Roteiro do Professor
Coleção Do arco-da-velha
Três contos da sabedoria popular
Rogério Andrade Barbosa
Os três contos reunidos nesse livro são fábulas – histórias com uma função moral,
cujas personagens são animais capazes de falar, pensar e agir como humanos. Esse tipo de
narrativa em que esperteza e ingenuidade se confrontam não conhece fronteiras. Tanto
é que cada uma das histórias reunidas em Três contos da sabedoria popular surgiu da
herança cultural de um dos três continentes que originaram a maior parte da população
brasileira.
“A comadre Raposa e a comadre Onça” tem origem europeia e remonta às mais antigas
fábulas gregas, difundidas inicialmente no Ocidente por Esopo e até hoje, mais de 2,5 mil
anos depois, muito contadas. Já a narrativa de “O Coelho e a Paca” se passa durante
uma congada, festa de origem afro-brasileira. Por fim, “Por que a Cutia tem o rabo bem
curtinho?” tem como pano de fundo uma festa indígena “para celebrar a boa colheita e
a fartura de frutas e de pescado”.
Sugestões de atividades
1. Como uma abordagem inicial do livro, você pode propor uma discussão sobre a relação
moral presente nas três fábulas. Há inúmeras formas de fazer esse debate: desde
perguntar diretamente aos alunos se perceberam semelhanças entre a moral de cada
história até deixar que eles discutam em pequenos grupos qual seria essa conclusão,
para posteriormente fazer um debate geral com a classe. Conforme a maturidade de
interpretação de texto da turma, você pode aprofundar a discussão a respeito do sentido
moral da história: por que a “esperteza” é um atributo humano diretamente ligado à
trapaça? Não há outra possibilidade, positiva, para esse atributo? Afinal, segundo o
dicionário Houaiss, uma das acepções do termo é “ação ou método de quem é esperto;
rapidez, eficiência, inteligência, tino, vivacidade”.
2. Na introdução a cada conto, o autor faz referência à origem oral das fábulas: contadores
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de histórias do Nordeste, comunidades rurais afro-brasileiras e nações indígenas. Essa
é uma característica fundamental de qualquer história popular. Como uma forma de
chamar a atenção para a oralidade, você pode propor uma atividade de contação de
fábulas antes de proceder com a leitura do texto. Você pode sugerir algumas, dando
os nomes de suas personagens principais, ou mesmo os títulos das mais famosas. Outra
possibilidade é que eles contem espontaneamente as fábulas de que mais gostam e/ou
que mais os marcaram.
As atividades que lidam com os conhecimentos prévios ajudam a preparar o aluno para
o texto que lhe será apresentado posteriormente. Claro que você deve ter em mente
qual ponto, especificamente, deseja que seja trabalhado antes da leitura principal. No
caso sugerido, uma possibilidade é enfocar nas marcas de oralidade, como entoação
e gestualidade. O nível de aprofundamento nas questões vai depender do grupo de
alunos – idade, interesses etc. De qualquer modo, lembrar fábulas que os tenham
encantado não deixa de ser uma forma de convidá-los a repetir a experiência com o
livro que será apresentado.
3. Peça aos alunos que realizem uma pesquisa com os familiares, amigos e conhecidos,
solicitando-lhes que contem oralmente uma fábula. Com a sua orientação, o
estudante pode fazer anotações num roteiro enquanto escuta a narrativa, de modo
que posteriormente possa recontá-la para os colegas com a ajuda desse suporte.
O roteiro, previamente organizado por você, deve conter aspectos como características
dos personagens, enredo com os principais acontecimentos, desfecho e moral da história.
É interessante que a atividade tenha uma finalização coletiva em sala. Esse processo
permite que os alunos percebam uma das marcas mais características dos contos
populares, que é sua origem oral. Aqui entram todos os outros aspectos próprios da
linguagem falada: entonação, gestos etc.
4. Com o objetivo de fixar os elementos narrativos de modo lúdico, uma proposta
interessante é realizar um jogo de mímica em que o “mímico”, por intermédio dos
gestos, dê pistas sobre uma fábula conhecida de todos ou sobre uma das que fazem
parte do livro. Depois do jogo, você pode propor que eles escrevam essas fábulas.
5. A dramatização do texto também pode ser uma boa atividade. Mas somente aplique-a
se você se sentir à vontade para organizá-la de modo que os alunos consigam chegar
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a um resultado razoável. Um dos primeiros desafios é fazer com que eles percebam as
diferenças entre as linguagens de um texto narrativo e um texto teatral. Este último,
basicamente, é apresentado em forma de diálogo. Portanto, é necessário um primeiro
trabalho, escrito, em que a linguagem narrativa deve ser transformada em falas de
personagens.
Nessa atividade coletiva (assim como o teatro), cada membro do grupo pode ficar
responsável por uma das várias funções necessárias para que uma dramatização chegue
a bom termo. Por exemplo, a transformação de uma linguagem em outra fica a cargo
do dramaturgo, enquanto a organização dos atores e, principalmente, sua forma de
atuação são tarefas do diretor; há também os responsáveis pela trilha sonora, pelo
cenário, pelos figurinos etc. Enfim, dependendo da turma é possível organizar uma
atividade em que os alunos não só “brinquem” de representar, mas também possam
começar a compreender como as diferentes linguagens artísticas se estruturam. Uma
última lembrança: como há apenas três narrativas no livro, você pode propor que eles
encenem outras fábulas.
6. Todas essas atividades propostas anteriormente podem culminar numa produção final.
Nesse caso, depois de ler, contar e ouvir muitas outras fábulas, exercitando o gênero
oralmente e por escrito, a turma pode fazer um livro com histórias recolhidas por eles
entre amigos, parentes, professores etc. Claro que a obra pode ser ilustrada também.
Para que o aluno tenha uma boa noção do uso público que um livro pode e deve ter,
esse trabalho pode ficar na biblioteca da escola para consulta. Procure ter um cuidado
redobrado na sua confecção final. Essa é uma excelente oportunidade para mostrar à
turma como o trabalho de revisão textual faz sentido – afinal, ninguém quer deixar
para a posteridade um trabalho malfeito!
7.Para enriquecer o seu repertório e o da turma, você pode recorrer aos livros com
histórias de autores clássicos, como Fábulas de Esopo (Editora Loyola) e Fábulas de
La Fontaine (Editora Itatiaia). Caso você se interesse por temas nacionais, há opções
como as fábulas indígenas brasileiras recolhidas por Elias José em Ao pé das fogueiras
acesas (Editora Paulinas) e as Fábulas de Monteiro Lobato (Editora Brasiliense), sem
falar nas escritas por autores contemporâneos, como José Paulo Paes (Olha o bicho,
Editora Ática) e Millôr Fernandes (Fábulas fabulosas, Editora Nórdica). Este último,
humorista, subverte a noção de que a fábula deve ter um final moralizante.
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8. Se você quiser trabalhar com fábulas antigas, há uma série de atividades propostas no
artigo “As fábulas de Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato como recurso didático”
da professora Rejane Pivetta de Oliveira, disponível em www.entrelinhas.unisinos.br/
index.php?e=3&s=9&a=19.
Assessoria pedagógica elaborada por Mayra Pinto
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