MURILLO SAPIA GUTIER
INTRODUÇÃO AO
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Uberaba-MG
Janeiro de 2011
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL
1. Origens Históricas
2. Contexto
3. O que é o direito internacional?
4. Direito internacional público e direito internacional privado
5. Objeto do Direito Internacional
6. Sociedade Internacional versus Comunidade Internacional
7. Direito Internacional Público e Direito Interno
7.1. Teoria dualista ou Dualismo (Triepel e Anzillotti):
7.2. Teoria monista
8. Ordem Jurídica da Sociedade Internacional
9. Fundamento do Direito Internacional
9.1. Doutrina Voluntarista
9.2. Doutrina Objetivista
10. Fontes do Direito Internacional Público
10.1. Fontes Materiais
10.2. Fontes Formais
10.2.1. Primárias
10.2.1.1. Tratados
10.2.1.2. Costumes
10.2.1.2.1. Elemento material
10.2.1.2.2. Elemento subjetivo
10.2.1.3. Princípios Gerais do Direito
10.2.2. Secundárias
10.2.2.1. Jurisprudência
10.2.2.2. Doutrina
10.2.3. Novas fontes do Direito Internacional Público:
10.2.3.1. Atos unilaterais do Estado:
10.2.3.2. Decisões de Organizações Internacionais:
10.2.3.3. Direito Flexível (Soft-law):
CAPÍTULO 2 - TRATADOS INTERNACIONAIS
2.1.
Características
2.1.1. Conceito
2.2.
Elementos que configuram um tratado
2.3.
Nomenclatura
2.4.
Classificações dos tratados
2.4.1. Quanto ao número de Partes
2.4.2. Quanto à abertura ou não
2.4.3. Quanto à solenidade
2.4.4. Tratados lei, contrato e Constituição
2.5.
Demais elementos
2.5.1. Denúncia ao tratado
2.5.2. Idioma
2.5.3. Entrada em Vigor
2.5.4. Registro dos tratados
2.6.
Processualística
2.7.
Resumo
3.
4.
5.
6.
CAPÍTULO 3 - INDIVÍDUO NO CENÁRIO INTERNACIONAL
CAPÍTULO 4 - PERSONALIDADE INTERNACIONAL
CAPÍTULO 5 - RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS
CAPÍTULO 6 - CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS
2
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7. CAPÍTULO 7 - SANÇÕES EM DIREITO INTERNACIONAL
8. CAPÍTULO 8 - OMC (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO)
BIBLIOGRAFIA:
(1) ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G.E.; CASELLA, Paulo Borba. Manual
de direito internacional público. 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
(2) ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de Direito Internacional Público. 3ª Ed. São
Paulo: Quartier Latin, 2009.
(3) BREGALDA. Gustavo. Direito internacional público & direito internacional
privado – São Paulo: Atlas, 2007.
(4) BREGALDA. Gustavo. Direito internacional. São Paulo: Saraiva, 2009. (Coleção OAB
Nacional).
(5) DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Público. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2006.
(6) TEIXEIRA, Jair. Resumo de Direito Internacional e Comunitário – 2ª ed. – Rio de
Janeiro: Impetus, 2008.
(7) MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Direito Internacional Público: Parte Geral – 3ª ed.
– São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
(8) MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007.
(9) PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional público. São Paulo:
Saraiva, 2009.
(10)
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público e Privado.
Salvador: JusPodivm, 2009.
(11)
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São
Paulo: Saraiva, 2002.
(12)
SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito internacional público. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
(13)
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. Belo Horizonte: Del Rey,
2008.
(14)
VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva,
2009.
3
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL
1. Origens Históricas
O Direito Internacional Público surgiu a partir do século XVII, quando se formaram
os Estados-Nação com as características que conhecemos hoje. O ponto limite foi o fim
da Guerra dos 30 anos (em 1648), por meio do tratado de Vestfália, quando nasce a
soberania nacional.
 Jus fetiale romano;
 Jus gentium
 Tratados de Westfália de 1648
Marcos Históricos
 Revolução francesa
 Congresso de Viena (1815)
 Doutrina Monroe (1823)
 Liga das Nações
 Criação da ONU.
 Paz de Vestifália: celebrou o fim da guerra dos trinta anos, demarcando:
(a) Soberania entre os Estados
(b) Obrigação de não intervenção nos assuntos internos
(c) Igualdade jurídica.
 Francisco de Vitória (1486-1546): teoria da Guerra, abominando as
atrocidades do império de Carlos V.
 Hugo Grócio: salienta a necessidade de regulamentar a guerra, de modo a evitála. Fundamenta no direito natural, enaltecendo os direitos fundamentais
inerentes ao homem. Afirma que o mar é bem comum, não sendo passível de
apropriação privada.
2. Contexto
A vida em sociedade é permeada de conflitos interpessoais, e na sociedade
internacional igualmente há tensões entre os atores, tendo em vista as inúmeras
4
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disputas entre os sujeitos, uma vez que há diferenças e interesses variados entre os
mesmos.
Paulo Henrique Portela enfatiza que “os conflitos que ocorrem na seara internacional
não podem, via de regra, ser solucionados da mesma maneira, o que se deve,
fundamentalmente, à forma pela qual a sociedade internacional está organizada do
ponto de vista jurídico”.1 Referido autor aponta que as relações internacionais são
caracterizadas por:
(a) Inexistência de um poder central mundial, ou seja, não há um ente de
direito internacional que imponha aos Estados Soberanos as suas
deliberações
(b) Igualdade jurídica entre os Estados;
(c) Soberania dos Estados.
(d) Princípio da não-intervenção.
3. O que é o direito internacional?
É o conjunto de princípios e normas, sejam positivados ou costumeiros, que
representam direito e deveres aplicáveis no âmbito internacional (perante a
sociedade internacional).2 Em outras palavras, Direito internacional público consiste
no sistema normativo que rege as relações exteriores entre os atores internacionais. O
arcabouço jurídico que norteia as relações exteriores entre os sujeitos que integram a
sociedade é o que se pode denominar de direito internacional público.3 É o Ramo da
ciência jurídica que visa regular as relações internacionais com o fim precípuo de
viabilizar a convivência entre os integrantes da sociedade internacional.
O direito internacional não é dotado da mesma coerção existente no prisma
interno dos Estados, mas estes princípios e normas são aceitos quase que
universalmente, incidindo sobre:
a. Entre Estados diferentes;
b. Entre Estados e nacionais de outros Estados;
c. Entre Nacionais de Estados diferentes.
1
PORTELA (2009: 471).
BREGALDA, obra citada, p. 3.
3
MAZZUOLI, 2006: 9.
2
5
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
d. Entre Estados e organismos internacionais.
4. Direito internacional público e direito internacional privado
O direito internacional trata destas relações e deste âmbito normativo, que pode
ser positivado ou costumeiro (costumes). Denomina-se Direito internacional público
quando tratar das relações jurídicas (direitos e deveres) entre Estados, ao passo que o
Direito internacional privado trata da aplicação de leis civis, comerciais ou penais de
um Estado sobre particulares (pessoas físicas ou jurídicas) de outro Estado.
Direito Internacional Público
Relação
jurídica:
Trata
Direito Internacional Privado
das
relações Relação
jurídica:
Trata
das
relações
exteriores entre os atores internacionais jurídicas entre os sujeitos privados com
(sociedade
internacional),
compondo conexão internacional, regulando conflitos
tensões;
de leis no espaço.
Fonte: principal são os tratados e fontes Fonte: legislação interna dos Estados.
internacionais
Regras:
Regras: normas indicativas de qual Direito
1) vinculam as relações internacionais ou aplicável nas relações entre os sujeitos;
internas de incidência internacional;
2)
são
estabelecidas
pelas
fontes
internacionais;
3) são
normas
de
aplicação direta,
vinculando diretamente os sujeitos.
5. Objeto do Direito Internacional
Num primeiro momento, o objeto do Direito Internacional são os Estados, regendo
a atividade inter-Estatal. Com o fim da 2ª Guerra Mundial começam a surgir as
Organizações Internacionais (ONU, OMC, FMI, etc.), e estas passaram a deter também
personalidade
Jurídica
Internacional,
atribuindo
aos
indivíduos
capacidades
postulatórias.
6
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Seitenfus e Ventura4 elucidam que há uma tríplice função do direito internacional
público:
(a) Repartição de competência entre os estados soberanos, cada qual com sua
delimitação territorial, ao qual exerce sua jurisdição.
(b) Fixa obrigações aos Estados soberanos, de modo que as suas liberdades de
atuação são são (de) limitadas;
(c) Rege as relações entre as organizações internacionais.
Relacionamento
internacional Relacionamento internacional hodierno
tradicional
Entre Estados
Entre Estados
Organizações internacionais
Organizações não-governamentais
Empresas
Indivíduos
O Direito Internacional Público (DIP) é composto pelos sujeitos ou atores de
direito internacional público5, que estão sujeitos às regras, princípios e costumes
internacionais.6 Entretanto, não apenas de relações entre Estados cuida o DIP. Como
ressalta Gustavo Bregalda, o Estados tem sua personalidade jurídica internacional
reconhecida pelos outros Estados ou pelos organismos internacionais.
Organismos internacionais são pessoas ou coletividades criadas pelos próprios
sujeitos de direito internacional, reconhecendo-os como pessoas internacionais, com
capacidade de ter direitos e assumir obrigações na ordem internacional. São exemplos a
ONU, OEA. Podem ainda ser criados por particulares, como a Cruz Vermelha
Internacional, a Ordem de Malta, por exemplo.
Portanto, atualmente, o objeto moderno do Direito Internacional são os
Estados, as Organizações Internacionais e os Indivíduos. Alguns doutrinadores
salientam que as empresas são atores atuantes nas relações internacionais, de modo que
devem figurar como integrantes do Relacionamento internacional. Quanto ao indivíduo,
este tem responsabilidade ativa e passiva, podendo tanto postular quanto ser
demandado internacionalmente.
4
Direito internacional público, p. 24.
A doutrina internacionalista costuma tratar do tema como personalidade jurídica internacional.
6
BREGALDA, obra citada, p. 4.
5
7
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
6. Sociedade Internacional versus Comunidade Internacional
A sociedade internacional é formada pelos Estados, pelos organismos internacionais e
pelo homem, apresentando as características em relação às sociedades internas:
(a) Isonomia: deve haver igualdade entre os sujeitos;
(b) Descentralização: pois vários são os criadores e destinatários das normas de
direito internacional. Ainda permanece, mas não como uma verdade absoluta, ja
que existem hoje órgãos completamente centralizados, como por exemplo, a
União Européia;
(a) Universalidade: deve abranger o máximo possível de integrantes;
(b) É Aberta: como corolário lógico da característica anterior, é aberta à novos
integrantes.
(c) Com direito originário: visam criar um âmbito normativo novo.
Apresentando as seguintes características7:
(a) Multiplicidade de Estados, dotados de soberania;
(b) Relações comerciais internacionais
(c) Princípios jurídicos em comum.
São expressões que não se confundem, apesar de serem utilizados como
sinônimos.
A sociedade internacional é formada pelos sujeitos de direito internacional:
Estados, Organizações Internacionais, Empresas e Indivíduos. A comunidade
internacional, por seu turno, é marcada pela união natural (laço espontâneo), marcados
por afinidades de cunho social, cultural, familiar, religioso.8 Ao se falar em comunidade
internacional, não há que se pensar em dominação de uns perante os outros.
Sociedade Internacional
Comunidade Internacional
7
BREGALDA, Idem ibidem. Entretanto, há autores que não reconhecem o ser humano como componente da
sociedade internacional, não sendo, portanto, sujeito de direito internacional.
8
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional..., p. 34. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira.
Direito Internacional Público, p. 10.
8
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
União
de
Estados,
Internacionais e indivíduos;
Organizações É um vínculo entre pessoas que se unem
por um laço moral e não-jurídico9;
7. Direito Internacional Público e Direito Interno
Uma questão tormentosa é a relação entre conflitos entre as normas de Direito
Internacional e de Direito interno, “A questão em apreço é polêmica, e seu tratamento
reveste-se de grande importância, em função do relevo que o Direito Internacional vem
adquirindo como marco que visa a disciplinar o atual dinamismo das relações
internacionais, dentro de parâmetros que permitam que estas se desenvolvam num
quadro de estabilidade e de obediência a valores aos quais a sociedade internacional
atribui maior destaque”.10
Para tanto, há duas teorias explicativas do impasse entre conflito entre direito
internacional público e direito interno, quais sejam, as teorias monista e dualista.
7.1.
Teoria dualista ou Dualismo (Triepel e Anzillotti):
Salienta que direito internacional e direito interno são realidades distintas, ou seja, tem
âmbito de incidência completamente diferentes. O Direito internacional rege as relações
exteriores entre os Estado ao passo que o Direito interno disciplina as relações internas
do Estado. Tendo em vista esta perspectiva, não há que se falar, para esta teoria, em
conflito de normas de direito interno e internacional, uma vez que a ordem internacional
não pode regular questões internas. “Os tratados internacionais representam apenas
compromissos exteriores, assumidos por Governos na sua representação, sem que isso
possa influir no ordenamento interno desse Estado, gerando conflitos insolúveis dentro
dele”.11
(a) Teoria da incorporação, transformação ou mediatização (Laband)
Para esta teoria, como as normas tem incidência distinta, apenas no caso de o Estado
incorporar internamente o preceito de direito internacional, por meio de alteração de
9
Não existe, atualmente, uma comunidade internacional.
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público e Privado, p. 51.
11
MAZZUOLI, Direito internacional..., p. 72.
10
9
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
suas leis internas, ou seja, “a norma internacional só vale quando recebida pelo direito
interno”.12
(b) Dualismo moderado13
Para o dualismo moderado “não é necessário que o conteúdo das normas internacionais
seja inserido em um projeto de lei interna, bastando apenas a ratificação dos tratados
por meio de procedimento específico, que inclua a aprovação prévia do parlamento e a
ratificação do chefe de Estado”.14
7.2.
Teoria monista
Doutrina completamente oposta à anterior, uma vez que trata da questão da unidade do
ordenamento internacional e interno.
8. Ordem Jurídica da Sociedade Internacional
A ordem jurídica interna é centralizada e organizada verticalmente. No âmbito do
Direito Internacional, a ordem jurídica é descentralizada, não existindo norma jurídica
superior com capacidade para impor aos Estados o cumprimento de suas decisões. A
Carta da ONU não é uma Constituição. O Direito Internacional ainda depende muito do
voluntarismo, ou seja, da vontade de cada Estado. Salienta Rezek que “no plano
internacional não existe autoridade superior nem milícia permanente. Os Estados se
organizam horizontalmente, e prontificam-se a proceder de acordo com normas
jurídicas na exata medida em que estas tenham constituído objeto de seu
consentimento. A criação de normas é, assim, obra direta de seus destinatários”.15
9. Fundamento do Direito Internacional
Fundamento liga-se à obrigatoriedade da disciplina. Existem duas correntes:
12
MAZZUOLI, Direito internacional..., p. 72.
PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional público, p. 48.
14
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público e Privado, p. 53.
15
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar – 9ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002,
p. 1.
13
10
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
9.1. Doutrina Voluntarista: Entende que o fundamento do Direito Internacional
se baseia na vontade dos Estados. A maior crítica feita a essa doutrina é a de que
não se pode depender apenas da vontade do Estado, pois o mesmo pode
manifestar sua vontade negativa a posteriori, deixando de existir o Direito
Internacional. Devem ser criadas normas mais objetivas.
9.2. Doutrina Objetivista: Visa encontrar nas normas internacionais regras mais
objetivas que subjetivas para fundamentar o Direito Internacional Público. Essa
regra objetiva, por excelência, é o pacta sunt servanda. (art. 26 da Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados, 1969).
10. Fontes do Direito Internacional Público
10.1. Fontes Materiais: são os fatos sociais, históricos, políticos e econômicos,
que deflagram a produção das normas.
10.2. Fontes Formais: são os atos estatais que regulamentam os fatos sociais.
Indicam a forma como o Direito Positivo se desenvolve. As fontes formais do
Direito Internacional são:
10.2.1. Primárias (Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça):
10.2.1.1. Tratados (art. 38, “a”, ECIJ): formalmente, não é
hierarquicamente superior ao Costume, mas, na prática, são as
principais fontes do DIP e as mais aplicadas. Já que trazem maior
segurança
jurídica
para
as
Relações
Internacionais.
Sua
regulamentação se dá por um novo ramo do DIP: o Direito dos
Tratados, que regulam a sua celebração, entrada em vigor e
extinção.
10.2.1.2. Costumes (art. 38, “b”, ECIJ): São atos reiterados dos
Estados durante certo período de tempo, versando um assunto da
mesma forma. Quem alega o Costume, deve prová-lo. São dois os
elementos (cumulativos) do costume internacional:
11
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
10.2.1.2.1. Elemento material: prática reiterada de atos no
mesmo sentido. É o chamado “uso”.
10.2.1.2.2. Elemento subjetivo (psicológico ou espiritual): é a
crença de que a prática é obrigatória nos termos do Direito,
no plano jurídico.
 O Costume e os novos Estados: atualmente os Estados nascem
por união ou cisão. A doutrina majoritária defende que os novos
Estados que nascem no seio da Sociedade Internacional, ao
integrá-la, deve submeter-se a todos os direitos e obrigações
pré-existentes. Já a doutrina minoritária entende que o Estado
pode rechaçar algumas regras costumeiras que violem seus
Princípios de Direitos Humanos.
10.2.1.3. Princípios Gerais do Direito (art. 38, “c”, ECIJ): estão,
em sua maioria, positivados nos tratados. Mas podemos citar
dentre eles o pacta sunt servanda, a boa-fé, o respeito à coisa
julgada.
10.2.2. Secundárias (art. 38, “d”, ECIJ):
10.2.2.1. Jurisprudência: interna e internacional.
10.2.2.2. Doutrina: se referia ao jurista como pessoa física, mas
hoje em dia deve ser interpretado emsentido amplo, sendo todas as
manifestações de cunho doutrinário, ainda que não de Pessoa
Física, como os ANAIS das Conferências, os grupos de estudos da
ONU, as decisões de Tribunais Internacionais, dentre outros,
considerados doutrina.
O art. 38 é meramente exemplificativo, podendo existir outras fontes que não
elencadas ali em seu texto. Não existe hierarquia entre as fontes, tanto os Tratados
podem revogar os Costumes quanto os Costumes podem revogar os Tratados (fazendo
com que o mesmo caia em desuso).
10.2.3. Novas fontes do Direito Internacional Público:
12
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
10.2.3.1. Atos unilaterais do Estado: criam direitos a outros
Estados e obrigações a ele próprio.
10.2.3.2.
Decisões
de
Organizações
Internacionais:
as
Organizações Internacionais podem criar atos internacionais, tais
como decisões, resoluções, diretrizes, diretivas, recomendações,
gerando obrigações aos países a elas vinculadas.
10.2.3.3. Direito Flexível (Soft-law): Nasceu no bojo do Direito
Internacional do Meio Ambiente, não prevê sanções, não tem
juridicidade, mas gera obrigação moral. Não se pode dizer, ainda,
que faz parte das fontes de direito internacional.
13
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 2 - TRATADOS INTERNACIONAIS
Ver tratados: convenções de Viena, convenção de Montego Bay (direitos do Mar), ver
resolução n. 9 – carta rogatória e homologação de sentença estrangeira, tratados do
MERCOSUL e convenção de Nova York.
Dentre as fontes do DIP, temos os tratados internacionais. O tratado é a fonte
mais importante para a identificação de regras do DIP.
1. Características
2. Processualística
3. Vigência
4. Incorporação ao direito interno – ver § 3º do art.
5º (EC 45/04).
2.1. Características
2.1.1. Conceito
A convenção de Viena de 1969 fala da conceituação dos tratados. O Brasil não é parte
neste tratado sobre direito dos tratados, mas não tem muita relevância, uma vez que
trata apenas de formalidades nas tratativas.
2.2. Elementos que configuram um tratado
Referência acerca dos Tratados: Convenção de Viena de 1969 – “Tratado dos
Tratados”  Conceito: art. 2º, §1º, “a”
a. É acordo formal internacional: é acordo escrito devendo que ter animus
contraendi e sanção em caso de descumprimento.
b. Celebrado por escrito: para ser válido, deve ser feito por escrito, sendo vedada a
forma oral.
14
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
c. É celebrado entre Estados ou Organizações Internacionais: que são pessoas
de direito internacional.16 A Convenção de Viena de 86 acresceu as Organizacoes
internacionais como sujeitos de Direito Internacional.
Excepcionalmente, por razões políticas, um ente que não estatal pode celebrar
tratado: ex. OMC, Taiwan e Hong Kong (são tigres asiáticos que, por meio do
Acordo de Mahakesch, permitiu que os territórios aduaneiros autônomos, para
dizer que podem participar os Não-estados, mas que tenham autonomia
comercial, como no caso de Taiwan e Hong Kong).
d. Deve ser regido pelo Direito Internacional: se um compromisso for regido
pelo direito interno de uma das partes, não será um Tratado Internacional, mas
sim um Contrato Internacional.
e. Quer conste de um instrumento único, quer de mais ou dois instrumentos
conexos: permite os acordos por troca de notas diplomáticas (acordos em forma
simplificada/acordos executivos).
f. Deve produzir efeitos jurídicos: não se considera documentos meramente
políticos. Tratados devem produzir direitos e obrigações, de modo que a
inadimplência gere responsabilidade internacional.
g. Qualquer que seja a sua nomenclatura particular: os Tratados Internacionais
não tem denominação específica, podem ser denominados de Tratado,
Convenção, Protocolo, Acordo. Exceção: Tratados celebrados pelo Vaticano com
outros Estados denominam-se Concordata, desde que versem sobre privilégios
direcionados aos católicos.
2.3. Nomenclatura
Desde que preencha os requisitos básicos, será tratado internacional. A
nomenclatura não tem o condão de distinguir (convenção, tratado, acordo [DI
Econômico], concordata [Vaticano], carta [utilizado para organizações], protocolo [há
um tratado original e para evitar emendas, faz-se um tratado adicional e para se fazer
este protocolo, tem que fazer parte do tratado original).
Outrossim, se os susbscritores adotaram a denominação de compromisso, que para
alguns autores é o ato internacional utilizado para a solução de controvérsias perante
16
Há controvérsia acerca do ser humano como sujeito de direito internacional. No caso da comunidade européia,
transferiu-se para a comunidade européia a titularidade para celebrar tratados. Ex. Chile c/c Comunidade
européia e não a Alemanha ou Espanha.
15
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
um tribunal arbitral, deve-se verificar o caso concreto para saber qual o teor do
compromisso. José Francisco Resek ensina que “a adjetivação serve justamente para
especificar a natureza do texto convencional, quebrando a neutralidade do substantivobase. Assim, as expressões acordo e compromisso são alternativas – ou, para quem
prefira dizê-lo, são juridicamente sinônimas – da expressão tratado, e se prestam, como
esta última, à livre designação de qualquer avença formal, concluída entre sujeitos de
direito das gentes e destinada a produzir efeitos jurídicos”.17
O art. 84, VIII da CF/88 estabelece que o PR tem a competência constitucional para
celebrar tratados e convenções, sujeitas a referendo do Congresso Nacional. No entanto,
poderá delegar aos “plenipotenciários”, através da chamada “Carta de Plenos Poderes”, a
competência para as negociações contratuais (exemplo de plenipotenciário do Brasil:
Ministro das Relações Exteriores). Independentemente da nomenclatura, é da
competência do Congresso referendar os tratados celebrados pelo PR.
2.4.
Classificações dos tratados
2.4.1. Quanto ao número de Partes
a. Tratados bilaterais:
 Matérias
típicas:
fronteira,
bitributação,
extradição,
cooperação
judiciária.
b. Tratados multilaterais: podem ter aplicação universal, para todos. Ex. direitos
humanos.
 Nestes tratados aparecem questões referentes à adesão de outros Estados
ao tratado (regras para adesão): as vezes exige-se aprovação dos demais
membros integrantes, inclusive com cláusula de unanimidade (Mercosul).
Fixa-se regras para denúncia do tratado, em regra, é fixada a comunicação
prévia para sair. Quantos são necessários para permanecer vigente é outra
cláusula.
 Uma cláusula muito importante é a de reserva, que é a possibilidade de o
Estado se vincular ao tratado, mas com reservas. Há tratados que não
permitem reservas (TPI – Estatuto de Roma). Nos tratatos multilaterais, as
matérias atinentes às reservas aparecem ao fim do tratado. Se um Estado
soberano não concorda com os termos do novo tratado, é perfeitamente
17
REZEK, J.F. Direito Internacional Público: Curso elementar. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 15.
16
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
possível que haja o engajamento parcial ou condicional a determinados
tratados. A limitação ao consentimento acerca de parte do tratado recebe o
nome de reserva ou declaração interpretativa. A Convenção de Viena sobre
Direito dos Tratados de 1.969, no seu art. 2º, “d”, explica que: d) "reserva"
significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou
denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar
um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito
jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado;
O que os distingue é a possibilidade de alargamento do número de partes. Havendo
a hipótese de ingresso ou saída de Estados, será multilateral. Nos bilaterais, se uma das
partes denunciar, extingue-se o tratado.
2.4.2. Quanto à abertura ou não
a. Abertos → são aqueles acessíveis a outros Estados; possuem cláusula de adesão.
b. Fechados → são aqueles realizados somente entre as partes, não são acessíveis a
outros Estados;
c. Semi-abertos → abertos somente a alguns países específicos;
2.4.3. Quanto à solenidade
a. De forma solene → são aqueles que precisam de assinatura e ratificação;
b. De forma simplificada → são aqueles que a mera assinatura já lhe da validade;
2.4.4. Tratados lei, contrato e Constituição
a. Tratados-lei → são aqueles normativos, ou seja, disciplinam com força de lei;
Todos os integrantes acordam com propósitos idênticos.
b. Tratados-contrato → são aqueles que se formam a partir da vontade das partes,
em geral disciplinando tratos comerciais. Todos os integrantes acordam com
propósitos diferentes. Ex. acordo nuclear Brasil-Alemanha: o Brasil se
comprometeu a fornecer urânio enriquecido ao passo que a Alemanha se
comprometeu a fornecer tecnologia nuclear ao Brasil.18
c. Tratados-Constituição: “são celebrados pelos sujeitos da SI que visam a
institucionalizar um processo internacional de criação de uma entidade que
18
SILVA, op. Cit. p. 91.
17
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
possua orgaos e poderes próprios e vontade intependente dos Estados que a
originaram”.19
2.5. Demais elementos
a. Multilateralidade
e
bilateralidade
dos
tratados:
Temos
diversas
classificações no que tange ao tema Tratados Internacionais. Um tratado pode
ser constituído por duas partes, ou seja, começar bilateral, uma vez que
concluído apenas entre A e B, mas que se possibilitar o ingresso de outros
Estados Soberanos, ou seja, de início, ser um tratado bilateral-aberto. Nada
impede que um tratado bilateral se converta em multilateral.20 Mazzuoli
salienta que em casos como o retratado acima (tratado bilateral, mas aberto à
quem quiser aderir) não se está de fato diante de um tratado bilateral,
enaltecendo que “trata-se de acordo verdadeiramente coletivo, uma vez
presente a autorização de ingresso de outras partes pela via da adesão”.21 Em
sendo aberto o tratado, já que permite que terceiros que não fizeram parte da
tratativa original ingresse no mesmo, poderá aderir na sua totalidade ou em
parte.
b. Emenda ao tratado: No que tange à emenda ao tratado, esta é considerada “o
meio pelo qual os atos internacionais são revistos, implicando em acréscimo,
alteração ou supressão de seus conteúdos normativos”.22 Por meio do art. 40, §
4º da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1.969 (CVDT 69),
Como os tratados são passíveis de emendas, é perfeitamente possível a
coexistência de versões diferentes de tratados.23 No art. 40 da Convenção de
Viena sobre Direito dos Tratados de 1.969 enfatiza a possibilidade de dualidade
ou duplicidade de regimes jurídicos entre os tratados original e emendado. Isto
significa que há “a possibilidade de um tratado original estar vigendo ao mesmo
tempoentre as partes que não concordaram com a emenda, e entre estas e o
19
SILVA, op. Cit. p. 92. Exemplo: Carta da ONU, Criação de Organizações internacionais.
PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de Direito Internacional Público. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.61.
21
MAZZUOLI, Valério. Curso de direito internacional público. 2ª ed. . São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, p. 185.
22
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. Salvador: Editora
JusPodivm, 2009, p. 112.
23
VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 56.
20
18
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
grupo que com elas concordou, sem prejuízo de o tratado emendado estar
vigendo na sua integralidade para este último grupo”.24
Como em 1997 houve a adesão do texto pelo Brasil, quando em vigor a segunda
versão do Tratado (“Compromisso AB97”), presume-se que o aderente se
vinculará aos termos do tratado emendado. Assim dispõe o art. 40 da CVDT 69:
Artigo 40
Emenda de Tratados Multilaterais
1. A não ser que o tratado disponha diversamente, a emenda de tratados
multilaterais reger-se-á pelos parágrafos seguintes.
2. Qualquer proposta para emendar um tratado multilateral entre todas as
partes deverá ser notificada a todos os Estados contratantes, cada um dos
quais terá o direito de participar:
a) na decisão quanto à ação a ser tomada sobre essa proposta;
b) na negociação e conclusão de qualquer acordo para a emenda do
tratado.
3. Todo Estado que possa ser parte no tratado poderá igualmente ser
parte no tratado emendado.
4. 0 acordo de emenda não vincula os Estados que já são partes no tratado
e que não se tornaram partes no acordo de emenda; em relação a esses
Estados, aplicar-se-á o artigo 30, parágrafo 4 (b).
5. Qualquer Estado que se torne parte no tratado após a entrada em vigor
do acordo de emenda será considerado, a menos que manifeste intenção
diferente:
a) parte no tratado emendado; e
b) parte no tratado não emendado em relação às partes no tratado não
vinculadas pelo acordo de emenda.
Em conclusão acerca da temática, extrai-se o seguinte:
(a) O tratado emendado vigora entre as parte que concordaram com a
alteração (emenda);
24
MAZZUOLI, Valério. Curso de direito internacional público. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, p. 198.
19
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
(b) Quanto ao tratado original, é válido entre as partes que não aprovaram
a alteração do mesmo (duplicidade de regimes). Assim, se aprovou a
emenda, está lhe abrangerá, se não aprovou, vigora o tratado original.
(c) Ainda, quanto ao tratado original, este é válido para as partes que
aprovaram e para as partes que não aprovaram a emenda.
(d) A adesão de Estado a um tratado em sua versão emendada (não
original), esta versão é a que valerá para o Estado aderente, exceto se
dispor em contrário. Quanto as partes que aceitaram a emenda, o
Estado aderente obedecerá este regime jurídico internacional frente às
partes que aceitaram. Quanto às partes que não aceitaram a emenda, o
Estado aderente respeitará as normas originais.25
c. Denúncia ao tratado: é o ato unilateral com repercussão internacional em
que uma parte demonstra a intenção de não mais estar obrigada aos termos e
obrigações acordados pelo ato internacional. Para tanto, deve-se verificar os
termos do próprio tratado, que em regra disciplinam esta modalidade formal
de desvinculação, sob pena de responsabilidade internacional do Estado.
Importante salientar que o fato de não haver previsão no tratado acerca da
denúncia não impede que a mesma seja praticada pelo sujeito, uma vez que a
vontade é o elemento fundante dos tratados internacionais.26
d. Idioma: a escolha é livre, cabendo aos subscritores a escolha, conforme
consenso entre os mesmos.
e. Entrada em Vigor: Com relação aos Tratados de forma simplificada, entram
em vigor com a mera assinatura. Entretanto, os Tratados de forma solene
dependem da assinatura e da ratificação para entrar em vigor. Essa ratificação
serve de instrumento de controle sobre os atos do plenipotenciário. Quanto
aos tratados bilaterais, estes entram em vigor quando os Estados pactuantes
ratificarem o mesmo. No que tange aos tratados multilaterais, temos os
seguintes aspectos a serem considerados:
(i)
Quantificado: o tratado só entra em vigor quando a maioria dos
Estados o tenham ratificado;
25
26
PORTELA, op. cit.
PORTELA, Op. cit. p. 118.
20
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
(ii)
Qualitativo: entra em vigor quando determinados Estados
tenham que, obrigatoriamente, ratificar os tratados. Ex. protocolo
de Quioto, em que a ratificação dos EUA e da Rússia são
imprescindíveis para a entrada em vigor, uma vez que estes dois
Estados são grandes poluidores.
f. Registro dos tratados: Os Tratados, para que tenham validade, não
necessitam estar registrados na ONU. Esse registro só será necessário para
que a ONU dirima conflitos deles advindos. Explica Marcelo Varella que “o
registro é ato indispensável para considerar o Estado como parte. Se não
houve o registro, o Estado não está vinculado ao texto nem pode exigi-lo dos
demais, ainda que o tenha ratificado, de acordo com seus procedimentos
internos”.27
2.6. Processualística
Aparece na doutrina como processo de conclusão dos tratados: uma série de
eventos para concluir os tratados, com eventos na esfera internacional e interna dos
Estados. Por tratar de 2 planos – o contratual e o normativo interno – gera uma certa
perplexidade.
Fases:
a. Assinatura: plano internacional
b. Aprovação interna ou referendo: plano interno
c. Ratificação ou adesão: plano internacional
d. Promulgação interna: plano interno
As fases de assinatura e de ratificação ou adesão ocorrem no plano internacional.
As fases de aprovação interna e promulgação ocorrem no plano interno. Na doutrina,
alguns falam da fase da negociação.
A forma mais comum de nascimento de um tratado é por meio de uma
conferência específica para gerar um tratado. Hodiernamente fala-se de produção de
tratados pelas organizações internacionais, sendo consideradas como incubadoras de
27
VARELLA, Op. cit. p. 76.
21
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
tratados, submetendo aos Estados para aprovação, como nos tratados de Direitos
Humanos. No DIP quem assina tratado é organização internacional ou Estado.
Cada país, em sua ordem constitucional, estabelece quem tem a prerrogativa para
assinar tratatos. No Brasil, é o Presidente da República. Na prática não é o PR, por ser
celebrado a toda hora, em geral quem assina tratado é o ministro das relações
internacionais, o diplomata, como prepostos do PR. No § U do art. 84 permite a
delegação de algumas funções presidenciais, mas não prevê a delegação acerca da
conveniência ou não para celebrar tratado, por isso o ministro é preposto do PR.
Assinatura não obriga/vincula ao tratado. A vinculação ocorre com a ratificação
da assinatura (fase “c”). A aprovação interna ocorre com os parlamentos internos. O PR
encaminha mensagem ao Congresso apresentando a exposição de motivos que o
motivou a assinar o tratado, requerendo ao Congresso a ratificação do Tratado, que
tramitará no Congresso até a aprovação.
Se o Congresso aprovar o tratado, expedirá um DECRETO LEGISLATIVO.
Aprovado o Decreto Legislativo, o PR é quem tem competência para ratificar o tratado.
A ratificação está prevista no tratado internacional, mas não é atribuição do Congresso,
mas sim do presidente. A ratificação é manifestação formal do Estado, comunicando a
ratificação pelo Brasil daquele tratado.
 Observação de forma: a ratificação é feita junto ao depositário do tratado, que é
como se fosse um cartório que registra os atos do tratado. Em geral é o Estado em
que foi celebrado o tratado.
 Uma vez ratificado o tratado, por ser irrenunciável, o Estado que quiser sair terá
que denunciar o tratado.
 Com a ratificação o Estado torna-se parte do tratado.
 Adesão: é a vinculação do Estado sem a ratificação, uma vez que o tratado está
em vigor com outros Estados. Nos tratados que constituem Organização
Internacional, em regra, tem que haver concordância de um órgão ou comitê.
A promulgação no Brasil dá-se por meio do DECRETO PRESIDENCIAL, que
promulga, como decorrência da ratificação ou adesão. Este decreto marca o início da
vigência no território nacional. Tem no máximo 2 ou 3 artigos e visa apenas promulgar
e dar ciência para que produza efeitos. O decreto trás em apenso/anexo o texto do
tratado, em língua portuguesa.
Vigência do tratado: há 3 planos de vigência
22
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
a. Vigência internacional: quando são satisfeitos os requisitos previstos no
próprio tratado. Regra: número mínimo de ratificações.
b. Vigência para o Estado: quando o Estado se responsabiliza internacionalmente,
estando obrigado a cumprir as obrigações, sob pena de responsabilidade
internacional: deve estar internacionalmente vigente o tratado e deve haver a
ratificação pelo Estado.
c. Vigência no Estado: vigência no plano interno. Tem que estar em vigor para o
Estado + ter ocorrido a publicação do decreto (presidencial) de promulgação
(publicidade).
Tratados Internacionais - resumo
Conceito: art. 2º, §1º, “a” da Convenção de Viena de 1969 – “Tratado dos Tratados”.
a) Acordo Internacional: tem que ter animus contraendi, e sanção em caso de
descumprimento.
b) Celebrado por escrito: é vedada a forma de celebração oral.
c) Entre Estados: e/ou Organizações Internacionais (acrescido pela Convenção de Viena
de 86). Somente Estados soberanos (que tem o reconhecimento da Sociedade
Internacional) podem celebrar Tratados.
d) Regido pelo Direito Internacional: se um compromisso for regido pelo direito
interno de uma das partes, não é um Tratado Internacional, é um Contrato Internacional.
e) Quer conste de um instrumento único, quer de mais ou dois instrumentos conexos:
permite os acordos por troca de notas diplomáticas (acordos em forma
simplificada/acordos executivos).
f) Qualquer que seja a sua denominação particular: os Tratados Internacionais não
tem denominação específica, podem ser denominados de Tratado, Convenção, Protocolo,
Acordo. Exceção: Tratados celebrados pelo Vaticano com outros Estados denominam-se
Concordata, desde que versem sobre privilégios direcionados aos católicos.
Processo de Celebração e Formação dos Tratados – 4 fases
Fase internacional
Fase interna
Fase internacional
Fase interna
Negociações
Referendo
Ratificação
Promulgação no
+ Assinatura
Congressual
pelo Presidente
D.O.U.
23
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
(art. 84, VIII,
Art. 49, I, CF
CF)
Resumo das fases:
1ª Fase: o art. 84, VIII, CF, atribui privativamente ao Presidente da República a
celebração de tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional. Essa competência pode ser atribuída a um representante, e o art. 7º
da Convenção de Viena dispõe que isso se dará por meio da Carta de Plenos Poderes
(Instrumento através do qual o Chefe de Estado delega competência privativa para
celebrar Tratado).
2ª Fase: O Referendo do Congresso é o ato do Parlamento que aprova o Tratado
anteriormente assinado e autoriza a ratificação do Tratado pelo Presidente da
República.
3ª Fase: A Ratificação é o ato discricionário do Presidente da República que confirma
definitivamente as obrigações assumidas no Tratado quando da assinatura.
4ª Fase: A promulgação no DOU efetiva a vigência do Tratado no plano interno.
 Lembrete: Para o STF, os Tratados valem apenas após a sua promulgação.
Tratados comuns equiparam-se às leis ordinárias. Tratados de Direitos Humanos
são normas supra-legais. Se aprovados nos termos do art. 5º, § 3º, CF, tem status
de Emenda Constitucional. Para a Doutrina, a Ratificação já vincula o Estado
Brasileiro interna e internacionalmente.
CAPÍTULO 3 - INDIVÍDUO NO CENÁRIO INTERNACIONAL
1. Da Nacionalidade (art. 12, CF):
1.1.
Conceito: Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que une uma
determinada pessoa a um Estado.
1.2.
São dois os critérios para se atribuir a nacionalidade:
a) Nacionalidade Originária (1º Grau): é aquele que o indivíduo se vê
atribuir ao nascer. Pode ser atribuído de duas formas: Jus Soli, critério
territorial, e Jus Sangüinis, critério da filiação. O conflito das duas regras
pode gerar duas situações complexas no direito:
24
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
i. Apatria (conflito negativo de nacionalidade): pessoa que não tem
nacionalidade. Ocorre quando o país onde o indivíduo nasce aplica
o Jus Sangüinis e o país de origem, o Jus Soli.
ii. Polipatria (conflito positivo de nacionalidade): Pessoa nascida em
um país que adota o Jus Soli e filha de pais de Estado que adota o Jus
Sangüinis.
b) Nacionalidade Adquirida (2º Grau): Aquela que exige ato de vontade de
indivíduo. No Brasil ocorre por meio da naturalização.
1.3.
Notas sobre o art. 12, CF
1.3.1. Brasileiros Natos:
“a”. Critério Jus Soli. Aquele nascido na República Federativa do Brasil
(todos os espaços, físicos ou não, onde o país exerce sua soberania),
mesmo que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de
seu país. Navios ou aeronaves de Guerra consideram-se República
Federativa do Brasil, uma vez que compreende todos os espaços onde o
país exerce soberania (território brasileiro, mar territorial, embaixadas,
embarcações de guerra).
“b”. Critério Jus Sangüinis. Nascidos no estrangeiro, filhos de pai ou mãe
brasileiros a serviço da republica federativa do Brasil.
“c”. Critério Jus Sangüinis: Nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe
brasileiro, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e
optem em qualquer tempo pela nacionalidade. Em qualquer tempo: a
partir dos 18 anos, pois é quando se atinge a capacidade civil e quando se
pode candidatar a cargo eletivo (de vereador). A doutrina critica “a
qualquer tempo”, um prazo deveria ter sido estipulado. Não pode ser feito
por meio de representação, pois é direito personalíssimo. Antes dos 18
anos, não é necessária a residência no Brasil, podendo ser o registro
provisório efetuado no Consulado brasileiro, vindo a pessoa optar a partir
dos 18 anos pela nacionalidade brasileira. De acordo com o STF, o “em
qualquer tempo” se dá a partir dos 18 anos, pois, por ser direito
personalíssimo, não pode ser requerida por meio de representação.
25
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
1.3.2. Perda da Nacionalidade Brasileira:
Hipóteses:
a) Naturalizado (art. 12, § 4º, I): tiver cancelada sua naturalização,
por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional.
b) Nato (art. 12, § 4º, II e III): ao adquirir outra nacionalidade. Salvo
nos casos de reconhecimento da nacionalidade originária pela lei
estrangeira ou nos casos de imposição de naturalização pelo Estado
Estrangeiro.
1.3.3. Brasileiros Naturalizados:
(a) Art. 12, inciso II – estrangeiro de país de língua portuguesa:
residência por 01 ano ininterrupto no Brasil, com idoneidade
moral.
(b) Art. 12, inciso III – demais estrangeiros: residência por 15 anos
ininterruptos e sem condenação penal, sob requerimento.
Ininterrupto: sem intervalo. Simples férias familiares não são
interrupções.
(c) Art. 12, § 1º - Portugueses: tem os mesmos direitos que o
brasileiro, desde que haja reciprocidade.
(d) Art. 12, § 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos na
Constituição.
1.4.
28
Cargos privativos de brasileiros natos (art. 12, §3º)
(a)
De Presidente e Vice-Presidente da República
(b)
De Presidente da Câmara dos Deputados
(c)
De Presidente do Senado Federal
(d)
De Ministro do Supremo Tribunal Federal28
(e)
Da carreira diplomática
(f)
De oficial das Forças Armadas
(g)
De Ministro de Estado da Defesa
(h)
Demais ministros que não sejam de Estado da defesa, podem ser natos.
Até o inciso 4º, é a ordem de sucessão presidencial. Ministro do STJ pode ser naturalizado.
26
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
1.5.
Reaquisição da Nacionalidade Brasileira
Quem perdeu a nacionalidade brasileira pode readiquirir a nacionalidade
brasileira, uma vez que a Lei 818/49 (revogado em grande parte pelo Estatuto
do Estrangeiro, mas com o art. 36 em vigor) diz que é possível a reaquisição
da nacionalidade brasileira fazendo-se um requerimento ao Ministério da
Justiça por Decreto do Presidente da República.
Com qual status?
1ª Posição (Minoritária – José Afonso da silva): volta com o mesmo status que
perdera. Se era nato, volta como nato, se era naturalizado, como naturalizado.
2ª Posição (Majoritária – Pontes de Miranda, Mirtô Fraga, José Francisco
Rezek, dentre outros): entende que a pessoa não volta com o mesmo status. Se
era brasileiro nato, volta como naturalizado, não podendo concorrer aos
cargos privativos a brasileiros natos. Se era naturalizado, volta como
renaturalizado, e assim sendo, ele pode ser extraditado, deportado ou
expulso. É um processo mais facilitado, não precisando passar por um
procedimento judicial.
2. Condição Jurídica do Estrangeiro
 Estrangeiro é todo aquele oposto ao conceito de nacional.
2.1.
Títulos de Ingresso do Estrangeiro em Território Nacional:
a) Imigrante: o estrangeiro que aqui ingressa com animus definitivo; o
Imigrante terá visto permanente;
b) Forasteiro: o estrangeiro que entra a título provisório, tendo visto
temporário (podendo até não tê-lo). São considerados forasteiro:
estudantes, missionários, negócios ou carreira diplomática. No Brasil, não
se exige visto de trânsito.
2.2.
Direitos dos Estrangeiros no Brasil:
a) Todos os direitos civis (art. 5º, CF). Esses direitos não se
restringem apenas os estrangeiros residentes no Brasil. Todos
27
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
os estrangeiros, residentes ou não em território brasileiro, tem
os direitos constitucionais garantidos.
b) Estrangeiros não têm direitos políticos, mesmo quando aqui
estão com animus definitivo.
c) A constituição permite que estrangeiros, dependendo do que a
lei disciplinar, possam participar da administração direta do
país. Art. 37, I, CF.
2.3.
Deveres do Estrangeiro:
a) Dever de polícia;
b) Dever de bombeiro;
c) Dever de milícia para a proteção do local dos respectivos domicílios contra
catástrofes naturais ou perigos que não sejam provenientes de guerra.
3. Saída compulsória do Estrangeiro (por iniciativa estatal): retirada compulsória
do estrangeiro.
3.1.
Deportação: retirada compulsória do estrangeiro do território nacional
que ingressou ou permanece no país de forma irregular. Não é crime, é
procedimento administrativo. Nada lhe impede de retornar, desde que o faça
de forma regular. É sempre individual e realizada pelo departamento da
Polícia Federal, com efeitos imediatos.
3.2.
Expulsão: retirada compulsória do estrangeiro do território nacional
fundamentada em atos atentatórios à soberania nacional, à moral e aos bons
costumes. É discricionário do Poder Executivo. Não é pena no sentido
criminal, é medida político-administrativa, de caráter repressivo. É realizado
por decreto presidencial. Não tem efeito imediato, pois depende de Decreto
do presidente da república. O judiciário não pode entrar no mérito.
 Não existe deportação nem expulsão de nacionais.
 A Constituição de 1988 acabou com o banimento (expulsão de um nacional).
Também não existe mais o desterro (deslocar uma pessoa dentro do próprio
território nacional, sem que esta possa sair desse local).
28
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
3.3.
Extradição: é a entrega de uma pessoa de um Estado a outro, a pedido
deste, para que esta pessoa lá seja processada, julgada ou para que lá cumpra
pena. É medida jurídico-penal internacional para repressão de crimes, e
funciona no Brasil com 03 fases:
(a) 1ª. Administrativa: A extradição é requerida via Ministério das Relações
Exteriores e Ministério da Justiça. O MJ se verificar a admissibilidade do
pedido, o encaminhará por meio de aviso ministerial ao STF.
(b) 2ª. Judiciária: O STF verifica se estão presentes os requisitos de
admissibilidade da extradição, havendo a presença dos mesmos, ele
autoriza a extradição.
(c) 3ª. Administrativa: O STF notifica o MJ, que notificará o Presidente da
República. Se não houver Tratado prevendo a extradição, ele pode não
extraditar se assim achar conveniente. A decisão do STF, em tese, não
obriga o Presidente da República. Se houver Tratado, ele está obrigado a
fazê-lo. Se o STF negar a extradição, o executivo comunica ao País
requerente.
Brasileiro nato não pode ser extraditado. Já o Naturalizado pode ser
quando praticar crime comum antes da naturalização; ou por prática
comprovada de tráfico internacional de entorpecente. Para extradição,
deve haver processo penal em andamento e similitude de crimes. Em caso
de pena de morte ou perpétua em similitudes de crime, o STF autoriza a
extradição, desde que o Estado faça um acordo com o Brasil, se
comprometendo a comutar no máximo 30 anos de prisão. Quando há
descumprimento desse acordo por parte do país requerente, o máximo
que se pode fazer é romper as relações diplomáticas. O STF não autoriza
extradição quando não houver similitude crimes, quando o fato no Brasil
for atípico ou quando a pena imposta no país de origem violar a moral, os
bons costumes e os Direitos Humanos reconhecidos no Brasil.
29
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 4 - PERSONALIDADE INTERNACIONAL
Personalidade Jurídica Internacional: É a Capacidade para agir internacionalmente,
participando das relações internacionais. Os Sujeitos de Direito Internacional, em
regra, são 03:
a) Estados soberanos (dotados de povo, território, poder soberano e finalidade);
Estados sui generis: A Igreja tem dupla personalidade; Santa Sé (capacidade
espiritual da organização), e o Estado do Vaticano (sede política), que tem todos os
elementos de um Estado. Se os Tratados prevêem privilégios aos Católicos, são
chamados de Concordata. O Brasil não pode celebrar concordatas com o Vaticano.
b) Organizações Internacionais, que são interestatais ou intergovernamentais.
Devem ser criadas por Estados e por meio de Tratados. Obs.: Greenpeace, FIFA, FIA
UNICEF e Cruz Vermelha são ONG’s, fundadas por particulares e por meio de atos
constitutivos ou contrato.
c) Indivíduos: questões da nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro.
NOTAS SOBRE O ESTADO COMO SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL
1. Elementos do Estado
1. Elementos
A doutrina aponta os seguintes elementos que integram e constituem os Estados29:
(a) População permanente
(b) Território determinado;
(c) Governo
(d) Soberania
2. Classificação
2.1.
Estados Simples: é o que o poder é único e centralizado;
29
A par destes 4 elementos, o professor Dalmo de Abreu Dallari aponta que a finalidade consiste no 5º elemento
constitutivo do Estado. (Elementos de Direito do Estado. São Paulo: Saraiva).
30
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
2.2.
Estados Compostos: há divisão do poder no âmbito interno, podendo ser
dividido em:
2.2.1. Estados Compostos por Coordenação: consiste no funcionamento
articulado dentro de uma totalidade ordenada. São os:
(a) Estados Federais: os Estados se unem para formar uma União Federal.
Para tanto, perdem sua soberania e a transferem para a União Federal
formada. Exemplifica com o EUA em 1787, a Alemanha em 1867 e
Brasil em 1891.30
(b) Confederações de Estados: trata-se da união ou associação de
diversos Estados independentes, de modo a não abdicarem da sua
soberania interna e autonomia externa. Esta união, feita por tratado
internacional, tem um fim precípuo, como o fomento da paz ou para
assegurar a defesa comum dos integrantes31. Há a criação de uma
Assembléia geral, também denominada de dieta, que é o órgão
encarregado de definir o âmbito de atribuição e ações de cada Ente
confederado.32 Neste modelo composto, há o direito de secessão ou
separação dos demais integrantes. Ex. Países Baixos (1579-1795),
Confederacao dos Estados Norte-Americanos (1781-1787).
(c) Uniões de Estados:
(d) Commonwelth ou Comunidade Britânica não é considerada um
Estado, mas sim a união de ex-colônias, protetorados ou domínios do
Reino Unido, que tornaram-se independentes, mas mantiveram o
vínculo com os Britânicos. Não possui personalidade de direito
internacional e a Coroa Britânica consiste no símbolo da união dos
povos antigamente colonizados pelo Reino Unido. Salienta Del’Olmo
que “trata-se de uma sociedade de Estados, coordenada pelo Reino
Unido, sob a chefia simbólica do monarca inglês e integrada por quase
todas as antigas colonias desse país. Seus membros gozam de plena
soberania interna e externa, havendo cooperação entre eles e ajuda
técnica e científica em temas como agricultura, indústria, infraestrutura e energia, especialmente aos Estados mais pobres”. 33
30
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público, p. 188.
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público, p. 188.
32
DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Público, p. 78.
33
DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Público, p. 79.
31
31
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
2.2.2. Estados Compostos por subordinação: são os em que há hierarquia de
poder. São considerados:
(a) Vassalos: que eram os dominados pelo império otomano, mas que
mantinham autonomia, mas com o dever de pagar tributos e prestar
auxílio militar (SILVA, 2008, 189-190).
(b) Protetorados: há uma relação de proteção entre os Estados. Por meio
de um tratado, fixa-se a obrigação de um Estado proteger o outro como
obrigação, sendo que como recompensa, tem a faculdade de gerir as
relações internacionais do protegido na sua integralidade ou
parcialmente, podendo até mesmo reger relações internas (SILVA,
2008, 190). Ex. sultanato de Brunei e Reino Unido e protetorado da
França e Espanha sobre o Marrocos.
(c) Estados Clientes: fenômeno ocorrido na America Latina, em que
consistiu na outorga da administração alfandegária, exército e parcela
da Administração Pública aos EUA, por Haiti, Cuba, Panamá, Honduras,
República Dominicana e Nicarágua (Silva, 2008, p. 190).
(d) Estados satélites: muito parecido com o anterior, mas com a diferença
que a vinculação ocorreu perante a União Soviética – URSS.
(e) Estados Exíguos: são os que tem um território diminuto, também
chamados de Microestados. Por serem muito pequenos, não podem
exercer sua soberania com plenitude, o que faz com que se subordinem
ao Estado limítrofe. Ex. San Marino (Itália), Andorra (França/Espanha)
e Mônaco (França).
(f) Estados associados: são Estados independentes, mas que não tem
condições de mantê-lo, o que faz com que se subordinem a outros
Estados, como Porto Rico frente aos EUA e as Ilhas Cook, com relação à
Austrália.
3. Notas sobre o Território
 É o espaço ao qual o Estado exerce sua soberania;
 O Território tem a função de determinar os limites físicos do Estado;
 A delimitação é feita por tratados e costumes internacionais;
32
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
Limite e fronteira
 Fronteira: é região em volta do território, ao qual o Estado protege para
salvaguarda da segurança nacional;
 Limite: é até onde vai o espaço físico do território;
Aquisição de território:
 Ocupação efetiva
 Conquista
 Secessão
 Cessão convencional
 Fusão convencional
 Decisão unilateral
 Descolonização
 Dissolução de um Estado
4. Governo34
o Deve ser autônomo  sem dependência jurídica;
o É a capacidade de tomar decisões sobre:
Gestão interna dos seus interesses;
Relações internacionais;
o Para o DIP a autonomia governamental está intimamente ligada à soberania
5. Reconhecimento de Estado
MARCELO VARELLA: É a manifestação unilateral e discricionária de outros Estados ou
Organizações internacionais no sentido de aceitar a criação do novo sujeito de direito
internacional, portanto, com direitos e obrigações.
ROBERTO LUIZ SILVA: é o ato pelo qual os Estados já existentes constatam a existência
de um novo membro na Sociedade Internacional.
PAULO HENRIQUE PORTELA35: é importante na medida em que ambos –
reconhecimento de Estado e Governo – se referem à capacidade de o ente estatal manter
vínculos com outros Estados e organismos internacionais, inserindo-se na dinâmica das
34
35
VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 221 e ss.
Direito internacional público e privado, p. 158.
33
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
relações internacionais. Para ele, reconhecimento de Estado é ato unilateral,
discricionário, meramente declaratório, que visa apenas atestar o surgimento do
Estado.
 O reconhecimento não é imprescindível, bastando reunir os elementos: povo,
território e soberania. (Silva).
Requisitos36
(a)
Possuir governo independente e autônomo na conduta dos negócios
estrangeiros;
(b)
Governo com autoridade efetiva sobre o território, congregando forças.
(c)
Possuir território delimitado.
o É feito a pedido do Estado que surgiu (regra)
o Há notificação dos Estados, solicitando o reconhecimento;
o Hoje: basta a presença dos elementos essenciais (povo, território e soberania).
o O reconhecimento do Estado é importante porque demonstrar a vontade política
de interagir com o Estado reconhecido, permitindo a este a participação efetiva
na sociedade internacional.
o Demonstra que se considera que a nova entidade detém as condições fáticas para
se tornar um sujeito de direito internacional.
o Cria juridicamente um stoppel, no caso, tornando impossível ao Estado que
reconheceu o novo Estado mudar a sua manifestação de vontade.
o Reconhecimento pode ser
(i)
Diplomático:
envio
de
diplomatas
ou
com
a
acreditação
dos
representantes diplomáticos no Estado
(ii)
De jure: com a formalização de tratados com o novo Estado;
(iii)
De facto ou formal: com a criação de projetos de cooperação conjunta,
envolvendo o Estado que se pretende reconhecer.
o Não há transferência de soberania, mas atribuição de capacidades e
competências soberanas;
6. Reconhecimento de Governo
36
SILVA, Direito internacional público, p. 207.
34
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
É ato em que se admite o novo governo de outro Estado como representante deste
nas relações internacionais.37
o Este ato aplica-se apenas em rupturas não democráticas (na ordem
constitucional do Estado), como nos golpes de Estado.
o Não se aplica em trocas de governo conforme o Direito eleitoral vigente no
Estado.
o Não altera o reconhecimento do Estado.
o Mas gera impactos nas relações internacionais.
o Se o governo não for reconhecido, não poderá praticar atos em nome do
Estado.
o Não terá prerrogativas das autoridades.
o É ato:
o
(a)
Unilateral
(b)
Discricionário
(c)
Não-obrigatório
(d)
Irrevogável
(e)
incondicionado
Vinculações
Compromisso com as normas de direito internacional
Restabelecimento da normalidade institucional
Regime democrático.
Doutrinas:
 TOBAR: se houver apoio popular, é possível o reconhecimento do governo
estrangeiro.
 ESTRADA: o reconhecimento ou não configura intervenção indevida em assuntos
internos de outros entes, em desrespeito à soberania.
BREGALDA NEVES38: Reconhecimento de governo
37
38
PORTELA, op. Cit., p. 160.
Direito internacional, p. 39.
35
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
I.
Finalidade:
(a)
É um meio pelo qual o terceiros possuem para declarar qual é o
governante, em caso de caos e de confusão.
(b)
Meio de coação, em que terceiros pressionam o governo a cumprir
obrigações internacionais assumidas pelo governo anterior, em nome do
Estado.
(c)
II.
Informar aos tribunais quem é o governo estrangeiro.
Formalidades para o reconhecimento:
(a)
Efetividade do governo: quanto ao controle da máquina administrativa e
aquiescencia da população39
(b)
Cumprimento das obrigações internacionais do Estado: tendo em vista a
continuidade do Estado.
(c)
Ter a constituição do governo conforme o Direito Internacional (sem
terrorismo ou genocídio.
(d)
III.
Ser democrático.
Efeitos do reconhecimento
(a)
Estabelecimento de relações diplomáticas.
(b)
Imunidade de jurisdição.
(c)
Capacidade para demandar em tribunal estrangeiro.
(d)
Admissão de validade das leis e dos atos governamentais.
7. Soberania dos Estados
7.1.
Capacidades soberanas: vida internacional
(a)
Produzir normas jurídicas internacionais
(b)
Ser imputado de eventuais ilícitos internacionais;
(c)
Pedir indenizações por danos ilícitos cometidos por outros Estados;
(d)
Ter acesso ao sistema internacional de solução das controvérsias;
(e)
Tornar-se
membro,
participando
formalmente
das
Organizações
internacionais;
(f)
7.2.
39
Estabelecer relações diplomáticas e consulares com outros Estados;
Competência soberana: vida interna dos Estados
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público, p. 211.
36
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
(a)
Exercer domínio sobre o território
(b)
Criar normas internas
(c)
Julgar atos cometidos em seu território
(d)
Atribuir nacionalidade de seu Estado
(e)
Determinar o direito sobre as pessoas físicas e jurídicas.
37
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 5 - RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS40
7.2.1.1.1. Conceito: O instituto da responsabilidade visa demandar o Estado relativamente a
atos ou fatos por ele praticados e que geraram prejuízos para outros Estados ou
para terceiros.
7.2.1.1.2.
a)
Elementos Constitutivos da responsabilidade internacional:
Ato Ilícito: pode ser omissivo ou comissivo. É todo ato do Estado que viola norma
expressamente consagrada no Direito Internacional. O que modernamente se vem
entendendo é que a responsabilidade do Estado internacionalmente é objetiva;
b)
Imputabilidade: é o nexo causal, vínculo jurídico, que liga o evento danoso ao
Estado causador do dano;
c)
Dano ou prejuízo efetivo: não existe responsabilidade internacional se o dano
ou risco não for efetivo. O prejuízo pode ser tanto material quanto moral.
7.2.1.1.3. Formas da Responsabilidade:
3.1. Responsabilidade Principal ou Subsidiária (Direta ou Indireta):
(i) Direta: quando o ato for praticado pelo próprio Estado.
(ii) Indireta: quando o ato for praticado por particular que o Estado
representa.
3.2. Responsabilidade Comissiva e Omissiva
(i) Comissiva: quando o ato for positivo;
(ii) Omissivo: quando o estado se omite numa conduta em que era obrigado a
praticar.
3.3. Responsabilidade Convencional ou Delituosa
(i) Convencional: quando um Tratado ratificado é violado.
(ii) Delituosa: quando o Estado não viola um Tratado, mas um Costume
previamente estabelecido.
40
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direito Internacional Público – Parte Geral. 3ª Ed. São Paulo: RT, 2006.
38
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 6 - CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS
1. Conceito: Consiste no litígio (desacordo sobre ponto de fato ou direito)41
envolvendo Estados soberanos entre si, ou entre Estados e organizações
internacionais, uns contra os outros, no que tange às mais diversas searas,
como a econômica, política, jurídica, seja em que grau for.42 Em geral são 2 os
Estados que estão em desacordo, mas nada impede que um grupo de Estados
ou que haja tensão entre Estado e Organização Internacional.
2. O porquê dos modos de solução das controvérsia: Mazzuoli salienta que há
uma dupla finalidade:
2.1. Finalidade impeditiva: ou seja visa impedir a controvérsia entre os
atores, solucionando-a.
2.2. Finalidade preventiva: de modo que os contentores não se valham do uso
da força, devendo pautar-se, sempre, pela via amigável; Salienta Guido
Fernando Silva Soares que são “instrumentos elaborados pelos Estados e
regulados pelo Direito Internacional Público, para colocar fim a uma
situação de conflito de interesses e até mesmo com a finalidade de prevenir
a eclosão de uma situação que possa degenerar numa oposição definida e
formalizada em pólos opostos”.43
3. Meios previstos pela ONU
Capítulo VI
SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS
Artº. 33
1. As partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à
paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a
uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação,
arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou
qualquer outro meio pacífico à sua escolha.
41
MAZZUOLI (2006: 133).
PORTELA (2009: 471).
43
Curso de direito internacional público, p. 163, apud PORTELA (2009: 472).
42
39
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
2. O Conselho de Segurança convidará, se o julgar necessário, as
referidas partes a resolver por tais meios as suas controvérsias.
Os meios de Solução de Controvérsias podem ser pacíficos e não pacíficos.
4.1. Meios Pacíficos de solução de controvérsias
4.1.1. Diplomáticos ou não judiciais. Segundo Mazzuoli (2006: 135) “os processos
diplomáticos (não judiciais) de solução de controvérsias caracterizam-se pela existencia
de um foro de diálogo entre as partes divergentes, exercitado por meio de conversacoes
amistosas, buscando encontrar um denominador comum para a satisfacao dos
interesses de ambas as partes envolvidas num conflito internacional”.
(a) Negociação diplomática direta: é o instrumento de solução de controvérsia por
excelência, as partes resolverão a querela entre si, podendo ser pela via oral ou
escrita, por meio de troca de notas diplomáticas. Por este meio, as partes fazem
concessões mútuas, com a finalidade de extinguir a controvérsia.
(b) Bons Ofícios: ocorre quando um terceiro oferece os auxílios materiais para que
as partes resolvam a controvérsia;
(c) Mediação: é a negociação em que intervirá um terceiro, mas a decisão final será
das próprias partes, não do mediador;
(d) Comissão de Inquérito: método de investigação de um determinado fato ou
direito, em que se permite a produção de provas. Também conhecido como
investigação, não é um meio de solução de conflitos, mas sim um meio para
esclarecer fatos conflituosos, de modo que a solução pacífica será pautada nos
esclarecimentos apurados, que podem propor soluções para o caso.44
(e) Conciliação: método que mais se assemelha a um meio jurisdicional de
controvérsias, em que se verifica a presença de vários conciliadores. É uma
espécie de mediação coletiva, uma vez que há um órgão de mediação.
Obs.: não há uma ordem gradativa destes métodos a ser seguida.
4.1.2. Políticos: são aqueles meios feitos dentro de uma Organização Internacional. São
exemplos as mais variadas Organizações Internacionais: OEA, ONU, UE etc.
44
PORTELA (2009: 475).
40
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
4.1.3. Jurisdicionais: que podem ser Provisórios ou Permanentes. A solução encontrada
será obrigatória
(a) Arbitragem: Surgiu em 1872, no Caso Alabama.
Características:
(i) Liberdade dos Estados (liberdade de escolha dos árbitros do
procedimento, bem como do direito aplicável);
(ii) A constituição do órgão arbitral exterioriza-se através do “Compromisso
Arbitral”;
(iii)
Será obrigatória nos seguintes casos: a) tratado sobre arbitragem e b)
cláusula compromissória (cláusula arbitral).
Sentença Arbitral: Possui força de coisa julgada somente entre as partes. Alem
do mais, são definitivas, ou seja, não desafiam recurso.
(b) Corte Internacional de Justiça (CIJ)
É composta por 15 juízes, que não representam seus países, ou seja, são completamente
imunes. Deve haver, no entanto, uma equânime distribuição geográfica de juízes –
representantes de cada um dos continentes. Aqui, é possível a existência de um juiz ‘ad
hoc’; que não precisa necessariamente ser indicado
pelo país de sua nacionalidade. A CIJ admite, ainda, a intervenção de 3º.
Possui duas maneiras de atuar, quais sejam “contenciosa” e “consultiva”.
(i) Contenciosa
- Competência ratione personae:
Art. 34 (somente os Estados):
Capítulo II
Competência da Corte
41
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
Artigo 34
1. Apenas os Estados poderão ser partes em casos diante da
Corte.
2. Sujeita a seu próprio Regulamento e de conformidade do
mesmo, a Corte poderá solicitar de organizações internacionais
públicas informação relativa a casos que se litigam frente a Corte,
e receberá a informação que tais organizações enviem a iniciativa
própria.
3. Quando em um caso que se litigam diante da Corte se discuta a
interpretação do instrumento constitutivo de uma organização
internacional pública, ou de uma convenção internacional
organizada em virtude do mesmo, o Secretário comunicará à
respectiva organização pública e lhe enviará cópias de todo o
expediente.
Proteção diplomática: Ocorre quando o Estado assume a proteção de um
indivíduo de sua nacionalidade em outro Estado. Porém, que para que haja essa
proteção, necessários dois requisitos:
a. Que hajam sido esgotados todos os recursos internos do país que
ocorre a problemática;
b. que o indivíduo seja de fato da nacionalidade do país que pretende
protegê-lo.
- Competência ratione materie: A Corte poderá julgar qualquer tipo de questão,
desde que seja internacional, e entre Estados.
Princípio da Competência da Competência: Acaso surja alguma dúvida acerca
da competência da CIJ para dirimir uma dada controvérsia, ela mesma (CIJ), é que
decidirá pela sua competência, ou não, naquele caso.
Formas de acesso jurisdicional à Corte
1) Consentimento;
42
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
2) Fórum Prorrogatum: é um princípio segundo o qual, os juízes, podem a partir
do comportamento de uma das partes, determinarem que esta dê o seu
consentimento em ser julgado, mesmo que ele (Estado) não reconheça tê-lo feito;
3) Obrigatório: essa forma de acesso se dá, via de regra, com base em contratos
anteriormente firmados;
4) Cláusula facultativa de jurisdição obrigatória: é uma clausula que impõe ao
Estado que a aceite, a legitimidade passiva para ser julgado pela CIJ em todos os
casos em que vier a ser demandado, desde que tal demanda, seja levada a efeito
por outro Estado, que também tenha aceitado essa mesma cláusula.
Processo na CIJ
1. Duas fases: 1ª) Escrita; 2ª) Oral.
2. Decisória
3. Exceções preliminares
4. Medidas cautelares
Sentença (características)
1. Definitiva e Inapelável
2. Faz coisa julgada somente entre as partes
3. Não admite precedente
(ii) Consultiva
Externaliza-se através de “pareceres consultivos”, que não são, no entanto, vinculantes
(obrigatórios), salvo dois casos:
a) Tribunal Administrativo das Nações Unidas (TANU);
b) Tribunal Administrativo da Organização Internacional do Trabalho (TAOIT).
Obs.: Estes pareceres da CIJ servem de verdadeira doutrina
43
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 7 - SANÇÕES EM DIREITO INTERNACIONAL45
1. Suporte fático: violação das normas de direito internacional, gerando
perturbação na sociedade internacional;
2. Função das sanções:
(a) Repressão à antijuridicidade da violação;
(b) Garantia de que o Direito Internacional será respeitado (eficácia das normas);
(c) Reparação e submissão do transgressor a uma penalidade.
3. Dificuldade da aplicação das sanções aos Estados soberanos
Roberto Luiz Silva salienta que há uma maior dificuldade de aplicação das sanções aos
Estados do que aos particulares, tendo em vista os seguintes fatores:
(a) Unidade estatal maior;
(b) Sentimento nacional que possibilita a constituição de força policial única;
(c) Aplicação de punições como multas, indenizações ou perda de parcela do
território tem efeitos destrutivos à economia interna, o que culmina em
acarretar prejuízo para as demais nações;
(d) A responsabilidade moral não pode ser atribuída apenas a uma nação e muito
menos para toda a população que a integra.46
4. Sistema Sancionador previsto pela ONU47
4.1. Rompimento das relações diplomáticas: os agentes diplomáticos saem
do Estado em litígio com o seu Estado de origem, havendo interrupção das
relações diplomáticas entre ambos.
4.2. Retorção: é a aplicação da lei de Talião ou, em Direito Internacional, da
aplicação do princípio da reciprocidade. Se o Estado ofensor aplicou uma
medida ofensiva, o ofendido pode, igualmente, aplicar a mesma medida.
45
SILVA (2008: 449).
SILVA (2008: 450).
47
“A ONU, por meio da atuação conjunta entre Assembléia Geral e o Conselho de Segurança, tentou organizar
um sistema coletivo de sanções a ser por ela aplicado sobre os Estados, que serve de parâmetro para o estudo das
sanções do Direito Internacional. Temos, dessa forma, o rompimento das relações diplomáticas, a retorção e a
represália” (SILVA, 2008: 450). VARELLA chama de contramedidas, entendida como “instrumentos
utilizados pelos Estados ou Organizações Internacionais para induzir outros sujeitos de direito internacional a
adotar determinados comportamentos, lícitos ou não” (2009: 454).
46
44
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
4.3. Represália ou retaliação: Roberto Luiz Silva salienta que é a “medida
empregada por um Estado contra aquele que haja violado seus direitos
internacionais”, tendo por requisitos para a aplicação desta sanção:
(i)
Que o ato anterior seja contrário ao Direito Internacional;
(ii)
Que não haja outro meio para a obtenção da reparação, com a tentativa
prévia de reparação do dano;
(iii)
Deve haver proporcionalidade quanto à infração e a sanção a ser
aplicada.
Represália
Retorção
Medidas de pressão de um Estado contra o Meio coercitivo moderado de solução das
outro que praticou ilícito;
controvérsias.
São medidas mais duras e arbitrárias.48
É reação não-armada contra ato do Estado
Tem por base a violação de um Direito;
O Estado contrário foi descortês, rigoroso
ou acarretou danos aos seus interesses.49
Visa constrangê-lo, pelo uso da força, a
voltar a praticar atos lícitos.
1.5.1. Formas de represália
Estas formas, no geral, são considerados ilícitos internacionais, mas que se
justificam tendo em vista o ilícito anterior praticado pelo Estado ofensor, e
são eles (Silva, 2008: 451).
4.3.1.1. Bloqueio pacífico: visa impedir, pelo uso da força armada,
qualquer tipo de comunicação entre os portos ou costas de um Estado que
não esteja envolvido no litígio.
4.3.1.2. Embargo: imobilização de navios de comércio estrangeiros.
4.3.1.3. Boicote: sanção econômica, financeira, com a interrupção das
relações entre os Estados quanto a estes aspectos;
48
49
MAZZUOLI (2007: 850).
VARELLA (2009: 454).
45
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
Meios não pacíficos de solução de controvérsias
- Retorsão: “pagar na mesma moeda”. Ou seja, legitima-se a prática de atos
ilícitos se, anteriormente, outro Estado estrangeiro também os cometeu. Deve-se
respeitar o princípio da proporcionalidade. Ex.: expulsão de diplomatas.
- Represália (contra-medidas): pode ser tanto armada quanto pacífica. A armada
é proibida pelo Direito Internacional. A pacífica paulatinamente vem deixando de
se tolerada.
46
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - MURILLO SAPIA GUTIER
CAPÍTULO 8 - OMC (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO)
Possuem duas principais funções, quais sejam:
7.2.1.2.
Regulamentação do comércio internacional
7.2.1.3.
Solução de conflitos.
Rege-se pelos seguintes princípios
1. Liberdade de Comércio Internacional
2. Redução das barreiras tarifárias e não tarifárias
3. Princípio da Igualdade (produtos devem ser tratados maneira igualitária em
todos os países partidários)
4. Princípio da Clausula da Nação mais favorecida
Métodos de solução de controvérsias
1) Negociação
2) Órgão de solução de controvérsias
3) Órgão Permanente de Apelação: sua decisão será obrigatória e definitiva
4) Mecanismos de execução:
c) Compensação
d) Sanção
47
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