Minha escrivaninha, o campo de neve
Em vinte e três sentenças1
Dietmar Kamper
Não, não a neve do ano passado, la neige d’antan2, mas aquela da noite
passada. Neve de sonho. Nada pode ser escrito com o mesmo calor com
que acontece. Que se deixe portanto esfriar até o limite do gelo. Mas a
neve também tem a cor do primeiro olvido. Branca, com sombras azuis.
Às vezes, à noite, a lua brilha sobre ela. Então se poderia dizer adeus.
*
Minha escrivaninha nunca foi uma ponte de comando, uma central de
decisões [Schaltzentrale], uma banca de ordens, um parlatório de
governo. Nenhum passo soberano na escrita, nenhuma ordem, nenhuma
obediência, mas sim a desordenada superfície de uma ordem encoberta
das coisas. Seria preciso escrever uma estética da ausência para fazer
justiça a tal ordem. Pele para o corpo, imagem para o espaço. Prudência
lúcida de dispersão descuidada e de dor abafada.
*
Atos3. O que é um ato? A cristalização de um processo que foi domado
por um acontecimento. A ordem burocrática foi e é fria. Mede-se a
irritação até o ponto de sua irreversibilidade. O ejaculativo, o ruinoso, o
perecível são capturados pelo ciclo do tempo retornante. Manter silêncio
não é suficiente. A rotação é o alvo, que vai como um relógio, girando
para a direita.
*
Protocolo do caso, a outra forma originária da escrita – a partir de preces
e registros. A escrivaninha não serve aos deuses nem à reserva de
comandos, embora a maior parte do que é guardado fica vagando no
arquivo, no depósito. Diz-se raramente que se guarda algo para sempre.
Sobre a mesa não há lugar para reminiscências humanas. Elas se
perderiam com o sentar.
1
Texto datado de 19 de abril de 1998 e publicado no livro: Horizontwechsel. München:
Wilhelm Fink, 2001. Pág. 15-19. A presente tradução é de Danielle Naves de Oliveira.
2
“A neve de outrora”, em francês no original. (N.T.)
3
A palavra “atos” [Akten] neste caso também tem uma conotação burocrática. Diz respeito
tanto a ações ou atividades quanto a autos ou dossiês, processos, documentação.
*
E se a desordem da escrivaninha – até onde habitualmente posso pensar –
foi um alívio para a confusão que reina no mundo? Em todo caso, ordem
de escrivaninha é algo risível, uma estratégia impotente para ordenar ou
mesmo dominar os assuntos humanos, tal como quer a burocracia. Não, é
antes o computador (o qual eu não tenho aqui) que gera a ilusão de um
sujeito controlador.
*
Continuo escrevendo como antes, com caneta esferográfica, inclusive
agora, quando no rádio toca “Greensleves” e é tarde de sábado. A
velocidade dos pensamentos segue a velocidade da caligrafia. Apesar da
prescrita linearidade – eu li isto no Hermes de Michel Serres – trata-se da
mais complicada de todas as ações, virtuosidade manual simultaneamente
a expressão individual.
*
Com linhas estruturar um plano – tal foi a infinita e incansável
preparação para a tela que recentemente representa o mundo. Mas a tela
se localiza no espaço, confronta o olho; as escrivaninhas por sua vez
ficam na horizontal, ocasionando alguns dorsos curvados. O vidro nunca
será capaz de acolher tantas lágrimas desesperadas quanto o papel.
*
O copiar, atividade de escrivaninha avant la lettre, era uma intensa arte
da leitura, condição necessária para a compreensão. Ler tão lentamente
quanto o andamento da escrita. Lia-se então em voz alta, depois em
silêncio, depois simplesmente não se leu mais. Nos media eletrônicos não
se pode mais ler, não há mais condição para isso devido à velocidade
alcançada. O sentido quádruplo da escrita se desmantela.
*
O papel, instrumento para escrita vindo do papiro, é paciente. Assim se
diz a partir de longas experiências. Ele tolera e não se deixa apressar.
Decurso sem nenhuma velocidade da luz, mas em acordo com mão e
cabeça, com o corpo duplamente dobrado em ângulos. Ou voltemos ao
púlpito sobre o qual Søren Kirkgaard escreveu sua obra, em pé e três
vezes seguidamente?
*
Poder-se-ia assim deduzir. Que o escritor, inicialmente prerrogativa dos
religiosos, não é um burocrata. Quem sabe? Desde que utilize
formulários. Nem sempre é possível dedicar-se à superfície vazia. Tal é o
motivo da estruturação do papel em linhas, quadrados, losangos, tabelas:
para caso ele [o escritor] se esqueça que é da esquerda para a direita que
escreve e traça as linhas de cima para baixo.
*
Quando o escritor não esquece, arruína a neve, brinca com o fogo. O
papel não é somente paciente, ele também queima. Foucault escreveu:
“Meu corpo, o papel, o fogo”. É impossível esquecer que o papel escrito
representa a pele do homem. Nenhuma tela admite tal lembrança do
modelo arcaico.
*
A escrivaninha é o lugar do olvido, não da lembrança. Campos de neve
não são somente bonitos, mas também superfícies de cansaço, como
lenços com os quais a terra se cobre do céu. Apesar de toda a paixão,
conservar o mais urgente na memória. A luta dos acontecimentos
depositados, esperando na fila, é finalmente perdida. Exceções
confirmam a regra.
*
Os casos flagrantes são arquivos mortos. Mas é uma lei geral que a força
da gravidade triunfe. O trabalho para e na verticalidade não pode ser
vencido. No melhor dos casos o ser humano fica parado no meio, onde
ele pode se estender até o horizonte. Por isso a perspectiva do escritor é
indispensável para a produtividade de suas mãos.
*
À injustiça de ser negligenciado, dá-se o nome de reclamação. Quem
reclama acaba sempre chegando a alguma mesa de escritório onde torres
de papel e pastas se arqueiam. Talvez as escrivaninhas existam porque
primeiro existiram as reclamações. O que pode ser protelado destitui a
burocracia. É uma guerra por reconhecimento.
*
Culpados de escrivaninha, vítimas de escrivaninha – são por assim dizer,
memoriais da inadequação entre vida e escrita, entre morte escrita. O que
vale genericamente: a escrita é um substituto, um primeiro suplemento da
corporeidade para suportar a transitoriedade, a dissipação, se bem que
não eternamente, mas ao menos por um longo, longo tempo. Época
intermediária da civilização, anuncia a espiritualização da matéria.
*
Tal abstração do corpo, apesar de tudo, ainda é corporalmente eminente
com relação à atual revolução eletrônica. Ao menos o papel ainda é pele,
a tinta ou a impressão ainda é sangue ou sêmen, mantendo contato com a
essência do que é inexorável nas cartas enviadas. Cartas de amor ou
condenações à morte não seriam possíveis sem a escrita.
*
Breve4, há as cartas programadas com sangue do coração até o cordodilaceramento das coisas, sempre sem resposta e inoportunas. Elas foram
testemunhas de um grande tempo. Quando o ausente era apenas ausente e
não precisava de nenhuma aparência de presente. Apenas a dor pura e
assintomática, rebento súbito de um idioma indolor, bem protegida no
segredo do correio e mesmo da própria irreconhecibilidade.
*
Deixar viver e fazer morrer como efeito da escrita? Pronunciam-se
julgamentos, bate-se o martelo, proferem-se sentenças, mas na base da
língua vale finalmente apenas a assinatura, a marca nominal. Se um
escrito da Internet não estiver assinado, deve-se categoricamente para
isso criar um pretexto.
*
A fortaleza [Bastion] ainda cairá. A resignação é, desde sempre,
experimento de toda cultura da escrita; ela se abrange atualmente sobre
todas as escrivaninhas do mundo e força uma nova ligação mundial.
Resignação significa recuo daquele que escreve, do escritor. A
chancelaria e o claustro dos poetas são abdicados. Não dá mais. Os
senhores engenheiros têm a palavra.
*
Ora, o efetivo escrito passou para o lado do obsceno. Não se pode fazer
nada quanto a isso. O literal domina. A partir da escrita, não há mais
nenhum além, nenhuma censura, nenhuma cadeia de signos que possa
manter suas promessas. O espírito humano alcançou o ambicionado
4
Em latim no original, breve: em resumo, sucintamente.
estado de auto-satisfação5. Ele é pornográfico. Sua pureza é a sujeira
deste mundo.
*
Uma temerosa pergunta que pode ser colocada: se a adaptação de um
novo registro do desmoronamento do significado pode ser detido. A
cultura da escrita foi e é falocracia, poder erigido através da imaginação
produtora de signos. O poder fracassa não no material, no corpo, mas nos
signos mesmos, nos padrões prontos, nos esquemas, nas imagens do
poder.
*
O imaginário elimina o simbólico. A mundo de imagens é como um
calafrio, uma queda brusca de temperatura, como a última paisagem
nevada em uma manhã de inverno. Com sua imanência totalitária, vence
o invisível. Os humanos estão trancados em meio ao ver. “No cristal, sua
queda” – tal é a fórmula de E. T. A. Hoffmann. Somente por meio da fala
e da escrita tem-se uma chance contra o êxito da arbitrariedade
[Eigenmacht] proibida.
*
Não escrevo mais em minha escrivaninha; agora escrevo durante
períodos de espera, em viagens de trem ou de avião. A escrivaninha é
somente arquivo temporário. Ela naufraga em melancolia, em uma ordem
sui generis, espelho empoeirado do universo que não consegue se manter
nos jogos velozes e nas altas apostas. Num adeus à la longue6, há uma
tarefa a ser cumprida, tarefa esta que não faz nenhum sentido para
desmedida superexcitação das forças.
5
A palavra Selbstbefriedigung é utilizada na língua alemã para significar tanto “autosatisfação” quanto “masturbação”. O autor não desprezou tal ambigüidade.
6
Em francês no original: por longo tempo, definitivamente.
Mein Schreibtisch, das Schneefeld
In dreiundzwanzig Sätzen
Dietmar Kamper
In: Horizontwechsel. München: Wilhelm Fink, 2001. Pág. 15-19.
[1]
Nein, nicht der Schnee vom vergangenen Jahr, la neige d’antan, sondern
derjenige der vergangenen Nacht. Traumschnee. Nichts kann so heiß
geschrieben werden, wie es geschieht. Also abkühlen lassen bis an die
Grenze des Frostes. Aber der Schnee hat auch die Farbe des ersten
Vergessens. Weiß, mit blauen Schatten. Manchmal scheint darüber
nächtens der Mond.
[2]
Nie war mein Schreibtisch je eine Kommandobrücke, eine
Schaltzentrale, ein Befehlstand, ein Regiepult. Keine Herrscherallüren
beim Schreiben, kein Befehl und kein Gehorsam, aber die unordentliche
Oberfläche einer verborgenen Ordnung der Dinge. Man müßte eine
Ästhetik der Abwesenheit schreiben, um einer solch unsichtbaren
Ordnung gerecht zu werden. Haut für Körper, Bild für Raum. Luzide
Klugheit aus fahriger Zerstreuung und dumpfen Schmerz.
[3]
Akten. Was ist eine Akte? Die Kristallisation eines Vorgangs, der ein
Ereignis bändigt. Die Bürokratische Ordnung war und ist kalt. Man
mäßigt die Erregung bis zum Punkt ihrer Irreversibilität. Das ejakulative,
das Stürzende und das Fällige werden in den Kreislauf der
wiederkehrenden Zeit eingefangen. Stillstellung ist nicht genug. Rotation
ist das Ziel, wie eine Uhr geht, rechtsdrehend.
[4]
Das Protokoll des Falles, die andere Urform der Schriftlichkeit – nach
Gebet und Register. Der Schreibtisch dient nicht den Göttern und nicht
der Vorratschaltung, obwohl manches von dem, was aufbewahrt wird, in
den Speicher, ins Archiv wandert. Selten heißt es Aufbewahren für alle
Zeit. Auf der Tischplatte findet kein Menschengedenken statt. Im Sitzen
wäre es verspielt.
[5]
Ob die Unordnung des Schreibtisches – notorisch, so lange ich denke
kann – eine Mäßigung des Durcheinanders war, das in der Welt herrscht?
Schreibtischordnung jedenfalls ist lächerlich, eine ohnmächtige Strategie
angesichts der Aufgabe, die menschlichen Angelegenheiten zu ordnen
oder gar zu beherrschen, wie die Bürokratie es will. Nein, erst der
Computer (den ich hier nicht habe) generiert die Illusion eines
herrschenden Subjekts.
[6]
Ich schreibe nach wie vor mit dem Kugelschreiberstift, mit auslaufender
Tinte, auch jetzt, da das Radio „Green sleeves“ spielt und
Samstagnachmittag ist. Die Geschwindigkeit der Gedanken folgt der
Geschwindigkeit des Schreibens der Hand. Das ist – ich las bei Michel
Serres in „Hermes“ – die Komplizierteste aller Handlungen, manuelle
Virtuosität, zugleich individuellster Audruck. Trotz der verordneten
Linearität.
[7]
Mit Linien eine Fläche strukturieren – das war die undendlich mühselige
Vorbereitung des Bildschirms, der neuerdings die Welt bedeutet. Aber
der Bildschirm steht im Raum, konfrontiert den Augen, während die
Schreibtischauflagen in der Horizontalen liegen und manchen gebeugten
Rücken erzeugt haben. Nie wird das Glas soviel verzweifelte Tränen
aufnehmen können wie das Papier.
[8]
Kopieren, Schreibtischtätigkeit avant la lettre, war eine intensive Art des
Lesens, unbedingt Voraussetzung für das Verstehen. So langsam lesen,
wie das Schreiben geht. Dann las man laut, dann leise, dann gar nicht
mehr. In den elektronischen Medien kann nicht mehr gelesen werden,
kommt wegen der erreichten Geschwindigkeit kein Lesen mehr zustande.
Der vierfache Schriftsinn verfällt.
[9]
Papier, Schreibzeug aus Papyros, ist geduldig. So sagt man aus langen
Erfahrungen. Es duldet und läßt sich nicht beschleunigen. Keine
Lichtgeschwindgkeit der Abläufe, sondern hand- und kopfgemäß,
allerdings mit zweifach abgewinkeltem Körper. Oder kehren wir
schreibend ans Schreibpult zurück, an dem Søren Kirkgaard seine Werke
schrieb, stehend und dreimal hintereinander?
[10]
Man könnte daraus folgern. Daß der Schriftsteller, erst recht der
religiöse, kein Bürokrat ist. Wer weiß? Sobald er Vordrucke benutzt.
Man kann sich nicht immer wieder erneut der leeren Fläche widmen.
Deshalb die Rasterung des Papiers mit Linien, Karos, Rauten, Tabellen.
Wenn er vergißt, daß er von links nach rechts ins Leere schreibt und von
oben nach unten die Zeilen zieht.
[11]
Wenn der Schreibende es nicht vergißt, unterwandert er den Schnee,
spielt er mit dem Feuer. Papier ist nicht nur geduldig, es brennt auch.
Foucault schrieb: „Mein Körper, das Papier, das Feuer“. Beim Schreiben
auf Papier ist es unvergeßlich, daß es die Haut des geliebten Menschen
darstellt. Kein Bildschirm läßt eine solche Erinerung der archaicher
Muster zu.
[12]
Der Schreibtisch ist der Platz der Vergessens, nicht der Erinnerung.
Schneefelder sind nicht nur schön, sondern auch Oberflächen der
Müdigkeit, wie Tücher, mit denen die Erde sich gegen den Himmel
abdeckt. Trotz aller Leidenschaft, das Dringlichste im Gedächtnis zu
behalten. Der Kampf der deponierten Vorgänge, an die Reihe zu
kommen, geht schließlich verloren. Ausnahmen bestätigen die Regel.
[13]
Die krassen Fälle heißen Karteileichen. Aber es ist ein allgemeines
Gesetz, daß die Schwekraft siegt. Die Arbeit an und in der Vertikalität
kann nicht gewonnen werden. Bestenfalls hält das Menschenwesen sich
in der Mitte, wo es sich ausbreiten kann bis an den Horizont. Deshalb ist
der Ausblick des Schriftstellers unerläßlich für die Produktivität seiner
Hände.
[14]
Man nennt die Markierung der Ungerechtigkeit, nicht an die Reihe
gekommen zu sein, eine Beschwerde. Wer sich beschwert, landet immer
auf irgendeneinem Schreibtisch, so daß sich die Akten türmen und die
Bretter biegen. Vielleicht gibt es Schreibtische erst, seit es Beschwerden
gibt. Was man auf die lange Bank schieben kann, entlastet den grünen
Tisch. Es ist ein Krieg um Anerkennung.
[15]
Schreibtischtäter, Schreibtischopfer – sprichwörtliche Mahnmale für die
Unangemessenheit von Leben und Schreiben, von Tod und Schreiben.
Auch das gilt ganz allgemein: die Schrift ist ein Substitut, ein erster
Ersatz der Körperlichkeit, um das Vergehen, um die Vergänglichkeit zu
verwinden, zwar nicht auf ewig, aber auf lange, lange Zeit. Eine
intermediäre Epoche der Zivilisation, sprich der Vergeistigung der
Materie.
[16]
Obwohl diese Abstraktion von Körper noch eminent körperlich ist, im
Verhältnis etwa zur aktuellen elektronischen Revolution. Immerhin bleibt
Papier Haut, bleibt Tinte oder Druckfarbe Blut oder Samen und hält
Fühlung mit der Essenz des Verlangens, auf die es bei adressierten
Botschaften ankommt. Liebesbriefe oder Todesurteile wären ohne Schrift
nicht möglich.
[17]
Briefe, breve, vorangeschrieben mit Herzblut bis in das Herzzerreißende
der Dinge, immer antwortlos und unanbringlich. Sie waren Zeugen einer
großen Zeit. Als das Abwesende noch abwesend war und keinen Schein
der Gegenwart brauchte. Nur den reinen, symptomlosen Schmerz, aus
der eine schmerzlose Sprache hervorbrach, wohlverwahrt im
Briefgeheimnis und heranreichend an die eigene Unkenntlichkeit.
[18]
Lebenlassen und Sterbenmachen als Effekte des Schreibens? Man fällt
zwar Urteile, man bricht Stäbe, man performiert Sprüche, aber im
Basement der Sprache gilt schließlich nur die Unterschrift, die
namentliche Signatur. Wenn ein Schriftstück im E-mail nicht
unterschrieben ist, wird zwar noch eine Entschuldigung angebracht,
unmißverständlich.
[19]
Noch die Bastion wird fallen. Resignation, Versuchung jeder SchriftKultur schon immer, breitet sich gegenwärtig über alle Schreibtische der
Welt aus und erzwingt eine andere Weltbeziehung. Resignation heißt
Rücknahme der Unterschrift des Schreibers, des Schriftstellers. Die
Kanzlei und die Poetenklause danken ab. Es geht nicht mehr. Die Herren
Ingenieure haben das Wort.
[20]
Nun ist das geschriebene Effektiv in Obszönität übergegangen. Man kann
da nichts machen. Das Wortwörtliche dominiert. Es gibt von der Schrift
aus kein Jenseits mehr, keinen Verweis, keine Zeichenkette, die halten
würde, was sie verspricht. Der menschliche Geist hat der erstrebten
Zustand der Selbstbefriedigung erreicht. Er ist pornografisch. Seine
Reinheit ist der Schmutz dieser Welt.
[21]
Die bange Frage mag sich erheben, ob die Umstellung auf ein neues
Register den Zusammenbruch des Signifikanten wird aufhalten können.
Schriftkultur war und ist Phallokratie, erigierte Herrschaft mittels der
zeichenmachenden Imagination. Die Herrschaft scheitert nicht am
Material, am Körper, sondern an den Zeichen selbst, an den Mustern, die
gemacht wurden, an den Schemata, an den Bildern der Macht.
[22]
Das Imaginäre löscht das Symbolische. Die Bilderwelt ist wie ein
Kälteeinbruch, wie die definitive Schneelandschaft an einem
Wintermorgen. Sie löscht zuletzt auch die Bilder. Mit ihrer totalitären
Immanenz siegt das Unsichtbare. Die Menschen sind eingesperrt in die
Mittel des Sehens. „In den Kristall dein Fall“ – so die Formel E. T. A.
Hoffmanns. Nur mittels Sprache und Schrift hatte man eine Chance
gegen den wahnsinnigen Erfolg der verbotenen Eigenmacht.
[23]
Ich schreibe nicht mehr an meinem Schreibtisch, nun in Wartezeiten, bei
Bahnfahrten und Flugreisen. Der Schreibtisch ist nur noch Archiv auf
Zeit. Seine Auflagen versinken in Melancholie, in eine Ordnung sui
generis, verstaubter Spiegel des Universums, der beim schnellen Spiel
um hohe Einsätze nicht mithalten kann. Im Abschied à la longue wird ein
Dienst quittiert, der für die maßlose Überrreizung der Kräfte keinen Sinn
hat.
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