Barroco Projeto Literário O Barroco e o Público Fruto de muito estudo e trabalho, a poesia barroca é escrita por poetas para poetas. As disputas literárias, promovidas nas Academias, estimulam a sofisticação dos textos, porque o objetivo é demonstrar o melhor domínio da retórica clássica no desenvolvimento de temas consagrados. O poeta e o seu público De perfil muito específico, esses leitores aprovam a repetição de temas, pois ela permite a comparação entre os diferentes poetas. Quanto mais elaborado o texto, maior a distinção conferida ao leitor capaz de compreendê-lo. A poesia produzida nas Academias O jogo da poesia produzida nas Academias tinha sempre uma dupla face: de um lado, o poeta, que buscava compor um texto bastante elaborado para ser reconhecido; do outro, o leitor que, por compreender esse texto, se mostrava tão sofisticado quanto o poeta. O fusionismo O termo se refere à fusão das visões medievais e renascentistas, antagônicas. Essa fusão se traduz, na pintura, pela mistura entre luz e sombra; na música, pela combinação entre a razão e a fé. A busca incessante da união dos opostos leva os escritores barrocos ao uso intenso de duas figuras de linguagem que criam esse efeito de sentido: antíteses e paradoxos. O Culto do Contraste Como consequência da dualidade na maneira de ver o mundo e interpretar as coisas, o Barroco tende a aproximar os opostos, destacando o contraste, ao mesmo tempo que tenta conciliar extremos como (carne/espírito), (pecado/ perdão), (juventude/velhice), (céu/ terra), (erotismo/espiritualidade). O Contraste na Literatura Na Literatura, algumas imagens simbolizam a indefinição resultante dos contrastes. As mais frequentes são o crepúsculo (transição entre dia e noite) e a aurora (transição entre noite e dia). O Pessimismo A religiosidade acentuada pelas disputas entre protestantes e católicos emprestou um caráter mais dramático à vida no século XVII. Dividido entre razão e religião, o ser humano prefere a religião na esperança de compartilhar a glória divina. Essa opção enfraquece a postura humanista, que desde o fim da Idade Média havia tirado o controle da felicidade humana das mãos de Deus para entregá-lo ao ser humano. O pessimismo Nesse contexto, um olhar mais pessimista para o mundo sobressai em muitos textos e em outras manifestações artísticas. A vida terrena é caracterizada por traços que sugerem tristeza e sofrimento, para representá-la como oposta à felicidade e à glória da vida celestial. O feísmo Manifestando o pessimismo dos autores, várias obras barrocas exploram a miséria da condição humana, apresentada em alguns aspectos cruéis, dolorosos e muitas vezes repugnantes. O rebuscamento O artista barroco é minucioso na composição dos detalhes e manifesta o gosto pela ornamentação excessiva. Essa ornamentação acaba por criar um efeito de suntuosidade nas obras de arte do período e revela o desejo de criar um discurso para convencer o público da glória de Deus. Linguagem Trabalhada A utilização de uma linguagem trabalhada, cheia de imagens e de figuras, procura dar à literatura a riqueza visual da pintura e da escultura. Isso faz com que os jogos de palavras e as figuras de linguagem sejam muito explorados nos textos desse período. Dinamismo e Teatralidade O artista barroco deseja criar sensação de movimento, que representa a instabilidade do período. A linhas curvas utilizadas na pintura opõem-se claramente às retas que orientam a arte renascentistas. Os traços hiper-realistas dão às obras um caráter mais exagerado, teatral, destinado a chocar o observador. Reflexão sobre a fragilidade humana A leitura dos principais poetas clássicos influencia a escolha dos temas mais recorrentes na poesia barroca. Vários textos abordam a fragilidade da vida humana, a fugacidade do tempo, a crítica à vaidade (a beleza que é sempre destruída pela passagem do tempo) e as contradições do amor. Textos Elaborados O desejo de produzir textos muito elaborados, contudo, faz com que a escolha dos temas tenha menos importância do que o trabalho com a linguagem. Por esse motivo, percebe-se que um tema (o pé de uma dama, as tranças negras da outra) pode ser somente um pretexto para que o poeta manifeste seu domínio superior da palavra. Agudeza e Engenho Agudeza é a capacidade de dizer algo de modo imprevisto e inteligente. Por esse motivo, os poetas do barroco se esforçaram para criar metáforas, analogias e imagens que pudessem ser vistas como agudeza. Engenho é a capacidade de promover correspondências inesperadas entre ideias e conseguir sintetizar um pensamento em “palavras brilhantes”. Fábrica de Metáforas O trabalho com a linguagem é o segredo da construção das agudezas. Os poetas definiram um processo que os auxiliava a criar metáforas. O tema era submetido a uma análise baseada em dez categorias diferentes, como qualidade (as características do tema), ação (o que ele pode provocar), etc. Assim... Se o poeta estivesse procurando metáforas para uma qualidade do tema, a cor branca, por exemplo, poderia defini-lo como neve ou lírio porque são elementos brancos. Para cada uma das categorias, ele deveria encontrar ideias ou características que pudessem relacionar o tema a diferentes imagens.