Violência de gênero e Saúde
Grupo interdisciplinar de pesquisa e intervenção
Violência e Gênero nas práticas de saúde
Lilia Blima Schraiber
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Departamento de Medicina Preventiva.
2007
Intervenção na Saúde : o polêmico e o consensual na Atenção a
Mulheres em Situação de Violência
Maior visibilidade aos casos
Postura ética, acolhimento especial
Encaminhamento apropriado
Documentação do caso com registro detalhado
Valorização da segurança pessoal da mulher
Consenso
Ações de prevenção e promoção da saúde
Introdução do tema na formação do médico e de outros profissionais
Polêmico
Busca ativa sistemática e universal (screening) ou seletiva
Identificar o profissional nuclear
Integrar com outros serviços e setores de assistência
Aderir aos programas e protocolos
Suporte aos profissionais (segurança pessoal e apoio emocional)
Modelos de Atenção Integral à Saúde
Modelos de ensino com impacto efetivo na prática profissional
Repercussões na Saúde
Depressão
Alto custo da
assistência
DST
Sangramento
ITU
Hematoma
Fratura
Dor
pélvica
Dor
muscular
Dor
no
peito
Baixa
resolução
dos casos
Dispnéia
Asma
Pré-natal
tardio
Dor crônica
Dor
epigastr.
abdom.
Diarréia
Cólon
irritável
Dor
em
B. V.
Aborto
RN
baixo
peso
Uso aumentado
de serviços
Dor
de
cabeça
Desmaio
Tontura
Insônia
Negligência de cuidados
Invisibilidade
dos casos
[AMA, 1992;
McFarlane et al, 1992;
Holtz, 1994;
Parker et al, 1994;
Heise et al, 1994;
McGrath et al, 1998;
Durant et al, 2000;
Hathaway et al, 2000]
Ideação e tentativa de suicídio e violência por parceiro
- MSP (inquérito domiciliar)
47,4
50
39,5
40
30
%
28,4
20,1
20
10
Pensou em suicídio
(n=940)
tentou se matar
(n=263)
0
sem violência violência física
e/ou sexual
[Schraiber e cols, 2002]
Violência física por parceiro e transtorno emocional Nicarágua
44
Violência severa atual
27
Violência severa no passado
21
Violência moderada atual
15
Violência moderada no passado
7
Sem violência
0
10
10,3
4,9-21,6
4,8
2,2-10,8
3,6
1-12
2,3
0,7-7,8
1
20
30
40
50
OR
Bruto
95%
IC
Transtorno emocional (%)
[Ellsberg et al, 1999]
Abuso conjugal e saúde infantil - Nicarágua, DHS
80
70
60
50
40
30
68 71
60
47
46
37
19 16
20
10
0
Mortalidade Mortalidade
infantil
em menores
(menores de de 5 anos
1 ano)
Diarréia
Mulheres com Violência
24 21
Desnutrição
% de
crianças
imunizadas
Mulheres sem Violência
[Heise et al, 1999]
Rota Crítica: Caso de Violência Sexual pelo Parceiro
Centro de Saúde
Belen Pampa - Cusco (1968)
- hospital 2 dias - violência sexual/parceiro
- o médico esclarece que foi violentada
ONGs (1970)
- orientam denunciar
- não faz por falta de
dinheiro
Hospital de Lorena (1986)
- atendimento por violência sexual
- enfermagem encaminha à Delegacia
Deleg. Polícia (1986)
- encaminha ao legista
- notifica agressor que
nega a relação com a
mulher
- pede testemunhas
Médico Legista
(1986)
- expede laudo
Distrital de Santiago 1991
(1991)
- denúncia ao juiz que encaminha para
Santiago
- caso acompanhado pela Associação
de Mães
ONG Amauta (1995)
- assistência médica e seguimento
- orientações sobre direitos
- falam com o agressor
- solicita à delegacia
parecer
- assina ata de proteção
?
(OPAS/Peru, 1998)
Violência contra a mulher: de que problema se
trata ?
• Altas taxas de violência
• Sobressai o tipo sexual
Brasil ( M:11,8%; H: 5,1%)
• Parceiro íntimo principal agressor
VF/S (WHO STUDY)
N= 940; 1095
QQ 41%; 40,6%
PI 28,9%; 36.9%
19 serviços SUS
N= 3088
QQ 54,8%
PI 45,4%
Violência
das relações afetivas/ da intimidade/ de gênero
Do ponto de vista histórico e social:
Das virtudes na esfera pública ao mundo privado
Marcos históricos: o movimento feminista e a violência
Nos países centrais: década de 70
Grupos de auto-ajuda
Inicia-se com violência sexual (estupro)
Depois violência doméstica
Nos países periféricos: década de 80 Brasil
Inicia-se com os crimes passionais por parceiro íntimo
Contrapõe-se à tese “da legítima defesa da honra”
com o lema: Quem ama não mata
Pressões por políticas públicas ( Advocacy/lobby)
Junto ao sistema judiciário: Direitos e leis
Marcos históricos:
no cotidiano da vida, como questão prática ( para os
serviços)
na produção de conhecimento como questão científica
Anos 1970: vivido pelas mulheres e campo de pesquisa e
intervenção inaugurado pelo movimento social (camadas
médias)
Anos 1970 -1980: questão para a justiça e a segurança pública,
sendo para a saúde apenas os efeitos da violência
Anos 1990: campo da Saúde e suas políticas públicas
1989: primeiro serviço hospitalar para atender vítimas de
Violência sexual
1995 – pesquisas e programas de intervenção
Violência contra a mulher e Saúde: questões
para a pesquisa e para os serviços de saúde
Violência como:
Questão sócio-cultural
Violência
Violência contra mulher
Violência de gênero
Questão do campo da Saúde
como agravo à saúde
Danos
atenção às pessoas
Riscos
prevenção /promoção
Desafios : Especificidades do tema violência
Tema complexo
Objeto médico-social: insuficiência das disciplinas isoladas
Articulando tradições científicas diversas: a precedência e a
contribuição das ciências sociais e humanas e as
necessidades tecnológicas da Saúde
Tema sensível
Experiência humana radical: negação do humano
Mobiliza fortes emoções no relato e na escuta
Linguagem a ser melhor definida
Objeto ainda não definido como saber técnico-científico
e intervenção tecnológica
A invisibilidade da violência: na produção de
dados empíricos da pesquisa
Especial dinâmica entre
o visível e o invisível
O que não se fala
ou não tem nome
O Diagnóstico nos serviços
INVISIBILIDADE da Violência
Banalizações e Naturalização
• sentidos diferentes em diferentes culturas
• sentidos diferentes para homens e mulheres
• não tem sentido tecnológico na saúde
Silêncios e Recusas de natureza
social, de gênero e de medicalização da saúde
pesquisa e na assistência em saúde
Invisibilidade e condição subordinada:
representações e sentimentos contraditórios
Porque a mulher não conta o que está acontecendo?
 Sente-se envergonhada ou humilhada
 Sente-se culpada pela violência
 Tem medo de ser culpada pela violência
 Teme pela sua segurança e dos filhos
 Sente que não tem controle sobre sua vida
 Espera que o agressor mude; ele promete
 Tem medo de perder os filhos
 Quer proteger o parceiro: razões econômicas ou afetivas
Questões de Metodologia ( abordagem): melhorando a
revelação por meio da ética da pesquisa ( e do cuidado)
 Situação confortável de entrevista (setting)
entrevistadora do mesmo sexo
duração da entrevista/ situação das questões
de violência no questionário
privacidade na entrevista e garantia de sigilo
interesse do entrevistadora na escuta sem
julgamento moral
relação de confiança com entrevistadora
Questões de Metodologia: melhorando a revelação
Cont.
 Melhorando a segurança pessoal da entrevistada e
da entrevistadora
garantia de serviços de retaguarda ou ajudas
para referir casos, com atenção especial a
situações de risco de vida
confidencialidade e privacidade
(uma entrevistada por local)
pesquisar sobre violência somente com essas
condições (deve a violência ser especificamente
investigada ou incluir o tema em outros assuntos?)
Questões de metodologia: melhorando a pergunta
por meio da ética da pesquisa
 Clareza de Formulação
 Facilidade de entendimento
 Evitando termos estigmatizantes
(mulheres espancadas; estupradas)
 Enumerando e discriminando atos
Aumento das oportunidades de fala
Invisibilidade nos serviços: os profissionais e a
medicalização
Porque o pessoal de saúde não pergunta?
 A violência é um problema da polícia ou do judiciário, não da
saúde
Não saberiam o que fazer e por isto têm medo de perguntar
Não devem se intrometer e não sabem como perguntar
A pressão para atender muitas pessoas por turno não lhes permite
mencionar a violência que chama novas e desconhecidas ações
Têm medo do agressor e/ou de represálias
Os próprios profissionais sofrem /sofreram, testemunharam ou
cometem violência; esta proximidade dificultaria a ação
Invisibilidades: as práticas em saúde e a
medicalização
• VER E FAZER-VER: da assistência a casos eventuais
por motivação pessoal do profissional à organização
global do serviço para dar visibilidade
• CAPACIDADE COMUNICATIVA: valorizar relatos que
não são a linguagem da doença ou seus riscos, dando
crédito e escuta às narrativas
•INTERVENÇÃO TÉCNICA APROPRIADA: o
fazer diverso da terapêutica biomédica
•ORGANIZAÇÃO GLOBAL DO SERVIÇO que
inclua a violência como questão
Rede Intersetorial: serviços específicos e serviços gerais
Equipes multiprofissionais: trabalho em equipe e
interdisciplinaridade
Assistência
à Saúde
Assistência
Jurídica
Assistência
Policial
Assistência
Psicológica
Assistência
Social
Suportes
familiares
e/ou
comunitários
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