pela língua ao longo dos
tempos, como, por exemplo, a ortografia das palavras, além do fato de que algumas
podem ser substituídas por outras, quando caem em desuso, ou seja, do arcaico para o
atual, como ocorreu com uso da forma de tratamento “vossa mercê” que resultou na
forma atual “você”.
A variação geográfica abrange a diversidade linguística observada nas diferentes
regiões. Essa variação também adentra todos os níveis linguísticos que vão do fonético,
fonológico, morfológico, lexical e discursivo.
A variação estilística consiste na maneira como a pessoa usa a língua nas
diferentes situações comunicativas, que exigem a adequação verbal condizente ao
contexto. Dessa forma, surgem os níveis formal e informal.
A variação social diz respeito aos estratos sociais a que as pessoas pertencem, a
sua organização sociocultural. “A variação social é o resultado da tendência para maior
semelhança entre os atos verbais dos membros de um mesmo setor sociocultural da
comunidade.” (CAMACHO, 1988, p. 31-32).
Todas as comunidades usam diferentes modos de se expressar, caracterizando-se
a língua como inseparável da variação. “A variação linguística é consequência da
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propriedade da linguagem de nunca ser idêntica em suas formas através da
multiplicidade de discurso” (MONTEIRO, 2000, p. 63).
A variação linguística está relacionada à diversidade cultural da sociedade
brasileira, sendo indispensável o seu estudo no espaço escolar, em vistas do
reconhecimento da diversidade linguística existente num país heterogêneo. Assim,
“todas as modalidades têm de ser valorizadas (falada e escrita, padrão e não padrão), o
que em última análise significa que todas as práticas discursivas devem ter seu valor na
escola” (NEVES, 2003, p.94).
Diante desse contexto, é necessário que se estabeleça uma pedagogia da
variação linguística que amplie o respeito para com as outras culturas de linguagem,
evitando os preconceitos linguísticos e a desvalorização independente da variação que
se apresenta, combatendo as exlusões sociais que esses falares acabam suscitando.
Construir uma pedagogia da variação linguística que não escamotei a
realidade linguística dos pais (reconheça-o como multilíngue e dê destaque
critico á variação social do português), não de um tratamento anedótico ou
estereotipado aos fenômenos da variação .Mas acima de tudo, uma
pedagogia que sensibilize as crianças e os jovens para a variação de tal
modo que possamos combater os estigmas linguísticos, a violência
simbólica ,as exclusões sociais e culturais fundadas na diferença
linguística(FARACO,2008, p.182).
São muitos os esforços para um eficaz ensino da língua portuguesa que não vise
apenas às formas de prestígio dominante, mas também que permita valorizar a
diversidade linguística que emerge dos diferentes grupos sociais. Aceitar a diversidade
linguística na escola é a aceitação da cultura do aluno ao lado da norma padrão,
atendendo aos pressupostos de uma sociedade multicultural, que abarca várias
situações sociais, assinaladas por marginalidades e preconceitos.
Implantar com maior espaço o estudo da variação linguística significa
oportunizar aos alunos situações que favoreçam o reconhecimento das várias
possibilidades que o sistema linguístico oferece, para que, a partir disso, esse mesmo
aluno possa se expressar adequadamente nas diferentes situações de comunicação
vivenciadas nos seus meios sociais.
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3 O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E A QUESTÃO DA NORMA: BREVE
DISCUSSÃO
Levando-se em conta o conjunto e a variedades dos fenômenos que são
apresentados no estudo da variação linguística, um dos pontos de discussão diz respeito
ao preconceito linguístico que as pessoas sofrem ao usarem essas variações em
determinadas situações, o que pode desencadear uma desvalorização de sua identidade,
com estereótipos que as inferiorizam e estigmatizam.
A variação linguística pressupõe a valoração social, as variantes empregadas
por falantes dos estratos mais baixos da população em grande parte são
estigmatizadas. E o preconceito é tanto mais forte quanto maior for a
identificação da forma com a classe discriminada (MONTEIRO, 2000, p.64).
Um dos problemas que dão suporte ao crescimento do preconceito linguístico, é
o fato de que, na escola, o que se trabalha é apenas a norma culta, sem levar em
consideração a presença da variação que os alunos trazem para os ambientes escolares,
quando, na realidade, “a escola tem como função ampliar o repertório linguístico dos
estudantes, principalmente pela inserção deles no mundo da cultura letrada” (BAGNO,
2012, p. 08).
A maior parte da clientela que chega à escola é constituída de falantes que não
convivem com a variante culta e, em muitos casos, pertencem a classes sociais menos
favorecidas. A partir disso, é importante tomar o cuidado para que se evite a
desvalorização social, em virtude da maneira como as pessoas falam.
Teima-se em desconhecer o Brasil pluriétnico, pluricultural, plurilíngue.
De poucas décadas para cá, começa a desfazer-se o mito, porque a
realidade está se impondo á revelia da ideologia. Considero que dois
fatores independentes, mas confluentes, têm favorecido esse se desfazer do
mito: o avanço dos estudos linguísticos sobre a realidade; e, aos poucos,
mas irreversivelmente, estarem chegando à escola e à universidade, novos e
numerosos segmentos da população brasileira, não mais sendo essas
restritas aos filhos das oligarquias dominantes. Outras vozes falam e
escrevem hoje no Brasil. E não há como ouvi-las. (SILVA e MATTOS,
2004, p. 65).
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A sociedade ainda atribui valor de prestígio ao falar das ditas classes sociais
elitizadas, o que pode contribuir para que se acentuem as diferenças sociais. Assim, é
dever da escola mostrar os valores que a sociedade atribui às variações, instigando os
alunos a refletirem sobre as ideologias que estão por traz das normas de prestígio.
A escola também deve mostrar aos alunos que a sociedade atribui valores
sociais diferentes aos diferentes modos de falar a língua e que esses valores,
embora se baseie em preconceitos e falsa interpretação do certo e do errado
linguística tem consequências econômicas¸ politicas sociais muito sérias para
as pessoas (CAGLIARI, 1996, p.83).
Assim, a norma de prestigio é também um dos objetos que merecem ser
destacados, para entender a luta em prol da valorização da variação linguística nos
ambientes escolares, na sua colaboração com o ensino de língua portuguesa, em vistas
de uma formação real sobre a compreensão da diversidade linguística no ensino de
língua portuguesa, visto que qualquer língua apresenta variação. “Qualquer língua,
falada por qualquer comunidade, exige sempre variação. Pode-se afirmar mesmo que
nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea” (MUSSALIN, BENTES,
2001, p. 33).
Para falar da norma culta aqui no Brasil, faz-se necessário um sucinto aparato
histórico percorrendo um caminho de volta ao tempo do Brasil colônia, às reformas
educacionais que foram implementadas pelo Marques de Pombal, e que refletiram no
estudo da linguagem. A reforma pombalina, inserida na colônia brasileira introduziu as
aulas régias de latim, grego e retórica, com a intenção de formar o civil cristão,
preservando valores como o temor a Deus. Naquela época ainda não havia muitos
professores e os eclesiásticos ainda eram maioria no ensino (VERALDO, 2008).
Como afirma Bagno (2009):
O decreto de Pombal constitui o primeiro exemplo dos procedimentos
autoritários que caracterização as politicas linguísticas no Brasil a partir de
então. O português só se tornou a língua majoritária do nosso povo depois de
um longo processo de repressão sistemática, incluindo o extermínio físico
dos falantes de outras línguas (BAGNO, 2009, p.78).
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A norma padrão desponta em meio às elites culturais que incluíam os que
estavam no poder nos papéis políticos e econômicos, das oligarquias que dominavam o
país, e buscavam o purismo linguístico, desvalorizando a língua das classes mais
desfavorecidas de uma sociedade formada por ex- escravos, índios e uma população
rural, que
migrava para as zonas urbanas que começavam a crescer nas áreas
industriais, onde a ascensão social poderia se dar pela norma-padrão.
A ascensão social até os dias atuais ainda sofre a influência desses desígnios do
passado, atinente ao fato de se obterem privilégios, e até mesmo inserção de mercado,
pelo puritanismo linguístico que ganha espaços pelos meios midiáticos. Por meio do
reforço da norma de prestígio, são transmitidas ideologias, preconceitos sociais e
discriminação. “O fantasma de Marques de Pombal volta a nos assombrar: nos últimos
anos temos presenciado no Brasil, um recrudescimento de atitudes de purismo
linguístico ultraconservador que encontra seu lugar privilegiado nos meios de
comunicação” (BAGNO, 2009, p. 104).
Percebe-se então desde, a colonização, que a norma de prestígio ocupa um lugar
de destaque nas relações sociais e a partir de uns tempos mais recentes a variação
linguística alcança espaços de maior discussão para a sua implantação oficial no ensino,
através da luta desencadeada pelos linguistas a partir da década de 1970.
A partir dos documentos legais, como Constituição Federal de 1988, Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, Parâmetros Curriculares Nacionais e
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa de 2008, a variação linguística alcançou
mais campos para ser efetivada no ensino brasileiro. Mas há, ainda, a necessidade de
alguns esclarecimentos sobre a norma linguística. Há que se falar também do valor
atribuído à norma culta por estudiosos, mencionando quais as definições da norma de
prestigio (culta) pelos estudiosos e sua importância também para a educação.
A expressão norma culta, comum, standart designa o conjunto de fenômenos
linguísticos que ocorrem habitualmente no uso dos falantes letrados em
situações mais monitoradas da fala e escrita. Esse vínculo com os usos
monitorados e com as práticas da cultura escrita leva os falantes a lhe atribuir
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um valor social positivo, a recobri-la com uma capa de prestígio social
(FARACO, 2008, p.73).
A norma culta demanda rigor gramatical e é caracterizada como o uso das
pessoas que são consideradas mais letradas, e, por isso, tem maior prestígio nas relações
sócio históricas. Nessa perspectiva, falar e escrever bem consiste em utilizar
“corretamente” as regras gramaticais.
Constitui-se, assim, o processo histórico deformação das duas grandes
normas do português brasileiro: a norma culta, derivada do uso linguístico de
uma elite escolarizada, e a norma popular, que emerge do uso da grande
maioria da população do país, desprovida de educação formal e dos demais
direitos da cidadania, com os previsíveis reflexos na língua da pluralidade
étnica que está na base da sociedade brasileira (LUCCHESI, 2006, p. 88).
Se as pessoas não tiverem o domínio da norma de prestígio, podem apresentar
um conhecimento limitado da língua oficial, que muitos só vêm a conhecer por meio da
escolarização. Questão da norma de prestígio e da variação linguística esbarra no fato de
que a norma de prestígio ocupa uma porcentagem de alto índice no ensino, enquanto a
variação fica restrita a pequenos momentos no ensino de ensino e aprendizagem.
A aceitação, a defesa e o reconhecimento da legitimidade das variedades sem
prestigio social não estão em contradição com o trabalho didático de levar os
falantes dessas variedades a se apoderar também de novos recursos
linguísticos, de outras variedades, principalmente das urbanas de prestígio e
da norma padrão tradicional, que ele só terá condições de conhecer por meio
da escolarização. (BAGNO, 2009, p. 34).
Os linguistas que defendem a diversidade linguística não são contra o ensino da
norma padrão, o que se propõe é maior aceitação do ensino da variação no ensino,
inclusive com a aceitação da falar que o aluno traz de sua realidade social, de forma se
minimizar o preconceito linguístico e social existente.
4-A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NAS DIRETRIZES CURRICULARES DE
LÍNGUA PORTUGUESA E NO LIVRO DIDÁTICO
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As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (DCE’s) enfatizam o
aprimoramento linguístico para a inserção social. Não bastam apenas os conhecimentos
gramaticais, quanto mais os alunos estiverem no mundo da leitura, através de práticas
linguísticas, mais habilidades desenvolverão na compreensão dos vários gêneros
discursivos. “O aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com
maior propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o
caráter dinâmico dos gêneros discursivos” (BRASIL, Diretrizes Curriculares, 2008, p.
53).
Quanto aos procedimentos didáticos adotados que partem de princípios
democráticos, o ideal seria usar marcas linguísticas que deem a possibilidade de
trabalhar tanto a oralidade como a escrita, explorando atividades que permitam analisar
as diferenças entre a atividade linguística nas suas diferenças lexicais, sintáticas e
discursivas, tanto nas tipologias textuais como gêneros discursivos.
Oralidade. As variedades linguísticas e a adequação da linguagem ao
contexto do uso: diferentes registros, grau de formalidade em relação ao
gênero discursivo; os procedimentos e as marcas linguísticas típicas de
conversação (como a repetição, uso de gírias, a entonação), entre outros; as
diferenças lexicais, sintáticas e discursivas que caracterizam a fala formal e a
informal. Escrita. Através dos textos dos alunos, num trabalho de reescrita do
texto ou de partes do texto, o professor pode selecionar atividades que
reflitam e analisam os aspectos: discursivos, textuais, estruturais, normativos
(BRASIL, Diretrizes curriculares, 2008, p.79-80).
Neste sentido, é preciso que as escolas ofereçam aos educandos os
instrumentos necessários para que possam adequar sua linguagem às situações mais
formais, ao lado das formas coloquiais adequadas para as situações correlatas, visto que
a linguagem humana varia de acordo com o grau de contato entre os seres que a
constituem (CAMACHO, 1988).
No sistema oficial de ensino, há alunos que provêm, em grande parte, dos
setores sociais menos privilegiados da sociedade, e a escola figurar como mediadora
entre o uso linguístico e o meio cultural em que o sujeito se insere. “É indispensável
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uma prática de ensino, que fundamentado em conhecimentos sobre as relações de
linguagem, sociedade e escola, revelando pressupostos sociais e linguísticos dessas
relações sejam realmente competentes e comprometidos contra as desigualdades
sociais” (SOARES, 1986, p. 06).
Ainda as Diretrizes Curriculares de Língua portuguesa ressaltam:
A acolhida democrática da escola às variações linguísticas torna como ponto
de partida os conhecimentos linguísticos dos alunos, para promover situações
que os incentivem a falar, ou seja, fazer uso da variedade da linguagem que
eles empregam em suas relações sociais, mostrando que as diferenças de
registro não constituem, científica e legalmente, objeto de classificação e que
é importante a adequação de registro nas diferentes instâncias discursivas
(PARANÁ, 2008, p. 55).
E tendo como um dos pontos análise o livro didático, utilizou-se o livro de
William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães Português linguagens, do Ensino
Médio, observando que ele comtempla explicações sobre a variação linguística, no
contexto da língua .
O material propõe, no capítulo 3, Linguagem, comunicação e interação,
reflexões sobre as variedades linguísticas, sobretudo as variedades linguísticas na
construção do texto. Na parte teórica, o livro traz algumas considerações sobre a
variação, mostrando como ela se apresenta em suas modalidades e ressaltando os
preconceitos que a diversidade linguística sofre perante a variedade padrão. Entretanto,
o material não deixa de elucidar que é a norma padrão que predomina no ensino nas
escolas, e que isso não significa eliminar a variação que o aluno traz de seu meio social.
O material didático em questão usa como exemplificação da variedade
linguística um texto de humor, que foi veiculado na internet, com ilustrações de Simone
Matias. Logo após o texto, são propostos dois exercícios.
Assaltante Nordestino
Ei, bichim...
Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem se cague e nem faça
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bagunça...Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim senão enfio o peixeira no teu
bucho eboto teu pra fora!”
Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome de moléstia...
Assaltante Mineiro
Ô sô, prestenção... Isso é um assalto, uai...
Levanta os braços e fica quetin que esse trem na minha mão tá cheio de bala...
Mió passá logo os troado que eu num tô bão hoje.
Vai andando, uai! Tá esperando o que uai!!
Assaltante Gaúcho
Ô guri, ficas atento... Báh, isso é um assalto.
Levantas os braços e te quieta, tchê.
Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê.
Passa as pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.
Assaltante Carioca
Seguiiinnte, bicho ... Tu te fudeu. Isso é um assalto...
Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de bobeira que eu atiro bem pra caralho
Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...
Assaltante Baiano
Ô meu rei... ( longa pausa)
Isso é um assalto... (longa pausa)
Levanta os braços, mas não se avexe não... (longa pausa)
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem
devagarinho...
(longa pausa)
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... Não esquenta,
meu irmãozinho,
(longa pusa)
Vou deixar teus documentos na encruzilhada...
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Assaltante Paulista
Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu... alevanta os braços, meu.
Passa a grana logo, meu...
Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso
do jogo do Curintia, meu... Pô, se manda, meu...
1. O texto retrata várias cenas de assalto, cada uma delas situada em um Estado ou
região diferente do país. A fala do assaltante tem sempre o mesmo conteúdo,
enquanto o uso da linguagem e o modo como o assalto é conduzido mudam de
uma situação para outra. Identifique em cada uma das cenas duas palavras ou
expressões próprias do:
a) Nordestino:
b) Mineiro:
c) Gaúcho:
d) Carioca:
e) Baiano:
f) Paulista:
2. Além da linguagem, o texto também revela comportamentos ou hábitos que
supostamente caracterizam o povo de diferentes Estados ou regiões. O que
caracteriza, por exemplo:
a) O nordestino?
b) O baiano?
c) O paulista?
Outro texto que também aparece como exemplo de variação linguística é “Causo
do minerim”, com três questões para serem respondidas envolvendo aspectos da
variação. Observa-se também o uso de uma carta de amor escrita por Olavo Bilac, com
o objetivo de se caracterizar o nível de formalismo do texto. O livro ainda traz o texto
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“O trabalho sagrado”, de Henrique Nicolau, com um exemplo de variação territorial.
Esse texto proporciona a discussão de diferentes padrões da língua como no texto
anterior, em que o aluno reconhece que há diferentes realizações da língua.
Esta mesma obra apresenta, no manual do professor, o texto: a “Língua: uso e
reflexão”, trazendo explanações que falam sobre a introdução da linguística nos cursos
de Letras e sobre a renovação do ensino da língua, que não pode se prender apenas ao
ensino da norma. O texto ainda enfatiza que os professores de ensino fundamental e
médio precisam estar preparados e serem conhecedores das novas teorias relativas ao
estudo da linguagem.
Os autores do material didático ora analisado, ao que parecem, pautam-se em
preocupações com os estudos linguísticos e estão no caminho de desenvolver o
significado da prática linguística nos espaços escolares. Mas, por outro lado, prevalece,
em grande proporção, o reforço da norma culta no processo de ensino e aprendizagem
de língua portuguesa.
Verifica-se, então, que o material didático aqui comentado apresenta-se em
relativa consonância com as Diretrizes Curriculares para o ensino da língua portuguesa,
na educação básica, no Estado do Paraná, pois enfatiza a necessidade de trabalhar, junto
ao aluno, o uso da língua em diferentes situações comunicativas. Entretanto, embora
haja um trabalho que coloque em destaque a questão da variação, ainda há uma
predominância da norma padrão, trazendo à tona a distância que existe entre o que a
escola ensina e o que realmente se efetiva em se tratando do uso da língua.
5 CONCLUSÃO
O trabalho desenvolvido, que percorreu o estudo da variação no ensino de
português, considerando os manuais didáticos e as Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa, mostrou que, embora defendida por vários estudiosos do assunto e aparada
legalmente, a diversidade linguística é um assunto ainda pouco explorado no processo
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de ensino e aprendizagem da língua portuguesa, pois, na realidade, a escola acaba
privilegiando o ensino da norma culta.
Acreditamos que, ao apresentar a norma culta aos seus alunos, a escola deve
mostrar que a língua é um fenômeno variável, não podendo, portanto, afirmar que a
variante padrão é a única possibilidade de uso linguístico, conforme definiu Risso
(1994). Incorrendo nisso, a escola irá contribuir para que se acentuassem, mais ainda, as
desigualdades existentes em nossa sociedade.
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A variação linguística na perspectiva do ensino de Português