Obras de transposição do São Francisco afetam vida dos moradores
Máquinas paradas em trecho em Pernambuco tiram esperança de novos empregos.
O Jornal nacional exibe nesta quinta-feira (9) a segunda reportagem especial da série sobre a
transposição das águas do Rio São Francisco. Os repórteres Mônica Silveira e Augusto Cesar
mostram duas realidades distintas: o avanço das obras em uma região da Paraíba e as
máquinas paradas, quase abandonadas, em um trecho em Pernambuco.
A chegada de máquinas nunca vistas na região atraiu os agricultores. “Estamos aqui por um
emprego”, avisa uma mulher.
O vigia Agenor Gonçalves é assediado. “Toda hora é: ‘Agenor, chegou alguma pessoa da
empresa?’ Não, por enquanto não tem”, conta.
“Eu estou aqui para aguentar qualquer emprego”, afirma o um morador.
Em Cabrobó, Pernambuco, o canal da transposição é esperança e abandono. A construtora
chegou a iniciar a escavação nos lotes 1 e 2. E não passou disso. Há um ano e meio, a obra
parou, do jeito que está. O mato cresceu e quilômetros de escavação na pedra, investimentos,
suor, ficaram espalhados, abandonados no meio do Sertão. Nos canteiros vazios,
equipamentos que seriam usados para transformar o Sertão.
No ano passado, alguns consórcios de empreiteiras pararam a construção porque
consideraram o valor da licitação menor do que o custo real. O Ministério da Integração
Nacional começou uma nova negociação com as empreiteiras.
Na quarta-feira (7), na visita às obras em Pernambuco, a presidente Dilma Rousseff disse que
os acordos estão sendo renegociados.
Em um lote, na Paraíba, as obras não foram interrompidas. A escavação de dois túneis, que
juntos vão ter 20 quilômetros de extensão por dentro da Serra do Braga, mobiliza 460
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trabalhadores. Para abrir todo o espaço, são usadas 60 toneladas de explosivos nas frentes de
trabalho todo mês.
De 12 em 12 horas, há uma nova detonação. E assim, a obra avança. A cada dia, os operários
conquistam mais nove metros dentro da rocha. Depois de cada explosão, a quantidade de
pedras retiradas é suficiente para encher 40 caminhões.
Mas as obras provocaram outros efeitos para os moradores da região. Uma sucessão de
explosões danificou a casa do Seu Francisco. “A minha casa era perfeita, não tinha rachadura
de jeito nenhum. Depois desses tiros, começaram as rachaduras”, conta.
O governo comprou a casa de Seu Francisco. Mas ele ainda não se mudou porque é um dos
250 moradores de um lote da Paraíba que optaram por receber uma casa nova, que ainda não
está pronta, no lugar da indenização.
No mesmo lote, o trabalho está parado na fábrica de rapadura de Seu José. Há um século, a
família usa a água do açude para irrigar a plantação de cana-de-açúcar. Mas ele foi aterrado
no meio para a construção do canal do canal do Eixo Norte. O agricultor ainda não foi
indenizado. “Se essa água do açude secar, a gente fica sem água. E a gente vai sobreviver do
quê? Eu não sou contra a transposição. Eu sou a favor da transposição, desde que traga água,
sem tirar o pouco que a gente tem”, declara o agricultor.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, 1.679 famílias já foram indenizadas. Outras 124
precisam apresentar os documentos exigidos por lei.
(Fonte: G1)
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