0 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE NEUROCIÊNCIAS PAULA ALVAREZ ABREU Estudo de alvos terapêuticos e ligantes em doenças neurodegenerativas e neuroinfecções por modelagem molecular 0 NITERÓI 2011 1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE NEUROCIÊNCIAS PAULA ALVAREZ ABREU Estudo de alvos terapêuticos e ligantes em doenças neurodegenerativas e neuroinfecções por modelagem molecular TESE SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM NEUROCIÊNCIAS Orientadoras: HELENA CARLA CASTRO IZABEL CHRISTINA DE PALMER PAIXÃO NITERÓI 2011 2 PAULA ALVAREZ ABREU Estudo de alvos terapêuticos e ligantes em doenças neurodegenerativas e neuroinfecções por modelagem molecular Banca Examinadora _______________________________________________________________ Dra. Magaly Girão Albuquerque - IQ – UFRJ _______________________________________________________________ Dra. Paula Campello Costa Lopes - IB – UFF _______________________________________________________________ Dr. Ricardo Bicca de Alencastro - IQ - UFRJ _______________________________________________________________ Revisor: Dr André Lopes Fuly - IB - UFF ________________________________________________________________ Orientadora: Dra. Helena Carla Castro – IB - UFF ________________________________________________________________ Co-orientadora: Dra. Izabel Christina de Palmer Paixão – IB - UFF 3 AGRADECIMENTOS Aos meus pais por todo incentivo em todos os momentos da minha vida. À minha família principalmente minhas tias e irmão pelo carinho e apoio. À minha orientadora Helena Carla Castro, por ter me introduzido na área da pesquisa e pela orientação, confiança e apoio desde a iniciação científica e a professora Izabel por ter aceito a co-orientação. Aos amigos do laboratório por proporcionar um ótimo convívio durante todo este tempo. Aos alunos de iniciação científica que contribuíram com este e com outros projetos desenvolvidos durante o doutorado. Aos colaboradores da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Química da UFRJ, do Instituto de Biologia e do Instituto de Química da UFF e aos professores do programa de pósgraduação em Neurociências por todo o apoio e contribuição para a minha formação. Fui bolsista da coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior (CAPES). 4 "Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas." Mario Quintana 5 RESUMO As doenças neurológicas afetam milhões de pessoas no mundo e são causas importantes de morte, incapacidade, queda da qualidade de vida e têm alto custo econômico. Entre as doenças neurológicas estão incluídas as doenças neurodegenerativas envolvendo o receptor de NMDA, e as neuroinfecções causadas por fungos (Cryptococcus neoformans) e vírus (Herpes simplex, HSV) para as quais ainda o tratamento é ineficiente ou apresenta problemas como efeitos adversos ou resistência. Considerando que a modelagem molecular é uma ferramenta capaz de otimizar o processo de descoberta de novos fármacos, o objetivo deste trabalho é avaliar in silico a relação estrutura-atividade de alvos terapêuticos e novos compostos para doenças neurodegenerativas envolvendo o receptor de NMDA e neuroinfecções por HSV e C. neoformans. Os nossos resultados mostraram que quanto ao receptor de NMDA, os antagonistas derivados de piperazina tiveram um modo de ligação diferente, comparando as moléculas mais ativas com a menos ativa e que alguns resíduos de aminoácidos foram importantes no sítio de ligação do glutamato para a interação com estes antagonistas. A análise do domínio N-terminal da subunidade GluN2B do receptor de NMDA revelou uma conformação diferente quando se compara o docking do ifemprodil, da fenilamidina (1a) e das triazolil-amidinas planejadas (2a, 2e e 2f) no receptor, sendo a menor energia de ligação para a triazolil-amidina 2f. Quanto aos anti-herpéticos, a análise da série de oxoquinolinas mostrou propriedades estereoeletrônicas relacionadas à atividade anti-herpes no composto 3b. Esse derivado apresentou perfil de atividade semelhante ao aciclovir, porém, com menor citotoxicidade, além de um melhor perfil em algumas propriedades farmacocinéticas in silico. Por fim, quanto à análise de um alvo terapêutico de C. neoformans, o estudo comparativo das enzimas da família CYP51 mostrou uma conservação da estrutura secundária e terciária entre enzimas de diversos organismos e semelhança no modo de ligação dos derivados azólicos (posaconazol, cetoconazol e fluconazol) com a enzima. A análise teórica revelou ainda uma menor energia de ligação do complexo com o posaconazol que parece estar relacionada às interações de van der Waals com a enzima. Nas três avaliações in silico realizadas nesta tese, detectou-se resíduos de aminoácidos chaves no sítio de ligação dos alvos terapêuticos ou características dos ligantes que foram úteis para explicar a atividade biológica. Assim, esse estudo pode orientar o desenho de novos compostos para serem usados em neuroinfecções por C. neoformans, HSV e doenças neurodegenerativas que atingem o sistema nervoso central. 6 ABSTRACT Neurological diseases affect millions of people in the word and are important cause of death, incapacity, reduction of life quality and high economic costs. Neurological diseases include neurodegenerative disorders involving NMDA receptor and neuroinfections caused by fungus (Cryptococcus neoformans) and virus (Herpes simplex). Actually, treatment of these diseases is ineffective or present problems as adverse effects or resistance. Considering that molecular modeling is a tool capable of optimize the drug discovery process, the aim of this work is to evaluate the in silico structure-activity relationship of therapeutic targets and new compounds for neurodegenerative disorders involving NMDA receptor and neuroinfections by HSV and C. neoformans. In relation to NMDA receptor, our results showed that the piperazine derivatives, NMDA receptor antagonists, presented different binding mode comparing the more active derivatives with the less active one and that some amino acids residues in the glutamate binding site were important for the interaction with these antagonists. The analysis of the N-terminal domain of the GluN2B subunit of NMDA receptor revealed different conformation when comparing the docking of ifenprodil, phenyl-amidine (1a) and the triazolyl-amidines (2a, 2e and 2f) in the receptor, and the lower energy was observed for 2f. The analysis of oxoquinoline derivatives showed estereoelectronic properties correlated to the anti-HSV activity in the compound 3b. This derivative presented the activity profile similar to acyclovir, but with less cytotoxicity, besides a better profile in some in silico pharmacokinetic properties. At last, in relation to C. neoformans therapeutic target, the comparative study of CYP51 family proteins from different organisms showed the conservation of secondary and tertiary structure and the similarity in the azolic (posaconazol, cetoconazol and fluconazole) binding mode with the enzyme. The theoretical analysis revealed lower binding energy of the posaconazol complex which seems to be related to van der Waals or hydrophobic interactions with the enzyme. In the three in silico evaluations performed in this thesis, we detected key amino acid residues in the therapeutic targets binding site and/or ligand features useful for explain the biological activity. Thus, this study may orientate the design of new compounds for neuroinfections by C. neoformans, Herpes simplex and neurodegenerative diseases that affect central nervous system. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Regulação da entrada e saída de íons pela ativação dos receptores de 23 AMPA (azul), NMDA (roxo) e kainato (laranja) nos neurônios pelo agonista glutamato. Figura 2: Esquema do receptor de NMDA e os principais sítios de ligação 25 presentes nas subunidades. Figura 3: Estrutura química de alguns antagonistas do receptor de NMDA 29 descritos na literatura. Figura 4: Principais manifestações clínicas causadas pelo HSV-1 e HSV-2. 32 Figura 5: Principais antivirais usados no tratamento de infecções causadas pelo 35 vírus Herpes simplex (HSV). Figura 6: Mecanismo de ação do antiviral aciclovir sobre a DNA polimerase 36 viral. Figura 7: Fatores de virulência do Cryptococcus neoformans. 40 Figura 8: Biossíntese do ergosterol e possíveis alvos terapêuticos dos 44 antifúngicos. Figura 9: Estrutura de derivados azólicos usados em infecções fúngicas. 46 Figura 10: Representação esquemática da interrrelação entre a absorção, 51 distribuição, ligação, metabolismo e excreção dos fármacos e a sua concentração no sítio de ação. Figura 11: Descrição geral dos métodos para o planejamento de novos compostos 52 bioativos. Figura 12: Modelos para predição das propriedades farmacocinéticas. 57 Figura 13: Modelo para predição da penetração na barreira hematoencefálica 61 (Log BB). Figura 14: Fluxograma das etapas de cálculos realizadas no programa Spartan`08 66 para obtenção dos descritores estereoeletrônicos e análise da relação estruturaatividade (SAR). Figura 15: Fluxograma das etapas de análise de Holograma QSAR realizado no 68 servidor PK/DB. Figura 16: Estruturas química dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3- 76 dicarboxílico. 8 Figura 17: Análise teórica dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico (13, 16a-n, 17 e 23). (A) Estrutura tridimensional (cinza = carbono, branco = hidrogênio, vermelho = oxigênio, amarelo = enxofre, vermelho escuro = bromo e amarelo claro = fluor), e (B) Mapa de potencial eletrostático molecular, evidenciando a distribuição de cargas em uma isosuperfície de -150 a 150 Kj/mol. Regiões tendendo para o azul são mais positivas e para o vermelho, mais negativas. As moléculas nos quadros A e B apresentam a mesma orientação. 80 Figura 18: Perfil de toxicidade in silico dos derivados de ácido piperazino-2,3dicarboxílico. 81 Figura 19: Redocking do glutamato na subunidade GluN2A do receptor de NMDA. Em azul, a estrutura cristalográfica 2A5S e em verde o docking realizado. 82 Figura 20: Comparação entre o docking dos 17 derivados do ácido piperazino2,3-dicarboxílico nas formas não-ionizada (verde) e ionizada (vermelho) na subunidade GluN2B do receptor de NMDA. 83 Figura 21: Docking do derivado 16g na subunidade GluN2B na forma aberta (azul) e comparação com a estrutura na forma fechada (rosa). Em amarelo, está destacada a alça que é impedida de fechar no caso de ligação com o antagonista. 87 Figura 22: Alinhamento estrutural da sequência primária da região N-terminal da subunidade GluN2B de Rattus norvegicus (estrutura cristalográfica 3JPW), GluN2B de humano e GluN2A de humano. Em rosa estão destacados os resíduos conservados no grupo. * marca os resíduos substituídos entre a estrutura de rato e humano. 89 Figura 23: Gráfico do Verify-3D mostrando a confiabilidade dos modelos do domínio N-terminal do receptor de NMDA. O modelo de GluN2A de H. sapiens é apresentado em vermelho, GluN2B, em verde e a estrutura cristalográfica de GluN2B de Rattus norvegicus, em azul. 91 Figura 24: Análise do score-Z das estruturas do N-terminal do receptor de NMDA. A estrutura de GluN2B de Rattus norvegicus (3JPW) é mostrada em preto, GluN2B de humano em vermelho e GluN2A de humano em amarelo. 91 Figura 25: Na parte superior, gráfico de energia mostrando a energia independente de cada resíduo (verde claro) e a média da energia dos resíduos em função de um resíduo central (verde escuro). Na parte inferior, a estrutura das proteínas mostrando as regiões de menor energia em azul e regiões de maior energia em vermelho. A) Molde (3JPW). B) GluN2A e C) GluN2B. 92 Figura 26: Estrutura do N-terminal da subunidade GluN2B. Em rosa estão destacados os resíduos que formam o bolso hidrofóbico (Ile150, Phe176, Phe182, Tyr231 e Leu261). 93 Figura 27: Docking do ifemprodil no domínio N-terminal de GluN2A (rosa) e GluN2B (verde). 94 9 Figura 28: Redocking do ifemprodil no receptor de NMDA. Em amarelo a estrutura obtida por docking e em vermelho a estrutura cristalográfica de GluN1/GluN2B em complexo com ifemprodil (3QEL). 96 Figura 29: Interação do ifemprodil com o domínio N-terminal. Em branco o ifemprodil ligado a GluN2B (código PDB 3QEL) e em laranja docking com o modelo de GluN2A. 97 Figura 30: Região de interação do ifenprodil no NMDAR mostrando os resíduos de aminoácidos que estão localizados a cerca de 4Å do ifemprodil. Os traços verdes mostram resíduos interagindo por ligação de hidrogênio. A) Estrutura cristalográfica de GluN1/GluN2B. B) Modelo de GluN1/GluN2A. Os resíduos da subunidade GluN1 estão identificados com a letra A no final do código e número do resíduo de aminoácido e os da subunidade GluN2 com a letra B. 98 Figura 31: Principais resíduos de aminoácidos de GluN1/GluN2B interagindo com A) fenil-amidina 1a, B) triazolil-amidina 2a, C) triazolil-amidina 2e, D) triazolil-amidina 2f. Tracejado verde representa as ligações de hidrogênio. 101 Figura 32: Comparação do modo de ligação dos ligantes não competitivos ao receptor de NMDA. Ifemprodil (vermelho), fenil-amidina 1a (laranja) e as triazolil-amidinas 2a (verde), 2e (azul) e 2f (rosa). 102 Figura 33: Estruturas dos derivados oxoquinolínicos testado contra HSV-1. 103 Figura 34: Avaliação biológica da atividade anti-HSV-1 dos derivados oxoquinolínicos (2a, 2b, 3a, 3b, 4a, 4b, 5a, 5b) medida pela dose infectante em cultura de tecido (TCID50) (ABREU et al., 2010). 104 Figura 35: Característica estrutural e eletrônica dos derivados oxoquinolínicos (2a, 2b, 3a, 3b, 4a, 4b, 5a, 5b). A) Representação em CPK da conformação mais estável (cinza= carbono, branco = hidrogênio, vermelho = oxigênio, azul = nitrogênio, verde = flúor, laranja = cloro). B) Mapa de potencial eletrostático molecular (direita) e densidade de potencial (esquerda). As cores do mapa de potencial estão na faixa de -150 a + 150 kJ/mol, regiões tendendo para o azul são mais positivas e para o vermelho, mais negativas. 105 Figura 36: Avaliação do perfil citotóxico (CC50) dos derivados oxoquinolínicos. 107 Figura 37: Alinhamento da estrutura primária da CYP51 de diferentes espécies. Em vermelho estão as regiões de α-hélice, em verde, as folhas β e em azul, as alças 111 Figura 38: Gráfico de Ramachandran mostrando a confiabilidade do modelo CYP51 de (A) C. neoformans e (B) H. sapiens. 115 Figura 39: Gráfico do Verify 3D mostrando a confiabilidade do modelo CYP51 de C. neoformans (vermelho) e H. sapiens (verde). 116 10 Figura 40: Análise do score-Z das estruturas de CYP51 de humano (preto) e de C. neoformans (vermelho). 117 Figura 41: Gráfico de energia mostrando a energia independente de cada resíduo (verde claro) e a média da energia dos resíduos em função de um resíduo central (verde escuro). 117 Figura 42: Estrutura tridimensional das CYP51 de Mycobacterium tuberculosis (1EA1), Trypanosoma cruzi (2WUZ), Trypanosoma brucei (2WV2), T. cruzi (2WX2), Leishmania infantum (3L4D), Homo sapiens (3LD6) e o modelo de Cryptococcus neoformans. 118 Figura 43: Estrutura da CYP51. A) modelo de C. neoformans e B) Estrutura cristalográfica de H. sapiens. 1ª coluna - estrutura tridimensional 2ª coluna – mapa de potencial eletrostático. 3ª coluna - mapa de potencial eletrostático mostrado em uma mesma posição inicial e em um ângulo de 180º para o lado. 120 Figura 44: Alinhamento estrutural do fluconazol com o Heme de algumas CYP51 disponíveis como Mycobacterium tuberculosis (1EA1) em vermelho, Trypanosoma cruzi (2WUZ) em verde, Trypanosoma brucei (2WV2) em azul, T. cruzi (2WX2) em amarelo, T. cruzi (3KHM) em rosa, Leishmania infantum (3L4D) em laranja e Homo sapiens (3LD6) em branco. 121 Figura 45: Alinhamento estrutural mostrando a ligação entre cetoconazol (A), fluconazol (B) e posaconazol (C) com o heme da CYP51. Em azul C. neoformans e em rosa H. sapiens. 122 Figura 46: Comparação dos resíduos a 6Å do posaconazol em C. neoformans (azul) e H. sapiens (rosa). A numeração está de acordo com C. neoformans. 123 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Exemplo de antifúngicos usados atualmente, sua origem e mecanismo de ação. 43 Quadro 3: Ligação de hidrogênio e interação eletrostática entre os ligantes mais ativos (16e, 16g, 16h e 16n) e menos ativo (16a) na forma nãoionizada com a subunidade GluN2B. 84 Quadro 4: Ligação de hidrogênio e interação eletrostática entre os ligantes mais ativos (16e, 16g, 16h e 16n) e menos ativo (16a) na forma de zwitterion com a subunidade GluN2B. 86 Quadro 5: Resíduos de aminoácidos da subunidade GluN2B do receptor de NMDA a 15 Å do átomo de nitrogênio do ifemprodil e os resíduos alinhados na subunidade GluN2A. Em vermelho estão aqueles que divergem entre uma subunidade e outra. 95 Quadro 6: Comparação dos resíduos envolvidos nas interações com os ligantes (ifemprodil, fenil-amidina 1a e triazolil-amidina 2a, 2e e 2f) na estrutura de GluN1/GluN2B obtida por cristalografia. Os resíduos em vermelho fazem interação com o ligante por ligação de hidrogênio. 101 Quadro 7: Comparação dos resíduos de aminoácidos a 10 Å do átomo de ferro do heme da CYP51 de humanos e M. tuberculosis em relação a de C. neoformans. 114 Quadro 8: Aminoácidos interagindo com os ligantes (fluconazol, cetoconazol e posaconazol) nas enzimas de Homo sapiens e de C. neoformans. 125 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Valores de atividade de antagonista (Ki, µM) do receptor de NMDA 77 recombinante de rato expresso em ovócitos de Xenopus. Tabela 2. Comparação da atividade biológica Ki (μM) e pKi (M) de 17 derivados do 78 ácido piperazino- 2,3-dicarboxíllico (13, 16a-n, 17 e 23) testados em receptor de NMDA recombinante contendo subunidade GluN1/GluN2B e parâmetros teóricos calculados incluindo energia de HOMO/LUMO (EHOMO e ELUMO, Ev), momento de dipolo molecular (μ, Debye), massa molecular (MM, g/mol), área superficial molecular (ASM, Å2), volume molecular (VM, Å3), área de superfície polar (ASP, Å2), coeficiente de partição octanol/água (cLogP) e solubilidade em água calculada (cLogS), número de grupos aceptores de ligação de hidrogênio (nALH) e doadores (nDLH) = 3. Tabela 3: Matriz de correlação cruzada entre a atividade biológica experimental Ki (μM) 79 e pKi (M) testados em receptor de NMDA recombinante contendo subunidade GluN1/GluN2B e energia de HOMO/LUMO (EHOMO e ELUMO, Ev), momento de dipolo molecular (μ, Debye), massa molecular (MM, g/mol), área superficial molecular (ASM, Å2), volume molecular (VM, Å3), área de superfície polar (ASP, Å2), coeficiente de partição octanol/água (cLogP) e solubilidade em água calculada (cLogS), número de grupos aceptores de ligação de hidrogênio (nALH) e doadores (nDLH) = 3. dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxíllico. Tabela 4: Análise dos gráficos de Ramachandran da estrutura cristalográfica do N- 90 terminal de GluN2B do receptor de NMDA de rato e do modelo de GluN2B de humano. Tabela 5: Estrutura e atividade biológica experimental (pIC50Exp) e predita (pIC50pred) 100 da fenil-amidinas 1a e das triazolil-amidinas 2a, 2e e 2f e energia de ligação (EL) estimada. Tabela 6: Propriedades estereoeletrônicas das oxoquinolinas, incluindo parâmetros 106 estéricos - volume molecular (VM, Å3), massa molecular (MM, g/mol), área superfícial molecular (ASM, Å2), área de superfície polar (ASP = Å2) e número de ligações rotacionáveis (nLR), parâmetros eletrônicos - energia de HOMO/LUMO (EHOMO e ELUMO = eV) e parâmetros farmacocinéticos - número de aceptores/doadores de ligação de hidrogênio (nALH e nDLH) e coeficiente de partição octanol/água calculado (cLogP). Tabela 7: Valores das propriedades farmacocinéticas obtidas in silico para os derivados 108 de oxoquinolinas e o aciclovir. Absorção intestinal humana (Human intestinal absorption - HIA), biodisponibilidade oral (F), ligação a proteínas plasmáticas (plasmatic protein binding - PPB), coeficiente de partição cérebro-sangue que avalia a penetração na barreira hematoencefálica (Log BB), solubilidade em água (Log S). Os valores de HIA, F e PPB são fornecidos em percentagem da dose administrada de um composto. S é a solubilidade em água à temperatura de 20-25ºC em mol/l. Tabela 8: Percentual de identidade entre as CYP51 de diferentes espécies. 113 Tabela 9: Energia de ligação (Kcal/mol) do cetoconazol, do fluconazol e do posaconazol com a 125 CYP51 de H. sapiens e C. neoformans. 13 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADME/Tox Absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade AMPA Ácido alfa-amino-3-hidróxi-5-metil-4-isoxazol-propanóico AMPc Adenosina monofosfato cíclico ASM Área superfícial molecular ASP Àrea de superfície polar BHE Barreira hematoencefálica clog P Coeficiente de partição octanol/água calculado (lipofilicidade) DNA Ácido desoxirribonucleico E Energia HIV Vírus da imunodeficiência humana HF Hartree-Fock HOMO Orbital molecular ocupado de maior energia HQSAR Hologram quantitative structure-activity relationship, (relação estrutura-atividade quantitativa por holograma) HSV Vírus Herpes simplex IC50 Concentração que inibe 50% da atividade Ki Constante de inibição Log BB Coeficiente de partição sangue-cérebro Log S Solubilidade em água calculada LTD Long term depression, (depressão de longa duração) LTP Long term potentiation, (potenciação de longa duração) LUMO Orbital molecular desocupado de menor energia MM Massa molecular MMFF Molecular Mechanics Force Field, (Campo de Força de Mecânica Molecular) 14 NMDA Ácido N-metil-D-aspártico NMDAR Receptor de Ácido N-metil-D-aspártico nALH Número de aceptores de ligação de hidrogênio nDLH Número de doadores de ligação de hidrogênio QSAR Quantitative structure-activity relationship, (relação quantitativa estrutura atividade) RM1 Recife Model 1 RMN Ressonância magnética nuclear RMSD Root mean square deviation, (desvio médio da raiz quadrada) RNA Ácido ribonucleico RTECS Registry of Toxic Effects of Chemical Substances, (Registro de Efeitos Tóxicos de Substâncias Químicas) SAR Structure-activity relationship, (relação estrutura-atividade) SNC Sistema nervoso central TCID50 Dose infectante para 50% de cultura de tecido VM Volume molecular μm Micrômetro μM Micromolar 15 Tabela de aminoácidos Nome Abreviatura (3 letras) Abreviatura (1 letra) Alanina Ala A Ácido aspártico Asp D Arginina Arg R Asparagina Asn N Ácido glutâmico Glu E Cisteína Cys C Fenilanina Phe F Glicina Gly G Glutamina Gln Q Histidina His H Isoleucina Ile I Leucina Leu L Lisina Lys K Metionina Met M Prolina Pro P Serina Ser S Tirosina Tyr Y Treonina Thr T Triptofano Trp W Valina Val V 16 SUMÁRIO 1.1.6 1.2.1 1.2.2 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1.1 Doenças neurológicas e tratamento.............................................................................. 1.1.1 Doenças neurodegenerativas envolvendo o receptor de NMDA ................................. 1.1.1.1 Antagonistas do receptor de NMDA.......................................................................... 1.1.2 Neuroinfecção pelo vírus Herpes simplex..................................................................... 1.1.2.1 Antivirais usados atualmente e resistência................................................................ 1.1.3 Neuroinfecção por Cryptococcus neoformans.............................................................. 1.1.3.1 Antifúngicos usados atualmente e resistência............................................................ 18 1.2 Química medicinal e Modelagem molecular no planejamento de fármacos........... 1.2.1 Modelagem Molecular nos estudos Farmacodinâmicos.............................................. 1.2.2 Modelagem Molecular nos estudos Farmacocinéticos................................................ 1.2.3 Modelagem Molecular na análise da toxicidade......................................................... 1.2.4 Modelagem Molecular no planejamento de fármacos para o sistema nervoso central 48 51 55 58 59 2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 2.2 Objetivos específicos quanto ao receptor de NMDA................................................. 2.3 Objetivos específicos quanto aos antivirais................................................................ 2.4 Objetivos específicos quanto aos antifúngicos............................................................ 63 63 64 64 64 3. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................................... 3.1 Análise da relação estrutura-atividade (SAR)............................................................. 3.1.1 SAR de antagonistas competitivos do receptor de NMDA............................................ 3.1.2 SAR de antivirais contra HSV1 .................................................................................... 65 65 66 66 3.2 Estudo teórico de propriedades farmacocinéticas e de toxicidade............................ 3.2.1 Propriedades farmacocinéticas e toxicidade in silico de antagonistas do receptor de NMDA ................................................................................................................................... 3.2.2 Propriedades farmacocinéticas “in silico” dos derivados de oxoquinolina................ 67 3.3 Modelagem comparativa para predição da estrutura tridimensional de proteínas 3.3.1 Modelo tridimensional da CYP51 de Cryptococcus neoformans................................. 3.3.2 Modelo tridimensional do N-terminal de GluN2B e GluN2A do receptor de NMDA.. 69 70 71 3.4 Docking ligante-receptor e análise das interações....................................................... 3.4.1 Docking dos azóis na CYP51 de C. neoformans e de Homo sapiens.......................... 3.4.2 Docking dos antagonistas do receptor de NMDA no sítio de ligação ao glutamato 3.4.3 Docking dos antagonistas do receptor de NMDA e potenciais ligantes no N-terminal do receptor de NMDA 71 72 73 74 18 21 28 30 34 37 41 68 69 17 4 RESULTADOS ................................................................................................................. 4.1 Modelagem molecular para desenvolvimento de antagonistas do receptor de NMDA...................................................................................................................................... 4.1.1 Análise de antagonistas competitivos e do seu sítio de ação........................................ 4.1.2 Análise de antagonistas não-competitivos e do seu sítio de ação ............................... 75 75 4.2 Modelagem molecular para desenvolvimento de Antivirais ....................................... 4.2.1 Estudo da relação estrutura-atividade......................................................................... 4.2.2 Estudo da relação estrutura-toxicidade........................................................................ 4.2.3 Análise in silico das propriedades farmacocinéticas................................................... 103 103 106 107 4.3 Modelagem Molecular para desenvolvimento de antifúngicos.................................. 4.3.1 Predição da estrutura tridimensional da CYP51.......................................................... 4.3.2 Análise das interações dos azóis com CYP51 109 109 120 5 DISCUSSÃO....................................................................................................................... 5.1 Estudo do receptor de NMDA e de seus antagonistas....................................................... 5.2 Estudo dos derivados de oxoquinolina com atividade anti-herpes................................ 5.3 Estudo estrutural da CYP51 de C. neoformans e de seus inibidores 126 126 135 138 6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 6.1 Estudo do receptor de NMDA e de seus antagonistas...................................................... 6.2 Estudo dos derivados de oxoquinolina com atividade anti-herpes............................... 6.3 Estudo estrutural da CYP51 de C. neoformans e de seus inibidores................................. 142 142 143 143 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 145 74 88 8 ANEXO................................................................................................................................. 164 18 1 INTRODUÇÃO 1.1 Sistema nervoso central e doenças neurológicas O sistema nervoso central (SNC) é reconhecido pela sua importância desde os tempos remotos (BEAR et al., 2002). É provável que o homem pré-histórico já soubesse que traumas cranianos eram capazes de produzir sérios danos e inclusive a morte (FINGER, 1994). Entretanto, com não existem registros escritos, não é possível determinar com exatidão que tipo de conhecimento essas culturas já tinham, apenas os achados arqueológicos podem fornecer evidências (WALKER, 2001). Traumatismos cranianos capazes de causar lesões no cérebro foram encontrados ao longo da evolução da espécie humana. Um exemplo é o crânio da espécie Australopithecus africanus, com estimados três milhões de anos, que apresentava diversas fraturas, umas próximas às outras, e provavelmente associadas a agressões por outro membro da mesma espécie (FINGER, 1994; CASTRO e LANDEIRA-FERNANDEZ, 2010). Crânios com orifícios realizados de forma cirúrgica foram encontrados em culturas humanas pré-históricas datadas de 10.000 a.C, o que sugere que estes cirurgiões primitivos deveriam estar tentando curar dor de cabeça ou transtornos mentais (CASTRO e LANDEIRA-FERNANDEZ, 2010). Escritos egípcios de 5000 anos indicam que eles já conheciam muitos sintomas dos danos cerebrais (BEAR et al., 2002). Essas descobertas são a principal evidência de que essas culturas possivelmente atribuíam ao cérebro um papel importante na regulação das funções (FINGER, 1994). O SNC de vertebrados é um órgão complexo com centenas de bilhões de neurônios e trilhões de conexões entre eles (WEIL et al., 2008). Este sistema apresenta uma grande capacidade e habilidade de remodelar a si mesmo em resposta as experiências e ao ambiente. Apesar da imensa habilidade do SNC em perceber, armazenar e analisar informações 19 complexas, ele não apresenta a capacidade de reparar danos de forma tão eficiente (BRAMLETT e DIETRICH, 2004). Muitos danos permanentes que ocorrem em resposta a traumas, infecções e isquemia são mediados por processos endógenos secundários que podem contribuir para a morte celular e danos aos tecidos (WEIL et al., 2008; BRAMLETT e DIETRICH, 2004). A habilidade limitada de reparo do SNC sugere que a seleção natural na evolução não agiu neste processo de recuperação de lesões, mas no processo que o isola dos danos em potencial (NESSE e WILLIAMS, 2006). O cérebro e a medula espinhal são protegidos de trauma físico pela estrutura óssea que os envolve, e das infecções e de influências químicas, pela barreira hematoencefálica (BHE). Além disso, habilidades cognitivas incluindo medo, avaliação do perigo e controle dos impulsos podem levar a redução de comportamentos de risco que possam causar danos ao SNC (NESSE e WILLIAMS, 2006). A existência de uma barreira que limita as trocas entre o sangue e o encéfalo foi observada, em 1885, por Ehrlich. O termo BHE foi usado pela primeira vez por Lewandowsky (1900) enquanto estudava a permeação limitada do ferrocianato de potássio para o cérebro (CARDOSO et al., 2010). Por se tratar de uma interface dinâmica e complexa entre o sangue e o SNC que controla as trocas entre estes compartimentos, a BHE tem um papel importante na manutenção da homeostase do SNC, no suprimento constante de nutrientes por sistemas de transportes específicos e na proteção contra substâncias tóxicas e patógenos (LEE et al., 2006; PERSIDSKY et al., 2006; DE VRIES, et al., 1997; NARAYANAN e GUNTURI, 2005). Nas células endoteliais dos capilares do SNC não existem fendas intracelulares, vesículas de pinocitose e fenestras, que permitam a troca transcapilar que ocorre na maioria dos capilares sistêmicos. Além disso, os capilares cerebrais são circundados pelos "pés astrocitários" que são processos dos astrócitos tipo 1. Estas células gliais especializadas 20 induzem as células endoteliais a formar as junções de oclusão ("tight junctions") que possuem a complexa função de excluir a transferência de macromoléculas da circulação, embora permanecendo permeável a água e lipídios. A taxa de transferência pela BHE está relacionada à massa molecular, ao raio da molécula, assim como à sua carga elétrica (BRADBURY, 1979; ALMEIDA et al., 1997). As doenças neurológicas atingem o sistema nervoso central e periférico e apresentam-se atualmente como um importante problema de saúde. Essas doenças incluem epilepsia, Alzheimer e outras demências, doenças cerebrovasculares (derrame cerebral e enxaqueca), esclerose múltipla, Parkinson, neuroinfecções, tumores cerebrais, doenças traumáticas e doenças neurológicas resultantes da desnutrição. Milhões de pessoas no mundo são afetadas por doenças neurológicas, o que inclui aproximadamente 50 milhões que sofrem de epilepsia, 62 milhões afetados por doenças cérebro-vasculares, 326 milhões com enxaqueca e 24 milhões com Alzheimer e outras demências (WHO, 2007a; ALMEIDA, 2005). Uma análise da população acima de 65 anos mostra que a doença de Alzheimer afeta cerca de 10% da população e cresce para 49% na população acima de 80 anos. Parkinson afeta 1% da população acima de 60 anos e estudos sugerem que em 2030 haverá cerca de 63 milhões de pessoas com demência no mundo (ALAVIJEH et al., 2005). As doenças neurodegenerativas e neuroinfecções além de serem uma importante causa de morte, são também responsáveis pela incapacidade, queda da qualidade de vida e gastos econômicos em todo mundo. Com o envelhecimento da população, estima-se que a prevalência de muitas doenças crônicas e progressivas aumente, incluindo as doenças neurológicas, e que o tratamento destes pacientes produza um aumento nos gastos com cuidados com a saúde e manutenção de qualidade de vida nas próximas décadas (WHO, 2007a; WHO, 2007b; ALAVIJEH et al., 2005). 21 As infecções no SNC também estão associadas a uma alta morbidade e mortalidade, e podem ser causadas por diversos agentes incluindo vírus, fungos, bactérias e protozoários. As manifestações clínicas podem ser meningites, encefalites, abcessos cerebrais e epidurais e infecções no líquor. O quadro pode ser agudo, subagudo ou crônico, dependendo do agente infeccioso e do local atingido. De acordo com a literatura recente, apesar do progresso no tratamento das doenças do SNC, a mortalidade ainda é geralmente alta (CODINA et al.; 2011). 1.1.1 Receptor de NMDA: um alvo terapêutico em doenças neurodegenerativas As doenças neurodegenerativas são caracterizadas por perda irreversível e progressiva de neurônios de regiões específicas do cérebro. De forma preocupante, atualmente, a terapia destas doenças é limitada ao tratamento sintomático, o que não impede ou altera a progressão da doença (HARDMAN, et al., 2001). O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório no SNC de mamíferos. A família de receptores de glutamato ionotrópicos incluem os receptores do ácido N-metil-D-aspártico (NMDA) (GluN1, GluN2A-D, GluN3A-B), do ácido alfa-amino-3-hidróxi-5-metil-4isoxazol-propanóico (AMPA) (GluA1-GluA4) e do kainato (GluK1-GluK5) (DINGLEDINE et al., 1999; HANSEN et al., 2010). A ativação sustentada do receptor de NMDA promove sinalização para o núcleo, que culmina na fosforilação da proteína de ligação ao elemento de resposta ao AMPc (CREB), ativação de múltiplos genes e plasticidade sináptica de longo prazo (mecanismo envolvido em aprendizado e memória) (KEMP e MCKERNAN, 2002; HANSEN et al., 2010). Essa ativação está relacionada à potenciação de longa duração (LTP) e depressão de longa duração (LTD), assim como ao desenvolvimento neuronal (DINGLEDINE et al., 1999). A 22 potenciação de longa duração é o aumento de longo prazo na duração da efetividade ou força da transmissão sináptica que se segue a certos tipos de estímulos condicionados, enquanto a depressão de longa duração refere-se ao decréscimo de longo prazo na efetividade ou força da transmissão sináptica que se segue a certos tipos de estímulos (BEAR et al., 2002). Receptores de AMPA e NMDA estão co-localizados em várias sinapses. Quando uma sinapse glutamatérgica é formada, somente os receptores do tipo NMDA aparecem na membrana pós-sináptica. Como consequência, a liberação de glutamato em uma única sinapse evoca pouca resposta quando a membrana pós-sináptica está em repouso. Esta sinapse silenciosa só é de fato observada quando um número suficiente de sinapses forem ativadas ao mesmo tempo. Isso deverá promover despolarização suficiente para liberar o Mg+2, que em potencial de repouso bloqueia o canal, permitindo a entrada de Na+ e Ca+2 e saída de K+. Esses eventos diferem do receptor de AMPA, que é permeável apenas ao Na+ e K+. Como consequência da forte ativação do receptor de NMDA e aumento da concentração de cálcio, ocorre reforço da transmissão sináptica, chamado de potenciação de longa duração (BEAR, et al., 2002; ISAAK et al., 1995). Durante o desenvolvimento do sistema nervoso central, os receptores de NMDA (NMDAR) participam mais das sinapses imaturas do que os receptores de AMPA. Conforme ocorre a maturação sináptica, sinapses eletricamente ativas ganham receptores AMPA, o que pode não ocorrer se os receptores de NMDA forem bloqueados por um antagonista (BEAR 2002; ISAAK et al., 1995; CAO et al., 2000). Por outro lado, níveis baixos de ativação do NMDAR e menor influxo de cálcio desencadeiam a depressão de longa duração, uma forma oposta de plasticidade sináptica, em que sinapses ativas têm a sua eficiência diminuída (BEAR et al., 2002). Apesar de ter grande importância participando de funções fisiológicas essenciais, o receptor de NMDA quando hiperativado, pode causar neurotoxicidade e está envolvido em 23 inúmeras condições patológicas que vão desde doenças degenerativas aguda, (e.g. derrame e trauma) até doenças crônicas que causam morte neuronal (e.g. Huntington, Parkinson e Alzheimer) (TICKHONOVA et al., 2002; MARINELLI et al., 2007; LEVEILLE, 2008). O papel do receptor de NMDA na morte celular foi inicialmente determinado em estudos de neurônios em cultura primária que foram sensíveis aos efeitos tóxicos da ativação do receptor de NMDA. Nestes estudos, foi observado ainda que os antagonistas deste receptor protejam os neurônios em cultura da toxicidade do glutamato (CHOI et al., 1988; ROSENBERG e AIZENMAN, 1989; MENNITI et al., 2000). Diferente de outros receptores glutamatérgicos como os receptores de AMPA e kainato permeáveis aos íons sódio e potássio, o receptor de NMDA é permeável ao cálcio, além de sódio e potássio (Figura 1). A hiperestimulação do receptor de NMDA leva a um aumento excessivo do cálcio intracelular e morte celular (SEN et al.; 2008). Figura 1: Regulação da entrada e saída de íons pela ativação dos receptores de AMPA (azul), NMDA (roxo) e kainato (laranja) nos neurônios pelo agonista glutamato. A) Efeito fisiológico do cálcio. (1) regulação da expressão gênica, (2) liberação pré-sináptica de neurotransmissores; (3) ativação de enzimas; (4) controle da abertura de canais. B) Efeito patológico do cálcio. (5) ativação de proteases e (6) lipases intracelulares; (7) despolarização da membrana da mitocôndria; (8) e aumento da geração de radicais livres (Adaptado de Abreu, 2008). 24 O cálcio está envolvido em diversos processos celulares como liberação pré-sináptica de neurotransmissores, ativação de enzimas, controle da abertura de canais e regulação da expressão gênica. Entretanto, em concentrações muito elevadas, o cálcio pode promover morte celular por apoptose (BEAR et al., 2002; SEN et al., 2008). O aumento da concentração de cálcio citoplasmático, sustentada por uma abertura duradoura do canal do receptor de NMDA, deflagra o processo excitotóxico por diferentes vias intracelulares que podem envolver a ativação de lipases e proteases intracelulares, despolarização da membrana da mitocôndria ou ainda aumento da geração de radicais livres (Figura 1) (PREHN et al., 1996; BEAR et al., 2002; SEN et al., 2008). Estruturalmente, o receptor de NMDA é um heteroligômero formado por diferentes combinações das subunidades GluN1, GluN2 e, em alguns casos, GluN3. A subunidade GluN2 apresenta quatro subtipos (GluN2A, GluN2B, GluN2C e GluN2D), enquanto que a subunidade GluN3 apresenta dois subtipos (GluN3A e GluN3B) (CURTIS et al., 2003; PAOLETTI e NEYTON, 2007; NIKAN e MELTZER, 2002; FURUKAWA et al., 2005). As subunidades do receptor de NMDA compartilham uma topologia comum na membrana, sendo compostas por: a) um domínio N-terminal extracelular formado por 350 aminoácidos, b) uma região na membrana compreendendo três segmentos transmembranares (M1, M3 e M4) e uma alça de reentrada no poro (M2), c) uma alça extracelular entre M3 e M4 e d) um domínio C-terminal citoplasmático que varia de acordo com a subunidade e que fornece sítios de interação com proteínas intracelulares (Figura 2) (PAOLETTI e NEYTON, 2007). 25 Figura 2: Esquema do receptor de NMDA e os principais sítios de ligação presentes nas subunidades (Adaptado de Abreu, 2008). Na região N-terminal do NMDAR está presente o sítio de ligação para moduladores não-competitivos como zinco, na subunidade GluN2A, e ifemprodil, na GluN2B. Outro domínio importante compreende a região pré-M1 e a alça entre M3 e M4 com aproximadamente 150 aminoácidos cada, que forma o sítio de ligação ao agonista glutamato no caso de GluN2 e co-agonista glicina no caso de GluN1 e GluN3 (PAOLETTI e NEYTON, 2007) (Figura 2). A ativação do NMDAR requer a ligação simultânea da glicina e do glutamato às subunidades GluN1 e GluN2, respectivamente, e a liberação do íon Mg2+ que, no potencial de repouso, bloqueia o canal prevenindo o fluxo de íons. A despolarização ocorre após a ativação do receptor de AMPA na mesma sinapse ou em uma sinapse vizinha, liberando o íon magnésio e permitindo o fluxo iônico (ARMSTRONG e GOUAUX, 2000; SCHEPMANN, 2010; STOLL et al., 2007). 26 NMDAR tem ampla distribuição no SNC, sendo as subunidades deste receptor expressas em diferentes regiões, na qual GluN2A é expressa em todo o cérebro, GluN2B é encontrada no córtex cerebral, hipocampo e bulbo olfatório, GluN2C no cerebelo e GluN2D no mesencéfalo. A medula espinhal expressa ainda níveis elevados de GluN2C e D (TOLLE et al., 1993). A expressão de GluN2 é regulada durante o desenvolvimento e NMDARs formados exclusivamente por GluN1 e GluN2B dominam durante a embriogênese e início do desenvolvimento pós-natal (HALL e GHOSH, 2008). As mudanças relacionadas à composição do receptor no desenvolvimento contribuem para as mudanças na plasticidade. NMDARs do cortex são formados principalmente por subunidades GluN1, GluN2A e GluN2B. As subunidades GluN2C e GluN2D são escassas no córtex em qualquer fase e a expressão de GluN3 é confinada ao período perinatal (CAO et al., 2000). Na literatura são apresentados resultados divergentes quanto à participação de diferentes subunidades GluN2 na LTP e LTD. Alguns estudos mostraram que a contribuição para a plasticidade aumenta com um número maior de subunidades GluN2B e menor de GluN2A, e que a maior expressão de GluN2B também facilita o aprendizado comportamental (MONYER et al., 1994; TANG et al., 1999). Estudos com camundongos mutantes sugerem que LTP envolve GluN2A (SAKIMURA et al., 1995; SPRENGEL, et al., 1998) e que LTD é dependente de GluN2B (KUTSUWADA et al., 1996). Outros estudos que manipularam a expressão de GluN2B sugeriram que GluN2B é importante para LTP (TANG et al., 1999; CLAYTON et al., 2002). Outros autores afirmam que, dependendo do estágio de desenvolvimento, os receptores contendo as subunidades GluN2A e GluN2B podem estar envolvidos na indução de LTP, enquanto que GluN2B não parece estar envolvido com a indução de LTD (BARTLETT et al., 2007). Marchena e colaboradores mostraram que a participação dos receptores com a 27 subunidade GluN2B não foi crítica para a indução de LTD ou LTP (MARCHENA et al., 2008). Apesar do papel de GluN2B na aprendizagem (TAKEHARA et al., 2004; VALENZUELA-HARRINGTON et al., 2007), as consequências da inativação de receptores contendo GluN2B ainda não foram bem esclarecidas (TAKEHARA et al, 2004; VALENZUELA-HARRINGTON et al., 2007). Mathur e colaboradores (2009) forneceram evidências de que o bloqueio de receptores contendo GluN2B prejudica a aquisição de comportamento de medo de forma modesta. Contudo, com o envelhecimento, observa-se a perda deste efeito (MATHUR et al., 2009). Ressalta-se, desta forma, que mais estudos são necessários para mostrar o papel das subunidades do receptor de NMDA em condições patológicas e o efeito da inibição do receptor de NMDA em fenômenos fisiológicos como LTP e LTD. De acordo com a literatura, derivados descritos como tendo seletividade maior pela subunidade GluN2B, que não está presente no cerebelo, apresentaram um melhor perfil de toxicidade, evitando os efeitos adversos sobre a função locomotora. Entretanto, alguns destes antagonistas novos relatados na literatura, apesar de mais seletivos para GluN2B, ainda afetam outros receptores como adrenérgico, sigma, canais iônicos de potássio hERG envolvidos na atividade elétrica do coração e canais de Ca2+, apresentando efeitos adversos significativos (CLAIBORNE et al., 2003; BORZA et al., 2005; CURTIS et al., 2003; NGUYEN et al., 2007; KEISER, 2009; HANSEN et al., 2010). O envolvimento do glutamato e do receptor de NMDA na mediação de múltiplas doenças neurodegenerativas tem levado a busca pelo desenvolvimento de compostos mais efetivos e seguros que tenham este sistema como alvo e possam auxiliar no tratamento mais eficaz das doenças neurológicas. 28 1.1.1.1 Antagonistas do receptor de NMDA Atualmente, apenas os compostos que se ligam ao domínio N-terminal do receptor de NMDA, como o ifemprodil, são seletivos para a subunidade GluN2B. No caso do ifemprodil, a potência é 100 vezes maior em receptores que contenham a subunidade GluN2B do que em receptores contendo as outras subunidades (WILLIAMS, 1993; KARAKAS et al., 2009) Entretanto, é possível observar diferente especificidade em outras classes de compostos (PAOLETTI e NEYTON, 2007). A maioria dos antagonistas competitivos do sítio de ligação ao glutamato no receptor de NMDA (e.g. AP-5, AP-7 e CPP) (Figura 3), apresenta, em geral, afinidade em ordem decrescente por GluN2A > GluN2B > GluN2C > GluN2D. No entanto, como a região do sítio de ligação é altamente conservada entre estas subunidades, as variações na afinidade pelos antagonistas são geralmente discretas (PAOLETTI e NEYTON, 2007). A análise das interações de alguns antagonistas com o receptor de NMDA mostra que derivados pouco volumosos apresentam menor seletividade por interagirem apenas com os resíduos de aminoácidos imediatamente vizinhos ao sítio, enquanto que derivados mais volumosos podem ser mais seletivos (FENG et al., 2005). 29 Figura 3: Estrutura química de alguns antagonistas do receptor de NMDA descritos na literatura. Em geral, os antagonistas apresentam uma afinidade maior por GluN2A do que por GluN2B, entretanto, existem alguns antagonistas como PBPD, LY233536 e EAB515 que apresentam um padrão diferente, com maior seletividade para GluN2B do que para GluN2A (MORLEY et al., 2005) (Figura 3). Novos agentes terapêuticos que atuam em sítios moduladores, como o antagonista não-competitivo ifemprodil, controlam a excitotoxicidade do influxo de cálcio mediado pela hiperestimulação do receptor de NMDA sem os efeitos adversos psicóticos exibidos por alguns agentes bloqueadores de canais (GALLAGHER et al., 1996; LIPTON, 1993). O bloqueio completo do receptor de NMDA, aparentemente, prejudica a plasticidade neuronal. Já foi descrito que tanto a hiper quanto a hipoatividade do sistema glutamatérgico podem levar a disfunção no sistema nervoso central. Entretanto, a memantina, por exemplo, usada no tratamento de Alzheimer, apresenta um bloqueio do canal do receptor de NMDA rápido, com moderada afinidade e dependente de voltagem, tendo efeito terapêutico na 30 ativação patológica do receptor de NMDA. A memantina preserva a plasticidade sináptica mediada pelo receptor de NMDA, indicando que tanto a neuroproteção, como a melhoria dos sintomas ocorrem devido ao bloqueio com afinidade moderada pelo canal do receptor (PARSON et al., 2007). O desenvolvimento de novos antagonistas mais seletivos tem sido, atualmente, um desafio e o sucesso nesta tarefa pode apontar um novo caminho para a terapia de diversas doenças que envolvem o receptor de NMDA. 1.1.2 Neuroinfecção pelo vírus herpes simplex As infecções causadas pelo vírus herpes simplex (HSV) estão entre as infecções mais frequentes em humanos. Aproximadamente um terço da população do mundo sofre com infecções por HSV recorrentes sendo capazes de transmitir o vírus (WHITLEY, 2002, GRECO et al., 2007). O HSV é um vírus com envelope que contém genoma de DNA de dupla hélice e pertence à família Herpesviridae. Para iniciar a infecção, o vírus adere a pelo menos 3 principais classes de receptores da superfície celular e funde seu envelope a membrana plasmática. O capsídeo sem envelope é transportado para o poro nuclear, sendo o DNA viral liberado. A síntese das proteínas virais ocorre em três etapas incluindo, inicialmente, a síntese das proteínas imediatas que regulam a replicação; depois das proteínas que sintetizam e empacotam o DNA; e, em seguida, das proteínas tardias que formam o virion (MURRAY, et al., 2006). O HSV codifica cerca de 84 polipeptídeos diferentes, com funções diversas. Cerca de metade destes estão envolvidos com a replicação viral. Os outros apesar de não estarem 31 envolvidos com a replicação, não são dispensáveis, uma vez que estão envolvidos com reconhecimento celular, alteração do metabolismo celular para aumentar rendimento viral, entre outros (WHITLEY e ROIZMAN, 2001; WARD e ROIZMAN, 1994). Diversas partes do ciclo de replicação viral e proteínas resultantes são relevantes para o estudo da doença em humanos e da terapia antiviral (WHITLEY e ROIZMAN, 2001). Por exemplo, glicoproteínas da superfície são mediadores de adesão e penetração do vírus e provocam resposta imune no hospedeiro. Algumas destas glicoproteínas (gB e gD) têm sido usadas no desenvolvimento de vacinas de subunidades (FORRESTER et al., 1992; FRICKER, 1996) Os herpesvírus codificam diversas glicoproteínas para adesão e fusão viral e para evadir o controle imune. O HSV pode infectar a maioria dos tipos celulares causando infecções líticas em fibroblastos e em células epiteliais e infecções latentes em neurônios (MURRAY et al., 2006). Existem dois tipos de vírus HSV (GRECO et al., 2007, LUCERO et al., 2006) que inclui o HSV-1 que causa erupções nos lábios, gengivomastite, queratoconjuntivite e encefalite e o HSV-2 que está mais associado a infecções genitais e em recém-nascidos (BARINGER, 2008) (Figura 4). 32 Figura 4: Principais manifestações clínicas causadas pelo HSV-1 e HSV-2 (Adaptado de MURRAY, 2006). O HSV é transmitido de uma pessoa para outra pelo contato com secreções contaminadas como líquido das vesículas, saliva, secreções genitais e pelo contato íntimo. O vírus pode ser disseminado também por compartilhamento de objetos contaminados com saliva mesmo sendo lábil e rapidamente inativado pelo ressecamento e pelo trato gastrointestinal (MURRAY et al., 2006; BRADY e BERNSTEIN, 2004). A infecção pelo vírus inicia-se, geralmente, na pele ou epitélio da mucosa e, subsequentemente, pode ser assintomática ou irreconhecível ou produzir infecção aguda, crônica ou latente que pode reativar ao longo da vida do hospedeiro (WHITLEY e ROIZMAN, 2001; LUCERO et al., 2006). Após penetrar no hospedeiro pela mucosa da membrana ou pela pele, o vírus é transportado de forma retrógrada ao longo dos neurônios sensoriais para o gânglio onde permanece em estado latente sem replicar. Periodicamente, o vírus pode reativar e ser transportado de forma anterógrada pelos nervos sensoriais para a pele ou mucosa (BRADY e BERNSTEIN, 2004). 33 A recorrência pode ser desencadeada por estímulos como estresse, trauma, febre e ultravioleta que ativam a replicação viral permitindo que o vírus seja transportado através do nervo formando lesões sempre no mesmo dermátomo e localização (MURRAY et al., 2006). No caso de herpes genital, o HSV causa episódios recorrentes várias vezes ao ano, em alguns casos por toda a vida (TYRING, 1998). Estudos mostram que quase 100% das mulheres com HSV-2 apresentam infecção recorrente ao longo da vida, principalmente nos primeiros 8 a 10 anos após a infecção primária (COREY e HANDSFIELD, 2000). Cinco a 10% das mulheres grávidas tem sintomas de herpes genital recorrente durante a gravidez (BROWN, 2000; SHEFFIELD et al., 2003) Os sintomas primários da infecção por HSV incluem uma síndrome semelhante à gripe com febre, dor de cabeça, mialgia, seguido pelos sintomas locais como lesões, pápulas dolorosas e ulcerações (HARDIN, 1996). As manifestações clínicas da doença exibem diferentes severidades em pacientes normais e imunocompetentes. No caso de pacientes imunocomprometidos e neonatos a infecção pode causar doença sistêmica grave (KHAN et al., 2005). As infecções por HSV podem, inclusive, aumentar o risco de contrair o vírus da imunodeficiência humana (HIV), por causar doença ulcerativa no trato genital (WHITLEY, 2002; SEVERSON e TYRING, 1999). De acordo com os dados epidemiológicos, o HSV-1 é a principal causa de encefalite esporádica (não sazonal), enquanto o HSV-2 causa um tipo de meningite asséptica benigna (SCHELD et al., 2004). Cerca de um terço de todos os casos de encefalite herpética ocorre em crianças e adolescentes e, apesar de rara, a mortalidade é de 70% na ausência de tratamento e de 20-30% na presença da terapia antiviral disponível. Mesmo com a introdução precoce da terapia, cerca de dois terços dos sobreviventes apresentam déficit neurológico residual significativo e podem ter recidivas após o tratamento (WHITLEY e ROIZMAN, 2001; ORVEDAHL e LEVINE, 2008; TYLER, 2004). 34 Ao penetrar no SNC, além da encefalite, o HSV pode ser responsável pela ocorrência de outras doenças neurológicas, incluindo meningite, radiculite, mielite ou uma combinação destas (SCHELD et al., 2004). A encefalite por HSV é considerada uma das infecções do SNC mais devastadoras, mesmo com as terapias antivirais disponíveis (WHITLEY E ROIZMAN, 2001; GRECO et al., 2007). 1.1.2.1 Antivirais atuais e resistência O tratamento da herpes representa um desafio importante, principalmente, porque esta infecção não é controlada por vacinação (DE CLERCQ, 2010). Assim, nos últimos anos, vários esforços têm sido feitos para identificar potenciais fármacos antivirais (SUPERTI et al., 2008). O tratamento contra infecções causadas por HSV-1 e HSV-2 é representado pelo aciclovir (que ainda é o tratamento de referência da herpes) e seus análogos (valaciclovir, valganciclovir, fanciclovir, ganciclovir e penciclovir), além de outros análogos de nucleosídeos que não pertencem a família do aciclovir (vidarabina, cidofovir, trifluridina, idoxuridina), do análogo do pirofosfato (foscarnet) e ácido fosfonoacético (DE CLERCQ, 2005; DE CLERCQ, 2010) (Figura 5). 35 Figura 5: Principais antivirais usados no tratamento de infecções causadas pelo vírus Herpes simplex (HSV). Apesar de qualquer proteína essencial para a replicação viral ser um alvo terapêutico em potencial, quase todos os fármacos usados atualmente são inibidores da polimerase e, portanto, afetam a síntese do DNA viral (EIZURU, 2003; BILLAUD et al., 2009). Aciclovir, valaciclovir, penciclovir, famciclovir, idoxuridina e trifluridina agem como pró-fármacos (DE CLERCQ, 2005; DE CLERCQ, 2010), sendo inicialmente fosforilados pela timidina quinase viral e subsequentemente convertidos para a forma trifosfatada por quinases celulares. A forma trifosfatada inibe da DNA polimerase impedindo, assim, a replicação viral (FIELD E BIRON, 1994) (Figura 6). O aciclovir é um análogo nucleosídico acíclico da purina e tem sido a primeira escolha para o tratamento contra o vírus, auxiliando no controle dos sintomas. Entretanto, outros fármacos licenciados apresentam melhor biodisponibilidade oral, como o valaciclovir, que é convertido a aciclovir no organismo e o fanciclovir convertido a penciclovir (BALFOUR, 1999). 36 Figura 6: Mecanismo de ação do antiviral aciclovir sobre a DNA polimerase viral (adaptado de DE CLERCQ, 2010). Outra categoria de antivirais, como foscarnet e ácido fosfonoacético, age como inibidor direto da DNA polimerase (FIELD E BIRON, 1994). Atualmente, o uso extensivo e indiscriminado dos antivirais disponíveis no mercado pela população tem levado a resistência do vírus (ABREU et al., 2011). Além da gravidade e da cronicidade da doença, o relato de isolamento de amostras resistentes ao aciclovir é um problema grave (VARELLA et al., 2005; DIAZ-MITOMA et al., 1996). Este evento tem sido mais significativo em pacientes imunodeprimidos (prevalência em torno de 5%) e em transplantados de medula óssea (prevalência de 30%) (DANVESZATANEK et al., 2004; MORFIN et al., 2003). O HSV pode desenvolver resistência devido a mutações em genes que codificam a timidina quinase pela geração de mutantes deficientes nesta enzima ou por seleção de mutantes com timidina quinase incapaz de fosforilar o aciclovir (WHITLEY E ROIZMAN, 2001; ERLICH et al., 1989). A resistência ao aciclovir pode estar relacionada a mudanças qualitativas ou quantitativas não só na timidina quinase, mas também na DNA polimerase, e 37 deve ser considerada em pacientes que não apresentam resposta ao tratamento (REUSSER, 1996; PROTA et al., 2000). Em 95% dos casos, a resistência ao aciclovir está associada à timidina quinase, sendo que as cepas resistentes a este fármaco apresentam resistência cruzada a outros derivados que agem também na timidina quinase (MORFIN et al., 2003). A terapia com aciclovir, valaciclovir e famciclovir tem poucos efeitos adversos, mas, em alguns casos, pode causar disfunção renal e neurotoxicidade, principalmente, quando altas doses são administradas (ERLICH, et al., 1989; LYON e MANSOOR, 2002; ERNST E FRANEY 1998). Foscarnet e cidofovir agem diretamente na DNA polimerase viral, sem ativação pela timidina quinase, sendo efetivos contra cepas resistentes ao aciclovir devido à mutação no gene da timidina quinase. Entretanto, estes fármacos podem causar significativa toxicidade (BLOT et al., 2000; COLLINS e OLIVER, 1986; MORFIN e THOUVENOT, 2003). O frequente desenvolvimento de cepas resistentes devido ao uso extensivo de fármacos anti-herpéticos, principalmente em pacientes imunocomprometidos, destaca a necessidade do desenvolvimento de novos compostos com amplo espectro, capazes de inibir a infecção pelos vírus selvagens e resistentes (GRECO, 2007; LUCERO et al., 2006). 1.1.3 Neuroinfecção por Cryptococcus neoformans As infecções oportunistas são aquelas causadas por fungos de baixa virulência que, ao encontrar condições favoráveis, como em indivíduos imunodeprimidos, desenvolvem seu poder patogênico, invadindo os tecidos (TRABULSI e ALTHERTUM, 2004). 38 Durante as duas últimas décadas, a incidência de infecções por fungos, em particular àquelas associadas a pacientes imunodebilitados, cresceu dramaticamente (GALAL et al., 2005). Os avanços na tecnologia médica propiciaram novas possibilidades terapêuticas para pacientes considerados terminais até recentemente. A introdução de métodos de diagnósticos mais eficientes; as novas técnicas de transplantes de órgãos e cirurgias; antibióticos e quimioterápicos mais potentes; novos materiais biológicos para próteses, sondas e catéteres e técnicas avançadas de suporte e tratamento permitiram uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes críticos (ELLIS, 2001). Em contrapartida, as infecções fúngicas oportunistas surgiram como complicações iatrogênicas nesses pacientes (WINGARD, 1999). A criptococose é uma infecção oportunista causada por uma levedura, Cryptococcus spp, que assumiu um papel relevante na atualidade por ser considerada uma das micoses mais comuns em pacientes imunodeprimidos, principalmente nos portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). A imunidade celular é considerada o principal fator predisponente para infecção por Cryptococcus spp (MOREIRA et al., 2006). Apesar da incidência de criptococose em pacientes HIV+ ter decrescido há poucos anos, com a introdução da terapia tripla para o HIV, ela ainda é alta principalmente nos países em desenvolvimento (GALAL et al., 2005). Pelo menos 5-10% dos pacientes com AIDS são infectados por Cryptococcus neoformans e a epidemiologia da infecção é diferente em muitos aspectos daquela observada em outros grupos de pacientes (LEVITZ, 1991). Pacientes imunodeprimidos, como aqueles portadores de HIV, leucêmicos, portadores de tumores, e de outras condições médicas sérias também apresentam maior risco de desenvolver criptococose. Pacientes que utilizam antibióticos e corticóides por tempo 39 prolongado, como os transplantados, também têm aumentado o número de casos de criptococose (PERFECT e COX, 1999). Diversas manifestações clínicas são descritas na criptococose, como infecções cutâneas, ventriculites, meningites, fungemia, pneumonia e abcesso pulmonar (PEDROSO et al., 2006), mas, em geral, ela acomete principalmente o SNC, causando meningite (GALAL et al., 2005). A principal fonte de contaminação por este fungo nos seres humanos é proveniente das excretas de pombos, onde o Cryptococcus permanece viável para contágio por um período de até dois anos. C. neoformans tem a capacidade de colonizar a mucosa do papo dos pombos sem causar doença, sendo um parasita natural dessas aves. A infecção é adquirida pela inalação dos propágulos do ambiente, na forma de leveduras, menores do que 2 µm de diâmetro (WICLES et al., 1996) Após inalação, o fungo pode causar: a) uma forma pulmonar regressiva da doença, em que os esporos são fagocitados, e não ocorrem os sintomas; b) a forma pulmonar progressiva com lesão pulmonar, tosse, febre e expectoração; ou c) a forma disseminada, mais grave em que o fungo, pela via hematogênica, atinge o sistema nervoso causando meningite criptocócica ou meningoencefalite (OLIVEIRA, 1999). Atualmente, duas espécies de Cryptococcus foram descritas como patogênicas, incluindo C. gatti, um patógeno primário que acomete hospedeiros imunocompetentes, e C. neoformans, relacionado a hospedeiros imunodebilitados (MORETTI et al., 2008). A distribuição do C. neoformans é mundial, sendo encontrado, principalmente, associado à excretas de pássaros, enquanto C. gatti é prevalente em regiões tropicais e subtropicais, sendo isolado na natureza de troncos de árvores (MOREIRA e SCHMUTZ, 2006, LEVITZ, 1991). Três outras espécies são consideradas patógenos dos seres humanos: C. albidus, C. laurentii e C. uniguttulatus (PEDROSO et al., 2006). Contudo, as infecções por outras 40 espécies de Cryptococcus diferentes de C. neoformans ou C. gatti são raramente descritas na literatura e ocorrem em pacientes imunocomprometidos com doença oncológica, hematológica ou infectados por HIV. Apesar da exposição ao Cryptococcus ser relativamente comum, os casos clínicos em pacientes sadios são raros, o que sugere que a maioria das pessoas seja capaz de desenvolver uma resposta imunológica adequada (LEVITZ, 1991). Os fatores que induzem a patogenicidade no C. neoformans podem estar relacionados à presença de condições no hospedeiro necessárias ao estabelecimento de infecções, capacidade de sobrevivência do parasita no mesmo e os fatores de virulência propriamente ditos (Figura 7). Figura 7: Fatores de virulência do Cryptococcus neoformans. Dentre os fatores de virulência, o tamanho dos basidiósporos da forma sexuada do Cryptococcus (Filobasidiela neoformans) entre 1,8 e 3 µm é descrito como importante para este fungo transpor as barreiras existentes no trato respiratório e depositar-se nos alvéolos. A 41 presença da cápsula polissacarídica, que envolve a parede celular constitui um fator de virulência que protege contra a fagocitose. A urease é uma metaloenzima capaz de hidrolisar a uréia produzindo amônia que inativa o sistema complemento e favorece a proliferação do fungo. Outras enzimas que atuam como fator de virulência são as proteases, que auxiliam no início da invasão dos tecidos do hospedeiro e na destruição das proteínas do sistema imunológico e a enzima fosfolipase que atua degradando os fosfolipídeos das membranas celulares com consequente penetração tecidual (AOKI et al., 1994). A produção de manitol pelas células do C. neoformans no local da infecção é responsável pelo aumento da resistência ao estresse provocado por choque térmico, diferenças osmóticas, dano por formas reativas de oxigênio e ataque mediado por polimorfonucleares, com consequente aumento da patogenicidade (REOLON et al., 2004, PERFECT E COX, 1999). O C. neoformans apresenta também como fator de virulência a capacidade de sintetizar melanina, o que confere à célula fúngica um efeito protetor contra reações oxidativas e atua na defesa do fungo contra a radiação ultravioleta e o ataque das células de defesa (HAMILTON e HOLDON, 1999). 1.1.3.1 Antifúngicos atuais e a resistência O tratamento da infecção por C. neorformans tem se desenvolvido nas últimas décadas. Antes de 1950, a criptococose disseminada era fatal, mas com o advento de agentes antifúngicos poliênicos, particularmente a anfotericina B, o sucesso terapêutico foi atingido em cerca de 60-70% de pacientes com meningite criptocócica (SAAG et al., 2000). 42 Atualmente, a mortalidade na criptococose disseminada é de 70-80% em pacientes sem tratamento, comparada com 17% naqueles que recebem agentes antifúngicos sistêmicos (HUSSAIN et al., 2001). Em geral, o tratamento de infecções por fungos é um processo complexo, visto que os fungos são organismos eucarióticos com estrutura e metabolismo semelhante ao hospedeiro eucariótico, o que resulta na toxicidade mostrada por estes derivados (SATHIAMOORTHY et al., 2007). Os antifúngicos usados no mercado para tratamento das micoses em geral podem ter ação fungistática ou fungicida e agem por quatro mecanismos diferentes, tendo com alvo a membrana celular, a parede celular, o DNA ou RNA e proteínas como a tubulina (Quadro 1). A parede celular dos fungos é composta por diversos polissacarídeos como β(1,3)glicana, β(1,6)-glicana, α(1,3)-glicana e quitina. Alguns antifúngicos agem nas enzimas que sintetizam estes carboidratos. Equinocandinas são lipopeptídeos semi-sintéticos com estrutura química de hexapeptídeos cíclicos ligados a uma cadeia lateral de ácido graxo. Três fármacos pertencentes a esta classe, a caspofungina, a micafungina e a anidulafungina, chegaram à fase de investigação clínica, das quais a primeira está licenciada para uso clínico (WHITE et al., 1998). As equinocandinas inibem a β(1,3)-glicana-sintase, enzima ligada à síntese de β(1,3)glicana. O bloqueio de sua síntese resulta em desequilíbrio osmótico, prejudicando a viabilidade do microorganismo (WHITE, et al., 1998). A griseofulvina impede a interação entre α e β tubulinas, afetando com isto a montagem e funcionamento dos microtúbulos (OLIVEIRA, 1999). A flucitosina ou 5fluorocitosina é convertida a 5-fluorouracil na célula fúngica. Este produto é um antimetabólito e inibe a timidilato sintetase e, portanto, a síntese de DNA (SIDRIM e ROCHA, 2004). 43 Quadro 1: Exemplo de antifúngicos usados atualmente, sua origem e mecanismo de ação. Antifúngico Estrutura Origem Local de ação Enzima lanosterol 14αdesmetilase Função Fluconazol Sintética Inibe a biossíntese do ergosterol da membrana celular Inibe a síntese de β(1,3)glicana, componente da parede celular Caspofungina Produzido pelo fungo aquático, Glarea lozoyensis Enzima β(1,3)glicanasintase Griseofulvina Produzida pelo Penicillium griseofulvum Tubulina 5Fluorocitosina Sintética Enzima Timidilato sintetase Anfotericina B Produzida pelo Streptomyces nodosus Ergosterol Forma um presente na poro por membrana onde fluem os componentes celulares Afeta a montagem e funcionamento dos microtúbulos Inibe a síntese de DNA A anfotericina B é um antifúngico poliênico que se liga ao ergosterol, esteróide presente na membrana de fungos, formando um poro através do qual componentes celulares, principalmente potássio, fluem, alterando o equilíbrio osmótico da célula. Adicionalmente, leva a uma lesão oxidativa que resulta em alterações metabólicas prejudiciais à sobrevida celular (GALLIS et al., 1990; MARTINEZ, 2006). 44 Outros antifúngicos que agem na membrana têm um mecanismo de ação diferente, inibem enzimas envolvidas na síntese do ergosterol a partir do esqualeno (WHITE et al., 1998) (Figura 8). Figura 8: Biossíntese do ergosterol e possíveis alvos terapêuticos dos antifúngicos. A inibição destas enzimas impede a formação adequada do ergosterol, além de levar muitas vezes ao acúmulo de esqualeno ou outros intermediários na célula, alterando a permeabilidade da membrana e a viabilidade fúngica. Alguns exemplos são as alilaminas que agem na esqualeno epoxidase, as morfolinas com ação na 14Δ-redutase e Δ7,Δ8-isomerase e os derivados azólicos que inibem a 14α-lanosterol desmetilase (HITCHCOCK, 1991, RYDER, 1992; WHITE et al., 1998). Os quimioterápicos antifúngicos da classe dos azóis são caracterizados por conter anéis imidazóis ou triazóis. Considerando os fármacos de uso sistêmico, existem os azóis de primeira geração que incluem o miconazol e o cetoconazol e os de segunda geração, fluconazol, itraconazol, voriconazol, posaconazol e ravuconazol. Os derivados azólicos, principalmente os imidazólicos, exercem ação apenas fungistática (MARTINEZ, 2006). 45 Estes fármacos atuam sobre a enzima 14α-desmetilase (CYP51), uma enzima do grupo citocromo P450 dos fungos, responsável por catalisar a remoção oxidativa do grupo 14αmetila do lanosterol via três reações de oxidação levando a um intermediário na biossíntese do ergosterol. As duas primeiras reações de oxidações produzem os derivados do lanosterol 14hidroximetila e 14-carboxialdeído. Na etapa final, o grupo 14-aldeído é eliminado como ácido fórmico com concomitante formação de uma dupla ligação (CHAI, et al., 2009). A inibição desta enzima causa alterações na fluidez e permeabilidade da membrana citoplasmática do fungo e prejuízos na captação dos nutrientes, o que se traduz por inibição do crescimento fúngico e alterações morfológicas que resultam em necrose celular (MARTINEZ, 2006). Os derivados azólicos como imidazóis (e.g. cetoconazol e miconazol) e triazóis (e.g. fluconazol, itraconazol, voriconazol, ravuconazol e posaconazol) (Figura 9) são inibidores da CYP51. Estes inibidores coordenam-se ao átomo de ferro heme no sítio de ligação da enzima via átomo de nitrogênio (N3 do imidazol e N4 do triazol) do anel heterociclo. Esta inibição é realizada pelo impedimento da ligação do substrato e constitui um importante alvo terapêutico em infecções fúngicas (MORETTI, 2008). Em geral, os antifúngicos azólicos apresentam toxicidade por também coordenarem-se ao ferro do grupamento heme do citocromo de mamíferos, como CYP3A4, podendo reduzir a atividade do esterol por inibir a CYP51 de mamíferos (RUPPA et al., 2005). 46 Miconazol Cetoconazol Itraconazol Ravuconazol Posaconazol Fluconazol Voriconazol Figura 9: Estrutura de derivados azólicos usados em infecções fúngicas. A seleção dos antifúngicos leva em consideração, especialmente, a susceptibilidade do agente causal provável ou definido, a existência de apresentações para uso endovenoso e oral, as interações medicamentosas e o custo do tratamento (RAPP, 2004). No caso de medicações dispendiosas, como o voriconazol, o uso é reservado para o tratamento de infecções graves ou não responsivas a outros antifúngicos (MARTINEZ, 2006). O tratamento inicial da criptococose é, em geral, baseado na anfotericina B ou em sua combinação com 5-fluorocitosina, com base no sinergismo (MARTINEZ, 2006). Os derivados azólicos como fluconazol ou itraconazol são usados na terapia de manutenção por longos períodos (BARCHIESI et al., 2007). Entretanto, o uso indiscriminado ou prolongado destes fármacos pode estar associado ao desenvolvimento de cepas menos suceptíveis a estes antifúngicos em infecções por Cryptococcus sp. (PERFECT E COX, 1999, BARCHIESI et al., 2007). Fatores envolvidos na falha da terapia para criptococose incluem o local de infecção, a resposta imune do hospedeiro, a virulência da cepa, a farmacocinética do medicamento e a concentração inibitória mínima (CIM) do fármaco prescrito (WHITE et al., 1998). 47 Os mecanismos de resistência ao antifúngico podem estar associados à entrada da molécula na célula, ao seu efluxo, inativação ou degradação do fármaco e redução da atividade no alvo (WHITE et al., 1998). Enquanto a resistência primária ocorre quando a cepa não teve contato com o antifúngico previamente no hospedeiro (e.g. 5-fluorocitosina). A resistência intrínseca ocorre quando todos os membros de uma espécie são resistentes a um fármaco ou a uma classe de fármacos (e.g. equinocandinas) e a resistência secundária ou adquirida ocorre apenas após a exposição do fungo ao fármaco(e.g. 5-fluorocitosina) (PERFECT e COX, 1999). Séries de triazóis análogos de fluconazol e voriconazol foram descritas com atividade antifúngica, algumas com potência contra uma ampla faixa de patógenos. Essa classe de derivados tem sido a de maior expansão atualmente, entretanto, seu valor clínico tem sido limitado pelo risco de toxicidade relativo e a emergência de resistência, deficiências farmacocinéticas ou atividade insuficiente (KALE e JOHNSON, 2005). Os mecanismos de resistência aos azóis incluem: a) alteração na afinidade pela lanosterol 14-alfa desmetilase, devido à mutação na enzima; b) alteração na expresssão das proteínas ou; c) redução do acúmulo do fármaco, devido ao efluxo mediado por transporte ativo (RODERO et al., 2003). Uma mutação pontual (G1855T) no gene ERG11 foi detectada em isolados de Cryptococcus neoformans resistentes ao fluconazol. Esta mutação é responsável pela substituição do aminoácido glicina 484 por serina (G484S) na sequência da proteína CYP51. Este resíduo forma parte do domínio de ligação ao heme e é conservado em todas as CYP51 de fungos filamentosos e leveduriformes. Alguns estudos têm demonstrado que, em Candida albicans, a substituição da glicina pela serina confere uma mudança na orientação do domínio de ligação do heme levando a redução da ligação ao derivado azólico e da atividade catalítica da enzima. Rodero e 48 colaboradores demonstraram que em C. neoformans a substituição de G484S estava associada ao aumento da concentração inibitória mínima (CIM) de 2 para 16 μg/ml (RODERO et al., 2003). Com base no aumento de novos casos de criptococose e a gravidade das manifestações clínicas, associado ao desenvolvimento de resistência deste fungo a antifúngicos usados atualmente, a busca por novos compostos se faz indispensável para a terapia desta doença. Apesar dos recentes avanços, ainda há a necessidade de agentes antifúngicos com amplo espectro e baixo risco (KALE e JOHNSON, 2005; PERFECT e COX, 1999; WHITE et al., 1998). 1.2 Química medicinal e modelagem molecular no planejamento de fármacos Muitos fármacos no passado foram desenvolvidos ao acaso, sendo a piperazina um exemplo, posto que originalmente estava sendo testada para gota, quando foi descoberta a sua atividade anti-helmíntica (KOROLKOVAS e BURCKHALTER, 1988). Os métodos tradicionais de descoberta de novos fármacos tem se baseado na identificação de um protótipo, que pode ser constituinte de produtos naturais já usados desde a antiguidade, ou descoberto randomicamente por uma varredura, em que centenas de derivados sintéticos ou produtos naturais são testados para uma possível atividade biológica (KOROLKOVAS e BURCKHALTER, 1988; THOMAS, 2003). Outra abordagem envolve a descoberta do farmacóforo, síntese desta estrutura simplificada e desenvolvimento de análogos e bioisósteros para acelerar as propriedades químicas. Na década de 1990, a estratégia mudou de uma abordagem tradicional para uma abordagem baseada no alvo, no qual mecanismos bioquímicos envolvidos na doença são conhecidos, bem como o receptor, enzima ou outro alvo terapêutico. Esta abordagem requer 49 conhecimento sobre a estrutura do alvo e suas interações com os ligantes (SATYANARAYANAJOIS, 2010; BROWN, 2007). A química medicinal, entre suas inúmeras atribuições, engloba o planejamento racional de novas substâncias bioativas, envolvendo a síntese ou a modificação molecular de substâncias; o isolamento de princípios ativos naturais (plantas, animais e minerais); a identificação ou elucidação da estrutura; estudo da relação entre a estrutura e a atividade e suas interações com os diferentes sistemas biológicos; a compreensão em nível molecular de processos bioquímicos, farmacológicos, toxicológicos e farmacocinéticos (AMARAL e MONTANARI, 2002). Diversas estratégias são usadas em química medicinal para modificação estrutural e planejamento racional de novos ligantes como: simplificação molecular, hibridação, alteração na flexibilidade, bioisosterismo, entre outras. Assim, é possível usar, por exemplo, a informação de fármacos já existentes e otimizar um protótipo ao invés de tentar descobrir um. O antimalárico mefloquina, por exemplo, foi desenvolvido a partir do produto natural, cloroquina, baseada em uma simplificação molecular e apresenta melhores propriedades farmacocinéticas (KOROLKOVAS e BURCKHALTER, 1988). A identificação do protótipo é a etapa inicial, em seguida vem a otimização do protótipo (envolvendo química medicinal e combinatória), desenvolvimento do protótipo (incluindo avaliação das características farmacodinâmicas, farmacocinéticas e toxicológicas) e ensaios clínicos (BALUNAS e KINGHORN, 2005). As técnicas computacionais têm revolucionado a química medicinal. Baseado em um farmacóforo, é possível planejar um composto com uma atividade biológica desejada e realizar cálculos para avaliar a sua adequação antes de sintetizá-lo. O processo de descoberta de um novo fármaco envolve em média cerca de 10 anos (REICHERT, 2003) e um custo de 800 milhões de dólares (DICKSON e GAGNON, 2004). 50 Muito tempo e dinheiro são gastos em numerosos compostos que são descartados durante esse processo. De fato, tem sido estimado que apenas um em cada 5000 compostos atingirá a etapa de ensaios clínicos e será aprovado para o uso. Por isso, se faz necessária a busca por novas metodologias capazes de auxiliar na descoberta de novos fármacos. Neste aspecto, a modelagem molecular é uma ferramenta capaz de otimizar este processo, permitindo a detecção precoce das moléculas com problemas e orientando os pesquisadores na direção das moléculas com maior potencial (OOMS, 2000; TROULIER et al., 2002). Os experimentos virtuais são rápidos, de baixo custo e seguros e podem auxiliar na determinação da molécula mais promissora e eliminar compostos problemas em etapas anteriores (OOMS, 2000; TROULIER, 2002; ENRIZ, 2005). O sucesso das inovações farmacêuticas nesta área, principalmente, pelo uso da modelagem molecular pode ser responsável por diminuir o sofrimento humano, os gastos com saúde pública, além de proporcionar maior proteção e segurança para os pacientes e redução do uso de animais de experimentação (ENRIZ, 2005). Um fármaco para ser usado em humanos deve ter um balanço entre farmacocinética e segurança, assim como potência e seletividade (MODA et al., 2007). Para produzir o seu efeito farmacológico, o fármaco deve estar presente em concentração apropriada no sítio de ação (HARDMAN et al., 2001). A concentração do fármaco livre no sítio ativo é uma função da concentração administrada, absorção, distribuição (o que está relacionado à ligação a proteínas plasmáticas e teciduais), metabolismo (biotransformação) e excreção. A passagem do fármaco através das membranas depende das características físico-químicas da membrana e da molécula (forma, grau de ionização, lipofilicidade e ligação a proteínas). De forma importante, a modelagem molecular pode auxiliar tanto nos estudos farmacodinâmicos quanto farmacocinéticos, e de toxicidade na busca por novos fármacos (HARDMAN et al., 2001) (Figura 10). 51 Figura 10: Representação esquemática da interrelação entre a absorção, distribuição, ligação, metabolismo e excreção dos fármacos e a sua concentração no sítio de ação. (adaptado de HARDMAN et al., 2001). 1.2.1 Modelagem molecular nos estudos farmacodinâmicos As técnicas de modelagem molecular utilizadas na descoberta de fármacos variam dependendo das informações estruturais disponíveis sobre o alvo (enzima/receptor) e os ligantes. Os desenhos direto e indireto são duas estratégias que podem ser utilizadas no processo de desenvolvimento de novos fármacos (COHEN et al.,1990; OOHMS, 2000; CHAVATTE e FARCE, 2006). No método indireto, a estrutura tridimensional (3D) do alvo é desconhecida e as informações sobre a estrutura dos compostos ativos e inativos podem ser utilizadas para determinar características importantes, como grupos hidrofóbicos, ligação de hidrogênio e momento de dipolo. A partir destas informações, gera-se um modelo que pode ser utilizado para a seleção de compostos dentro de bancos de dados ou orientar no processo de planejamento e síntese de novas entidades químicas (Figura 11) (JORGENSEN, 2004; VESELOVSKY e IVANOV, 2003). 52 Figura 11: Descrição geral dos métodos para o planejamento de novos compostos bioativos (Adaptado de Veselovsky e Ivanov, 2003). No método direto, a estrutura tridimensional do alvo é conhecida e analisa-se o complexo ligante-receptor (Figura 11). A determinação experimental da estrutura 3D de proteínas por técnicas de cristalografia e difração de raios-X e Ressonância Magnética Nuclear (RMN) tem um custo elevado e depende, muitas vezes, de uma alta concentração proteica, o que na maioria das vezes é complicado, por dificuldades no isolamento ou na clonagem ou porque algumas não possibilitam a formação do cristal para a análise. A pesquisa na área de bioinformática tem buscado ferramentas que sejam capazes de simular a estrutura tridimensional de proteínas. Neste contexto, a modelagem comparativa é a ferramenta mais bem sucedida para a predição da estrutura tridimensional (KOPP e SCHWEED, 2006; HILLISCH et al., 2004). Na modelagem comparativa, os modelos são construídos a partir de dados de coordenadas de raios X de proteínas semelhantes, usando técnicas de alinhamento de sequência e análise de homologia (SANT’ANNA, 2002). Para definir o molde (template) a ser 53 utilizado na construção de um modelo tridimensional de uma proteína é necessário ter a sequência de aminoácidos da proteína e realizar uma busca no banco de dados de sequência por estruturas existentes no banco de dados de proteína (Protein Data Bank – PDB), comparando com a sequência da proteína em questão (BERNSTEIN et al., 1977). Em geral, proteínas com um alto grau de identidade na estrutura primária e semelhanças funcionais apresentam estruturas tridimensionais semelhantes e podem ser usadas como molde na modelagem comparativa da proteína alvo (ABREU, 2008; ROST e SANDER, 1996). A última etapa do processo de modelagem comparativa de uma proteína é a análise da confiabilidade da estrutura gerada. Um importante indicador da qualidade estereoquímica de uma proteína é o gráfico de Ramachandran (Ramachandran et al., 1963) que mostra a distribuição das combinações entre todos os ângulos phi (Φ) e psi (Ψ) de uma proteína. No caso da proteína apresentar resíduos de aminoácidos com problemas estereoquímicos, estes estarão em regiões desfavoráveis do gráfico (SANTOS, 2002; BRANDEN e TOOZE, 1991). Outra forma de analisar a qualidade de um modelo é baseada na verificação do ambiente em torno de cada resíduo na proteína e análise da compatibilidade entre estrutura 3D da proteína modelada e a sua própria sequência de aminoácidos usando o programa Verify 3D (LUTHY et al.,1992; BOWIE et al., 1991). O perfil obtido para cada resíduo de aminoácido é comparado estatisticamente com a preferência de cada um dos 20 aminoácidos por um determinado ambiente. O ambiente dos resíduos é definido por três parâmetros que incluem a área do resíduo que está voltada para o interior da proteína, a área coberta por átomos polares e a estrutura secundária. O método baseia-se no fato de que modelos de proteínas com estrutura 3D adequada têm pontuações (scores) maiores do que os modelos com estrutura 3D inadequada. Além disso, o método 54 avalia o score 3D-1D para cada aminoácido que deve apresentar, preferencialmente, valores maiores do que zero (LUTHY et al.,1992). A análise do score-Z realizado no programa PROSA indica a qualidade geral da estrutura e mede o desvio da energia total da proteína com respeito à distribuição de energia derivada de conformações randômicas. O valor do score-Z de uma proteína é mostrado em um gráfico que contém o score de todas as cadeias de proteínas presentes no PDB (SIPPL, 1993). Estruturas de proteínas globulares cujos scores-Z desviam muito da média da base de dados não são usuais e, frequentemente, tendem a estar erradas. O gráfico de energia mostra a qualidade local dos modelos com base na energia em função da posição da sequência de aminoácidos. Em geral, valores positivos correspondem a regiões problemáticas ou erradas da estrutura. Como o gráfico de um único resíduo de aminoácido contém ampla flutuação, este apresenta, por si só, limitado valor para a avaliação do modelo. O gráfico é então suavizado pelo cálculo da média de energia de cada fragmento de 40 resíduos, sendo este valor estabelecido para o resíduo na posição i +19 (WIEDERSTEIN e SIPPL, 2007; SIPPL, 1993). Quando a estrutura do alvo terapêutico é conhecida, seja por cristalografia e difração de raios-X, RMN ou modelagem comparativa, é possível realizar o docking com ligantes. O docking é um método de ajuste ou encaixe molecular que permite explorar o modo de interação dos compostos nos sítios de ligação, por ajuste manual (docking manual), onde o composto é posicionado no sítio de interação de acordo com modelos comparativos de outros compostos análogos, ou docking automático onde o composto é posicionado por programas que utilizam algoritmos de busca para encontrar as conformações e orientações mais estáveis (i.e., de menor energia) (SMITH, 1996). Nesta metodologia, são exploradas translações, orientações e conformações do ligante na proteína até que um sítio ideal seja encontrado. A flexibilidade do ligante é permitida e se 55 utiliza a mecânica molecular para calcular a energia do ligante no contexto do suposto sítio ativo (LENGAUER e RAREY, 1996). O docking de compostos orgânicos em proteínas alvo é relevante para entender os processos biológicos e desenhar novos fármacos. Nos últimos 30 anos, diversos métodos têm sido desenvolvidos para triagem de bases de dados de ligantes e análise de interações moleculares (LENGAUER e RAREY, 1996). Novos agentes terapêuticos podem ser desenvolvidos também pela análise da relação estrutura-atividade, onde os dados estereoeletrônicos como energia dos orbitais de fronteira (HOMO e LUMO), volume molecular, área de superfície polar, momento de dipolo, entre outros podem ser calculados por técnicas de modelagem molecular resultando em parâmetros potencialmente indicadores do perfil de atividade biológica (PATRICK, 2001; CARVALHO et al., 2003). Outro método é o estudo da relação estrutura-atividade quantitativa (QSAR) que usa descritores moleculares para construir modelos matemáticos (equações) capazes de predizer, quantitativamente, a afinidade de ligação de moléculas existentes ou hipotéticas relacionadas a um conjunto de moléculas de treinamento (LILL, 2007). O modelo de QSAR é uma equação matemática estatisticamente validada que correlaciona a estrutura química com o perfil de atividade. Esta técnica pode contribuir muito no processo de descoberta de novos fármacos e foi originalmente baseada na idéia de que compostos similares apresentam propriedades físico-químicas e efeitos biológicos semelhantes, estabelecendo comparação entre propriedades estereoeletrônicas de candidatos a fármacos e afinidade de ligação a um alvo molecular comum (LILL, 2007; KHAN et al., 2007). 56 1.2.2 Modelagem molecular nos estudos farmacocinéticos Novas entidades químicas prováveis de avançar nos ensaios clínicos devem ter um balanço ideal entre propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas. Problemas com absorção, distribuição, metabolismo e excreção têm sido identificados como uma das principais causas de candidatos a fármacos serem retirados do processo de pesquisa e desenvolvimento farmacêutico em estágios avançados (MODA et al., 2008). A estratégia clássica de varrer milhares de compostos apenas baseado na potência biológica traz problemas para a indústria farmacêutica, visto que muitos compostos atrativos não apresentam propriedades farmacocinéticas requeridas para um fármaco (MODA et al., 2008; MODA et al., 2007). Atualmente, estudos in silico dos parâmetros de absorção, metabolismo, excreção e toxicidade (ADME/Tox) são realizados em etapas preliminares do processo de desenvolvimento de fármacos, a fim de economizar tempo e delinear melhor o estudo de novos compostos. A otimização das propriedades ADME/Tox por modificações moleculares de compostos promissores é essencial na seleção de candidatos a fármacos com maior probabilidade de não serem descartados na fase clínica (HANSCH et al., 2004). As propriedades farmacocinéticas como: absorção intestinal humana, biodisponibilidade oral, ligação a proteínas plasmáticas e solubilidade em água (Log S) podem ser preditas por modelos de QSAR como no servidor PK/DB – database for pharmacokinetic properties (http://miro.ifsc.usp.br/pkdb/) (Moda et al., 2008) (Figura 12). 57 Figura 12: Modelos para predição http://miro.ifsc.usp.br/pkdb/models.php). das propriedades farmacocinéticas (Extraído de Os modelos preditivos são baseados em fragmentos moleculares especializados, usando o método de estudo de Holograma QSAR (Hologram quantitative structure-activity relationship - HQSAR) (HQSAR, 2003). A técnica de HQSAR se baseia na transformação da representação química da molécula em seu holograma molecular (TONG et al., 1998). Os modelos gerados são robustos estatisticamente e foram validados por grupos de compostos testes que não haviam sido considerados para gerar o modelo. 58 A biodisponibilidade oral é definida pela fração da dose do fármaco administrada que chega à circulação sistêmica e apresenta-se como uma propriedade crítica a ser considerada nos estágios iniciais do planejamento de um fármaco (MODA, et al., 2007). A sua predição também é um desafio, visto que envolve múltiplos fatores biológicos e físico-químicos como dissolução no trato gastrointestinal, permeação pelas membranas intestinais e metabolismo de primeira passagem intestinal e hepático. Atualmente, muito esforço tem sido feito para predizer a absorção intestinal, que é a primeira etapa para uma boa biodisponibilidade oral (HOU et al., 2007; KHAN E SYLTE, 2007). Neste contexto, a predição desta propriedade foi proposta pela primeira vez por Lipinski e colaboradores (LIPINSKI et al., 2001) sendo conhecida como “regra dos cinco” de Lipinski, que define um conjunto de parâmetros capazes de identificar compostos com problemas de absorção e permeabilidade. A “regra dos cinco” é um filtro amplamente aceito para análise de druglikeness (semelhança estrutural com fármacos disponíveis). Deriva da análise de cerca de 2500 fármacos comerciais ativos por via oral (WERMUTH, 2003) e sugere que compostos violando duas das seguintes regras são pouco absorvidos por via oral (1) massa molecular ≤ 500 Da; (2) número de átomos aceptores de ligação de hidrogênio ≤ 10; (3) número de grupos doadores de ligação de hidrogênio (grupos OH ou NH) ≤ 5; (4) Log do coeficiente de partição óleo/água (cLog P) ≤ 5 (LIPINSKI et al., 2001; PAJOUHESH e LENZ, 2005). A habilidade de formar ligação de hidrogênio está relacionada ao número de átomos de oxigênio e nitrogênio presentes na molécula, sendo o somatório utilizado na regra de Lipinski para estabelecer o número de grupos aceptores de ligação hidrogênio, ainda que os pares de elétrons livres destes átomos não estejam disponíveis para este tipo de interação. Um número excessivo de grupos doadores e aceptores de ligação hidrogênio, assim como uma alta 59 massa molecular dificultam a permeabilidade através da bicamada da membrana, enquanto que uma lipofilicidade elevada reduz a absorção (PAJOUHESH e LENZ, 2005). A flexibilidade da molécula é outra característica a ser analisada e está relacionada ao número de ligações rotacionáveis, sendo uma certa flexibilidade importante para a passagem através das membranas, entretanto, uma grande flexibilidade é desvantajosa (LIPINSKI et al., 2001; PAN et al., 2004; PAJOUHESH e LENZ, 2005). 1.2.3 Modelagem Molecular na análise da toxicidade A toxicidade de fármacos é um fator de extrema importância, uma vez que um número significativo de fármacos são reprovados em ensaios clínicos devido a esta questão. (VAN DE WATERBEEMD e GIFFORD, 2003, MITEVA et al., 2006;) As estruturas são desenhadas no programa Osiris onde são preditos os riscos tóxicos potenciais. O processo de predição conta com uma base pré-calculada de fragmentos estruturais que se estiverem presentes na estrutura originam alertas toxicológicos. Essas listas de fragmentos foram criadas pela fragmentação rigorosa de todos os compostos do banco de dados do Registro de Efeitos Tóxicos de Substâncias Químicas (Registry of Toxic Effects of Chemical Substances - RTECS) conhecidos por apresentarem algum tipo de toxicidade (NIOSH, 2001). Durante a fragmentação, as moléculas são quebradas nas ligações simples, originando também um conjunto de fragmentos nucleares. Estes, por sua vez, são utilizados para reconstruir todos os fragmentos maiores possíveis, sendo uma sub-estrutura da molécula original. Em seguida, um processo de busca por sub-estruturas determina a frequência de 60 ocorrência dos fragmentos (núcleo e fragmentos construídos) dentre todos os compostos daquela classe de toxicidade (SANDER, 2001). As frequências de fragmentos são confrontadas com os fragmentos de mais de 3000 fármacos comerciais. Considerando que fármacos comerciais são tidos como isentos ou com efeitos tóxicos mínimos, qualquer fragmento encontrado com alta frequência no banco de fármacos comerciais é considerado como não-tóxico, entretanto, o fato de ser encontrado frequentemente no banco de compostos químicos, pode ser considerado como um fator de risco (SANDER, 2001). Os alertas de riscos toxicológicos indicam que os compostos em avaliação possuem determinados fragmentos que podem ter efeitos irritante, tumorigênico, mutagênico ou efeito reprodutivo, por exemplo, quando varia da coloração verde, laranja e vermelha representando baixo, médio e alto grau (SANDER, 2001). 1.2.4 Modelagem molecular no planejamento de fármacos para o SNC Candidatos a fármacos bem sucedidos têm que preencher os critérios essenciais de seletividade, potência, biodisponibilidade (para fármacos administrados oralmente), eficácia terapêutica, além de perfil aceitável de efeitos adversos. Este sucesso está relacionado ao alvo terapêutico, sendo que aqueles que agem no SNC têm uma probabilidade menor de serem bem sucedidos. Este fato é atribuído a uma variedade de fatores incluindo a complexidade do cérebro, a probabilidade que estes fármacos têm de causar efeitos adversos no SNC e a necessidade de atravessar a BHE (ALAVIJEH et al., 2005). Os fármacos que têm como alvo macromoléculas no SNC devem ser capazes de atravessar a BHE de forma efetiva para exercerem a sua atividade. Por outro lado, fármacos 61 que agem perifericamente devem ter uma habilidade limitada de atravessar a BHE para evitar efeitos adversos no SNC. Em experimentos, a afinidade relativa de um fármaco pelo sangue ou cérebro é expressa em termos de coeficiente de partição sangue-cérebro (Log BB) = Log (Ccérebro/Csangue) onde Ccérebro e Csangue são as concentrações de equilíbrio no cérebro e sangue respectivamente (DE VRIES et al., 1997; NARAYANAN e GUNTURI, 2005) (Figura 13). Figura 13: Modelo para predição da penetração na barreira hematoencefálica (Log BB) (Extraído de http://miro.ifsc.usp.br/pkdb/models.php). Fármacos moderadamente lipofílicos podem atravessar a BHE por difusão passiva, enquanto moléculas polares geralmente penetram menos no SNC, a menos que utilizem o transporte ativo. A maioria dos fármacos atravessam a BHE por difusão passiva e, desta forma, tamanho, potencial de ionização e flexibilidade molecular influenciam no transporte de uma molécula orgânica (PAJOUESH e LENZ, 2005; VAN DE WATERBEEMD, 1992). Em geral, os fármacos para o SNC são mais lipofílicos, menos polares, menos flexíveis e apresentam menor massa molecular e menor volume molecular do que fármacos com outras indicações terapêuticas (MOURITSEN e JORGENSEN, 1998; PAJOUESH e LENZ, 2005). Desta forma, baseado em 1500 fármacos comerciais que atuam no SNC e que agem por via oral, Lipinski, em 2001 elaborou um conjunto de regras aplicáveis para fármacos que devem ter uma penetração eficiente no SNC. Este estudo indicou que as 62 propriedades físico-químicas, em geral, têm um limite menor do que no caso de outras classes de fármacos. De acordo com este estudo, os fármacos que conseguem atravessar a BHE e desempenhar atividade no SNC apresentam massa molecular ≤ 400 Da, cLogP ≤ 5, aceptores de ligação hidrogênio ≤ 7, e doadores de ligação hidrogênio ≤ 3 (PAJOUESH e LENZ, 2005; LIPINSKI et al., 2001). A penetração na BHE também pode ser predita por modelos de QSAR como no servidor PK/DB – database for pharmacokinetic properties usando o método de Holograma QSAR (Hologram quantitative structure-activity relationship - HQSAR) (http://miro.ifsc.usp.br/pkdb/) (MODA et al., 2008) (Figura 15). O estudo de atributos e propriedades necessários para uma molécula ter sucesso como fármaco para o SNC é importante e pode orientar o desenvolvimento de fármacos mais efetivos (PAJOUESH e LENZ, 2005). O tempo demandado para o desenvolvimento de um fármaco com ação no SNC é maior (12-16 anos) do que para outras classes terapêuticas (1012 anos), além de envolver um alto custo ($0,8-1,7 bilhões). Centenas de compostos iniciam os primeiros estágios neste processo, mas apenas poucos chegam a se tornar um novo fármaco (PHILIPS e MAKINTOSH, 2002). A demanda por novos fármacos é uma realidade no caso das neuroinfecções, que são uma importante causa de morte e incapacitação, principalmente meningites e encefalites criptocócica e herpética, sendo que muitos medicamentos existentes para estas condições apresentam efeitos adversos ou favorecem o desenvolvimento de resistência. Além disso, as doenças neurodegenerativas constituem um grave problema de saúde pública atualmente, devido ao envelhecimento da população e aumento da expectativa de vida, ainda carecem de medicamentos mais eficazes, seletivos e seguros. 63 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar in silico a relação estrutura-atividade de alvos terapêuticos e novos potenciais ligantes para o tratamento de indivíduos com doenças neurodegenerativas, relacionadas ao receptor de NMDA e infecções no sistema nervoso central causadas por Cryptococcus neoformans e pelo HSV. 2.2 Objetivos específicos quanto ao receptor de NMDA Identificar os descritores estereoeletrônicos relacionados com o perfil de antagonistas competitivos do receptor de NMDA em uma série de 17 derivados do ácido piperazino-2,3dicarboxílico descrita na literatura. Avaliar o risco tóxico in silico desses derivados e a biodisponibilidade oral de acordo com a “regra dos cinco” de Lipinski, bem como a penetração através da BHE usando a “regra dos cinco” modificada para penetração no SNC. Analisar as interações e a energia de ligação do complexo formado pelos antagonistas competitivos e a estrutura do domínio de ligação ao glutamato na subunidade GluN2B obtida por modelagem comparativa. Estudar a estrutura do N-terminal das subunidades GluN2B e GluN2A do receptor de NMDA por modelagem comparativa e identificar características importantes para a afinidade do antagonista não-competitivo, ifemprodil, pela subunidade GluN2B em comparação com GluN2A. 64 Comparar o modo de interação dos antagonistas não competitivos fenil-amidina 1a e triazolil-amidina 2a, 2e e 2f. 2.3 Objetivos específicos quanto aos derivados candidatos a antivirais Identificar as características estereoeletrônicas relacionadas com a atividade biológica de uma nova série de derivados de oxoquinolinas sintetizadas e testadas por grupos colaboradores com atividade anti-HSV1. Determinar as características farmacocinéticas desta série de derivados comparando com o antiviral aciclovir de uso clínico. 2.4 Objetivos específicos quanto a CYP51 e os antifúngicos Estudar a estrutura da lanosterol 14α-desmetilase de C. neoformans usando um modelo tridimensional construído com base na enzima humana. Identificar as interações entre três antifúngicos azólicos de uso clínico (fluconazol, cetoconazol e posaconazol) com a CYP51 de C. neoformans e de humanos, estabelecendo uma análise comparativa. 65 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Análise da relação estrutura-atividade (SAR) No estudo da relação estrutura-atividade (SAR), as estruturas químicas dos compostos em estudo foram submetidas à análise conformacional sistemática, usando as opções padrões e o campo de força MMFF94, disponível no programa Spartan`08 (Wavefunction, Inc., Irvine, CA, 2000). Subsequentemente, foi realizada a otimização da geometria dos confôrmeros de menor energia, utilizando o método semi-empírico RM1 e, posteriormente, as estruturas foram submetidas ao cálculo de ponto único (Single-Point), em que os cálculos são elevados se para um arranjo estático dos átomos, utilizando o método Hartree-Fock (ab initio) na base 6311G* a fim de se obter parâmetros estereoeletrônicos que possam estar correlacionados com a atividade biológica experimental tais como: volume molecular, área superficial molecular, área de superfície polar, momento de dipolo, energias de HOMO (Highest occupied molecular orbital) e de LUMO (Lowest unoccupied molecular orbital). Além dos mapas de distribuição dos orbitais e de densidade de HOMO e LUMO e do mapa de potencial eletrostático de cada composto. As superfícies tridimensionais dos mapas de potencial eletrostático foram geradas na faixa de energia entre -150 e + 150 KJ/mol e sobrepostos em uma superfície molecular de densidade de elétrons constante (0,002 e/ua³). Cada ponto do mapa expressa o valor de energia de interação eletrostática, avaliado com base em um átomo de prova de carga unitária positiva fornecendo uma indicação do tamanho total e da forma das moléculas e da localização dos potenciais eletrostáticos atrativos (negativos) e repulsivos (positivos) (SILVA et al., 2008) (Figura 14). 66 Figura 14: Fluxograma das etapas de cálculos realizadas no programa Spartan`08 para obtenção dos descritores estereoeletrônicos e análise da relação estrutura-atividade (SAR). 3.1.1 SAR de antagonistas competitivos do receptor de NMDA Os 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico descritos na literatura (ver figura 16, página 76) (MORLEY et al., 2005) com atividade antagonista do receptor de NMDA foram submetidos aos cálculos de análise conformacional, de otimização de geometria e de energia de ponto único para obtenção das propriedades estereoeletrônicas, conforme descrito no item 3.1. 3.1.2 SAR de antivirais contra HSV1 A análise de SAR foi realizada para 8 derivados de oxoquinolinas sintetizados pelo grupo colaborador da Dra Maria Cecília B. V. de Souza (IQ-UFF) e testados pela professora Dra. Izabel Paixão (IB-UFF), quanto a atividade contra HSV1. 67 3.2 Estudo teórico de propriedades farmacocinéticas e de toxicidade O programa Osiris Property Explorer (Sander T., Actelion Pharmaceuticals Ltd, Switzerland) (http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/) foi utilizado para cálculo teórico da solubilidade em água (LogS) e coeficiente de partição octanol-água calculado, descritor de lipofilicidade (cLogP) que estão relacionados a absorção dos compostos e permeabilidade através das membranas biológicas. Além disso, foi realizado um cálculo in silico da toxicidade destas moléculas em relação aos efeitos mutagênico, tumorigênico, irritante e sobre a reprodução e estes resultados foram comparados a fármacos disponíveis comercialmente. Os compostos administrados por via oral devem ser capazes de serem absorvidos no trato gastrintestinal. Desta forma, eles foram avaliados de acordo com a “regra dos cinco” de Lipinski que avalia o potencial de um composto apresentar uma boa biodisponibilidade oral. Para isto, os compostos devem apresentar massa molecular ≤ 500 Daltons (Da), coeficiente de partição octanol/água calculado (cLogP) ≤ 5, número de aceptores de ligação de hidrogênio (nALH) ≤ 10 e número de doadores de ligação de hidrogênio (nDLH) ≤ 5 (Lipinski, 2001). Além disso, foi calculado o número de ligações rotacionáveis, parâmetro também relacionado à capacidade do fármaco de permear as membranas biológicas que deve ser menor do que 10 (PAJOUHESH e LEN, 2005). Como os compostos avaliados neste estudo devem ter ação no SNC, é necessário que sejam capazes de atravessar a BHE e, por isso, foram avaliados de acordo com a “regra dos cinco” de Lipinski modificada para a penetração no SNC que é mais restritiva e estabelece: massa molecular ≤ 400 daltons (Da), coeficiente de partição octanol/água calculado (cLogP) ≤ 5, número de aceptores de ligação de Hidrogênio (nALH) ≤ 7 e número de doadores de ligação de hidrogênio (nDLH) ≤ 3 (PAJOUHESH e LEN, 2005). Estes cálculos foram 68 realizados usando o programa Molinspiration (http://www.molinspiration.com/cgi- bin/properties) e comparados com compostos da literatura. As propriedades biodisponibilidade oral, farmacocinéticas ligação a como: proteínas absorção plasmáticas, intestinal penetração na humana, barreira hematoencefálica e solubilidade em água (Log S) foram preditas por modelos de Holograma QSAR (Hologram quantitative structure-activity relationship - HQSAR) usando o servidor PK/DB – database for pharmacokinetic properties (http://miro.ifsc.usp.br/pkdb/) (MODA et al, 2008) (Figura 15). Figura 15: Fluxograma das etapas de análise de Holograma QSAR realizado no servidor PK/DB (Adaptado de http://miro.ifsc.usp.br/pkdb/PKDB_Manual.pdf). 3.2.1 Propriedades farmacocinéticas e toxicidade in silico de antagonistas do receptor de NMDA Para os 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico foram feitas as análises de lipofilicidade (cLog P), solubilidade em água (Log S) e toxicidade in silico. Além da 69 avaliação da “regra dos cinco” de Lipinski para biodisponibilidade oral e “regra dos cinco” modificada para penetração no SNC. 3.2.2 Propriedades farmacocinéticas “in silico” dos derivados de oxoquinolina Para análise das oxoquinolinas com atividade anti-HSV1 foram feitas análises da absorção intestinal, biodisponibilidade oral, ligação a proteínas plasmáticas, penetração na BHE e solubilidade em água (Log S) por modelos de QSAR. Além da avaliação da “regra dos cinco” de Lipinski para biodisponibilidade oral e “regra dos cinco” modificada para penetração no SNC. 3.3 Modelagem comparativa para predição da estrutura tridimensional de proteínas Nos casos em que se conhecia a estrutura 3D do alvo terapêutico dos ligantes estudados foi feita uma busca pela estrutura cristalográfica no banco de dados de proteína Research Collaboratory for Structural Bioinformatics Protein Data Bank (http://www.rcsb.org/pdb). Nos casos em que a estrutura 3D não havia sido elucidadas por métodos experimentais, foi realizada a modelagem comparativa. Os modelos tridimensionais das proteínas a serem avaliadas foram construídos usando o servidor Swiss Model (http://swissmodel.expasy.org/) (GUEX e PEITSCH, 1997; ARNOLD et al, 2006; PEITSCH, 1995; KIEFER, et al., 2009). Inicialmente, foi realizada a identificação de proteínas moldes (templates), baseado na similaridade com a sequência de aminoácidos e na semelhança funcional. Para isto, foi feita uma busca no banco de dados de estruturas de proteínas PDB (http://www.rcsb.org/pdb/) (BERNSTEIN et al., 1977). 70 Subsequentemente, os modelos foram submetidos a etapas sucessivas de otimização da geometria, no vácuo, usando o programa GROMOS96 (VAN GUNSTEREN, 1996) disponível no programa Swiss-Pdb Viewer 4.0.3, usando o algorítmo Steepest descent com cutoff de 10 Ǻ. A validação da estrutura do modelo foi realizada pela análise do gráfico de Ramachandran e do score 3D-1D, usando os programas Procheck e Verify-3D respectivamente disponíveis no servidor SAVES - Stuctural Analysis and Verification Server (http://nihserver.mbi.ucla.edu/SAVES/) (BOWIE et al., 1991; LUTHY, et al., 1992), além da análise do score-Z e da energia dos resíduos usando o servidor ProSA – protein structure analysis (http://prosa.services.came.sbg.ac.at/prosa.php) (WIEDERSTEIN e SIPPL, 2007; SIPPL, 1993). 3.3.1 Modelo tridimensional da CYP51 de Cryptococcus neoformans A construção do modelo da CYP51 de C. neoformans foi realizada pelo modo de alinhamento disponível no programa Swiss-Model, utilizando a informação do alinhamento múltiplo da sequência primária do modelo (C. neoformans) e do molde (Homo sapiens) com outras proteínas da família (Mycobacterium tuberculosis, Aspergillus fumigatus, Coccidioides immitis, Candida albicans, Candida tropicalis, Saccharomyces cerevisae, Mus musculus, Rattus norvegicus, Leishmania major, Trypanosoma cruzi, Pneumocistis jiroveci), realizado no programa ClustalW. A predição da estrutura secundária foi realizada usando o programa JPred (http://www.compbio.dundee.ac.uk/www-jpred/). 71 3.3.2 Modelo tridimensional do N-terminal de GluN2B e GluN2A do receptor de NMDA Os modelos de GluN2B e GluN2A do receptor de NMDA foram construídos pelo modo automático disponível no programa Swiss-Model, usando como molde a estrutura da subunidade GluN2B do receptor de NMDA de Rattus norvegicus (código PDB = 3JPW). O alinhamento entre a estrutura primária destas subunidades foi realizado no programa ClustalW (http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/). 3.4 Docking ligante-receptor e análise das interações Nos casos em que os ligantes estudados estavam disponíveis no banco de dados de proteínas (PDB) ligados a proteínas com similaridade estrutural àquelas estudadas, o docking ligante-receptor foi construído baseado em alinhamento estrutural usando o programa Swiss PDB Viewer (SPDBV) utilizando a orientação do complexo disponível. Em seguida os complexos foram otimizados até um gradiente inferior a 0,1 kcal/molÅ, usando o campo de força MM+, disponível no HyperChem Release 7 (Hypercube Inc, 2002). A visualização das interações ligante-receptor foi realizada nos programas Deep View / Swiss-PDB Viewer 4.0.3 (GUEX e PEITSCH, 1997). Para aquelas proteínas que não apresentavam informação sobre o modo de interação dos ligantes, foram construídos complexos pela metodologia de docking cego, usando o programa Autodock 4.2. A estrutura 3D do ligante foi construída no programa Spartan’08 (Wavefunction Inc. Irvine, CA, 2000) e submetida à análise conformacional sistemática, usando campo de força MMFF94. Em seguida, foi realizada a otimização da geometria e cálculo da energia de ponto único usando o método Hartre-Fock na base 6-311G*. As 72 estruturas do ligante e da proteína foram transferidas para o programa Autodock 4.2 onde foram adicionadas Cargas Gasteiger. O centro do grid para o cálculo do docking foi posicionado no centro da proteína ou em resíduos de aminoácidos específicos, com dimensões variadas, de acordo com a informação sobre o sítio de ligação e com espaçamento de 0,375 Å e foram calculados os mapas para os tipos de átomos presentes usando o Autogrid. O algoritmo genético Lamarkiano foi usado e solicitado um número de 50 conformações. Os parâmetros usados para o docking foram os padrões do programa, e mantendo o ligante flexível e a proteína rígida. Após o docking, os ligantes foram ordenados de acordo o número de conformações nos clusteres e a energia de ligação calculada pelo programa. Para análise das interações proteína-ligante foi usado o programa Autodock 4.2 e Deep View/Swiss-PDB Viewer 4.0.3. Foram analisadas a energia de ligação e a forma como as moléculas interagem com os alvos terapêuticos de modo a gerar informações importantes para o desenvolvimento de ligantes com maior afinidade e mais potentes, além de tentar explicar as diferenças entre os compostos mais ativos e com menor atividade. 3.4.1 Docking dos azóis na CYP51 de C. neoformans e de Homo sapiens O docking dos derivados azólicos (fluconazol, cetoconazol e posaconazol) na enzima CYP51 de humano e de C. neoformans foi realizado pela metodologia do docking manual. O docking manual foi escolhido porque a inibição da enzima ocorre pela coordenação do átomo de nitrogênio do anel azol com o ferro do grupo heme da enzima. Como estavam disponíveis no PDB enzimas CYP51 de outros organismos ligadas a estes azóis, foi feito um alinhamento estrutural com as proteínas usando o SPDBV e, em seguida, a minimização usando o programa HyperChem Release 7, de modo a fornecer certa flexibilização ao complexo 73 formado. As estruturas usadas foram CYP51 de Leishmania infantum ligada ao fluconazol (código PDB = 3L4D), Homo sapiens ligada ao cetoconazol (código PDB = 3LD6) e T. brucei ligada ao posaconazol (código PDB = 2X2N). 3.4.2 Docking dos antagonistas do receptor de NMDA no sítio de ligação ao glutamato Inicialmente foi realizado o redocking do glutamato no seu sítio de ligação na subunidade GluN2A do receptor de NMDA de Rattus norvegicus, disponível no PDB (código 2A5S), usando o Autodock 4.2. Para isto, o ligante foi retirado do sítio de ligação e usou-se o grid no tamanho de 65x65x65 cujo centro foi posicionado no centro da proteína, que é onde se localiza o sítio de ligação ao glutamato. O docking dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico com atividade de antagonistas competitivos da subunidade GluN2B do receptor de NMDA foi realizado pela metodologia do docking cego. O grid com o tamanho de 65x65x65 também foi centralizado no centro da proteína. A estrutura do domínio S1S2 de ligação ao glutamato na subunidade GluN2B do receptor de NMDA foi obtida de um estudo recente de nosso grupo, usando como molde a estrutura da subunidade GluN2A ligada ao glutamato e a orientação de abertura da subunidade GluR2 do receptor de AMPA (código do PDB = 1FTL) (ABREU, 2008). Além disso, foi realizado o docking dos derivados do ácido piperazino-2,3dicarboxílico na forma zwiteriônica com um dos nitrogênios da piperazina protonado e o oxigênio da carboxila desprotonado para estabelecer uma análise comparativa. Neste caso foi escolhido o nitrogênio não ligado ao substituinte e a a carboxila imediatamente vizinha. 74 3.4.3 Docking dos antagonistas do receptor de NMDA e potenciais ligantes no N-terminal do receptor de NMDA O docking do antagonista não competitivo descrito na literatura, ifemprodil, na região N-terminal do receptor de NMDA foi realizado usando a metodologia do docking cego. As estruturas tridimensionais do N-terminal da subunidade GluN2A e GluN2B do receptor de NMDA de humano foram construídas por modelagem comparativa usando a estrutura do Nterminal presente no banco de dados de proteína (código PDB = 3JPW) e foram usadas para gerar os complexos ligante-receptor. Como recentemente foi elucidada a estrutura do dímero formado entre as subunidades GluN1/GluN2B complexada com o ifemprodil (KARAKAS et al., 2011), esta estrutura (código PDB = 3QEL) foi usada para construir o dímero GluN1/GluN2A e realizar o docking com ifemprodil. Inicialmente, foi realizado o redocking do ifemprodil no sítio de ligação entre o e Nterminal de GluN2B e da subunidade GluN1 para validar o método. O tamanho da caixa foi de 80x80x80 e foi centralizado no resíduo de aminoácido Gln110 da subunidade GluN2B. Este resíduo está bem posicionado na região do sítio de ligação ao ifemprodil e interage por ligação de hidrogênio. Deste mesmo modo foi realizado o docking da fenil-amidina 1a (CLAIBORNE et al., 2003) e das triazolil-amidina 2a, 2e e 2f, planejadas por nosso grupo em um estudo anterior (ABREU, 2008) com GluN1/GluN2B. 75 4 RESULTADOS 4.1 Modelagem molecular para desenvolvimento de antagonistas do receptor de NMDA 4.1.1 Análise de antagonistas competitivos e interação com o domínio de ligação ao glutamato A análise SAR de 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico descritos na literatura (MORLEY et al, 2005) com atividade de antagonista do receptor de NMDA foi realizada utilizando o programa SPARTAN como descrito na seção de Materiais e Métodos. Esta série foi escolhida por conter moléculas que apresentaram valores promissores de atividade antagonista medida pela constante de inibição, Ki (µM) do receptor de NMDA, além de uma afinidade diferente para as subunidades GluN2A-D (Figura 16 e Tabela 1). Estudos anteriores já haviam demonstrado a atividade de antagonista do receptor de NMDA de derivados de piperazina e, neste caso, grupos volumosos como o fenantreno foram testados para avaliar o efeito no perfil de atividade. Alguns derivados da série apresentaram potência comparável a moléculas como AP5, AP7 e CPP, descritas na literatura como antagonistas competitivos do receptor de NMDA. Os derivados mais ativos 16e, 16g, 16h e 16n tiveram maior afinidade por GluN2B do que por GluN2A, sendo que o derivado 16n apresentou uma afinidade maior por GluN2B do que por todas as outras subunidades GluN2A, GluN2C e GluN2D (Tabela 1). 76 Figura 16. Estruturas química dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico (Adaptado de MORLEY et al, 2005). 77 Tabela 1: Valores de atividade de antagonista (Ki, µM) do receptor de NMDA recombinante de rato expresso em ovócitos de Xenopus. O receptor é formado por um heterômero contendo as subunidades GluN1/GluN2A, GluN1/GluN2B, GluN1/GluN2C ou GluN1/GluN2D (Extraído de MORLEY et al., 2005). # Estrutura GluN1/ GluN2A GluN1/ GluN2B GluN1/ GluN2C GluN1/ GluN2D 0,28 0,46 1,64 3,71 0,49 4,14 6,42 17,10 0,041 0,27 0,63 1,99 0,55 0,31 0,096 0,125 0,32 0,25 0,099 0,15 1,54 0,76 0,29 0,57 0,84 0,30 0,85 1,94 COOH AP5 PO3H2 H2N COOH AP7 PO3H2 H2N HN CPP N PO3H2 HOOC 16e O N COOH N H COOH Br 16g O 16h N COOH N H COOH O N COOH N H COOH 16n O N COOH N H COOH 78 A partir das características estruturais e eletrônicas calculadas pelo método ab initio, observou-se que alguns descritores apresentaram certo grau de correlação (R ~ 5) com os valores de pKi como volume molecular (0,57), área superficial molecular (0,54), lipofilicidade (0,54) e energia de HOMO (0,55), o que significa que maiores valores destes descritores estão relacionados com uma melhor atividade biológica enquanto a solubilidade em água apresentou correlação inversa (-0,51) (Tabela 2 e 3). Tabela 2. Comparação da atividade biológica Ki (μM) e pKi (M) de 17 derivados do ácido piperazino2,3-dicarboxíllico (13, 16a-n, 17 e 23) testados em receptor de NMDA recombinante contendo subunidade GluN1/GluN2B e parâmetros teóricos calculados incluindo energia de HOMO/LUMO (EHOMO e ELUMO, Ev), momento de dipolo molecular (μ, Debye), massa molecular (MM, g/mol), área superficial molecular (ASM, Å2), volume molecular (VM, Å3), área de superfície polar (ASP, Å2), coeficiente de partição octanol/água (cLogP) e solubilidade em água calculada (cLogS), número de grupos aceptores de ligação de hidrogênio (nALH) e doadores (nDLH) = 3. # 13 16a 16b 16c 16d 16e 16f 16g 16h 16i 16j 16k 16l 16m 16n 17 23 Ki (μM) pKi (M) MM μ 9,08 5,04 378,38 5,67 >100 >4,00 278,26 10,85 5,01 5,30 354,36 11,45 22,1 4,66 433,26 11,66 13,4 4,87 372,35 9,71 0,31 6,51 378,38 11,67 19,29 4,71 378,38 11,13 0,25 6,60 457,28 9,27 0,76 6,12 380,40 11,42 2,15 5,67 459,30 8,92 3,25 5,49 366,37 11,57 9,36 5,03 380,36 12,04 18,00 4,74 306,32 10,13 18,20 4,74 328,32 11,49 0,30 6,52 354,36 11,52 16,20 4,79 390,42 9,38 10,25 4,99 364,40 8,22 ASM VM ASP 375,64 274,01 353,78 371,09 359,51 364,44 364,29 384,88 370,31 390,77 357,73 360,61 314,73 321,38 356,7 375,51 365,96 364,08 260,18 343,19 360,87 347,86 361,57 361,53 379,88 366,08 384,4 350,03 352,66 297,01 311,28 343,81 356,4 360,61 95,36 85,74 85,73 85,75 85,75 85,74 85,72 85,77 85,71 85,74 86,14 101,02 85,67 86,18 85,65 109,53 77,70 cLogP LogS 1,69 -0,68 1,00 1,70 1,06 1,69 1,69 2,38 1,50 2,20 1,46 1,03 -0,55 0,50 0,63 0,04 1,43 -4,11 -0,90 -2,98 -3,82 -3,30 -4,11 -4,11 -4,94 -3,53 -4,37 -3,61 -4,00 -1,27 -2,50 -2,87 -2,48 -4,50 EHOMO ELUMO nALH -8,09 -10,03 -8,96 -9,26 -8,99 -8,38 -8,38 -8,68 -8,49 -8,65 -8,49 -9,03 -9,3 -8,69 -8,35 -9,09 -8,03 2,05 1,95 1,72 1,68 1,66 1,41 1,47 1,19 1,51 1,29 1,46 0,41 3,02 1,38 1,34 1,51 1,94 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 8 7 7 7 8 6 A análise dos derivados mais potentes da série (16e, 16g, 16h e 16n) demonstrou a importância do anel fenantreno para a atividade, sendo essencial também a posição da ligação, que o grupo carbonila da cadeia lateral está ligado ao anel aromático, uma vez que 16e com a carbonila ligada na posição 2 foi mais potente do que 16f com carbonila na posição 3. 79 Tabela 3. Matriz de correlação cruzada entre a atividade biológica experimental Ki (μM) e pKi (M) testados em receptor de NMDA recombinante contendo subunidade GluN1/GluN2B e energia de HOMO/LUMO (EHOMO e ELUMO, ev), momento de dipolo molecular (μ, Debye), massa molecular (MM, g/mol), área superficial molecular (ASM, Å2), volume molecular (VM, Å3), área de superfície polar (ASP, Å2), coeficiente de partição octanol/água (cLogP) e solubilidade em água calculada (LogS), número de grupos aceptores de ligação de hidrogênio (nALH) e doadores (nDLH) = 3. Ki (μM) pKi (M) MM μ ASM VM ASP cLogP LogS EHOMO ELUMO Ki (μM) 1,00 pki (M) -0,67 1,00 MM -0,57 0,47 1,00 µ 0,07 0,10 -0,21 1,00 ASM -0,79 0,54 0,89 -0,29 1,00 VM -0,79 0,57 0,89 -0,25 0,99 1,00 ASP -0,02 -0,18 0,11 -0,13 0,18 0,10 1,00 cLogP -0,62 0,54 0,83 -0,19 0,82 0,88 -0,23 1,00 LogS 0,65 -0,51 -0,81 0,24 -0,85 -0,91 0,11 -0,95 1,00 EHOMO -0,73 0,55 0,35 -0,32 0,63 0,67 -0,19 0,64 -0,70 1,00 ELUMO 0,28 -0,36 -0,47 -0,36 -0,42 -0,46 -0,30 -0,45 0,51 -0,18 1,00 nALH 0,01 -0,09 0,25 0,07 0,01 0,89 -0,24 0,18 -0,39 -0,45 0,10 nALH 1,00 Dentre os derivados mais ativos, apenas 16n não apresenta anel fenantrila, mas um anel naftila separado por um alceno como espaçador, que apesar de tornar a molécula mais flexível, possibilitou a manutenção de uma conformação biologicamente ativa semelhante a 16e. Os anéis 9H-fluorenil (16j) e 9-Oxo-9H-fluorenil (16k) reduziram a potência, assim como os grupamentos bifenila e naftila (Figura 17 e Tabela 2). A análise do mapa de potencial eletrostático e da superfície de van der Waals mostrou um perfil semelhante para os derivados mais ativos. O derivado 17 apresentou uma conformação diferente, o que provavelmente resultou em impedimento estérico e redução da atividade, enquanto 16a e 16m apresentam um volume menor, o que possivelmente reduz as interações com resíduos hidrofóbicos do receptor e resultou em menor atividade (Figura 17 e Tabela 2). 80 Figura 17: Análise teórica dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico (13, 16a-n, 17 e 23). (A) Estrutura tridimensional (cinza= carbono, branco = hidrogênio, vermelho = oxigênio, amarelo = enxofre, vermelho escuro = bromo e amarelo claro = cloro), e (B) Mapa de potencial eletrostático molecular, evidenciando a distribuição de cargas em uma isosuperfície de -150 a 150 KJ/mol. Regiões tendendo para o azul são mais positivas e para o vermelho, mais negativas. As moléculas nos quadros A e B apresentam a mesma orientação. 81 Os derivados 16a, 16b, 16c, 16d, 16h, 16i, 16l e 17 não apresentaram nenhum alerta de risco quanto aos possíveis efeitos mutagênico, tumorigênico, reprodutivo e irritante in silico. Os alertas parecem estar relacionados ao anel fenantreno, naftaleno e 9H-fluorenil. Dentre os derivados mais ativos (16g, 16h, 16e e 16n), o derivado 16h foi o que apresentou menor risco de toxicidade (Figura 18). Figura 18: Perfil de toxicidade in silico dos derivados de ácido piperazino-2,3-dicarboxílico, onde 1 representa baixo risco, 2 = médio e 3 = alto risco. Além disso, todos os derivados desenvolvidos apresentaram uma boa biodisponibilidade oral de acordo com a análise da “regra dos cinco” de Lipinski e também obedeceram a regra modificada para penetração no SNC (Tabela 3). 4.1.2 Docking dos derivados de ácido piperazino-2,3-dicarboxílico no receptor de NMDA Inicialmente foi realizado o redocking do glutamato na estrutura cristalográfica do domínio de ligação ao glutamato da subunidade GluN2A do receptor de NMDA de rato (código PDB = 2A5S) para validação do método. 82 O ensaio teórico se mostrou satisfatório, uma vez que resultou na estrutura do glutamato posicionada no mesmo local e orientação que a estrutura cristal disponível no PDB e com conformação bastante similar (Figura 19). Figura 19: Redocking do glutamato na subunidade GluN2A do receptor de NMDA. Em azul, a estrutura cristalográfica 2A5S e em verde o docking realizado. A partir deste resultado, o docking dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3dicarboxílico foi realizado para avaliar o modo de ligação e as interações com a subunidade GluN2B. A estrutura de GluN2B foi escolhida para ser estudada porque os antagonistas seletivos para esta subunidade demonstraram ter menos efeitos adversos do que aqueles não seletivos (BOYCE et al., 1999). A estrutura tridimensional da subunidade GluN2B foi obtida por modelagem comparativa em estudo anterior (ABREU, 2008). O docking foi realizado usando um grid de dimensão de 65x65x65 cujo centro foi posicionado no centro da proteína e, de acordo com os resultados do docking todas as moléculas se locarizaram no sítio competitivo do receptor onde se liga também o glutamato. Os dockings foram analisados e os complexos escolhidos de acordo com a energia de ligação, o número de conformações presentes nos clusteres e com base no conhecimento prévio sobre o modo de ligação de outros antagonistas. Em geral, 83 foram selecionados aqueles complexos de menor energia presentes nos clusteres de menor energia e contendo maior número de conformações. Os ligantes estudados neste trabalho apresentam semelhança estrutural com aminoácidos e contém sítios ionizáveis. Por isto, foi realizada uma avaliação também da forma zwitteriônica dos derivados de piperazina. O termo zwitterion significa íon híbrido, em alemão, e é usado para representar moléculas que contém igual número de grupos de cargas opostas e, consequentemente, possuem carga líquida igual a zero (NELSON e COX, 2004). Foram observados modos diferentes de interação com o receptor nas formas zwitteriônicas ou não-ionizadas de todos os derivados, exceto do 17 que teve uma conformação ligada semelhante nas duas formas e, 16a que teve o anel piperazina alinhado, mas a fenila em direção oposta (Figura 20). Figura 20: Comparação entre o docking dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico nas formas não-ionizadas (verde) e ionizada (vermelho) na subunidade GluN2B do receptor de NMDA. 84 Na forma não-ionizada, foi possível observar um modo de ligação semelhante na maioria dos derivados que tiveram os anéis em posição semelhante, exceto 16a, 17 e 23 que também não apresentaram atividade significativa (Figura 20). A comparação da energia de ligação mostrou que os quatro derivados mais potentes da série apresentaram energia de ligação menor (16e = -7,85, 16g = -8,76, 16h = -7,15 e 16n = 7,43) do que o derivado menos ativo 16a (-6,35). O derivado 16g com maior valor de pKi também foi o que apresentou menor valor de energia de ligação (Quadro 3). Quadro 3: Ligação de hidrogênio e interação eletrostática entre os ligantes mais ativos (16e, 16g, 16h e 16n) e menos ativo (16a) na forma não-ionizada com a subunidade GluN2B. Ligantes 16a Energia de ligação estimada Kcal/mol -6,35 16e -7,85 16g -8,76 16h -7,15 16n -7,43 Ligações de hidrogênio ou interação iônica Interação de van der Waals (contato a 4Å) His486, Ser512, Thr514, His486, Ser512, Leu513, Asn516, Arg519, Ser690 Thr514, Asn516, Arg519, Gly689, Ser690, Thr691, Tyr731, Asp732 Glu413, Lys485, His486, Glu413, Lys485, His486, Tyr731 Thr514, Gly533, Ile534, Ser690, Thr691, Val714, Tyr731, Asp732, Thr760 Tyr762 Glu413, Lys485, His86, Glu413, Lys485, His486, Tyr731 Gly533, Ile534, Ser690, Thr691, Val714, Tyr731, Asp732, Ala758, Thr760, Tyr762 Glu413, Lys485, His486, Glu413, Lys485, His486, Tyr731 Thr514, Gly533, Ile534, Val686, Ser690, Thr691, Tyr731, Asp732, Thr760, Tyr762 Glu413, Lys485, His486 Leu411, Glu412, Glu413, Lys485, His486, Ser690, Thr691, Val714, Tyr731, Asp732, Thr760, Tyr762 85 Os complexos com as moléculas mais potentes na forma não-ionizada apresentaram os resíduos Glu413, Lys485, His486 e Tyr731 interagindo por ligação de hidrogênio, apenas no complexo com 16n, Tyr731 estava um pouco mais distante para interagir com o ligante. Os resíduos hidrofóbicos Gly533 e Ile534 parecem interagir com os anéis hidrofóbicos, entretanto, em 16n estes resíduos se encontravam também mais distantes para interação. Quando se analisa a forma de zwitterion o modo de ligação foi semelhante para os complexos com 16g, 16h, 16i, 16l e 16n, que são os mais ativos, exceto 16l. Além disso, os complexos com 17 e 23, também apresentaram o anel piperazina alinhado, apesar dos anéis bifenila em 17 e fenantrenila, em 23, estarem voltados para direção diferente dos demais. Os derivados 16c 16d, 16f, 16j, 16k e 16m apresentaram uma conformação semelhante entre si, mas um pouco diferente das moléculas mais ativas (16g, 16h e 16n). O derivado 16e, um dos mais ativos, apresentou o anel piperazina em posição próxima a localização deste em 16g, 16h e 16n, enquanto que o anel fenantrila se localizou em diferente região, provavelmente devido às interações π-π stacking com Tyr731. Os anéis fenantrila de 16g, 9,10-di-hidrofenantrila de 16h e naftila de 16n interagiram com os resíduos apolares Val714 e Gly713. A maior parte das conformações tem os grupos hidrofóbicos voltados na mesma direção, o que pode indicar que a região da proteína em contato com estes grupos pode ser importante e favorecer este encaixe. O derivado 16a interagiu de modo semelhante ao glutamato e diferente das moléculas mais ativas. Na forma zwitteriônica, assim como na forma não-ionizada, a energia de ligação dos derivados mais ativos (16e = -6,93, 16g = -7,58, 16h = -7,11 e 16n = -6,93) também foi menor do que do derivado menos ativo 16a (-6,32). A menor atividade de 16a pode estar relacionada ao seu menor volume e modo de ligação diferente dos demais (Quadro 4). 86 Quadro 4: Ligação de hidrogênio e interação eletrostática entre os ligantes mais ativos (16e, 16g, 16h e 16n) e menos ativo (16a) na forma de zwitterion com a subunidade GluN2B. Ligantes na forma zwitteriônica Energia de ligação estimada 16a -6,32 16e -6,93 16g -7,58 16h -7,11 16n -6,98 Ligações de hidrogênio ou interação iônica Interação de van der Waals Thr514, Arg519, His486, Ser512, Leu513, Ser690, His486 Thr514, Asn516, Arg519, Asn688, Gly689, Ser690 Gly487, Arg519, Lys485, His486, Gly487, Asn688 Lys488, Arg519, Asn688, Pro687, Gly689, Ser690, Thr691, Asp732, Tyr731 Lys485, His486, Glu413, Gly484, Lys485, Gly487 His486, Gly487, Lys488, Asn495, Pro687, Asn688, Gly689, Val714 Gly487, Arg519 Glu413, Lys485, His486, Gly487, Lys488, Ser512, Thr514, Arg519, Asn688, Gly689, Ser690, Val735, Tyr762 Lys485, His486, Glu413, Lys 485, Lys488, Gly487, Asn495 Asn495, Lys485, His486, Gly487, Pro687, Asn688, Tyr731 Apesar de alguns resíduos de aminoácidos estarem interagindo com os ligantes, tanto na forma ionizada quanto não-ionizada, em muitos casos, a interação ocorreu com grupos diferentes do ligante. Nas formas ionizadas, os derivados mais potentes interagiram por ligação de hidrogênio com Gly487. Entretanto, 16g e 16n conservaram outros resíduos de aminoácidos interagindo por ligação de hidrogênio, como His486 e Lys485. O derivado 16a, o menos ativo, apresentou uma conformação diferente dos demais, interagindo mais próximo ao local de ligação do glutamato do que ao local onde interagiram os demais antagonistas. Foram observados os mesmos resíduos interagindo por ligação de hidrogênio que no caso do glutamato (Thr514, Arg519 e Ser690), sendo que o glutamato 87 também interagiu com Thr691 e Ser512, enquanto 16a interagiu com His486 (dados não mostrados). A energia de ligação dos complexos foi menor nas moléculas na forma não-ionizada do que ionizada. Entretanto, na forma ionizada, foi observada a possibilidade de interação por ligação de hidrogênio com Gly487 e de van der Waals com Asn688, o que pode resultar em impedimento do fechamento do domínio S1S2 de ligação ao glutamato, e deste modo, impedir a abertura do poro e passagem de íons. Este fato pode ser observado quando se compara a estrutura da subunidade GluN2B do receptor de NMDA na forma aberta (na qual foi realizado o docking) e a forma fechada, obtida recentemente por modelagem comparativa (ABREU, 2008). Na forma fechada uma alça estaria colidindo com o grupamento carbonila que liga ao anel aromático e ao grupo piperazina nos derivados. Deste modo, a forma zwitteriônica destes derivados impediria o fechamento deste domínio, justificando o antagonismo observado para estes compostos (Figura 21). Figura 21: Docking do derivado 16g na subunidade GluN2B na forma aberta (branca) e comparação com a estrutura na forma fechada (rosa). Em amarelo, está destacada a alça que é impedida de fechar no caso de ligação com o antagonista. Apesar dos valores de energia de ligação serem próximos entre a molécula menos ativa 16a e os antagonistas que tiveram uma atividade alta, como 16e e 16n, é possível que 88 isto se deva ao fato de que o método de docking apenas analisa o modo de ligação que, dentro do grid escolhido, apresenta a menor energia, mas não avalia se este confôrmero, nesta posição, seria capaz de impedir o fechamento do domínio, promovendo o efeito de antagonista. 4.1.2 Análise de antagonistas não-competitivos e do seu sítio de ação Na busca por antagonistas mais seletivos para a subunidade GluN2B foi estudado também um sítio para moduladores alostéricos na região N-terminal onde se liga o ifemprodil. Em 2009, a estrutura tridimensional desta região da subunidade GluN2B de Rattus norvegicus (código PDB = 3JPW) foi determinada por cristalografia e difração de raios-x (código PDB = 3JPW) (KARAKAS, et al, 2009). A análise comparativa da estrutura primária do N-terminal de GluN2B de Rattus norvegicus comparado com o N-terminal de GluN2B de Homo sapiens mostrou uma identidade de 99%. Ao comparar GluN2B de humano com GluN2A de humano, o percentual de identidade foi de 55%. Alguns resíduos estavam conservados nas três sequências, como Cys86 e Cys321 formando ligação dissulfeto, além de Cys232 (Figura 22). Esta região do receptor de NMDA apresenta homologia com a proteína de ligação a leucina/isoleucina/valina com uma arquitetura semelhante a uma concha de marisco, apesar de terem um percentual de identidade total de apenas 4% (SACK et al., 1989). A estrutura do N-terminal de GluN2B de Rattus norvegicus (3JPW) foi usada para a construção do modelo tridimensional da subunidade de GluN2B de humanos, que apresenta mutação em dois resíduos, e do modelo de GluN2A de humanos com 55% de identidade (Figura 22). 89 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano PPSIGIAVILVGTSD--EVAIKDAHEKDDFHHLSVVPRVELVAMNETDPKSIITRICDLM 89 PPSIGIAVILVGTSD--EVAIKDAHEKDDFHHLSVVPRVELVAMNETDPKSIITRICDLM 89 PPALNIAVMLGHSHDVTERELRTLWGPEQAAGLPLDVNVVALLMNRTDPKSLITHVCDLM 90 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano SDRKIQGVVFADDTDQEAIAQILDFISAQTLTPILGIHGGSSMIMADKDESSMFFQFGPS 149 SDRKIQGVVFADDTDQEAIAQILDFISAQTLTPILGIHGGSSMIMADKDESSMFFQFGPS 149 SGARIHGLVFGDDTDQEAVAQMLDFISSHTFVPILGIHGGASMIMADKDPTSTFFQFGAS 150 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano IEQQASVMLNIMEEYDWYIFSIVTTYFPGYQDFVNKIRSTIENSFVGWELEEVLLLDMSL 209 IEQQASVMLNIMEEYDWYIFSIVTTYFPGYQDFVNKIRSTIENSFVGWELEEVLLLDMSL 209 IQQQATVMLKIMQDYDWHVFSLVTTIFPGYREFISFVKTTVDNSFVGWDMQNVITLDTSF 210 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano DDGDSKIQNQLKKLQSPIILLYCTKEEATYIFEVANSVGLTGYGYTWIVPSLVAGDTDTV 269 DDGDSKIQNQLKKLQSPIILLYCTKEEATYIFEVANSVGLTGYGYTWIVPSLVAGDTDTV 269 ED--AKTQVQLKKIHSSVILLYCSKDEAVLILSEARSLGLTGYDFFWIVPSLVSGNTELI 268 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano PSEFPTGLISVSYDEWDYGLPARVRDGIAIITTAASDMLSEHSFIPEPKSSCYNTHEKRI 329 PAEFPTGLISVSYDEWDYGLPARVRDGIAIITTAASDMLSEHSFIPEPKSSCYNTHEKRI 329 PKEFPSGLISVSYDDWDYSLEARVRDGIGILTTAASSMLEKFSYIPEAKASCYGQMERPE 328 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano YQSNMLNRYLINVTFEGRDLSFSEDGYQMHPKLVIILLNKERKWERVGKWKDKSLQMKYY 389 YQSNMLNRYLINVTFEGRNLSFSEDGYQMHPKLVIILLNKERKWERVGKWKDKSLQMKYY 389 VPMHTLHPFMVNVTWDGKDLSFTEEGYQVHPRLVVIVLNKDREWEKVGKWENHTLSLRHA 388 GluN2B_rato GluN2B_humano GluN2A_humano VWPRM 394 VWPRM 394 VWPRY 393 * * Figura 22: Alinhamento estrutural da sequência primária da região N-terminal da subunidade GluN2B de Rattus norvegicus (estrutura cristalográfica 3JPW), GluN2B de humano e GluN2A de humano. Em rosa estão destacados os resíduos conservados no grupo. * marca os resíduos substituídos entre a estrutura de rato e humano. A validação dos modelos foi realizada com base na análise do gráfico de Ramachandran, Verify 3D e ProSA. O gráfico de Ramachandran dos modelos mostrou a maior parte dos resíduos nas regiões mais favoráveis (GluN2A = 84,2% e GluN2B = 84%), semelhante ao molde usado (código PDB = 3JPW), com 83,2% em regiões mais favoráveis, enquanto que nenhum resíduo ficou em região desfavorável (Tabela 4). 90 Tabela 4: Análise dos gráficos de Ramachandran da estrutura cristalográfica do N-terminal de GluN2B do receptor de NMDA de rato e do modelo de GluN2B de humano. 3JPW GluN2A GluN2B Regiões Regiões Regiões Estruturas favoráveis permitidas desfavoráveis 3JPW (molde) 83,2% 16,8% 0% GluN2A (modelo) 84,2% 15,8% 0% GluN2B (modelo) 84,0% 16,0% 0% Na análise do perfil no Verify-3D, foi observado um score 3D-1D acima de -0,1 para o molde e para os modelos, sendo que, no caso do molde (3JPW) 93,89% dos resíduos estavam acima de 0,2. O modelo de GluN2A de humano apresentou 92,86% > 0,2 e de GluN2B de humano, 94,51% > 0,2, o que mostra que os modelos apresentaram valores favoráveis e no caso de GluN2B, até maior do que o molde (Figura 23). 91 Figura 23: Gráfico do Verify-3D mostrando a confiabilidade dos modelos do domínio N-terminal do receptor de NMDA. O modelo de GluN2A de H. sapiens é apresentado em vermelho, GluN2B, em verde e a estrutura cristalográfica de GluN2B de Rattus norvegicus, em azul. Foi feita a análise do score-Z no ProSA que mostrou os modelos de GluN2A (-9,34) e de GluN2B (-8,89) com valores semelhantes ao molde (-8,31) e às estruturas experimentais (raios-x e RMN) disponíveis no PDB (Figura 24). Figura 24: Análise do score-Z das estruturas do N-terminal do receptor de NMDA. A estrutura de GluN2B de Rattus norvegicus (3JPW) é mostrada em preto, GluN2B de humano em vermelho e GluN2A de humano em amarelo. 92 O gráfico de energia que indica a qualidade local dos modelos (Figura 25) mostrou todos os resíduos dos modelos de GluN2A e GluN2B com energia menor do que zero quando observado o gráfico suavizado (em verde) pelo cálculo da média de energia de cada fragmento de 40 resíduos, sendo este valor estabelecido para o resíduo na posição i +19 (WIEDERSTEIN e SIPPL, 2007). Estes dados são consistentes com os parâmetros de uma proteína típica e semelhantes ao molde que ainda apresentou alguns resíduos com energia acima de zero e alta energia (vermelho) na representação dos resíduos de acordo com a energia. Estes resíduos se encontravam em uma alça próxima às posições 210 até 213, ausentes na estrutura do cristal (Figura 25). Figura 25: Na parte superior, gráfico de energia mostrando a energia independente de cada resíduo (verde claro) e a média da energia dos resíduos em função de um resíduo central (verde escuro). Na parte inferior, a estrutura das proteínas mostrando as regiões de menor energia em azul e regiões de maior energia em vermelho. A) Molde (3JPW). B) GluN2A e C) GluN2B. Desta forma, foi realizado o docking do ifemprodil usando o programa Autodock 4.2 para avaliar as interações e determinar características estruturais importantes para a atividade 93 biológica. Recentemente foi demonstrado que o ifemprodil, um derivado de feniletanolamina, pode se ligar a um sítio de alta afinidade (Ki ≈ 0,2-1 μM), localizado no N-terminal (GALLAGHER, 1996; WILLIAMS, 1993; MONY et al, 2009). Estudos recentes de mutação sítio dirigida mostraram resíduos em uma cavidade hidrofóbica (Ile150, Phe176, Phe182, Tyr231 e Leu261) que parecem ser importantes para a atividade do ifemprodil (Figura 26). EA mutação detes resíduos por alanina foi capaz de reduzir significativamente a sensibilidade do ifemprodil quando mutados por alanina, por exemplo (KARAKAS, et al., 2009; PERIN-DUREAU et al., 2002; ALARCON et al., 2008; MONY et al, 2009). Essa região parece ser importante para a interação com ifemprodil, e, possivelmente, para outros antagonistas não-competitivos. Desta forma, foi realizado o docking do ifemprodil com cada uma das subunidades GluN2A e GluN2B do receptor de NMDA humano, de modo a estabelecer uma comparação. O grid foi posicionado no centro da proteína, e incluía a região do bolso hidrofóbico, onde seria o potencial sítio de ação, próxima aos resíduos descritos como importantes para a interação com o ifemprodil (Figura 26). Figura 26: Estrutura do N-terminal da subunidade GluN2B. Em rosa estão destacados os resíduos que formam o bolso hidrofóbico (Ile 150, Phe 176, Phe 182, Tyr 231 e Leu 261). 94 A conformação de menor energia do maior cluster obtida do docking do ifemprodil com cada subunidade (GluN2A e GluN2B) encontrou-se próxima a este sítio hidrofóbico presente no domínio N-terminal, apesar do modo de ligação ter sido invertido (Figura 27). Figura 27: Docking do ifemprodil no domínio N-terminal de GluN2A (rosa) e GluN2B (verde). No complexo com GluN2A foram observados os seguintes resíduos a 4 Å do ifemprodil Asp103, Thr104, Asp105, His128, Gly129, Gly130, Ser132, Met133, Ile134, Gln146, Phe147, Phe147, Gly148, Ala149, Gln154, Ser259, Leu260, Gly263, Asn264, Tyr281, Asp282, Tyr355, dos quais Thr104 e Ser259 interagem por ligação de hidrogênio. No complexo com GluN2B, Asp101, Asp102, Thr103, Ile126, His127, Gly128, Ser131, Met132, Ile133, Phe146, Gly147, Pro148, Gln153, Ser260, Leu261, Gly264, Asp265, Tyr282, Asp283 e Arg292 estavam a cerca de 4 Å dos quais Gln153, Ile133 e Phe146 interagem por ligação de hidrogênio. Apesar de ter sido relatado na literatura uma diferença de afinidade do ifemprodil de até 100 vezes maior para o GluN2B do que para o GluN2A, neste estudo a energia de ligação estimada no programa Autodock 4.2 foi muito semelhante (GluN2B = -6,64 e GluN2A = 6,41), não sendo vista nenhuma particularidade que justificasse esta diferença de afinidade. 95 Recentemente, Karakas e colaboradores (2011) conseguiram obter a estrutura cristalográfica do domínio N-terminal de GluN2B do receptor de NMDA de Rattus norvegicus ligada ao ifemprodil, e a outro antagonista, Ro25-6981. Ambos se ligaram de de forma similar e a partir deste estudo foi demonstrado que o ifemprodil se ligava em uma região entre GluN2B e GluN1, interagindo com ambas subunidades. Sendo assim, foi analisado o sítio de ligação ao ifemprodil comparando a subunidade GluN2B com GluN2A (KARAKAS et al., 2011). A estrutura do ifemprodil ligada ao receptor na estrutura cristalográfica (3QEL) apresenta uma conformação estendida medindo cerca de 15 Å. Desta forma, foi feita uma análise dos resíduos localizados até 15 Ǻ do centro do ligante (átomo de nitrogênio) de GluN2B e GluN2A e foram observadas as substituições nos seguintes resíduos Ile81, Ile108, Ile111, Ala117, Gln118, ser130, Gln180, Asp181, Leu204, Leu209, Thr233 e Glu235 de GluN2B (Quadro 5). Quadro 5: Resíduos de aminoácidos da subunidade GluN2B do receptor de NMDA a 15 Å do átomo de nitrogênio do ifemprodil e os resíduos alinhados na subunidade GluN2A. Em vermelho estão aqueles que divergem entre uma subunidade e outra. Estrutura GluN2B Resíduos a Thr76, Asp77, Pro78, Lys79, 15 Å do Ile81, Ile82, Asp101, Thr103, ifemprodil Asp104, Gln105, Glu106, Ala107, Ile108, Ala109, Gln110, Ile111, Leu112, Asp113, Phe114, Ile115, Ser116, Ala117, Gln118, Gly128, Gly129, Ser130, Ser131, Met132, Ile133, Met134, Ala135, Asp136, Lys137, Asp138, Phe143, Gln145, Ile150, Thr173, Thr174, Tyr175, Phe176, Pro177, Gly178, Tyr179, Gln180, Asp181, Leu204, Leu205, Asp206, Met207, Ser208, Leu209, Tyr231, Cys232, Thr233, Lys234, Glu235, Glu236, Ala237, Leu261 Resíduo alinhado em GluN2A Thr77, Asp78, Pro79, Lys80, Leu82, Ile83, Asp102, Thr104, Asp105, Gln106, Glu107, Ala108, Val109, Ala110, Gln111, Met112, Leu113, Asp114, Phe115, Ile116, Ser117, Ser118, His119, Gly129, Gly130, Ala131, Ser132, Met133, Ile134, Met135, Ala136, Asp137, Lys138, Asp139, Phe144, Gln146, Ile151, Thr174, Thr175, Ile176, Phe177, Pro178, Gly179, Tyr180, Arg181, Glu182, Thr205, Leu206, Asp207, Thr208, Ser209, Phe210, Tyr232, Cys233, Ser234, Lys235, Asp136, Glu237, Ala238, Leu261 96 Alguns destes aminoácidos se encontram mais próximos do ligante podendo interagir diretamente com o ifemprodil e outros, mais distantes, interagem, provavelmente, de forma indireta, influenciando na posição de resíduos que interagem diretamente com o ligante. Assim, esses resíduos podem ser responsáveis pela diferença de afinidade das feniletanolaminas pelas subunidades GluN2A e GluN2B do receptor de NMDA. Antes de realizar o docking com outros antagonistas não-competitivos, foi feito o redocking do ifemprodil no sítio de ligação localizado entre a região N-terminal de GluN2B e da subunidade GluN1, para validar o método. Assim, foi observada uma similaridade na conformação e no modo de ligação do ifemprodil com o receptor que interagiu na mesma posição (Figura 28). Figura 28: Redocking do ifemprodil no receptor de NMDA. Em amarelo a estrutura obtida por docking e em vermelho a estrutura cristalográfica de GluN1/GluN2B em complexo com ifemprodil (3QEL). A partir disto, foi realizado o docking do ifemprodil com o dímero GluN1/GluN2A obtido por modelagem comparativa para comparar com a estrutura cristalográfica do dímero GluN1/GluN2B ligada ao ifemprodil Os resultados obtidos revelaram um modo de interação diferente do ifemprodil com GluN2A em comparação com GluN2B, em que os anéis aromáticos do ligante estão em 97 posição invertida e a conformação do ligante está mais dobrada. A distância entre os anéis aromáticos foi de cerca de 12 Ǻ em GluN2B, enquanto em GluN2A foi de cerca de 9 Ǻ (Figura 29). Figura 29: Interação do ifemprodil com o domínio N-terminal. Em branco o ifemprodil ligado a GluN2B (código PDB 3QEL) e em laranja docking com o modelo de GluN2A. A energia de ligação quando se comparou o complexo formado entre o ifemprodil e a subunidade GluN2A obtida por docking e o complexo obtido pelo redocking com a subunidade GluN2B foi semelhante (-5,11 e -5,82 respectivamente), sendo um pouco menor no caso da subunidade GluN2B. A análise das interações de GluN1/GluN2B com o ifemprodil mostra que os resíduos Tyr109, Thr110, Arg115, Ser132, Ile133, Leu135 estão a cerca de 4Ǻ do ligante na subunidade GluN1, sendo que Ser132 fazia ligação de hidrogênio com esta subunidade enquanto Ala107, Gln110, Ile111, Phe114, Thr174, Tyr175, Phe176, Pro177 e Glu236 estão a cerca de 4Ǻ com GluN2B, sendo que Gln110 e Glu236 faziam ligação de hidrogênio. No caso de GluN1/GluN2A foram observados os resíduos Tyr109A, Thr110A, Ala75A, Tyr114A, 98 Lys80A, Cys329A, Cys79A, Gly112, Phe113 e Ile133A, a 4Å de GluN1 e Pro79, Phe115, Met112, Ala108 e Gln111 a 4 Å de GluN2B enquanto Thr110 e Tyr114 interagem por ligação de hidrogênio com GluN1 e Lys80 com GluN2B (Figura 30). Figura 30: Região de interação do ifenprodil no NMDAR mostrando os resíduos de aminoácidos que estão localizados a cerca de 4Å do ifemprodil. Os traços verdes mostram resíduos interagindo por ligação de hidrogênio. A) Estrutura cristalográfica de GluN1/GluN2B. B) Modelo de GluN1/GluN2A. Os resíduos da subunidade GluN1 estão identificados com a letra A no final do código e número do resíduo de aminoácido e os da subunidade GluN2 com a letra B. 99 Como é possível observar, os resíduos que estão envolvidos em ligação de hidrogênio foram diferentes. Alguns resíduos que interagiram por van der Waals foram os mesmos Tyr109, Thr110, Ile133, Ala107, Gln110 e Phe114 (numeração de GluN2B), enquanto Tyr109 foi substituída por isoleucina em GluN2A, o que corresponde à troca de um aminoácido polar por um apolar, e Ile111 foi substituída por metionina, esta troca de um aminoácido apolar por um contendo enxofre pode trazer características diferentes ao sítio ativo. Neste trabalho, foi realizado o docking da fenil-amidina 1a, o composto mais ativo descrito no estudo de Claiborne e colaboradores (2003), e das triazolil-amidinas 2a, 2e e 2f planejadas anteriormente por nosso grupo (Abreu, 2008), com o receptor. Este estudo pretendeu avaliar as possíveis interações possíveis e estabelecer uma comparação entre as energias de ligação, e correlacionar estes dados com a atividade biológica, o que pode auxiliar no desenho de novas moléculas. A molécula 2a foi escolhida por ter sido sintetizada e testada quanto ao efeito neuroprotetor em neurônios frente à morte celular provocada pelo glutamato e as moléculas 2e e 2f porque, dentre os derivados planejados, estes foram preditos com maior potência (ABREU, 2008) (Tabela 5). 100 Tabela 5: Estrutura e atividade biológica experimental (pIC50Exp) e predita (pIC50pred) da fenilamidinas 1a e das triazolil-amidinas 2a, 2e e 2f e energia de ligação (EL) estimada. # Estrutura NH pIC50 Predb ELc 8,39 8,12 -4,02 ND 7,71 -6,23 ND 8,46 -5,74 ND 9,41 -6,74 OCH3 N H 1a pIC50 Expa F3CO NH N N N 2a N H NH 2e N H H3CO N N N NH 2f a N N N N H N N N descrito na literatura (Claiborne et al, 2003). .bavaliado por nosso grupo usando QSAR em estudo anterior (Abreu, 2008). c energia de ligação estimada pelo docking no programa Autodock. ND = não determinado Em todas as triazolil-amidinas, os resíduos Tyr109, Thr110, Phe113, Ser132 e Ile133 se encontravam a 4 Å de GluN1, enquanto Pro78, Ala107, Gln110, Ile111 e Phe114 de GluN2B. Todas as amidinas, exceto 2f, fazem ligação de hidrogênio com Phe113. 2a e 2f apresentaram ligação de hidrogênio com o resíduo Gln110, assim como o ifemprodil, enquanto 2a e 2e com Tyr109 (Quadro 6 e Figura 31). 101 Quadro 6: Comparação dos resíduos envolvidos nas interações com os ligantes (ifemprodil, fenilamidina 1a e triazolil-amidina 2a, 2e e 2f) na estrutura de GluN1/GluN2B obtida por cristalografia. Os resíduos em vermelho fazem interação com o ligante por ligação de hidrogênio. Ligante Resíduos a 4 Å do ligante em Resíduos a 4 Å do ligante em GluN2B GluN1 ifemprodil Thr110, Tyr109, Ile133, Leu135, Ala107, Gln110, Ile111, Phe114, Arg115, Ser132 Thr174, Tyr175, Phe176, Pro177, Glu236 Ser108, Tyr109, Glu106, Ala107, Gln110, Glu235 1a Gly112, Phe113, Arg115, Ile133, Thr333, Asn334, Ile335 Tyr109, Thr110, Gly112, Phe113, Pro78, Ile82, Ala107, Gln110, Ile111, 2a Ser132, Ile133 Phe114, Met134, Pro177 Ser108, Tyr109, Thr110, Gly112, Pro78, Ala107, Gln110, Ile111, Phe114, 2e Phe113, Ser132, Ile133, Leu135 Pro177 Tyr109, Thr110, Phe113, Ser132, Pro78, Ile82, Ala107, Gln110, Phe114, 2f Ile133 Met134 Ala135, Asp136, Ile111 Figura 31: Principais resíduos de aminoácidos de GluN1/GluN2B interagindo com A) fenil-amidina 1a, B) triazolil-amidina 2a, C) triazolil-amidina 2e, D) triazolil-amidina 2f. Tracejado verde representa as ligações de hidrogênio. 102 Todas as fenil-amidinas planejadas apresentaram energia de ligação menor do que a fenil-amidina mais ativa do outro estudo (Tabela 5). A menor energia de ligação foi obsevada no complexo com 2f que também havia sido predita com melhor atividade no estudo anterior. O derivado 2f foi o que apresentou menos ligações de hidrogênio, o que sugere a importância das interações mais fracas para o encaixe no receptor (Figura 31 e Quadro 6). Os ligantes interagiram em regiões equivalentes no receptor e ao menos um dos anéis fenila dos antagonistas estava alinhado em todos casos, exceto o do ligante 1a. A conformação biologicamente ativa do ifemprodil é mais estendida, enquanto a fenil-amidina, torcida em uma direção, em contraste com as triazolil-amidinas que aparecem em direção oposta (Figura 32). Desta forma, os ligantes parecem interagir com alguns resíduos de aminoácidos diferentes do sítio ativo. Figura 32: Comparação do modo de ligação dos ligantes não competitivos ao receptor de NMDA. Ifemprodil (vermelho), fenil-amidina 1a (laranja) e as triazolil-amidinas 2a (verde), 2e (azul) e 2f (rosa). Foi observado que as triazolil-amidinas 2a e 2f, ambas com anéis fenila não substituídos, apresentaram energia de ligação de -6,23 e -6,74, respectivamente, o que foi menor do que a energia de ligação do ifemprodil (-5,82). 103 4.2 Modelagem molecular para desenvolvimento de antivirais 4.2.1 Estudo da relação estrutura-atividade A atividade anti-herpes foi medida pela dose infectante em cultura de tecido (TCID50), na qual a diluição viral promove efeito citopático em 50% das células, sendo avaliada pelo decréscimo do título viral na presença dos derivados (ABREU et al., 2011). De acordo com a análise do potencial antiviral contra HSV1 da nova série de oxoquinolinas (2a, 2b, 3a, 3b, 4a, 4b, 5a, 5b), o derivado mais promissor foi 3b (Figura 33 e 34). Figura 33: Estruturas dos derivados oxoquinolínicos testado contra HSV-1. TCID50/ml x 105 104 Figura 34: Avaliação biológica da atividade anti-HSV-1 dos derivados oxoquinolínicos (2a, 2b, 3a, 3b, 4a, 4b, 5a, 5b e do aciclovir) medida pela dose infectante em cultura de tecido (TCID50) (ABREU et al., 2010). O estudo da relação estrutura-atividade revelou algumas propriedades estereoeletrônicas relacionadas com a atividade anti-herpes como área de superfície molecular e volume molecular, onde os derivados com maior potência (3b e 4a) apresentaram menores valores (Figura 35 e Tabela 11). A maior atividade de 3b comparando com os outros derivados pode estar relacionada à menor energia de LUMO (maior caráter eletrofílico), menor lipofilicidade e maior área de superfície polar e número de grupos aceptores e doadores de ligação de hidrogênio, visto que estes parâmetros têm sido descritos como importantes para o reconhecimento pelo alvo (Figura 35 e Tabela 11). 105 Figura 35: Característica estrutural e eletrônica dos derivados oxoquinolínicos (2a, 2b, 3a, 3b, 4a, 4b, 5a, 5b). A) Representação em CPK da conformação mais estável (cinza= carbono, branco = hidrogênio, vermelho = oxigênio, azul = nitrogênio, verde = flúor, laranja = cloro). B) Mapa de potencial eletrostático molecular (direita) e densidade de potencial (esquerda). As cores do mapa de potencial estão na faixa de -150 a + 150 kJ/mol, regiões tendendo para o azul são mais positivas e para o vermelho, mais negativas. Interessantemente, o derivado mais bioativo 3b apresentou um perfil diferente dos demais. As diferenças entre 3a (R1 = Cl) e 3b (R1 = F) envolvendo seus perfis de atividade e mapas de potencial eletrostático apontam para a importância do átomo de flúor (menor volume e maior eletronegatividade) como substituinte para a atividade biológica. A comparação de 3b com 2b e 5b, com diferentes substituintes na posição 3 do grupo oxoquinolina, sugere um provável impedimento estérico em 2b e 5b devido ao volume e distribuição de cargas específica dos substituintes (Figura 35 e Tabela 6). 106 Tabela 6: Propriedades estereoeletrônicas das oxoquinolinas, incluindo parâmetros estéricos - volume molecular (VM, Å3), massa molecular (MM, g/mol), área superfícial molecular (ASM, Å2), área de superfície polar (ASP = Å2) e número de ligações rotacionáveis (nLR), parâmetros eletrônicos energia de HOMO/LUMO (EHOMO e ELUMO = eV) e parâmetros farmacocinéticos - número de aceptores/doadores de ligação de hidrogênio (nALH e nDLH) e coeficiente de partição octanol/água calculado (cLogP). # EHOMO ELUMO ASM VM MM cLogP nALH nDLH ASP nRot 2a -8,84 1,62 333,07 305,93 325,75 1,02 6 1 59,44 7 2b -8,9 1,62 325,01 297,59 309,29 0,47 6 1 59,55 7 3a -8,92 1,46 309,63 281,70 311,72 -1,07 7 4 93,72 5 3b -8,98 1,46 300,57 273,31 295,27 -1,62 7 4 93,71 5 4a -7,79 2,07 289,84 267,32 260,29 0,82 5 2 57,81 4 4b -8,58 1,88 305,73 278,64 286,29 1,98 7 0 75,09 5 5a -8,82 1,53 398,28 374,63 386,83 1,48 6 2 61,53 7 5b -8,83 1,52 389,27 366,25 370,38 0,93 6 2 61,54 7 4.2.2 Estudo da relação da estrutura com a citotoxicidade Um estudo da relação estrutura-toxicidade dos derivados foi realizado para avaliar as características relacionadas a um perfil de menor citoxicidade. A análise do efeito citopático em células Vero (CC50) mostrou que o derivado 2b foi o menos citotóxico, seguido de 3b, 3a e 5b que não apresentaram citotoxidade significativa na maior concentração usada (1000 μM). Todos os derivados de oxoquinolinas eram menos tóxicos do que aciclovir (860 μM) (ABREU et al., 2011) (Figura 36). 107 Figura 36: Avaliação do perfil citotóxico (CC50) dos derivados oxoquinolínicos (ABREU et al., 2011). Foi observado que as cloro-oxoquinolinas foram mais tóxicas do que as flúoroxoquinolinas, o que pode ser observado pela comparação entre 2a (R1 = Cl), 2b (R1 = F), 3a (R1 = Cl) e 3b (R1 = F), 5a (R1 = Cl) e 5b (R1 = F). Este fato pode estar relacionado à maior lipofilicidade do cloro, o que poderia levar a maior penetração através das membranas. O derivado de oxoquinolina mais ativo, 3b, apresentou o segundo menor perfil de toxicidade, inclusive menor do que o aciclovir, um antiviral de uso clínico, nos ensaios in vitro (Figura 36). 4.2.3 Análise in silico das propriedades farmacocinéticas Neste trabalho, a série de derivado de oxoquinolina foi avaliada segundo a “regra dos cinco” de Lipinski, que envolve a análise de diferentes parâmetros e a probabilidade de que um composto químico tenha boa biodisponibilidade quando administrado por via oral em humanos (LIPINSKI et al., 2001). Os resultados mostraram que todos os derivados preencheram esta regra (MM = 260,29 – 386,83 g/mol, cLogP = -1,62–1,98, nALH = 5–7 e 108 nDLH = 0–4). Além disso, foi calculada a área de superfície polar (57,81-93,72 Å2) que deve ser menor do que 140Å2 e número de ligações rotacionáveis (4-7), que deve ser menor do que 10. Estes valores indicam, por conseguinte, que esta série deve apresentar uma boa biodisponibilidade oral (Tabela 7). Além disso, foi feita a avaliação da “regra dos cinco” de Lipinski modificada para penetração no SNC, que mostrou que todos os derivados contemplam ao menos, três requisitos desta regra. Apenas 3a e 3b tiveram número de doadores de ligação de hidrogênio maior do que o preconizado pela regra. Foi feita uma análise na base de dados PK/DB para predição de propriedades farmacocinéticas e comparou-se com o aciclovir, o principal fármaco anti-herpes usado atualmente (Tabela 7). Tabela 7: Valores das propriedades farmacocinéticas obtidas in silico para os derivados de oxoquinolinas e o aciclovir. Absorção intestinal humana (Human intestinal absorption - HIA), biodisponibilidade oral (F), ligação a proteínas plasmáticas (plasmatic protein binding - PPB), coeficiente de partição cérebro-sangue que avalia a penetração na barreira hematoencefálica (Log BB), solubilidade em água (Log S). Os valores de HIA, F e PPB são fornecidos em percentagem da dose administrada de um composto. S é a solubilidade em água à temperatura de 20-25ºC em mol/l. # HIA (%) F (%) PPB (%) Log BB Log S 2a 89,64 53,44 43,12 -0,78 -2,91 2b 89,31 55,27 40,22 -0,71 -2,54 3a 81,86 50,75 43,91 -0,78 -2,64 3b 81,53 52,75 41,00 -0,71 -2,28 4a 77,14 51,39 38,99 -0,15 -3,57 4b 95,66 49,59 47,50 -0,08 -3,65 5a 91,66 60,71 67,00 -0,73 -4,08 5b 91,34 61,59 64,10 -0,60 -3,71 Aciclovir 29,30 21,35 24,96 -1,29 -1,72 109 Com relação à biodisponibilidade oral (F), é possível separar basicamente três grupos de fármacos (aqueles com baixa biodisponibilidade apresentam valores ≤ 40%, média = 4180% e alta ˃ 80%) (MODA et al., 2007). Os derivados de oxoquinolinas apresentaram uma biodisponibilidade média enquanto o aciclovir apresentou uma baixa biodisponibilidade. A absorção intestinal (HIA) de um fármaco administrado por via oral está relacionada a permeabilidade, ou seja, a capacidade da molécula de atravessar as membranas antes de ser distribuída pelo organismo e chegar ao sítio ativo. Nesta série, o percentual de HIA variou nesta série de 77,14% a 95,66%, sendo maior do que a do aciclovir (29,30%). Os valores de Log BB sugerem uma maior penetração na barreira hematoencefálica no caso dos derivados de oxoquinolinas do que do aciclovir. Log S foi menor do que do aciclovir indicando menor solubilidade em água dos derivados (Tabela 7). Além disso, foi avaliada a ligação a proteínas plasmáticas, o que é importante porque determina a fração da molécula biodisponível livre distribuída por vários tecidos. Os valores variaram de 38,99 a 67,00, sendo maior do que o aciclovir, o composto mais potente 3b teve um dos menores valores. A análise destes parâmetros é importante, uma vez que está diretamente relacionada à absorção, metabolismo, distribuição e excreção. 4.3 Modelagem Molecular para desenvolvimento de antifúngicos 4.3.1 Predição da estrutura tridimensional da CYP51 O alinhamento da sequência primária da CYP51 de Cryptococcus neoformans com proteínas da mesma família de outros micro-organismos (Coccidioides immitis, Aspergillus fumigatus, Candida albicans, C. tropicalis, Saccharomyces cerevisae, Pneumocistis jiroveci, 110 Mus musculus, Rattus norvegicus, Homo sapiens, Trypanosoma cruzi, Leishmania major e Mycobacterium tuberculosis) revelou um percentual de identidade global variando de 25% a 46% (Tabela 8). Apesar de baixa identidade na estrutura primária, a estrutura secundária da CYP51 é conservada entre as proteínas da família que também apresentaram um enovelamento similar conforme observado para as proteínas que têm a estrutura elucidada por cristalografia e difração de raios-X (Tabela 8 e Figura 37). O modelo tridimensional foi construído a partir deste alinhamento, sendo usado como molde a estrutura cristalográfica da CYP51 de humanos (código PDB = 3LD6) com percentual de identidade de 36% (Tabela 8). Além disso, comparando o sítio ativo da CYP51 de H. sapiens e de M. tuberculosis, na região até 10 Ǻ de distância do átomo de ferro do heme, observou-se que a enzima de C. neoformans apresentava maior identidade na sequência de aminoácidos com a humana (75%) do que com a de M. tuberculosis (55%). Isso indica que o molde H. sapiens seria a melhor escolha para predizer a estrutura do que M. tuberculosis, visto que apresenta mais resíduos idênticos na proteína inteira (Tabela 8) e também no sítio ativo (Quadro 7). 111 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans tropicalis cerevisiae jiroveci musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis KDLPPVVFHYIPWFGSAAYYGEDPYKFLFECRDKYG-DLFTFILMGRRITVALGPKGNNLS GAKPPVVFHWVPFIGSAISYGLDPYRFFTSCREKYG-DIFTFVLLGRKVTVYLGVKGNEFI RTEPPMVFHWVPFLGSTISYGIDPYKFFFACREKYG-DIFTFILLGQKTTVYLGVQGNEFI KDRAPLVFYWIPWFGSAASYGQQPYEFFESCRQKYG-DVFSFMLLGKIMTVYLGPKGHEFV KDRVPMVFYWIPWFGSAASYGMQPYEFFEKCRLKYG-DVFSFMLLGKVMTVYLGPKGHEFI KDRPPLVFYWIPWVGSAVVYGMKPYEFFEECQKKYG-DIFSFVLLGRVMTVYLGPKGHEFV SSKPPVVFHWLPFIGSTIQYGMDPYKFFQKQKKKHG-NIFTFILLGKKMTVALGPKGNDIL AKSPPHIYSPIPFLGHAIAFGKSPIEFLENAYEKYG-PVFSFTMVGKTFTYLLGSDAAALL AKSPPYIYSPIPFLGHAIAFGKSPIEFLENAYEKYG-PVFSFTMVGKTFTYLLGSDAAALL VKSPPYIFSPIPFLGHAIAFGKSPIEFLENAYEKYG-PVFSFTMVGKTFTYLLGSDAAALL PTDPPVYPVTVPFLGHIVQFGKNPLEFMQRCKRELKSGVFTISIGGQRVTIVGDPHEHSRF PTDPPVVHGAMPFVGHIIQFGKDPLDFMLNAKKKYG-GVFTMNICGNRVTVVGDVHQHNKF AVALPRVSGGHDEHGHLEEFRTDPIGLMQRVRDECG-DVGTFQLAGKQVVLLSGSHANEFF 117 98 93 104 104 112 101 117 117 117 89 88 62 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans tropicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis LGGKISQVSAEEAYTHLTTPVFGKGVVYDCPNEMLMQQKKFIKSGLTTESLQSYPPMITS LNGKLQDVNAEEVYSPLTTPVFGSDVIYDCPNQKLMEQKKFIKFGLSSEALASYVPLIQH LNGKLKDVNAEEVYSPLTTPVFGSDVVYDCPNSKLMEQKKFIKYGLTQSALESHVPLIEK FNAKLSDVSAEDAYKHLTTPVFGKGVIYDCPNSRLMEQKKFAKFALTTDSFKRYVPKIRE YNAKLSDVSAEEAYTHLTTPVFGKGVIYDCPNSRLMEQKKFAKFALTTDSFKTYVPKIRE FNAKLADVSAEAAYAHLTTPVFGKGVIYDCPNSRLMEQKKFVKGALTKEAFKSYVPLIAE FNGKLSSLSAEEAYTHLTTPVFGTDVVYDVPNHVLMEQKKFVKTGFTIETFRAYVPLIIE FNSKNEDLNAEEVYGRLTTPVFGKGVAYDVPNAIFLEQKKIIKSGLNIAHFKQYVPIIEK FNSKNEDLNAEEVYGRLTTPVFGKGVAYDVPNAVFLEQKKILKSGLNIAHFKQYVSIIEK FNSKNEDLNAEDVYSRLTTPVFGKGVAYDVPNPVFLEQKKMLKSGLNIAHFKQHVSIIEK FSPRNEILSPREVYT-IMTPVFGEGVAYSAPYPRMREQLNFLAEELTIAKFQNFVPAIQH FTPRNEILSPREVYS-FMVPVFGEGVAYAAPYPRMREQLNFLAEELTVAKFQNFAPSIQH FRAGDDDLDQAKAYP-FMTPIFGEGVVFDASPERRKE--MLHNAALRGEQMKGHAATIED 177 158 153 164 164 172 161 177 177 177 148 147 119 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans Immitis fumigatus albicans troplicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis ECEDFFTKEVGIS-PQKPSATLDLLKAMSELIILTASRTLQGKEVRESLNG-QFAKYYED EVEQYIASSPHFK---GESGTMNVLQVMAEITILTAARTLQGEEVRSKLDS-SFANYYHD EVLDYLRDSPNFQ---GSSGRMDISAAMAEITIFTAARALQGQEVRSKLTA-EFADLYHD EILNYFVTDESFKLKEKTHGVANVMKTQPEITIFTASRSLFGDEMRRIFDR-SFAQLYSD EVLNYFVNDVSFKTKERDHGVASVMKTQPEITIFTASRCLFGDEMRKSFDR-SFAQLYAD EVYKYFRDSKNFRLNERTTGTIDVMVTQPEMTIFTASRSLLGKEMRAKLDT-DFAYLYSD EVKTYLETSPIFG-KDKLSGVSSLMKALPEITIFTASRTLQGKEVRSNFDA-SFAKLYHD EAKEYFQS-------WGESGERNVFEALSELIILTASHCLHGKEIRSQLNE-KVAQLYAD EAKEYFKS-------WGESGERNVFEALSELIILTASHCLHGKEIRSQLNE-KVAQLYAD ETKEYFES-------WGESGEKNVFEALSELIILTASHCLHGKEIRSQLNE-KVAQLYAD EVRKFMAEN-----WKKDEGVINLLEDCGAMIINTACQCLFGEDLRKRLNARHFAQLLSK EVRKFMKAN-----WNKDEGEINILDDCSAMIINTACQCLFGEDLRKRLDARQFAQLLAK QVRRMIAD-------WGEAGEIDLLDFFAELTIYTSSACLIGKKFRDQLDG-RFAKLYHE 235 214 209 223 223 231 219 229 229 229 203 202 171 C.neoformans C. immitis A. fumigatus C. albicans C. troplicalis S. cerevisiae P. carinii M. musculus R. norvegicus H. sapiens T. cruzi L. major M. tuberculosis LDGGFTPLNFMFP---NLPLPSYKRRDEAQKAMSDFYLKIMENRRK--GESDHEHDMIEN LDSGFTPINFLLP---WAPLPHNRKRDAAHKKMRDVYMDIIKKRRISGQE--RGHDMLWN LDKGFTPINFMLP---WAPLPHNKKRDAAHARMRSIYVDIIKQRRLDGDKDSQKSDMIWN LDKGFTPINFVFP---NLPLPHYWRRDAAQKKISATYMKEIKSRRD-RGDIDPNRDLIDS LDKGFTPINFVFP---NLPLPHYWRRDAAQRKISAHYMKEIKRRRE-SGDIDPKRDLIDS LDKGFTPINFVFP---NLPLEHYRKRDHAQKAISGTYMSLIKERRK-NNDIQ-DRDLIDS LDGGFTPINFLAP---WLPLPKNRLRDAAQKKMAQIYMNIIKQRRK-TCQHE-EKDMIWN LDGGFTHAAWLLPA--WLPLPSFRRRDRAHREIKNIFYKAIQKRRL---SKEPAEDILQT LDGGFSHAAWLLPG--WLPLPSFRRRDRAHREIKNIFYKAIQKRRL---SKEPAEDILQT LDGGFSHAAWLLPG--WLPLPSFRRRDRAHREIKDIFYKAIQKRTQ---SQEKIDDILQT MESSLIPAAVFMPWLLRLPLPQSARCREARAELQKILGEIIVAREKEEASKDNNTSDLLG MESCLIPAAVFLPWILKLPLPQSYRCRDARAELQDILSEIIIAREKEEAQKDSNTSDLLA LERGTDPLAYVDP---YLPIESFRRRDEARNGLVALVADIMNGRIANPPTDKSDRDMLDV 290 269 266 279 279 286 274 284 284 284 263 262 228 Figura 37: Alinhamento da estrutura primária da CYP51 de diferentes espécies. Em vermelho estão as regiões de α-hélice, em verde, as folhas β e em azul, as alças (Parte 1). 112 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans troplicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis LQS-CKYRNGVPLSDRDIAHIMIALLMAGQHTSSATSSWTLLHLA--DRPDVVEALYQEQ LMDNCVYKDGTALPDKEIAHLMITLLMAGQHTSSAISAWAILQLA--AHPEVMEGLYQEQ LMN-CTYKNGQQVPDKEIAHMMITLLMAGQHSSSSISAWIMLRLA--SQPKVLEELYQEQ LLIHSTYKDGVKMTDQEIANLLIGILMGGQHTSASTSAWFLLHLG--EKPHLQDVIYQEV LLVNSTYKDGVKMTDQEIANLLIGVLMGGQHTSASTSAWFLLHLA--EQPQLQDDLYEEL LMKNSTYKDGVKMTDQEIANLLIGVLMGGQHTSAATSAWILLHLA--ERPDVQQELYEEQ LMN-QHYKDGRKLTDKEIAHLMIAILMAGQHTSAATGCWALLHLA--EKPEYIKLLLEEQ LLD-STYKDGRPLTDEEISGMLIGLLLAGQHTSSTTSAWMGFFLA--KDKPLQEKCYLEQ LLD-STYKDGRPLTDDEIAGMLIGLLLAGQHTSSTTSAWMGFFLA--RDKPLQDKCYLEQ LLD-ATYKDGRPLTDDEVAGMLIGLLLAGQHTSSTTSAWMGFFLA--RDKTLQKKCYLEQ GLLKAVYRDGTRMSLHEVCGMIVAAMFAGQHTSTITTSWSMLHLMHPKNKKWLDKLHKEI SLLGAVYRDGTRMSQHEVCGMIVAAMFAGQHTSTITTTWSLLHLMDPRNKRHLAKLHQEI LIAVKAETGTPRFSADEITGMFISMMFAGHHTSSGTASWTLIELMR--HRDAYAAVIDEL 347 327 323 337 337 344 331 341 341 341 323 322 286 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans troplicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis KQKLGNPD--GTFRDYRYEDLKELPIMDSIIRETLRMHAPIHSIYRKVLSDIPVPPSLSA VQVFGPS------KSITLGDIDRLSFSQMVIKETLRLHAPIHSIMRKAKNTMAVP----LANLGPAGPDGSLPPLQYKDLDKLPFHQHVIRETLRIHSSIHSIMRKVKSPLPVP----VELLKEKG--GDLNDLTYEDLQKLPSVNNTIKETLRMHMPLHSIFRKVTNPLRIP----TNLLKEKG--GDLNDLTYEDLQKLPLVNNTIKETLRMHMPLHSIFRKVMNPLRVP----MRVLD-----GGKKELTYDLLQEMPLLNQTIKETLRMHHPLHSLFRKVMKDMHVP----KRVFG-----DNLDDLTYDNLKDMELLSYVIKETLRLHPPLHSIIRKVKSPILIE----KAVCG-----EDLPPLTYDQLKDLNLLDRCIKETLRLRPPIMTMMRMAKTPQTVAG---KTVCG-----EDLPPLTYEQLKDLNLLDRCIKETLRLRPPIMTMMRMAKTPQTVAG---KTVCG-----ENLPPLTYDQLKDLNLLDRCIRETLRLRPPIMIMMRMARTPQTVAG---DEFPAQLN--------YDNVMDEMPFAERCVRESIRRDPPLLMVMRMVKAEVKVG----DEFPAQLN--------YDNVMEEMPFAEQCARESIRRDPPLIMLMRKVLKPVQVG----DELYGDGR------SVSFHALRQIPQLENVLKETLRLHPPLIILMRVAKGEFEVQG---- 405 376 378 390 390 394 381 392 392 392 370 369 336 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans troplicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis PSENGQYIIPKGHYIMAAPGVSQMDPRIWQDAKVWNPARWHDEKGFAAAAMVQYTKAEQV ---GTNLVIPESHILLSAPGFTARSEDHFKDAAKWNPHRWLSVI--ER-----SEADEKI ---GTPYMIPPGRVLLASPGVTALSDEHFPNAGCWDPHRWENQA--TKE----QENDEVV ---ETNYIVPKGHYVLVSPGYAHTSERYFDNPEDFDPTRWDTAA--AKANSVSFNSSDEV ---NTKYVIPKGHYVLVSAGYAHTSDRWFEHPEHFNPRRWESDD--TKASAVSFNSEDTV ---NTSYVIPAGYHVLVSPGYTHLRDEYFPNAHQFNIHRWNND------SASSYSVGEEV ---NSPYIVPKNHYLLAAPGVSSVDEEYFENALEFIPERWKCEK--------NTEDSDKI ------YTIPPGHQVCVSPTVNQRLKDSWAERLDFNPDRYLQDN---------------------YTIPPGHQVCVSPTVNQRLKDSWVERLDFNPDRYLQDN---------------------YTIPPGHQVCVSPTVNQRLKDSWVERLDFNPDRYLQDN--------------------SYVVPKGDIIACSPLLSHHDEEAFPNPRLWDPER-------------------------KCVVPEGDIIACSPLLSHQDEEAFPNPREWNPER--------------------------HRIHEGDLVAASPAISNRIPEDFPDPHDFVPARYEQPR---------------- 465 426 429 445 445 445 430 430 430 430 404 403 374 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans troplicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis DYGFGSVSKGTESPYQPFGAGRHRCVGEQFAYTQLSTIFTYVVRNFTLKLA--VPKFPET DYGYGVTIKGTKSPYLPFGAGRHRCIGEKFAYVNLGVILAVMVRHFKLRNPDNRVGVPAT DYGYGAVSKGTSSPYLPFGAGRHRCIGEKFAYVNLGVILATIVRHLRLFNVDGKKGVPET DYGFGKVSKGVSSPYLPFGGGRHRCIGEQFAYVQLGTILTTFVYNLRWTID--GYKVPDP DYGFGKISKGVSSPYLPFGGGRHRCIGEQFAYVQLGTILTTYIYNFKWRLN--GDKVPDV DYGFGAISKGVSSPYLPFGGGRHRCIGEHFAYCQLGVLMSIFIRTLKWHYPE-GKTVPPP DYGYGLVTKGAFSPYLPFGAGRHRCIGEQFAYMQLGTIITIFVHELEWTLPKNQITIPKP ------PASGEKFAYVPFGAGRHRCVGENFAYVQIKTIWSTMLRLYEFDLIN--GYFPTV ------PASGEKFAYVPFGAGRHRCIGENFAYVQIKTIWSTMLRLYEFDLIN--GYFPSV ------PASGEKFAYVPFGAGRHRCIGENFAYVQIKTIWSTMLRLYEFDLID--GYFPTV ------DEK-VDGAFIGFGAGVHKCIGQKFALLQVKTILATAFREYDFQLLRD--EVPDP ------NMKLVDGAFCGFGAGVHKCIGEKFGLLQVKTVLATVLRDYDFELLG---PLPEP -----QEDLLNRWTWIPFGAGRHRCVGAAFAIMQIKAIFSVLLREYEFEMAQ-PPESYRN 523 486 489 503 503 504 490 482 482 482 455 454 428 C. C. A. C. C. S. P. M. R. H. T. L. M. neoformans immitis fumigatus albicans troplicalis cerevisiae carinii musculus norvegicus sapiens cruzi major tuberculosis NYRTMIVQPNNP-LVTFTLRNAEVKQEV DYRSLLSRPMEPSSVHWEKRNFVSE--DYSSLFSGPMKPSIIGWEKRSKNTSK-DYSSMVVLPTEPAEIIWEKRETCMF--DYQSMVTLPLEPAEIVWEKRDTCMV--DFTSMVTLPTGPAKIIWEKRNPEQKI-DYTSMVVLPERPSNIEWRRRQKR----NYTTMIHTPENP-VIRYKRRSK-----NYTTMIHTPENP-VIRYKRRSK-----NYTTMIHTPENP-VIRYKRRSK-----DYHTMVVGPTLNQCLVKYTRKKKLPS-NYHTMVVGPTASQCRVKYIRKKAAA--DHSKMVVQLAQPACVRYRRRTGV----- 550 511 515 528 528 530 513 503 503 503 481 479 451 Figura 37: Alinhamento da estrutura primária da CYP51 de diferentes espécies. Em vermelho estão as regiões de α-hélice, em verde, as folhas β e em azul, as alças (Parte 2). 113 Tabela 8: Percentual de identidade entre as CYP51 de diferentes espécies (Coccidioides immitis, Aspergillus fumigatus, Candida albicans, C. tropicalis, Saccharomyces cerevisae, Pneumocistis jiroveci, Mus musculus, rattus norvegicus, Homo sapiens, Trypanosoma cruzi, Leishmania major e M. tuberculosis). 114 Quadro 7: Comparação dos resíduos de aminoácidos a 10 Å do átomo de ferro do heme da CYP51 de humanos e M. tuberculosis em relação a de C. neoformans. Aminoácidos a até 10 Å de dsitância do átomo de ferro do heme da CYP51 M. tuberculosis Resíduos H. sapiens Resíduos alinhados em alinhados em C. neoformans C. neoformans Gln 72 Ala127 Tyr 145 Tyr 145 Arg 96 Leu152 Phe 152 Leu152 Leu 100 Phe158 Lys 156 Lys156 Leu 105 Leu163 Leu 159 Ile159 Met 253 Leu314 Leu 163 Leu163 Met 254 Leu315 Gly 307 Ala313 Phe 255 Met316 Leu 308 Leu314 Ala 256 Ala317 Leu 310 Met316 Gly 257 Gly318 Ala 311 Ala317 His 258 Gln319 Gly 312 Gly318 His 259 His320 Gln 313 Gln319 Thr 260 Thr321 His 314 His320 Ser 261 Ser322 Thr 315 Thr321 Thr 264 Thr325 Ser 316 Ser 322 Leu 315 Leu380 Leu 371 Leu380 Pro 320 Pro385 Pro 376 Pro385 Leu 321 Ile386 Ile 377 Ile386 Leu 324 Ile389 Met 380 Ile389 Ile 385 Gln481 Val 440 Gln481 Pro 386 Pro482 Pro 441 Pro482 Phe 387 Phe483 Phe 442 Phe483 Gly 388 Gly484 Gly 443 Gly484 Ala 389 Ala485 Ala 444 Ala485 His 392 His488 His 447 His488 Arg 393 Arg489 Arg 448 Arg489 Cys 394 Cys490 Cys 449 Cys490 Val 395 Val491 Ile 450 Val491 Gly 396 Gly492 Gly 451 Gly492 Ala 397 Glu493 Glu 452 Glu493 Ala 398 Gln494 Asn 453 Gln494 Phe 399 Phe495 Phe 454 Phe 495 Ala 400 Ala496 Ala 455 Ala 496 Ile 401 Tyr497 115 O modelo construído mostrou-se adequado pela análise do gráfico de Ramachandran, do perfil no Verify 3D e análise da energia no ProSA, com resultados semelhantes ao molde. Apenas os resíduos (Pro464, Lys136 e Thr300) estão em regiões desfavoráveis no gráfico de Ramachandran, mas estes se encontram longe do sítio ativo da proteína, e provavelmente não devem interferir na ligação aos azóis (Figura 38). Figura 38: Gráfico de Ramachandran mostrando a confiabilidade do modelo CYP51 de (A) C. neoformans e (B) H. sapiens. A análise do Verify 3D do molde mostrou 87,91% dos resíduos com uma pontuação (score) 3D-1D médio > 0,2, comparado com o modelo (90,36%) (Figura 39). 116 Figura 39: Gráfico do Verify 3D mostrando a confiabilidade do modelo CYP51 de C. neoformans (vermelho) e H. sapiens (verde). Apenas Tyr459, Thr460, Lys461, Ala462, Glu463 e Gln464 apresentaram valor negativo, sendo que estes também estavam distantes do sítio ativo da proteína e se localizando em uma alça que não tem equivalente no molde. A análise do score-Z feita no PROSA mostrou que o modelo apresentou valor de -8,93, semelhante ao molde (-9,51) e às estruturas 3D de proteínas disponíveis no PDB, obtidas por métodos experimentais (Figura 40). 117 Figura 40: Análise do score-Z das estruturas de CYP51 de humano (preto) e de C. neoformans (vermelho). O modelo de C. neoformans mostrou a maioria dos resíduos com energia menor do que zero semelhante ao molde e consistente com os parâmetros de uma proteína típica (Figura 41). Figura 41: Gráfico de energia mostrando a energia independente de cada resíduo (verde claro) e a média da energia dos resíduos em função de um resíduo central (verde escuro). 118 As estruturas cristalográficas da CYP51 de alguns organismos estão descritas na literatura como a de Homo sapiens ligada ao cetoconazol (3LD6) (STRUSHKEVICH et al., 2010), Trypanosoma cruzi ligado ao posaconazol (3K1O) (LEPESHEVA et al., 2010b) e ao fluconazol (2WUZ) (CHEN et al., 2010) e (3KHM) (LEPESHEVA et al., 2010a), além de T. brucei (2WV2) (CHEN et al., 2010), Leishmania infantum (3L4D) (HARGROVE, 2011) e M. tuberculosis (1EA1) todas ligados ao fluconazol (PODUST et al., 2001). Comparando as estruturas tridimensionais das CYP51 de M. tuberculosis, T. cruzi, T. brucei, Leishmania infantum, Homo sapiens e o modelo de C. neoformans, foi observada uma conservação das estruturas secundária e terciária, com apenas algumas regiões de alças com diferentes conformações, principalmente na enzima de Mycobacterium tuberculosis (Figura 42). Figura 42: Estrutura tridimensional das CYP51 de Mycobacterium tuberculosis (1EA1), Trypanosoma cruzi (2WUZ), Trypanosoma brucei (2WV2), T. cruzi (2WX2), Leishmania infantum (3L4D), Homo sapiens (3LD6) e o modelo de Cryptococcus neoformans. 119 A comparação do mapa de potencial eletrostático destas proteínas mostrou que, apesar da estrutura tridimensional ser bem semelhante, o perfil de distribuição de cargas é diferente (Figura 42). A estrutura de M. tuberculosis apresenta regiões mais negativas, enquanto a de Homo sapiens, mais positivas, estas foram as duas que apresentaram um perfil de mapa de potencial eletrostático mais diferente das outras no. Determinadas regiões de carga negativa e positiva foram conservadas, principalmente quando se comparam espécies do mesmo gênero, como T. cruzi e T. brucei, com 83% de identidade na estrutura primária e também L. infantum, outro protozoário com 77% e 78% de identidade. Parece que a semelhança estrutural está relacionada à proximidade evolutiva. Comparando as estruturas da CYP51 de C. neoformans e de H. sapiens observou-se uma estrutura tridimensional semelhante também (RMSD = 0,55 envolvendo 1752 átomos da cadeia principal), enquanto o mapa de potencial eletrostático revelou um perfil diferente onde a enzima de C. neoformans apresentou regiões mais positivas e a de humano, mais neutras e negativas (Figura 43). 120 A Figura 43: Mapa de potencial eletrostático das CYP51 de diferentes organismos (modelo de C. neoformans e estrutura cristalográfica de H. sapiens, M. tuberculosis, T. cruzi, T. brucei e L. infantum) Cada estrutura é mostrada em uma mesma posição inicial e em um ângulo de 180º para o lado. 4.3.2 Análise das interações dos azóis com CYP51 A análise do modo de ligação do fluconazol com diferentes CYP51 disponíveis no PDB (Mycobacterium tuberculosis, Trypanosoma cruzi, Trypanosoma brucei, Leishmania infantum e Homo sapiens) mostra que o inibidor se liga de um mesmo modo ao grupo Heme da proteína, com os anéis fenila e triazóis alinhados (Figura 44). Desta forma, foi possível realizar um docking manual baseado em um alinhamento estrutural com proteínas disponíveis no PDB complexadas ao posaconazol, fluconazol e cetoconazol e propor um modo de ligação destes com as enzimas de C. neoformans e de humano. 121 Figura 44: Alinhamento estrutural do fluconazol com o Heme de algumas CYP51 disponíveis como Mycobacterium tuberculosis (1EA1) em vermelho, Trypanosoma cruzi (2WUZ) em verde, Trypanosoma brucei (2WV2) em azul, T. cruzi (2WX2) em amarelo, T. cruzi (3KHM) em rosa, Leishmania infantum (3L4D) em laranja e Homo sapiens (3LD6) em branco. O encaixe (docking) do cetoconazol, fluconazol e posaconazol com a CYP51 de C. neoformans e de humano mostrou que, após a minimização, estes apresentaram o mesmo modo de ligação com o ferro no grupo heme (Figura 45). 122 Figura 45: Alinhamento estrutural mostrando a ligação entre cetoconazol (A), fluconazol (B) e posaconazol (C) com o heme da CYP51. Em azul C. neoformans e em rosa H. sapiens. Foi feita uma comparação do sítio ativo das enzimas de C. neoformans e Homo sapiens a 6Å dos inibidores, distância esta em que os resíduos podem tanto interagir diretamente por ligação de hidrogênio, interação iônica, hidrofóbica ou Van der Walls como 123 também indiretamente influenciando na conformação de outros resíduos. Foram observadas substituições em resíduos, tais como A75I, Y77F, E79K, L100M, M101V, R103K, I105F, A130V, V144A, I159L, P242H, F245W, M246L, A313G, M316L, S388I, I389M, Y390M e R526T. Algumas destas substituições foram por aminoácidos com diferentes características (i.e. P242H, S388I e Y390M). Estes resíduos podem ser avaliados para o desenvolvimento de inibidores mais seletivos (Figura 46 e Quadro 8). Figura 46: Comparação dos resíduos a 6Å do posaconazol em C. neoformans (azul) e H. sapiens (rosa). A numeração está de acordo com C. neoformans. Os resíduos Y131, F139, Y145, A317, T321 e I386 da CYP51 de Cryptococcus neoformans interagem por contatos de van der Waals com todos os três derivados azólicos, considerando uma distância de até 4 Å, o que mostra que são resíduos com importância maior para encaixe dos inibidores no sítio ativo. No caso da enzima de humano, os resíduos F139, Y145, F234, A311 e T315 interagiram com os ligantes. Comparando, foi observada a diferença da I386 que interagiu apenas com C. neoformans, e F234 apenas com H. sapiens, 124 apesar de ambos estarem conservados nas duas enzimas. Quando se comparam com outras CYPs foi observado que os resíduos F139 e T321 foram conservados em todas, Y145 em todas exceto em M. tuberculosis e A317 exceto nas leveduras Candida albicans, C. tropicalis e Saccharomyces cerevisae (Quadro 8). Quadro 8: Aminoácidos interagindo com os ligantes (fluconazol, cetoconazol e posaconazol) nas enzimas de Homo sapiens e de C. neoformans. a Proteína Ligante C. neoformans Fluconazol C. neoformans Cetoconazol C. neoformans Posaconazol H. sapiens Fluconazol H. sapiens Cetoconazol H. sapiens Posaconazol Resíduos localizados até 4 Å de distância do ligante na CYP51a Y131, F139,V144, Y145, F240, A313, A317, T321, I386 Y77, Y131, L134, F139, Y145, F245, A313, A317, T321, I386, S388, Y390, M528 Y131, L134, F139, V144, Y145, P242, M246, A317, T321, I386, S388, Y390, Y525, R526, M528 F139, Y145, F234, A311, T315, I377 F77, Y131, L134, F139, Y145, F234 , W239, G307, A311, T315, I377, I379, M381, M487 A74, G78, Y131, F139, Y145, F234, H236, A311, T315, I379, M381, Y484, T485, M487 O resíduo sublinhado interage por ligação de hidrogênio. Foi analisada a energia de ligação do fluconazol, cetoconazol e posaconazol com a enzima CYP51 de C. neoformans, sendo que a menor energia foi observada no posaconazol, seguido do cetoconazol e fluconazol. Este fato parece estar relacionado à área superficial que é maior no posaconazol, depois cetoconazol e fluconazol, desta forma, favorece a interação com um número maior de resíduos, aumenta a superfície de contato com a proteína e favorece o encaixe (Tabela 9). 125 Tabela 9: Energia de ligação (Kcal/mol) do cetoconazol, do fluconazol com a CYP51 de H. sapiens e C. neoformans. Fluconazol Energia do Complexo -3179,83 Energia do Ligante 38,17 Energia da proteína -3193,66 Energia de ligação -24,34 Cetoconazol -3182,34 55,49 -3188,47 -49,36 Posaconazol -3181,46 103,65 -3224,53 -60,58 O único resíduo que interage por ligação de hidrogênio com o ligante cetoconazol é a Tyr390 no caso de C. neoformans, o que mostra a importância dos contatos de van der Waals, além da ligação ao ferro do Heme para inibição da enzima. 126 5 DISCUSSÃO 5.1 Estudo do receptor de NMDA e de seus antagonistas Muitos anos se passaram desde a descoberta do primeiro antagonista do receptor de NMDA, e, até hoje, as ferramentas farmacológicas disponíveis para discriminar entre as subunidades do receptor ainda são limitadas. Para ser efetivo na terapia antiexcitotóxica o composto deve bloquear a ativação excessiva do receptor de NMDA, mas deve manter a função normal relativamente intacta para evitar efeitos adversos (CHEN e LIPTON, 2006). Alguns antagonistas do receptor de NMDA foram planejados a partir da estrutura do glutamato, substituindo um grupo carboxilato por grupo fosfonato. Esta substituição acompanhada do aumento da cadeia resultou na alteração do efeito agonista para antagonista no sítio de reconhecimento do receptor, sendo AP5 e AP7 (figura 3) os protótipos deste grupo. A atividade agonista ou antagonista no receptor está relacionada à distância entre os dois grupos ácidos. Uma distância menor é necessária para a atividade agonista enquanto os antagonistas são caracterizados por distância maior entre os grupos ácidos (URWYLER et al., 1996). Foi proposto que a carboxila distal do agonista glutamato se encontra próxima ao pequeno bolso formado entre os resíduos Val714, Tyr731, Phe729 e Val686 e que isto limita o tamanho do agonista. Como os antagonistas não se encaixam ao tamanho do bolso, eles podem se ligar a Lys485 e Lys488, impedir o fechamento do domínio de ligação ao glutamato e resultar na atividade de antagonista (TICKHONOVA et al., 2002). No estudo dos 17 derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico, antagonistas competitivos do receptor de NMDA, foi usada a estrutura da subunidade GluN2B deste receptor. A estrutura 3D desta região na subunidade GluN2A de rato, na forma fechada (i.e. 127 ligada ao glutamato) foi determinada em 2005 e foi expressa substituindo os três domínios transmembrânicos e a alça de reentrada por dois aminoácidos: (ácido glutâmico e treonina) que unem o domínio S1 e S2 (FURUKAWA et al., 2005; STOLL et al., 2007). Baseada nesta estrutura, foi construído o modelo de GluN2B de humano (ABREU, 2008), que foi usado neste estudo para avaliar o modo de interação com os antagonistas competitivos derivados de piperazina e determinar os resíduos de aminoácidos envolvidos na interação. O nosso estudo com esses 17 derivados revelou a interação dos ligantes mais ativos com Lys485 e Lys488, similar ao descrito por Tickhonova e colaboradores em 2002. A literatura descreve outros antagonistas competitivos mais potentes, desenvolvidos com base na restrição conformacional obtida pela inserção de ligações duplas ou do anel piperazina (e.g. CPP e CPPene). Esses antagonistas apresentam um padrão típico de seletividade na subunidade NR2 recombinante, com a seguinte ordem de afinidade GluN2A>GluN2B>GluN2C>GluN2D (WATKINS et al., 1990; MÜLLER et al., 1992). Neste trabalho, o mesmo padrão foi observado nos antagonistas competitivos do receptor de NMDA analisados por modelagem molecular, visto que também apresentaram o anel piperazina que confere restrição conformacional (CHEUNG et al., 1996). Muitos autores identificaram o biciclo LY233536 e o composto contendo bifenila EAB-515 com afinidade maior por GluN2B e menor por GluN2A. A inserção do grupo bifenila no meio da cadeia de AP7 levou ao análogo EAB-515 que mostra uma maior afinidade por GluN2B do que por GluN2A, além de aumentar a afinidade por GluN2C e GluN2D (JANE et al., 1994; JANE 2002; BULLER e MONAGHAN, 1997; MORLEY et al., 2005). O derivado do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico (PBPD) contendo o anel bifenila também manteve afinidade maior por GluN2B, enquanto aumentou a afinidade relativa por GluN2C e GluN2D. Segundo a literatura, o substituinte volumoso bifenila parece ocupar um 128 suposto bolso hidrofóbico (BULLER e MONAGHAN, 1997; CHEUNG, et al., 1996). Em nosso estudo dos derivados do ácido piperazino-2,3-dicarboxílico também foi observada a importância dos substituintes volumosos, uma vez que os ligantes que apresentam o anel fenantrila (16e e 16g), foram mais potentes do que outros substituídos por fenila, bifenila ou naftaleno. A presença de anéis aromáticos coplanares não foi essencial para a atividade, o que pode ser observado quando se compara 16g com 16h, visto que ambos apresentaram atividade, apesar da perda da aromaticidade e planaridade em 16h. Por outro lado, a presença do anel bifenila, capaz de girar no plano, reduziu a atividade. Alguns estudos demonstraram que um anel bifenila contendo um substituinte flúor ou bromo reduz a afinidade relativa por GluN2B em relação a GluN2A ou reduz a atividade em ambas subunidades (AUBERSON et al., 2002, FENG et al., 2004). Entretanto, no caso de 16g e 16e o grupo fenantrila com um substituinte bromo aumenta a atividade e também mantém uma afinidade maior por GluN2B em relação a GluN2A, o que pode sugerir a participação de outros aminoácidos importantes para a formação do complexo alvo-ligante. Devido à semelhança dos derivados de piperazina com aminoácidos, apresentando grupos que podem ser protonados ou desprotonados, como carboxila e piperazina, neste trabalho foi realizado o docking dos derivados também na forma de zwitterion. Em solução aquosa e em pH neutro, um aminoácido existe predominantemente como zwitterion, que são moléculas que podem agir como um ácido (doador de próton) ou base (aceptor de próton) (NELSON e COX, 2004). Em pH neutro, como no sangue, estruturas como D-cicloserina existem essencialmente como zwitterion (LEE et al., 1997; MCBRAIN et al., 1989). Outros estudos também simularam ligantes do receptor de NMDA e aminoácidos na forma ionizada (FROLUND et al., 2005; MORETTI et al., 2004). Tem sido proposto que antagonistas competitivos do receptor de NMDA, assim como o glutamato, interagem com a região S1 e S2 por ligação de hidrogênio, interação iônica e que 129 os antagonistas impedem o fechamento desta região, e, consequentemente, a abertura do poro e passagem de íons (BLAISE, et al., 2005; NIKAM et al., 2002). Foi observado que na forma ionizada, os derivados interagem com Gly487 e Asn688 o que poderia impedir o fechamento do poro. Além da Gly487 que interagiu por ligação de hidrogênio com todos os derivados de piperazina mais ativos, outros resíduos foram importantes para a interação como Lys485, His486 e Arg519 para alguns derivados, diferente de 2a que não fez ligação de hidrogênio com Gly487, mas com His486, Thr514, Arg519, Ser690 e não apresentou atividade significativa. Em estudos anteriores os resíduos Ser511, Thr513, Arg518, Ser689 e Thr690 (que correspondem a Ser512, Thr514, Arg519, Ser690 e Thr691 de GluN2B aqui descritos) interagem com o glutamato (Abreu, 2008). No caso da molécula 16a, o modo de ligação tanto da forma ionizada quanto não ionizada foi semelhante ao do glutamato, conservando alguns grupos em posição próxima. É possível citar a carboxila dos dois ligantes, o nitrogênio da piperazina que estava próximo à amina do glutamato e à carbonila do derivado, que também indicava para uma direção semelhante à carboxila do glutamato, mantendo um perfil eletrônico semelhante. Antagonistas como AP5 tem demonstrado interagir com o sítio de ligação de modo similar aos grupos amino e carboxila do gutamato. Laube e colaboradores (2004) mostraram a interação do antagonista AP5 com o modelo por homologia do sítio ativo do glutamato na subunidade GluN2B. O modelo proposto baseado na estrutura de GluR2 e D-AP5 interage com resíduos do lobo I e II como Lys459 e Lys462 (correspondente aos resíduos Lys485 e Lys 488 no nosso estudo) e impediu o fechamento do domínio, sendo demonstrado ainda que a mutação nestes resíduos reduziu a atividade (LAUBE et al., 2004). No nosso estudo, Lys485 e Lys488 também interagiram com os antagonistas mais potentes da série (16e, 16g, 16h e 16n) na forma ionizada. 130 Estudos de mutação sítio dirigida mostraram que os resíduos Glu413, Lys485, Ser512, Arg519, Ser690 e Thr691 foram importantes para o funcionamento do receptor, podendo interagir diretamente com o agonista ou para manter o mecanismo de abertura do poro ou para o enovelamento apropriado (TIKHONOVA et al., 2002). Alguns destes resíduos foram importantes para a interação com os antagonistas derivados de piperazina aqui estudados. Urwyler e colaboradores (1996) demonstraram que a introdução de hidroxila ao anel bifenila de EAB-515 aumentou a atividade biológica. Desta forma, a substituição do bromo em 16g por uma hidroxila ou por NH2 poderia ser testada. Estes substituintes possivelmente aumentariam as interações com grupos polares desta região. Apesar de descrições da literatura sobre um bolso hidrofóbico importante para interação com os anéis, apenas os resíduos Val714 e Gly713 estavam relativamente próximos para interagir com as moléculas mais ativas na forma ionizada. Entretanto existem outros resíduos polares que poderiam ser importantes para a interação. Além disso, a substituição da carbonila (ligada a piperazina e aos anéis) por uma hidroxila poderia ser testada, apesar de que a ausência da carbonila não foi favorável para a atividade, o que pode ser observado quando se compara o derivado 23 (Ki = 10,25 μM) com 16h (Ki = 0,76 μM). A substituição pela hidroxila, entretanto, poderia manter um perfil eletrônico similar, e talvez possibilitasse a realização de ligação de hidrogênio com Gly487, estabilizando ainda mais a conformação aberta do domínio de ligação ao glutamato. Avanços no conhecimento sobre a estrutura do receptor de NMDA tem levado pesquisadores a investigar a possibilidade de desenvolver antagonistas seletivos para subpopulações do receptor ao invés de bloqueadores de canal, buscando reduzir os efeitos adversos associados ao bloqueio deste receptor como: efeitos psicomiméticos, comprometimento da aprendizagem, memória e função motora devido à abundância de receptores de NMDA por toda parte do SNC (BARON et al., 2005; CHAFFEY e CHAZOT 2008; WILLIAMS 2001). 131 Foi demonstrado que a atividade do receptor de NMDA pode ser modulada por uma variedade de ligantes endógenos como zinco, poliaminas e prótons, sendo os sítios de ligação no domínio N-terminal (HUGGINS e GRANT, 2005). Nesta região podem se ligar antagonistas não-competitivos. Este sítio tem homologia com a proteína de ligação a leucina/isoleucina/valina (LIVBP) composta por dois domínios R1 e R2 e apresenta a conformação aberta e fechada. Esta movimentação entre os domínios produz a conformação ligada ao agonista e não ligada facilitando a ligação aos ligantes modulatórios no domínio Nterminal (HUGGINS e GRANT, 2005). O ifemprodil é um antagonista não-competitivo que afeta apenas aqueles receptores que contenham a subunidade GluN2B. Dados de mutagênese mostraram que o sítio de ligação do ifemprodil, um antagonista não-competitivo, se localiza no domínio N-terminal sendo que resíduos do domínio R1 quanto R2 são importantes para a ligação (PERIN-DUREAU et al., 2002). Gallagher et al. (1996) demonstraram que os aminoácidos entre 198 e 356 estavam envolvidos na interação de alta afinidade com o ifemprodil. O nosso estudo, revelou uma importância similar para outros resíduos localizados fora deste intervalo. Posteriormente, Perin-Dureau e colaboradores (2002) demonstraram a existência de dois sítios de ligação ao ifemprodil, um de baixa afinidade e dependente de voltagem, localizado no poro do canal iônico e outro de alta afinidade, independente de voltagem e localizado extracelularmente, no domínio N-terminal (WILLIAMS, 1993; PERIN-DUREAU et al, 2002, KARAKAS et al., 2009). Masuko e colaboradores (1999), usando técnicas de mutagênese concluiram a favor de um sítio de ligação para o ifemprodil no N-terminal de GluN1, o que está de acordo com a idéia de que a região N-terminal de GluN2B e GluN1 interagem proximamente (SOBOLEVSKY et al., 2009; HANSEN, 2010; KARAKAS et al., 2009; MASUKO et al., 1999). 132 Outros estudos concluíram que o sítio de ligação do ifemprodil se localizava no Nterminal de GluN2B entre os domínios R1 e R2 (PERIN-DUREAU et al, 2002; GALLAGHER et al. 1996). Devido a essa variação de dados, neste estudo, foi realizado inicialmente o docking do ifemprodil na região central do N-terminal de GluN2B entre os domínios R1 e R2 para evidenciar os resíduos que poderiam interagir tanto em GluN2B quanto em GluN2A. Para estudo destas interações foi construído o modelo por homologia do N-terminal de GluN2B e GluN2A de humano, com base na estrutura recentemente obtida por cristalografia e difração de raios-X da região do N-terminal de GluN2B de rato (KARAKAS, et al., 2009). Com base nesta estrutura, foi possível estudar com mais precisão esta região, realizar dockings e propor modos de interação com antagonistas não-competitivos que se ligam neste domínio. Modelos tridimensionais da estrutura da região N-terminal já haviam sido descritos na literatura. Huggins (2005) propôs um modelo do dímero do domínio N-terminal baseado na estrutura do receptor de glutamato metabotrópico (mGluR1) que apresenta baixo percentual de identidade na cadeia, com apenas cerca de 8% de resíduos de aminoácidos idênticos (código PDB 1EWK). Esse estudo sugeriu que o sítio de ligação para o zinco seria na fenda na subunidade GluN2A, a ligação deste estabilizaria a forma aberta do domínio N-terminal. Além disso, propôs que o efeito do ifemprodil seria semelhante na subunidade GluN2B (HUGGINS e GRANT, 2005). Em outro estudo, foi proposto um modelo por homologia da região do N-terminal baseado na estrutura da proteína de ligação a leucina/isoleucina/valina (LIVBP), entretanto, apesar de apresentar uma certa similaridade estrutural, esta proteína apresenta apenas 4% de identidade com GluN2B de humano (PERIN-DUREAU et al., 2002). Recentemente Karakas e colaboradores (2011) conseguiram elucidar por cristalografia e difração de raios-X, a estrutura 3-D da região do N-terminal de GluN2B de rato interagindo 133 com ifemprodil, além de outro antagonista Ro25-6981, o que mostrou que estes interagem de maneira similar a uma determinada região entre a subunidade GluN2B e GluN1. Com base nesta informação, foram realizados neste trabalho o redocking do ifemprodil com a subunidade GluN2B e o docking do ifemprodil com GluN2A, além da fenil-amidina descrita na literatura (CLAIBORNE et al., 2003) e das triazolil-amidinas planejadas por nosso gupo em outro estudo (ABREU, 2008) que foram complexados com GluN2B. Foi proposto que o sítio de ligação para antagonistas semelhantes ao ifemprodil é baseado em pelo menos três sub-sítios: um hidrofóbico acomodando o anel fenila, um eletrostático interagindo com a hidroxila central e um hidrofóbico e com grupo aceptor de ligação de hidrogênio (CHENARD e MENNITI, 1999; KARAKAS, 2009). Seguindo este conceito, foi possível observar Gln110 interagindo com a amina e Phe114 e Tyr109 interagindo com o anel fenila, enquanto Glu236 interagiu com o fenol por ligação de hidrogênio e Phe176 interagiu com o anel aromático. Apesar destes resíduos serem conservados em GluN2A, nesta subunidade o ifemprodil interagiu de modo diferente na qual Tyr114 e Lys80 interagiram por ligação de hidrogênio com o fenol enquanto Tyr109 interagiu com o anel fenila, sendo que não houve resíduos interagindo eletrostaticamente com a amina central. A distância entre os anéis aromáticos que é descrita na literatura como sendo entre 1012 Ǻ (MONY et al., 2009) foi de aproximadamente 12 Ǻ em GluN2B, enquanto em GluN2A foi de aproximadamente 9 Ǻ. A ligação do ifemprodil e de outros antagonistas não competitivos ocorre por um mecanismo de encaixe induzido que requer a abertura de GluN2B, enquanto a sua inibição envolve fechamento deste domínio e estabilização por meio da interação de GluN1 e GluN2B (KARAKAS, 2011). Desta forma, parece que a interação do ifemprodil com GluN2B, de algum modo estabilizou melhor a conformação fechada do que 134 com GluN2A, provavelmente por interagir de modo diferente e com resíduos também diferentes. As amidinas estudadas apresentaram o anel fenila alinhado com o do ifemprodil, interagindo com os mesmos resíduos (e.g. Phe176 e Tyr109) do receptor. Com exceção da fenil-amidina 1a, essas amidinas também apresentavam o nitrogênio das amidinas e dos triazóis, (no caso das triazolil-amidinas) capazes de interagir eletrostaticamente com o receptor, além do anel aromático fenila capaz de interagir com resíduos hidrofóbicos. Apesar da semelhança estrutural com o ifemprodil, mantendo um anel aromático em cada extremidade ligado por um espaçador contendo nitrogênio, a distância entre os anéis era diferente nas amidinas. Além disso, as triazolil-amidinas que tiveram menor energia de ligação estimada por docking (2a e 2f), diferente do ifemprodil, não apresentaram grupos doadores ou aceptores de ligação de hidrogênio ligados a fenila. Estudos demonstraram que mutação nos resíduos Val42, Thr103A, Asp104, Glu106, Thr233, Lys234, Glu236, Leu261 e Gly264A aumentou em 4 a 25 vezes o valor de IC50 para o ifemprodil enquanto a mutação em Asp101, Ile150, Phe176 e Phe182 teve um efeito mais pronunciado (aumento de 60 vezes o valor de IC50 com relação ao tipo selvagem) (PERINDUREAU et al., 2002; ALARCON et al, 2008; MONY et al, 2009). A mutação sítio dirigida da Arg337 também reduziu a inibição causada pelo ifemprodil (GALLAGHER et al., 1996). No nosso estudo, foi observado que apenas Glu236 e Phe176 estavam realmente próximos e interagindo com GluN2B, enquanto os outros se encontravam próximos a fenda entre R1 e R2. Este fato fez com que inicialmente esta região fosse considerada como o sítio de ligação ao ifemprodil, mas possivelmente estes resíduos tem importância por estabilizar a conformação do N-terminal do receptor ou posicionar corretamente outros resíduos. O maior desafio neste campo é que as doenças neurodegenerativas são caracterizadas por uma perda progressiva e irreversível de neurônios em áreas específicas do cérebro, e a 135 terapia atual ainda apresenta eficácia limitada e baixa relação custo-efetividade (BODNER et al., 2006), mostrando que mais pesquisas ainda são necessárias nesta área. 5.2 Estudo dos derivados de oxoquinolina com atividade anti-herpes Oxoquinolinas são uma importante classe de heterocíclicos devido à diversidade de aplicações farmacêuticas. Dentre as atividades descritas estão: antimicobacteriana (SENTHILKUMAR, et al., 2008), antiviral para HIV (LUO et al., 2009; SANTOS et al., 2009), antimicrobiano (INAGAKI et al., 2004), contraceptivo (SINGH et al., 1987), entre outros. Entretanto, poucos estudos foram relatados na literatura descrevendo derivados de quinolonas para herpes (LUCERO et al., 2006). Neste trabalho foi avaliada uma série de oxoquinolinas com atividade anti-HSV1. Como não era conhecido o mecanismo pelo qual estes derivados inibiam a atividade viral, foi realizado um estudo de modelagem molecular por meio de uma abordagem indireta, na qual a estrutura tridimensional do alvo terapêutico é desconhecida e, desta forma, as informações sobre a estrutura dos derivados ativos e inativos são utilizadas para determinar características importantes e correlacionar com a atividade biológica ou planejar novos derivados. Dados da literatura mostraram a importância do substituinte cloro para a atividade anti-herpética (SAVARINO et al., 2003; SOUZA et al., 2008) o que divergiu do nosso estudo onde derivados com o substituinte flúor apresentaram melhor perfil de atividade inibitória, conforme pode ser observado comparando 3a (R1 = Cl) e 3b (R1 = F) Derivados de oxoquinolinas semelhantes a 2a e 2b, porém com mais o cloro na posição 7 e ácido carboxílico no lugar do éster, foram testados contra HSV1 e HSV2 não sendo observada atividade (MASOUDI et al., 2000). Esse dado é similar aos que obtivemos 136 nesta tese, nos quais 2a e 2b também não apresentaram atividade significativa, mas a substituição da carboxila por hidrazida levou ao derivado ativo 3b. O mapa de potencial eletrostático é uma abordagem útil para o entendimento da contribuição eletrostática para o processo de ligação ligante-receptor. O mapa mostra tamanho, forma e distribuição de carga das moléculas analisadas e permite realizar a correlação com a atividade antiviral. Neste estudo, foi observada a importância do flúor como substituinte na posição 6 e da hidrazida na posição 3 do anel oxoquinolina, o que resulta em um mapa de potencial eletrostático com carga mais negativa nestas regiões. O menor volume destes substituintes quando comparado aos outros também foi uma característica importante. A análise de propriedades físico-químicas relacionadas à farmacocinética dos derivados de oxoquinolina mostrou que a série deve apresentar uma boa biodisponibilidade oral de acordo com a “regra dos cinco” de Lipinski e, além disso, foi feita a avaliação da “regra dos cinco” de Lipinski modificada para penetração no SNC, que mostrou que pelo menos três requisitos da regra foram preenchidos. Apenas 3a e 3b tiveram número de doadores de ligação de hidrogênio maior do que o preconizado pela regra. Desta forma, seria interessante propor modificações estruturais para que os derivados preenchessem a todos os requisitos, desde que a atividade fosse mantida. Foi observado que os derivados de oxoquinolinas apresentaram uma biodisponibilidade oral maior do que do aciclovir pelas análises na base de dados PK/DB. Os valores de Log BB sugeriram uma maior penetração na barreira hematoencefálica. Além disso, visando garantir a penetração através da BHE para que estes derivados sejam eficazes em neuroinfecções, poderia ser pensado em algumas modificações como, por exemplo, reduzir a flexibilidade e a área de superfície polar ou aumentar a lipofilicidade. Sendo importante ressaltar que estas propriedades estão correlacionadas entre si e a alteração de uma pode resultar em modificação de outras. 137 Infecções por HSV estão entre as infecções mais comumente tratadas por antivirais, sendo os análogos nucleosídicos, os principais destes. Alguns fármacos deste grupo foram introduzidos no mercado por volta de 1960 e incluem aciclovir, penciclovir, vidarabina, e ganciclovir (YONEDA et al., 2006; REARDON et al., 1989; WEBER e CINATL, 1996). Análogos nucleosídicos atuam geralmente inibindo a polimerase viral de modo competitivo. Estudos demonstraram a atividade dos derivados 6-cloro-1,4-di-hidro-4oxo-1-(d- ribofuranosil)3-ácido carboxílico quinolina contra HSV1, além da sua forma aglicona que também apresentou uma boa atividade quando comparado com o aciclovir. Estes análogos, diferente do aciclovir, inibem a atividade da DNA polimerase viral sem necessitar da fosforilação. A inibição da enzima de HSV1 e HSV2 ocorre por mecanismo não-competitivo (SOUZA, et al., 2008). Devido à semelhança estrutural entre estes derivados, sugere-se que os derivados de oxoquinolinas estudados aqui tenham a DNA polimerase como alvo, ou diretamente, como aqueles do estudo de Souza e colaboradores (2008), ou indiretamente após ser convertida a forma trifosfatada pela timidina quinase e quinases celulares como o aciclovir. O estudo das interações dos derivados de oxoquinolinas (principalmente 3b que apresentou o melhor perfil) com o seu possível alvo terapêutico, pode fornecer mais informações sobre estes derivados e seu mecanismo de ação e auxiliar na descoberta e planejamento de novos antivirais. 138 5.3 Estudo estrutural da CYP51 de C. neoformans e de seus inibidores Neste estudo, foi construída a estrutura tridimensional da CYP51 de C. neoformans por modelagem por homologia usando como molde a estrutura de Homo sapiens. Em um estudo anterior envolvendo a construção do modelo da enzima CYP51 de C. neoformans utilizou-se como molde a estrutura de M. tuberculosis (código PDB 2VKU). Comparando as enzimas de M. tuberculosis com a enzima de humano foi observado que a CYP51 de C. neoformans apresentou maior identidade com a proteína de humano tanto na estrutura global quanto no sítio ativo (SHENG et al., 2009). A acurácia do modelo por homologia é relacionada ao grau de identidade da estrutura primária e similaridade entre o molde e o alvo, sendo essencial para o sucesso do modelo que o molde tenha um percentual de identidade alto. Desta forma, acredita-se que o modelo aqui proposto tenha uma boa capacidade preditiva e que possa ser usado não só para avaliar o modo de interação com alguns azóis já usados comercialmente (fluconazol, cetoconazol e posaconazol) como também para análise e planejamento de novos derivados que tenham esta enzima como alvo. Outros modelos por homologia já foram propostos para a CYP51 de diversas espécies como Ustilago maydis, que foi construída com base na enzima de humano (código PDB, 3LD6) no intuito de buscar fungicidas contra infecções nas plantações de milho (HAN et al., 2010); modelos de Candida albicans e Aspergillus fumigattus foram construídos e usados para investigar o mecanismo de ação dos azóis (WANG, et al., 2010). Além de Penicillium digitatum usando a enzima de M. tuberculosis (código PDB 1E9X) como molde (ZHAO, et al., 2007). Em geral, as enzimas da família das CYPs conservam alguns resíduos, além de manterem uma semelhança na estrutura tridimensional, o que foi observado comparando as CYP51 de Mycobacterium tuberculosis (1EA1), Trypanosoma cruzi (2WUZ), T. brucei (2WV2), T. cruzi (2WX2), Leishmania infantum (3L4D), Homo sapiens (3LD6) e o modelo 139 de Cryptococcus neoformans. A enzima com o perfil mais diferente na análise da estrutura terciária e do mapa de potencial eletrostático foi a de M. tuberculosis provavelmente por ser uma enzima de bactéria. A avaliação do sítio ativo quando se comparou a enzima de fungo e de humano (a 6Å dos inibidores) mostrou substituições em resíduos, tais como: A75I, Y77F, E79K, L100M, M101V, R103K, I105F, A130V, V144A, I159L, P242H, F245W, M246L, A313G, M316L, S388I, I389M, Y390M, R526T, o que sugere que estes resíduos são importantes para a especificidade pelo substrato das CYP51 de diferentes espécies. O sítio ativo da enzima CYP51 contém um heme central que é ligado a proteína pela ligação Fe-S com a cisteína. No outro lado do heme, a sexta coordenação é feita com os azóis que ocupam o sítio do substrato (BALDING et al., 2008). Além da ligação com o ferro, estudos de dockings moleculares de derivados triazólicos revelaram que os compostos interagem com CYP51 principalmente por interações de van der Waals e hidrofóbicas (SHENG et al., 2009). A energia de ligação foi menor no complexo do posaconazol seguido de cetoconazol e fluconazol com a enzima CYP51 de C. neoformans, o que está relacionado principalmente às interações hidrofóbicas e contatos de van der Waals formados com um número maior de resíduos. Pesquisas mostraram que o anel triazol, difluorfenil e a hidroxila são os grupos farmacofóricos dos agentes antifúngicos (CHAI et al., 2009). Tanto itraconazol quanto posaconazol tem uma longa cadeia, isto faz com que a energia de ligação destes seja menor por interagir com resíduos hidrofóbicos adicionais. O anel fenila de ambos interagiu com Tyr131, Ile386, Ile389 e Ile529. O grupo piperazina formou uma interação hidrofóbica com Tyr390 e Met421. Os resíduos Leu100, Met528 e Phe245 interagiram com o segundo grupo fenil e com a triazolona. O grupo alquila interagiu com os resíduos hidrofóbicos Ala74, Phe71 e Phe84 (SHENG et al. 2009). No nosso estudo também foi observado Tyr131 e I386, interagindo com fluconazol, cetoconazol e 140 posaconazol, enquanto Tyr390 e Met528 interagiu apenas com posaconazol, devido ao seu tamanho. Por outro lado, não foi observada interação do posaconazol com os resíduos Met421, Leu100, Ile389, Ala74, Phe71 e Phe84, pelo menos não tão próxima quanto a 4 Å. Fringuelli e colaboradores (2009) realizaram o docking de derivados análogos do cetoconazol com o modelo da CYP51 de Candida albicans que apresentaram modo de ligação similar, assim como no nosso estudo em que também foi observado um mesmo modo de ligação dos azóis conservando grupos farmacofóricos em posição semelhante. Além disso, foi observado por Fringuelhi e colaboradores, a ligação de hidrogênio com Tyr505 e Met508 (correspondente a Tyr525 e Tyr528 em C. neoformans). No nosso estudo estes resíduos também estavam interagindo com o posaconazol, mas não eram capazes de fazer ligação de hidrogênio. Dentre os antifúngicos conhecidos atualmente, os triazóis são os mais usados geralmente apresentam um amplo espectro e alta potência (SHEEHAN, 1999). Infelizmente, o uso massivo destes fármacos tem levado a resistência, sendo necessária a busca por novos azóis. Os azóis de segunda geração como voriconazol, posaconazol, ravuconazol e albaconazol, entre outros, já estão disponíveis no mercado ou estão em ensaios clínicos (WANG et al., 2010) Na literatura já foi demonstrado que a mutação de Gly484 está envolvida com resistência de C. neoformans aos azóis. Este resíduo parece não interagir diretamente com fluconazol, mas é importante para conformação no ambiente do heme, reduzindo a flexibilidade necessária para mudança da conformação interdomínio que ocorre na ligação do inibidor (SHENG et al., 2009). Em nosso modelo, este resíduo também estava distante para interagir com os derivados azólicos. Entretanto, a substituição da Gly484 por uma serina possibilitou a formação de uma ligação de hidrogênio com o heme que não ocorria no caso da glicina (dados não mostrados). Este fato parece ser importante, uma vez que esta mutação está 141 envolvida com a resistência de cepas de C. neoformans ao fluconazol em isolados clínicos (RODERO et al., 2003). Neste estudo foi construído um modelo da CYP51 de C. neoformans, analisada a interação com derivados azólicos e traçou-se um perfil comparativo com outras CYPs, a partir do modelo da enzima descrito aqui, é possível estudar novos derivados azólicos descritos na literatura, como por exemplo, o isavuconazol, um triazol em fase três dos ensaios clínicos, que é aquela anterior à comercialização. O isavuconazol demonstrou atividade in vitro contra diversas leveduras e fungos filamentos, além de apresentar vantagens com relação às características farmacocinéticas comparando com outros já existentes (WANG et al., 2010; THOMPSON E WIEDERHOLD, 2010). Os estudos de modelagem molecular possibilitam o planejamento de novos fármacos. Neste aspecto, a técnica de dinâmica molecular é uma outra ferramenta que pode auxiliar nos estudos futuros de séries de triazóis por avaliar o comportamento do complexo ligantereceptor ao longo do tempo, além de simular as moléculas de água no sítio ativo que podem influir nas interações. 142 6 CONCLUSÕES 6.1 Estudo do receptor de NMDA e de seus antagonistas No estudo dos derivados do ácido piperazina2,3-dicarboxílico, antagonistas do receptor de NMDA, concluiu-se que, compostos com maior volume, área superficial, lipofilicidade e energia de HOMO foram os que apresentam melhor atividade. A conformação, a posição do substituinte e a presença de grupos hidrofóbicos como o fenantreno também foram importantes. Todos os derivados apresentaram uma boa biodisponibilidade oral e penetração no SNC de acordo com as análises in silico, sendo que, dentre os mais potentes, 16h apresentou o melhor perfil de toxicidade teórico. A análise das interações dos derivados com o modelo construído da subunidade GluN2B do receptor de NMDA mostrou resíduos diferentes interagindo com as moléculas mais ativas e com a menos ativa 16a. Além disso, a energia de ligação estimada do complexo resultante da interação dessa subunidade com as moléculas mais ativas foi menor, justificando seu melhor perfil de afinidade. Na forma de zwitterion, as moléculas mais ativas interagiram de modo similar com interação com Gly487 e Asn688, impedindo o fechamento do domínio S1S2 de ligação ao glutamato, resultando no antagonismo. A análise da região do N-terminal da subunidade GluN2B e GluN2A do receptor de NMDA construída por modelagem comparativa e sua interação diferente com ifemprodil dependendo da subunidade foi justificada pela posição invertida do ligante e a conformação variante, além da distância diferente entre os anéis aromáticos, o que resultou em interação com outros resíduos. Provavelmente estas interações não estabilizaram o receptor de forma eficiente para levar ao efeito de antagonista com a mesma afinidade em ambas subunidades. 143 A análise do modo de ligação da fenil-amidina 1a e das triazolil-amidinas planejadas recentemente (2a, 2e e 2f) mostraram uma posição no sítio ativo semelhante entre o grupo das triazolil-amidinas, mas diferente quando se compara com o ifemprodil e a fenil-amidina. O composto 2f apresentou menor energia de ligação estimada do que as outras e do que o ifemprodil, o que sugere um perfil promissor para essa molécula. 6.2 Estudo dos derivados de oxoquinolina com atividade anti-herpes No estudo dos derivados de oxoquinolinas anti-herpéticos concluiu-se que a menor energia de LUMO, menor lipofilicidade e maior área de superfície polar e número de grupamentos aceptores e doadores de ligação de hidrogênio estavam relacionados com uma melhor atividade, representado pelo derivado 3b que teve melhor perfil de atividade e de citotoxicidade do que o aciclovir. O 3b apresentou ainda propriedades farmacocinéticas como a absorção intestinal, biodisponibilidade oral e valores de Log BB (penetração na barreira hematoencefálica) melhores do que do aciclovir. 6.3 Estudo estrutural da CYP51 de C. neoformans e de seus inibidores O estudo comparativo entre enzimas da família CYP51, alvo terapêutico de antifúngicos, mostrou conservação da estrutura secundária e terciária e semelhança no modo de ligação dos derivados azólicos. Apesar da semelhança estrutural da enzima de humanos e de C. neoformans foram observadas substituições em resíduos do sítio ativo, e diferenças no mapa de potencial eletrostático que influenciam na especificidade dos ligantes. 144 A menor energia de ligação observada nos complexos construídos com antifúngicos conhecidos foi com o posaconazol, estando teoricamente relacionada a sua maior área superficial. Nas três avaliações in silico realizadas nesta tese, detectou-se resíduos chaves no sítio de ligação dos alvos terapêuticos e/ou características dos ligantes que foram úteis para explicar a atividade biológica. Assim, este estudo pode orientar o desenho de novos compostos para serem usados em neuroinfecções por C. neoformans, herpes e doenças neurodegenerativas que atingem o SNC. 145 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, P. A. Receptor de NMDA: modelagem molecular por homologia e análise SAR de antagonistas de um potencial alvo terapêutico em doenças neurodegenerativas. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008. ABREU, P. A.; DA SILVA, V. A.; SANTOS, F. C.; CASTRO, H. C.; RISCADO, C. S.; DE SOUZA, M. T.; RIBEIRO, C. P.; BARBOSA, J. E.; DOS SANTOS, C. C.; RODRIGUES, C. R.; LIONE, V.; CORREA, B. A.; CUNHA, A. C.; FERREIRA, V. F.; DE SOUZA, M. C.; PAIXÃO, I. C. 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Abreu PA, da Silva VA, Santos FC, Castro HC, Riscado CS, de Souza MT, Ribeiro CP, Barbosa JE, dos Santos CC, Rodrigues CR, Lione V, Correa BA, Cunha AC, Ferreira VF, de Souza MC, Paixão IC. Oxoquinoline derivatives: identification and structure-activity relationship (SAR) analysis of new anti-HSV-1 agents. Curr Microbiol. v. 62, n. 5, p. 1349-54, 2011. 2. Lourenço AL, Abreu PA, Leal B, da Silva Júnior EN, Pinto AV, Pinto Mdo C, Souza AM, Novais JS, Paiva MB, Cabral LM, Rodrigues CR, Ferreira VF, Castro HC. Identification of nor-β-lapachone derivatives as potential antibacterial compounds against Enterococcus faecalis clinical strain. Curr Microbiol. v. 62, n. 2, p. 684-9, 2011. 3. Campos VR, Abreu PA, Castro HC, Rodrigues CR, Jordão AK, Ferreira VF, de Souza MC, Santos Fda C, Moura LA, Domingos TS, Carvalho C, Sanchez EF, Fuly AL, Cunha AC. Synthesis, biological, and theoretical evaluations of new 1,2,3triazoles against the hemolytic profile of the Lachesis muta snake venom. Bioorg Med Chem. v. 17, n. 21, p. 7429-34, 2009. 4. Castro HC, Abreu PA, Geraldo RB, Martins RC, dos Santos R, Loureiro NI, Cabral LM, Rodrigues CR. Looking at the proteases from a simple perspective. J Mol Recognit. v. 24, n. 2, p. 165-181, 2010. 5. Geraldo RB, Bello ML, Dias LR, Vera MA, Nagashima T, Abreu PA, Santos MB, Albuquerque MG, Cabral LM, Freitas AC, Kalil MV, Rodrigues CR, Castro HC. Antiplatelet activity and structure-activity relationship study of Pyrazolopyridine Derivatives as potential series for treating thrombotic diseases. J Atheroscler Thromb. v. 17, n. 7, p. 730-9, 2010. 6. Leal B, Afonso IF, Rodrigues CR, Abreu PA, Garrett R, Pinheiro LC, Azevedo AR, Borges JC, Vegi PF, Santos CC, da Silveira FC, Cabral LM, Frugulhetti IC, Bernardino AM, Santos DO, Castro HC. Antibacterial profile against drug-resistant Staphylococcus epidermidis clinical strain and structure-activity relationship studies of 1H-pyrazolo[3,4-b]pyridine and thieno[2,3-b]pyridine derivatives. Bioorg Med Chem. v. 16, n. 17, p. 8196-204, 2008. 7. Do Nascimento VV, Castro HC, Abreu PA, Oliveira AE, Fernandez JH, Araújo Jda S, Machado OL. In silico structural characteristics and α-amylase inhibitory properties of Ric c 1 and Ric c 3, allergenic 2S albumins from Ricinus communis seeds. J Agric Food Chem. v. 59, 9, p. 4814-21, 2011. 8. Pinheiro LC, Abreu PA, Afonso IF, Leal B, Corrêa LC, Borges JC, Marques IP, Lourenço AL, Sathler P, dos Santos AL, Medeiros CA, Cabral LM, Júnior ML, Romeiro GA, Ferreira VF, Rodrigues CR, Castro HC, Bernardino AM. Identification of a potential lead structure for designing new antimicrobials to treat infections caused by Staphylococcus epidermidis-resistant strains. Curr Microbiol. v. 57, n. 5, p. 463-8. 165 9. Santos F. da C, Abreu P, Castro HC, Paixão IC, Cirne-Santos CC, Giongo V, Barbosa JE, Simonetti BR, Garrido V, Bou-Habib DC, Silva Dde O, Batalha PN, Temerozo JR, Souza TM, Nogueira CM, Cunha AC, Rodrigues CR, Ferreira VF, de Souza MC. Synthesis, antiviral activity and molecular modeling of oxoquinoline derivatives. Bioorg Med Chem. v. 17, n. 15, p. 5476-81, 2009. 10. Pinheiro, L.C.S. Borges, J. C.; Oliveira, C.D.; Ferreira, V. F.; Romeiro, G. A.; Marques, I. P.; Abreu, P. A.; Frugulheti, C.P.P; Rodrigues, C.R.; Albuquerque, M. G.; Castro, H. C.; Bernardino, A.M.R. Synthesis of new 4-(phenylamino)thieno[2,3b]pyridines and derivatives of the novel benzo[b]thieno[3,2-h][1,6]naphthyridine tetracyclic system ARKIVOC (xiv) 77-87, 2008. 11. Santos, M.S.; Gomes, A. O.; Bernardino, A. M. R.; Souza, M. C.; Khan, M.A.; Brito, M. A.; Castro, H.C.; Abreu, P.A.; Rodrigues, C. R.; Léo R.M.M.; Leonf, L. L.; CantoCavalheiro, M. M. Synthesis and Antileishmanial Activity of New 1-Aryl-1HPyrazole-4- Carboximidamides Derivatives J. Braz. Chem. Soc., v. 22, N. 2, p. 352-358, 2011. 12. Ventura, A. L.M.; Abreu, PA.; Freitas, R. C. C.; Sathler, P. C.; Loureiro, N.; Castro, H. C. Sistema colinergico: revisitando receptores, regulacao e a relacao com a doenca de Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia e tabagismo. Rev Psiq Clín. v. 37, n. 2, p. 6672, 2010. 13. Silva, F. C.; Souza, M. C. B. V.; Frugulhetti, I. C. P. P.; Castro, H. C.; Souza, S. L. O.; Souza, T. M. L.; Rodrigues, D. Q.; Souza, A. M. T.; Abreu, P. A.; Passamani, F.; Rodrigues, C. R.; Ferreira, V. F. Synthesis, HIV-RT inhibitory activity and SAR of 1benzyl-1H-1,2,3-triazole derivatives of carbohydrates. Eur J Med Chem, v. 44, n. 1, p. 373-383, 2009.