Comunicação Interpessoal No Contexto Dos Cuidados Paliativos
Dr. Augusto César de Andrade Mota
Responsável Téc. da Mederi Saúde Domiciliar
Coordenador Médico da Unidade Mederi Salvador e RMS
Os cuidados paliativos, de acordo com a definição da OMS revisada em 2008,
constituem uma “abordagem ampla com intuito de melhorar a qualidade de vida de pacientes
e seus familiares no contexto de doenças que ameaçam a vida, com ações de prevenção e
alívio do sofrimento através da identificação precoce, bem como avaliação e tratamento
adequados de dor e outros sintomas de ordem física, psíquica e espiritual.” Com essa definição
vê-se que a atenção ao enfermo portador de doença que lhe ameaça à vida não se restringe ao
alívio e prevenção do sofrimento físico. Além disso, há evidências recentes mostrando que os
cuidados paliativos devem ser oferecidos desde as fases iniciais de doenças graves, podendo
inclusive ter impacto em aumento de sobrevida. Contudo, é na fase final da história natural
das doenças que os cuidados paliativos assumem sua maior importância.
A terminalidade da vida, como a conhecemos, é um momento de grande angústia
existencial. Dependendo do contexto essa angústia pode afetar não só o paciente, mas
também os familiares ou entes queridos que ficam, e frequentemente um ou mais membros
da equipe de saúde. Uma comunicação efetiva entre a equipe de saúde e os pacientes e seus
familiares é fundamental para aliviar a carga de sofrimento imposta pelo inevitável encontro
com a morte. Informações desencontradas, falsas, imprecisas ou contraditórias são um convite
ao desconforto e sofrimento por parte dos pacientes e familiares, frequentemente leigos na
área médica, e uma das principais causas de conflitos entre esses atores.
Para uma comunicação efetiva em qualquer contexto, é preciso atentar para os
principais elementos que compõem o ato de comunicar. Esses elementos são a fonte ou
emissor (pessoa, grupo de pessoas, instituições, etc.), a mensagem a ser transmitida, o canal
para a comunicação (verbal, escrita, linguagem corporal, etc.), e o receptor para o qual a
mensagem se destina (pessoa, grupo de pessoas, instituições, etc.). Uma comunicação é tão
mais efetiva quanto mais otimizados forem esses elementos que a compõem. No contexto de
uma equipe multidisciplinar é preciso determinar o papel de cada um dos seus integrantes na
árdua tarefa de se comunicar bem.
As informações devem ser hierarquizadas de forma que cada membro da equipe saiba
muito bem qual informação tem capacidade de transmitir usando otimamente todos os
elementos mencionados acima. A equipe multidisciplinar deve determinar, a priori, quem está
autorizado a comentar ou explanar sobre quais assuntos, de forma que possam estar definidos
claramente os limites a serem respeitados pelos diferentes profissionais. Assim, médicos,
enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, técnicos de enfermagem e quaisquer
outros profissionais têm o dever de reconhecer os seus limites de conhecimento e expertise
para oferecer informações que estejam condizentes com as suas capacidades. Dizer “não sei” é
muito melhor do que se arriscar a dar uma explicação sobre um assunto sobre o qual não se
tem o domínio. Isso é verdadeiro para todos os integrantes da equipe multiprofissional.
Da mesma forma toda atenção deve ser dada para a mensagem e o canal de
comunicação através do qual ela é passada. É também dever de cada um dos integrantes de
uma equipe multiprofissional identificar qual a mensagem que precisa ser passada em uma
determinada circunstância, sendo que seu conteúdo deve ser maximamente claro, completo e
transmitido de maneira coerente. É muito importante usar o canal apropriado de
comunicação, quer seja ele verbal (o mais comumente usado), escrito, de sinais ou mesmo a
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linguagem corpora. Sabemos que muitas vezes uma postura amena e acolhedora é
praticamente tudo de que necessitam pacientes e seus familiares, mesmo em silêncio. Ainda
no que diz respeito ao canal de comunicação, é fundamental que seja usado o local adequado
para a comunicação de uma determinada mensagem, para preservar a privacidade e a
dignidade do paciente que é no momento o assunto da discussão.
É também, de grande importância, analisar quem é o receptor da mensagem.
Questões relacionadas a diferentes culturas, crenças religiosas e níveis sócio-educacionais do
receptor da mensagem devem ser avaliados cuidadosamente para que o conteúdo da
mensagem possa ser adequado a todas essas particularidades de um determinado receptor,
quer seja ele o próprio paciente, seus familiares, entes queridos e cuidadores. Essa é uma
habilidade que não pode faltar ao profissional, sob pena de que sua mensagem não seja
compreendida porque o canal de transmissão não foi adequado ao receptor.
Por fim, toda mensagem tem o potencial de gerar reações no receptor. Cabe também
ao profissional estar atento para perceber essas reações e ajustar todos os elementos da
comunicação no intuito de que a troca de informações se dê de maneira produtiva para ambas
as partes. O profissional que se dispõe a comunicar algo a um paciente ou familiar deve estar
preparado para essas reações, que podem ter naturezas diversas.
Comunicar bem é uma habilidade, e como toda habilidade há a necessidade de
treinamento específico e continuado. O aperfeiçoamento na habilidade de comunicar de
maneira efetiva distancia o profissional da visão puramente biológica da doença e dos seus
desdobramentos (a morte sendo o desdobramento final) e o aproxima da visão holística que é
necessária no cuidado do seu humano.
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