ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA DOENÇA VASCULAR ENCEFÁLICA NO HOSPITAL NOSSA
SENHORA DA CONCEIÇÃO (HNSC)
Mariana Cardoso de Lima(1), Amanda Conciani Corso(1), Tatiana Pizzolotto Bruch (2), Lidiane Lemos(2),
Marcos de Souza Medeiros(2), Enrico Ghizoni(3), Rinaldo Claudino(4)
(1) Acadêmicas de Medicina da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina – Tubarão – SC), participantes do Programa PUIC;
(2) Acadêmicos de Medicina da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina – Tubarão – SC), colaboradores e co-autores;
(3) Neurocirurgião do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC). Professor da disciplina de neurocirurgia do internato médico – UNISUL, orientador responsável pela pesquisa no Programa
PUIC;
(4) Neurologista do Hospital Governador Celso Ramos/Secretaria de Saúde de Santa Catarina - Florianópolis –SC, co-orientador.
Introdução
Acidente Vascular Encefálico (AVE) corresponde a qualquer evento clínico agudo
relacionado a comprometimento da circulação cerebral. Em mais de 80% dos casos ele
é do tipo isquêmico. Apesar de uma tendência de redução lenta e constante das taxas
anuais de mortalidade por doenças cerebrovasculares (DCV), a mortalidade no Brasil,
quando comparado a outros países, ainda é alta. Além de alta mortalidade a DCV, tem
alta morbidade e gera um alto custo sócio-econômico.
Vários fatores de risco já foram elucidados para a DCV.
Com relação ao tipo de AVE, o tipo isquêmico perfez 82,6%.O predomínio desse
sobre o hemorrágico também é relatado pelos demais estudos do gênero.
Os pacientes que não eram provenientes do município de Tubarão totalizaram
55.7%. Tal fato pode ter influenciado no tempo entre o início dos sintomas até a
chegada ao hospital, sendo a mediana desse intervalo 4,8 horas, independentemente
do local de origem. Apesar do tempo ainda estar elevado para a terapia trombolítica
endovenosa, ainda é menor que em locais onde há protocolos de tratamento com o
rt-PA.
Graf. 2 – Tempo entre início dos sintomas e chegada ao hospital, em horas. Dados
válidos para um total de 86 pacientes.
Foi constatado que a administração intravenosa do rt-PA nas primeiras três horas após
o inicio dos sintomas, com o propósito de dissolver um trombo causador de obstrução,
é a primeira oportunidade para intervenção e modificação direta dos danos cerebrais
em pacientes elegíveis. Alguns estudos estão avaliando a possibilidade da extensão da
janela terapêutica para 6 horas.
Objetivos
Objetivo geral: analisar os pacientes internados com AVE no HNSC. Objetivos
específicos: mensurar o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a chegada ao
hospital; verificar as características demográficas e os fatores de risco da população;
analisar o desfecho destes pacientes; e verificar a possibilidade de uma futura
implementação com tratamento trombolítico no hospital.
Metodologia
Estudo observacional com período de acompanhamento igual ao tempo de internação
hospitalar. Avaliou-se 115 pacientes do HNSC com quadro de AVE agudo, no período
de março de 2007 a março de 2008. Diariamente os pacientes que internavam no
HNSC com o diagnóstico de AVE eram visitados e avaliados. Foram incluídos todos os
que preenchessem os critérios de inclusão e aceitassem participar do estudo. Aplicouse um questionário contendo questões fechadas sobre diversos fatores de risco, sendo
aplicado o National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS). Na alta hospitalar era
revisado o prontuário e aplicado o Índice de Independência de Barthel (IIB).
As informações foram armazenadas em um banco de dados utilizando o programa
SPSS® 12.0, o qual também foi utilizado para a obtenção das freqüências de interesse.
Para as variáveis qualitativas foi utilizado o teste de qui-quadrado e para as
quantitativas ANOVA. O valor considerado de significância estatística foi P<0,05 e o
intervalo de confiança de 95%.
Os pacientes apresentaram uma mediana do NIHSS de 6, sendo menor do que os
encontrados na literatura e dentro da faixa de inclusão para trombólise.
Tab. 1 – Pontuação do NIHSS na entrada ao HNSC, válido para 91 pacientes.
Pontuação do NIHSS
<4
5 a 21
> 22
Frequência (%)
45,1%
35,2%
19,8%
O AVE é uma das maiores causas de seqüelas permanentes que geram
incapacidade funcional. Quase metade dos pacientes avaliados foram considerados
independentes. A mortalidade foi menor do que as encontradas em outros estudos,
19,1%.
Conclusões
Os fatores de risco para AVE já são bem conhecidos pelo meio médico, mas pouco
difundidos pela população. Além disso, eles não estão sendo combatidos de forma
adequada, permitindo que a ocorrência de AVE seja elevada.
Resultados
O tempo de chegada dos pacientes (relativamente pequeno), a pontuação do NIHSS
(baixa), são características que tornam a implementação de terapia trombolítica
possível no HNSC.
Na América Latina, ocorrem grandes diferenças geográficas, étnicas, culturais e
socioeconômicas, que influenciam o acesso à assistência médica.
Bibliografia
Apesar de a distribuição ser aproximadamente igual entre os gêneros, a maioria
pertence ao gênero feminino (51,3%). A idade média foi de 67 anos. Os caucasianos
constituíram 72,2% da população estudada e não se observou diferença no prognóstico
entre esses e os não caucasianos.
Graf. 1– Prevalência dos fatores de risco para AVE na população estudada.
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