SILAGEM
Silagem é o produto obtido por fermentação de forragens, contendo
adequada porcentagem de umidade. Sendo a ENSILAGEM um processo
de conservação de alimentos volumosos, a SILAGEM é o produto resultante
de uma fermentação anaeróbica, por acidificação das forragens verdes.
TRANSFORMAÇÕES QUE DÃO ORIGEM A SILAGEM
Quando a massa é cortada e colocada dentro do silo, sendo
posteriormente compactada, as células do tecido vegetal ainda estão
vivas. Neste ponto, as células cessam a fotossíntese e passam a fazer
respiração aeróbia, consumindo todo o ar existente entre os fragmentos
da massa. Quanto menos ar conter a massa, mais rápido as células do
tecido vegetal passam a fazer respiração anaeróbia, tendo como resíduo
metabólico o Ácido Láctico, e, como conseqüência, a redução do pH do
meio, o que favorecerá o desenvolvimento das bactérias benéficas à
conservação do material ensilado. Se existir muito ar entre os fragmentos
de forragem, resultado de uma má compactação do material, ou o corte
do mesmo em pedaços muito grandes, ocorrerá elevação da
temperatura e o produto resultante será de péssima qualidade (silagem
doce ou quente).
ACIDIFICAÇÃO
No momento do corte, o pH da planta é próximo da neutralidade. Com a
compactação, o pH tende a cair (acidificar) em função da respiração
anaeróbia, favorecendo o desenvolvimento das bactérias fermentativas.
Durante o processo de ensilagem, procura-se orientar a fermentação no
sentido da produção de ácido lático, sendo a principal atividade
observada para a produção de uma silagem de boa qualidade.
FLORA MICROBIANA
As bactérias responsáveis pela produção de ácido lático são as dos
Gêneros: Lactobacillus, Streptococcus, Pediococcus e Leuconostoc.
Consomem açúcares solúveis para sobreviverem e desenvolvem-se melhor
a temperaturas entre 20 a 40º C. Quando o pH da massa atinge valores
entre 3,0 a 4,0, o desenvolvimento dessas bactérias cessa e a silagem está
estável e conservada. Os índices de temperatura e pH para diversas
fermentações são descritos no quadro que segue:
FERMENTAÇÃO
Láctica
Acética
Butírica
Proteolítica
TEMPERATURA (ºC)
5 a 60
18 a 25
20 a 40
-
pH
3,0 a 4,0
4,0 a 5,0
4,0 a 5,0
As outras fermentações são indesejáveis quanto a sua ocorrência na
massa. No caso da fermentação acética, relacionada com as condições
de clima tropical, sempre ocorre em pequena quantidade, mesmo
tomando todos os critérios para a produção de uma boa silagem, devido
a elevada temperatura nos períodos favoráveis para a execução da
mesma. Outro fator que eleva o teor de ácido acético é a alta umidade
da massa (>70%), devendo estar atento aos teores de Matéria Seca da
planta (30 a 35%).
CARACTERÍSTICAS DAS FORRAGENS PARA SILAGEM
a) Teor de Matéria Seca (MS): deve estar em torno de 30 a 35%, o
que facilita a expulsão de ar da massa e evita grandes perdas
de
nutrientes
por
escorrimento
no
momento
da
compactação. O excesso de umidade dificulta a queda do
pH, facilitando o aparecimento de fermentações indesejáveis,
prejudicando a qualidade da silagem. Altos teores de matéria
seca também são indesejáveis, pois dificultam a
compactação da massa e conseqüente expulsão do ar.
b) Teor de Carboidratos Fermentescíveis: as forragens indicadas
devem ter bons teores de Carboidratos Fermentescíveis
(açúcares solúveis), pois deles dependem as bactérias
fermentativas para sobreviverem.
c) Poder Tampão: compreende a dificuldade da diminuição do
pH de algumas plantas por apresentarem na sua composição
substâncias neutralizantes ou alcalinizantes. As plantas
leguminosas apresentam alto poder tampão, não sendo
recomendadas para ensilagem.
UTILIZAÇÃO DE ADITIVOS NA SILAGEM
É muito polêmico, pois a adição de aditivos na massa compreende
aumento de custo, encarecendo muito o volumoso, inviabilizando a sua
execução. Considero o uso de aditivos uma questão oportuna no seu
aspecto econômico, mas tecnicamente pode apresentar resultados,
quando alguma das características, anteriormente citadas, é limitada na
planta a ser ensilada:
1) Melaço: diluído em água na proporção de 1:3, não devendo
ultrapassar 2 a 3% do peso da massa.
2) Cana Picada: até 20% da massa.
3) Ácido Fórmico: 0,8 a 0,9% do peso da massa em MS.
4) Ácido Fosfórico: 0,5 a 0,9% do peso da massa em MS.
5) Uréia: 0,5 a 0,75% da MS da massa; índices acima do
recomendado causam efeito tampão na silagem,
promovendo o aparecimento de fermentações indesejáveis;
deve-se considerar esta uréia quando fizer o arraçoamento
dos animais.
FORRAGEIRAS INDICADAS
As forrageiras indicadas pertencem a família das Gramíneas, sendo o
MILHO, a planta que impera sobre as outras, pois apresenta todas as
características desejáveis para a confecção de uma boa silagem, além
de apresentar alto valor nutritivo. O milho planta inteira, também é
conhecido como a rainha das plantas forrageiras. Segue em ordem de
preferência, as forrageiras mais indicadas: MILHO > SORGO > CAPIM
ELEFANTE > PASTO ITALIANO > CAPIM COLONIÃO.
Muitas gramíneas podem ser ensiladas. O que as limita, é que no estágio
de melhor qualidade da planta, a mesma não atende alguma
característica importante para ensilar, como o teor de umidade, onde
muitas vezes é alto (>75%)
SILO
Trata-se do local onde a silagem é armazenada e sofre as transformações
até estar em condições de ser oferecida aos animais. Dentre os tipos de
silos, encontramos silos aéreos, subterrâneos, de encosta, de trincheira e de
superfície. Dos tipos de silos, o de trincheira é o mais utilizado no mundo e
no Brasil, por causa da facilidade do manejo de enchimento e retirada do
material ensilado.
Silo aéreo de encosta
Silo subterrâneo tipo poço
Silo de superfície
Silo de trincheira
DIMENSIONAMENTO
Dimensionar um silo é de extrema importância, pois determina a
quantidade a ser ensilada e a quantidade diária a ser retirada do silo, pois
deve-se considerar o poder de penetração do ar na massa ensilada, após
aberto o silo, de no mínimo 15 cm / dia.
Exemplo: dimensionamento de um silo de trincheira. Um fazendeiro possui
100 vacas em lactação e quer fornecer 20 Kg de silagem / cabeça / dia
durante 6 meses (maio a outubro). A quantidade de silagem necessária
será:
Kg de silagem = nº de vacas x Kg de silagem / cab. / dia x nº de dias
Kg de silagem = 100 x 20 x 180
Kg de silagem = 360.000 Kg ou 360 T.
Considerando que 1 m³ de silagem pesa em média 500 Kg:
1 m³ ------------------------ 500 Kg
x m³ -------------------360.000 Kg
x = 720 m³ de silagem
Dimensões: um silo de trincheira tem a sua frente no formato de um
trapézio.
B = base maior (boca)
b = base menor (fundo)
h = altura
c = comprimento
A compactação da massa é feita com trator para que haja boa expulsão
do ar e bom adensamento da mesma desde o início do enchimento. Para
efeito de cálculo e de viabilidade técnica, a base menor (b) do silo deve
ter no mínimo uma vez e meia a bitola do trator que irá trabalhar na
compactação. Deve permitir também a entrada da carreta para a
descarga do silo. Portanto, neste exemplo, b = 2,5 m. Suponha que o
barranco onde será construído o silo permita uma altura de 3 m. Portanto,
h = 3 m. Para que a inclinação das paredes do silo seja de 25%, deve-se
considerar que: B = b + ½ x h. Portanto, B = 2,5 + ½ x 3 = 4 m. A área da
seção transversal (S) (área do trapézio) será: S = (B+b)/2 x h. Portanto,
S=(4+2,5)/2x3 = 9,75 m².
Agora, só falta conhecer o comprimento do silo, que se obtém pela
fórmula: Volume(m³) = Área(m²) x Comprimento(m), onde: C = V/S.
Portanto, C = 720/9,75 = 74 m(aprox.).
Entretanto, um silo com 74 m de comprimento é extenso demais, podendo
prejudicar a qualidade da silagem, devido às dificuldades que ocorrerão
para um rápido enchimento e compactação. Pode-se dividi-lo ao meio,
com tábuas ajustadas em canaletas, cujo carregamento seria feito em
duas etapas: primeiro a parte posterior, que já seria vedada, e depois a
parte anterior. Outra saída seria a construção de dois silos de 37 m de
comprimento, ambos com as mesmas dimensões já calculadas.
Como medida de segurança, recomenda-se adicionar ao volume
calculado mais 10% do seu valor para compensar possíveis perdas ou
imprevistos.
Outra maneira de determinar as dimensões de um silo de acordo com a
situação é através de tabelas, como é exemplificado abaixo:
Quadro: Tabela de Dimensões de Silos de Trincheira
LINHA
ALTURA
LARGURA
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
1,50
1,50
1,50
1,50
1,50
1,50
1,50
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,50
2,50
2,50
2,50
2,50
2,50
2,50
2,50
3,00
3,00
3,00
3,00
3,00
3,00
3,00
BASE
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
(m)
TOPO
1,75
2,25
2,75
3,25
3,75
4,25
4,75
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
7,00
8,00
9,00
10,00
3,25
4,25
5,25
6,25
7,25
8,25
9,25
10,25
4,50
5,50
6,50
7,50
8,50
9,50
10,50
TON. C/
22m
26
35
44
53
60
72
81
50
62
74
87
99
111
124
136
161
186
210
235
83
114
145
176
206
236
267
298
139
176
213
251
288
325
362
COMPRIM
27m
31
42
53
64
75
86
97
69
74
89
104
119
134
249
163
193
223
252
282
99
136
174
211
248
283
320
356
167
212
256
301
345
390
434
KG EM 15cm
DE CORTE
DIÁRIO
170
232
294
356
418
480
541
330
413
495
578
660
743
825
908
1073
1238
1403
1568
551
758
964
1170
1377
1573
1779
1985
928
1176
1423
1671
1818
2165
2413
Cálculo para uma fatia mínima de 15 cm: pode –se sofisticar o cálculo das
dimensões necessárias, prevendo-se a retirada de uma fatia mínima de 15
cm diários. O raciocínio é o seguinte: 1 m² de superfície transversal, com 15
cm de espessura possui 0,15 m³ de silagem.
1 m³ -------------------------------- 500 Kg de silagem
0,15 m³ ------------------------------- x Kg de silagem
x = 750 Kg de silagem
15 cm é a espessura mínima da “fatia”. Então, pode-se, por exemplo,
retirar uma “fatia” de 30 cm, onde:
1 m³ --------------------------------- 500 Kg de silagem
0,30 m³ -------------------------------- y Kg de silagem
y = 150 Kg de silagem
Como são 100 vacas e deseja-se fornecer 20 Kg / cab. / dia, o gasto diário
com silagem será de 2.000 Kg. A área da seção transversal(S) necessária é
obtida com a seguinte regra:
1 m² ------------------------------------ 150 Kg de silagem
S ---------------------------------------2.000 Kg de silagem
S = 13 m² (aprox.)
A altura do silo será de 3 m, portanto a base maior será:
B=b+½xh
B=b+½x3
B = b + 1,5
Como S = (B + b)/2 x h, substituindo, tem-se:
S = (b + 1,5 + b)/2 x 3
13 = (2b + 1,5) x 1,5
13 = 3b + 2,25
3b = 10,75
b = 3,5 m (aprox.)
Se B = b + ½ x h, então:
B = 3,5 + ½ x 3
B = 5,0 m
O comprimento necessário poderá ser obtido pelo mesmo raciocínio
utilizado no exemplo anterior, ou de duas outras maneiras: a primeira,
fornecendo a silagem durante 180 dias, retirando uma “fatia” de 30 cm por
dia, multiplica-se 180 por 30, obtendo-se 5.400 cm ou 54 m; a segunda, se
numa “fatia” de 30 cm obtém-se os 2.000 Kg de silagem diários, em 360.000
Kg ou 360 toneladas necessárias estarão contidas em 54 m de
comprimento de silo.
ETAPAS DA CONFECÇÃO DE UMA SILAGEM
1) CORTE: pode ser feito manualmente ou através de uma
colheitadeira de forragens a qual já executa a segunda
etapa da confecção, que é a fragmentação da planta. O
importante no corte é respeitar o ponto fisiológico ideal da
planta para a execução da silagem. O rendimento diário de
uma colheitadeira é de aproximadamente 70 toneladas, e,
manualmente, utilizando uma picadeira com motor
estacionário na boca do silo, consegue-se até 9 toneladas por
dia, com 5 pessoas cortando, 2 carregando e descarregando,
e 1 pessoa para alimentar a picadeira(segundo Ledic, 1992).
Colhedora em operação
Colhedora de forragens
2) FRAGMENTAÇÃO DA PLANTA: quanto mais fragmentada a
massa, menos ar se reterá no seu interior no momento da
compactação, obtendo um alimento conservado de melhor
qualidade. Aconselha-se fragmentar a planta entre 0,5 a 2,0
cm, pois fragmentações menores podem diminuir o
aproveitamento das fibras pelos ruminantes (segundo
Andriguetto et alii, 1934).
Forragem picada
3) COMPACTAÇÃO: é a expulsão do ar. A massa picada deve
ser distribuída por todo o silo em camadas de,
aproximadamente, 1,0 m, e continuamente compactada. A
compactação visa diminuir a quantidade de ar e, desta
maneira, controlar a respiração celular e conseqüentemente
a elevação da temperatura da massa. Quando a
compactação é insuficiente, ocorrem maiores perdas durante
a fermentação, a temperatura eleva-se em demasia e o
produto obtido será de qualidade inferior. Dependendo da
temperatura atingida, quando superior a 40ºC, ocorre a
produção da silagem queimada, apresentando uma
coloração escura. A compactação deve ser contínua,
podendo ser executada com trabalhadores, animais, tratores
ou outros meios.
4) FECHAMENTO: antes do fechamento, deve-se abaular os silos
de trincheira e de superfície, utilizando o mesmo material da
silagem
e
finalizando
com
uma
camada
de
aproximadamente 20 cm de um outro capim qualquer de
qualidade inferior, pois esta camada se perde na
fermentação por ser uma área de baixa compactação.
Fechar o silo com lona plástica com uma face preta e a outra
branca, deixando a face branca para fora, cobrindo as
bordas com terra ou outro material, protegendo da entrada
de água da chuva, devendo colocar sobre a lona algum
material para protegê-la do ressecamento do sol, como
palhada seca, por exemplo. Deve-se aguardar por um
período mínimo de 40 dias para a abertura do silo.
Teoricamente, um silo bem vedado não tem prazo de
validade.
Silo de trincheira abaulado e fechado (corte transversal)
Depois de aberto, o silo deve ser consumido na quantidade mínima diária
de uma “fatia” de 15 cm de silagem, espessura essa representada pelo
poder de penetração do ar na massa. A silagem exposta ao ar por
períodos acima de 48 horas começa a sofrer fermentação aeróbica e
conseqüente decomposição, tornando-se tóxica para os animais.
AVALIAÇÃO DA MASSA ENSILADA
Para que se possa fazer uma boa avaliação da qualidade de uma
silagem, recomenda-se examiná-la nos aspectos relativos a cor, cheiro e
consistência, bastando para tanto, olhar, cheirar, apertar e até mesmo
provar um punhado da massa presa entre as mãos. Segundo o Ministério
da Agricultura da Grã Bretanha, as silagens podem ser classificadas em:
a) BEM FERMENTADAS (ÁCIDAS): cor verde – amarelada clara
ou caqui, cheiro agradável doce-ácido ou de vinagre,
textura firme com tecidos macios mas não facilmente
destacáveis das fibras, gosto ácido típico, com pH abaixo
de 4,5;
b) SUB-AQUECIDAS (INSUFICIENTEMENTE ÁCIDAS): cor escura,
verde-oliva ou verde-azulada, cheiro forte, desagradável
ou rançoso, textura gomosa com tecidos macios e
facilmente destacáveis das fibras, gosto desagradável, mas
não ácido, pH 5,0;
c) SUPERAQUECIDAS: cor marrom-escura, cheiro leve de
açúcar queimado ou de fumo, textura seca e quebradiça,
acidez indefinida;
d) SEVERAMENTE SUPERAQUECIDAS: cor marrom-escura ou
preta, cheiro forte de açúcar queimado ou fumo, textura
seca, facilmente desmanchável, gosto e pH não servem
como guia.
FENAÇÃO
A fenação é um processo simples que consiste em cortar forragens verdes,
num ponto ótimo de acúmulo de nutrientes, para que ocorra perda de
água por parte da planta e que, quando desidratada se manterá
desidratada, sem se estragar e sem perder os nutrientes.
O FENO é a forragem desidratada. A desidratação da forragem ocorre
com a ação dos agentes naturais SOL e VENTO, ou através de secadores
de feno.
A época mais adequada para se fazer o feno é no período de melhor
desenvolvimento das plantas forrageiras, ou seja, no caso da região centro
– sul do Brasil, no verão (outubro a março). Acontece que nesta região, o
período favorável de desenvolvimento das plantas forrageiras coincide
com o período das águas. No momento em que se está fazendo o feno,
não pode chover, pois comprometeria o processo de desidratação da
planta. Considerando que o tempo para a confecção do feno pode variar
entre 10 e 48 horas, e que a análise do tempo no Estado de São Paulo
aponta que 50% dos dias de verão apresentam-se limpos e quentes,
geralmente agrupados em dois ou mais dias, há uma grande viabilidade
técnica em se fazer feno nesta região.
Fator climático importante é a Umidade Relativa do Ar (UR), o que vai
variar a Unidade de Equilíbrio do Feno, de acordo com a sua
porcentagem na atmosfera.
Quadro: Relação entre a UR do ar e a Umidade de Equilíbrio do feno
UR(%)
95
90
80
77
70
60
Umidade de Equil. do Feno
35,0
30,0
21,5
20,0
16,0
12,0
O Ponto de Feno é atingido quando a Umidade Relativa do Ar (UR)
encontra-se entre 60 e 70%, proporcionando uma Umidade do Feno entre
12 e 16%.
Então, FENAÇÃO é um processo de desidratação que transforma a
forragem verde em com 65 a 80% de umidade em FENO com 10 a 20% de
umidade.
O fator idade da planta também é importante, pois a qualidade da
mesma declina com o seu amadurecimento.
Quadro: Relação entre a idade e valor de proteína bruta (PB) de algumas
gramíneas
Idade (semanas) - % de PB na Matéria Seca
Capim
4
12
20
28
Napier
23,8
10,2
8,6
7,2
Sempre Verde
22,6
12,5
9,4
7,7
Kikuiu
21,5
15,4
13,9
14,0
Bermuda
17,5
10,0
8,5
8,6
Gordura
17,1
10,4
8,5
6,6
Pangola
13,3
7,4
7,6
5,6
É importante obter alto rendimento na fenação, mas o feno deve compor
elevado valor nutritivo (quantidade x qualidade).
Quadro: Aspectos nutricionais em diversas idades da soja perene
Índices Percentuais
Matéria Seca (MS)
Proteína Bruta (PB)
Proteína Digestível (PD)
Nutrientes Digestíveis Totais (NDT)
Digestibilidade
60
100,00
16,45
10,04
53,86
61,00
Idade (dias)
108
100,00
15,44
8,18
50,67
52,00
157
100,00
14,10
8,26
48,53
59,00
Quando se compara uma leguminosa com uma gramínea, a leguminosa
mantém seus valores nutricionais por mais tempo em relação a sua idade,
do que a gramínea. Mas, com relação a rendimento e palatabilidade, a
gramínea rende mais, é mais fácil de ser fenada e, quando de boa
qualidade, os herbívoros apreciam mais.
FREQUÊNCIA DE CORTE
É determinada pela idade da forrageira. Seguem alguns valores médios: 30
a 45 dias para o capim de Rhodes, as braquiárias, o capim colonião, o
capim elefante, o capim Jaraguá, o capim kikuiu e o capim coast-cross; 45
a 60 dias para o capim gordura e a soja perene; ponto de florescimento
para as leguminosas em geral.
O CORTE
Deve ser feito logo nas primeiras horas da manhã (6 – 7h). É importante
considerar que a quantidade a ser ceifada será proporcional à
quantidade de capim a ser manejado até virar feno.
Implementos utilizados para o corte:
1) SEGADEIRA OU CEIFADEIRA: corta a uma altura de 3 a 5 cm
do solo; apresenta um rendimento de 2 ha / hora; a segadeira
corta i capim sem prejudicar a planta ou a parte cortada,
sendo recomendada para capins de hastes finas; deve ser
bem amolado e regulado;
Modelo de segadeira
2) SEGADEIRA CONDICIONADORA: corta e enleira; racha os nós
e entrenós dos capins; recomendado para plantas de hastes
mais grossas; mais cara que a segadeira simples; rendimento
de 2 ha / hora;
3) FACA BOBA: menos recomendada, pois compromete a
rebrota, devendo ser usada apenas uma vez ao ano; utilizada
para plantas de hastes grossas; causa perdas de MS de até
50% do total cortado; corta a planta a uma altura de 30 a 40
cm do solo; rendimento de 0,5 ha / hora;
4) ROÇADEIRAS: não são recomendadas para esta finalidade,
pois danificam as touceiras, comprometendo a rebrota,
causando perdas maiores que 55% da MS cortada.
A SECAGEM
A secagem é uma das etapas mais importantes da fenação. Depende
dela para manter a qualidade do produto final, por isto deve ser rápida.
Existem duas formas de secagem: a natural, que é feita a campo, com a
ajuda de ancinhos para revirar o material, e a artificial, utilizando
secadores especiais.
A viragem inicia-se logo após o corte do material, tantas vezes quanto
forem possíveis, até que a umidade atinja o ponto de feno. O implemento
utilizado é o ancinho. Quando a planta precisa mais de um dia para secar,
o material cortado deve ser enleirada para passar a noite. O mesmo deve
ser feito se chover durante a secagem. O ponto de feno é alcançado
quando o material atinge entre 10 a 20% de umidade, sendo o ideal estar
entre 15 e 18% de umidade. Esta umidade pode ser determinada de várias
formas: através de aparelhos medidores de umidade; com a unha,
apertando a haste do capim; colocando uma porção de feno em um
vidro com sal; torcendo um feixe do capim. Quando o feno ainda está
úmido, então deve secar mais. Se o material está farináceo, encontra-se
no ponto. Mas, o feno também pode passar do ponto ficando muito seco,
com aspecto branco e quebradiço.
Modelo de ancinho (tipo “mil molas”)
As leguminosas devem secar mais (12% U). O excesso de umidade na
massa pode causar o aparecimento de fungos, como o Aspergillus flavus,
o qual libera no feno contaminado uma toxina (aflatoxina) que intoxica os
animais que se alimentarem deste produto (distúrbios digestivos, quadro de
intoxicação, morte).
O ENFARDAMENTO
Uma vez atingido o ponto de feno, o material deve ser retirado do campo
o mais rápido possível. A retirada pode ser feita a granel, em fardos ou em
rolos. A granel, o feno pode ser guardado em galpões, ou quando o
material é de baixa qualidade, em medas no campo. O arranjo do feno
na forma de fardos é feito por enfardadeiras, o que facilita o transporte,
reduz a área de armazenagem e facilita a distribuição. Os fardos
apresentam as seguintes dimensões médias: 0,3 m x 0,4 m x 1,0 m, pesando
em média entre 8 e 25 Kg, dependendo da planta e compactação do
fardo. Em geral, 1 m³ de feno pesa em média 90 a 100 Kg. Uma
enfardadeira rende em média 12.000 Kg por hora.
Modelo de enfardadeira
Enfardadeira em operação
A ARMAZENAGEM
O armazenamento do feno não exige galpões sofisticados, nem locais
exclusivos para tal. Basta o local ser coberto, ventilado e livre de umidade.
Se ocorrer o armazenamento do feno com alta umidade (>30% U), ocorre
a elevação de temperatura da massa (79 a 85ºC) decorrente de
fermentação aeróbica, podendo até mesmo acontecer combustão
espontânea. O armazenamento também pode ser feito a campo,
empilhando os fardos sobre piso de estrado e revestindo com lona. As
medas são uma alternativa de armazenamento a campo, sendo uma
poção para as sobras de forragem, as quais são de qualidade inferior. São
geralmente na forma de pêra, cone ou tronco. O feno é amarrado,
apoiado em um mastro. Uma meda com capacidade para comportar 8 a
12 toneladas de feno tem de 6 a 9 m de altura a 4 a 6 m de diâmetro de
base.
Armazenamento a campo
Meda de feno
AS FORRAGENS INDICADAS
Além de escolher uma variedade forrageira para fenação pelas suas
características, as quais permitem seu estabelecimento em uma
determinada região, segue algumas qualidades importantes que devem
ser observadas:
a) Cultivo fácil e econômico;
b) Possibilite cortes mecânicos;
c) Possua textura fina;
d) Apresente bons rendimentos;
e) Suporte cortes rentes e freqüentes sem prejudicar o stand;
f) Elevado valor nutritivo;
g) Alta digestibilidade;
h) Boa palatabilidade.
Algumas gramíneas são mais indicadas para a fenação do que a maioria
das leguminosas, pois mesmo apresentando alto valor protéico, a
secagem é mais difícil, ocorrendo uma grande perda de folhas (devido as
hastes serem mais lenhosas, não se consegue secagem uniforme de hastes
e folhas; quando as hastes estão secas, as folhas passaram do ponto de
feno, desprendendo-se com muita facilidade).
Quadro: Dados de produtividade para fenação, número de cortes anuais
e valores nutritivos de algumas plantas forrageiras
Forrageiras
RHODES(1)
ESTRELA(1)
PANGOLA
JARAGUÁ
COLONIÃO(2)
ELEFANTE(2)
GORDURA
KIKUIU(1)
ALFAFA(1)
SOJA PERENE(1)
Feno
Ton./ha/ano
20
18
8
10
3
12
5
15
12
10
Nº médio de
cortes/ano
3–4
3–4
3
3
1
2–3
2–3
5
3–4
3
MS
(%)
90,8
94,8
97,8
86,3
91,6
90,0
91,3
88,9
86,4
89,7
PB
(%)
11,5
10,3
6,0
5,6
8,0
6,0
7,4
19,5
17,1
16,7
FB
(%)
33,6
32,9
29,8
30,2
33,4
27,6
24,9
17,3
24,1
35,0
NDT
(%)
44,2
49,0
46,0
42,8
46,0(3)
52,3(4)
63,7(5)
56,2
51,9
-
LEGENDA:
(1) Campo de feno
(2) Colheita com faca-boba
(3) Estimado
(4) Pleno florescimento
(5) Início do florescimento
OBS: se dada boas condições de produção, os dados acima serão bem melhores.
Quando se desconhece a produção da forrageira, pode-se utilizar a
fórmula a seguir para determinar estimadamente o teor de matéria seca
da planta: Matéria Seca (MS) = Matéria Verde (MV) / 4.
O CAMPO DE FENO
Dá-se preferência para áreas de prado, com boa topografia, de fácil
manejo. O ideal é que a área de fenação apresente-se de forma que se
possa andar sobre ela com um carro de passeio. Mas, também o próprio
pasto pode ser o campo de feno, bastando apenas manejá-lo:
a) Roçar o pasto;
b) Aguardar o ponto de corte;
c) Adubação prévia;
d) Sobra do pasto.
AVALIAÇÃO DO FENO
Um bom feno apresenta as seguintes características:
1) Coloração esverdeada;
2) Folhudo;
3) Cheiro agradável;
4) Macio;
5) Palatável;
6) Livre de impurezas e toxidez.
É importante fazer a análise bromatológica do feno, quando se tem
grande quantidade.
PERDAS
No caso de gramíneas, no máximo 10 a 15% da MS. Para leguminosas, no
máximo 20 a 30% da MS. Técnicas mal empregadas podem responder
com perdas entre 30 e 40% da MS. Chuvas prolongadas podem ocasionar
até 100% de perda do material. Um mal armazenamento também pode
comprometer a qualidade do feno, ocasionando perdas (exposição ao
sol, chuvas, má ventilação, etc.)
FORNECIMENTO
O fornecimento do feno pode ser feito a campo ou no confinamento de
herbívoros e onívoros. É oferecido em manjedouras ou cochos, não
devendo ser oferecido no chão por motivo de perdas.
O feno pode atender as necessidades nutricionais de uma criação ou
categoria, total ou parcialmente, dependendo do sistema de criação.
No caso de bovinos, o feno pode ser dado como alimento exclusivo para
animais adultos, sendo a ingestão máxima de 2% do Peso Vivo em Matéria
Seca (MS) de feno. Misturado com silagem, pode ser usado à proporção
de 2/3 de silagem com 1/3 de feno. Como concentração de MS, o que
promove aumento de ingestão de massa (quando de boa qualidade), 1
Kg de feno pode ser comparado com 4 Kg de forragens frescas ou 3 Kg de
silagem. Os bovinos jovens têm demonstrado maiores desempenhos no
aproveitamento do feno como alimento. Em bezerros o feno proporciona
rápido desenvolvimento do rúmen, quando associado com ração
peletizada, fornecido a vontade a partir dos 4 dias de idade, quando se
pratica a desmama precoce. O feno eleva o pH ruminal, fortalecendo a
sua musculatura, evitando a Paraqueratose em bezerros (o feno age como
uma “escova de dentes”, pois suas fibras limpam as paredes do rúmen dos
resíduos de concentrados que podem ali fermentar).
O feno, quando novo é altamente palatável. Atenção na sua ingestão
quando à vontade.
Quadro: Quantidade de feno necessária por dia para manter um bovino
PESO VIVO (Kg)
90
180
270
360
450
DIGESTIBILIDADE (%)
37
48
60
Kg DE FENO / CAB. / DIA
8
6
4
13
10
7
16
13
9
20
15
10
21
17
11
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PUPO, Nelson Ignácio Hadler, 1950 – MANUAL DE PASTAGENS E
FORRAGEIRAS – Instituto Campineiro de Ensino Agrícola,
1979.
LAZZARINI NETO, Sylvio, 1949 – MANEJO DE PASTAGENS – SDF
Editores, 1994.
DIAS, J. C. et alii – FORRAGENS PARA O GADO LEITEIRO –
Tortuga / Embrapa – CNPGL, 1997.
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