Asma na infância Dr. Amilcare Angelo Vecchi Pneumologista Infantil Faculdade de Medicina UFPEL Diferentes nomes para o mesmo problema • Bronquite • Bronquite alérgica • Bronquite asmática • Hiperreatividade das vias aéreas • Outros ASMA Asma Brônquica Conceito: Doença inflamatória crônica da via aérea caracterizada por limitação aguda ao fluxo aéreo e hiperreatividade bronquial, de causa multifatorial. Asma: Epidemiologia Doença crônica mais comum na infância A taxa de mortalidade causada por asma entre crianças de 5 a 14 anos dobrou entre 1980 e 1995: Crianças em ambientes mais carentes ou ambientes urbanos, tem taxas mais altas de hospitalização e mortalidade Asma: Epidemiologia Prevalência em constante crescimento desde os anos 70: Prevalência crescente em todas as faixas etárias: Mais pronunciada em crianças < 5 anos de idade (160% de crescimento) Nos EUA afeta 17 milhões de pessoas sendo que 5 milhões tem menos de 18 anos. Aumento da prevalência de asma • Oslo: – 1981: 1772 cças – 1993: 4521 cças Aumento 100% • Escócia e Inglaterra: – Nº de crises de asma 3 vezes maior em 1992 que em 1982. • U.S.A.: – 1981 – 1988 Aumento 39% Asma: prevalência Prevalência no Brasil: ao redor de 25% - ISAAC - International Survey of Asthma and Allergy in Childhood (Recife, Salvador, Itabira, Uberlândia, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre). - Crianças de 6 a 7 anos (4,7% a 20,7%) - Crianças de 13 a 14 anos (4,8% a 21,9%) - Prevalência Média = 13,3% II Consenso Brasileiro no Manejo da Asma, 1998. A tragédia Brasileira... 350.000 hospitalizações pelo SUS/96 4% das causas de hospitalização terceiro > custo (2,8% dos gastos) = $77 milhões 70% dos óbitos ocorrem no hospital e 22% destes chegaram agônicos só 0,8% morrem em UTI os BD são as medicações mais prescritas enquanto os antiinflamatórios são as menos prescritas Campos, HS Pulmão RJ 2000; 9 (1): 14-43 Função pulmonar ao nascimento e aos 6 anos de idade 160 140 120 100 80 60 40 20 0- - 1400 - 1300 - 1200 * * * * p<0.05 Never wheezers Transient wheezers Late wheezers Martinez FD et al . N Eng J Med 1995;332:133-138 Persistent wheezers - 1100 - 1000 - 900 - 800 Etiopatogenia da Asma INFLAMAÇÃO CLÍNICA ASMA HIPERREAT. BRONQUIAL OBSTRUÇÃO BRONQUIAL Seleção clonal de Linfócitos Th-2 Linfócitos T Helper Th-1 IF-gamma Protege da infecção Th-2 IL-4 IgE Eosinófilo Eosinófilo IgE, IgE,IgG IgG Proteínas Básicas Básicas MBP MBP EDN EDN ECP ECP EPO EPO C5a C5a Zimosán Zimosán PAF PAF Citocinas GR-CSF GR-CSF TGF-ß TGF-ß TNF IL-3,5,6 TNF IL-3,5,6 TGF-alfa TGF-alfa • Inhibido por Corticoesteróides •Inhibido por Corticoesteroides • Mal inhibido por ß2-agonistas •Mal inhibido por ß -agonistas 2 Causas de Limitação do Fluxo Aéreo Edema da Parede Formação de Muco Broncoconstrição aguda Remodelamento da via aérea Ponto de vista atual da asma Antígenos e outros estímulos Macrófago Linfócito-T Mastócito Neutrófilo Eosinófilo Tampão mucoso Ruptura epitelial Fibrose subepitelial Extravasamento de plasma Nervo sensitivo Edema Broncoconstrição Nervo eferente Remodelamento da Via Aérea Modificações na estrutura da via aérea que causam limitação irreversível do fluxo aéreo: hipertrofia do músculo liso fibrose da membrana basal interrupção do processo de apoptose Contribui para limitações na resposta terapêutica Asma: patogenia Destruição do epitélio bronquial Deposição de colágeno sob a membrana basal Edema Ativação de mastócitos Infiltrado de células inflamatórias Neutrófilos (especialmente na asma fatal) Eosinófilos Linfócitos (células TH-2) Asma: diagnóstico Identificar os sintomas sugestivos de asma Apoiar a suspeita de asma Avaliar a gravidade Identificar os fatores precipitantes Asma: clínica Presença de sibilancias na ausculta História de: Tosse, que piora à noite Episódios recorrentes de dispnéia, sibilancias ou opressão torácica Limitação ao fluxo aéreo reversível medida por PEF Os sintomas pioram com: Exercício Infeções virais Contato com animais Ácaros de poeira Fungos Fumo/Fumaça Pólen Mudanças de temperatura Riso, choro Durante a noite Asma: diagnóstico Clín. DUVIDOSA Clín. SUGESTIVA Medidas freqüentes de PEF se possível. Resposta BD ASMA PROVÁVEL Valorizar etiologia e gravidade Tto. de Prova Considerar: Rx tórax e seios da face Função pulmonar Provocação bronquial Mantoux. Ionotest Função imunológica Estudo de Cílios Estudo RGE Pouca Resposta Negativo Positivo Outro Diagn. A follow up statement from an international paediatric asthma consensus group Arch Dis Child, 1992; 67:240-248 Asma: função pulmonar Deve ser realizada espirometria pré e pós broncodilatador em todos os pacientes com clínica sugestiva de asma. Posteriormente realizar no mínimo uma espirometria anualmente. Monitorizar a variação diurna de PEF durante 2 semanas em pacientes com clínica sugestiva porém com espirometria normal. Provocação bronquial com metacolina ou exercício quando se suspeita de asma mas a função pulmonar é normal. Asma: classificação Asma leve Intermitente Persistente Asma moderada Asma grave Classificação segundo a gravidade Grau Sintomas Função Pulmonar Leve intermitente < 2 vezes/sem. noturnos < 2 vezes/mês. Normal Leve Persistente podem afetar a vida diária. > 2 vezes/sem. noturnos > 2 vezes/mês. Normal Moderada afetam a vida diária. noturnos > 1 vez/semana. FEV1 > 60%. Grave são contínuos. atividade diária muito alterada. todas as noites. FEV1 < 60%. Fármacos < 3 inalações/semana de adrenérgico (de resgate). - esteróide inalado (< 400 µg/dia). - esteróide inalado (400-800 µg/dia) - adrenérgico de longa duração. - esteróide inalado (> 800 µg/dia) - adrenérgico de longa duração - esteróide oral. Objetivos do Tratamento Função pulmonar Exacerbações Inflamação Sintomas Qualidade de vida Asma: tratamento 1) Tratamento educacional 2) Medidas de higiene e controle ambiental 3) Farmacológico Asma: farmacoterapia Drogas para controle a longo prazo: Corticosteróides Cromonas: CGDS e Nedocromil ß2-agonistas de ação prolongada Metilxantinas Antileucotrienos Drogas para alívio rápido dos sintomas: ß2-agonistas de curta ação Anticolinérgicos Corticosteróides sistêmicos 2 de curta ação Tratamento mais eficaz da crise asmática e dos sintomas intermitentes da asma em todas as idades. Utilizar doses suficiente e com intervalo breve (em crises graves nebulização contínua). Evidentemente, via inalada melhor que oral, e.v. etc... Corticóides sistêmicos Aceleram a resolução da obstrução. Reduzem a freqüência de recaídas. Efeito a partir de 4 horas. Via oral tem similar eficácia que a e.v. 2 de ação prolongada NÃO deve ser utilizado para tratamento de exacerbações. Utilizados sempre juntamente com fármacos antiinflamatórios para lograr um controle prolongado dos sintomas: asma noturna, broncoespasmo induzido por exercício. Cromonas CGDS e Nedocromil: similar atividade antiinflamatória: Bloqueio dos canais de cloro Modulação da degranulação dos mastócitos Modulação do recrutamento de eosinófilos Igualmente eficazes na asma alérgica, Nedocromil algo mais eficaz na asma não alérgica Nedocromil pode ser utilizado 2 vezes ao dia (melhor 3) A resposta clínica é menos previsível que com corticóides inalados Poucos efeitos colaterais com ambos os fármacos Antileucotrienos Melhoram a função pulmonar Diminuem os sintomas e as necessidades de ß2. Seu papel no tratamento da asma não está bem estabelecido: Primeira linha em asma leve-moderado em vez de corticóides inalados a baixas doses. Diminui as doses de corticóides inalados. Pacientes com falha no cumprimento de medicação inalada. Pacientes com asma e rinite alérgica. Metilxantinas Broncodilatadores de potência leve. Mecanismo de ação desconhecido, estudos atuais sugerem que a doses baixas tem certo efeito antiinflamatório. Teofilina de liberação lenta poderia ser uma alternativa (NÃO preferida) para o tratamento de manutenção. Monitorização de níveis sangüíneos é essencial. Anticolinérgicos Brometo de Ipratrópio inalado. Pode ter algum efeito aditivo aos ß2 na crise asmática grave. Sua eficácia no tratamento a longo prazo não está demonstrada. O melhor tratamento para o estado de mal asmático é o realizado 3 dias antes de seu início! T. Petty, 1989 Asma: diagnóstico diferencial Patologias de vias aéreas superiores: Rinites e sinusites Obstrução de grande via aérea: Corpo estranho Disfunção de cordas vocais Anéis vasculares, membrana laríngea Laringotraqueomalácia, estenose traqueal ou bronquial Compressão por adenopatias ou tumores Asma: diagnóstico diferencial Obstrução de pequenas vias aéreas: Bronquiolite viral, bronquiolite obliterante Fibrose Cística Displasia broncopulmonar Cardiopatias Outras causas: Tosse recorrente não asmática Aspiração por defeito na deglutição ou por refluxo gastroesofágico. Asma e aleitamento materno 2185 crianças entre 12 e 24 meses de idade (Toronto) • Aleitamento materno por mais de 9 m protege do desenvolvimento de asma e broncoespasmo • Com base em evidências disponíveis, em termos populacionais, sugere-se que o efeito se torne significativo em crianças amamentadas pelo menos por 6 meses. Dell S, To T. Arch Pediatr Adolesc Med 2001;155:1261-5