CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE SEDE DIRETORIA DE ENSINO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE RECURSOS NATURAIS CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM MEIO AMBIENTE THIAGO DOS SANTOS AZEVEDO DAMASCENO IMPLANTAÇÃO E MONITORAMENTO DO PROGRAMA INTERNO DE COLETA SELETIVA (PICS) DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONDOMÍNIO ICARO – NATAL/RN NATAL-RN 2 2006 THIAGO DOS SANTOS AZEVEDO DAMASCENO IMPLANTAÇÃO E MONITORAMENTO DO PROGRAMA INTERNO DE COLETA SELETIVA (PICS) DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONDOMÍNIO ICARO – NATAL/RN Monografia apresentada ao Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para obtenção do Título de Tecnólogo em Meio Ambiente. Orientadora: Profª MSc. Régia Lúcia Lopes NATAL-RN 2006 3 Divisão de Serviços Técnicos. Catalogação da publicação na fonte. CEFET/RN. Biblioteca Sebastião Fernandes Damasceno, Thiago dos Santos Azevedo. Implantação e monitoramento do programa interno de coleta seletiva (PICS) de resíduos sólidos no condomínio Icaro – Natal/RN / Thiago dos Santos Azevedo Damasceno.__Natal, 2006. 73f. Orientadora: Profª. MSc. Régia Lúcia Lopes. 1. Resíduos sólidos – Coleta Seletiva – Monografia. 2. Gestão participativa – Monografia. 3. Educação ambiental – Monografia. I. Lopes, Régia Lúcia. II.Título. CEFET/BSF 4 THIAGO DOS SANTOS AZEVEDO DAMASCENO IMPLANTAÇÃO E MONITORAMENTO DO PROGRAMA INTERNO DE COLETA SELETIVA (PICS) DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONDOMÍNIO ICARO – NATAL/RN Monografia apresentada ao Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para obtenção do Título de Tecnólogo em Meio Ambiente. Orientadora: Profª MSc. Régia Lúcia Lopes Aprovada em 13 de outubro de 2006 Apresenta à comissão examinadora integrada pelos seguintes professores: ___________________________________________________________ Profª MSc. Régia Lúcia Lopes Orientador – CEFET -RN ___________________________________________________________ Profº Esp. Erivan Sales do Amaral Membr Examinador – CEFET-RN ___________________________________________________________ Profº Handson Cláudio Dias Pimenta Membro Examinador – CEFET-RN 5 Aos meus pais, irmãos e a toda minha família por tudo que eles representam para mim. À memória do meu avô Hermes Pereira dos Santos Azevedo e do meu tio Gleidson Fernandes Vieira Damasceno, ex-aluno da então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, que, em vida, foram muito importantes pessoal. na minha formação 6 AGRADECIMENTOS A Deus pela oportunidade e privilégio que me foi dado em compartilhar tamanha experiência e, ao freqüentar este curso, perceber e atentar para a relevância de temas que não faziam parte, em profundidade, da minha vida. A minha família pelo incentivo, amor e carinho em todos os momentos de minha vida. A minha professora e orientadora Régia Lúcia Lopes pelo incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização deste trabalho de conclusão de curso. Aos demais professores e funcionários do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) do Rio Grande do Norte, em especial, àqueles que, de alguma maneira, contribuíram positivamente no meu desempenho acadêmico. Aos colegas de classe pela cooperação no desenvolvimento das inúmeras atividades acadêmicas no decorrer do curso, em especial, às minhas amigas Marília Ulisses Nobre de Medeiros, Monalisa Rodrigues Oliveira da Silva e Selma Thaís Bruno da Silva que me auxiliaram na execução de uma das etapas deste trabalho. Ao colega Josivan Cardoso pelo auxílio inicial neste trabalho e a Marcella Azevedo por sua colaboração. A Hemerson Marinho Paiva, chefe do Setor de Análise Ambiental da SEMURB e ex-Gerente de Meio Ambiente da URBANA pelo apoio, pelos ensinamentos e informações indispensáveis compartilhadas no decorrer desta experiência. Aos colegas de trabalho, em especial, a Ana Lívia Gama Jardim de Sá pela força e colaboração ao longo de todo esse período. E, por fim, a todos os associados que trabalham no Programa de Coleta Seletiva do município de Natal pela bravura, cooperação e dedicação às atividades pertinentes ao referido Programa. Meus sinceros agradecimentos. 7 RESUMO O Programa Interno de Coleta Seletiva (PICS) é uma modalidade de coleta seletiva de resíduos sólidos implantada pela Companhia de Serviços Urbanos de Natal (URBANA) que visa atender aos grandes geradores de resíduos sólidos. Nessa modalidade, assim como em todas as outras, leva-se em consideração uma série de questões referentes à gestão participativa, cidadania, educação ambiental e minimização dos desperdícios dos resíduos sólidos gerados. Este trabalho tem como objetivo apresentar as etapas de implantação e monitoramento do PICS, no Condomínio Icaro, abrangendo as etapas de sensibilização, conscientização e mobilização dos moradores, funcionários e visitantes para que eles se envolvam e participem ativamente do referido Programa. A metodologia utilizada neste trabalho teve como referência principal o Plano de Estágio, que consistiu em: diagnosticar o gerenciamento dos resíduos sólidos gerados e avaliar a estrutura física do condomínio Icaro; realizar reuniões com os participantes do PICS, informando-os e esclarecendo dúvidas; treinar os funcionários da limpeza; avaliar os participantes quanto ao nível de adesão e monitorar o gerenciamento dos resíduos sólidos. A sensibilização, conscientização e comprometimento de algumas pessoas com o PICS foram fatores fundamentais para se poder atingir os objetivos determinados no planejamento deste projeto. Ao longo de vinte meses monitorando o processo de implantação, verificou-se que foram coletados seletivamente 3645 Kg de materiais recicláveis que foram destinados à ASCAMAR. Portanto, as mudanças foram nítidas no tocante à promoção da qualidade dos ambientes do condomínio e de atitudes por parte dos moradores e funcionários ao saber que estão contribuindo para a geração de tantos benefícios. Palavras-chave: Coleta Seletiva. Resíduos Sólidos. Gestão Participativa. Educação Ambiental. 8 ABSTRACT The Internal Program for Selective Collection (IPSC) is set up for the selective collection of solid waste implanted by the Urban Services Company of Natal that serves the large generators of solid waste. In this modality, as in all the others, a series of questions are taken into consideration in relation to participative management, citizenship, environmental education and the minimization of solid waste loss. The objective of this work is to present the necessary steps for the Implantation and monitoring of the IPSC, in the Icaro Condominium, concerning all of the steps for making the inhabitants aware and sensitive to the issues involved and finally to mobilizing employees and visitors so that they can actively be involved in the program. The methodology involved in this work has as a main reference, the Initial Training Plan, that consisted in diagnosing the management of the solid waste; and the evaluation of the physical structure of the Icaro condominium; hold meetings with the participants of IPSC, to keep them up to date and to clarify doubts; train the cleaning personnel; evaluate the participants in regards to the level of adherence and monitoring of the management of solid waste. The sensitivity and awareness training and the behavior of some of the IPSC personnel were fundamental factors in being able to achieve the objectives contained in the planning of this project. During the 20 months of monitoring the implementation process, it was verified that 3645 kilos of waste materials were recycled that were destined for the ASCAMAR. Therefore, the changes were clearly touching in the promotion of the environmental quality of the condominium and the attitudes on the part of the inhabitants and the employees to know that this had contributed to the generation of so many benefits. Key Words: Selective Collection. Solid Waste. Participative Management. Environmental Education. 9 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – Antiga Área de Disposição Final do Lixo de Natal 25 FIGURA 02 – Condições do Relevo da Antiga Área de Disposição Final 27 FIGURA 03 – Localização do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal 28 FIGURA 04 – PEV’s utilizados na coleta seletiva antes de 2003 33 FIGURA 05 – Lixo sendo colocado na esteira mecânica da Usina 34 FIGURA 06 – Triagem do Lixo “in natura” 35 FIGURA 07 – Moradora doando seus materiais recicláveis 36 FIGURA 08 – PICS da Potiguar HONDA 37 FIGURA 09 – Fachada do Condomínio Icaro 44 FIGURA 10 – Localização geográfica do Condomínio Icaro – Natal/RN 44 FIGURA 11 – Composição gravimétrica 46 FIGURA 12 – Quantidades coletadas de três modalidades da coleta seletiva 47 FIGURA 13 – Comparação entre a coleta domiciliar e a seletiva 48 FIGURA 14 – Pessoa que lida diretamente com o lixo no apartamento 49 FIGURA 15 – Grau de escolaridade dos entrevistados 50 FIGURA 16 – Avaliação do PICS 50 FIGURA 17 – Avaliação do incentivo da Prefeitura de Natal para dispor tal programa para a sociedade e os catadores 51 FIGURA 18 – Nível de participação no Programa implantado no condomínio Icaro 52 FIGURA 19 – Material mais doado para a coleta seletiva 52 FIGURA 20 – Grau de dificuldade em relação à separação do lixo seco do molhado 53 FIGURA 21 – Grau de estímulo para participação no PICS 53 FIGURA 22 – Os três elos do PICS 54 10 FIGURA 23 – Câmara de lixo do condomínio Icaro FIGURA 24 – Local de armazenamento provisório do lixo no condomínio Icaro 56 57 LISTA DE TABELAS E QUADROS TABELA 01 – Quantidade de Resíduos Urbanos Gerados e Coletados (t/dia), em 2005 24 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais ABRESOL - Associação de Beneficiamento de Resíduos Sólidos do Rio Grande do Norte ACRRN - Associação dos Catadores de Recicláveis do Rio Grande do Norte ADVB - Associação dos Dirigentes de vendas e Marketing do Brasil ARSBAN - Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município de Natal ASCAMAR - Associação dos Catadores de Matérias Recicláveis ASTRAS - Associação dos Agentes Trabalhadores em Reciclagem de Lixo do Aterro Sanitário ATT - Área de Triagem e Transbordo CAERN - Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte CEF - Caixa Econômica Federal CEFET/RN - Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte CMV - Coleta Motorizada Volante – CMV CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente COSERN - Companhia Energética do Rio Grande do Norte FUNASA - Fundação Nacional de Saúde IBAM - Instituto Brasileiro de Administração Municipal IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e de Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Norte IPT/CEMPRE - Instituto de Pesquisas Tecnológicas/ Compromisso Empresarial para Reciclagem MMA - Ministério do Meio Ambiente PICS - Programa Interno de Coleta Seletiva PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 12 PET - PEV’s - Polietileno Tereftalate Postos de Entrega Voluntária PROGESA - Programa de Educação Sanitária e Ambiental SEARA - Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e Apoio à Reforma Agrária SECD - Secretaria da Educação, da Cultura e dos Desportos do Estado SEDU - Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano SME - Secretaria Municipal de Educação SEMURB - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo URBANA - Companhia de Serviços Urbanos de Natal 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 17 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS............................................................................................ 17 2.1.1 Definições........................................................................................................... 17 2.1.2 Classificação...................................................................................................... 18 2.1.2.1 Quanto aos Riscos Potenciais de Contaminação do Meio Ambiente............... 18 2.1.2.2 Quanto à Natureza ou Origem.......................................................................... 19 2.1.3 Características................................................................................................... 21 2.2 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 21 2.2.1 Geração, Coleta e Destinação Final de Resíduos Sólidos Urbanos............. 22 2.3 OS RESÍDUOS SÓLIDOS NA CIDADE DE NATAL 24 2.3.1 Atual Destino Final dos Resíduos Sólidos Urbanos de Natal....................... 27 2.4 COLETA SELETIVA…………………………………………………………………….. 29 2.5 COLETA SELETIVA X RECICLAGEM................................................................... 31 2.6 O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA E A EXPERIÊNCIA DA CIDADE DE NATAL.... 32 2.6.1 Modalidades da Coleta Seletiva realizada em Natal....................................... 33 2.6.1.1 Postos de Entrega Voluntária (PEV´s).............................................................. 33 2.6.1.2 Usina de Triagem do Lixo “in natura”................................................................ 34 2.6.1.3 Porta a Porta..................................................................................................... 35 2.6.1.4 Programa Interno de Coleta Seletiva (PICS).................................................... 36 2.6.2 Breve Histórico da Coleta Seletiva em Natal................................................... 37 3 METODOLOGIA........................................................................................................ 40 14 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.............................................................................. 43 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO........................................................ 43 4.2 LOCALIZAÇÃO....................................................................................................... 43 4.3 DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONDOMÍNIO ICARO.......................................................................................................................... 45 4.3.1 Caracterização Gravimétrica........................................................................... 45 4.3.2 Diagnóstico da Comunidade Residente......................................................... 49 4.4 FASE OPERACIONAL....................................................................................... 54 4.4.1 Planejamento Contínuo................................................................................... 55 4.4.2 Destinação, Escoamento e Comercialização dos Recicláveis.................... 55 4.4.3 Educação Ambiental Contínua......................................................................... 58 5 CONCLUSÃO............................................................................................................ 59 6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES...................................................................... 61 REFERÊNCIAS............................................................................................................ 63 ANEXO A – Questionário.............................................................................................. 66 ANEXO B – Decreto Municipal nº. 7.395/04................................................................. 68 15 1 INTRODUÇÃO O problema dos resíduos sólidos na grande maioria dos países e, particularmente, em determinadas regiões do mundo vem se agravando como conseqüência do acelerado crescimento populacional, concentração das áreas urbanas, desenvolvimento industrial e mudanças de hábitos de consumo. Geralmente, o desenvolvimento econômico de qualquer região vem acompanhado de uma maior produção de resíduos sólidos. Nesse contexto, a coleta seletiva é uma modalidade de coleta de materiais previamente separados que contribui para a redução da poluição causada pelo lixo, assim como proporciona economia de recursos naturais – matérias-primas, água e energia – e, em alguns casos, pode representar a obtenção de recursos financeiros, advindos da comercialização do material. Os materiais devem ser separados na fonte de produção pelos respectivos geradores, e daí seguir passos específicos para remoção, coleta, transporte, tratamento e destino correto. Conseqüentemente, os geradores têm de ser envolvidos, de uma forma ou de outra, para se integrarem à gestão de todo o processo. Gerenciar o lixo de forma integrada, portanto, demanda trabalhar integralmente os aspectos sociais, ambientais e econômico-financeiros com o planejamento das ações técnicas e operacionais do sistema de limpeza urbana, de forma que se atinja o objetivo de se dar melhor tratamento e destino final ao mesmo. Este trabalho teve como objetivo geral implantar e monitorar, durante vinte meses, o Programa Interno de Coleta Seletiva (PICS), do Condomínio Icaro Natal/RN. Como objetivos específicos, trabalhou-se a sensibilização e conscientização dos moradores e funcionários, a fim de que os mesmos pudessem contribuir satisfatoriamente com este programa. Com a implementação desse programa no Condomínio Icaro, pretende-se proporcionar mudanças de atitudes relacionadas com o trato ao meio ambiente e ao destino adequado de resíduos, além de levar para reflexão as questões socioambientais relacionadas ao descarte de resíduos e a melhoria da qualidade de vida de pessoas que sobrevivem dessa atividade. Em relação ao ambiente interno 16 do condomínio, objetivou-se disciplinar a destinação de resíduos; melhorar o aspecto visual tornando o local limpo e mais humanizado para os funcionários e condôminos. Este relatório compreende um primeiro capítulo com a revisão bibliográfica acerca do gerenciamento integrado de resíduos sólidos com foco na coleta seletiva; um segundo capítulo, descrevendo a metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho e na obtenção dos dados; um terceiro capítulo, apresentando os resultados e discussões; um quarto capítulo com as conclusões; seguindo-se as sugestões e recomendações condizentes com a realidade local, e por fim, as referências bibliográficas e os anexos. 17 2 RESÍDUOS SÓLIDOS: DEFINIÇÕES Os resíduos sólidos são objeto de vários estudos e pesquisas e são definidos de acordo com IPT/CEMPRE (2000) como “os restos das atividades humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis”. É preciso dar ênfase, no entanto, a relatividade da característica inservível do lixo, pois aquilo que já não apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para outro pode se tornar matéria-prima para um novo produto ou processo. Nesse sentido, a idéia do reaproveitamento do lixo é um convite à reflexão do próprio conceito clássico de resíduos sólidos. É como se o lixo pudesse ser conceituado como tal somente quando da inexistência de mais alguém para reivindicar uma nova utilização dos elementos então descartados. Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através da Norma Brasileira Regulamentadora (NBR) – 10.004 (2004), define resíduos sólidos como: Resíduos em estados de sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades de origem: industrial, doméstico, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle da poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviáveis seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Mais importante que a própria definição, é saber o que fazer com os resíduos. A perda ou ausência de valor em muitos casos está relacionada com a mistura ou ao desconhecimento de sua composição. Mais especificamente, quando se trata de resíduos sólidos, diversos grupos podem ser identificados ou classificados de acordo com a abordagem estabelecida. Dentre os diferentes grupos de resíduos sólidos, os domiciliares, por natureza, são os mais complicados em termos de manejo, pois são constituídos por uma grande diversidade de componentes (plásticos, vidro, metais, vidro, restos de alimento, etc.), via de regra, totalmente misturados. A composição desses resíduos também varia muito em função da sazonalidade e geograficamente (de um país para outro e de uma cidade para outra). 18 2.1 CLASSIFICAÇÃO São várias as maneiras de se classificar os resíduos sólidos. As mais comuns são quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e quanto à natureza ou origem. 2.1.1 Riscos potenciais de contaminação do meio ambiente De acordo com a NBR 10.004 de 2004 da ABNT, os resíduos sólidos podem ser classificados em: a) Classe I ou perigosos - São classificados como resíduos classe I ou perigosos, os resíduos sólidos ou mistura de resíduos que, em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou apresentar efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. b) Classe II–A ou não-inertes - São os resíduos que podem apresentar características de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água, com possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao meio ambiente, que não se enquadram na classe I ou classe II – B. c) Classe II-B ou inertes - São aqueles que, por suas características intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente e que, quando amostrados de forma representativa, segundo a NBR 10.007/04, e submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de solubilização segundo a NBR 10.006/04, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, conforme listagem nº. 8, anexo H da NBR 10.004/04, excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor. 19 2.1.2 Natureza ou origem A origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos sólidos. Segundo este critério, os diferentes tipos de lixo podem ser agrupados em duas classes. O lixo urbano oriundo das atividades realizadas no núcleo urbano, incluindo-se: a) Lixo domiciliar - São os resíduos gerados nas atividades diárias em casas, apartamentos, condomínios e demais edificações residenciais. b) Lixo comercial - São os resíduos gerados em estabelecimentos comerciais, cujas características dependem da atividade ali desenvolvida. c) Lixo público - São os resíduos presentes nos logradouros públicos, em geral resultantes da natureza, tais como folhas, galhadas, poeira, terra e areia, e também aqueles descartados irregular e indevidamente pela população, como entulho, bens considerados inservíveis, papéis, restos de embalagens e alimentos. O lixo de fontes especiais é resíduos que, em função de suas características peculiares, passam a merecer cuidados especiais em seu manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposição final. Dentro da classe de resíduos de fontes especiais, destacam-se: a) Lixo industrial - São os resíduos gerados pelas atividades industriais. São resíduos muito variados que apresentam características diversificadas, pois estas dependem do tipo de produto manufaturado. Devem, portanto, ser estudados caso a caso. Adota-se a NBR 10.004/04 da ABNT para se classificar os resíduos industriais: Classe I (Perigosos), Classe II-A (NãoInertes) e Classe II-B (Inertes). b) Lixo radioativo - Assim considerados os resíduos que emitem radiações acima dos limites permitidos pelas normas ambientais. No Brasil, o manuseio, 20 acondicionamento e disposição final do lixo radioativo estão sob a responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. c) Lixo de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários - Resíduos gerados tanto nos terminais, como dentro dos navios, aviões e veículos de transporte. Os resíduos dos portos e aeroportos são decorrentes do consumo de passageiros em veículos e aeronaves e sua periculosidade está no risco de transmissão de doenças já erradicadas no país. A transmissão também pode se dar através de cargas eventualmente contaminadas, tais como animais, carnes e plantas. d) Lixo agrícola - Formado basicamente pelos restos de embalagens impregnados com pesticidas e fertilizantes químicos, utilizados na agricultura, que são perigosos. Portanto, o manuseio desses resíduos segue as mesmas rotinas e se utiliza dos mesmos recipientes e processos empregados para os resíduos industriais Classe I. e) Resíduos de Serviços de Saúde - São todos aqueles resultantes de atividades exercidas nos “serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, entre outros similares” definidos no art. 1º da Resolução nº. 358/05 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) “que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua disposição final”. 21 A classificação de um resíduo sólido, por si só, não deve impedir o estudo de alternativas para a sua utilização. No entanto, é essa classificação que orienta os cuidados especiais no gerenciamento do resíduo sólido, os quais podem inviabilizar sua utilização, reutilização ou reciclagem quando não se puder garantir segurança ao trabalhador, ao consumidor final ou ao meio ambiente. Para a utilização de um resíduo sólido ou de misturas de resíduos sólidos na fabricação de um novo produto ou para outras finalidades, este último deve estar em conformidade com os requisitos estabelecidos pelos órgãos responsáveis pela liberação do produto. 2.2 CARACTERÍSTICAS A caracterização de um resíduo sólido depende da sua avaliação, qualitativa e quantitativa, devendo ser investigados os parâmetros que permitam a identificação de seus componentes principais e também a presença e/ou ausência de certos contaminantes. A investigação de contaminantes é, normalmente, baseada no conhecimento das matérias-primas e substâncias que participaram do processo que originou o resíduo sólido. O processo de caracterização de um resíduo descrito na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 10004/04 permite classificar um resíduo sólido, bem como identificar se este deve ser qualificado como perigoso por apresentar características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. Essas características devem nortear os cuidados no gerenciamento do resíduo sólido. A escolha de uma alternativa para a destinação de um resíduo sólido, por sua vez, depende da composição química, do teor de contaminantes, do estado físico do resíduo sólido, dentre outros fatores. 2.3 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL Considerada um dos setores do saneamento ambiental, a gestão dos resíduos sólidos não tem merecido a atenção necessária por parte do poder público. Com isso, compromete-se cada vez mais a já combalida saúde da população, bem como se degradam os recursos naturais, especialmente o solo e os recursos hídricos. A interdependência dos conceitos de meio ambiente, saúde e saneamento 22 é hoje bastante evidente, o que reforça a necessidade de integração das ações desses setores em prol da melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Segundo dados do Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (IBAM, 2001), 70% dos municípios brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes, e que a concentração urbana da população no país ultrapassa a casa dos 80%. Isso reforça as preocupações com os problemas ambientais urbanos e, entre estes, o gerenciamento dos resíduos sólidos, cuja atribuição pertence à esfera da administração pública local. Tradicionalmente, o que ocorre no Brasil é a competência do município sobre a gestão dos resíduos sólidos produzidos em seu território, com exceção dos de natureza industrial, mas incluindo-se os provenientes dos serviços de saúde. 2.3.1 Geração, coleta e destinação final de resíduos sólidos urbanos (RSU) De acordo com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), a geração de resíduos sólidos domiciliares no Brasil é de cerca de 0,6 kg/hab/dia e mais 0,3 kg/hab/dia de resíduos de varrição, limpeza de logradouros e entulhos. No entanto, algumas cidades, especialmente nas regiões Sul e Sudeste – como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba –, alcançam índices de produção mais elevados, podendo chegar a 1,3 kg/hab/dia, considerando todos os resíduos manipulados pelos serviços de limpeza urbana (domiciliares, comerciais, de limpeza de logradouros, de serviços de saúde e entulhos) (IBAM, 2001). Lamentavelmente, grande parte dos resíduos gerados no país não é regularmente coletada, permanecendo junto às habitações (principalmente nas áreas de baixa renda) ou sendo descartada em logradouros públicos, terrenos baldios, encostas e cursos d'água. Para muitas pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento, a falta de um adequado sistema de coleta, tratamento e destino dos dejetos é a mais importante das questões ambientais. O problema é particularmente acentuado nas áreas periurbanas e em áreas rurais onde a maioria da população é composta de pessoas de baixa renda. Segundo o Ministério das Cidades, 82 milhões de brasileiros que não contam com coleta de esgoto, cerca de 45 milhões não têm acesso à água encanada e uma parcela da população que tem ligação domiciliar não conta com abastecimento diário e nem de água potável de qualidade. Além disso, 16 milhões de brasileiros não são 23 atendidos pelo serviço de coleta de lixo. E, nos municípios de grandes e médios portes, onde o sistema de coleta convencional poderia atingir toda a produção diária de resíduos sólidos, esse serviço não atende adequadamente os moradores das favelas, das ocupações e dos bairros populares, por conta da precariedade da infraestrutura viária naquelas localidades. Outras situações apontam que em 64% dos municípios o lixo coletado é depositado em lixões “a céu aberto” e 75% de todo o esgoto sanitário coletado nas cidades é despejado “in natura” Para avaliação da quantidade de resíduos coletados no Brasil contou-se com três fontes distintas de informação. A mais recente foi a pesquisa realizada, em 2005, pela Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais (ABRELPE) no âmbito dos municípios com mais de 50 mil habitantes, na qual obtiveram-se respostas válidas de 111 municípios, correspondendo a cerca de 57 milhões de habitantes, equivalente a 40% da população atendida por serviços de coleta no país. É importante frisar que esses 111 municípios incluem a quase totalidade das capitais de estado e amostras significativas de cada macrorregião brasileira. A projeção do total dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil, feita a partir da pesquisa da ABRELPE e realizada com a utilização de método científico, conduz a uma quantidade de 113.774 t/dia, muito inferior ao total mais adiante adotado como referência, que é de 164.774 t/dia e que tem por origem a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada em 2000. No entanto, como a informação oriunda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decorre de consulta ao universo completo dos municípios e os dados provenientes da pesquisa da ABRELPE podem conter inconsistências ainda não detectadas, optou-se por manter os dados do PNSB (2000) como referência principal neste trabalho. De acordo com a PNSB, atualizada através de estimativas para 2005, a quantidade de resíduos sólidos urbanos coletados, por macrorregião e Brasil, é apresentada na tabela 1. 24 Tabela 1: Quantidade de Resíduos Urbanos Gerados e Coletados (t/dia), em 2005 Macrorregião RSU Gerados Índice Coletado RSU Coletados RSU não (t/dia) (%) (t/dia) Coletados (t/dia) Norte 14.365 87,5 12.569 1.796 Nordeste 46.623 89,4 41.681 4.942 Centro-Oeste 10.096 96,5 9.743 353 Sudeste 82.458 98,4 81.139 1.319 Sul 19.982 98,3 19.643 340 Brasil 173.524 95,0 164.774 8.750 Fonte: PNSB (2000) – CEF/FUNASA/SEDU/IBGE A tabela 1, de maneira inédita, indica também as quantidades geradas de resíduos e os montantes não coletados. A quantidade gerada foi deduzida a partir dos indicadores de acesso a serviços de coleta da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios PNAD (2002) do IBGE informados em função dos moradores em domicílios particulares, para as áreas urbana e rural. Se os índices gerais de coleta de resíduos sólidos urbanos mostram-se próximos da universalização (95%), em decorrência natural das médias elevadas encontradas nos municípios mais populosos e nos centros urbanos, é na destinação final desses resíduos que se localiza o principal problema a ser resolvido. Cerca de 60% da quantidade coletada são dispostos de forma inadequada, lançados a céu aberto, em lixões ou em meios hídricos, correspondendo a aproximadamente 99 mil toneladas por dia de resíduos sólidos urbanos. Para agravar o problema, uma parcela considerável das outras 66 mil toneladas diárias consideradas oficialmente com disposição adequada é de fato disposta em aterros controlados e não sanitários. 2.4 RESÍDUOS SÓLIDOS NA CIDADE DE NATAL A Cidade do Natal apresenta uma área de 169,9 Km2, totalmente urbanizada, de acordo com o atual Plano Diretor, com uma população atual estimada em 778.040 habitantes (Estimativa - IBGE/2005). A coleta de resíduos sólidos urbanos incluindo os domiciliares, comerciais e públicos, atingiu, em 2005, uma média diária 25 de 1.446 toneladas, com um per capita de 1.86 kg/hab/dia, sendo a cobertura de coleta domiciliar de 97,61% da população, conforme dados obtidos na Companhia de Serviços Urbanos (URBANA) do Natal. Já, se for levado em consideração apenas os resíduos domiciliares e comerciais, a coleta destes atingiu uma média diária de 600 toneladas. O crescimento populacional do município, no decorrer dos últimos dez anos, atingiu um aumento percentual de 17%, o que contribuiu para aumentar em 32% a produção de resíduos sólidos. Este dado nos leva a perceber que o aumento na geração de resíduos sólidos decorreu, dentre outras variáveis, do crescimento populacional, aliado ao aumento de população flutuante decorrente da atividade turística. De acordo com Pinheiro (2004), para o destino de resíduos sólidos da cidade de Natal, em 1968, a prefeitura já utilizava a antiga área, situada nas dunas entre os bairros de Cidade Nova e Felipe Camarão, conforme mostra a figura 1. Figura 1 - Antiga Área de Disposição Final do Lixo de Natal Fonte: URBANA No início dos anos 70, a área de disposição de resíduos foi transferida, temporariamente, para o preenchimento de uma grande depressão no Baldo, em local limitado pela rua Cap. Silveira Barreto, Av. Cel. José Bernardo, riacho do Baldo e a Estação de Tratamento de Esgotos da Cia. de Águas e Esgotos do Estado do Rio Grande do Norte (CAERN). Nesse local, mesmo estando muito próximo das 26 residências, foi implantado um aterro controlado, com recobrimento diário do material descarregado e drenagem dos gases. O lugar foi ocupado pelo estacionamento e o centro de treinamento da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN). Em 1972, passou-se a utilizar novamente a área onde estava inserido o antigo ponto de destino final de resíduos sólidos da cidade de Natal, através da disposição de resíduos a céu aberto. A utilização dessa área de 34 ha se processou até o ano de 1983, quando foi implantado o "Aterro Controlado de Nova Cidade", localizado no final da Avenida Interventor Mário Câmara. Na realidade, essa estrutura tinha características de um aterro controlado e apresentou considerável avanço operacional. A área era totalmente cercada, existia um sistema de coleta de gases com o seu aproveitamento em uma cozinha comunitária ocorrendo o recobrimento regular dos resíduos. No entanto, pela falta de material de recobrimento ocorreu uma profunda destruição das dunas do local e os resíduos voltaram a ser depositados na área de Cidade Nova, a partir de 1986. Em 1988, foi construída a Usina de Reciclagem e Compostagem de Cidade Nova dentro da área de disposição final. A unidade de reciclagem projetada para uma produção de 150 ton/dia já se mostrou subdimensionada para a produção de resíduos que, naquela época já apresentava uma produção diária de 297,37 ton/dia. O certo é que a unidade só conseguia processar 90 ton/dia, ou seja, 30% da produção de resíduos da época. Entre o ano de 1977 e o ano de 2003, também foram utilizadas áreas na chamada "Favela do Alemão", no bairro de Felipe Camarão, Guajiru, no município de São Gonçalo do Amarante e no bairro de Nova Natal, durante pequenos períodos. A disposição de resíduos, localizada no final da Avenida Central, na zona limite entre os bairros de Cidade Nova e Felipe Camarão, se processou de forma contínua por mais de 30 anos, com o aterramento de aproximadamente seis milhões de metros cúbicos de resíduos sólidos, formando uma camada de lixo que varia de 10 a 30 metros de altura, como mostra na figura 2 abaixo. 27 Figura 2: Condições do relevo da antiga área de disposição final Fonte: URBANA Alguns fatores comprometeram a utilização da área para destinação de resíduos sólidos urbanos, tais como: proximidade das residências; área praticamente 100% utilizada, o que impediu a implantação de uma nova célula; camada de lixo velho bastante espessa, que levou a custos extremamente elevados para impermeabilização de fundo do aterro; impossibilidade de aprovação do novo projeto, frente à Resolução nº. 04/95 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) (segurança aeroportuária); presença de catadores e inexistência de material de recobrimento. Além de todos esses fatores, o mais grave é que a disposição de resíduos era feita em uma área de dunas de alta permeabilidade, o que levava a total dispersão do chorume no aqüífero. 2.4.1 Atual destino final dos resíduos sólidos O lixão de Cidade Nova só foi desativado definitivamente depois que foi construído o Aterro Sanitário Metropolitano de Natal pela empresa BRASECO S/A, ganhadora da licitação conforme edital de concorrência nº. 001/96, que resultou na concessão para tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos, em especial do Município de Natal, por um período de 20 anos. A falta de um local adequado para a instalação de um Aterro Sanitário no Município de Natal levou a obra para a cidade de Ceará-Mirim, distante 22 km da capital, podendo ver sua localização na figura 3. 28 Figura 3: Localização do aterro sanitário metropolitano de Natal Fonte: BRASECO Definida a localização do Aterro Sanitário, uma área com 60 hectares, no distrito de Massaranduba, a BRASECO S/A passou a realizar audiências públicas em Natal e Ceará-Mirim, esclarecendo à comunidade e aos órgãos públicos todos os detalhes da operação de um aterro sanitário. O passo seguinte foi obter as licenças ambientais para a construção e posteriormente operação do aterro sanitário, que começou a receber lixo no dia 25 de junho de 2004. Foram projetadas 16 células medindo 125m x 250m que recebe cerca de 1500 toneladas de lixo por dia e somente de Natal recebe 663 toneladas de lixo. Segundo pesquisa realizada pela ABRELPE, em 2005 a quantidade média diária aterrada de RSU foi de 800 toneladas de lixo. 2.5 COLETA SELETIVA A coleta seletiva de lixo é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, tais como, plásticos, vidros, metais e orgânicos previamente separados na fonte geradora (IPT/CEMPRE, 2000). A coleta seletiva e a reciclagem de resíduos são uma solução indispensável, por permitir a redução do volume de lixo para disposição final em aterros e incineradores. Não é a única forma de tratamento e disposição: exige o complemento das demais soluções. O fundamento desse processo é a separação, 29 pela população, dos materiais recicláveis (papéis, vidros, plásticos e metais) do restante do lixo, que é destinado a aterros ou usinas de compostagem. De acordo com IPT/CEMPRE (2000) a coleta seletiva apresenta os seguintes aspectos positivos: • Proporciona boa qualidade dos materiais recuperados, uma vez que estes estão menos contaminados pelos outros materiais; • Estimula a cidadania, pois a participação popular reforça o espírito comunitário; • Permite maior flexibilidade, uma vez que pode ser feita em pequena escala e ampliada gradativamente; • Permite articulações com catadores, empresas, associações ecológicas, escolas, sucateiros etc.; • Reduz o volume do lixo que deve ser disposto. Da mesma forma, essa referência menciona os seguintes aspectos negativos: • Necessita de esquemas especiais, levando a um aumento dos gastos com coleta. Por exemplo, no caso de coleta porta-a-porta, utiliza caminhões especiais que passam em dias diferentes dos da coleta convencional; • Necessita, mesmo com a segregação na fonte, de um centro de triagem, onde os recicláveis são separados por tipo. O Brasil ainda está muito distante de mudanças mais estruturais, que reduzam o volume de resíduos gerados, o que aumenta a importância dos programas de coleta seletiva de lixo. Só ela, no entanto, não soluciona todos os problemas relativos à destinação de resíduos sólidos e deve ser considerada dentro de um plano mais amplo, de gerenciamento integrado do lixo. 30 De acordo com Calderoni (1998), vidro, papel, plástico e metal representam, em média, 50% do lixo que vai para os aterros. Além disso, a reciclagem pode virar dinheiro. Calderoni (1998) calcula em 5,8 bilhões de reais por ano o total que o Brasil deixou de arrecadar com materiais recicláveis, sendo uma fortuna equivalente a dezessete vezes o orçamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) daquele mesmo ano. Diversas preocupações motivam um programa de coleta seletiva de lixo, tais como: • ambiental/geográfico, onde estão em questão a falta de espaço para disposição do lixo, a preservação da paisagem, a economia de recursos naturais e a diminuição do impacto ambiental de lixões e aterros; • sanitário, onde a disposição inadequada do lixo, às vezes aliada à falta de qualquer sistema de coleta municipal, traz inconveniente estético e de saúde pública; • social, quando o trabalho enfoca a geração de empregos e o resgate da dignidade, estimulando a participação de catadores de rua e de lixões; • econômico, com o intuito de reduzir os gastos com a limpeza urbana e investimentos em novos aterros; • educativo, que vê um programa de coleta seletiva como forma de contribuir para mudar valores e atitudes individuais para com o ambiente, incluindo a revisão de hábitos de consumo, ou para mobilizar a comunidade e fortalecer o espírito de cidadania. 2.6 COLETA SELETIVA X RECICLAGEM Existe uma certa confusão em torno do conceito de coleta seletiva. É comum as pessoas entenderem a “coleta” como sinônimo de “separação” de materiais 31 descartados ou, ainda, como de “reciclagem”. Há quem diga, por exemplo, que “faz coleta seletiva” em casa, mas se queixa de que seu bairro ou sua cidade “não tem reciclagem”. Outros garantem que “reciclam” seu lixo mas que, infelizmente, “o ‘catador’ mistura tudo”. Este equívoco é reforçado em textos diversos e pela imprensa. Segundo MANSUR (1993) e SEPURB (1997), “a coleta seletiva consiste na separação dos materiais recicláveis... e de matéria orgânica... nas próprias fontes geradoras”. Já segundo o Jornal do Meio Ambiente (1996, grifo do autor), você pode combater o desperdício e dar o bom exemplo em casa “... fazendo a coleta seletiva do lixo domiciliar”. Para facilitar a compreensão deste texto convém explicar que a coleta seletiva de lixo não é a separação de materiais em si, mas uma etapa entre esta separação e o processo de reciclagem (ou outro destino alternativo aos aterros e incineradores). Este termo aplica-se, portanto, ao recolhimento diferenciado desses materiais (já separados nas fontes geradoras), por catadores, sucateiros, entidades, prefeituras, etc., normalmente em horários pré-determinados, alternados com a coleta do lixo propriamente dito. Deve ficar claro, portanto, que não adianta separar materiais do lixo se não houver um sistema de recolhimento especial, a coleta seletiva de lixo, que permita que os materiais separados sejam recuperados para reuso, reciclagem, ou compostagem. Quando a coleta dos materiais é precedida de uma separação simples nas fontes geradoras, normalmente em duas categorias – lixo/recicláveis, orgânicos/inorgânicos, lixo seco/lixo úmido, etc. – alguns preferem chamá-la de coleta diferenciada, usando, então, a expressão coleta seletiva para designar aquela condicionada a uma pré-seleção mais rigorosa, como a dos resíduos orgânicos dos diversos recicláveis, já separados em plásticos, papéis, vidros e metais. Certo cuidado também deve ser tomado na denominação das categorias de separação de materiais. Essas categorias devem ser bem claras e, preferencialmente, mutuamente exclusivas, evitando-se divisões como a de lixo seco e lixo orgânico. Neste caso pode haver confusão, já que uma folha de jardim, ou uma folha de papel, que são resíduos orgânicos, também podem ser secas. Dentro do possível, na busca por uma reconceituação didática dos resíduos, convém também evitar a palavra lixo - "... tudo o que não presta e se joga fora”. Considerando que os materiais descartados “prestam”, sim, sugerimos que cada 32 categoria seja denominada segundo sua destinação alternativa ideal: recicláveis, compostáveis, reutilizáveis, etc. Reciclagem, por sua vez, é tida como a recuperação dos materiais descartados, modificando-se suas características físicas (diferenciando-a de reutilização, em que os descartados mantém suas feições). A reciclagem pode ser direta, ou pré-consumo, quando são reprocessados materiais descartados na própria linha de produção, como aparas de papel, rebarbas metálicas, etc., ou indireta, pósconsumo, quando são reprocessados materiais que foram descartados como lixo por seus usuários. Em ambos, os materiais retornam a seu estado quase original como matéria-prima para mais um ciclo produtivo (CIÊNCIA HOJE, 1997). As atividades de separar, coletar e reciclar estão associadas, mas não são necessariamente dependentes. A reciclagem de materiais pode ocorrer sem a separação prévia de resíduos nas fontes geradoras – a partir de resíduos triados por catadores num lixão ou numa “usina de reciclagem/compostagem”, onde é descarregado todo o lixo, sem pré-seleção pela população, exatamente como é coletado pelo serviço de limpeza. Nesses casos, porém, a qualidade e os produtos do processo são muito inferiores. 2.7 PROGRAMA DE COLETA SELETIVA: EXPERIÊNCIA DA CIDADE DE NATAL Atualmente, quatro entidades são responsáveis pela prestação, em regime de permissão, de serviços de coleta de materiais recicláveis, incluídas as atividades de separação; acondicionamento; beneficiamento e comercialização, no município de Natal. São elas: ASCAMAR (Associação dos Catadores de Matérias Recicláveis), ASTRAS (Associação dos Agentes Trabalhadores em Reciclagem de Lixo do Aterro Sanitário), ACRRN (Associação dos Catadores de Recicláveis do Rio Grande do Norte) e ABRESOL (Associação de Beneficiamento de Resíduos Sólidos do Rio Grande do Norte). Essas associações são formadas por ex-catadores do antigo “lixão” de Cidade Nova. “O fechamento do lixão de Cidade Nova; a inserção social dos catadores; a implantação do Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal e a ampliação da coleta seletiva são os passos mais importantes dos últimos dois anos no que dizem 33 respeito à gestão dos resíduos sólidos e a melhoria da qualidade de vida dos moradores da cidade do Natal”, segundo Pinheiro (2004). Além da coleta seletiva já praticada, os catadores estão inseridos em atividades como alfabetização, hortas comunitárias, produção de vassouras (com material PET), usina de triagem e reaproveitamento da podação, entre outras modalidades. 2.7.1 Coleta Seletiva em Natal: histórico Em 1996, foi iniciado o Primeiro Programa de Coleta Seletiva da cidade de Natal, através da implantação de Postos de Entrega Voluntária (PEV’s) fabricados a partir de tanques de combustíveis sem utilização. Em 1999, foi fundada a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis (ASCAMAR), devido à necessidade de se ter um grupo para operar a usina de triagem de lixo “in natura” e dela poder se beneficiar, trabalhando de forma digna. Naquele mesmo ano, esse equipamento começou a ser gerenciado por essa Associação. Em 2002, o projeto dos PEV´s foi reformulado e os recipientes fabricados em chapas de aço, nas cores padronizadas conforme a Resolução do CONAMA nº. 275/2001, foram colocados em 20 pontos de grande movimento da área urbana. A adoção dos PEV´s incluía também a conscientização do cidadão, uma vez que o mesmo participaria ativamente do processo separando o seu material e depositando-o em locais adequados. O material recolhido nesses coletores é repassado sob forma de doação para a ASCAMAR. Em janeiro de 2003, a URBANA deu início ao Programa Interno de Coleta seletiva (PICS), que envolve os grandes geradores de resíduos (estabelecimentos comerciais, hotéis, hospitais, condomínios e empresas públicas e privadas, etc.) que doam seus materiais. Com a presença dos grandes produtores, a quantidade de materiais recicláveis, teve um acréscimo de 50% em relação ao ano anterior. Em maio de 2003, a URBANA participou indiretamente da constituição da Associação dos Agentes Trabalhadores em Reciclagem de Lixo (ASTRAS), formada por catadores do antigo Lixão de Cidade Nova. Em novembro de 2003, foram capacitados para o Programa de Coleta Seletiva 249 catadores do antigo Lixão de Cidade Nova. 34 Além da coleta seletiva já praticada, os catadores estão inseridos em atividades como alfabetização, hortas comunitárias, produção de vassouras (com material PET), usina de triagem (trabalhando em 3 turnos) e reaproveitamento da podação, entre outras modalidades. Aos 16 de dezembro de 2003, a URBANA lançou o Programa de Coleta Seletiva Porta a Porta, no Conjunto Alagamar, no bairro de Ponta Negra, localizado na Zona Sul da Cidade de Natal, promovendo a inserção social de 60 associados da ASTRAS. Naquele mesmo dia, a coleta seletiva porta a porta foi implantada no bairro de Cidade Satélite. A ação contou com total apoio da comunidade local e expressiva colaboração dos conselhos comunitários e das associações de bairro. Em março de 2004, os catadores receberam tratamento odontológico e aqueles sem documentos passaram a tê-los. Em junho de 2004, com o fechamento do “lixão” da cidade, a URBANA ampliou de 30 para 96 postos de trabalho na usina de triagem do lixo “in natura” em Cidade Nova. Até setembro de 2004, o programa de coleta seletiva porta a porta e a usina de triagem promoveram a inserção social de 276 catadores que trabalhavam no Lixão de Cidade Nova, todos organizados nas associações ASTRAS, ASCAMAR, ACRRN e ABRESOL. Já em fevereiro de 2005, a URBANA ampliou a frota de caminhões para as associações, contabilizando 14 veículos; Em março de 2005, a URBANA assinou o termo de cooperação do Programa de Educação Sanitária e Ambiental (PROGESA) que visa atender às escolas da rede pública. Esse Programa foi implantado pela Prefeitura de Natal, por meio da Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município de Natal (ARSBAN), no qual também participam a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), Instituto de Desenvolvimento Econômico e de Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Norte (IDEMA), Secretaria Municipal de Educação (SME), Secretaria da Educação, da Cultura e dos Desportos do Estado (SECD) e a Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e Apoio à Reforma Agrária (SEARA). Em abril de 2005, a URBANA reiniciou a ampliação da coleta seletiva porta a porta na Cidade de Natal. 35 Em junho de 2005, a URBANA viabilizou, junto à iniciativa privada, os fardamentos para as associações, disponibilizando para cada catador duas peças do fardamento que são substituídas duas vezes ao ano. Também em junho de 2005, o Programa de Coleta Seletiva da Cidade do Natal recebeu o Premio “TOP SOCIAL 2005”, promovido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – ADVB. No inicio de julho de 2005, a URBANA iniciou uma nova negociação com as associações com o objetivo de locar temporariamente galpões para armazenamento provisório e beneficiamento dos recicláveis. Em dezembro de 2005, foi dado início ao “Projeto de Recuperação Ambiental da Área de Destino Final de Resíduos Sólidos de Natal”. Até o final de 2006, a fase inicial do projeto será concluída e o local será transformado em benefício para as associações de catadores de materiais recicláveis e para a população da Zona Oeste de Natal. A fase inicial, orçada em cerca de dois milhões de reais, está sendo executada com recursos da Prefeitura de Natal e do Governo Federal, pelo Ministério das Cidades, tendo como intervenientes a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Até outubro de 2006, já foi realizada a remediação da área com o recobrimento em argila da massa de lixo; a implantação do sistema de drenagem com a colocação de tubos e poços de gases e a construção de uma lagoa de captação. Estão em fase final de conclusão, 4 galpões e uma central de compostagem. Além das melhorias ambientais, o antigo “lixão” começou a ganhar um novo aspecto visual. Toda a área foi cercada e um novo muro foi erguido na entrada. Na próxima fase, serão construídos 5 galpões e uma praça para os moradores daquela região usufruírem; e também serão feitos os devidos reparos na usina de triagem. O início das obras das próximas fases, que incluem a melhoria da área de transbordo e a construção de um complexo de lazer e cultura, ainda aguarda a liberação de mais recursos que está prevista para o fim do ano de 2006. Em junho de 2006, iniciou o curso de requalificação dos ex-catadores do antigo “lixão” de Cidade Nova e é a contrapartida social dos recursos que o Ministério das Cidades, através da CEF, liberou para a construção de novos galpões destinados às associações que fazem a coleta seletiva de resíduos sólidos na 36 cidade. O curso é composto por três módulos: Relações Humanas; Cooperativismo e Associativismo e Saúde e Segurança no Trabalho, e contempla 246 catadores de materiais recicláveis, divididos em 7 turmas, com carga horária total de 144 horas. O último módulo está agendado para ser concluído no mês de outubro de 2006. 2.7.2 Modalidades da coleta seletiva realizada em Natal 2.7.2.1 Postos de entrega voluntária (PEV´s) Esta modalidade consiste na utilização de contêineres ou tambores, colocados em pontos fixos pré-determinados da malha urbana, onde o cidadão deposita de forma espontânea os recicláveis. Cada material deve ser depositado num recipiente específico (com nome e cor), como mostra a figura 4. Figura 4: PEV´s utilizados na coleta seletiva antes de 2003 Fonte: URBANA O sucesso dos PEV´s depende dos investimentos em educação ambiental da população. Entretanto, as desvantagens são: os custos relativamente altos de manutenção; a ação dos catadores de rua e a depredação por parte de vândalos. 2.7.2.2 Usina de triagem do lixo “in natura” Nesta modalidade, utiliza-se um sistema de triagem mecanizada onde os lixos domiciliar e comercial são depositados em uma esteira, e posteriormente os materiais recicláveis são separados do rejeito e da fração orgânica, que inclusive pode ser destinada ao processo de compostagem. Em Natal, a separação é realizada, no bairro de Cidade Nova, na Área de Triagem e Transbordo de Natal (ATT). A usina de triagem é operada pela ASCAMAR, podendo ser vista através das figuras 5 e 6. 37 Figura 5: Lixo sendo colocado na esteira mecânica da Usina Fonte: URBANA Figura 6: Triagem do lixo “in natura” Fonte: URBANA 38 2.7.2.3 Porta a porta Esta modalidade de coleta é semelhante ao procedimento comum de coleta de lixo domiciliar e comercial. Os resíduos coletados são os do tipo seco: papel e papelão; metais; plásticos e vidros, sendo recolhidos pelos caminhões de grade alta, utilizados no Programa de Coleta Seletiva de Natal. Atualmente, a URBANA realiza a coleta seletiva porta a porta em 77 áreas da cidade, abrangendo as 4 zonas administrativas. São recolhidas, aproximadamente, 500 toneladas por mês de materiais recicláveis, das quais grande parte é comercializada, o que dá a cada associado uma renda média mensal de trezentos reais. A Prefeitura do Natal, através da URBANA, além de autorizar a realização do serviço, garante quinze caminhões; quatro galpões; realiza o mapeamento das áreas de coleta; capacita os catadores para a execução da atividade e desenvolve um trabalho de educação ambiental junto à população beneficiada com o sistema. A figura 7 mostra associados recebendo materiais recicláveis da população. Figura 7: Moradora doando seus materiais recicláveis Fonte: URBANA 39 2.7.2.4 Programa interno de coleta seletiva (PICS) É um sistema de destinação, coleta e escoamento ambientalmente correto dos resíduos sólidos produzidos nas atividades diárias de entidades públicas e privadas, escolas, hospitais, hotéis, construtoras, condomínios e outros geradores de resíduos que tenham interesse de garantir a qualidade ambiental da instituição. A implantação do PICS também diminui os custos com a coleta e transporte dos resíduos; educa os funcionários e fortalece a instituição. No município de Natal, em 2006, tem 120 empresas e instituições que participam do PICS e que optaram por fazer a doação dos recicláveis para as associações permissionárias do programa de coleta seletiva da cidade, a exemplo da Potiguar HONDA, como mostra a figura 8. Figura 8: PICS da Potiguar HONDA Fonte: URBANA 40 3 METODOLOGIA A metodologia aplicada no desenvolvimento deste trabalho consistiu basicamente em: • Pesquisa bibliográfica por meio da leitura e pesquisa em publicações específicas, livros técnicos e didáticos, artigos periódicos, dissertações, normas técnicas e legislação sobre temas referentes à gestão de resíduos sólidos; • Pesquisa aplicada a qual teve como referência principal o Plano de Estágio, descrito a seguir: O primeiro passo foi realizar o diagnóstico do gerenciamento dos resíduos sólidos gerados no Condomínio, por um período de 1 mês. O diagnóstico inicial é a busca de dados que caracterizem o condomínio, tais como: o número de apartamentos; o trajeto do lixo no condomínio, desde onde é gerado até onde é acondicionado; as instalações físicas (local para armazenagem); recursos materiais existentes (tambores, latões e outros que possam ser reutilizados); rotina da limpeza: como são feitas a limpeza e a coleta (freqüência, horários); de quais tipos de resíduos o lixo é composto e porcentagens de cada um deles (composição gravimétrica). Essa composição foi obtida através da utilização do método de amostragem que é o das divisões sucessivas (método de quarteamento), que podem ser efetuadas manual ou mecanicamente. Foi feito manualmente, logo o material foi empilhado na forma de um cone uniforme sobre uma lona. Foi feito um achatamento do topo do cone, e o cone truncado foi dividido em quatro partes iguais. Um par das quartas opostas foi rejeitado e misturou-se bem o conteúdo do outro par preparandose outro cone. O processo foi repetido até atingir o tamanho da amostra requerida de 200 litros. Valendo-se desse quarteamento, foram obtidas três amostras, as quais foram utilizadas nos ensaios para caracterização física do material. Essa etapa de caracterização foi realizada em outubro de 2004, durante quatro dias (segunda-feira à quinta-feira). Depois de realizado o diagnóstico, passou-se à fase de implantação do Programa Interno de Coleta Seletiva do Condomínio Icaro (PICS) que durou 2 meses. 41 A fim de consolidar uma relação de cooperação mútua já existente entre o condomínio Icaro e a Companhia de Serviços Urbanos de Natal (URBANA), foi firmada a parceria para se ter acesso aos dados, informações que subsidiaram no planejamento e implementação do projeto, além de ter recebido da URBANA materiais educativos para ilustrar, informar, sensibilizar e mobilizar os participantes do PICS. Foi realizada uma reunião com os condôminos, funcionários e empregados(as) domésticos(as) para a apresentação do PICS, na qual foi feita a entrega dos materiais educativos e informativos; na ocasião, foram abordados e discutidos os seguintes temas: Resíduos Sólidos, Meio Ambiente, Limpeza Pública e Relações Sócio-Ambientais; Também foi realizado um estudo da localização e implantação dos coletores identificados para o acondicionamento e coleta interna dos resíduos sólidos; assim como, a identificação e estruturação da baia de acondicionamento para a coleta externa dos materiais recicláveis; E, por fim, foi dado o treinamento para os funcionários da limpeza e da segurança do condomínio, o qual serviu para passar instruções e orientações para eles sobre a importância do PICS e o manejo dos resíduos sólidos. O último passo foi o do monitoramento do PICS que durou 1 ano e 8 meses. Nesse período, foi feita uma avaliação da participação dos condôminos, quanto à adesão ao PICS, através da utilização de um questionário (em anexo) aplicado em 20 dos 22 apartamentos. Ainda foi feita uma avaliação do gerenciamento dos resíduos sólidos gerados, isto é, como estava o acondicionamento, a coleta interna e externa, e destino final daqueles. Por fim, compilaram-se os dados através dos resultados deste relatório. 42 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Condomínio Icaro localizado na Rua Alberto Maranhão, nº. 978, no Bairro do Tirol, em Natal, no estado do Rio Grande do Norte. A constituição do Condomínio Icaro deu-se em 23/09/1994 e tão logo foi iniciada a sua construção. Tendo as obras de edificação concluídas no mês de julho de 1998, o prédio com 6073,21 m² de área construída subdivide-se em 13 pavimentos: subsolo, pilotis e 11 pavimentos compostos por apartamentos, sendo 2 por andar, totalizando 22 apartamentos. Cada um deles tem 146,62 m² de área construída, tendo 4 quartos, sendo 3 suítes, 2 salas, lavabo, cozinha e área de serviço. No subsolo, têm a garagem com 45 vagas para estacionamento, a sala do gerador, 22 depósitos, banheiro e a câmara de lixo; no 2º pavimento, têm a portaria, jardim, piscina, área de lazer, bar, sala da administração, almoxarifado, depósito, 2 banheiros, sauna, salão de festas e hall do elevador; em cada um dos 11 pavimentos, tem-se o local do armazenamento provisório do lixo, o qual dispõe de 2 contêineres (capacidade: 60 litros; altura: 617 mm; comprimento/diâmetro: 483 mm), para acondicionar em um os materiais recicláveis e no outro o lixo orgânico e o rejeito. 4.2 LOCALIZAÇÃO A figura 9 abaixo apresenta a fachada do condomínio Icaro e a figura 10 apresenta a sua localização geográfica obtida através da divisão de bairros da SEMURB. O bairro do Tirol foi dividido em 2 áreas da coleta seletiva: Tirol I que tem como limites: o Parque das Dunas (leste); Rua Mipibú (norte); Avenida Hermes da Fonseca (oeste) e a Rua Alexandrino de Alencar (sul) e o Tirol II que corresponde à área, a qual está situado o condomínio Icaro, que está delimitada pelo traçado de cor azul e tem como limites: Avenida Hermes da Fonseca (leste); Rua Ceará-Mirim (norte); Avenida Prudente de Moraes (oeste) e a Rua Alexandrino de Alencar (sul). 43 Figura 9: Fachada do Condomínio Icaro CONDOMÍNIO ÍCARO Figura 10: Localização geográfica do condomínio Icaro – Natal/RN Fonte: SEMURB 4.3 DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONDOMÍNIO ICARO Durante esta fase, foram levantados alguns dados e observadas algumas situações, tais como: o tamanho de área construída, que é de 6073,21 m²; quais condições apresentavam-se a câmara de lixo e os locais de armazenamento provisório, verificando que ambos atendiam aos critérios exigidos no Decreto 44 Municipal nº. 7.395/04 (em anexo); o trajeto do lixo no condomínio, desde onde é gerado até onde é acondicionado, permaneceu inalterado; o número de apartamentos, que são 22; quantos moradores (número que oscilou ao longo do tempo, na medida em que desocupava um apartamento e chegava uma outra família), mas em média são 80 moradores; quantos funcionários da limpeza, que são 2 zeladores e funcionários da segurança, que são 4 vigilantes, os quais trabalham em dias alternados; quais as atitudes dessas pessoas diante do PICS, que foram desejáveis em vários momentos, embora não tenha havido de algumas pessoas um bom grau de comprometimento. Verificou-se também que o condomínio conta com boas instalações físicas, o que foi imprescindível no momento da implantação do PICS. Os contêineres utilizados na câmara de lixo continuam sendo os mesmos e os que estão sendo utilizados para acondicionar o lixo orgânico e o rejeito, nos locais de armazenamento provisório, idem. A rotina da limpeza: a coleta, destinação e escoamento do lixo orgânico continuam sendo da mesma maneira de antes. O que mudou foi que, depois de implantado o PICS, o armazenamento do lixo se deu de forma separada, tendo o lixo orgânico e rejeito sendo acondicionados por um contêiner e os materiais recicláveis por outro. 4.3.1 Caracterização gravimétrica Após ter feito o diagnóstico do gerenciamento dos resíduos sólidos, mais especificamente a análise gravimétrica deles, verificou-se que os resíduos do tipo orgânico são os mais gerados, os quais correspondem a 62,2% do volume total gerado. Seguido dele, tem os plásticos com 10,98% devido ao grande número de embalagens descartáveis feitas com esse tipo de material; depois os resíduos do tipo papel/papelão com 9,44%; em seguida o rejeito com 9,12%; depois o vidro com 5,55% e por último o metal, gerado em menor em quantidade, com 2,71%. Esses resultados estão demonstrados na figura 11: 45 70 62,2 gravimetria (%) 60 50 40 30 20 10,98 9,44 10 5,55 9,12 2,71 R ej ei to M et al Vi dr o ap el ão Pa pe l/P Pl ás ti c o O rg ân ic o 0 Tipo do Resíduo Sólido Gráfico 1 - Composição Gravimétrica Fonte: Elaborado pelo autor Após análise da geração de resíduos, obteve-se uma média de 21,181 kg/dia, que corresponde a uma geração per capita de 0,26 kg/hab/dia. Se levarmos em consideração que a geração média mensal de resíduos sólidos no Condomínio Icaro, onde convivem cerca de 80 pessoas, é de 635,43 kg, logo cada indivíduo gera, em média, durante um mês 7,94 Kg. Dessa massa total, 182,25 kg correspondem ao peso dos materiais recicláveis durante o período de um mês. Ao longo dos vinte meses, após ter dado início à implantação, foram gerados aproximadamente 12708,60 kg de resíduos sólidos. Desse total, 3645 kg correspondem, aproximadamente, à massa total dos materiais recicláveis. O fato de a maioria das pessoas, que moram nesse edifício, passar grande parte do dia fora de seus domicílios contribui para que se tenham valores relativamente baixos quando comparado com a geração per capita de resíduos sólidos de uma cidade (p. ex. Natal). Mas o fator preponderante está relacionado ao nível socioeconômico dos moradores, uma vez que os mesmos consomem, em grande quantidade e cada vez mais, produtos que contêm em seus componentes materiais reutilizáveis e/ou recicláveis, que representam apenas 28,68% do total de resíduos sólidos gerados no condomínio Icaro. A figura 12 apresenta os dados referentes ao período de janeiro a abril de 2006, do programa de coleta seletiva, conforme as modalidades de recolhimento. 46 Coleta Seletiva Toneladas 200,00 193,50 185,30 198,70 202,00 71,00 69,00 150,00 100,00 50,00 - 68,00 36,00 59,00 33,00 38,00 46,00 JAN FEV MAR ABR USINA 36,00 33,00 38,00 46,00 PORTA A PORTA 193,50 185,30 198,70 202,00 PIC´S 68,00 59,00 71,00 69,00 Gráfico 2: Quantidades coletadas de três modalidades da coleta seletiva Fonte: URBANA É bem nítida a diferença de valores entre a coleta seletiva porta a porta e as demais modalidades porque sua abrangência é maior do que a das outras. Enquanto que a coleta seletiva porta a porta teve relativamente as menores variações, o Programa Interno de Coleta Seletiva (PICS) teve as maiores. É importante ressaltar que o mês de fevereiro teve as menores quantidades coletadas em todas as três modalidades porque além de esse mês ter menos dias, incluiu-se o período de carnaval, onde há uma transferência da população da cidade para as praias e cidades que têm tradição nesse evento já que Natal tem pouca tradição. Na figura 13, apresenta-se a variação, do ano de 2003 até junho de 2006, das quantidades coletadas dos resíduos domiciliares na coleta convencional e através da coleta seletiva. 47 Coleta Domiciliar X Coleta Seletiva 250.000 213.567 Toneladas 200.000 210.727 206.771 150.000 106.497 100.000 50.000 0 174 2003 2.812 1.584 2004 2005 1.883 2006 Coleta Domiciliar 213.567 210.727 206.771 106.497 174 1.584 2.812 1.883 Coleta Seletiva Gráfico 3 - Comparação entre a coleta domiciliar e a seletiva Fonte: URBANA Verifica-se que enquanto houve uma redução das quantidades coletadas do tipo domiciliar, conseqüentemente houve um crescente aumento das quantidades coletadas seletivamente, incluindo o ano de 2006 que demonstra essa tendência, porém com uma taxa desvio de lixo ainda muito tímida, conforme pode ser observado como proposto pelo IPT/CEMPRE (2000): % de material desviado do aterro = ton/mês coleta seletiva x 100 (ton/mês coleta seletiva + ton/mês coleta convencional) % (2004) = 0,74 % (2005) = 1,34 % de material desviado do aterro de Natal (2006) = 1883 x 100 ≈ 1,74 106497 + 1883 Observa-se uma evolução, nesse aspecto, provavelmente pela ampliação das modalidades de coleta seletiva, necessitando, portanto, de maiores investimentos em divulgação para que se atinjam maiores taxas de desvio, beneficiando, por conseguinte, os catadores, com materiais para comercialização aumentando a renda deles e o meio ambiente tendo em vista o aumento da vida útil do aterro sanitário devido à necessidade de se ter uma área menor para dispor os resíduos sólidos. 48 4.3.2 Diagnóstico da Comunidade Residente O questionário foi aplicado naquelas pessoas que lidam diretamente com o manejo dos resíduos sólidos nos apartamentos, independentemente de ser empregado(a) doméstico(a) ou morador(a). Ao saber quem está lidando diretamente com o manuseio dos resíduos sólidos dentro dos apartamentos, facilita para os gestores na medida em que já se sabe com quem e como lidar caso necessite de prestar esclarecimentos, passar informações e até mesmo cobrar delas mais comprometimento com o PICS. Verificou-se que, das 20 pessoas questionadas, 30% delas são empregados(as) domésticos(as), ou seja, 6 pessoas; enquanto que 70%, ou seja, 14 são moradores ou moradoras, como mostra a figura 14. Empregado(a) doméstico(a) 30% Morador(a) 70% Gráfico 4: Pessoa que lida diretamente com o lixo nos apartamentos Fonte: Elaborado pelo autor Também foi perguntado a essas pessoas qual o grau de escolaridade. Conforme mostra a figura 15, 15% delas, ou seja, 3 pessoas são apenas alfabetizadas; 25% delas, isto é, 5 pessoas têm o ensino fundamental; 15% ou 3 pessoas têm o ensino médio completo; apenas 5% ou 1 pessoa não completou o ensino médio; em maior número, ou seja, 35% ou 7 pessoas já cursaram pelo menos um curso de nível superior; e 5% ou apenas 1 pessoa ainda não concluiu o nível superior. 49 Nível Superior Incompleto 5% Nível Superior Completo 35% Ensino Médio Incompleto 5% Alfabetizado(a) 15% Ensino Fundamental (1ª à 8ª série) 25% Ensino Médio Completo 15% Gráfico 5: Grau de escolaridade dos entrevistados Fonte: Elaborado pelo autor Foi perguntado a essas pessoas como elas avaliam o Programa Interno de Coleta Seletiva. E elas responderam se considerava o PICS ótimo, bom ou regular. 30% delas ou 6 pessoas consideraram ótimo; a maioria, que corresponde a 55% ou 11 pessoas, considerou bom e 15% delas ou 3 pessoas consideraram regular, conforme mostra a figura 16. Regular 15% Ótimo 30% Bom 55% Gráfico 6: Avaliação do PICS Fonte: Elaborado pelo autor Ao questionar essas pessoas sobre como elas avaliam o incentivo da Prefeitura de Natal para dispor tal Programa para a sociedade e para os catadores, 30% delas ou 6 pessoas consideraram ótimo; a maioria delas, 55% ou 11 pessoas 50 consideraram bom; e 15% delas ou 3 pessoas consideraram regular esse incentivo, conforme é mostrado na figura 17. Regular 15% Ótimo 30% Bom 55% Gráfico 7: Avaliação do incentivo da prefeitura de Natal para dispor o programa de coleta seletiva para a sociedade e para os catadores Fonte: Elaborado pelo autor Para saber como as pessoas têm participado do PICS, foi perguntado a elas se sua participação era ativamente, moderadamente ou passivamente e a maioria delas, 70% ou 14 pessoas, respondeu que era ativamente; 20% delas ou 4 pessoas disseram que era moderadamente e apenas 10% ou 2 pessoas disseram que era passivamente, como está mostrado na figura 18. Passivamente 10% Moderadamente 20% Ativamente 70% Gráfico 8: Nível de participação no programa implantado no condomínio Fonte: Elaborado pelo autor 51 A fim de saber qual dos materiais recicláveis é doado em maior quantidade, 95% dos entrevistados, ou seja, 19 pessoas disseram que era o papel e papelão e apenas 1 pessoa, que corresponde a 5% do total de entrevistados, disse que era o plástico, conforme pode se observar na figura 19. Plástico 5% Papel e papelão 95% Gráfico 9: Material mais doado para a coleta seletiva Fonte: Elaborado pelo autor Essas pessoas também foram questionadas quanto à dificuldade de separar o lixo seco do molhado. Como mostra a figura 20, 80% delas ou 16 pessoas disseram que não tinham nenhuma dificuldade enquanto que 20% delas ou 4 pessoas disseram ter alguma dificuldade. Tem dificuldade 20% Não tem dificuldade 80% Gráfico 10: Grau de dificuldade em relação à separação do lixo seco do molhado Fonte: Elaborado pelo autor 52 Por último, foi perguntado a essas pessoas se elas se sentiam estimuladas a participarem deste Programa. A metade delas ou 10 pessoas disseram estar estimuladas; enquanto que 25% delas ou 5 pessoas estavam moderadamente estimuladas e os outros 25% ou 5 pessoas confessaram estar pouco estimuladas, como pode se observar na figura 21. Pouco 25% Muito 50% Moderado 25% Gráfico 11: Grau de estímulo para participação no PICS Fonte: Elaborado pelo autor Algumas dessas pessoas que alegaram se sentir pouco ou moderadamente estimuladas disseram que falta ao Programa de Coleta Seletiva de Natal oferecer aos colaboradores algum tipo de incentivo e as outras pessoas são exatamente aquelas que ainda tem dificuldade em separar o lixo seco do molhado. 53 4.4 FASE OPERACIONAL A fase operacional teve como princípio os três elos do Programa de Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos da cidade de Natal, que é utilizado pela Gerência de Meio Ambiente da URBANA, conforme podem ser vistos na figura 11. EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONTÍNUA DESTINO INTERNO PLANEJAMENTO CONTÍNUO ESCOAMENTO METODOLOGIA OPERACIONAL ELABORAÇÃO DE PANFLETOS, CARTAZES e OUTROS INFORMES; PALESTRA C/ TODOS OS CONDÔMINOS; TREINAMENTO C/ FUNCIONÁRIOS DA LIMPEZA E SEGURANÇA; TRABALHO CONTINUO. FORMA DE SEPARAÇÃO; Nº CONTEINERES e LOCALIZAÇÃO; PERIODICIDADE DA COLETA INTERNA; LOCAL DE ARMAZENAMENTO PROVISÓRIO; PERIODICIDADE DA COLETA EXTERNA. Figura 11: Os três elos do programa interno de coleta seletiva Fonte: Elaborado pelo autor CRIAÇÃO DO GRUPO GESTOR FUNCIONÁRIOS EM GERAL; ADMINISTRAÇÃO; MORADORES. 54 4.4.1 Planejamento contínuo O primeiro passo no planejamento foi criar o grupo gestor, o qual teve a seguinte composição: funcionários em geral e condôminos, dos quais o autor deste trabalho foi o coordenador desse grupo; e após essa atividade, realizou-se o diagnóstico do gerenciamento dos resíduos sólidos gerados no condomínio Icaro. Esse projeto foi iniciado em outubro de 2004, e efetivamente implantado em fevereiro de 2005. O PICS continua sendo monitorado pelo autor deste projeto e supervisionado pelo síndico do condomínio. 4.4.2 Destinação, escoamento e comercialização dos resíduos sólidos De acordo com os resíduos gerados em cada ambiente, foi proposta a utilização de 2 tipos de contêineres para o acondicionamento dos mesmos, sendo um para o lixo orgânico e rejeito e o outro para os materiais recicláveis. O contêiner de cor verde foi escolhido para acondicionar os materiais recicláveis enquanto que o de cor azul, o lixo orgânico e rejeito. O número de contêineres, que foram utilizados em cada ambiente, foi escolhido de acordo com o volume de resíduos gerados e da freqüência de recolhimento dos mesmos. Essa freqüência permaneceu em 2 vezes ao dia (no fim da manhã e no fim da tarde). Todos esses resíduos recolhidos, durante o dia, eram levados dos locais de armazenamento provisório, pelos funcionários da limpeza, para a câmara de lixo existente, como na figura 12. 55 Figura 12 - Câmara de lixo do condomínio Icaro Fonte: Elaborado pelo autor Foi utilizado 1 contêiner, na garagem, para acondicionar exclusivamente os materiais recicláveis, que em sua maioria eram papéis e plásticos; na área de lazer e bar, foram utilizados 2 contêineres já que há também descarte de matéria orgânica e rejeito; também, no hall das escadas, foram utilizados 2 contêineres que em um acondicionava a matéria orgânica e rejeito; e no outro os materiais recicláveis. Nos apartamentos, foram seguidas as mesmas instruções referentes ao descarte e acondicionamento dos resíduos sólidos. Depois de preenchido o volume dos recipientes de lixo utilizados nos apartamentos, esses resíduos eram levados separadamente por uma pessoa, que podia ser o(a) empregado(a) doméstico(a) ou qualquer outra pessoa que more no apartamento, para aqueles locais de armazenamento provisório e, nos horários pré-determinados, os resíduos eram recolhidos pelos funcionários da limpeza, como está sendo mostrado na figura 13. 56 Figura 13 - Local de armazenamento provisório do lixo no condomínio Icaro Fonte: Elaborado pelo autor O Decreto Municipal nº. 7.395/04 (em anexo), aprovou Norma Técnica Especial que regulamenta os condomínios no Município do Natal, tendo como objetivo estabelecer padrões que devem ser adotados para os condomínios residenciais do Município de Natal com a intenção de prevenção e promoção à saúde dos seus moradores. No entanto, não foi seguida a recomendação dada no item 3.1.5 da Coleta Seletiva desse Decreto, uma vez que a forma de separação e acondicionamento escolhida, pelo grupo gestor, é mais prática e possui o melhor custo-benefício. O escoamento dos materiais recicláveis, neste programa, foi realizado pela Coleta Motorizada Volante – CMV da ASCAMAR II, inicialmente, com freqüência de duas vezes semanais (nas quartas-feiras e sextas-feiras), depois passou a ser de apenas uma vez na semana (nas quartas-feiras) por alguns meses e, ultimamente, 57 tem sido de duas vezes semanais (nas quartas-feiras e sextas-feiras) sempre pelas manhãs. Tendo em vista os benefícios sociais, ambientais e econômico-financeiros do Programa de Coleta Seletiva e a quantidade de pessoas beneficiadas direta e indiretamente com ele, ficou determinado que todos os materiais recicláveis separados e coletados dentro do Condomínio Icaro deveriam ser doados para o grupo de coleta seletiva da ASCAMAR II, que realiza a coleta seletiva no bairro do Tirol, onde se localiza o condomínio. 4.4.3 Educação ambiental contínua A reunião realizada com os condôminos, para a apresentação do PICS e a entrega dos materiais informativos e educativos, teve uma participação mínima, onde estavam apenas 7 pessoas de 5 apartamentos; mesmo todos tendo sido avisados e convidados, formalmente, com bastante antecedência. Mas o resultado dela foi positivo uma vez que, em seguida, houve a disseminação das propostas e ações do PICS. O treinamento com os funcionários da limpeza e da segurança do condomínio a fim de sensibilizá-los e conscientizá-los de sua importância, nesse processo, também teve um saldo positivo embora tenha havido, no início, uma certa resistência. Por fim, durante todo esse período, foram dados os devidos esclarecimentos de algumas dúvidas e as devidas orientações aos condôminos e funcionários, assim como sistematicamente era avaliado o gerenciamento dos resíduos sólidos gerados, isto é, como estava o acondicionamento, coleta interna e externa, e destino final dos resíduos sólidos gerados no condomínio Icaro. 58 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A coleta seletiva é um instrumento que eleva o nível de consciência ambiental do cidadão, fazendo com que este adquira hábitos sustentáveis e possa contribuir para que empregos e renda sejam gerados, de maneira digna, para os ex-catadores do antigo lixão de Cidade Nova. Para viabilizar e otimizar o PICS, a proposta de gerenciamento para o sistema de separação, descarte, coleta e escoamento dos resíduos sólidos do condomínio Icaro considerou o princípio dos 3 R (Reduzir – Reutilizar – Reciclar) como orientador de todas as ações desse sistema. A disciplina em relação à efetividade da separação nos apartamentos, assim como descartar corretamente os resíduos por todo o condomínio depende da característica da educação de cada pessoa envolvida. A sensibilização, conscientização e comprometimento de algumas pessoas com o PICS foram fatores preponderantes para se poder atingir os objetivos determinados no planejamento deste projeto. As informações e orientações transmitidas, durante esse período, para os condôminos, aos funcionários e visitantes do Condomínio Icaro foram, na maioria das vezes, seguidas e aplicadas satisfatoriamente. Entretanto algumas dificuldades foram encontradas, durante a implantação do PICS, que estavam diretamente relacionadas à educação ambiental, tanto por parte dos funcionários quanto dos moradores. Quanto aos funcionários, notou-se uma certa resistência inicial em participar do PICS. No entanto, aos poucos, estes foram se convencendo dos benefícios que a coleta seletiva e a reciclagem proporcionam para o meio ambiente e sociedade e, também, se conscientizando de seu papel imprescindível no referido Programa. Quanto aos moradores, foi demonstrada uma certa vontade e disposição em participar do programa, mas a falta de tempo e o desconhecimento em relação ao que separar, ao que é rejeito ou não, o que é reciclável ou não e principalmente por ter em sua residência apenas uma lixeira, foram fatores que influenciaram na eficiência do programa. Para melhorar alguns aspectos do PICS, deverá haver mudanças de atitudes que deverão ser gradativas e baseadas em um conjunto de propostas, metas e 59 ações que possa imprescindível que conquistar seja dado os participantes continuidade desse ao programa. programa pelos Logo, é futuros administradores do condomínio. Dessa forma, o programa interno de coleta seletiva de resíduos sólidos do Condomínio Icaro tem contribuído para impulsionar, ampliar e manter o Programa de Coleta Seletiva de Natal, já que se optou em doar regularmente todos os materiais recicláveis em prol das associações que dependem dessa atividade. 60 6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES A complexidade dos resíduos e a evolução constante dos hábitos de vida sugerem que as propostas de solução para os problemas referentes ao PICS devam ser maleáveis, sempre respaldadas em princípios de educação ambiental das pessoas envolvidas, o que as integrará ainda mais, responsavelmente, à construção de medidas ambientalmente corretas. Para superar os problemas enfrentados, na implantação do PICS, com os funcionários, sugere-se: • Usar sempre a motivação para valorizá-los e estimulá-los e a educação ambiental aplicada por meio de materiais informativos com figuras autoexplicativas, pois o texto corrido dificulta o entendimento; Para superar os problemas enfrentados, na implantação do PICS, com os moradores, sugere-se que: • Os problemas, dificuldades e dúvidas em relação ao PICS deverão ser compartilhados, entre os moradores, durante as reuniões periódicas buscando, assim, envolvê-los cada vez mais nesse programa; Para superar os problemas enfrentados, na implantação do PICS, com ambos, sugere-se que: • A resolução de dúvidas também poderá ser através da colocação de caixas de dúvidas e sugestões na portaria e hall do condomínio; A principal recomendação que norteia todo esse Programa Interno de Coleta Seletiva do condomínio Icaro é o cumprimento de tudo aquilo que está pautado o princípio dos 3 “R”, que deve ser utilizado nos materiais educativos, reforçando esse conhecimento: • Reduzir: Pois consumir racionalmente é fundamental. 61 • Reutilizar: Já que é impossível reduzir a zero a geração de resíduos, o que normalmente é jogado fora deve ser mais bem reaproveitado. • Reciclar: O "erre" mais conhecido é sinônimo de economia de recursos naturais, além de tantos outros benefícios já conhecidos. 62 REFERÊNCIAS ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil. 1. ed. São Paulo: Abrelpe, 2005. ABREU, Maria de Fátima. Do lixo à cidadania. 1. ed. Brasília: Caixa Econômica Federal, 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 10.004: resíduos sólidos, classificação. Rio de Janeiro, 2004. CALDERONI, Sabetai. Os bilhões perdidos no lixo. 2. ed. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 1998. MONTEIRO, José Henrique Penido. Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. MANSUR. Manual: o que é preciso saber sobre limpeza urbana. [S.l.s.n.], 1993. SEPURB. Manual: orientações básicas para organizar um serviço de limpeza pública em comunidades de pequeno porte. [S.l.s.n.], 1997. MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. METODOLOGIAS e técnicas para minimização, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos urbanos Prosab Tema 3. Revista BIO, v. 9, n. 4, set/dez, 1997. OTERO, Maria Luize; VILHENA, André (Coords). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000. Cartilha de limpeza urbana. Disponível em: <http:// www.resol.com.br>. Acesso em: 22 out. 2005. AMBIENTE Brasil: Coleta e disposição do lixo. www.ambientebrasil.com.br>. Acesso em: 26 out. 2005. Disponível em: <http:// 63 JORNAL do Meio Ambiente: política ambiental. Disponível www.jornaldomeioambiente.com.br>. Acesso em 26 out. 2005. ORGANIZAÇÃO Pan-Americana da Saúde. www.opas.org.br>. Acesso em: 17 nov. 2005. Disponível em: em: <http:// <http:// BRASIL. Ministério das Cidades. Legislação; programas e ações e indicadores. Disponível em: <http:// www.cidades.gov.br>. Acesso em: 03 dez. 2005. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http:// www.mma.gov.br>. Acesso em: 03 dez. 2005. PINHEIRO, S. B. Histórico da empresa. Disponível em: www.natal.rn.gov.br/urbana/paginas/historico>. Acesso em: 09 maio 2006. <http:// 64 APENDÊNCIA A – Questionário de avaliação do programa interno de coleta seletiva (PICS) CONDOMÍNIO ICARO 1- Qual sua ligação com o condomínio: a ( ) Empregado(a) doméstico(a) b ( ) Morador(a) 2- Grau de escolaridade do(a) entrevistado(a): a ( ) Alfabetizado(a) b ( ) Ensino Fundamental ( 1ª à 8ª série) c ( ) Ensino Médio – Completo ( ) Incompleto ( ) d ( ) Nível Superior – Completo ( ) Incompleto ( ) 3- Como você avalia o Programa de Coleta Seletiva no condomínio: a ( ) Ótimo b ( ) Bom c ( ) Regular 4- Como você avalia o incentivo da Prefeitura para dispor tal programa para a sociedade e para os catadores: a ( ) Ótimo b ( ) Bom c ( ) Regular 5- Como você tem participado do Programa no condomínio: a ( ) ativamente b ( ) moderadamente c ( ) passivamente 65 6- Qual dos materiais abaixo é doado em maior quantidade: a( b( c( d( ) papel e papelão ) vidro ) plástico ) metal 7- Você tem dificuldade em separar o lixo seco do lixo molhado: a ( ) Tem dificuldade b ( ) Não tem dificuldade 8- Você se sente estimulado(a) a participar deste Programa: a ( ) muito b ( ) moderado c ( ) pouco Sugestões para melhoria do Programa: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Natal, 23 de março de 2006 66 ANEXO A – Decreto Municipal nº. 7.395/04 O PREFEITO MUNICIPAL DO NATAL, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 55, inciso IV, da Lei Orgânica do Município; DECRETA: Art. 1º - Fica aprovada a Norma Técnica Especial que regulamenta os condomínios no Município do Natal, conforme o que determina o artigo 234 da Lei nº. 5.132 de 29 de setembro de 1999. Art. 2º - O descumprimento deste Decreto sujeitará o infrator às penalidades previstas na Lei nº 5.118, de 22 de julho de 1999. Art. 3º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Palácio Felipe Camarão, em Natal, 28 de abril de 2004. Carlos Eduardo Nunes Alves Prefeito Norma Técnica Especial que regulamenta os condomínios residenciais no Município do Natal. 1 Objetivo: Essa Norma Técnica Especial estabelece padrões que devem ser adotados para os condomínios residenciais do Município do Natal com a intenção de prevenção e promoção à saúde dos seus moradores. 2 Responsabilidades: A Secretaria Municipal de Saúde, através do órgão competente de Vigilância Sanitária, responsabilizar-se-á pela execução das 67 atividades de inspeção para o controle dos condomínios residenciais do Município do Natal. 3 Disposições Técnicas: 3.1 Resíduos sólidos 3.1.1 Lixeiras Área interna ao condomínio: a cada 25 metros dos acessos externos deverá ser colocada uma lixeira com volume mínimo de 20 litros. Área interna ao bloco: deverá ser instalada uma lixeira interna para cada grupo de dois apartamentos. 3.1.2 Sacos plásticos No interior das lixeiras e das bombonas serão colocados sacos plásticos para o acondicionamento dos resíduos sólidos. 3.1.3 Bombonas de plástico Em cada andar deverá ser instalada uma bombona de plástico com tampa com volume mínimo de 100 litros para o acondicionamento dos resíduos sólidos produzidos nas unidades habitacionais. Diariamente deverá ser retirado o saco plástico contendo os resíduos sólidos ali acondicionados. 3.1.4 Entulhos e podação Para o acondicionamento de entulhos e podação, deverá ser utilizado um contêiner com dimensões suficientes para acomodar a produção destes materiais. Tão logo o contêiner esteja cheio, o mesmo deverá ser retirado do local ou trocado por um outro vazio. 3.1.5 Câmara de lixo Todos os condomínios deverão dispor de câmaras de lixo obedecendo aos seguintes critérios construtivos: a) Pisos e paredes revestidos com material liso, resistente, impermeável e com abertura telada para ventilação; 68 b) Lavatório e torneira de lavagem no interior ou proximidades; c) Ponto de iluminação artificial; d) Ralo sinfonado ou com tampa à rede de esgoto sanitário; e) Porta com dimensão mínima de 0,8 m. Todos os resíduos sólidos produzidos no condomínio deverão ali permanecer armazenados até a sua coleta pela empresa pública. O dimensionamento das câmaras de lixo deverá obedecer a tabela descrita a seguir: N° DE APARTAMENTOS - ÁREA MÍNIMA (m²) 01 a 12 - 1,0 13 a 30 - 2,0 31 a 60 - 4,0 61 a 100 - 6,0 - 10,0 100 TABELA DIMENSIONAMENTO DAS CÂMARAS DE LIXO Não será permitido o acúmulo e a queima de resíduos sólidos à céu aberto. 3.1.5 Coleta seletiva A coleta seletiva poderá ser realizada pelos condomínios, destinando-se uma área para essa finalidade específica, devidamente sinalizada e contendo containeres identificados com uma cor relativa ao recebimento de materiais recicláveis, de acordo com a disposição descrita a seguir: Vermelho - Plástico Azul - Papel Amarelo – Metal Verde - Vidro O local deve se manter permanentemente limpo e higienizado de modo a não permitir a proliferação de vetores e surgimento de mau cheiro. 69 A separação deverá ser realizada na geração, utilizando-se para tanto, no interior das unidades habitacionais dois depósitos, um para o material orgânico e o outro para o material reciclável. Entende-se por material orgânico, restos de comida, papel utilizado (toalha, higiênico, outros). Entende-se por material reciclável, metais, papel e papelão, vidro e plásticos. O material orgânico irá para a coleta pública de lixo, assim como os demais materiais não recicláveis. Deverá ser preparado um local para depósito intermediário do material reciclável enquanto não é dado ao mesmo uma destinação final (doação, venda, etc.). 3.2 Abastecimento de água A fonte de abastecimento poderá ser do sistema público de abastecimento de água ou de poços. No caso de utilização de poços, o condomínio deverá ter o alvará de construção e funcionamento ou instrumento semelhante fornecido pela Secretaria de Recursos Hídricos do Estado. Com relação aos reservatórios inferiores e superiores, os mesmos deverão obedecer à norma técnica especial de reservatórios em anexo. Os reservatórios e tubulações de água devem manter uma distância de segurança de no mínimo 10 metros de fossas e sumidouros e tubulações de esgotos. A água de abastecimento deverá manter o pH entre 6,5 e 8,5 e cloro livre residual mínimo de 0,2 mg/l. 3.3 Esgotamento sanitário No caso de existência de rede pública de esgotamento, todos os esgotos sanitários produzidos no condomínio deverão ser encaminhados para aqueles sistemas, obedecendo-se aos padrões técnicos recomendados. 70 No caso de uso de sistema de fossa séptica e sumidouro, deverá ser obedecido no seu dimensionamento, construção e manutenção ao que dispõe a norma técnica específica da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Não será permitido o lançamento de águas servidas em via pública. Não será permitido o acúmulo de águas servidas em terreno no interior da área do condomínio. As instalações hidro-sanitárias deverão ser mantidas em perfeito estado de funcionamento e obedecer aos critérios técnicos específicos para o seu dimensionamento. 3.4 Drenagem de águas pluviais Com relação à drenagem de águas pluviais devem ser obedecidos critérios técnicos que permitam o escoamento adequado de precipitações pluviométricas, não podendo haver alagamentos no interior dos condomínios. Poderão ser utilizados sistemas de absorção de águas pluviais no solo como poços cheios com brita ou seixo rolado. Para o perfeito funcionamento do sistema de drenagem de águas é necessária a limpeza de calhas, sarjetas, galerias e bocas de lobo com o objetivo de permitir o rápido escoamento de águas pluviais e o saneamento do local. 3.5 Piscinas Com relação às piscinas, as mesmas deverão obedecer à norma técnica especial de piscinas em anexo. 3.6 Controle de vetores Todos os condomínios deverão apresentar todas as suas dependências livres de vetores tais como: ratos, baratas, pernilongos, etc., devendo-se permanentemente haver medidas de prevenção ao surgimento e proliferação dos mesmos. 71 O condomínio deverá realizar anualmente desinsetização e desratização como medida de prevenção ao surgimento e proliferação de vetores, devendo apresentar, sempre que solicitado pela autoridade sanitária, o certificado de realização dos serviços por empresa credenciada no Órgão de Saúde competente. No caso de surgimento de vetores, o condomínio realizará o combate e erradicação dos mesmos, através de medidas de desinsetização e desratização efetuadas por empresa especializada credenciada no Órgão de Saúde competente. 3.7 Controle de poluição Evitar queima de resíduos sólidos. 4 Disposições Finais: 4.1 O atendimento a esta Norma Técnica, não dispensa o cumprimento de outros dispositivos legais federais, estaduais e municipais em vigor. 4.2 O não cumprimento desta Norma constituir-se-á em infração nos termos da legislação sanitária vigente, apurada em processo administrativo, conforme a Lei nº. 5118/99, sem prejuízo das demais sanções legais. 4.3 Esta Norma Técnica Especial entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.