Algodão
Resistência
preservada
Cultivares FMT 705 e FMT 707 surgem como alternativa importante na luta contra a
ramulária no algodoeiro. Embora esses materiais não necessitem de controle específico
para a doença, a utilização de triazóis reduz a probabilidade de quebra de resistência
genética, por aumentar a vida útil da tecnologia, enquanto os benzimidazóis auxiliam
no combate às demais manchas foliares que afetam a cultura
A
mancha de ramulária, causada
pelo fungo Ramularia areola,
é considerada uma das mais
importantes doenças na cultura do algodão nas regiões produtoras do cerrado.
Em outros países essa doença também é
conhecida por “míldio areolado”, “falsooídio” ou “mancha branca”. No Brasil, até
algum tempo atrás a mancha de ramulária
era considerada um problema fitossanitário
secundário, que ocorria apenas no final
do ciclo da cultura do algodoeiro. Mas
nos últimos anos, com o aumento da área
cultivada de algodão e o uso de cultivares
suscetíveis, a doença passou a surgir mais
cedo, sendo considerada, atualmente, a
principal enfermidade da parte aérea da
cultura na região de Cerrado.
Com a expansão das áreas de algodão
durante a safra normal, safrinha após o
cultivo da soja e, mais recentemente do
algodão adensado (também como opção
após a colheita da oleaginosa), o manejo
da doença tornou-se mais difícil, pois o
fungo sobrevive sobre os restos culturais
e os esporos produzidos nessas condições
constituem o inóculo primário. É comum
o fungo sobreviver em plantas nativas
de algodão perene ou plantas tigueras. A
dispersão do patógeno ocorre por meio de
vento, água de chuva ou irrigação, pessoas
e máquinas.
Figura 1 - Evolução da severidade da mancha de ramulária nos materiais FMT 705
e FMT 707, com a tecnologia RX, na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010
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Até pouco tempo, o método mais eficiente de controle da doença se dava através de aplicações de fungicidas (controle
químico), devido à ausência de materiais
com resistência genética no mercado. A
resistência genética para mancha de ramulária, em cultivares comerciais de algodão
da espécie Gossypium hirsutum, é inédita no
mundo e aguardada pelos cotonicultores da
região central do Brasil há vários anos.
Frente a este desafio, pesquisadores do
programa de melhoramento de algodão da
Fundação Mato Grosso (Fundação MT),
após vários anos de pesquisa, desenvolveram materiais resistentes à mancha de
ramulária, que estarão disponíveis em
Figura 2 - Evolução da severidade da mancha de ramulária na cultivar DP 604 BG
(suscetível), na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010
Fevereiro 2011 • www.revistacultivar.com.br
Charles Echer
Tabela 1 - Evolução da severidade de mancha de ramulária (%) de diferentes cultivares, em função do número de
aplicações (0 e 5) de fungicida1, na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010
Cultivares
DP 604 BG
FMT 701
Fibermax 993
FMT 705
FMT 707
No aplicações
0
5 aplicações
0
5 aplicações
0
5 aplicações
0
5 aplicações
0
5 aplicações
0 DAT
0,10
0,10
0,10
0,13
0,05
0,05
0,00
0,00
0,00
0,00
18 DAT
2,50
1,13
0,08
0,41
0,50
0,08
0,00
0,00
0,00
0,00
32 DAT
26,3
11,3
2,8
0,8
11,25
6,75
0,0
0,0
0,0
0,0
46 DAT
31,3
15,0
7,3
3,0
8,0
2,8
0,0
0,0
0,0
0,0
60 DAT
47,5
26,8
17,5
12,3
17,3
14,3
0,0
0,0
0,0
0,0
74 DAT
72,5
57,5
45,0
37,5
46,3
31,3
0,0
0,0
0,0
0,0
95 DAT
85,0
62,5
58,3
48,8
60,0
46,3
0,0
0,0
0,0
0,0
1 Fungicida: 0,3 l/ha de azoxistrobina+ciproconalzol
Tabela 2 - Comparativo de rentabilidade ao produtor (R$/ha) entre as variedades com a tecnologia RX e as
variedades suscetíveis à ramulária
Variedades
Variedades Susceptíveis
Variedades RX
Diferença
Nº Aplicações
5
2
3
Custo de produção1 (R$/ha)
129,30
51,70
-77,60
Produtividade (@ pluma/ha)
121,6
146,0
24,3
Rentabilidade 2 (R$/ha)
8.743,10
10.431,10
1.688,00
1 Custo de produção: fungicida + operação
2 Rentabilidade: (Produtividade * Preço algodão) – Custo de produção
Preço Fungicida - azoxistrobina+ciproconalzol (dose 0,3l/ha) – US$
Cambio (08/09/10) - R$
Preço algodão - R$/@ pluma (Rondonópolis) - IMEA
Custo pulverização (Filho & Richetti, 2004) - R$/aplicação
escala comercial para os produtores já na
safra 2010/2011.
As cultivares FMT 705 e FMT 707
possuem a tecnologia RX, que é inédita
no Brasil e no mundo, o que confere
resistência completa à doença causada
pela Ramularia areola, proporcionando
economia, segurança e tranquilidade ao
cotonicultor.
Isso ficou muito evidente nos diversos
experimentos realizados pelos pesquisadores junto aos produtores, que puderam
comprovar e testar a tecnologia no campo. Diversos cotonicultores têm relatado
excelentes resultados, ressaltando a segurança e a economia advindas com estes
materiais. Na região de Sapezal, noroeste
de Mato Grosso, tem se observado que a
tecnologia RX auxilia enormemente no
combate à ramulária. Também estão entre
as características destes materiais o ótimo
potencial produtivo, rendimento de pluma
e a precocidade, características que vêm
ao encontro dos anseios dos produtores
daquela região.
Para se ter uma ideia da importância da
tecnologia RX em cultivares suscetíveis, o
manejo das doenças do algodão é realizado
apenas pelo controle químico, dispondose em média, de seis a oito aplicações de
fungicidas, em 100% da área de algodão
de Mato Grosso. Destas aplicações, 70%
a 80% são específicas para ramulária. As
perdas de produtividade pela falta de controle da doença podem chegar a 35% (com
a ramulose até 70%).
Em ensaios conduzidos no Mato Grosso, na região de Campo Novo dos Parecis,
foi avaliado o efeito da interação entre as
cultivares de algodão e o número de aplicações de fungicidas (de zero a cinco aplicações) em intervalos de 15 dias (Tabela 1),
avaliando a severidade da ramulária a partir
da data da 1ª aplicação (DAT - dias após a
1ª aplicação de fungicida). Foi observado
que, nas cultivares RX com nenhuma
aplicação (testemunha), no período até 95
DAT (Figura 1), a severidade foi zero, ou
35,00/L _10,50/Aplicação
1,7223
71,90
7,78
seja, não foi constatada evolução alguma de
sintomas; enquanto que nas cultivares sem
a resistência, a severidade no tratamento de
controle variou entre 60% e 85% (Figura
2). Mesmo após cinco aplicações de fungicidas a cada 15 dias, a doença apresentou
níveis de severidade entre 46,3% e 62,5%
em função das cultivares, sendo um indicativo de perda de potencial produtivo.
Com relação à produtividade de algodão (Figura 3), os materiais FMT 705 e
FMT 707 apresentaram bons rendimentos
em comparação às demais cultivares. As
testemunhas das cultivares suscetíveis
produziram em média 117 arrobas de
Figura 3 - Produtividade de algodão em pluma (@ fibra/ha) obtida por diferentes cultivares, em função do
número de aplicações de fungicidas, na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010
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Fotos Fundação MT
Figura 4 - Comparativo de produtividade entre as variedades RX e variedades susceptíveis à mancha Figura 5 - Resistência genética à mancha de ramulária (tecnologia RX), observada nas parcelas
de ramulária. Produtividades - Delta Opal: 243@/ha; FMT 705: 287 @/ha; FMT 707: 325@/ha sem aplicação de fungicida. Produtividades - FMT 707: 264@/ha; Linhagem: 225@/ha
pluma/ha, enquanto as testemunhas das
cultivares RX produziram 146 arrobas
pluma/ha, obtendo 29 arrobas de pluma/
ha de incremento com a tecnologia.
Manejo de fungicidas nas cultivares RX
O algodoeiro também é afetado por
outras doenças, como a ramulose (Colletotrichum gossypii), mirotécio (Myrothecium roridum), corinespora (Corynespora
cassicola), estenfilium (Stemphylium
solani) entre outras, e dependendo das
condições a ferramenta química deve
ser utilizada. Apesar das cultivares RX
não necessitarem de controle químico
específico para ramulária, a utilização de
triazóis reduz a probabilidade de quebra
de resistência genética, aumentando a
vida útil da tecnologia e os benzimidazóis auxiliam no combate das demais
manchas foliares.
A recomendação do controle químico
para ramulose nas cultivares RX é a mesma prescrita para as demais cultivares:
começar as aplicações, detectados os
primeiros sintomas da doença (manchas
“estreladas”), com o uso de fungicidas do
grupo das estrobilurinas, ou combinações
de benzimidazóis com estanho-orgânico.
As reaplicações dependem da evolução da
doença, das condições climáticas e do efeito
residual do produto.
Para o controle de manchas foliares
(mirotécio, corinespora, estenfilio e ferrugem) e também como estratégia para se
prolongar a resistência genética à ramulária
dos materiais RX, deve-se realizar pelo
menos duas aplicações de fungicidas, sendo
a primeira aos 90-100 DAE (Dias Após
a Emergência) e a segunda aos 110-120
DAE, utilizando triazóis ou combinações
destes produtos com estrobilurinas ou
benzimidazóis.
Custo de produção
O custo de produção com o uso da
tecnologia RX é reduzido, pois além da
economia no consumo de fungicidas, o
produtor diminui o número de entrada de
máquinas na lavoura, diminuindo o custo
operacional e minimizando os eventuais
problemas causados pelo excessivo trânsito
de máquinas.
Vale lembrar que além da redução
de custos diretos, os materiais RX apresentaram um maior potencial produtivo
comparado às variedades suscetíveis.
Usando como base o experimento citado
anteriormente, foi realizada uma simulação de custos comparando as variedades
(Tabela 2). Assim, observou-se que, para
o produtor que utiliza as variedades RX,
o custo de controle com apenas duas
aplicações giraria em torno de R$ 51,70/
ha, e com produtividade de 146,0 arrobas de pluma/ha, geraria ao cotonicultor
uma rentabilidade de R$ 10.431,10/
ha (sem considerar os demais custos de
produção), contra R$ 8.743,10/ha onde
foram realizadas cinco aplicações nas
cultivares suscetíveis. Isto possibilitou
ao cotonicultor uma lucratividade 19%
maior (R$ 1.688,00/ha) com a utilização
C
da tecnologia RX.
Diego Martins Carretero e
Fabiano Siqueri,
Fundação MT
Figura 6 - Imagem aérea do experimento de competição entre as variedades RX e variedades susceptíveis à mancha de ramulária: produtividades: Delta Opal: 215@/ha;
Fibermax: 221@/ha; FMT 705: 245 @/ha; FMT 707: 265@/ha (esquerda) e (à direita) Produtividades: FMT 705: 245 @/ha; FMT 707: 265@/ha
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