UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR SOLIDÃO, MELANCOLIA, FRUSTRAÇÃO: DOR MAIOR DOS ROMÂNTICOS DO ULTRA-ROMANTISMO Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Docência do ensino Superior, sob a orientação da Professora Maria Esther de Araújo Oliveira. Rio de Janeiro, Março, 2002 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SOCIO-PEDAGÓGICAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR SOLIDÃO, MELANCOLIA, FRUSTRAÇÃO: DOR MAIOR DOS ROMÂNTICOS DO ULTRA-ROMANTISMO Por CLEUZA DA FONSECA COSTA Rio de Janeiro, Março, 2002 “Cristo, devido à elegância como manifestava seus pensamentos, provavelmente usava cada angustia, cada perda, cada contrariedade como uma oportunidade para enriquecer sua compreensão da natureza humana. (CURY, Augusto Jorge - Análise da Inteligência de Cristo - O Mestre dos Mestres) Agradecimentos. Aos meus avôs Alfredo e Lica (in memória) expressão máxima de amor e ternura. Sempre os Amarei! Aos meus filhos, Josué e Joseane, para que tenham a justa medida do que deve ser uma atitude ética de vida e ao meu esposo João por seu incentivo constantes e pelas longas ausência. Adoro Vocês! Ao meu pai, pelo orgulho ao me ver lendo “Os Luziadas e pelo incentivo. Te amo Ao meu chefe, Vanderlei, pelas horas em que precisei sair mais cedo da empresa para fazer pesquisas. Serei sempre grata. Ao Senhor Jesus por sua benção e seu amor maior, a Mãe pelo seu sim e aos Anjos por sua proteção. A minha fé é imbatível. RESUMO Este trabalho teve por objetivo apresentar os poetas do período denominado “mal do século”. O Brasil passava por um período de desenvolvimento e aliado aos problemas pessoais e familiares, os jovens se tornavam cada vez mais egocêntricos, pessimistas, negativistas, trazendo aos mesmos um desânimo profundo que acarretava em desinteresse pelo mundo externo. A pesquisa divide-se em etapas, tendo o cuidado de evidenciar as escolas literárias, breve bibliografia mostrando a vida e algumas obras dos poetas do ultraromantismo. também buscando enfatizar a cidade do Rio de Janeiro, que na época era o centro cultural e a cidade mais importante do Brasil, local onde estava situada a “corte” SUMÁRIO Introdução.........................................................................................................................8 I Capítulo A Literatura e sua influência no Brasil 1.1 – Literatura de Informação................................................................................... 9 1.2 – Barroco ............................................................................................................. 10 1.3 – Arcadismo ......................................................................................................... 11 1.4 – Romantismo ..................................................................................................... 12 II Capítulo Os Ultra-Românticos 2.1 - Manuel Antonio Álvares de Azevedo ............................................................... 14 2.2 – Luis José Junqueira Freire ................................................................................... 18 2.3 – Casimiro José Marques de Abreu ........................................................................ 20 2.4 – Luis Nicolau Fagundes Varela ............................................................................. 23 III Capítulo 3. O romantismo e a cidade do Rio de Janeiro no século XIX 3.1 - A cidade ................................................................................................................ 26 3.2 – Situação Geral • Abastecimento de água ........................................................................ 27 • Insalubridade no Rio de Janeiro ........................................................... 27 • O lixo e a limpeza pública ................................................................... 28 • Entrega de correspondências ................................................................ 28 • Esgoto ................................................................................................... 28 • Os enterros ........................................................................................... 28 3.3 – Mais informações sobre o Rio de Janeiro na época do Romantismo................ 29 3.4 – Hábitos e Costumes • Alimentação ......................................................................................... 29 • Divertimentos ....................................................................................... 30 • Higiene ................................................................................................. 30 I V Capítulo A Dor Maior dos Poetas • A mulher imaginária ........................................................................... 31 • A Culpa da masturbação ...................................................................... 31 • A depressão e a melancolia dos poetas .................................................32 • Os ultra-românticos e o álcool ...............................................................34 • A medicina da época ........................................................................... .36 • A tuberculose ...................................................................................... 37 Conclusão .............................................................................................................................40 Bibliografia ...........................................................................................................................42 Algumas obras de Álvares de Azevedo ................................................................................44 Algumas obras de Casimiro de Abreu ..................................................................................48 Algumas obras de Junqueira Freire ......................................................................................55 Algumas obras de Fagundes Varela .....................................................................................59 INTRODUÇÃO Esta pesquisa pretende fazer um breve relato da vida e obra dos jovens poetas do ultra-romantismo, comentários sobre as escolas literárias que antecederam o romantismo, a Rio de Janeiro no século XIX e como os problemas familiares influenciaram a vida pessoal destes jovens. A literatura é o reflexo de uma época, um momento histórico, que reage de acordo com a situação do país, seja econômico, político ou social. Com a vinda da família real em 1808 para o Brasil e a corte instala-se no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro passa por um processo de urbanização muito grande, tornando-se um campo propício à divulgação das novas influências européias, a imprensa. A colônia começa a pensar na independência. De 1823 a 1831 o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de Dom Pedro I. A dissolução da Assembléia Constituinte, a constituição outorgada. A confederação do Equador. A luta pelo trono português contra D.Miguel e a abdicação. Começa o período regencial e a maioridade prematura de Dom Pedro II. Neste ambiente confuso e inseguro surge o Romantismo Brasileiro. Uma escola literária carregada de sentimentalismo; da valorização das emoções pessoais, do subjetivismo, do eu, e do individualismo. É neste choque entre a realidade e o seu eu pessoal e o mundo e que nascem os poetas do ultra-romantismo. Nascem já com saudade da infância, idealizando uma sociedade irreal tão irreal quanto o amor é a mulher sonhada. A negação da vida era inevitável, o egocentrismo de seu eu pessoal os leva a um choque de frustração, tédio, tendo como solução para a solidão e a fuga da realidade o álcool, o ópio, as casas de aluguel. Entre uma fuga e outra, morrem os nossos poetas tão prematuramente. I Capítulo A LITERATURA E SUA INFLUÊNCIA NO BRASIL O primeiro capítulo tem a função de apresentar o iniciou da literatura no Brasil e seu desenvolvimento, fazendo também um breve comentário como a literatura européia influenciou a do Brasil. 1.1 – LITERATURA DE INFORMAÇÂO A carta de Pêro Vaz de Caminha foi o 1º documento oficial sobre a terra Brasileira (esta carta original está guardada na torre do Tombo, arquivo nacional Português – Lisboa). As cartas, depoimentos e relatórios de navegantes, missionários e aventureiros que estiveram no Brasil durante os séculos XVI e XVII constituem um material informativo de grande interesse cultural. Fragmento da carta de Pêro Vaz de Caminha “Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem ferro; nem lho vimos. A terra, porém, em si, é de muito bom ares”. 1.2 - O BARROCO Entre os anos 1545 e 1563, após o Concílio de Trento, onde houve uma grande reformulação do Catolicismo, em resposta à Reforma estabeleceu uma divisão da cristandade entre protestante e católicos. Nos estados protestantes, as condições sociais foram mais favoráveis à liberdade do pensamento, o racionalismo e a curiosidade científica do Renascimento continuaram a ser desenvolvido. Os católicos, sobretudo na Península Ibérica, desenvolveu-se o chamado contra-reforma, que procurou reprimir todas as tentativas de manifestações culturais e religiosas contrárias às determinações da Igreja católica Foi criado o “Tribunal da Inquisição que se estabeleceu em Portugal, por volta do século XVI para julgar os casos de heresia. A austeridade e a repressão ameaçavam cada vez mais a liberdade de pensamento. Esta situação contraditória, de medo, resultou num movimento artístico que mostrava as atitudes contraditórias do artista em face do mundo da vida, dos sentimentos e de si mesmo. Este movimento recebeu o nome de Barroco. O homem se vê espremido entre o céu e a terra, consciente de sua grandeza mas atormentado pela idéia do pecado e nesse dilema, busca a salvação de forma angustiada. Buscando a Cristo “Á vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me estais cravados. Gregório de Matos” O Barroco, didaticamente começou no Brasil com a publicação do poema “A Prosopopéia” de Bento Teixeira em 1601 e termina em 1768, quando Cláudio Manuel da Costa introduz o Arcadismo com seu livro Obras. 1.3 - O A R C A D I S M O Em 1751 a Europa apresenta, de um modo geral, uma importante fase de transformação cultural. Esta inquietação intelectual estimulou os debates a respeito de temas políticos e ajudou a criar o clima de contestação e com isso, deu-se início a Revolução Francesa em 1789, provocando a queda da monarquia. Este movimento também foi chamado de Iluminismo, espalhou-se pela Europa e foi parar em Portugal. Inicia-se então em pleno século XVIII o Arcadismo, que expressa uma visão mais sensualista da existência, propondo uma volta à natureza e um contato maior com a vida simples do campo e tenta eliminar os exageros do Barroco. Os poetas arcádicos recriam, em seus textos, as paisagens campestres de outras épocas, com pastores e pastoras cantando e vivendo uma existência sadia e amorosa, preocupados apenas em cuidar de seus rebanhos, há uma preocupação de recriar o bucolismo. “Irás divertir-te na floresta, sustentada, Marília, no meu braço; aqui descansarei a quente sesta; dormindo um leve sono em teu regaço; enquanto a luta jogam os pastores, e emparelhados correm nas campinas, (Tomas Antônio Gonzaga)” No Brasil, o Arcadismo teve início em 1768 com a publicação das Obras de Cláudio Manuel da Costa e teve maior expressão com os poetas que viviam em Minas Gerais, na época, o principal centro econômico do Brasil em função da descoberta de ouro e diamante. Nas obras dos poetas brasileiros, podemos distinguir não só a presença de alguns elementos típicos da natureza brasileira, distinguindo-se aqui dos poetas portugueses, como também tem a tendência para a confissão de dramas sentimentais e amorosos, antecipando dessa forma ao estilo que viria no século seguintes não. Nã o vês , Nic e, est e ven to des abri do Que arranca os duros troncos? Não vês esta, e o horror de um relâmpago incendido? 1.4 - O ROMANTISMO Em 1789 com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial na Inglaterra, marcaram na Europa o nascimento de mais uma escola literária, que recebeu o nome de Romantismo. Na Inglaterra passou-se em ritmo acelerado do sistema doméstico para o sistema fabril de produção, o que provocou aparecimento de cidades Industriais. Começou a surgir duas novas classes: a burguesia industrial que crescia em força e o proletariado que crescia em número. Os antigos senhores e servos passavam-se à sociedade de classes. A revolução Francesa destruiu o absolutismo e levou a burguesia ao poder. Criou condições para o desenvolvimento do Capitalismo na França, pondo abaixo a aristocracia que vivia de privilégios feudais. O Romantismo no Brasil começou no ano de 1836, com o manifesto romântico: Niterói, Revista Brasiliense. Segundo Afrânio Coutinho, o romantismo é divido em 4 grupos: • Primeiro grupo - 1836 Com Tendências contraditórias, de conservadorismo aliadas aos princípios da nova estética, poesia religiosa e mística; nacionalismo, influência inglesa e francesa. • Segundo grupo - 1840 / 1850 Predomínio das descrições da natureza, panteísmo, idealização do selvagem indianismo como expressão original do nacionalismo brasileiro, o selvagem como símbolo do espírito e da civilização nacionais em luta contra a herança portuguesa. • Terceiro grupo - 1850/1860 Individualismo e subjetivismo, dúvidas, desilusão, cinismo e negativismo, boêmio, “mal do século” poesia byroniana. • Quarto grupo - Depois de 1860 Romantismo liberal e social, intensa impregnação política-social, nacionalista ligada a lutas pelo abolicionismo e pela Guerra do Paraguai. Poesia intimista e amorosa e também um lirismo de metáforas arrebatadas e ousadas, também conhecidas como “poesia condoeria”. II Capitulo OS ULTRA-ROMÂNTICOS O segundo capítulo tem a função de apresentar os românticos do chamado “Mal do Século” que não vendo solução para a sua “dor vivente” entregam-se à solidão, aos vícios, transformando o prazer de escrever o remédio para o seu “mal”. 2.1 - Manuel Antônio Álvares de Azevedo Álvares de Azevedo, poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo no dia em 12 de setembro de 1831, e faleceu no Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1852. O falecimento de seu irmão, Manuel Inácio, deixa marcas profundas sobre o jovem sensível. Alguns biógrafos atribuem ao choque com a morte do irmão uma febre que o domina entre os cinco e os seis anos, quase o mata, e que o deixaria debilitado pelo resto da vida. Patrono da Cadeira n.º 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto. Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Segundo afirmação de seus biógrafos, teria nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo. Em 1833, em companhia dos pais, mudouse para o Rio de Janeiro e, em 1840, ingressou no colégio Stoll, aos nove anos, onde logo se destaca, sendo considerado, pelo professor Stoll, "o melhor dos alunos, pela inteligência, pelo espírito, pela amável alegria e, principalmente, pela bondade". Terminado o primário, já fala francês e inglês e ingressa no célebre Colégio Dom Pedro II para cursar o ginásio. Lá, aprende o alemão, o grego e o latim e tem aulas de filosofia com o poeta Gonçalves de Magalhães, introdutor do romantismo no Brasil. Sempre enfrentando problemas de saúde, recebe com menção honrosa, em 1847, o título de Bacharel em Letras, o equivalente, hoje em dia, ao diploma do Segundo Grau. Em 1848, ingressa na Academia de Ciências Jurídicas de São Paulo. A partir da sua transferência para a capital paulista até a sua morte, em férias, no Rio de Janeiro, a história se mistura com a lenda e fica difícil distinguir o homem do mito. Nas suas cartas à família e aos amigos cariocas, assim como na peça "Maceiro", Manco revela um imenso tédio em morar na pequena "cidade colocada na montanha, envolta de várzeas seivosas" com "ladeiras íngremes e ruas péssimas", nas quais "era raro o minuto em que não se esbarrassem pessoas com um burro ou com um padre". A capital paulista era, então, habitada por não mais de 15 mil pessoas, que viviam escandalizadas com as aventuras devassas de uma sociedade secreta de estudantes, fundada em 1845, conhecida como "Sociedade Epicuréia". Seus membros, alunos da Academia, chamavam-se uns aos outros pelos nomes de personagens do Lorde Byron e tinham, como objetivo principal, colocar em prática as "extravagantes fantasias" do poeta inglês. Realizavam orgias intermináveis e, diz a lenda, cerimônias macabras nos cemitérios paulistanos. Chegando a essa São Paulo, Álvares de Azevedo trava logo amizade com dois poetas estudantes, notórios boêmios, Aureliano Lessa e o futuro romancista Bernardo Guimarães. Juntos, planejam publicar um livro de versos, intitulado "As Três Liras". Introvertido, estudioso, Álvares de Azevedo leu com avidez e produziu vertiginosamente durante os quatro anos de Faculdade, tendo sido excelente aluno. Em 1844, retornou a São Paulo em companhia de seu tio. Regressa, novamente ao Rio de Janeiro no ano seguinte, entrando para o internato do Colégio Pedro II. Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e teve uma intensa vida literária, fundou, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano. Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio, o Moço, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, e com eles constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses. O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar. Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe. Proferiu as orações fúnebres por ocasião dos enterros de dois companheiros de escola, cujas mortes teriam enchido de presságios o seu espírito. Era de pouca vitalidade e de compleição delicada; o desconforto das "repúblicas" e o esforço intelectual minaram-lhe a saúde. Entre os anos letivos de 1851 e 1852, vai passar as férias com a família. Passeando a cavalo, a conselho médico, com seu cão fiel pelas ruas do Rio de Janeiro, para amenizar os sintomas da tuberculose que o afligia, sofre uma queda. Após uma operação dolorosa, segundo a família sem anestesia, para a remoção de um tumor na fossa ilíaca - provavelmente uma apendicite supurada - e depois de 46 dias de agonia, deixa a vida para virar lenda. Após se confessar ao padre arrumado às pressas, pediu à mãe, grávida de seu oitavo irmão, que se retirasse do quarto, pois precisava descansar. Por volta das 4 horas da tarde, com o auxílio do irmão Quinquim - quatro anos mais moço - ergueu-se um pouco do leito, beijou a mão de seu pai e, a custo, exclamou: Que fatalidade, meu pai! corpo jazia imóvel Tentou ainda dizer algumas palavras, mas a boca já se contraía e o nos braços do irmão. Do quarto ao lado, D. Maria Luísa, ouvindo e entendendo, soltou um grito desesperado e desfaleceu. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição. Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título "Se eu morresse amanhã. No enterro, discursou o parente Joaquim Manuel de Macedo, médico, professor e já um dos mais importantes e populares romancistas do Brasil. Entre outros elogios, afirmava que "Deus tinha acendido na alma do mancebo aquele fogo sagrado da poesia, que eleva o homem acima da terra e faz correr de seus lábios, em cânticos sonoros, a linguagem do inspirado". Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado. As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos; Poesias diversas, O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, "tentativa dramática"; À noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance. No dia 27 de abril, o Correio Mercantil, jornal onde então trabalhava Manuel Antônio de Almeida, publicou, na primeira página, uma nota em que se lia: "Nesse jovem perdeu o Brasil um de seus mais esperançosos filhos, um coração patriótico e dedicado, um poeta cujos vôos deviam elevar-se a grandes alturas, um advogado que prometia em breve conhecer todos os arcanos das ciências jurídicas, pois que ainda no fervor dos anos já lhe eram igualmente familiares os poetas e literatos da Itália, da Alemanha, da França e da Inglaterra, assim como os escritos dos mais abalizados jurisconsultos e publicistas". Abaixo passagens do livro de contos (Caliban), Noite na Taverna, uma amostra da poesia Se eu morresse amanhã (composta dias antes do acidente) e do livro de poesias Lira dos Vinte Anos. "Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã... A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!" "Lira dos Vinte Anos” "Pois bem, dir-vos-ei uma história. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não é um conto, é uma lembrança do passado. "Noite na Taverna ” "Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas que se fundem tenho amado muito e sempre! Se chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela—eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer—e meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria…" "Esse amor foi uma desgraça. Foi uma sina terrível. Ó meu pai! ó minha segunda mãe! ó meus anjos! meu céu! minhas campinas! É tão triste morrer!" Macário 2.2 - Junqueira Freire "Eis a descrença e a crença, Eis o absinto e a flor, Luís José Junqueira Freire, vive uma vida de infelicidade na casa paterna, torna-se monge beneditino, sacerdote e poeta, nasceu em Salvador, em 31 de dezembro de 1832, e faleceu na mesma cidade, em 24 de junho de 1855. É o patrono da Cadeira n°. 25 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Franklin Dória. Era filho do alcoólatra José Vicente de Sá Freire e Felicidade Augusta Junqueira. Os estudos primários e os de latim, de maneira irregular por motivo de saúde, matriculou-se em 1849 no Liceu Provincial, onde fez humanidades sendo um excelente aluno, grande leitor e já poeta. Por motivos familiares, ingressou na Ordem dos Beneditinos em 1851, aos 19 anos. Aos vinte anos professa com o nome Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire, ao que parece sem nenhuma vocação segura e talvez empurrado pelo desejo de fugir à vida familiar extremamente infeliz, o poeta revolta-se contra algumas das normas da vida clerical, tais como o enclausuramento e o celibato. Na clausura do Mosteiro de São Bento de Salvador viveu amargurado, revoltado e arrependido por certo da decisão irrevogável que tomara. Mas ali pôde fazer suas leituras prediletas e escrever poesias, além de exercer atividade como professor. Em 1853 pediu a secularização, que lhe permitiria libertar-se da disciplina monástica, embora permanecendo sacerdote, por força dos votos perpétuos. Obtida a secularização no ano seguinte, recolheu-se a casa, onde redigiu a breve autobiografia, em que manifesta um senso agudo de auto-análise. Ao mesmo tempo, cuidou da impressão de uma coletânea de versos, a que deu o nome de Inspirações do Claustro, impressa na Bahia pouco antes de sua morte, aos 23 anos, motivada por moléstia cardíaca de que sofria desde a infância. A sua obra poética enquadra-se na terceira fase do Romantismo, dita de ultra-romantismo. Na sua geração foi o mais ligado aos padrões do neoclassicismo português, ele próprio sendo autor de um compêndio conservador, elementos de retórica nacional, que explica a sua concepção de poesia como cadência medida e até certo ponto prosaica. A sua mensagem, como a dos românticos em geral, era complexa demais para caber na regularidade do sistema clássico. O drama que tencionava mostrar era o erro de vocação que o levou ao claustro, seguido da crise moral e do conflito interior que o levaram a abandoná-lo. Daí provieram os temas mais freqüentes da sua poesia, misturados a preces e blasfêmias: o horror ao celibato; o desejo reprimido que o perturbava e aguçava o sentimento de pecado; a revolta contra a regra, contra o mundo e contra si próprio; o remorso e, como conseqüência natural, a obsessão de morte. O poeta clama na sua cela e traz desordenadamente este tumulto ao leitor. Sua poesia, ora do cunho religioso, ora social, tem lugar relevante no Romantismo brasileiro. Possuía também um sentimento brasileiro, além de uma tendência antimonárquica, liberal e social. É o autor do provável único poema romântico brasileiro dedicado ao desejo declaradamente homossexual. “Eu que te amo tão deveras....” Segundo o escritor, professor e jurista, José Luiz Oliveiros Litreno, Junqueira Freire foi criado em lar católico, na velha cidade de Salvador, na Bahia, sua curta existência foi dolorosa e sombria. Os desejos reprimidos do adolescente, que não chegaram a ser sexualmente normais, levaram-no, em pleno período romântico, a uma tomada de consciência neoclássica ou arcádica. Assim, tendo vivido a infância sem nunca tê-la usufruído, Junqueira Freire foi um eterno torturado. Um monge beneditino em permanentes contradições com a fé de sua infância católica. Razão por que sua imagística lírica é mais tangível, mais sensual e menos singela do que a dos poetas românticos. Um eterno torturado, assaltado pela dúvida, pelo remorso. Junqueira Freire é um inovador poético pelos ritmos invulgares, e livres, senhor de singular imagística. Uma obsessão tremendamente depressiva avizinha-se da loucura. O desespero sem esperanças não dilacerava apenas o corpo combalido do sofrido poeta monge. Também rasgava sua alma, impingindo-lhe o ateísmo, como um fantasma de assolação, ou a aceitação, pelo menos, na inspiração poética,. Daí a mensagem de seus poemas Delírios, inacreditavelmente, até hoje, obra inédita. Eis o estertor de morte, Eis o martírio eterno, Eis o ranger dos dentes, Eis o penar do inferno! 2.3 - Casimiro de Abreu Casimiro José Marques de Abreu, o mais suave e eterno de nossos poetas, nasceu no dia 4 de janeiro de 1839 na Barra de São João, Rio de Janeiro, e faleceu no mesmo local em 1860, filho de um português comerciante e dono de terras no Rio de Janeiro. Estudou Humanidades em Nova Friburgo, curso que não completou, abandonando para se dedicar ao comércio junto com o pai. Fato esse que o deixou bastante deprimido. Viajou para Lisboa, lugar onde viveu entre os anos de 1853 e 1857 e viu sua vê seu único livro de poesias, "Primaveras", ser publicado às custas do apoio financeiro paterno. Morre tuberculose, na fazenda de sua família. em 18 de outubro de 1860, vítima de Sua poesia é das mais populares e mais lidas pelo povo brasileiro, Meus Oito Anos, mesmo não sendo das melhores dentre seus contemporâneos. Sua popularidade se deve à linguagem simples, terna, cativante e de leitura fácil que o poeta empregou para cantar os temas mais comuns. O amor expresso em seus poemas é sempre impossível, delicado, platônico e idealizado, entrando em atrito com a pureza, a paixão contida e o receio de corresponder e se entregar à mulher amada. Sua obra, é quase toda tomada pelo tormentoso conflito entre o desejo e o medo, a realidade perturbadora e a pureza da infância, da natureza e dos sonhos, gerando a tristeza, a melancolia e o depressivo desejo de morte. A saudade também é largamente cantada em seus versos, acentuando desde as dores da distância da pátria e da família, até a distância da infância, onde o poeta lamenta a pureza e os sonhos perdidos. A obra de Casimiro de Abreu, no entanto, carece de uma linguagem mais rica e um estilo mais criativo, aprofundado. Quando Casimiro de Abreu começou a demonstrar sua debilidade, seu pai, receando pela saúde do filho, obrigou-o a trabalhar no comércio desde cedo e impossibilitou-o completar os estudos, proibindo-o fazer o curso superior. Para o pai de Casimiro a idéia do homem trabalhador caminhava de braços dados com a saúde e a vitalidade, não com o ócio e os estudos. Durante toda a sua curta existência teve sempre atritos com seu pai — homem que idolatrava o trabalho duro, e que não aceitava a veia poética e não compreendia a maneira do filho levar a vida. Com apenas dezessete anos, e completamente só em Portugal, Casimiro colaborava na imprensa portuguesa, ao lado de Alexandre Herculano, Rebelo da Silva e outros. Não escrevia só poemas, no jornal O Progresso imprimiu o folhetim Carolina, e na revista ilustração Luso-Brasileira saíram os primeiros capítulos d e Camila, recriação ficcional de uma visita que o autor fez ao Minho, terra de seu pai. Foi também o pai de Casimiro, conforme carta do poeta a um amigo, quem pagou a publicação de "As primaveras", livro editado e publicado no Rio de Janeiro em 1859. A estadia de 4 anos em Portugal teve uma importância fundamental na vida de Casimiro de Abreu, o poeta deixa a marca dessa estadia em quase todos os seus poemas. Em virtude de sua pouca instrução e de sua pouca idade, a poética de Casimiro de Abreu é muito limitada, talvez por isso sua obra poética não tenha profundidade filosófica, e talvez pelo mesmo motivo, a impressão que dela resulta é a de estarmos em frente a um poeta extremamente simples, ingênuo e espontâneo, chegando, às vezes a parecer infantil. Logo depois da edição de seu único livro de poemas, "As primaveras", o velho pai português de Casimiro, então gravemente enfermo, chamou filho à terra natal para uma última e eterna reconciliação, pois faleceu a 17 de abril de 1859, logo após ter dado termo à vontade de reconciliar-se com o filho. No mesmo ano Casimiro ficara noivo de Joaquina Alvarenga da Silva Peixoto. Em julho, segue para Nova Friburgo para tentar a cura da tuberculose que o acometera. Casimiro morreu de tuberculose a 18 de outubro de 1860, na Fazenda de Indaiaçu, com 21 anos de idade. Foi enterrado no dia seguinte, no cemitério da Barra de São João. Casimiro foi o que de forma mais contundente representou sua época, carregava com ele todos os males em voga naqueles dias. Era vítima de um enorme tédio e vivia a sonhar com as orgias venezianas de Byron, tinha uma inspiração tão assustadoramente macabra como a de Poe e morreu tísico (tuberculose) como Chopin (que também foi uma das vítimas da tuberculose e foi exilado nas ilhas da Maiorca, de onde compôs seus mais belos prelúdios). Casimiro de Abreu é um exemplo para tal questão. Como poucos ele travou uma batalha com seu tempo, uma luta contra o tédio que engrossava o ar de sua época, formando uma bruma espessa e mortal. E foi contra essa bruma sufocante de tédio que, segundo as palavras de Antonio Callado, representava a angústia dos "artistas criadores em geral da Europa mas também das Américas" que os fazia travar combate "contra esse inimigo terrível porque mal definido e dele se defendiam com os remédios que encontravam nas adegas e farmácias da época: vinho e as mais variadas aguardentes, além do absinto, do ópio, do haxixe, e tudo mais que produzisse visões como as de Poe e iluminações como as de Rimbaud." "Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, da minha infância querida Que os anos não trazem mais!" 2.4 - Fagundes Varela "Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústia conduzia O ramo da esperança. - Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava pontando o caminho ao perdigueiro." Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em 18 de agosto de 1941, e faleceu em Niterói, RJ, em 17 de fevereiro de 1875 no município de Rio Claro, província do Rio de Janeiro. Foi o segundo filho entre dezesseis irmãos. Seu pai, Emiliano Fagundes Varela, era graduado em direito, foi várias vezes deputado, juiz, presidiu câmaras, e por isso teve de se mudar muitas vezes, mudando-se com a família por inúmeras cidades. Nessas diferentes cidades, com a preocupação do pai em educar o filho, Varela teve vários professores que já despertavam, lendo para ele poesias, a sensibilidade de Poeta. Gostava das paisagens rurais nas fazendas onde morara, das flores nas rochas, das canoas e as redes de pesca estendidas, das cantigas dos escravos e da volta do entardecer. Com mais uma eleição de seu pai, mudou-se para Niterói onde foi educado por um companheiro de seu avô. Nessa época, encantado e seduzido pela poesia fazia imitações de Camões, dizendo que eram de sua autoria, mais o professor sabia que não eram sua. No final de 1859 mudou-se para São Paulo a fim de seguir a carreira jurídica na Faculdade de Direito de São Paulo. Por colaborar com jornais, revistas e publicações, ocupou o assento de Álvares de Azevedo na Academia. Ficou muito conhecido por seus artigos e poesias, que lhe abriram as colunas do maior jornal da Província, o Correio Paulistano, onde escreveu contos fantásticos seguindo o "terror gótico" iniciado por Álvares em "À noite na Taverna". A essa altura, já reconhecido pelo público, Varela estava intoxicado de fictício sofrimento e já entregue a uma vida boêmia, de mulherio, más companhias, discussões, brigas e bebedeira. O lado mau da vida acadêmica, e, segundo depoimento de contemporâneos, costumava ser encontrado com as vestes em desalinho, cabelos malcuidados e uma imensa dor estampada no rosto. Eram sinais de uma vida de desatino e sofrimento, marcada pelo alcoolismo, pela nãorealização amorosa. Varela bebia muito, e se inspirava analisando os rótulos das garrafas. Em 1862, ainda calouro, casou com Alice Guilhermina Luande mediante desgostoso consentimento paterno. Como já era devedor, com reclamações publicadas na imprensa, perdeu o amparo financeiro do pai. Com problemas também na faculdade, deixava a esposa nas repúblicas de estudantes e amanhecia em espeluncas, embriagado. Sofreu penhora de bens e em 1863 conseguiu aprovação no 1ºano, quando lhe nasceu o filho Emiliano, que logo morreu, deixando Varela angustiado e errante. Nesse desespero escreveu o "Cântico do Calvário". Em 1864 foi aprovado no 2ºano. Trabalhando em cópias de cartório, passou para o diretor do Correio Paulistano, originais de vários poemas. Conseguiu, com a impressão de seus poemas, algum dinheiro em direitos autorais. Teve de ir para a fazenda do pai pois Alice estava enferma. Lá foi convencido a ir para o Recife e mudar de influências. Varela, que fora com muito dinheiro, gastou tudo em bebidas, comprando papagaios e praticando excentricidades. Matriculou-se no 3ºano da Faculdade do Recife, onde conheceu Castro Alves e começaram viver as aventuras noturnas, o sarau depois do teatro, o recitativo em círculos de atrizes, em meio a risos, arte e amor. Recitavam juntos poesias em manifestos patrióticos com a guerra do Paraguai. Nas férias, Varela e Castro Alves voltam juntos para São Paulo, e ali Varela, tornou a se matricular, agora no 4ºano da Faculdade de Direito de São Paulo. Mas pior do que antes, perde o ano por faltas. Alice faleceu em 1865 e ele voltou para fazenda de seu pai. Varela não voltou a estudar, e se casou com sua prima Maria Belesária. Mas o novo casamento não lhe muda os hábitos erradios: só no contato com a natureza. Editores do Rio pedem originais para publicá-los, e ele sede. Mudando-se novamente para Niterói, Varela entra na sua última fase, entregando-se por completo a embriaguez, pelos botequins e vendas. Muitas vezes improvisava poemas em espeluncas ou redigia-os em estabelecimentos, como o que um certo Srº. Carvalho guardou e salvou, intitulado o Diário de Lázaro. Do segundo casamento teve três filhos, um dos quais morreu, o pequeno; Emiliano. Das duas filhas uma se casou e outra tornou-se freira. Nos últimos anos pensou em fazer uma obra que lhe desse imortalidade. Assim compôs dez cantos, isolando-se em sítios ou fazendas. Foi um longo esforço que durou de 1870 a 1871, poucos meses antes de sua morte em Niterói. III Capítulo O ROMANTISMO E A CIDADE DO RIO DE JANEIRO NO SECULO XIX O terceiro capítulo apresenta os problemas da cidade do Rio de Janeiro e a sua formação. 3.1 – A Cidade A cidade do Rio de Janeiro está situada; mais ou menos, a três quartos da costa do Sul do Brasil, a 23º de latitude Sul e a 43º de longitude Oeste do meridiano de Greenwich. Ela ocupa a parte ocidental da Bahia de Guanabara. Seus subúrbios estendem-se pelo interior e a beira do Oceano. A sua superfície mede 1,164 km quadrados na zona urbana e 1000 quilômetros quadrados da zona Suburbana. Em extensão é uma das maiores capitais, sendo apenas seis as cidades que se lhe avantajam neste particular: Nova York, Chicago, Philladelfia , Londres, Vienna e Buenos Aires. Em conseqüência da sua posição geográfica, o Rio de Janeiro possuí um clima excelente. Compõe-se de duas partes bem distintas: - uma relativamente plana, quase toda obtida por aterros sucessivos dos charcos. Em 1504 o navegador português Gonçalo Coelho, no mês de janeiro de 1504, descobriu a baía da Guanabara tendo notado, à sua entrada o fenômeno dito da barra, que se produz geralmente na ocasião do choque de um cursos de água doce com o mar, ele pensou ter encontrado um largo rio. Por isso o nome de Rio de Janeiro, que depois se entendeu à cidade; 3.2 - Situação Geral • Abastecimento de água Os guerreiros de Estácio de Sá encontraram água potável no morro da Cara de Cão, na parte voltada para a restinga que separava o pão de açúcar. As águas do rio que se chamava “Carioca” eram trazidas para abastecer a cidade mas o transporte era muito difícil. Em 1673, João da Silva e Souza iniciou a canalização da água da carioca em 1719, Ayres da Cunha, governador da cidade deu continuidade a este trabalho terminando a canalização. Em 1836, existiam na cidade e nos arredores, 18 chafarizes com 147 bicas para barris e pipas. • Insalubridades no RJ Durante o período de 1769-1789, o Marques de Lavradio, melhorou a higiene e começou a sanear a cidade, mandou aterrar os pântanos e as lagoas que causavam continuas epidemias. A lagoa da Pavuna se estendia no local onde se assenta hoje o largo de São Francisco de Paula até a Rua do Rosário, mesmo assim continuava insalubre, com muitas doenças. Com a chegada da Corte, o saneamento urbano tornou-se uma preocupação constante dos médicos e engenheiros. Segundo o engenheiro Antonio de Paulo Freire, a causa da insalubridade no Rio de Janeiro era “a constante umidade do solo”, do ar atmosférico e das casas, em conseqüência da natureza e pouca elevação do solo, relativamente ao nível do mar; falta de ventilação em vários pontos da cidade e na escolha dos materiais empregados nas casas de habitação. Nesta época os aterros eram muitos e feitos com material inadequado, o baixo nível dos mesmos, as alternâncias de umidade e calor em conseqüência dos mangues e de sua vegetação, a rápida infiltração das águas do mar e do solo. O ar estava sempre carregado de vapores de água e de substâncias nocivas à saúde. • O lixo e a limpeza pública No início, o lixo era coletado 3 vezes por semana por negros menores libertos. Mas tarde, foi criado o serviço de limpeza, entregue, por contrato a Aleixo Gary e Cia, daí surgiu o nome de Gari que usamos até hoje. • Entrega de Correspondência Em 1852 foi criado, por instituição o serviço de entrega de correspondência. • Esgoto Não havia serviço de esgoto e sendo inconveniente para a saúde pública a continuação dos despejos na praia, o governo ficava autorizado pela lei 28 setembro de 1835 a contratar com João Frederico Runee, ou qualquer outro o serviço de esgoto das casas e das águas pluviais. As matérias fecais e águas servidas eram levadas às praias, lagoa, charcos, terrenos baldios em barris pelos negros chamado de tigres pelo povo. Os negros carregavam os barris na cabeça. Muitas vezes o fundo do barril cedia e os repugnantes despejos sujavam as roupas dos escravos, que deixavam marcas semelhantes às peles dos tigres. Em 1840 um francês chamado Mrº. Gravasses conseguiu autorização da Câmara Municipal para fazer a “Cia de Limpeza” que organizou o transporte em veículo, com os barris hermeticamente fechados. Os materiais fecais, as lamas e os detritos da rua eram levados à praia e embarcavam e despejados no meio da baia. • Os Enterros Até 1840 quase todos os enterros eram realizados à noite e era o espetáculo mais triste da cidade. Os cortejos eram feito a pé, a luz de archotes e numerosos círios, faziam-se entre o lamento das carpideiras e o choro ruidoso. Os escravos distribuíam velas para as pessoas que ficavam pelo caminho. Em 1850 0 cemitério de São João Batista localizado na Rua General Polidoro veio substitui o cemitério de D. Pedro II, neste cemitério foi sepultado o poeta Álvares de Azevedo. 3.3 - Mais informações sobre o Rio de Janeiro na época do Romantismo Novos logradouros foram surgindo, havendo então cerca de duzentos, quase todos sem calçamentos, abastecimentos de água e esgotos. Era bastante deficiente a iluminação pública, existindo apenas quinhentos lampiões, aproximadamente, e somente as ruas mais importante O município Neutro, como se chamou então a corte, teve seus limites fixados em 1834, correspondendo mais tarde ao Distrito Federal e depois Estado da Guanabara. Uma postura municipal passou a exigir que as ruas tivessem pelo menos sessenta palmos de largura. Em 1835, copiando as lições estrangeiras já se faziam alguns ensaios de navegação a vapor. Inicialmente, barcas correndo entre o Rio e Niterói. Se pois outras, do centro a Inhomerim, fundo da Bahia, do Centro a Inhomerin. Em fins da regência, 1840, o Rio de Janeiro já possuía doze tipografias, dez livrarias, doze bancos, quinze sapatarias, nove hotéis, trinta e três padarias, fazendas, ferragens, armarinhos, além de lojas de alfaiatarias , cabeleireiros bem como uma companhia de navios. Em 1852 foi inaugurada a Santa Casa, hoje Santa Casa da Misericórdia. Em 1857, por iniciativa de Visconde de Mauá, procedeu-se ao saneamento do mangue da cidade, então reduzindo e canalizando numa extensão de 3 mil metros com vinte de largura, marginado por quatro renques de palmeiras. Por decreto de 10 de março de 1896, da Prefeitura do Distrito Federal, tornou-se feriado municipal o dia 20 de janeiro, em “Comemoração” dos fundadores da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. 3.4 - Hábitos e Costumes • Alimentação A alimentação do século XIX das famílias ricas e de classe média era feijão com arroz. Na corte a alimentação era pão, saladas, sopas, perus, patos, galinha e a carne de caça locais como: jacus, macacos, marrecos, paturis, doces, manjares branco e café após a refeição. • Divertimentos Novos teatros foram inaugurados e muitas companhias vieram ao Rio, na época, principalmente os de opera com artistas famosos. • Higiene Nesta época, várias epidemias assolaram o Rio de janeiro, tais como a escarlatina, cóleramorbos, febre amarela, peste bubônica, varíola. Havia também as doenças mais comuns, tais como: reumatismo, erisipela, febre intermitente, tuberculose, bronquite. IV Capitulo A DOR MAIOR DOS POETAS O quarto capítulo apresenta as mazelas dos poetas do ultra-romantismo, nesta parte, verdadeiramente pode-se perceber a sua dor maior, a entrega total a solidão, ao desespero e a dor. Apresenta também um breve comentário sobre a medicina da época e da peste branca (tuberculose) que tirava a vida dos jovens tão prematuramente • A mulher imaginária Os poetas do ultra-romantismo era jovens estudantes que idealizavam a mulher perfeita, verdadeiras Deusas. Amavam, mas o medo de macular a virgem amada, de entregar-se ao prazer carnal e, assim, destruir o próprio amor, que na visão deles é impuro e pecado, isolavam-se em seus sonhos e, solitários se entregavam ao devaneio e ao erotismo obsessivo, buscando na masturbação o alento para a sua melancolia e a satisfação para a sua necessidades físicas. Com a masturbação, os poeta sentiam-se culpados e pecadores, tornando assim cada vez mais solitários, céticos e pessimistas. “Apesar da sua sina, as virgem não deixavam de existir nos seus sonhos de poeta. Apesar de sofrer, buscou um amor (embora platônico). Pouco lhe importava se aquilo era uma benção ou uma maldição: ele quis amar. • A culpa da masturbação A masturbação é um ato solitário, sem contato físico com a pessoa amada e os jovens do ultraromantismos, na ânsia de satisfazer as suas necessidades físicas, praticavam este ato incansavelmente. O sentimento de culpa era a de desejar a amada e não conseguir realizar seus desejos, tornando-se assim melancólicos, solitários, deprimidos, céticos e pessimistas. Segundo o sexólogo Marcos Ribeiro a masturbação no século XIX era associada à tuberculose. • A depressão e a melancolia dos poetas “Quando um homem age em conformidade com as luzes da razão sadia, basta atentar para seus gestos. Seus movimentos, seus desejos, seus discursos, seus raciocínios, para descobrir a ligação que essas ações tem entre si e o fim para o qual detém” (Booissier de Sauvagens Nossologia methodique, Trab. Gouviomn, Lyron 1771, VII, p. 33) Será que nascer com uma alma poeta que dá inspiração à quase todo tempo é uma qualidade digna de contemplação? Pode até ser, se essa poesia nascida no interior trouxer prazer, alegria, harmonia e paz a quem a escreve. Mas, e se essa poesia mostrar um mundo sombrio, melancólico, céptico, repleto de pessimismo e com doses de masoquismo? Será que a dor no peito de Álvares de Azevedo emudeceria se ele morresse no dia seguinte? Ou será que o seu forte desejo de morrer o enlouqueceu ao ponto de sua imaginação criar dores horríveis? É sabido que a tuberculose que tão cedo o levara existiu. Mas, será que ela surgiu na sua vida porque era o seu trágico destino acabar assim? Ou será que ele procurou uma vida mórbida que se findaria precocemente influenciado pelas leituras que fazia das palavras de Lorde Byron? Casimiro de Abreu, o poeta infantil, deixou-nos perguntas sem respostas. Será que seus oito anos foram os seus melhores momentos na vida? Bem, saudades ele tinha desse tempo. Na sua poesia, talvez exagerada no sentimentalismo e repleta de amor pela natureza, pela mãe e pela irmã, as emoções se sucedem sem violência, envolvidas num misto de saudade e de tristeza que nos demonstra uma perturbação existente, uma derrota em relação à vida adulta. Deixou-nos esta frase como resumo: "Em vez de mágoas de agora, eu tinha Nessas delícias de minha mãe as carícias e beijos de minha irmã!" Junqueira Freire viveu um drama voltado para sua falta de vocação monástica A sua poesia era marcada por uma tensão profunda, ligada diretamente à sua vida de monge beneditino. Sua frustração diante da clausura, do celibato, transparece em toda sua obra. A solução encontrada para sua vida foi romântica: a morte. Um célebre trecho de uma de suas poesias é: "E por isso que cantei o monge, cantei também a morte. "Fagundes Varela , Será que a fuga para a mata resolveu os seus temores internos? Sabe-se que sua vida foi marcada por perdas de pessoas queridas e isso o levou a procurar a religião que atuou como forma de redenção do seu sofrimento. Isola-se na sua floresta profunda e acaba sendo vítima de um insulto cerebral que o leva à morte. Augusto Jorge Cury no livro Análise da Inteligência de Cristo diz : ...só compreende a dimensão da dor da depressão quem já passou por ela. Além do humor deprimido, as doenças depressivas têm uma rica sintomologia. São acompanhadas de ansiedade, desmotivação, baixa auto-estima, isolamento social, insônia, apetite alterado, fadiga excessiva, libido alterada, idéias de suicídio . A depressão é um tema atual e de enorme incidência, mas Cristo já discursava sobre a depressão e ansiedade - “Por que vos inquietais com as vestes? “( Mateus 6, 28)”. Ao lermos os poemas e bibliografia dos poetas do ultra-romantismo, fica nítida o estado depressivo em que se encontravam. Os ultra-românticos sofriam a influência de seus familiares em suas vidas e isso os tornavam depressivos e melancólicos. Segundo Michael Foucault, em seu livro a história da loucura, a melancolia tinha como causa a ação da bílis negra produzida pelo baço, que os deixavam tristes, melancólicos e malhumorados. Esta, também, é a razão pelo qual os poetas gostavam de se isolar, preferindo a solidão. • Os Ultra-românticos e o álcool “Quando não há o amor, há o vinho: quando não há o vinho, há o fumo.... (Macário de Álvares de Azevedo) “ Depressivos, dominados pelo tédio e pela melancolia os ultra-românticos no auge da inadaptação ao mundo burguês e à medida que percebem a contradição entre o ideal e o real, entre o que se quer e o que se pode, numa sociedade que não cumpre as promessas de liberdade, de igualdade e fraternidade, os jovens poetas, sentem que seus sonhos só se realizarão no álcool. Tornam-se alcoólatras na tentativa de transformar o seu mundo egocêntrico num mundo ideal. A expressão “Alcoolismo” foi empregado pela primeira vez pelo médico sueco Magnus Huss, professor da Universidade de Stockholm, em 1849. A expressão “Alcoolismo derivada do radical álcool, pois a maioria dos pacientes observados consumiam as bebidas destiladas de alto teor alcóolico e do sufixo ismo – de ergotismo, saturnismo, barbiturismo . A designação engloba as seqüelas neurológicas do bebedor excessivo e crônico e todas as manifestações que não estavam ligadas diretamente com as modificações no Sistema Nervoso Central. Huss (1849) observou que não existia uma fronteira definitiva entre os sintomas do alcoolismo e a doença mental. De acordo com sua próprias palavras: Sob o termo alcoolismo crônico, pretendo descrever o conjunto de manifestações patológicas do sistema nervoso, tanto psíquicas como motora e sensoriais que se instalam, progressivamente, sem relação direta com os remanejamentos do tecido nervoso central ou periférico, nem patognomicas do estilo de vida do paciente, nem visível a olho nu após a sua morte, e que sobrevém nas pessoas que consumiram durante muitos anos quantidades excessivas de bebidas alcoólicas.. Em 1924, Beuler, conceituou alcoolismo como “uma desordem com modificações físicas e sociais” impressionando-se com a deterioração física exibida pelo alcoólatra e com a incoerência de suas respostas afetivas. Para ele, o alcoólatra apresenta um desequilíbrio emocional sem ser provocado; ele pode estar alegre num momento e logo sem seguida triste . No Brasil, na década de 70, os profissionais de saúde formularam um conceito generalizado sobre o alcoolismo, considerando-o como uma manifestação sintomática de uma doença já existente anteriormente. A partir dessa época, chega ao nosso país, importado dos Estados Unidos, artigos e materiais científicos conceituando o alcoolismo como uma doença. Segundo P. BORINI e C. O SILVA (1992), o conceito de “doença alcoólica” já havia aparecido pela primeira vez, em 1785, com B. RUSCH, na Filadélfia e T. TROLTER, na Inglaterra. O desenvolvimento e ampliação deste conceito se deu, inicialmente pelas “sociedades antialcoólicas” e, posteriormente por JELLINEK, que transformou a ideologia incorporada pelos Alcoólicos Anônimos em uma doutrina. O autor J. R. MILAN e K. KETCHAM (1986, P. 41-42), nessa mesma linha, afirmam sobre a etiologia do alcoolismo: “Uma reação fisiológica anormal está ocasionando o aumento de seus problemas psicológicos e emocionais. A fisiologia, não a psicologia determina se um bebedor se tornará dependente do álcool e o outro não. Enzimas, hormônios, genes e química encefálica do alcoólatra trabalham em conjunto para criar sua reação anormal e infeliz ao álcool.” Segundo MASUR (1987), a etiologia do alcoolismo é de determinação psicológica e se divide em duas teorias: a teoria da personalidade e a teoria da aprendizagem. O pressuposto é de que os alcoólistas se caracterizam por traços característicos de personalidade como, por exemplo, oralidade, dependência, insegurança, passividade e introversão. Para Masur, os estudos que procuram fornecer evidências para esta teoria não apresentam resultados conclusivos no sentido de ser identificado um tipo de personalidade própria ao alcoolista, • A Medicina da Época Durante o período colonial, a Medicina era exercida no Brasil, por pajés, feiticeiros africanos, jesuítas, físicos, cirurgião barbeiro e cirurgião sangrador cirurgião aprovado, que permitia a realização de atos cirúrgicos, cirurgiões portugueses, hispânicos e holandeses. A filosofia colonial dificultou a criação de ensino superior no Brasil, uma vez que era considerada uma ameaça à dependência a Portugal. Os médicos restringiram-se a uns poucos brasileiros, formados na Europa, e os raros europeus que aqui vinham exercer a sua profissão. Em 1808, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, foram criados as duas primeiras Escola de Medicina no Brasil, na Bahia e no Rio de Janeiro. A atual Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro foi criada por D. João VI, através da Carta Régia, assinada em 5 de novembro de 1808, que determina o estabelecimento no Hospital Militar do Morro do Castelo de uma Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia. Em 3 de outubro de 1832, durante a Regência, foi sancionada a lei que transformava as Academiais Médico Cirúrgicas do Rio de Janeiro e de Salvador em Escolar ou Faculdades de Medicina. Em 1856 a faculdade de Medicina é transferida para o antigo prédio do Recolhimento das Órfãs, na Rua Santa Lucia, ao lado da Santa Casa da Misericórdia. No Brasil Colonial a divisão clássica dava-se entre o médico (ou físico), o cirurgião e o boticário. Cada qual tinha a sua função: os médicos caberia medicar, aos cirurgiões intervir no corpo do doente e aos boticários manipular os medicamentos. Com a institucionalização das escolas de medicina, que inicialmente eram escolas de cirurgia, esta divisão permanece, e o tempo de formação de cada profissional indica uma certa hierarquia e níveis de formação e o especifica. O curso de médico durava 6 anos, o de farmacêutico e o de cirurgião três, e o curso de parto de um ou há dois anos. A anestesia só foi usada no Brasil em 1847, sendo através da inalação de éter e em 1848 se c1oroformio. Antes as cirurgias eram feitas sem anestesia. Todos sofriam com a prática, tanto os que eram submetidos à cirurgia como àqueles que executavam e os que assessoravam. • A Tuberculose A Tuberculose, conhecida até o século passado como peste branca (segundo Afrânio L. Kriski, a tuberculose era conhecida como peste branca em contraposto à peste negra, ou bubônica, que causava lesões na pele e, que mais tarde soube-se, que era transmitida pelas pulgas dos ratos). foi a principal causa mortis da maioria dos românticos. Os ultra-românticos, devido à vida desregrada, a boêmia, o costume de reunir-se para compor suas poesias em céu aberto, o habito de beber e a fragilidade da condição física morriam de tuberculose ainda na adolescência os jovens poetas. A tuberculose e uma doença infecciosa e contagiosa determinada pelos agentes Mycobacterium tuberculosis ou Mycobacterium bovis, de evolução normalmente crônica e progressiva, acometendo em especial os pulmões. Os agentes infecciosos são Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium bovis, bacilos da família Mycobacteriaceae. A primeira espécie tem o homem como único reservatório, a segunda, o Mycobacterium bovis, que causa a tuberculose bovina, quando transmitida à espécie humana torna-se muito virulenta, principalmente em pessoas com imunodeficiência. Tem transmissão predominantemente por via aérea. O contágio pode ser direto, através de finas gotículas de secreção oro nasal contendo os bacilos da tuberculose que são eliminados pela pessoa contaminada durante a tosse, o espirro e a fala, ficam em suspensão no ar e são inaladas por pessoas suscetíveis à infecção. Estas gotículas, contendo as bactérias, chegam até os bronquíolos e os alvéolos, dando início ao processo infeccioso. A transmissão também pode ser feita por contato oral com os bacilos. A infecção por Mycobacterium bovis quando transmitida ao homem acontece, em geral, pela ingestão do leite de vaca contaminado. A tuberculose humana de origem bovina tornou-se rara em muitos países, devido à vacinação dos animais e à pasteurização do leite. Distribui-se em todos os países, atingindo tanto os seres humanos (M. tuberculosis), como os animais (M. bovis), principalmente nos países com baixo desenvolvimento educacional sanitário. Da infecção ao aparecimento da lesão primária decorrem cerca de 6 a 12 semanas. O risco da tuberculose pulmonar progressiva ou extra pulmonar é maior dentro de 1 a 2 anos após a infecção inicial, podendo persistir durante toda a vida sob a forma latente. A infecção inicial passa, em geral, despercebida na maioria dos casos; porém, pode evoluir para as diferentes formas de tuberculose, como a pulmonar ou mesmo extra-pulmonar, causando lesões, principalmente, na meninge, cérebro, intestino, coração, ossos, traquéia e fígado. Conforme a gravidade das lesões, a sintomatologia é caracterizada por febre, tosse, expectoração, inapetência, emagrecimento, dores torácicas e hemoptises. Em outras localizações, estas manifestações são variáveis, em decorrência da área do corpo afetada. O diagnóstico é geralmente estabelecido pelos exames clínico, laboratorial e radiológico, pela pesquisa do agente infeccioso no escarro e em outros materiais biológicos. A prevenção e o controle são feitos com medidas de higiene geral e com a aplicação da vacina BCG. As pessoas com maior risco de contrair a tuberculose são as que convivem com doentes em lugares fechados, com pouca ventilação e com condições precárias de saúde e alimentação. CONCLUSÃO Em virtude dos fatos mencionados verifica-se que a condição social, o apoio da família, a estabilização do governo a guerra, a falta de recursos, as dificuldades financeiras podem influir na formação psicológica, social e profissional do ser humano. Observa-se pelas escolas literárias como a condição do país modificou o estilo de época. No Barroco encontramos uma escola com liberdade de pensamento, racionalismo e curiosidade cientifica, no Arcadismo, como a maioria dos poetas vivia em Minas, que nesta época era o principal centro econômico do Brasil, pois nesta época foram descoberto ouro e diamante nesta cidade, surgem os poetas voltados para os elementos típicos da natureza. Eles eram mais arrojados, corajosos e lutadores. Já no romantismo há uma divisão. Está divisão se dá em grupos, sendo os estilos definidos pela situação do país na época. O tema real deste trabalho são os poetas do chamado “Mal do Século”, que surgiram em 1850 e vai até 1860, neste período o país era governando pela “Segunda Regência”, época de tumultos e desordens, tanto na corte como nas províncias e as dificuldades do dia a dia, gerando nos jovens daquela época uma tendência melancólica, depressiva, encontrando na morte o conforto para o seu desespero. Geralmente eram filhos de pais autoritários ou alcoólicos. Os principais poetas do mal do século foram bem definidos, segundo a sua própria estrutura psicológica, em Álvares de Azevedo, que é dotado de grande inteligência, encontramos um jovem cercado de pessimismo, que prevê a própria morte. Seu sofrimento foi tão grande, que sofria de tuberculose, porém a sua morte foi em virtude de um tumor. Junqueira Freire, torna-se frei como forma de fugir dos problemas familiares, seus poemas há evidências de suas total falta de vocação e até falta de fé, em alguns podemos inclusive perceber tendências homossexuais. Casimiro de Abreu, o mais doce dos poetas, vivia angustiado entre o querer e o dever. Seu pai queria que ele fosse comerciante, e ele queria ser colocar no papel as suas fantasias de adolescente. Foi o mais puro dos poetas. Fagundes Varela, talvez o mais real de todos, vivia na boêmia e na bebedeira, na pobreza, devia a todo mundo. Sua vida foi marcada pelo não propósito, por dívidas e embriagues. Qual a dor maior destes poetas, porque tantas desgraças, tantas tristezas. O sofrimento é incomum, todos sofriam de um mesmo mal, a exceção de Fagundes Varela, que era o mais realista, todos morreram na flor da idade. Isso comprova que o estado depressivo que se encontravam, deixava-os debilitados, e a Tuberculose tomava conta de seus corpos. Entretanto a dor maior destes poetas foi à dor da não realização de seus sonhos, da falta de incentivo por parte de seus pais, a falta de apoio de uma sociedade, de não terem força para vencer as barreiras, esta sim foi à dor maior. BIBLIOGRAFIA 1) TUFANO, Douglas, 1948 Estudos de língua e literatura - 4ª Ed. Ver. e ampl. São Paulo – São Paulo – Moderna – 1990 – V. 1 e V. 2 2) MASUR, J. O que é Toxicomania Editora Basiliense, 1985 3) MILAN J.R. & KETCHAM, K. Alcoolismo – Mitos e Realidade São Paulo – Nobel , 2º ed. 1986; 4) BENENSON, Abram S. (Ed.) El control de las enfermidades transmisibles en el hombre. 15.ed. Washington: OPAS, OMS, 1992. 618 p. (Publicacción Científica, 538) 5) REY, Luís. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, c1999. 825p. 6) VERONESI, Ricardo. Doenças infecciosas e parasitárias. 8.ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1991. p.325-343. 7) GORDON, R. A. A conquista da dor. In: A Assustadora história da medicina. RJ: Ediouro, 1995 8) CHERNOVIZ, L. N. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A. Riger & F. Chernoviz 1890, Vol. 1, p 1111. 9) FOUCAULT, Michael – 1996 – 1984 – História da Lourura na idade clássica – 4° Edição – São Paulo – Perspectiva – 1995 10) CALLADO, Antonio, Folha de S.Paulo de 16.04 94, Ilustrada, pág. 5-8. 11) CONDE, Marcus B., SOUZA , Gilvan Muzy – KRITSKI Afrânio L. Medo - São Paulo - Editora Atheneu, 2002 12) CURY, Augusto Jorge Análise da inteligência de Cristo: O Mestre dos Mestres São Paulo: Academia de Inteligência – 1999 15ª Edição Tuberculose Sem Amor Amemos! Quero de amor Viver no teu coração! Sofrer e amar essa dor Que desmaia de paixão! Na tu’alma, em teus encantos E na tua palidez E nos teus ardentes prantos Suspirar de languidez! Quero em teus lábios beber Os teus amores do céu, Quero em teu seio morrer No enlevo do seio teu! Quero viver d’esperança, Quero tremer e sentir! Na tua cheirosa trança Quero sonhar e dormir! Vem, anjo, minha donzela, Minha’alma, meu coração! Que noite, que noite bela! Como é doce a viração! E entre os suspiros do vento Da noite ao mole frescor, Quero viver um momento, Morrer contigo de amor! Meu Anjo Meu anjo tem o encanto, a maravilha Da espontânea canção dos passarinhos; Tem os seios tão alvos, tão macios Como o pêlo sedoso dos arminhos. Triste de noite na janela a vejo E de seus lábios o gemido escuto É leve a criatura vaporosa Como a frouxa fumaça de um charuto. Parece até que sobre a fronte angelical Um anjo lhe depôs coroa e nimbo... Formosa a vejo assim entre meus sonhos Mais bela no vapor do meu cachimbo. Como o vinho espanhol, um beijo dela Entorna ao sangue a luz do paraíso. Dá morte num desdém, num beijo vida, E celestes desmaios num sorriso! Mas quis a minha sina que seu peito Não batesse por mim nem um minuto, E que ela fosse leviana e bela Como a leve fumaça de um charuto! Lembranças de Morrer Quando em meu peito rebentar-se a fibra Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento; Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste pensamento. Eu deixo a vida como deixo o tédio Do deserto, o poento caminheiro - como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh'alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade - é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade - é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas... De ti, ó mãe, pobre coitada Que por minha tristeza te definhas! De meu pai...de meus únicos amigos, Poucos - bem poucos - e que não zombavam Quando, em noite de febre endoidecido, Minhas pálidas crenças duvidavam. Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei...que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta destas flores... Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, verei cristalizar-se o sonho amigo... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: - Foi poeta - sonhou - e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha Que minh'alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto! mas quando prelúdio ave d'aurora E quando à meia-noite o céu repousa Arvoredos do bosque, abri os ramos... Deixai a lua prantear-me à lousa! Desejo Se eu soubesse que no mundo Existia um coração Que só’ por mim palpitasse De amor em terna expansão; Do peito calara as mágoas Bem feliz eu era então ! Se essa mulher fosse linda Como os anjos lindos são, Se tivesse quinze anos, Se fosse rosa em botão, Se inda brincasse inocente Descuidada no gazão; Se tivesse a tez morena, Os olhos com expressão, Negro, negros, que matassem, Quem morressem de paixão, Impondo sempre tiranos Um jugo de sedução; Se as tranças fossem escuras, Lá castanhas é que não, E que caíssem formosas Ao sopro da viração. Sobre uns ombros torneados, Em amável confusão; Se a fronte pura e serena Brilhasse d’inspiração, Se o tronco fosse flexível Como a rama do chorão, Se tivesse os lábios rubros, Pé quente e linda mão; Se a voz fosse harmoniosa Como d’harpa a vibração, Suave como a da rola Que geme na solidão, Apaixonada e sentida Como do bardo a canção; E se o peito lhe ondulasse Em suave ondulação, Ocultando em brancas vestes Na mais branca comoção Tesouros de seios virgens, Dois pomos de tentação; E se essa mulher formosa Que me aparece em visão, Possuísse uma alma ardente, Fosse de amor um vulcão; Por ela tudo daria... A vida, o céu, a razão! Amor e Medo I Quando te olho, e me desvio cauto Da luz de fogo que te cerca, oh bela, Contigo dizes, suspirando amores: " - Meu Deus! que gelo que frieza aquela!" Como te enganas! meu amor é chama que se alimenta no voraz segredo, E se te fujo é que te adoro e louco... És bela - eu moço; tens amor - eu medo! Tenho medo de mim, de ti, de tudo, Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes, Das folhas secas, do chorar das fontes, das horas longas a correr velozes. O véu da noite me atormenta em dores, A luz da aurora me intumesce os seios, E ao vento fresco do cair das tardes Eu me estremeço de cruéis receios. É que esse vento que na várzea ao longe, Do colmo o fumo caprichoso ondeia, Soprando um dia tornaria incêndio A chama viva que teu riso ateia! Ai! se abrasado crepitasse o cedro, Cedendo ao raio que a tormenta envia, Diz: - que seria da plantinha humilde Que à sombra dele tão feliz crescia? A labareda que se enrosca ao tronco Torrara à planta qual queimara o galho, E a pobre nunca reviver pudera, Chovesse embora paternal orvalho. Amor e Medo II Ai se eu ti visse no calor da sesta, A mão tremente no calor das ruas, Amarrotado o teu vestido branco, Soltos cabelos nas espáduas nuas!... Ai! se eu te visse, Madalena pura, Sobre o veludo reclinada a meio, Olhos cerrados na volúpia doce, Os braços frouxos - palpitante o seio!... Ai! se eu te visse, em languidez sublime, Na face as rosas virginais do pejo, Trêmula a fala a protestar baixinho... Vermelha a boca, soluçando um beijo!... Diz: - que seria da pureza d'anjo, Das vestes alvas, do condor das asas? - Tu te queimaras, a pisar descalça, - Criança louca, - sobre um chão de brasas! No fogo vivo eu me abrasara inteiro! Ébrio e sedento na fugaz vertigem Vil, machucara com meu dedo impuro As pobres flores da grinalda virgem! Vampiro infame, eu sorveria em beijos Toda inocência que teu lábio encerra, E tu serias no lascivo nos pauis da terra. Depois... desperta no febril delírio, - Olhos pisados - como um vão lamento, u perguntaras: - qu'é da minha c'roa?... eu te diria: - desfolhou-a o vento!... Oh! Não me chames coração de gelo! Bem vês; traí-me no fatal segredo. Se de ti fujo é que te adoro e muito, És bela - eu moço; tens amor - eu medo!... Canção do Exílio II Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro Respirando este ar; Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo Os gozos do meu lar! O país estrangeiro mais belezas Do que a pátria não tem; E este mundo não vale um só dos beijos Tão doces duma mãe! Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil; Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil! Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já! Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Quero ver esse céu da minha terra Tão lindo e tão azul! E a nuvem cor-de-rosa que passava Correndo lá do sul! Quero dormir à sombra dos coqueiros, As folhas por dossel; E ver se apanho a borboleta branca, Que voa no vergel! Quero sentar-me à beira do riacho Das tardes ao cair, E sozinho cismando no crepúsculo Os sonhos do porvir! Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, A voz do sabiá! Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, E sentir, expirando, as harmonias Do meu berço natal! Minha campa será entre as mangueiras, Banhada do luar, E eu contente dormirei tranqüilo À sombra do meu lar! As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, E eu sonho no sepulcro os meus amores Na terra onde nasci! Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Da camisa aberta o peito, - Pés descalços, braços nus — Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo. Adormecia sorrindo E despertava a cantar! ........................................ Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! — Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais! Lisboa, 1857. MARTÍRIO Beijar-te a fronte linda Beijar-te o aspecto altivo Beijar-te a tez morena Beijar-te o rir lascivo Beijar o ar que aspiras Beijar o pó que pisas Beijar a voz que soltas Beijar a luz que visas Sentir teus modos frios, Sentir tua apatia, Sentir até repúdio, Sentir essa ironia, Sentir que me resguardas, Sentir que me arreceias, Sentir que me repugnas, Sentir que até me odeias, Eis a descrença e a crença, Eis o absinto e a flor, Eis o amor e o ódio, Eis o prazer e a dor! Eis o estertor de morte, Eis o martírio eterno, Eis o ranger dos dentes, Eis o penar do inferno! SONETO Arda de raiva contra mim a intriga, Morra de dor a inveja insaciável; Destile seu veneno detestável A vil calúnia, pérfida inimiga. Una-se todo, em traiçoeira liga, Contra mim só, o mundo miserável. Alimente por mim ódio entranhável O coração da terra que me abriga. Sei rir-me da vaidade dos humanos; Sei desprezar um nome não preciso; Sei insultar uns cálculos insanos. Durmo feliz sobre o suave riso De uns lábios de mulher gentis, ufanos; E o mais que os homens são, desprezo e piso. Ao gozo, ao gozo, amiga. O chão que pisas A cada instante te oferece a cova. Pisemos devagar. Olhe que a terra Não sinta o nosso peso. Deitemo-nos aqui. Abre-me os braços. Escondamo-nos um no seio do outro. Não há de assim nos avistar a morte, Ou morreremos juntos. Não fales muito. Uma palavra basta Murmurada, em segredo, ao pé do ouvido. Nada, nada de voz, - nem um suspiro, Nem um arfar mais forte. Fala-me só com o revolver dos olhos. Tenho-me afeito à inteligência deles. Deixa-me os lábios teus, rubros de encanto. Somente pra os meus beijos. Ao gozo, ao gozo, amiga. O chão que pisas A cada instante te oferece a cova. DESEJO (Hora do Delírio) Se além dos mundos esse inferno existe, Essa pátria de horrores, Onde habitam os tétricos tormentos, As inefáveis dores; Se ali se sente o que jamais na vida O desespero inspira: Se o suplício maior, que a mente finge, A mente ali respira; Se é de compacta, de infinita brasa O solo que se pisa: Se é fogo, e fumo, e súlfur, e terrores Tudo que ali se visa; Se ali se goza um gênero inaudito De sensações terríveis; Se ali se encontra esse real de dores Na vida não possíveis; Se é verdade esse quadro que imaginam As seitas dos cristãos; Se esses demônios, anjos maus, ou fúrias, Não são uns erros vãos Eu - que tenho provado neste mundo As sensações possíveis; Que tenho ido da afecção mais terna Às penas mais incríveis; Eu - que tenho pisado o colo altivo De vária e muita dor; Que tenho sempre das batalhas dela Surgido vencedor; Eu - que tenho arrostado imensas mortes, E que pareço eterno; Eu quero de uma vez morrer para sempre, Entrar por fim no inferno! Eu quero ver se encontro ali no abismo Um tormento incrível: - Desses que achá-los nas existência toda Jamais será possível! Eu quero ver se encontro alguns suplícios, Que o coração me domem; Quero lhe ouvir esta palavra incógnita: - "Chora por fim, - que és homem!" Subjetivismo A realidade é revelada através da atitude pessoal do escritor. O artista trás à tona o seu mundo interior, com plena liberdade. O poeta usa muito os verbos e pronomes na primeira pessoa. EU AMO A NOITE (…) Amo o silêncio, os areais extensos, Os vastos brejos e os sertões sem dia, Porque meu seio como o sombra é triste, Porque minh’alma é de ilusões vazia. Egocentrismo A VOLTA (…) Mas nós iremos, tu queres, Não é assim? Nós iremos; Mais belos reviveremos Os belos sonhos de então. E à noite, fechada a porta, Tecendo planos de glórias, Contaremos mil histórias, Sentados junto ao fogão. Mal do século Pessimismo. A morte como solução para os problemas da vida. EU AMO A NOITE (…) Amo as perpétuas que os sepulcros ornam, As rosas brancas desabrochando à lua, Porque na vida não terei mais sonhos, Porque minh’alma é de esperanças nua. Tenho um desejo de descanso, infindo, Negam-me os homens; onde irei achá-lo? A única fibra que ao prazer ligava-me Senti partir-se ao derradeiro abalo!… Em Viagem (…) Mata-me n’alma a flor das ilusões Tanta mentira, tão fingido rir, E cheio e farto de tristeza e tédio Rejeito as glórias de falaz porvir! Rejeito as glórias de falaz porvir, Galas e festas, o prazer talvez, E busco altivo as solidões profundas Que dormem quedas do Senhor aos pés, (…) Ricas de gozos que não tem o mundo, Pródigas sempre de beleza e paz! DESEJO Quando eu morrer adornem-me de flores, Descubram-me das vendas do mistério, E ao som dos versos que compus carreguem Meu dourado caixão ao cemitério. Amor Idealizado, inatingível. AS LETRAS Na tênue casca de verde arbusto Gravei teu nome, depois parti; Foram-se os anos, foram-se os meses, Foram-se os dias, acho-me aqui. Mas ai! O arbusto se fez tão alto, Teu nome erguendo, que mais não vi! E nessas letras que ao céu subiam Meus belos sonhos de amor perdi. Mulher como símbolo Idealizada. SERENATA Em teus travessos olhos, Mais lindos que as estrelas, Do espaço, às furtadelas, Mirando o escuro mar, Em teu olhar tirânico, Cheio de vivo fogo, Meu ser, minh’alma afogo De amor a suspirar. Se teus encantos todos Eu fosse a enumerar!… Estâncias (…) O que eu adoro em ti, ouve, é tu’alma Pura como o sorrir de uma criança, Alheia ao mundo, alheia aos preconceitos, Rica de crenças, rica de esperança. (…) Um não sei quê de grande, imaculado Que faz-me estremecer quando tu falas, E eleva-me o pensar além dos mundos Quando abaixando as pálpebras te calas.