USO NOCIVO DE ÁLCOOL E
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Alexandre de Araújo Pereira
Psiquiatra
Mestre em Educação Médica – ENSP/UECE
Docente da Faculdade de Ciências Médicas –
UNIFENAS - BH
[email protected]
Levantamento Domiciliar sobre uso de
drogas no Brasil - em cidades acima de
100.000 hab.
-
12,3% população adulta
-
7,0% dos jovens entre 12 a 17 anos
- 22,3% população indígena brasileira
CEBRID, 2005; SENAD, 2007
Por quê as pessoas fazem uso nocivo de
álcool e outras drogas?
• Dependência
•Tolerância
DROGA
•Alterações de
comportamento
MEIO SÓCIOECONÔMICO-CULTURAL
•Aceitabilidade social +
Formas de controle +
Disponibilidade + Preço +
Contexto familiar
INDIVÍDUO
• Sexo + Idade +
História de vida
Momento de vida +
Genética
Conceito de Drogas Psicotrópicas
São aquelas que geram uma atividade
reforçadora no SNC:
[ + ] Provocam euforia e prazer
[ - ] Aliviam sintomas de abstinência ou
outros sintomas psicológicos
desagradáveis
Ex: Antidepressivos = Drogas Psicoativas

Ação do Álcool (Etanol) sobre os diversos
neurotransmissores cerebrais



Agonista: GABAa, Dopamina, Serotonina
Antagonista: Noradrenalina,
NMDA(Glutamato)
Canais de cálcio
O que parece ser um mecanismo comum
na maioria das drogas:
LIBERAÇÃO DE DOPAMINA NO
NÚCLEO ACUMBENS
Sistema de Recompensa Cerebral e
Dependência Química
1. As drogas de abuso ou estímulos ambientais
atuam direta ou indiretamente nas vias
dopaminérgicas do sistema de recompensa cerebral
gerando uma hiperatividade dopaminérgica
2. O uso crônico de drogas associado a
determinantes ambientais, levaria a alterações
permanentes ou a longo prazo nos padrões de
conectividade sináptica que contêm os códigos para
informações específicas, atuando assim, como uma
memória celular (aprendizado associativo)
Recaídas: Fissura para a utilização de drogas em
uma determinada situação após longo tempo de
abstinência
KESSLER E COL.(2004)
SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL:
intermediação das emoções reconhecidas como
gratificantes
Tipos de usuários de drogas
Experimentador
 Ocasional ou recreativo
 Habitual ou funcional
 Abusivo ou nocivo
 Dependente:
LEVE MODERADO GRAVE

Dimensões de gravidade!!!!!
Uso Abusivo ou Nocivo
Definição: Padrão de uso que causa dano
à saúde que pode ser físico e/ou
psíquico
Cuidado importante: Percepção de outras
pessoas
Características da Síndrome de Dependência:
aspectos físicos e psicológicos
Compulsão para usar a Substância
Dificuldade de Controlar o Consumo
Estado de Abstinência
Evidência de Tolerância
Abandono progressivo dos prazeres ou
interesses alternativos em favor do uso da
substância, aumento da quantidade de
tempo necessário para obter ou usar a
substância ou para se recuperar de seus
efeitos
6. Persistência no uso da substância, a
despeito da evidência clara das
conseqüências nocivas
OMS: CID - 10
1.
2.
3.
4.
5.
Cut down. Annoyed.Guilty.Eye-opener:
CAGE
1.
2.
3.
4.
Você já pensou que deveria beber menos?
Já se aborreceu por alguém criticar seu modo de beber?
Já se sentiu mal ou culpado sobre seu modo de beber?
Já tomou uma dose pela manhã, logo ao acordar?
Escore: 0 para resposta negativa e 1 para positiva
Resultado:
2 ou mais - clinicamente significativo, indicativo
de problema com álcool
1 - necessidade de avaliação mais detalhada
Alcohol Use Disorders Identification Test
AUDIT




Composto por 10 itens:
3 - quantidade e freqüência do consumo
3 - dependência
4 - problemas causados
Tempo de administração: 2 minutos
Requer treinamento
Aplicado por profissional da área de saúde
Avaliação do uso abusivo / dependência
de drogas


O uso de álcool e drogas deve ser
rotina nas consultas clínicas
Havendo suspeita de abuso:
1) Início do uso de drogas
2) Que drogas ?
3) Com que freqüência ?
4) Quantidade ?
5) Gasto com uso de drogas
6) Repercussões psicossociais (família,
trabalho, acidentes, problemas com a justiça)
Suspeitar do abuso de álcool e drogas:




Pedido de atestados médicos
Problemas conjugais (violência
doméstica)
Problemas financeiros, absenteísmo,
acidentes de trabalho
Processo judiciais por comportamento
violento, acidentes de trânsito, abuso
sexual, problemas com a lei
Intervenção Breve (IB)

Objetivam detectar o problema e motivar o paciente a alcançar
determinadas ações, como por exemplo, iniciar um tratamento
ou melhorar seu nível de informação sobre riscos associados
ao uso de substâncias, por meio de um aumento de seu senso
de risco e de auto-cuidado

As IBs não exigem muito tempo (15’- 30’) e se incorporam com
facilidade na consulta usual de médicos de família, enfermeira,
agentes de saúde comunitária ou outros profissionais que
atuam em serviços de saúde, empresas, presídios, etc.
MARQUES, ACPR; FURTADO, EF.
Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):28-32
Intervenção Breve (IB)

São constituídas por uma curta seqüência de etapas que
incluem a identificação e dimensionamento dos problemas ou
dos riscos

Oferecimento de aconselhamento, orientação e monitoramento
periódico do sucesso em atingir metas assumidas
voluntariamente pelo paciente

Intervenções breves têm se mostrado tão eficazes quanto
intervenções mais demoradas, especialmente para
pacientes que fazem uso nocivo ou possuem dependência
leve
MARQUES, ACPR; FURTADO, EF.
Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):28-32
Intervenção Breve (IB)

A intervenção breve foi proposta como uma abordagem psicoterapêutica para dependentes de álcool, em 1972, por SanchezCraig et col., no Canadá.

Foi validada em 1988 no Brasil por Masur e colaboradores, do
Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina.

Foi realizado um estudo clínico controlado, onde se avaliou a
efetividade da intervenção breve comparada a um grupocontrole de pacientes em atendimento de psicoterapia de grupo
de base psico- dinâmica, o modelo mais utilizado na época.
MARQUES, ACPR; FURTADO, EF.
Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):28-32
Intervenção Breve (IB)

Na entrevista inicial, a comunicação empática e voltada para a
prontidão para mudança do indivíduo foi considerada uma
etapa tão importante quanto o diagnóstico

Em função deste aspecto e da brevidade da técnica, introduziuse a abordagem da motivação na estrutura da intervenção
breve

O estágio motivacional que se encontra o paciente foi então
estudado e considerado como um fator preditor de efetividade
no tratamento
MARQUES, ACPR; FURTADO, EF.
Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):28-32
OMS: CID – 10 AP
Tratamento farmacológico





Naltrexone (50mg/dia):
antagonista opiáceo - bloqueio dos efeitos
reforçadores / euforizantes do álcool diminuição do prazer e do desejo de beber
medicação segura
alto custo
casos graves, boa motivação ou em
ambiente de restrição ao álcool
Tratamento farmacológico





Dissulfiram (250mg/dia):
inibe acetaldeído-desidrogenase com
acúmulo de acetaldeído
reação tóxica (náuseas, vômitos, calor,
cefaléia,hipotensão,ansiedade)
Contra-indicado (hepatopatia grave,
insuficiência renal, neuropatias periféricas,
cardiopatias, gestação)
Indicado (pacientes bem motivados, estáveis,
boa compreensão dos riscos envolvidos)
Princípios da Entrevista Motivacional
Expressar Empatia: compreender, não julgar, não dar
conselhos ou sermões
Desenvolver discrepância: explicitar a distância entre a
situação atual e a idealizada pelo cliente
Evitar confrontação direta: evitar discussões quando o
alcoólatra não admite a dependência
Fluir com a resistência: o cliente é uma fonte rica para a
resolução de seus problemas, deve ter responsabilidade pelo
seu tratamento e deve gerar opções de escolha
Estimular a auto-eficácia: crença de que o cliente pode
executar uma tarefa proposta
INTERVENÇÃO BREVE - MODELO
PADRÃO PARA PSF
Primeira Consulta: marco 0
 Análise do consumo
 Feedback
 Estabelecimento de metas realistas de acordo com
o estágio motivacional e resistência para mudança
 Avaliação médica geral - solicitar exames
complementares
 Avaliar encaminhamento para o especialista distúrbio psiquiátrico severo de base (psicose,
transtorno de personalidade, TAB)
INTERVENÇÃO BREVE - MODELO
PADRÃO PARA PSF
Segunda Consulta: semanal ou quinzenal
 Avaliação do consumo e dificuldades encontradas
para seguir as metas estabelecidas
 Avaliação dos exames complementares
 Reforço das metas estabelecidas
 Pesar vantagens e desvantagens de beber e não
beber
INTERVENÇÃO BREVE - MODELO
PADRÃO PARA PSF
Terceira Consulta: semanal ou quinzenal
 Avaliação do consumo e dificuldades encontradas
para seguir as metas estabelecidas
 Orientar para estratégias de prevenção de recaída
 Repetir exames complementares para novo feedback
 Tratar quadro de ansiedade ou depressão, se existir!
INTERVENÇÃO BREVE - MODELO
PADRÃO PARA PSF
Quarta Consulta: semanal ou quinzenal
 Avaliação do consumo e dificuldades encontradas
para seguir as metas estabelecidas
 Avaliar o progresso do tratamento:
Sucesso: reforçar a auto-eficácia
Fracasso: considerar encaminhamento para Serviço
Especializado
INTERVENÇÃO BREVE - MODELO
PADRÃO PARA PSF
Etapas de acompanhamento:
 Seguimento mensal individual ou grupal por 06
meses - alta provisória
 Revisão com 01 ano – alta
 Estimular participação em A.A. e ALANON
 Durante todo o período de tratamento o cliente deve
ser orientado para voltar antes dos prazos
estabelecidos, se necessário (recaídas) ou ativar
busca ativa
Níveis de cuidado no atendimento ao usuário
abusivo / dependente de álcool e drogas

No âmbito da comunidade:
1) Grupos de auto-ajuda para usuários e
familiares (AA, NA, ALANON)
2) Moradias protegidas para alcoolistas
3) Comunidades Terapêuticas
Níveis de cuidado no atendimento ao usuário
abusivo / dependente de álcool e drogas
No âmbito dos serviços de saúde:
Atenção primária:
1) prevenção
2) detecção precoce
3) educação em saúde para usuário e familiares
4) identificação de recursos para tratamento
5) redução de danos
6) tratamento de complicações clínicas
7) encaminhamento para os níveis secundário e
terciário.

Níveis de cuidado no atendimento ao usuário
abusivo / dependente de álcool e drogas
Atenção secundária:
1. abordagem integral do dependente químico
2. supervisão da atenção primária
3. participar na elaboração de políticas na
abordagem dos problemas causados pelas
droga
4. encaminhamento para o nível terciário
Capacitação da Atenção Primária
A Senad, com o apoio do Departamento de Atenção Básica, do
Ministério da Saúde e em parceria com a Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp), promove a terceira edição do curso “Sistema
para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias
psicoativas: encaminhamento, intervenção breve, reinserção social e
acompanhamento” – Supera
Carga Horária: 120 horas
Modalidade: ensino à distância
Certificação Universitária: Extensão Universitária pela UNIFESP
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