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A PRECARIZAÇÃO NO TRABALHO DOS PROFESSORES
Carlos Henrique Ferreira Magalhães1
Este trabalho teórico tem como objetivo identificar e analisar os pressupostos políticoeducacionais que vem orientando a formação de professores desde a década de 70 no
Brasil. Tem na sua metodologia a busca dos princípios científicos abordados por Pedro
Demo ( 1986): coerência, consistência, objetivação para elaborar nossa reflexão teórica
a partir de algumas idéias e fatos levantados com a história.
Entende-se que a educação tornou-se uma das ferramentas do Estado para atender aos
interesses do mercado e paulatinamente as estratégias vem sendo modificadas ao longo
dos últimos 30 anos. A teoria do Capital Humano no final da década de 60 levantou a
promessa que os Estados subdesenvolvidos ao aplicarem em educação poderiam
alcançar sua condição de país desenvolvido. Ledo engano, pois o que existe são nações
desenvolvidas e nações não-desenvolvidas. Não há chance, não há possibilidade que
uma nação dita subdesenvolvida possa vir a ser desenvolvida. Pois, os meios de
produção atuais exigem que o acúmulo de capital por parte de alguns somente pode
acontecer com o aumento generalizado da miséria e da precarização dos homens em
sociedade. A relação ter educação e trabalho colocada pela Teoria do Capital Humano
por Schultz criou no Imaginário Social que a partir da capacidade individual de cada
sujeito, a partir da construção individual das suas competências, este teria o seu trabalho
conquistado no mercado. Esta afirmação teve na história um breve período de realização
e também em poucas nações. Entre os anos de 1945 e 1972 o capitalismo teve uma fase
com menores contradições.(Boron, 1994). Pois foi o momento em que o PIB teve seu
aumento generalizado no mundo, o desemprego estava em que queda no mundo com o
1 Professor Assistente do DEF da Universidade Estadual de Maringá-PR,
membro do Grupo de Pesquisa Educação Física Escolar e Formação Profissional ( Edufesc)CNPQ.
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aumento das taxas de lucro do capital. Foi o momento em que a aliança capital trabalho
amorteceu as contradições do capitalismo. A social democracia de Keynes logrou alguns
aspectos de melhora das condições do trabalhador nos países ditos de primeiro mundo
que outrora eram designados como G7. Os intelectuais hegemônicos e os intelectuais
adaptados estavam conseguindo amortecer as possibilidades de conflitos sociais neste
percurso histórico. E a educação talvez tenha tido neste momento histórico realizado
com um êxito significativo as determinações de Adam Smith que dizia no século XVIII
a necessidade do Estado promover uma educação que busque a formação de homens
ordeiros e submissos. Estes pressupostos liberais do século XVIII foram resgatados no
século XX a partir de 1980 com a ascensão do neoliberalismo que no que diz respeito à
Educação vai preconizar a formação de indivíduos para atender as competências. Esta
noção veio reforçar o fetichismo em torno da individualidade. Pois, se o ser social não
possui trabalho é devido a sua incompetência, ao invés de ser problematizado as atuais
relações sociais de produção que encaminham nossa sociedade à barbárie. Esta
finalidade para a educação constituem-se como pistas para tentarmos entender os
motivos e as razões da precarização da formação dos professores. Quais os possíveis
pressupostos que os professores devem conquistar para superar a precarização de seu
trabalho? Acredito que a atitude de refletir sobre a ação é uma prerrogativa teórica
adotada e enfatizada como uma necessidade por Freire(1999), Demo(1998), Moreira
(1999), Frigotto (1999) entre outros autores preocupados com a construção de uma
prática pedagógica crítica. Isto nos remete a uma das categorias da dialética a prática
social( Triviños,1987), um pouco esquecida em virtude de um pós-estruturalismo, nos
estudos acadêmicos,que vem fortalecendo as práticas conservadoras de nossa sociedade.
Realmente é a realidade, a prática social, que deve ser resgatada como critério de
verdade como também nos diz Vazquez( 1986). Não me refiro a prática pragmática, mas
a prática como objeto de reflexão como condição de percebermos seu movimento e
suas contradições rumo a uma intervenção transformadora.
Ao termos como princípio que o professor reflita a respeito de sua prática estamos
admitindo a postura de que este venha a se construir como um intelectual orgânico.
Afinal todos somos intelectuais, entretanto ainda tem se tornado difícil perceber a favor
de qual projeto político estamos servindo e isto é algo que não pode ser desconsiderado.
Refletir a respeito da prática pedagógica exige uma justaposição dos nossos planos de
ensino ao plano de nação que pretendemos (Maturana, 2002). Refletir a respeito desta
prática pedagógica exige que relembremos os valores que estão construindo as
interações humanas de nossa sociedade. Valores que hegemonicamente vem orientando
a construção de um homem egoísta, covarde e traiçoeiro conforme afirmações de
Maquiavel (Kosik,1968). Valores que vem orientando a construção de uma democracia
liberal que faz acreditar que vivemos numa sociedade democrática pelo simples fato de
“participar ”das votações em eleições .
É lógico que a educação não é a responsável por mudar a sociedade (Konder, 1998),
mas é um espaço de luta importante para discutir os valores hegemônicos do tempo
presente a fim de construir as possibilidades contra-hegemônicas, como comenta Giroux
(1997) e Gramsci ( 1985), para lutar contra este homem construído hegemonicamente
pelo Capital que o transforma em egoísta, traiçoeiro e covarde. Portanto refletir a
respeito da prática é refletir a respeito do cotidiano escolar e assim de nossa sociedade
opressora. É assumir conforme Gramsci(1985) nos ensina que a formação de um
professor exige a sua formação política. Formação política que nos exige formar nossos
educandos para ampliar a sua curiosidade epistemológica e a sua insubimissão. (Freire,
1998).
Isto nos remete a alguns pressupostos que Marx levantou para pensar o Homem. Na
atual sociedade Capitalista conforme Kosik(1965) o homem tem obstáculos para
potencializar a sua capacidades e seus talentos. Tem obstáculos de alcançar a totalidade,
de ser auto-ativo, e pessoal ( Fritzhand,1968). Constato que para atuar como um
professor intelectual transformador exige-se negar o ideal de Homem de Maquiavel.
Caso consigamos potencializar as nossas capacidades e os nossos talentos em nosso
trabalho estaremos criando as condições para tomarmos decisões com maior autonomia.
O homem conforme Marx, deve ser um dos fundamentos para a consolidação de
pressupostos para formação de professores caso acreditemos que a Educação é um
espaço de luta social para formar sujeitos que neguem esta sociedade antidemocrática.
O que está em jogo aqui também é como o saber do professor será consolidado. O saber
fazer e o saber pensar, afirma Maturana (2002). O saber-fazer desprovido de uma
reflexão significa um saber pragmático, repetitivo construtor da precarização do trabalho
do professor ,no sentido de que deixa de considerar e de revelar as contradições do
contexto político-econômico vivido,levando à reprodução do sistema. Daí a falta de
movimento, a falta de avanço, e a falta de êxitos em qualquer proposição, em qualquer
ação, ainda que se proponha à transformação.
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Currículo:
Políticas
e
Práticas.
Papirus
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