Novas Linguagens e
Modelos de Interação
Coordenação: Denise Bértoli Braga
Co-Coordenação: Cláudia Lemos Vóvio
Pesquisadores: Paulo de Tarso Gomes
Orlando Joia
Luiz Henrique Magnani Xavier de Lima
Michel Alencar Morandi
Ronaldo José da Costa
Coord. Equipe: Carolina Bottosso de Moura
Equipe Técnica: Junot de Oliveira Maia
Elífaz Roman Filho
Maurílio Átila Carvalho de Santana
Natália Freitas Reis
Objetivos da Equipe IEL
Objetivos
Considerando estudos do letramento,
tecnologias de inteligências e pesquisa
empírica:
Especificar particularidades do público-alvo
em relação a:
– Repertório e estratégias na superação de
dificuldades no uso da escrita
– interação do público-alvo com as TICs
– Oferecer diretrizes para construção de interfaces
adequadas ao p.a.
Revisão de Pesquisas
sobre Letramento e
Público-Alvo
Objetivo
Discriminar a influência de três
categorias usadas na definição do
p.a.:
Escolarização
Desenvolvimento cognitivo
Estratégias usadas para contornar
problemas na interação com textos
escritos
Síntese dos resultados
apresentados
Público-Alvo
Características
Heterogeneidade:
Grupo bastante
heterogêneo quanto
a suas
características
sociais,
comportamentais e
modalidades
cognitivas
Fator
Convergente:
Os integrantes
desses grupos não
correspondem às
expectativas sociais
conectadas a
escolarização e
diferentes usos da
língua escrita
Heterogeneidade
Causas
Diferenças culturais,
mesmo entre grupos
de:
– Mesma área geográfica
– Mesma classe sócioeconômica (Heath, 1983)
Habilidades letradas
dependem de:
– Contextos
– Papéis
– Objetivos e formas de
interação com
diferentes materiais
escritos (vvaa, 1981-2002)
Habilidades cognitivas
do Público-alvo
Raciocínio indutivo ancorado em experiências
cotidianas
Dificuldade em elaborar raciocínio dedutivo, ancorado
na relação formal entre premissas
Estratégia de resolução de problemas silogísticos:
– Premissas precisam estar relacionadas a
experiência prévia
– Foco no conteúdo material das premissas e não
em suas relações formais
– Premissas consideradas sempre de forma
particularizada/contextualizada e não em caráter
universal nem como parte constitutiva de um
raciocínio mais amplo
Exemplos práticos
Desconsideração de Premissas
E: Algodão pode crescer somente onde é
quente e seco. Na Inglaterra é frio e úmido.
O algodão pode crescer lá?
S: Eu não sei.
E: Pense sobre isso.
S: Eu sempre vivi no país de Kashgar; eu
não conheço nada além ...
(Luria, 1990).
Exemplo prático
Descaracterização de premissa
universal
E: Ursos brancos existem somente onde faz frio e
há neve. Casulos de seda existem somente onde
faz muito calor. Há lugares onde existem tanto
ursos brancos quanto casulos?
S: Deve haver. Há grandes vilas no mundo. Em uma
fazenda coletiva pode haver ursos brancos e em
uma outra pode haver casulos.
E: E poderia acontecer de um urso branco roubar
um casulo?
S: Se alguma coisa tentar machucar o casulo, os
camponeses agirão. Mas você estava perguntando
se haveria tais lugares. Eu digo que pode ser.
Exemplo prático
Consideração de premissas de forma particular
E: Não há camelos na Alemanha. A cidade B fica na
Alemanha. Existem camelos ali ou não?
[O sujeito repete exatamente o silogismo]
E: Então há camelos na Alemanha?
S: Eu não sei, eu nunca estive nas vilas alemãs.
[O silogismo é repetido.]
S: Provavelmente há camelos lá.
E: Repita o que eu disse.
S: Não há camelos na Alemanha, há camelos em B
ou não? Então provavelmente há. Se for uma cidade
grande, deve haver camelos lá.
Estratégias adotadas para
resolução de silogismos
Não se trata de déficit cognitivo
P.a. realiza operações sobre proposições
abstratas de forma diversa das pessoas
escolarizadas
Estratégia principal: sincretismo entre
mundo vivido e problema proposto
Há conflito quando o conteúdo das
premissas não converge com o
conhecimento prévio do sujeito
Exemplo prático
sincretismo complementar
Os vaqueiros só levam seu cachorro junto quando
vão longe da fazenda.
O vaqueiro João sempre leva seu cachorro junto.
Ele vai longe ou perto da fazenda?"
Um dos adultos do grupo 1, após responder
corretamente à pergunta ("vai longe''), justificou
sua resposta assim:
"Porque ele vai longe; se acontecê qualquer algo
com ele, o cachorro volta prá avisar que aconteceu
algum acidente".
Exemplo prático
sincretismo contraditório
"Esses amigos (apontando) só fazem visita de
... (o entrevistador dizia um dia da semana
diferente do dia da testagem). Hoje, eles estão
se visitando. Que dia é hoje?"
Um sujeito deu a seguinte resposta (errada) ao
silogismo:
''Hoje (...) pode ser um sábado à noite" (o dia
mencionado no silogismo foi Domingo).
Como justificativa para essa resposta, ele disse:
"Bão, a gente ... pelo menos eu, gosto de ir no
Sábado à noite fazê visita, porque no Domingo
eu posso dormir até tarde) né?"
Escolarização
Preditor menos relevante do que
situações de interação em práticas
sociais concretas
Quando associada a práticas, promove
o desenvolvimento de habilidades
cognitivas como:
– Raciocínio abstrato
– Categorização
– Memorização
Escolarização
Pesquisas Empíricas
Autor
Ano
Situação/País
Scribner e Cole
1981
Libéria
Tfouni
1988
Ribeirão Preto, Brasil
Tulviste
1991
Quirguistão
Vóvio
1999
São Paulo, Brasil
Oliveira
2001
Grupos urbanos, Brasil
Kleimann
2002
Brasil
Interação com letramento
digital
Chipchase(2005) propõe três
habilidades:
– Letramento para tarefa
– Letramento para dispositivo
(computador/celular)
– Letramento textual
Letramento textual
Domínio da escrita
Domínio do gênero: escolhas
lingüísticas, léxico e sintaxe
Domínio do funcionamento dos textos
em diferentes práticas sociais
Letramento para
dispositivo
Grupos pouco letrados aprendem a
interpretar no cotidiano pela:
– Observação visual (casual e não
organizada como a escolar)
– Apoio em contextos ricos, com diversos
tipos de pistas convergentes e
redundantes
Interação com TICs
Ícones auxiliam a criação de contextos ricos,
se acompanhados de palavras
Ícones são insuficientes quando as tarefas são
distantes do conhecimento prévio dos sujeitos
Hipóteses sobre o funcionamento do
dispositivo dependem das respostas obtidas a
partir dos comandos
Problemas técnicos bloqueiam estratégias de
tentativa e erro: usuário não distingue falhas
pessoais de falhas do sistema
Feedback em áudio auxilia o uso de telefones
móveis
Pesquisa com Público-Alvo
Objetivos: Público-Alvo
Identificar estratégias comunicativas e cognitivas
Verificar relevância da escolaridade sobre sua
atuação
Identificar circunscritores: fatores que limitam
e/ou dificultam ações que envolvem o uso de
páginas de web, relativos a:
– operações sobre informações,
– operações sobre percursos ordenados em modalidade
multimodal,
– raciocínio dedutivo e indutivo,
– leitura de listas organizadas categorialmente.
Metodologia e
Instrumentos
Instrumento de Pesquisa
Entrevista de duas a três horas
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Situação sócio-demográfica
Situação escolar e de letramento
Situação de uso da escrita e de computadores
Familiaridade com dispositivos, ícones e
palavras relativos a TICs
Familiaridade com Documentos
Destreza em Bloco de Notas
Leitura e Percurso em página web
Participantes da Pesquisa
28 pessoas
Jovens e adultos: 18 a 64 anos
Ambos os sexos
Residentes em zona urbana: São Paulo e
Campinas-SP (predominância de migrantes)
Classes C, D, E
Pouca familiaridade com computadores/web
Subamostras Escolarização
São Paulo (10)
– Predomínio de escolarização no primeiro
segmento do ensino fundamental (50%),
compreendendo apenas ensino
fundamental
Campinas (18)
– Predomínio de escolarização no ensino
médio (40%), compreendendo todos os
segmentos até ensino superior
Uso de computador no
cotidiano
Apenas 5 (cinco) declararam não usar
freqüentemente computador em suas
atividades
Uso ao menos uma vez na semana:
– Ensino Fundamental (EF) = 31%
– Ensino Médio (EM) = 66%
Resultados gerais
Identificação de
Dispositivos
Menos reconhecidos
(Menos que % de acertos em algum grupo EF ou
EM)
EF=63%
EM=42%
EF=69%
EM=92%
EF=69%
EM=50%
EF=75%
EM=67%
Mais reconhecidos
Obtiveram 100% em ambos os grupos:
– Caixa Eletrônico
– Calculadora
– Computador (no conjunto)
– Fone de Ouvido
– Máquina de Escrever
– Teclado (sozinho)
Identificação de Ícones
Campo Semântico
Os ícones podem ser reconhecidos:
– Dentro do campo semântico de uso de TICs
– Fora do campo semântico de uso das TICs
Ou, simplesmente, não são reconhecidos
Conjunto de Ícones
Ícones
Resultado Geral
45,2% dos participantes identifica os
treze ícones dentro do campo
semântico das TICs
Somente 4 dos 28 sujeitos
identificaram de 10 a 13 ícones
17 identificaram até 6 ícones no
máximo
Ícones mais reconhecidos
(% de acertos em EF e EM)
EF=94%
EM=67%
EF=88%
EM=92%
EF=69%
EM=67%
Ícones menos
reconhecidos
(% de acertos em EF e EM)
EF= 6%
EM= 25%
EF= 13%
EM= 33%
EF= 19%
EM= 17%
EF= 50%
EM=25%
Ícones
Observações
Ícone “Impressora” se refere
diretamente ao objeto e é
utilizado em tarefas escolares,
principal uso da população de EF
de São Paulo
O ícone “Home”, por indicar a
casa, conduz para fora do
campo semântico
Identificação de Palavras
Conjunto de Palavras
atualizar
baixar
botão
buscar
clicar
confirmar
delete
entrar
enviar
imprimir
janela
localizar
maximizar
menu
minimizar
reiniciar
salvar
selecionar
senha
site
Desempenho com
palavras
67,1% atribui sentido a todas palavras
dentro do campo semântico das TICs às
vinte palavras
Na atribuição de sentidos em palavras como
“atualizar”, “clicar”, “confirmar” e “site”, os
sujeitos com ensino fundamental se saem
melhor
Os resultados indicam que não são os níveis
de escolarização que influenciam no acerto,
mas a familiaridade no uso do computador
em tarefas escolares
Palavras
(Maior % de acertos no campo semântico)
Palavra
Clicar
Ensino
Ensino Médio
Fundamental
100%
83%
Site
94%
83%
Confirmar
56%
50%
Atualizar
38%
17%
Destreza com bloco de
notas
Essa etapa foi composta pelas seguintes
tarefas:
– identificar o ícone do Bloco de Notas na
área de trabalho
– abrir o bloco de notas
– escrever e apagar caracteres,
– minimizar, maximizar e fechar a janela
– selecionar opções dadas pela mensagem
de alerta do sistema
Destreza com bloco de notas
resultados
A análise preliminar do desempenho
de tarefas indica que o fator idade
pode ser mais preponderante do que
propriamente a escolaridade
A escolarização em si não implica em
vantagem, a menos que haja no
ambiente escolar interação com as
TICs
Navegação em site
Foram explorados os seguintes itens
de um site criado para fins dessa
pesquisa:
– Componentes textuais de página de
serviços web: menus, caixas de textos etc
– Gêneros discursivos e seqüências textuais
presentes em páginas web
– Elementos básicos de interação como
janelas, ícones, menus etc
Navegação em site
digitação de url
53,8% dos sujeitos conseguiram digitar o
endereço da internet (URL) no campo
específico do navegador e acionar o
carregamento da página.
Daqueles que não fizeram com facilidade a
tarefa, somente dois conseguiram sozinhos,
depois de tentativas.
Os demais só conseguiram realizar essa
tarefa com a ajuda e indicações do
mediador
Navegação em site
reconhecimento de página
75% dos sujeitos reconhecem a página
principal do site, usando elementos
lingüísticos e não lingüísticos (logo,
endereço eletrônico, siglas, imagens etc.).
Os elementos da página convergem para
que os usuários façam inferências sobre o
site em que se encontram.
Muitos dos sujeitos da pesquisa são
usuários dos serviços públicos de saúde,
portanto os conteúdos lhes são familiares
e conhecidos
Navegação em site
reconhecimento de gênero discursivo
67,9% dos sujeitos encontraram com
facilidade o campo visual da tela onde havia
notícias
Somente 3 sujeitos (todos com ensino
fundamental) não conseguiram localizar as
notícias, mesmo com ajuda.
77,8% dos sujeitos localizaram
corretamente as três propagandas
dispostas na parte inferior da página, o que
demandou acionar a rolagem da página
para alcançar o campo visual
Orientações Preliminares
de Usabilidade
Cultura Oral
P.a. domina as estratégias da tecnologia da
oralidade (Levy, 1988):
– Imitação: observar, imitar e fazer
– Memória: reter e recordar, facilitado por frases
curtas, redundantes e rimas
– Proximidade: interação com pessoas que
compartilham circunstâncias e representações
culturais
– Narrativa: favorece a integração dos itens
anteriores
– Rito: associa gestos a palavras
– Informalidade da aprendizagem: aprendem em
contexto, ouvindo e observando
Qualidades facilitadoras
de usabilidade
Redundância
Consistência
Proximidade
Estruturas narrativas
Redundância
Redundância: pelo uso conjugado de
ícones, imagens e palavras
Vantagem: facilita memorização
Necessita de atenção à consistência
Consistência
Definição do campo semântico de interação
Reconhecimento dos ícones e palavras
dentro desse campo semântico
Coesão semântica entre ícone e palavra
Univocidade do ícone dentro do contexto de
interação
Permanência de ícones e palavras na
aplicação
Proximidade
Relação de símbolos com a experiência local
Desafio: os serviços propostos estão numa
esfera federal, em que o Estado é uma
entidade abstrata e insuficiente para
estabelecer proximidade
Alternativa: estabelecer proximidade por meio
de processos comunicativos e culturais.
Implica numa mediação que distingue e faz
convergir o que dizer e o como dizer
Redundância e reiteração criam proximidade
com o ambiente de interface
Ambientes dedutivos x Usuários em
que predomina a tecnologia da
oralidade
A estrutura fornecida por ambientes de
programação e sistemas operacionais é
orientada para raciocínios dedutivos
Cabe ao usuário reinterpretar em cada
contexto que um objeto aparece a exata
função desse objeto
Porém, a literatura e a pesquisa indicam
que o usuário-alvo não se orienta por lógica
dedutiva, o que nos conduz a uma estrutura
lógica próxima da narrativa
Estruturas narrativas
Raciocínios indutivos dependem de
regularidades
Preferir estruturas regulares e reiterativas a
estruturas variadas ou surpreendentes
A própria reiteração da estrutura (p.ex.
topologia) permite ao usuário perceber a
regularidade e criar expectativas e hipóteses
a partir de estratégias indutivas de
raciocínio, de particular a particular.
Próximas Etapas
Análise qualitativa dos dados da Fase I
Levantamento lingüístico:
- Levantamento das palavras freqüentes
(narrativas espontâneas x site)
- Etiquetar corpus alvo identificando diferentes
componentes morfo-sintáticos
- Definição das palavras que serão reescritas
- Levantamento de extensão média de palavras e
frases
- Estrutura morfológica típica da frase das
narrativas do p.a.