ISSN 2177-465X
UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO
1a. JORNADA CIENTÍFICA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
A PESQUISA EM COMUNICAÇÃO: TENDÊNCIAS E DESAFIOS
ANAIS
27 a 29 de agosto de 2009
Bauru – SP
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
MS. ENGº. RODRIGO ROCHA
CHANCELER
DRª. IR. ELVIRA MILANI
REITORA
PROF. MS. IR. SUZANA DE JESUS FADEL
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
COMISSÃO ORGANIZADORA
LÍGIA BEATRIZ CARVALHO DE ALMEIDA (Org.)
ROSEANE ANDRELO (Org.)
SANDRA MARA FIRMINO (Org.)
SONIA APARECIDA CABESTRÉ (Org.)
VITOR PACHIONI BRUMATTI (Org.)
J828
Jornada Científica de Comunicação Social (1. :
2009 : Bauru, SP)
Anais da 1ª Jornada Cientifica de Comunicação
Social : a pesquisa em comunicação : tendências e
desafios, Bauru, 27 a 29 de agosto de 2009. –
Bauru : Universidade Sagrado Coração, 2009.
146p : il.
I. Universidade Sagrado Coração. II. Título
A variedade dos artigos compilados nos anais da 1ª Jornada Científica de
Comunicação Social reflete a característica multifacetada da atuação profissional do
comunicador social, que tem que dominar um vasto referencial de conhecimentos
teórico-práticos para atender as demandas da população, dos serviços públicos, das
organizações comunitárias.
Para os cursos de Comunicação Social da Universidade Sagrado Coração, a jornada
representou uma grande conquista.
Para os corpos docente, discente e para os nossos ex-alunos, foi uma oportunidade
única com múltiplas facetas: campo de difusão de saberes, de intercâmbio entre
graduados, pós-graduados e docentes.
Configurou-se como uma forma de aprendizado em que alunos de publicidade e
propaganda trabalharam na divulgação, cuidando da criação e divulgação das peças
de comunicação.
Os futuros relações públicas e jornalistas integraram a equipe de organização do
evento e de reportagem, transmitindo os acontecimentos, em tempo real, para a
comunidade externa por meio de redes sociais.
Mas, acima de tudo, o evento cumpriu seu papel principal: ao divulgar resultados de
pesquisas que têm como objeto de estudo a comunicação social provocou debates
que geraram novos questionamentos e levarão a novos saberes, disseminando a
cultura da pesquisa na comunidade acadêmica.
Comissão Organizadora
EIXOS TEMÁTICOS
NOVAS MÍDIAS
COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA
RELAÇÕES PÚBLICAS E INFORMAÇÃO
JORNALISMO E SOCIEDADE
LINGUAGENS E EDUCAÇÃO
ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA COMUNICAÇÃO
SUMÁRIO
EIXO TEMÁTICO: NOVAS MÍDIAS
Resumo : O advento da TV Digital e a produção de campanhas
publicitárias – um estudo enfocando as perspectivas futuras desse
segmento.
Camila C. L. Corrêa........................................................................................... 8
Resumo : A importância das redes sociais para os profissionais 2.0 do
mercado publicitário do interior paulista.
Vanessa G. B. do Amaral.................................................................................. 13
Resumo : A propaganda na tv digital, do ponto de vista do publicitário.
Vânia Lúcia Siqueira.......................................................................................... 17
Resumo : Representação cultural dentro da sociedade digital: a
utilização das redes sociais como processo de comunicação.
Vitor P. Brumatti……………………………………………………………………... 23
EIXO TEMÁTICO: RELAÇÕES PÚBLICAS E INFORMAÇÃO
Resumo : A crise econômica mundial sob diferentes óticas:
psicológica, social e econômica.
Lívia Ikeda Martins............................................................................................ 29
Resumo : Comunicação, Informação e Conhecimento nas organizações
contemporâneas – diferenciais de desenvolvimento e inovação.
Sônia Aparecida Cabestre; Regina Célia Baptista Belluzzo............................ 33
Resumo : Empreendedorismo em Relações Públicas.
Pedro Polesel Filho........................................................................................... 39
Resumo : Responsabilidade social: desafio empresarial, estratégia e
compromisso ético.
Débora Seno Errera; Fábio José de Souza; Thalita M.M. Souza...................... 42
EIXO TEMÁTICO: JORNALISMO E SOCIEDADE
Resumo : A censura política na imprensa bauruense durante a ditadura
militar (1968 a 1970).
Camila Fernandes............................................................................................. 47
Resumo : Igreja e comunicação: da censura e repressão para as
produções jornalísticas.
Paulo Giraldi ..................................................................................................... 51
Resumo : Jornalismo Econômico: o conhecimento que não consegue
chegar ao grande público.
Daira R. Martins Botelho ; Rene Rodriguez Lopez ........................................... 55
Resumo : Os paradigmas da imprensa em pauta: biodiversidade,
biocombustíveis e aquecimento.
Katarini Miguel................................................................................................... 60
Artigo : Representações sobre as esferas do poder na primeira edição
do Caderno Kiplô.
Fernanda Larossi............................................................................................... 63
EIXO TEMÁTICO: LINGUAGENS E EDUCAÇÃO
Resumo : Da criação a globalização: Michelangelo e o processo de recriação
Lea Silvia Braga de Castro Sá.......................................................................... 74
Resumo : A poética criativa na publicidade: uma visão da semiótica
peirceana
Luiz Nelson de Oliveira Trentini......................................................................... 77
Artigo : A utilização do rádio na Educação à Distância (EaD): o Projeto
Minerva e o Movimento de Educação de Base.
Thalita M.M.M.Souza; Eliane C. R. Montresol; Sílvia B. Cuenca Stipp;
Roseane Andrelo............................................................................................... 81
EIXO TEMÁTICO: ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA COMUNICAÇÃO
Artigo : Direitos da infância e da adolescência na cobertura dos jornais
do centro oeste paulista.
Pedro Luis Bueno Berti...................................................................................... 91
Artigo : Não adianta fazer birra!: a relação entre publicidade,
propaganda, crianças e as implicações ética e jurídicas.
Vitor Pachioni Brumatti; Fábio José de Souza; Thalita M.M.M. e Souza.......... 100
Resumo : Novas abordagens em Direito relativas à imprensa e seu
exercício.
Antonio Carlos da Silva Barros.......................................................................... 109
Resumo : Publicidade e propaganda: uma reflexão sobre a importância
da legislação brasileira e da ética para a profissão.
Vívian Xavier de M. Freitas; Livia Lara Andretto; Eduardo Liporacci; Fábio
José de Souza................................................................................................... 112
Artigo : Publicidade e propaganda subliminar: a legislação e a ética.
Patrícia de Abreu; Lígia Beatriz C. Almeida; Fábio José de Souza; Thalita M.
M. M. Souza...................................................................................................... 117
EIXO TEMÁTICO: COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA
Resumo : Comunicação entre órgãos públicos: limites entre a intenção
e a realização.
Bruno Sampaio Garrido..................................................................................... 131
Resumo : Lazer e entretenimento sob influência das políticas públicas
no contexto bauruense.
Luiz Ricardo Ferreira; Simone Yadomi ............................................................. 135
Resumo : A prática do jornalismo na consolidação da cidadania.
Aline M. Fuzisaki Leão...................................................................................... 139
Resumo : Pesquisa e execução de ações de comunicação para
conselhos municipais de Bauru-SP.
Luciana Galhardo Batista.................................................................................. 143
EIXO TEMÁTICO: NOVAS MÍDIAS
8
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
O ADVENTO DA TV DIGITAL E A PRODUÇÃO DE CAMPANHAS
PUBLICITÁRIAS – UM ESTUDO ENFOCANDO AS PERSPECTIVAS FUTURAS
DESSE SEGMENTO1. Camila Cristina de Lima Corrêa2
Palavras-chave: Mercado Publicitário. Publicidade e Propaganda. TV Digital.
INTRODUÇÃO - Na situação atual da cultura digital um novo meio de comunicação
surge com a probabilidade de transmitir conteúdos interativos e adaptados às
realidades locais, através de suportes fixos (televisão) e móveis (celulares e
palmtops). A TV digital teve sua primeira transmissão no Brasil em dezembro de
2007, no entanto, nesse primeiro momento, não foram oferecidas mudanças em
termos de conteúdo, apenas no padrão de imagem. Logo, para que a TV digital não
se limite apenas à melhoria de atributos técnicos ou a reprodução da programação
da TV analógica, é preciso pensar sobre como utilizar as ferramentas da TV digital
para a elaboração de novos formatos de programas.
RELEVÂNCIA – Refletir sobre os processos da TV Digital, um assunto atual que
está em processo de implantação no Brasil e poderá trazer consigo grandes
mudanças na maneira de produzir propagandas publicitárias. Com o advento da TV
Digital as formas de produção e veiculação de campanhas publicitárias deverão ser
redimensionadas – pergunta-se: quais serão as condições a serem oferecidas para a
produção de anúncios publicitários? Os publicitários estão devidamente capacitados
para produzir campanhas publicitárias utilizando a tecnologia da TV Digital?
Considerando que uma restrita parcela da população tem acesso a essa tecnologia,
as empresas estão preparadas e têm condições financeiras para investir nessa
mídia?
METODOLOGIA – Através de pesquisa bibliográfica desenvolvida junto à literatura e
produções científicas disponibilizadas na internet, foram identificados e selecionados
pesquisadores que têm realizado estudos significativos sobre a implantação da TV
Digital no Brasil e suas possíveis mudanças. Dos textos selecionados extraíram-se
os pontos mais importantes sobre a temática, o que viabilizou uma reflexão e a
análise das informações relevantes e consideradas importantes para essa produção.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - O presente trabalho
tem por objetivo fazer uma análise sobre as possíveis transformações que a
publicidade sofrerá com a implantação da TV digital, descrever também sobre as
possíveis mudanças que a TV digital trará para publicitários e anunciantes e relatar
as tendências apontadas pela convergência digital pondo em cheque a TV analógica
e sua transição para a transmissão digital em alta definição. Este estudo é voltado
para a área da Comunicação e não da Engenharia ou da Eletrônica. O meio que
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Sagrado Coração de Bauru/SP
9
mais investe em termos publicitários é a TV, pois está presente em quase todos os
lares brasileiros, por este motivo, a maior parte dos investimentos publicitários são
direcionados para esse veiculo de comunicação que atinge a grande massa
populacional. A chegada da Televisão digital no Brasil gerou expectativas e
controvérsias em setores especializados e, simultaneamente, causou mudanças em
diversas categorias profissionais em virtude da repercussão que o acontecimento
deve provocar a curto, médio e longo prazo. O mercado publicitário brasileiro
televisivo está passando por um período de grandes modificações, ao começar a
produzir conteúdos digitas, deixará de produzir conteúdos massificados e passará a
produzir conteúdos segmentados, para atender assim anunciantes e clientes dessa
nova tecnologia que veio para ficar.
De acordo com Costa (2008, p. 42):
Um dos setores mais interessado nessas mudanças, que certamente
precisará adaptar-se ao inovador modelo de comunicação, é o mercado
publicitário, que tem antecipado soluções e criado novas alternativas de
propagar seu conteúdo. A chegada da TV digital deverá provocar também a
exigência de um profissional especializado em comunicação digital, portador
de habilidades e competências na área da comunicação e domínio de
ferramentas tecnológicas.
A publicidade atuará como grande forma de investimento dentro da TV digital;
porém, para realizar esse investimento as agências terão que levar em consideração
os aspectos tecnológicos digitais, para se adequarem a esse novo meio da melhor
forma possível e assim suprir as necessidades do mercado.
Conforme consta no site da Globo:
A publicidade, tanto quanto a programação de TV, poderá se reinventar a
partir da TV digital em alta definição. Os ganhos de qualidade na imagem e
som, por si só, já proporcionarão aos criadores e diretores de filmes
publicitários um amplo campo de desenvolvimento para novas abordagens
de comunicação. A vocação de qualidade dos publicitários só tem a ganhar
com uma plataforma técnica tão diferenciada quanto a TV digital em alta
definição. Importante frisar que o modelo atual de comunicação publicitária
via TV nada perde com a digitalização do sinal. Os comerciais de 30
segundos, os patrocínios e outros formatos já bem conhecidos por
anunciantes, agências e consumidores seguem perfeitamente válidos e
ainda mais valorizados pela maior qualidade das imagens e som.
Comerciais em resolução convencional serão aceitos para exibição pela TV
Globo Minas ainda durante muitos anos.(GLOBO, 2009, p. 1).
Os publicitários deverão acompanhar a evolução do mercado, para assim se
adequarem perfeitamente à tecnologia da TV digital, não perdendo clientes e
consumidores e sim usufruindo dessa tecnologia para ganhar mais clientes e os
deixar mais satisfeitos.
A TV passará por grandes modificações que levam ao desenvolvimento de um novo
meio de comunicação, onde os telespectadores terão o comando da programação
que lhe é oferecida. Essa tecnologia possibilitará que os telespectadores
interessados acompanhem a programação que querem, quando e onde desejarem
com a possibilidade de eliminar conteúdos publicitários. Se eles não encontrarem
nada atrativo, isso significa que existe a necessidade de profissionais especializados
10
no assunto para que o mercado publicitário possa ganhar cada vez mais com essa
nova tecnologia, sem que haja perdas.
Já para Gem (2005, p. 11 apud SANTOS, 2007, p. 4):
A iniciativa de evolução dos meios é fundamental e irreversível, possuindo
por conseqüência uma das maiores mudanças que o mercado publicitário já
teve. Essas modificações decorrentes da inserção de um novo meio de
comunicação são fundamentais para existência de indivíduos dispostos aos
riscos de empreender, pilar do desenvolvimento.
De acordo com o autor, será essencial para o sucesso da TV Digital uma maior
parceria entre os setores privados e públicos. E, para que esta união aconteça é
necessária também parceria com as universidades, agências de inovações e centros
de desenvolvimento tecnológico, que poderão estar em constante aperfeiçoamento
de novas tecnologias. Ressalta-se que o sistema implantado no Brasil, independente
de ter sido desenvolvido em parceria com o Japão, é próprio.
E, segundo Rose (1997 apud LIMA FILHO, 2008, p. 1).
A TV Digital almeja convergir todos os públicos segmentados, em todos os
horários e lugares para promover um “fluxo contínuo” de uma cultura
globalizada. Promove a “inclusão digital” dos consumidores das classes D e
E, e das pequenas empresas regionais, diluindo o monologismo pelo
dialogismo da interatividade digital para o indivíduo que é “governado se
autogovernando”, com o Sistema não mais exercendo controle “contra o
indivíduo, mas por meio dele”.
O avanço tecnológico dos meios de comunicação pode colaborar cada vez mais
para que a propaganda e a publicidade cheguem aos indivíduos facilitando o
processo de escolha deste ou daquele produto ou serviço. De acordo com Montez e
Becker (2005), a TV digital nada mais é do que a transmissão digital dos sinais
audiovisuais, conceito bem diferente de TV interativa. Na transmissão digital, os
sinais de som e imagem são representados por uma seqüência de bits, e não mais
por uma onda eletromagnética análoga ao sinal televisivo. O advento da TV digital
permitiu, além de uma qualidade de imagem e som muito superior à televisão
convencional, a possibilidade de interatividade e o oferecimento de novos serviços.
Segundo Palácios (2000, p. 46 apud MONTEZ e BECKER, 2005, p. 46) “o adjetivo
interativo é usado para qualificar qualquer coisa ou objeto cujo funcionamento
permite ao seu usuário algum nível de participação, suposta participação, ou troca
de ações”.
Enquanto para Bolaño e Brittos (2007, p. 25):
A televisão digital apresenta-se como uma plataforma tecnológica capaz de
realizar a convergência de inúmeros serviços de comunicações, podendo
reduzir as fronteiras entre as indústrias culturais quanto aos modelos
organizacionais característicos de cada uma delas.
Machado Fillho (2008, p. 1) diz que a “A TV Digital no Brasil vem enfrentando os
percalços comuns da implantação de qualquer nova tecnologia, ainda mais, quando
se trata de um novo veículo de comunicação de massa”. De fato o processo de
11
implantação da TV digital está lento, e aonde ela chega não atinge todas as classes
sociais, pois para que o telespectador possa ter acesso a essa tecnologia ele
precisa do set top box, que é um conversor de sinal. Esse aparelho não tem um
custo barato, o que impede que a maior parte da população possa desfrutar dessa
mídia digital. Para que tudo ocorra da melhor maneira possível é necessário mais
pesquisas e estudos sobre esse tema e também uma maior união entre instituições
publicas e privadas, facilitando assim o processo de implantação da TV digital e as
possibilidades de maior acessibilidade por parte da população.
Para Bolaño e Brittos (2007, p. 29):
No caso brasileiro, o modelo impõe a distribuição gratuita da programação
televisiva, mas abre brechas para cobrança de conteúdos interativos, tendo
em vista o custo do canal de retorno, que extrapola a capacidade das
emissoras (...) O maior desafio continua sendo o de convencer o
telespectador de que vale a pena arcar com maiores despesas televisivas, o
que até agora não foi conseguido.
Esperam-se grandes mudanças com o advento da TV digital, o governo fala em
inclusão social, já que esse é o meio que está presente na maioria dos lares
brasileiros, tem também a interatividade, onde o telespectador vai poder participar
ativamente em toda a programação que lhe é oferecida, e ocorrerão mudanças na
produção de conteúdos digitais, que deverão ser muito mais elaborados, para assim
atingir o consumidor final e atrair o interesse de anunciantes para produzirem
materiais digitais. Com isso espera-se que a implantação da TV digital no Brasil seja
levada a sério por seus idealizadores, e que eles busquem cada vez mais
alternativas acessíveis para toda a população brasileira e assim alcance a tão
esperada digitalização desse meio em todo o Brasil. Apresentados os pressupostos
inerentes ao tema, ficam reforçados os questionamentos destacados no início desta
proposta, uma vez que ainda são incipientes as ações para a implementação dessa
tecnologia que vai inovar o cotidiano da área de publicidade e propaganda.
CONCLUSÃO - A busca e a sistematização de informações sobre a temática
estudada possibilitou a refletir sobre alguns aspectos da TV digital, o contexto de
sua implantação no Brasil e a produção de conteúdos publicitários para esse meio.
As idéias aqui expostas serão mais aprofundadas em um Trabalho de Conclusão de
Curso. A tecnologia da TV digital já é realidade e em um futuro próximo estará
presente nas casas de uma quantidade cada vez maior de brasileiros. No entanto,
como todo novo meio de comunicação ela nasce dentro de uma sociedade que
ainda não está preparada para a sua dinâmica. Por este motivo, o estudo tem o
propósito de provocar uma reflexão sobre a necessidade de criação de novos
formatos de programas televisivos apropriados a essa realidade digital que usem o
máximo de ferramentas disponíveis, especialmente aquelas relacionadas à
interatividade com o usuário e permita o ajustamento dos conteúdos às diferentes
culturas, em termos regionais, do Brasil.
REFERÊNCIAS
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; BRITTOS, Valério Cruz. A televisão brasileira
na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes. São Paulo:
Paulus, 2007.
12
LIMA, Filho Carvalho.O Futuro da Publicidade na TV Digital. Disponível
em:<www.intercom.org.br >. Acesso em:18 mar. 2009.
MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV Digital interativa: conceitos, desafios e
perspectivas para o Brasil. Satã Catarina: UFSC, 2005.
SANTOS, Leandro César Moreira. A TV digital: sua implantação e mudanças no
mercado publicitário brasileiro. Disponível em:<www.intercom.org.br >. Acesso
em:18 mar. 2009.
GLOBO.TV Digital Vantagens. 2009. Disponível em:
<http://www.globominastvdigital.com/mercado_publicitario/>. Acesso em: 16 abr.
2009.
13
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A IMPORTÂNCIA DAS REDES SOCIAIS PARA OS PROFISSIONAIS 2.0 DO
MERCADO PUBLICITÁRIO DO INTERIOR PAULISTA1. Vanessa Grazielli Bueno
do Amaral2
Palavras-chave: Ciberespaço. Web 2.0. Redes sociais. Mídias digitais. Profissionais
2.0.
INTRODUÇÃO – As novas mídias digitais sociais têm influenciado diretamente a
comunicação e a organização social na Era Digital. O perfil dos usuários dessas
mídias envolve uma maior criticidade, devido à possibilidade de confrontação das
fontes de informação, interatividade e autonomia. O usuário interage diretamente
com a mídia e pode contribuir com conteúdo e informação das mais diversas formas,
sem ter necessariamente qualquer conhecimento técnico específico. As redes
sociais permitem e encorajam essa participação. É isto o que chamamos de Web 2.0
ou Internet da Segunda Geração, um ambiente propício entendido não apenas como
mídia, mas como plataforma, que se aprimora quanto maior a colaboração dos
indivíduos, usando a inteligência coletiva. Neste cenário visamos compreender a
participação dos profissionais de publicidade e tantos outros relacionados a artes ou
tecnologia do interior paulista, que fomentam a produção comercial de comunicação
nas novas mídias digitais, os chamados “Profissionais 2.0”, e a importância das
redes sociais em seu cotidiano. A pesquisa é direcionada especificamente para o
mercado publicitário do interior paulista e seu atual cenário referente à "Web 2.0". Os
perfis traçados no decorrer desta pesquisa poderão subsidiar um salto de qualidade
na produção de conteúdos publicitários desenvolvidos para a internet, além de uma
expansão da área geográfica de participação dos profissionais 2.0 de determinada
localidade.
RELEVÂNCIA – O ser humano se comunica para se expressar, entreter,
compartilhar conhecimento, perpetuar a cultura, entre outros. Se comunicar é de
suma importância para os grupos sociais, pois é assim que eles se formam, se
mantém e, que seus membros se identificam entre si. A internet tem papel
importante na constituição dos grupos sociais atualmente. A utilização de redes
sociais tem superado serviços mais tradicionais da internet como o email. Diante
disso, cabe aos profissionais de comunicação analisar e interpretar os sinais das
mudanças que a web 2.0 vem causando na sociedade, como a utilização de redes
sociais e sua relação com os profissionais 2.0 no processo de sedimentação de uma
nova cadeia produtiva e, a exploração de possibilidades e vantagens para
profissionais que tenham formação em mais de uma área do conhecimento,
aumentando as opções de campos de atuação.
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Aluna de graduação do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e
Propaganda – Universidade Sagrado Coração - E-mail: [email protected]
14
METODOLOGIA – Baseadas em uma pesquisa bibliográfica utilizando literatura
específica da área de comunicação, além de artigos e pesquisas divulgados na
internet, foram levantadas hipóteses posteriormente confrontadas com resultados de
uma pesquisa de campo com questionários e/ou entrevistas diretivos, realizada com
responsáveis nas agências de publicidade pelas produções web e profissionais
(autônomos ou vinculados a empresa especializada em web). A amostra de
pesquisados foi selecionada de forma não-probabilística por conveniência e
julgamento, abrangendo as cidades de Bauru, Dois Córregos, Jaú e Lençóis
Paulista. A pesquisa qualitativa, de natureza aplicada, com caráter exploratório, foi
elaborada e aplicada através do envio dos questionários por email, entre os meses
de março e abril de 2009. Os dados foram analisados por método indutivo, de forma
a intuir um panorama futuro da atuação de profissionais 2.0, sejam da área de
comunicação, artes, ou tecnologia.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - No ano de 2001 houve
o estouro do que foi chamada bolha das empresas ponto-com, uma avalanche de
sites que foi considerada por muitos uma publicidade exagerada para a internet. Mas
as empresas que sobreviveram à bolha representavam o que de novo estava por vir
para revolucionar a web e originar a Web 2.0, que trazia não somente novas
ferramentas, mas novas tecnologias. Pierre Lévy, em Martins e Silva (2002), define
ciberespaço como o meio de comunicação aberto pela interconexão mundial dos
computadores, um espaço onde hoje vemos uma grande utilização de ferramentas
como blogs e redes sociais. É objetivo desta pesquisa analisar como essas redes
sociais são utilizadas pelos profissionais 2.0 e qual sua importância na cadeia
produtiva de conteúdos de publicidade para internet. No ciberespaço, cada indivíduo
é capaz de produzir e difundir conteúdo, criando um ciclo em que a comunicação é
de “todos para todos”, diferentemente dos meios de comunicação de massa
convencionais em que a informação é transmitida de “um para todos”. A autonomia
do consumidor no ciberespaço, a possibilidade de ser colaborador ou criador de
informação, fez com que vivessemos em uma nova era, a “Web 2.0”. De acordo com
O’Reilly (2008), o conceito de “Web 2.0” começou com uma conferência de
brainstorming entre ele e a MediaLive International. A internet, então, passa a ser
encarada como plataforma que permite, inclusive, que o usuário crie ou transmita
espontaneamente propaganda (positiva ou negativa) sobre produtos, serviços ou
marcas. Na criação convencional de propaganda, o publicitário é o responsável pelo
manejo das informações, das características a serem divulgadas. Segundo a Lei nº
4.680 de 18 de junho de 1965, são publicitários “aqueles que, em caráter regular e
permanente, exerçam funções de natureza técnica da especialidade, nas Agências
de Propaganda, nos veículos de divulgação, ou em quaisquer empresas nas quais
se produza propaganda” e, que têm atividade regida pelo Código de Ética dos
Profissionais da Propaganda, instituído pelo I Congresso Brasileiro de Propaganda,
realizado em outubro de 1957 (BRASIL, 2008). Dentro do conceito de Web 2.0, um
novo modelo de profissional surge para suprir as necessidades do mercado, o
“Profissional 2.0”. Max Petrucci (2008 apud QUEIROZ, 2008, p. 67), sócio-presidente
da Garage Interactive Marketing, destaca características do profissional 2.0,
afirmando que “o cara pode ter sido um tiozinho” mas deve ter se digitalizado,
passado pela escola da marca em agências ou em uma grande empresa, ser ágil,
auto motivado, consciente e maduro. Para Abel Reis (2008 apud QUEIROZ, 2008, p.
67), presidente da Agência Click, o profissional 2.0 deve ter os seguintes atributos:
curiosidade aguçada, buscar o aprendizado constante, trabalhar em equipe e ter
multi funções. A demanda por estes profissionais tem levado agências a capacitar
15
pessoal, por não encontrar pessoas qualificadas no mercado. Para Lévy (2000, p.
109), “os artistas que exploram essas vias poderiam ser os pesquisadores da nova
arquitetura do ciberespaço, que será sem dúvida uma das principais artes do século
XXI”. E completa: “os novos arquitetos podem ser tanto pessoas provenientes de
meios tradicionais da arte como engenheiros, criadores de redes ou interfaces,
inventores de softwares, equipes localizadas em organismos internacionais de
padronização, juristas da informação, etc.”. Para Neves (2007, p. 10), “talvez, no
final de mais algumas décadas, os historiadores atinjam um consenso de fato e
passem a chamar nosso tempo de ‘Renascença Digital’: período no qual todo o
trabalho e maior parte de toda criação humana foram convertidos para a forma de
bits e bytes”. Com o objetivo geral de compreender a importância das redes sociais
na atuação dos profissionais 2.0 do mercado publicitário do interior paulista, o
presente trabalho visa especificamente, os seguintes objetivos:
 Diagnosticar quais redes sociais são utilizadas na Web 2.0
 Demonstrar a sinergia do conhecimento em áreas distintas na comunicação
da Era Digital
 Levantar o panorama de atuação do publicitário na internet
 Traçar perfil do profissional 2.0 requisitado para o interior paulista
 Estimar características do mercado futuro
Para alcançar tais objetivos, questões como “Qual a importância das redes sociais
para a atuação dos profissionais 2.0?”, “Qual o papel dos publicitários e profissionais
2.0 nas agências?”, “Como serão alocados os profissionais 2.0?”, “Qual a tendência
do mercado publicitário do interior paulista?”, “Quais são, se existem, os limites de
atuação para profissionais do interior?” foram levantadas e nortearam a pesquisa.
Foram analisados 7 questionários, enviados para profissionais que trabalham com
desenvolvimento web ou que a utilizam como ferramenta em suas atividades, seja
divulgando trabalhos ou buscando informações. Os questionários eram compostos
de 12 questões, abertas e fechadas, nas quais foram abordados temas como quais
as redes sociais utilizadas, local de acesso, frequência de acesso e o tempo de
permanência em cada acesso, utilização no âmbito profissional, análise do
profissional do interior e opiniões a respeito do futuro.
CONCLUSÕES - Dos resultados obtidos, destacamos os seguintes dados,
relevantes aos objetivos da pesquisa: a rede social mais utilizada pelos
entrevistados é o Orkut, obtendo 70% das respostas. A maioria dos entrevistados
acessa redes sociais de casa e do trabalho, respectivamente. Os acessos
geralmente são feitos mais de uma vez ao dia, com permanência inferior a uma
hora. Os profissionais utilizam as redes sociais em prol de seu trabalho para buscar
ideias, contatos e divulgar o trabalho, e 50% dos entrevistados consideram as redes
sociais indispensáveis. Grande parte dos profissionais entrevistados mantém, além
de perfis em redes sociais, seu próprio blog e/ou fotolog, por exemplo. Quando
questionados sobre o bloqueio de acesso a redes sociais por parte das empresas, a
maioria respondeu que as empresas mantêm este tipo de política interna. As redes
sociais são vistas pelo profissional 2.0 do interior como vias de obter atualização e
aperfeiçoamento, e a visão é de um futuro em que o uso da internet e de redes
sociais cresça ainda mais. Tais respostas nos levam a crer que as redes sociais são
uma realidade crucial no dia a dia dos profissionais do interior, mas que a
organização hierárquica e a censura por parte das empresas, ainda não demonstra
sinais de mudança.
16
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei nº 4.680, de 18 de Junho de 1965. Dispõe sobre a regulamentação da
profissão de publicitário. Base da Legislação Federal do Brasil. Brasília, 1965.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4680.htm>. Acesso em: 13
set. 2008.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3.ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2000.
MARTINS, Francisco Menezes; SILVA, Juremir da (Org.). Para navegar no século
21: tecnologias do imaginário e cibercultura. 2.ed. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs,
2000.
NEVES, Ricardo. O novo mundo digital - você já está nele: oportunidades,
ameaças e as mudanças que estamos vivendo. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
2007.
O'REILLY, Tim. What Is Web 2.0?. 2005. Disponível em <
http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html>.
Acesso em: 20 nov. 2008.
QUEIROZ, Roberta. Profissional 2.0. Revista Meio Digital, São Paulo, n. 7, p. 6267, set./out. 2008.
17
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A PROPAGANDA NA TV DIGITAL, DO PONTO DE VISTA DO PUBLICITÁRIO1.
Vânia Lúcia Siqueira2
Palavras-chave:
Publicitários.
TV digital. Comércio eletrônico. Publicidade. Propaganda.
INTRODUÇÃO - Desde 2003 fala-se da inserção da TV Digital no Brasil. Foi
montado um comitê de especialistas para definir e desenvolver a tecnologia para a
implantação da mesma que garantisse o atendimento da necessidade da nossa
população. Depois de muitos estudos, finalmente no final de 2007 começaram as
experiências práticas e, no ano passado, divulgou-se o início das atividades no
território nacional. Em diversas capitais brasileiras a transmissão já é digital. É um
fato. No município de Bauru, residência da pesquisadora, há uma equipe da
Universidade Estadual Paulista pronta para colocar no ar a TV digital educativa. Há
também um mestrado lato senso em TV digital em funcionamento. Diante de todos
os artigos e notícias que alardeiam essa inovação, um questionamento, uma
curiosidade, surgiu: e a propaganda? Como estaria ela sendo veiculada? O que
mudou na prática? Qual a visão e a ação dos publicitários que atuam hoje no
mercado no sentido de produzirem comerciais em formato que atenda as
potencialidades do sistema? Quais seriam os desafios e as dificuldades de se
trabalhar a propaganda na nova lógica da TV Digital, que solicitará a interatividade e
consumo sob demanda?
A TELEVISÃO BRASILEIRA - A introdução da televisão no Brasil coincide com um
importante período de mudanças na estrutura econômica, social e política do País.
Inaugurada oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, em precário estúdio em
São Paulo, por iniciativa do jornalista Assis Chateaubriand, a TV Tupi Difusora surge
no momento em que o rádio era o veículo de comunicação mais popular no país,
atingindo a quase todos os estados. Nos anos cinqüenta e sessenta, o conceito de
desenvolvimento era centrado no crescimento econômico e a industrialização era
considerada o principal fator de desenvolvimento. Apesar do regime militar ter se
utilizado dos meios de comunicação, principalmente a televisão e o rádio, como
instrumentos para o estímulo ao espírito nacional, nos anos setenta principalmente a
televisão passa a ficar sob um controle cada vez maior dos grupos estrangeiros,
devido à dependência principalmente da publicidade. (MATTOS, 2002 p. 44).
CARACTERÍSTICAS E POTENCIALIDADES DA TV DIGITAL - A TV digital começou
a ser transmitida no Brasil em dezembro de 2007, entretanto, naquele momento, não
foram apresentadas mudanças em termos de conteúdo, apenas no padrão de
imagem. É uma nova tecnologia de transmissão de sinais de televisão, que
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda – Universidade
Sagrado Coração – E-mail: [email protected]
18
proporcionará gratuitamente ao telespectador melhor qualidade de imagens e sons e
uma série de novos benefícios, tais como ver televisão quando em deslocamento e
interagir com os programas. A imagem ganha qualidade de cinema, tal qual ocorre
em DVDs e formato 16x9, semelhante ao da tela de cinema, como pode ser visto na
figura na seqüência, que mostra também a evolução na aparência dos aparelhos de
televisão. O som é comparável ao de um CD e poderá ser surround3. Existe a
possibilidade de assistir TV dentro de carros (ou ônibus, trens, barcos) em
movimento, sem prejuízo da qualidade de imagem. Será tecnicamente possível para
a emissora a transmissão de mais de um programa simultaneamente, ou então,
diferentes tomadas da mesma cena de forma que o telespectador escolha a que
mais lhe aprouver. A tecnologia da TV digital poderá permitir a edição de imagens
em tempo real. Usando o controle remoto, é possível congelar a imagem, misturar,
cortar cenas e editar o que quiser, misturando inclusive o videotape de um programa
com outro. Interatividade em TV digital significa comunicar-se em duas direções,
dialogar. De um lado, a emissora. De outro, o telespectador. No futuro, a emissora
poderá transmitir perguntas, questionários, que serão respondidos pelos
telespectadores, por meio do próprio controle remoto. Na publicidade haverá um
diálogo com os anúncios, pedindo mais informações, descobrindo-se onde o produto
é vendido, obtendo-se mais imagens etc. E, se gostar, pode comprar, simplesmente
acionando o controle remoto. Mas essas são as promessas para o futuro, o mundo
está engatinhando em matéria de interatividade. As pessoas também não tem
costume de interagir com a TV. O máximo que fazemos é ligar, desligar, mudar de
canal, ajustar o volume. (SIQUEIRA, 2008, p. 38). Como se pode observar, muito se
tem a aprender e a realizar antes que a interatividade venha a fazer parte do nosso
dia a dia, porém não se pode ignorar, que ensaios sobre esta prática vem sendo
feitos, sem que se tenha dado um nome a ela, como é o caso do programa “Você
decide”, veiculado há alguns anos pela Globo, em que o espectador era convidado a
escolher um final para o episódio, o que era feito via telefone. Não importando a
forma como isso era feito, o usuário estava interagindo com a emissora, participando
do programa.
A IMPORTÂNCIA DA PUBLICIDADE - A publicidade é uma atividade profissional
dedicada à difusão pública de idéias associadas a empresas, produtos ou serviços,
especificamente, propaganda comercial. Sua importante função é a persuação do
consumidor, ajudando a induzir o comportamento de compra. Entretanto, apesar de
sua função comercial, a propaganda também pode ser ideológica, com o objetivo de
levantar uma bandeira, uma idéia, uma prestação de serviços ligada à utilidade
pública, tendo como objetivo disseminar uma idéia ou um conceito. (SAMPAIO,
2003).
A IMAGEM E A PUBLICIDADE NA TV DIGITAL - A propaganda hoje conta com a
alta tecnologia, muita experiência que requer talentos específicos para manipulá-la
de forma consciente. Na TV digital em um primeiro momento, o que parece ser o
motivo principal a impulsionar a publicidade, é o comércio, Television Commerce, ou
T-Commerce. Verificou-se que, para a publicidade na TV Digital, não há ainda, muita
informação que os oriente para as mudanças que virão com o processo de
digitalização da televisão.
Entretanto, convém lembrar, que com o aumento do espaço na TV 16x9, o
publicitário poderá contar com um espaço muito maior para trabalhar com a imagem,
um aumento do campo de visão do telespectador e, consequentemente da sua
3
Som surround poderá ser entendido, imaginando que sejam colocados ao redor de um ouvinte,
vários alto-falantes, para que o som venha de várias direções diferentes.
19
sensação de imersão, mas esse espaço deverá ser considerado com algum critério,
pois nas extremidades da tela não poderão estar os pontos principais da mensagem
que se pretende transmitir, já que se for transmitida para uma TV 4x3 terão essas
bordas excluídas, perdendo-se assim boa parte da mensagem. As ilustrações a
seguir demonstram as deformações nas imagens que podem ocorrer.
Figura 1- Imagens nas TV’s 4x3 e 16x9
Fonte: Moviola para Profissionais (2009)
Nessa ilustração, “Source” se refere à imagem real, “Native” é a reprodução dessa
imagem tal qual ela foi captada. “Letterboxed” se refere a uma imagem com as
faixas pretas, para respeitar, na tela 4X3, a proporção de altura da imagem
originalmente produzida para a tela 16X9, e “Squeezed” é a imagem espremida
para se ajustar ao tamanho da tela, o que a deforma completamente. O espaço
maior na tela permitirá também a transmissão de quatro canais simultaneamente ou
a exibição de quatro anúncios distintos, quatro espaços com os quais o publicitário
poderá contar, o que será benéfico para o anunciante, mas que exigirá da indústria
da propaganda uma adaptação. Pode-se imaginar a importância de quatro
comerciais sobre veículos da linha VW, por exemplo? Será exigida uma produção
mais aprimorada quanto ao cenário, figurino e maquiagem. A pós-produção deverá
contar com ferramentas de última geração para finalizar o produto, pois detalhes são
nitidamente captados com imagens digitais em televisores de alta definição. Com
anúncios publicitários interativos, serão oferecidos links em áreas isoladas das
imagens que podem ser acessados simultaneamente com a programação normal, e
esses links poderão ser salvos e acessados posteriormente, caso tenha interessado
ao visualizador. Acessando esses links, o anunciante terá como mensurar o número
de telespectadores que estão interagindo com o anúncio.
METODOLOGIA - Observou-se neste trabalho o método da pesquisa qualitativa
exploratória, utilizando-se de levantamento em materiais impressos e eletrônicos e
pesquisa com fontes primárias. Apesar do esforço realizado, conseguiu-se apenas
20
uma resposta de um especialista em tecnologia a distância. O grau de ocupação dos
integrantes da amostra não permitiu que muitos profissionais contatados
retornassem o questionário em tempo hábil. O único respondente havia sido
selecionado por conveniência, em função de contato profissional com a
pesquisadora, mas também por julgamento, em função de sua relevante atuação no
segmento. No período de 15 de abril a 20 de maio, foram enviados por e-mail 30
questionários a profissionais que atuam nas cidades de São Paulo e Bauru
envolvidas. Destes apenas 06 retornaram respondidos.
PESQUISA DE CAMPO – ESPECIALISTA EM TECNOLOGIA - Buscando conhecer
um pouco mais sobre a TV Digital, foi entrevistado o profissional Ethevaldo Siqueira.
Escritor, consultor e jornalista especializado em comunicações e em novas
tecnologias. É também colunista do jornal O Estado de São Paulo e acompanha
todo o processo de implantação da TV digital no Brasil. Sobre a Interatividade,
explicou que é a possibilidade de os telespectadores interagirem com a TV,
respondendo a pesquisas, fazendo compras de produtos exibidos em programas de
maior audiência (telenovelas, jogos de futebol, filmes de sucesso, etc.), usando para
isso o controle remoto. Dependerá de um software instalado no televisor e no
controle remoto, que fará a comunicação entre o telespectador e a emissora. O
nome comercial desse software no Brasil é Ginga, desenvolvido por um consórcio de
empresas e de pesquisadores das universidades brasileiras. Quando seus
responsáveis obtiverem todas as autorizações para uso de parte desse software
pertencente a entidades internacionais, o Ginga será oficializado pelo Ministério das
Comunicações e pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), para uso
em todo o País, e deverá começar a funcionar no Brasil em 2010. Quanto à
Mobilidade, é a possibilidade de recebermos as imagens da TV digital em celulares e
outros aparelhos móveis, como laptops, agendas eletrônicas, iPods etc. Sobre a
Portabilidade, esclareceu que é a possibilidade de vermos TV em diferentes
aparelhos – em computadores, laptops, PDAs (Personal Digital Assistants) em trens,
aviões, navios, etc. A Flexibilidade é a possibilidade de ter o máximo de aplicações e
serviços, tanto para as emissoras de TV quanto para as operadoras de celulares e
empresas de multimídia. A Multiprogramação proporcionará a transmissão de até 4
programas de TV digital no mesmo canal de freqüência. Esses canais digitais não
serão de alta definição, mas de definição padrão (Standard Definition). Sobre as
mudanças para as quais os publicitários deverão se preparar, Siqueira diz que o
potencial da nova tecnologia digital é desconhecido pela maioria das agências de
publicidade, mas menciona a necessidade de um cuidado especial, já que a TV
digital oferecerá imagens muito mais nítidas e pequenas falhas poderão ser
percebidas pelas câmeras. Explica ainda, que o Brasil vive um período de lenta
aprendizagem com a TV digital, e que o período de transição entre a TV analógica
(atual) e a TV digital (a nova tecnologia) será com certeza superior a 10 anos.
PROFISSIONAIS DO MERCADO DA COMUNICAÇÃO - Na sondagem realizada
coletou-se as opiniões de seis publicitários. Cinco deles atuam na cidade de Bauru e
um na cidade de São Paulo. Com a finalidade de conhecermos a realidade vivida
pelos publicitários diante do advento TV Digital, foi feito um questionamento
individual. Pode-se observar pelas respostas, que não importando onde estejam
alocados, os publicitários brasileiros ainda têm uma grande jornada a percorrer antes
de se sentirem prontos para publicidade na TV Digital. Ainda sentem a falta de
informações para tanto, a falta de um treinamento específico. Percebe-se ser quase
uma unanimidade a sensação de desconhecimento real sobre as possibilidades e o
21
funcionamento da nova tecnologia, apesar de já estar em funcionamento em
algumas cidades brasileiras.
Sobre o trabalho do publicitário, as mudanças substanciais que incidirão sobre as
suas criações para a TV digital, não há qualquer orientação. No que diz respeito à
publicidade, até o momento parece haver apenas a preocupação com os resultados
de vendas que se poderá atingir, o que pode ser verificado nas leituras feitas, dando
uma especial atenção à interatividade. ”Clicar” será a nova tendência. Mais uma vez
poderá ser feita a pergunta: Como estarão sendo apresentados os comerciais, pelas
emissoras das cidades onde essa nova tecnologia já está no ar?
CONCLUSÃO - Os dados levantados permitiram constatar que os publicitários ainda
não puderam contar com nenhum treinamento para desenvolver peças para
veiculação na TV Digital, e é no mercado americano que se pode buscar alguma
referência sobre o assunto. Perguntados se as suas agências já desenvolvem peças
para a veiculação em TV Digital, todos informaram que ainda não o fizeram, e
deixam claro a existência de dúvidas. Sobre a maneira como a mudança tecnológica
afetará o trabalho criativo, foi lembrada a interatividade com o telespectador, que
exigirá do publicitário um empenho muito maior em tornar a publicidade relevante, e
do ponto de vista de venda, muito mais agressiva. Quanto à motivação que a nova
tecnologia poderá agregar ao resultado que a publicidade poderá alcançar, todos
mencionaram o resultado prático, vendas, que esse trabalho objetivará, com
possibilidade de se mensurar os números provenientes da interatividade que está
sendo prometida.
Comentaram também sobre o desafio de se trabalhar as inúmeras opções, dirigindose de certa forma diretamente aos usuários que estiverem interessados em
determinado produto, afinal, ele estará com o controle remoto nas mãos, interagindo
e fazendo as suas escolhas. Tudo girará em torno do interesse do usuário. Muito
embora a TV Digital no Brasil tenha se tornado realidade em grandes cidades, o
contato com os profissionais demonstra que essa nova tecnologia ainda parece
fazer parte de um capítulo do livro de ficção científica “Admirável Mundo Novo”, que,
apesar de ter sido escrito por Aldous Huxley na década de 30, previa, por exemplo,
a obtenção de clones, fato que acabou por se tornar uma realidade. Da mesma
forma, com a mesma curiosidade e espanto que o livro causou na época, os
profissionais ainda entendem as mudanças, as adaptações que a publicidade
sofrerá com as exigências da TV Digital, como algo para um futuro distante. Tem-se
a impressão de que ainda não se movimentam, talvez por ainda não acreditarem
nessas mudanças, na direção desse novo formato. Ainda não se preparam para
adaptarem seus conhecimentos e experiência às exigências dessa nova maneira de
se fazer comerciais para a televisão. Obviamente isso acontecerá no momento em
que se sentirem diante da necessidade, mas deve-se confessar uma discreta
frustração, pois quando se determinou o início dessa pesquisa, pretendia-se
encontrar uma outra realidade. Um trabalho sendo feito e exemplos para serem
estudados. Talvez até profissionais com novas vivências para dividir. Todavia,
apesar dessa lacuna, a experiência trazida por esse estudo foi válida pelas
informações adquiridas sobre a TV Digital.
Conclui-se, no entanto, que a publicidade direcionada a esse novo veículo ainda
“engatinha”, sendo necessário que os profissionais se mantenham informados sobre
o assunto, acompanhando todas as novidades que venham a surgir.
22
REFERÊNCIAS
MATTOS, Sérgio. História da televisão digital: uma visão econômica, social e
política. Vozes: Petrópolis, 2002.
SAMPAIO, Rafael.Propaganda de A a Z. Elsevier: Rio de Janeiro, 2003.
SIQUEIRA, Ethevaldo. Para compreender o mundo digital. Globo: São Paulo,
2008.
23
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
REPRESENTAÇÃO CULTURAL DENTRO DA SOCIEDADE DIGITAL: A
UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS COMO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO1.
Vitor Pachioni Brumatti2
Palavras-chave: Representação cultural. Redes sociais. Internet. Comunicação.
INTRODUÇÃO – A globalização está cada vez mais inserida em nosso dia-a-dia,
fazer parte dela e de seus processos já não é mais uma opção e sim uma
necessidade. Uma necessidade de buscar informações e conteúdos, buscar
conhecimento e buscar também construir uma identidade cultural nessa nova
realidade de sociedade que nos é apresentada: a sociedade digital. O processo de
digitalização ou “virtualização” da sociedade tem um “veículo” que permite a
“circulação” da informação. Esse veículo é a internet, uma grande rede de
computadores conectados entre si que permite o envio e recebimento dos mais
diversos tipos de informação, sobre tudo que se possa imaginar. A internet também
permite que pessoas relacionem-se entre si, conheçam gostos, hábitos e costumes
umas das outras, o que possibilita uma aproximação significativa entre elas, essa
aproximação cria novos grupos, novas micro sociedades dentro de uma sociedade
muito maior. Compreender o que os indivíduos buscam, como o fazem e
principalmente qual a importância desse processo para cada um é muito mais
profundo do que simplesmente dados quantitativos sobre números de acessos a um
conteúdo específico. Pode mostrar também o que os indivíduos buscam em nossa
sociedade, porque precisam dessa informação e interação e o quão importante está
se tornando a participação cultural da internet dentro dos hábitos e costumes de
cada um.
RELEVÂNCIA – Mesmo com a característica global da sociedade digital, o indivíduo
produz e representa sua cultural em caráter regional. Sendo essa região aquela na
qual ele se identifica e encontra indivíduos similares. Entretanto um mesmo indivíduo
pode produzir e representar diversas formas culturais, desde que ele se identifique
com cada uma delas, reafirmando o contexto de multiplicidade dessa sociedade.
Será então a presença e representação humana na sociedade digital vinculada com
qual modelo? De fato criamos uma globalização cultural digital? Qual é o sentido
desta globalização cultural e quais seus interesses? Este estudo contribuiu muito
para o entendimento da participação do ser dentro de uma sociedade específica,
seus gostos, necessidades e anseios. Permitindo que fosse possível entender o que
e como cada ser busca informação, relaciona-se e produz seu conteúdo em um
ambiente dinâmico e altamente interativo.
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Publicitário com Especialização em Antropologia. Professor do Centro de Exatas e Sociais
Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected]
24
METODOLOGIA – Foi realizada uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório
dentro dos temas relevantes para o contexto do trabalho. Foi realizada também uma
análise sincrético-analítica-sintética da pesquisa realizada pelo Instituto Cultura
Data, disponibilizada via e-mail para o autor, buscando modelos e formas de
representação cultural do indivíduo dentro de uma sociedade digital.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – A explanação teórica
do trabalho passou por quatro tópicos principais, iniciando pela globalização,
posteriormente falando a respeito do virtual, em seguida abordando a internet e a
sociedade digital e por fim redes sociais e representação digital. Em todos os casos
não foi intuito realizar uma discussão sobre os temas, mas sim fazer uma
explanação com a finalidade de possibilitar uma compreensão dos mesmos. A
mesma linha de pensamento foi desenvolvida nesse resumo.
A respeito do tema globalização foram utilizados alguns textos pontuais, entre os
quais se destacam Moderno... (c1998-2008a), Globalização [2008?], Andrioli (2003),
Batista Junior (1998), Braga (2001), Beck (1997), Hirst e Thompson (1996) entre
outros que permitem compreender a globalização em seu conceito e brevemente um
contexto em que pode ser inserida e relacionada. Dessa forma foi possível
desenvolver uma compreensão por meio das idéias e conceitos apresentados,
desde a conceituação do termo globalização, presente no dicionário Moderno...
(c1998-2008a), até sua ampliação para um aspecto mais conceitual presente em
Globalização [2008?], Andrioli (2003), Batista Junior (1998) mostrando a proposta de
globalização como um processo que idealiza a integração de diversos países por
diferentes aspectos, com consequências diversas também que acabam por impactar
vários aspectos da sociedade, entre eles a cultura como identificou Andrioli (2003) e
que é o foco principal do trabalho.
Sobre o tema virtual também foram utilizados alguns autores para realizar essa
explanação, entre eles destacam-se Moderno... (c1998-2008b), Candido [200-?],
Lévy (1996), Martinez [200-], Deleuze (1996) entre outras colocações que
possibilitaram um entendimento a respeito do conceito de virtual e sua relação com a
sociedade. Com isso foi possível complementar a teorização iniciada no assunto
anterior iniciando também com uma explicação advinda do dicionário Moderno...
(c1998-2008b) passando por outras leituras principalmente Candido [200-?] que
aborda dois autores de renomes em seu texto Lévy (1996) e Deleuze (1996)
permitindo compreender o virtual enquanto possibilidade ou como Lévy (1996 apud
CANDIDO [200-?]) coloca como “potência” e sua relação com o real e o atual no
processo de oposição e complementação. Esse conceito também é abordado por
Martinez [200-] e permite assim ampliá-lo e complementá-lo. Outro ponto importante
trazido por Candido [200-?] foi a identificação da importância do processo de
comunicação como parte importante para a formação do que o autor intitula por
“comunidade virtual” que seria aprofundado nos tópicos seguintes.
Quando foi abordado o tema internet e a sociedade digital foram utilizados
principalmente os textos de Coutinho (2008), Galli (2002), em que Coutinho (2008)
traz informações a respeito da internet no Brasil em que fica evidente sua relevância
e importância na sociedade, enquanto que Galli (2002) desenvolve uma explicação
mais teórica ao relacionar a internet com a globalização, suas aplicações e efeitos
na sociedade, possibilitando inclusive identificar novas configurações de alguns
aspectos da sociedade, em específico quando se trata da utilização da internet como
meio de comunicação.
Já quando foi abordado o tema redes sociais e representação digital utilizou-se os
autores Coutinho (2006), Galli (2002) entre outros que possibilitaram complementar
25
essa discussão seguindo a estrutura do tópico anterior em que foi possível identificar
a relevância dos sites de relacionamentos de acordo com os dados apresentados
por Coutinho (2006) em que fica nítida a importância dos sites de relacionamento a
respeito da utilização da internet. Enquanto que Galli (2002) continua com sua
abordagem teórica e identifica como ocorre o processo de comunicação nesses
espaços e a participação dos emissores e receptores de forma dinâmica e interativa
dentro desses espaços comunicacionais. E Coutinho (2006) conclui que a internet e
seus ambientes acabam por proporcionar uma aproximação de acordo com os
interesses em comum dos indivíduos que interagem nesses ambientes.
No desenvolvimento da análise dos resultados da pesquisa realizada pelo Instituto
Cultura Data (INSTITUTO CULTURA DATA, 2008) foi possível perceber a
importância da internet e a identificação das suas principais utilizações por meio do
público pesquisado. Dessa forma, foi possível relacionar com os aspectos teóricos
estudados e assim compreender a participação dos indivíduos dentro da internet.
CONCLUSÃO – De acordo com os estudos realizados pode-se entender a presença
e representação cultural do ser humano dentro da sociedade digital como uma
participação ampla, em um primeiro momento ela é passiva, no sentido de busca e
recepção de informações que possibilite a identificação e construção de uma
identidade, que por vezes reflete e/ou amplia a cultura construída fora da sociedade
digital. Em um segundo momento ela tem uma utilização muito relacionada ao
processo de comunicação, em que os usuários utilizam-na para se comunicar e
trocar informações principalmente em sites de relacionamentos entre os próprios
usuários. O processo de produção cultural e as manifestações do homem ocorrem
através da busca por indivíduos que compartilham os mesmos interesses e
costumes, essa busca por afinidades resulta na criação de grupos e pequenas
comunidades que se relacionam dentro da discussão e troca de informações a
respeitos dessas afinidades. Esses sites, como foi visto tanto na parte teórica como
também na análise da pesquisa tem conquistado cada vez mais participantes e seu
crescimento tem chamado muita atenção. A dimensão da cultura está muito
relacionada com os gostos hábitos e costumes, as informações coletadas dentro
desse veículo de comunicação que é a internet alimenta esses hábitos e esses
aspectos ganham valor significativo dentro do que esses indivíduos entendem por
cultura, buscando se aprimorar e aprofundar cada vez mais nos conteúdos que os
inserem dentro dessas comunidades.
REFERÊNCIAS
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2009.
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27
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28
EIXO TEMÁTICO: RELAÇÕES PÚBLICAS E INFORMAÇÃO
29
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL SOB DIFERENTES ÓTICAS – PSICOLÓGICA,
SOCIAL E ECONÔMICA1. Lívia Ikeda Martins2
Palavras-chave: Crise. Crédito imobiliário. Capitalismo. Mercado de imóveis.
Assédio moral. Desemprego.
INTRODUÇÃO - A Crise Financeira Mundial, que se alastrou no segundo semestre
do ano de 2008 provocando uma derrocada nas bolsas, bancos e economias
mundiais, balançando-as e tirando-as da estabilidade, colocou em xeque o próprio
sistema capitalista. Provocou uma queda no consumo e fez com que trabalhadores
de todo o mundo ficassem com medo de perder seus empregos. No contexto
brasileiro, os bancos recuaram em relação ao crédito porque houve um aumento da
inadimplência, deixando assim, o país dentro de um ciclo vicioso, sofrendo impacto
sobre sua economia. Isto posto, neste artigo apresentam-se os principais aspectos
e fundamentos desse processo, cujas informações foram obtidas por meio de
pesquisa bibliográfica e de entrevistas4.
RELEVÂNCIA – Trata-se de um tema atual e de interesse daqueles que estudam os
diferentes aspectos que interferem no cotidiano da sociedade. Pesquisar e refletir
sobre as interfaces desse tema possibilitou atualização e enriquecimento pessoal e
acadêmico.
METODOLOGIA – Para desenvolvimento do estudo desenvolveu-se pesquisa
bibliográfica e trabalho de campo. Optou-se, nesse sentido, pela pesquisa
qualitativa, por intermédio da técnica de “entrevista em profundidade”. Escolheu-se
os informantes com formação nas áreas de advocacia, medicina veterinária,
administração, geopolítica, relações publicas, teologia, antropologia e análise de
sistemas. As entrevistas foram realizadas entre a primeira e a segunda quinzena de
maio de 2009, após o agendamento prévio de data e horário, além do envio de
material de apoio aos entrevistados, assim como do roteiro de questões e um breve
texto com explicações sobre o tema, para que os participantes tivessem
conhecimento dos assuntos abordados durante as entrevistas.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – Primeiramente
considera-se importante apresentar alguns pressupostos sobre o tema e após os
principais resultados do trabalho de campo. De acordo com Steinbruch (2009, p.
C6), “uma das características mais marcantes da atual crise é a inversão ideológica
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Aluna de graduação em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas – Universidade
Sagrado Coração – E-mail:[email protected]. Trabalho elaborado sob orientação da
Profa. Dra. Sonia Aparecida Cabestré.
4
A elaboração do projeto de pesquisa de opinião, realização das entrevistas e formatação do relatório
de pesquisa foi desenvolvida em conjunto com a aluna Juliana Abss.
30
que ela provocou. A primeira, sobre a intervenção estatal na economia, que,
esquecida durante décadas, voltou a ser abertamente recomendada, não apenas
para investimentos públicos mas também para salvar da falência instituições
financeiras e empresas industriais. A segunda, sobre a globalização, tão exaltada
como qualidade indispensável, que passou a ser indicador de risco para as grandes
companhias. De fato, pelo menos até agora, os maiores perdedores na atual crise
são países cuja economia se mostra mais dependente do comércio global, incluindo
o Brasil.” O mercado de imóveis começou a sofrer com seus preços caindo na
inadimplência de mutuários, quando a taxa de juros subiu de 1% a 5,35%, entre
2004 e 2006, segundo os grandes economistas. De acordo com Kristina Gomes
(2009), “o mercado imobiliário viu que o financiamento era uma boa maneira de
ganhar dianheiro e, em 2003, houve um aumento na procura pelo crédito, já que os
juros no setor chegou a 1% ao ano, o menor em 50 anos nos EUA.”. Deu-se a
queda global em março de 2007, com a aplicação da crise do subprime, que seriam
os empréstimos imobiliários, disponibilizados às pessoas, empresas e bancos, com
histórico de inadimplência, que emprestam dinheiro antes mesmo de pagar suas
dívidas. As financeiras americanas passaram a confiar de modo excessivo em
pessoas que não tinham um bom histórico em pagamentos de dívidas. Na tentativa
de recuperar as perdas, os juros subiram acima da capacidade de pagamentos e os
valores acima do real valor dos imóveis, gerando desemprego e descontentação por
todo o planeta. No Brasil, tivemos efeitos positivos e negativos dessa realidade.
Mesmo com a crise, o nosso país ainda lidera o ranking de maior exportador de
alimentos do mundo; coexistindo com tal estimativa, uma explicação lógica para
isso: as pessoas não deixarão de comer. Portanto, ainda que se verifique uma
redução nas cotações das mercadorias exportadas pelo país, a venda de comida
(soja e carne, principalmente) trará neste ano pelo menos 50 bilhões de dólares em
divisas para o país. Quanto ao desemprego, o Brasil aparece com destaque entre os
países que têm tido altos índices de demissões e, somente em dezembro, o país
perdeu 654 mil postos de trabalho, superior até mesmo que as demissões nos EUA
neste mesmo mês. Sob um contexto social e psicológico, grande parte dos
advogados afirma que a pressão para melhorar os resultados diante dos efeitos da
crise mundial se dissemina e coloca cada vez mais trabalhadores em situações de
possível assédio moral, que seria um conjunto de condutas agressivas, frequentes e
intencionais, que atingem a dignindade da pessoa, resultando em humilhação e
sofrimento. Nesses tempos de instabilidade econômica, o trabalhador, infelizmente,
está sujeito a situações como essa, que denigrem a sua estabilidade mental,
deixando-o inativo quanto a sua produção. De acordo com o Presidente do Fundo
Monetário Intenacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, o término da crise financeira
ainda está distante e, apesar do surgimento de índices de recuperação, a economia
global enfrentará a pressão de longo prazo. Segundo ele, o período de recessão
será sentido durante um tempo, ainda que diversos países tenham adotado medidas
para incentivar a economia. Ele reiteirou que se forem adotadas políticas corretas e
reforçada a administração financeira, a economia mundial poderá experimentar
revitalização no primeiro semestre de 2010. No que concerne aos resultados do
trabalho de campo – entrevistas realizadas com os profissionais escolhidos
previamente, priorizou-se dar ênfase aos principais motivos do início da crise
econômica e as conseqüências em vários países do mundo, assim como no Brasil.
Dessa forma, destacam-se temas dentro do cotidiano do trabalhador brasileiro, bem
como as economias mais afetadas e o seu reflexo nos diferentes setores do Brasil.
Os entrevistados manifestaram-se sobre o sistema capitalista e a relação deste com
31
a globalização e o atual contexto de crise: as respostas foram relevantes e a maioria
dos entrevistados respondeu com estilos de raciocínio parecidos; diferentemente de
outras questões, como a que abordou sobre a relação da crise com a mídia. Dois
dos entrevistados tiveram opiniões diferenciadas; um deles ressaltou que a mídia
tenta mostrar à população que a crise já passou, mas que isso não é o que acontece
que ela ainda está forte diante do mercado e da população; já o segundo observou
que a mídia está criando uma onda de medo nas pessoas, pois está a favor do
capital, mas que a crise é setorizada, que alguns segmentos não sofreram
diretamente com suas consequências. Nesse sentido, vale ressaltar a importância
deste trabalho de teoria e pesquisa, pois foi extremamente importante a opinião dos
profissionais entrevistados, por ter nos possibilitado desenvolver de forma coerente
este tema totalmente intrínseco ao nosso cotidiano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - Através desta pesquisa, especificamente das
informações coletadas com profissionais de diversas áreas de formação, nos foi
permitido identificar os principais motivos da crise e o comportamento da sociedade
diante deste período de instabilidade econômica, tendo em foco o sistema
capitalista, o qual trouxe um grande acúmulo de riquezas e certo contraste social,
que hoje, está em questionamento. Diante dos dados obtidos, pudemos confirmar
nossas hipóteses as quais se basearam na mudança do comportamento profissional
e social da população. Também foram concretizados nossos objetivos, indo do início
da crise econômica até as visões mercadológicas diante de um futuro próximo. Foi,
para nós, estudantes de Comunicação Social com Habilitação e Relações Públicas,
muito gratificante poder estudar um assunto tão marcante e instigante como este,
que nos afetou e continua afetando em todos os âmbitos, social, psicológico,
econômico e político. Mesmo o Brasil sendo um país não tão afetado quanto os
outros, como os Estados Unidos e a Europa, também sofreu em grande proporção,
desde assédios morais e demissões, até nos preços e condições favoráveis de
pagamento de produtos em geral, deixando nossos conterrâneos em total alerta.
REFERÊNCIAS
CHINA, Rádio Internacional online. Presidente do FMI: término da crise financeira
ainda está distante. Disponível em: <http://portuguese.cri.cn/index.htm>. Acesso em:
13 ago 2009.
FUCS, José. Como o Brasil pode reagir à crise. Revista Época, São Paulo, n. 564, 7
de mar. de 2009.
HELOANI, Roberto. Demissões atingirão 230 milhões em todo o mundo.
Disponível em: <www..folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2009.
ROLLI, Claudia; FERNANDES, Fátima. Casos de assédio moral crescem na crise.
Jornal Folha de São Paulo, São Paulo. 2009. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u538937.shtml. Acesso em: 23 mar.
2009.
32
STEINBRUCH, Benjamin. O Mundo será menos desigual se as economias
desenvolvidas olharem com generosidade para os países mais pobres. Jornal Folha
de São Paulo, São Paulo, 3 de mar. 2009. Caderno Oportunidades.
33
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
COMUNICAÇÃO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
CONTEMPORÂNEAS – DIFERENCIAIS DE DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO1.
Sonia Aparecida Cabestré2, Regina Célia Baptista Belluzzo3
Palavras-chave: Comunicação. Gestão da informação. Gestão do conhecimento.
INTRODUÇÃO - No atual contexto defrontamo-nos novamente com a necessidade
de reinventar a vivência em sociedade. Aparecem novos estilos e ciclos de vida. Os
sistemas produtivos transformam-se. Há um reconhecimento mundial que a
inteligência representa um elemento cada vez mais importante em todas as áreas de
atuação do ser humano. A capacidade de inovação não se situa mais como
prioridade no potencial organizacional, mas sim no investimento constituído pelas
competências. Em face do exposto, busca-se com esta produção apresentar e
refletir sobre os principais aspectos que compõem e interagem no processo de
recepção e difusão da informação e no seu uso inteligente no contexto da
comunicação organizacional.
RELEVÂNCIA – Pesquisar e refletir sobre os processos de gestão da comunicação,
da informação e do conhecimento é condição sine qua non no cotidiano dos
profissionais que atuam como educadores na graduação em comunicação e que, ao
mesmo tempo, vivenciam outras experiências nos diferentes ambientes
organizacionais da sociedade. Dada a importância desses processos, tal estudo
torna-se relevante na medida em que possibilita ao pesquisador aprofundar-se e
buscar as condições adequadas para socializar o conhecimento e ampliar o leque de
relacionamentos.
METODOLOGIA – Desenvolveu-se pesquisa bibliográfica junto à literatura e em
artigos científicos disponibilizados na Internet com o intuito de identificar, selecionar
e analisar produções de autores que têm realizado estudos significativos sobre
gestão da informação e do conhecimento e comunicação organizacional. Da
literatura e dos textos selecionados pode-se extrair os fundamentos e aspectos mais
importantes sobre o tema, o que possibilitou refletir e analisar a respeito das
informações pertinentes e consideradas importantes para esta produção.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – Por se tratar de um
estudo com ênfase em gestão da informação e do conhecimento e comunicação
organizacional priorizou-se destacar os fundamentos e aspectos que caracterizam e
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Relações Públicas com Doutorado em Educação – Ensino na Educação Brasileira pela
UNESP/Marília. Professora do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas e do Curso de Pós-Graduação
em Comunicação nas Organizações – Universidade Sagrado Coração – E-mail:
[email protected].
3
Formação em Biblioteconomia e Doutorado em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. É docente
do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática – FAAC-UNESP-Bauru e Consultora em
Projetos de Gestão da Informação e do Conhecimento. Email: [email protected]
34
valorizam esses processos. Primeiramente é importante ressaltar que, na atual
economia, o único paradigma permanente é a mudança. Entretanto, as pessoas
constituem o primeiro elemento da mudança e precisam saber a sua razão. É
importante que estejam informadas sobre as condições e ambiência do seu
desempenho nesse processo. Certamente, que a tecnologia é um outro fator chave
para o desenvolvimento do talento humano, ainda que a velocidade no ritmo de
mudança tecnológica altere, com relativa agilidade, a vigência das competências
técnicas, pessoais, profissionais e sociais das pessoas e o fluxo do conhecimento
na sociedade atual (BARRETO, 1998). Na opinião de Moraes (2004), entretanto,
quem assumiu a dianteira no processo de globalização foi a informação. Deve-se
esclarecer que, como todo conceito imperfeitamente definido, globalização significa
coisas distintas. Pode-se, no entanto, perceber quatro linhas básicas de
interpretação desse fenômeno: como uma época histórica; como um fenômeno
sociológico de compressão do espaço e tempo; como hegemonia dos valores
liberais; e, como fenômeno sócio-econômico (PRADO, 2006). Na área de
comunicação, por exemplo, a própria noção de informação não corresponde mais à
simples idéia de notícia e incorpora várias concepções: informação de base (bancos
de dados, acervos digitais, arquivos multimídias), informação cultural (filmes, vídeos,
jornais, programas televisivos, livros etc.) e know-how (invenções, patentes,
protótipos etc.). Cada vez mais, a produtividade e a competitividade das
organizações dependem da capacidade dos agentes econômicos de aplicar de
modo eficiente informações baseadas em conhecimento. A disponibilidade de dados
em tempo real, de modo instantâneo e à medida da necessidade das pessoas,
passa a ser um elemento-chave para a diminuição do prazo de resposta de
investidores e especuladores diante da variação dos mercados globalizados. A
explosão do conhecimento e o ritmo acelerado das mudanças sociais estão exigindo
respostas ágeis e sem precedentes na história das organizações. Assim, prosperar é
empreender saltos significativos em competitividade. Para tanto, certamente há um
único caminho alternativo: pessoas e organizações devem aprender mais
rapidamente. Os princípios e conceitos que procuram explicar a informação têm
apresentado, em geral, o seu elo com a produção do conhecimento, uma vez que a
associam ao desenvolvimento e à liberdade individual, aos grupos de convivência e
à sociedade como um todo. “A informação, quando adequadamente assimilada,
produz conhecimento, modifica o estoque mental de informações do indivíduo e traz
benefícios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da sociedade em que ele
vive” (BARRETO, 1994, p. 1). A questão central na sociedade contemporânea não é
mais apenas o acesso à informação, mas o uso e a utilidade da informação para
fazer o quê? Como questionar essa informação onipresente, principalmente nos
processos comunicacionais? Isto porque saber questionar um estoque de
informações requer previamente uma competência, existindo uma estreita
especialização para que a troca de informações seja possível com as facilidades de
acesso e da mídia. Entretanto, é importante ressaltar, também, que as TIC por si só
não criam uma nova cultura ou novos saberes, isto porque dependem sempre de
culturas e de saberes anteriores. Por que precisamos de instrumentos para acessar
e usar a informação com sentido e significado e, a partir daí, estarmos criando o
conhecimento novo nas organizações? Enquanto seres humanos, somos detentores
de algumas capacidades que, se por um lado nos permitem fazer o que fazemos,
por outro também implicam em limites para essas mesmas coisas que fazemos.
Além da dificuldade de pensarmos conhecimento por meio de disciplinas e da
dificuldade crescente de dividi-lo em espaços de informações estanques e inseridos
35
em princípios de linearidade, existe até mesmo consenso de que, desde o final do
século XX, ocorreram profundas transformações nos modos de produção e,
especialmente, nos modos de produção do conhecimento e de sua difusão. As redes
de trabalho, a globalização, a necessidade de maximização de recursos, processos
e serviços, a busca pela lucratividade por intermédio da inovação tecnológica, enfim,
são questões que têm afetado os ambientes organizacionais, não só em seu
compromisso com a sociedade, mas no âmbito de sua essência (GALVÃO;
BORGES, 2000). Em um mundo onde há tanta informação e pouca sabedoria,
também faz parte do kit de sobrevivência a capacidade de usar bem a informação e
de estabelecer a sua utilidade, selecionando o que é importante para a tomada de
decisões, em especial, nos contextos organizacionais. Certamente, vivemos a Era
da Inteligência Conectada que, segundo Cebrián (1998, p. 18) “não se trata
simplesmente da interconexão de tecnologias e, sim, da interconexão de seres
humanos pela tecnologia. Não se trata de uma era das máquinas inteligentes, mas
de seres humanos que, pelas redes podem combinar sua inteligência, seu
conhecimento e sua criatividade para avançar na criação de riqueza e
desenvolvimento social. Não se trata apenas de uma era de conexão de
computadores, mas de interconexão da inteligência humana”. Além disso, a
informação coletada necessita de organização para que possa ser analisada,
categorizada, para que depois seja recuperada e utilizada adequadamente. A
organização da informação baseia-se na interpretação, comparação e na síntese, o
que significa uma reestruturação da mesma segundo as ênfases e focos de atenção
determinados pela investigação e sua contextualização, de modo a fazer sentido:
estes são os primeiros passos para a construção do conhecimento nas
organizações. A construção de redes de significados, a partir do que as pessoas
ouvem, lêem e refletem, constitui uma estrutura de aprendizado que leva à formação
da inteligência. Os processos que envolvem a competência em informação objetivam
a construção do conhecimento em ambientes organizacionais, com o uso inteligente
de informações geradas, de modo que possam ser difundidas a outras pessoas
mediante diferentes processos comunicacionais. Isso implica no domínio de
instrumentos, técnicas e habilidades de comunicação, oral ou escrita, podendo
envolver desde o uso de comunicação interpessoal até os aplicativos e linguagens
de informática. O usuário / receptor passa a ser um conhecedor de como o
conhecimento está organizado, como buscar a informação, como usá-la de modo
inteligente e como proceder ao processo de comunicação do conhecimento gerado.
No contexto da construção do conhecimento nas organizações, portanto, destaca-se
o seu processo de socialização. De acordo com Teixeira; Brandão (2006, p.2), “a
sociedade da informação configura-se como um ambiente potencializado pelo
advento das novas tecnologias e que tem como uma de suas principais
características o valor crescente do conhecimento para o desenvolvimento humano
e social de indivíduos e grupos”. Sob esse aspecto e, se considerarmos que todo
ator social tem direito à informação, pode-se inferir que, por intermédio desse
processo, os responsáveis pela geração e difusão de informações em ambientes
organizacionais, ao utilizarem de forma adequada os recursos tecnológicos estariam
cumprindo seu papel social. É importante ressaltar também, que o processo de
globalização possibilitou a criação de novos mecanismos de relacionamento no
contexto social; nesse sentido, e apoiando-se nas reflexões de Teixeira; Brandão
(2006, p. 2), pode-se afirmar que “o papel de destaque das novas tecnologias de
informação e comunicação (TIC) na sociedade atual é atribuído principalmente à
valorização da informação”. Todo processo decisório, seja no âmbito das
36
organizações e/ou instituições, seja na ambiência de pesquisa do indivíduo, é
definido em função da valoração dada à informação. “Tudo aquilo que potencialize o
seu manuseio representa um elemento importante nesse processo, no qual a
informação emerge como matéria-prima e a tecnologia como um meio de agir sobre
ela. Nesse sentido, é possível apontar tais tecnologias como as principais
propulsoras e mantenedoras da atual sociedade” (TEIXEIRA; BRANDÃO, 2006, p.
2). Não se pode negar o papel representado pelas tecnologias interativas, uma vez
que através de sua utilização disponibilizam informações de e para diferentes áreas
e setores nas organizações. Ressalta-se, de acordo com os estudiosos
mencionados, que uma das principais características das TIC é a de diminuírem a
“distância” entre o ser humano e aquilo que lhe pode ser extremamente valioso: a
informação. O fato de as pessoas vivenciarem cenários diferentes e desenvolverem
atividades diversas no seu cotidiano, impossibilitando a realização e/ou efetivação
de compromissos por intermédio da comunicação face a face, fez da Internet um
canal bastante utilizado, otimizando os relacionamentos, sejam de caráter
profissional e/ou pessoal. Nesse sentido, Teixeira; Brandão (2006, p. 4) afirmam a
existência da possibilidade de interação, de comunicação entre indivíduos e grupos
e da troca de informações entre eles, permitindo a construção e socialização do
conhecimento. O surgimento da organização em rede, a divisão internacional do
trabalho e a necessidade cada vez maior da utilização informatizada da informação
redefinem as instituições e as organizações da economia informacional no cenário
contemporâneo, criando uma nova cultura. Este universo de redes digitais e seus
suportes originais de informação produzem modificações dos laços sociais, dando
origem a processos flexíveis e novas redes de produção nas organizações (LÉVY
1994 apud BRENNAND, 2008, p. 1). Isto posto, é importante destacar, segundo
Belluzzo (2007), que no contexto da sociedade contemporânea as organizações
competitivas devem considerar nos processos decisórios a coexistência dos
seguintes cenários: a)sociedade da informação – caracterizada pelo
desenvolvimento e a utilização das TIC e por uma velocidade assegurada pelo
processamento e recuperação da informação; b) sociedade do conhecimento –
caracterizada pelo desenvolvimento das TIC e do valor agregado à informação, onde
o foco é a pessoa e suas relações com a informação; c)sociedade da aprendizagem
– expressada por meio de uma evolução natural dos conceitos anteriores e com
ênfase à importância do sujeito como um ator social. Dessa maneira, pode-se dizer
que, na atualidade o conhecimento é o principal fator de inovação disponível ao ser
humano. Não é apenas um recurso renovável – é um processo dinâmico que
acompanha a vida humana, requerendo a criação de ambiência de comunicação e
compartilhamento de informação in continuum nas organizações.
CONCLUSÃO - Tanto a busca como a sistematização de informações sobre o tema,
possibilitaram às autoras estabelecer parâmetros para algumas reflexões sobre o
processo de gestão da informação e de construção do conhecimento no cotidiano
das organizações contemporâneas. Desse modo, considera-se que a informação é o
resultado de pesquisa sobre um conjunto de dados, seguido de uma análise e
explicitado como mensagem significativa e contextualizada. Enquanto que o
conhecimento reflete estados mentais que estão em constante transformação, cujos
processos associados às articulações são inerentes à mente humana e seu saber.
Sob essa ótica, acredita-se que a construção do conhecimento deve levar em conta
que o aprendizado, em qualquer circunstância, está centrado nas pessoas que
aprendem, onde a pesquisa é o foco central, a solução de problemas é objeto de
atenção primária e o pensamento crítico forma parte de todo o processo. Esse
37
deverá ser o norteador principal das organizações contemporâneas. Destaca-se,
nesse sentido, que o processo de interação entre os indivíduos no cotidiano
organizacional e uma determinada estrutura de informação propiciam uma
modificação em seu estado cognitivo, produzindo conhecimento. Esta relação só
acontece se a informação é percebida e aceita como tal. Por sua vez, no processo
de interação, pode-se observar a importância dada aos atos comunicativos. Ela se
revela tanto como forma de disseminação dos pressupostos e valores culturais,
indispensáveis ao processo de mudança cultural; mas também no compartilhamento
em si, determinado principalmente pela incidência de contatos diretos e pela
utilização de uma linguagem comum. Na criação, no aprendizado e no
compartilhamento, a comunicação está principalmente relacionada às transações e
trocas humanas, as quais permitem que novos conhecimentos sejam desenvolvidos,
adquiridos, transmitidos, questionados, enfim, é um processo de aprendizagem
contínua, que necessita da interação. O conhecimento organizacional deve ser
construído a partir do conhecimento de cada um. É preciso, nesse sentido, que as
pessoas sejam capacitadas para “saber buscar”; “saber analisar” e “saber aplicar” - a
comunicação exerce papel fundamental nesse processo.
REFERÊNCIAS
BARRETO, A. de A. A questão da informação. São Paulo em Perspectiva,
Fundação Seade, v. 8,n. 4, p.1-10, 1994.
BARRETO, A. de A. Mudança estrutural no fluxo do conhecimento: a comunicação
eletrônica. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 2, p.122-127, maio/ago. 1998.
BELLUZZO, R.C.B. Construção de mapas: desenvolvendo competência em
informação e comunicação. 2. ed. Bauru: Cá entre Nós, 2007.
BRENNAND, E. G. de G. Ciberespaço e educação: navegando na construção da
inteligência coletiva. Disponível em:<
www.informacaoesociedade.ufpb.br/1110108.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2008.
CEBRIÁN, J. La red. 3.ed. 1998. Disponível em:
<http://www.links.org.ar/infoteca/ctccomopuentessi.pdf>. Acesso em: 20 jan.2008.
GALVÃO, M.C.B; BORGES, P.C.R. Ciência da Informação: ciência recursiva no
contexto da sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v.29, n.3,
p.40-49, set./dez. 2000.
PRADO, L.C.D. Globalização: notas sobre um conceito controverso. Disponível em:
<http://www.redem.buap.mx/word/2001luis.doc>. Acesso em: 20 abr.2006.
38
TEIXEIRA, A. C.e BRANDÃO, E.J. R. Internet e democratização do
conhecimento: repensando o processo de exclusão social. Disponível em:
<www.cinted.ufrgs.br/renote/ fev2003/artigos/adriano_internet.pdf>. Acesso em: 15
abr. 2006.
39
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
EMPREENDEDORISMO EM RELAÇÕES PÚBLICAS1. Pedro Polesel Filho2
Palavras-chave: Empreendedorismo. Liderança. Relações públicas.
INTRODUÇÃO – A busca por soluções inovadoras é muito valorizada na sociedade
em que vivemos, pois é da ação do indivíduo que surgem as novas idéias e as
conquistas. Para as organizações, os elementos que atuam de maneira a buscar
soluções inovadoras para produtos e serviços, são essenciais para a sua
sobrevivência. Na comunicação, encontrar tais soluções para a gestão da
informação é uma dos objetivos e desafios da comunicação, agora vista como
estratégica para o desenvolvimento da organização. Assim, o profissional de
relações públicas deve aprimorar as suas habilidades e competências para se
destacar entre tantos profissionais. Para tanto, conhecer e desenvolver a vocação
empreendedora tem se mostrado de fundamental importância para o profissional que
procura liderar os processos de comunicação e os indivíduos que colaboram para
que a organização se destaque em um ambiente tão competitivo.
RELEVÂNCIA – Refletir sobre os desafios que o mercado apresenta para os
profissionais de relações públicas e o papel do empreendedorismo nas atividades de
comunicação para o desenvolvimento das organizações.
METODOLOGIA – Através da revisão da literatura sobre o tema, foram identificados
e selecionados autores que têm realizado estudos significativos sobre
empreendedorismo e relações públicas. Dos textos selecionados foram extraídos os
aspectos mais importantes sobre a temática, o que possibilitou refletir e analisar as
informações pertinentes e consideradas importantes para essa produção.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - O que podemos
entender por empreendedorismo? Segundo Dornellas (2008, p. 22), “é o
envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam a transformação de
idéias em oportunidades.” Essa definição é bastante ampla e atual. Engloba tanto
procedimentos de gestão quanto o desenvolvimento de produtos. Nesse sentido, o
empreendedor transforma a situação comum em uma oportunidade excepcional
(GERBER, 2004, p.15). Para outros autores, o empreendedorismo tem um caráter
subversivo, pois “o empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente
pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de
organização ou pela exploração de novos recursos e materiais.” (SCHUMPETER,
1949 apud BOM ANGELO, 2003 p. 27).
Características fundamentais da vocação empreendedora:
 Vontade e habilidade para criar algo absolutamente inédito e que possa
melhorar as condições de vida da família, da empresa, da comunidade local
ou da raça humana.
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Relações Públicas com Mestrado em Comunicação Midiática. Professor do Centro de Exatas e
Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected]
40
 Capacidade de encontrar novas utilidades para velhas idéias. O objeto dessa
ação de reciclagem deve resultar em benefício coletivo.
 Talento para melhorar a eficiência de um sistema, processo ou produto,
tornando-o mais econômico, acessível e tecnicamente superior.
Em termos de comunicação, a vocação empreendedora surge da observação das
características da organização, dos seus públicos e das estratégias de
relacionamento. Por exemplo, um jornal mural pode ser transformado em um jornal
mural digital (REVISTA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL, 2006, p. 17), para realizar
uma comunicação em tempo real, fazer a convergência de mídias e despertar a
curiosidade do receptor.
O relações-públicas deve estar atento as idéias e oportunidades para adaptar e
melhorar as atividades de comunicação.
De onde os empreendedores tiram suas idéias? Segundo Chér (2008, p. 39), as
fontes de inspiração são:
 Cópia ou modificação de uma idéia encontrada em um emprego
anterior (71%)
 Descobertas por acaso (20%)
 Descoberta na onda da revolução de TI (5%)
 Pesquisa sistemática em busca de oportunidade (4%)
Podemos perceber que o ambiente organizacional é a principal fonte geradora de
idéias empreendedoras. O setor de comunicação pode estimular, através de
veículos de comunicação e campanhas, a geração e aproveitamento dessas
informações. As idéias empreendedoras e as oportunidades estão fora da Zona de
Conforto, ou seja, quando os indivíduos estão satisfeitos com os resultados que
estão atingindo. A organização deve estimular a criatividade e a participação através
de desafios e metas. O relações-públicas, como empreendedor interno, busca
soluções de comunicação inovadoras e procura alinhar a política de comunicação à
política de negócios. Para tanto, adota o planejamento e a administração
estratégicos. Fora da empresa, a consultoria é o meio do profissional de relações
públicas buscar o seu espaço no mercado. Os clientes têm problemas de
comunicação que necessitam de um profissional especializado para resolvê-los. A
iniciativa do profissional é procurar as empresas para mostrar o seu trabalho e como
a comunicação atende as necessidades que o cliente precisa, mas não sabe da sua
existência.
CONCLUSÃO - A comunicação é o elemento de ligação entre os indivíduos de uma
organização. Buscar a valorização de idéias e processos que melhorem as relações
humanas, o desenvolvimento de produtos e serviços, e a sistematização de
informações que efetivamente contribuam para as organizações, passou a ser o
desafio das assessorias de comunicação. O profissional de relações públicas pode
optar por atuar internamente nas organizações para atingir esses objetivos ou pode,
externamente, como consultor, desenvolver projetos que contribuam para aumentar
a visibilidade e credibilidade das organizações.
REFERÊNCIAS
BOM ANGELO, Eduardo. Empreendedor corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier,
2003.
41
CHÉR, Rogério. Empreendedorismo na veia: um aprendizado constante. Rio de
Janeiro: Elsevier / SEBRAE, 2008.
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em
negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
GERBER, Michael E. Empreender: fazendo a diferença. São Paulo: Editora
Fundamento Educacional, 2004.
REVISTA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL, São Paulo, n. 59, jun. 2006.
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1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
RESPONSABILIDADE SOCIAL: DESAFIO EMPRESARIAL, ESTRATÉGIA E
COMPROMISSO ÉTICO1. Débora Seno Errera2, Fábio José de Souza3 , Thalita
Maria Mancoso Mantovani e Souza5
Palavras-chave: Responsabilidade social. Marketing social. Ética.
INTRODUÇÃO - A sociedade brasileira tem enfrentado situações que a modificam
constantemente, precisando adaptar-se aos padrões impostos pelo próprio
desenvolvimento do país e muitas vezes, pelas mídias. Algumas iniciativas dos
governos nas instâncias federal, estadual e municipal, como por exemplo, a
realização de projetos ou programas para suprirem a carência social e econômica da
população, ainda estão longe de alcançarem um resultado positivo por completo.
Por isso, tem papel relevante e essencial a atuação de pequenas, médias e grandes
organizações (ou associações) que buscam o desenvolvimento contínuo da
sociedade, com investimentos consideráveis em projetos voltados ao bem-estar
humano e social, inclusive com a preservação e conservação do meio ambiente
natural. Este cenário é o que chamamos de responsabilidade social, ou terceiro
setor, que consiste na ação de uma empresa em prol da cidadania (MELO NETO;
FROES, 2001). Neste sentido, este estudo apresenta a importância das práticas de
responsabilidade social como uma estratégia para o marketing social das empresas.
RELEVÂNCIA DO ASSUNTO - No mercado globalizado, com acirrada concorrência,
as empresas devem ter, dentre outras preocupações, um lucro estimado que
sobreponha seus gastos para sobreviverem. Hoje, também é necessário anexar ao
mundo corporativo as condutas éticas, o comprometimento social cidadão com as
comunidades, o respeito ao meio ambiente natural, mas, acima de tudo, tornar
público estas ações, divulgando e disseminando a responsabilidade social praticada
pelas organizações através do marketing social. Com esta dimensão, as empresas
podem obter um diferencial estratégico de sucesso e, aliado à ética, conseguirem
estabelecer uma relação de confiança e zelo com seus colaboradores, clientes,
fornecedores, sociedade e natureza.
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade
Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] ou [email protected]
3
Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC).
Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito. Especialista em Formação de Educadores
em Turismo. Advogado. E-mail: [email protected]
5
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em
Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail:
[email protected]
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Desta forma, o presente estudo se justifica por abordar um tema necessário às
empresas, por ser uma vantagem competitiva de mercado e à sociedade, por
proporcionar melhores condições de vida para o ser humano.
METODOLOGIA - O levantamento das informações aqui presentes foi realizado por
uma pesquisa bibliográfica, com a consulta em livros, periódicos, artigos científicos e
documentos eletrônicos envolvendo os assuntos de responsabilidade social,
marketing social e ética profissional. Após a leitura, aplicou-se o método analíticosintético, o qual permite obter análises e reflexões mais aprofundadas dos materiais
consultados. Os materiais estão disponíveis em bibliotecas e compõem o acervo dos
autores.
RESULTADOS/DISCUSSÕES - A origem da palavra marketing é do inglês market,
que significa mercado. O marketing, em linhas gerais, segundo Dias (2003, p. 2)
consiste na “função empresarial que cria valor para o cliente, e gera vantagem
competitiva duradoura para a empresa, através de estratégias das variáveis
controláveis de marketing: produto, preço, praça e promoção”. Para Kotler;
Armstrong (1993, p. 2) o marketing é um “processo social e gerencial pelo qual
indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação da oferta
e troca de produtos de valor com outros”. Estas e todas as demais definições de
marketing têm como fundamento a relação de troca entre empresa e cliente
utilizando técnicas de vendas de bens e oferecimento de serviços voltados às
exigências dos consumidores ou encantá-los, bem como para intervir em tendências.
Nesta linha de raciocínio, o marketing social corresponde a uma das estratégias
mercadológicas mais utilizadas na atualidade, com a finalidade de estabelecer uma
interação positiva entre a empresa e a sociedade. O marketing social, portanto, é o
“uso de técnicas e ferramentas do marketing tradicional, para promover a adoção de
comportamento que desenvolverá a saúde e o bem-estar de um público alvo
específico ou da sociedade como um todo” (SINA, 1999, p. 28). Para Andreasen
(2002, p. 94), o marketing social é a “aplicação das tecnologias de marketing
desenvolvidas no setor comercial à solução de problemas sociais, onde o resultado
almejado é a mudança de comportamento”. Uma das orientações para o marketing
social é o apresentado por Kotler (2000, p. 47):
[...] sustenta que a tarefa da organização é determinar as necessidades, os
desejos e os interesses dos mercados-alvo e fornecer as satisfações
desejadas mais eficaz e eficientemente do que a concorrência, de uma
maneira que preserve ou melhore o bem-estar do consumidor e da
sociedade.
Isto infere concluir que o marketing social se encaixa para colocar em prática as
estratégias que visam a mudança comportamental, tanto da sociedade quanto da
própria organização, no âmbito da contribuição social em todos os setores, a fim de
que essa mudança propicie melhorias na vida dos cidadãos, quando são realizados
programas de responsabilidade social. Por responsabilidade social entende-se que é
um:
[...] compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade,
expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo
amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo
proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na
sociedade e sua prestação de contas para com ela (QUEIROZ et al, 2005,
p. 7).
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Para Melo Neto; Froes (2001, p. 28; 31), a responsabilidade social é uma conduta
“que vai da ética nos negócios às ações desenvolvidas na comunidade, passando
pelo tratamento dos funcionários e relações com acionistas, fornecedores e clientes
[...] que busca retorno econômico-social, institucional, tributário-fiscal”. Os autores
(2001) também conceituam que a prática corresponde a uma troca, já que a
empresa lucra por meio dos recursos extraídos do meio ambiente e substitui o que
foi retirado com ações sociais realizadas para solucionar ou minimizar os problemas
da sociedade. Assim, a responsabilidade social corresponde a um comportamento
ético e positivo que a empresa busca obter, após reconsiderar seus atos errôneos e
retribui à sociedade por meio de investimentos em projetos sociais, o lucro obtido
com o aproveitamento dos recursos naturais. Para Queiroz et al. (2005), a empresa
engajada socialmente considera como responsabilidade sua os problemas da
sociedade, dentro dos códigos de ética, atitude esta formadora de uma cultura
interna, o que influencia no comportamento dos envolvidos. Melo Neto; Froes (2001,
p. 32) informam que a responsabilidade social deve partir da análise de três
segmentos, a saber:
 Análise de como a empresa se comporta (quais os valores que adota, e
como os difunde e promove junto a seus diversos públicos). É o que
denominamos de dimensão ética da Responsabilidade Social corporativa;
 Análise de como a empresa desenvolve suas ações sociais (qual foto
dessas ações, seus beneficiários, total de investimentos, retorno obtido,
resultados alcançados). É o que denominamos de dimensão pragmática da
Responsabilidade Social corporativa;
 Análise de como a empresa se relaciona com os seus diversos públicoalvo (como a organização relaciona-se com os seus empregados e
dependentes, clientes, governo, fornecedores, distribuidores, acionistas,
comunidade e sociedade). É o que denominamos de dimensão políticoinstitucional da Responsabilidade Social corporativa.
Desta forma, quanto maior a participação da empresa nessas dimensões, maior e
melhor será a gestão de responsabilidade social por ela praticada. Melo Neto; Froes
(2001) pontuam uma questão interessante: as empresas precisam escolher o foco
principal de atuação (meio ambiente, cidadania, saúde) e sua estratégia de ação
(negócios, marketing de relacionamento, marketing institucional, marketing social)
para definirem a sua política de responsabilidade social. Atualmente, a
responsabilidade social é imprescindível nas empresas pelo fato de que:
 Primeiro, é o desejo dos empresários de produzir bem-estar social e não
apenas bens e serviços para a população;
 Segundo, há o uso dos impostos, por meio de incentivos fiscais, em
projetos específicos, em vez de destiná-los diretamente ao governo;
 Terceiro, é a preservação crescente de que a “empresa-cidadã” atrai a
fidelidade de seus colaboradores e consumidores (SINA, 1999, p. 61).
Ser socialmente responsável não se restringe a respeitar e cumprir as obrigações
legais e éticas necessárias para o exercício de uma atividade mercadológica, mas ir
além de suas tradicionais obrigações em relação ao seu capital humano, ao meio
ambiente, à comunidade, ao setor público, desenvolvimento este que está
intrinsecamente ligado a sua própria expansão e consolidação. Por isso, é inerente
ao modelo comercial e competitivo vigente que a empresa consolide uma reputação
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de comportamento ético aliado aos conceitos de responsabilidade e marketing
social, com vistas aos requisitos para o bom desempenho de suas relações
comerciais, entre as partes interessadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - As empresas, de forma geral, estão cumprindo suas
obrigações sociais através do amparo à sociedade e aos seus consumidores em
longo prazo, uma vez que as atividades realizadas com a responsabilidade social
propiciam o bem-estar e melhoria na qualidade de vida. Nas palavras de Andreasen
(2002), a empresa precisa sustentar-se para investir em programas sociais. O lucro
é o próprio investimento do gasto proporcionado pelas atividades de
responsabilidade social. Ser um contribuinte ao bem-estar da sociedade não é
prestar caridade, mas responsabilizar-se socialmente. O que antes era apenas
contribuição esporádica, hoje é um dever de todos, especialmente às organizações
empresariais, que podem obter, dentre outros benefícios, respeito, confiança,
destaque na concorrência, espaço na mídia e novos clientes. Portanto, necessário
aduzir que todos os profissionais de Comunicação Social poderão contribuir
significativamente para assegurarem uma relação eficiente e eficaz entre empresa,
sociedade, colaboradores, clientes e fornecedores, demonstrando o que
efetivamente está sendo desenvolvido com enfoque na responsabilidade social,
fortalecendo, assim, a confiabilidade nestas relações existentes e até mesmo
permitindo que novas sejam firmadas, sempre com transparência e ética.
REFERÊNCIAS
ANDREASEN, A. R. Ética no marketing social: como conciliar os interesses do
cliente, da empresa e da sociedade numa ação de marketing. São Paulo: Futura,
2002.
DIAS, S. R. Gestão de marketing. São Paulo: Saraiva, 2003.
KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC, PHB, 1993.
KOTLER, P. Administração de marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.
MELO NETO, F.; FROES, P. C. Responsabilidade social & cidadania
empresarial: a administração do terceiro setor. 2. ed. Rio de Janeiro: QualityMark,
2001.
QUEIROZ, A. et al. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2005.
SINA, A. Marketing social: uma oportunidade para atuar e contribuir socialmente no
terceiro setor. São Paulo: Crescente, 1999.
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EIXO TEMÁTICO: JORNALISMO E SOCIEDADE
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1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A CENSURA POLÍTICA NA IMPRENSA BAURUENSE DURANTE A DITADURA
MILITAR (1968 A 1970)1. Camila Fernandes2
Palavras-chave: Imprensa. Ditadura Militar. AI -5. Censura.
INTRODUÇÃO - A ditadura militar no Brasil, que se estendeu no período de 1964 a
1985, causou diversos problemas à Comunicação e ao Jornalismo, em especial.
Assim pretendemos com essa pesquisa levantar opiniões importantes registradas no
jornal bauruense de oposição, Diário de Bauru, durante os dois primeiros anos, de
1968 a 1970, marcados pela censura política e editorial instalada no Brasil, após o
Ato Institucional nº.5 em dezembro de 1968. A pesquisa pretende verificar a
tecelagem de relações sociais que se implantou por entre os setores mais
informados da sociedade bauruense e reconhecer suas a influências sobre as ações
da imprensa frente ao AI-5. As permanências do estilo editorial daquele período, em
que camuflar a notícia era o traço mais presente no jornalismo censurado é um dos
focos deste estudo. Entretanto, o maior ensejo, está na investigação dos fatos
ocorridos nos meios de comunicação após o AI-5, por meio da linha editorial da
imprensa local e perceber o seu envolvimento com os meios de comunicação em
nível nacional, durante a ditadura militar.
RELEVÂNCIA - A realização desta pesquisa é resultado de estudos individuais e da
intensa curiosidade em investigar as influências do Ato Institucional nº 5 nas
redações dos meios de comunicações de cidades do interior paulista, sobretudo
Bauru, já que a chama da ‘cortina de fumaça’3 girava em torno de metrópoles como
Rio de Janeiro e São Paulo, como se a tecelagem social não envolvesse também o
interior, com intensidade semelhante à das grandes capitais. É de suma importância
à compreensão dos fatos que, de alguma forma, negativa ou positivamente,
contribuíram para a redemocratização e desenvolvimento do país e que, sem dúvida,
deixaram profundas marcas na História do Brasil. Desta forma, preenchendo lacunas
ainda existentes no levantamento de informações sobre este assunto, esta pesquisa
tem por objetivo inserir a imprensa bauruense e seus jornalistas nesta esteira
histórica ainda obscura para a maioria dos brasileiros. Desvendar fatos e ações
realizadas aparentemente à margem da História já registrada, porque aconteceram
distante dos centros de decisão, tem o poder muitas vezes, de alterar os rumos das
investigações já realizadas. Acreditamos que o ineditismo desta pesquisa está em
observar até onde a imprensa bauruense esteve envolvida e responde pela rejeição
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Aluna do quinto ano do curso de comunicação social-habilitação em jornalismo da Universidade
Sagrado Coração -USC Email: [email protected]
3
Entende-se por ‘cortina de fumaça´: Período que se instalou a censura nos meios de comunicação e
nas principais cidades do país.
48
uníssona e interativa dos meios de comunicação, frente à tão grande descalabro de
poder. Esta questão atrai jornalistas e pessoas impregnadas de cidadania.
METODOLOGIA - Fases da Pesquisa: Coleta de dados
- Bibliográficos
Inicialmente, uma revisão de literatura feita a partir de resenhas e fichamentos sobre
a história da ditadura militar no Brasil.
- Documentação Oral
Utilizaremos à técnica da documentação oral para coletar os depoimentos de
interlocutores, tais como jornalistas- Zarcillo Barboza, então chefe de redação do
jornal, e cidadãos que vivenciaram a época.
- Análise do material coletado
Coletados os dados, faremos análise de conteúdo das informações frente aos
objetivos propostos.
Tendo em mãos as publicações quinzenais do jornal Diário de Bauru, fornecidas
pelo núcleo de história da Universidade Sagrado Coração, datados entre 13 de
Dezembro de 1968 a 13 de Dezembro de 1970, com o total de 336 exemplares, a
pesquisa fará a análise qualitativa e quantitativa prezando:
- Matérias;
- Imagens;
- Editoriais;
- Notas;
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - Golpeando a nação, o
AI-5, como ficou conhecido, foi um instrumento de poder que deu aos governantes
poderes absolutos para administrar o país sob a força dos decretos-lei como fechar
o congresso nacional por tempo indeterminado, suspender direitos políticos por dez
anos, intervir nos estados e nos municípios, demitir funcionários públicos e,
sobretudo, instalar a censura nas redações dos jornais brasileiros. Todos os meios
de comunicação sofreram um desgaste em sua autonomia. Na mesma noite em que
o Ato foi publicado, censores ocuparam as redações dos principais jornais, rádios,
revistas e emissoras de televisão para controlarem as informações públicas. Era o
fim da liberdade de expressão. O assombroso período durou exato dez anos e dez
dias. O jornalista Zuenir Ventura (1988), relata que o I-5 começou a censurar antes
de ser editado e a prender antes de ser anunciado publicamente. De acordo com o
autor, na sexta-feira 13 de dezembro, em Brasília, o Correio Brasiliense circulou sob
censura prévia, sem o noticiário da votação na Câmara. Em Belo Horizonte, as 2 da
madrugada, um oficial do exército e cinco soldados chegavam armados à oficina do
Diário. O Correio da Manhã e o Jornal do Brasil circularam normalmente, mas à 1
hora da madrugada de sexta-feira, três homens chegaram à redação do Correio
dizendo que ‘queriam ver como estavam as noticias’. Como os intrusos não se
identificaram, foram mandados embora, Foi uma operação nacional. O Jornal ‘O
Estado de São Paulo’ foi um dos veículos mais retaliados pela censura desde a
instauração do Ato Institucional nº 1 em 1964, pois, a família Mesquita, os
proprietários do tradicional jornal, foi a favor do golpe, em defesa do modelo social
liberal democrata,que após perceberem o equivoco da estratégia, se voltaram
totalmente contra o endurecimento do regime. O histórico editorial de 13 de
dezembro de 1968, com o titulo “Instituições em Frangalhos”, procurava descrever a
crise política e a falta de visão do general Costa e Silva, que pensava poder
governar o País como se fosse uma caserna, além de vaticinar dias mais difíceis.
Saiu um texto indignado, que a maioria dos leitores do Estado de São Paulo e do
Jornal da Tarde, onde também seria publicado, nunca chegou a ler, pois às três
49
horas da madrugada do mesmo dia, o general Sílvio Correia de Andrade, chefe do
Departamento de Polícia Federal em São Paulo, chegou ao jornal e confiscou todos
os exemplares. O editorial criticava as medidas de impostas pelo governo e sua
cruel derrota no parlamento, no qual deu inicio ao AI-5: Sob a ditadura, enquanto
quase todos os jornais do País aceitaram a determinação para que o material vetado
pelos censores fosse substituído por outro, dando a impressão de normalidade
democrática, o Estado recusou-se a participar disso. Passou a preencher os
espaços vagos com trechos do épico Os Lusíadas, de Luís de Camões. O Jornal da
Tarde mostrou idêntica combatividade, recorrendo, porém a inusitadas receitas
culinárias. Arlindo Chinem (2000) relata que as vésperas da decretação do AI-5
ocorreram doze explosões e um assalto à banco e o jornalista Alberto Dines
observou que as bombas não tinham sido casos esporádicos, e sim uma maneira
adotada pelos órgãos de segurança pública para eliminar o que eles chamavam de
“um antro de radicais que querem desestabilizar o regime”, a imprensa alternativa .
De acordo com Abreu (2000), no período compreendido entre 1969 e 1978, os
jornais, revistas semanais de informação, rádios e televisões se habituaram a
receber ordens e recomendações, através de telefonemas, proibindo a divulgação
de fatos considerados desagradáveis aos olhos do regime militar.
CONCLUSÂO - Os períodos de resistência e reação dos jornais a censura imposta,
uns tanto pelo ufanismo, outros por coragem e ideologia, fizeram da imprensa
brasileira, o grande estorvo para os militares. Assim, restava à opção de buscar
caminhos alternativos para chegar ao leitor noticias sobre os acontecimentos do
país. A intencionalidade do ocultamento pode ser sentida com clareza na forma
como agiam os mecanismos censórios para os periódicos que aceitavam trabalhar
no limite da censura. Atuava por meio de recados telefônicos e bilhetes sem
identificação certa, como por exemplo ‘de ordem superior’, ‘Polícia Federal’. Os
responsáveis pelos periódicos tinham consciência que o não cumprimento da
‘ordem, implicava represálias. Na redação do jornal bauruense ‘Diário de Bauru’, não
poderia ser diferente, notas simples e comentários camuflados foram publicados
sobre o que ocorria no país. Alguns exemplos de rastreamento e analise do ‘Diário’
entre 1968 a 1970:
13/12/1968 nº 7.148
Capa-Governo Derrotado “O governo foi derrotado ontem
(12/12) na Câmara dos Deputados,
quando aquela casa rejeitou por
216 contra 141 votos o pedido de
licença para processar Márcio
Moreira Alves. O Deputado, falou
em sua defesa, desmentindo ter
atacado as Forças Armadas em
seu discurso pronunciado a 2 de
setembro.
14/12/1968 nº7.149
Nota curta na capa- “Dotado
de
prerrogativas
Recesso no Congresso
excepcionais, o Presidente da
República Costa e Silva, decretou
ontem (13/12) um Ato Institucional,
determinado
o
recesso
no
Congresso Nacional”.
50
09/01/1969 ARTIGO-7ª pagina - Coisas que ‘Refere-se a indignação da
amofinam’ Mestre Cyrilo
sociedade em relação ao governo
autoritário
que
se
diz
revolucionário,acabando-se
por
instaurar o AI-5
REFERÊNCIAS
ABREU, JOÃO BATISTA DE. As manobras da informação: análise da cobertura
jornalística da luta armada no Brasil (1965-1979). Rio de Janeiro: Mauad, 2000.
AQUINO, MARIA APARECIDA DE. Censura Imprensa e Estado autoritário (19681978): o exercício cotidiano de dominação e da resistência: O Estado de São Paulo
e o Movimento. EDUSC.Bauru.1999.
CHINEM, Rivaldo. Imprensa Alternativa: jornalismo de oposição e inovação. São
Paulo: Ática, 1995.
DIÁRIO DE BAURU. Bauru, 13 dez.1968 a 13 dez. 1970
O ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo, 14 dez.1968
VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou. São Paulo: Nova Fronteira, 1988.
v.1.
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1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
IGREJA E COMUNICAÇÃO: DA CENSURA E REPRESSÃO PARA AS
PRODUÇÕES JORNALÍSTICAS1. Paulo Vitor Giraldi Pires2, Angela Grossi de
Carvalho3
Palavras-chave: Igreja Católica. Jornalismo. Comunicação religiosa.
INTRODUÇÃO – É visível a expansão do uso da comunicação como propagação de
fé dentro e fora das instituições religiosas, através do mass media. Mas, as
mudanças do mundo contemporâneo, principalmente no campo da comunicação,
obrigaram, pois, a Igreja Católica a refletir sobre sua relação com a sociedade e as
novas tecnologias. Cabe à Igreja, entre outras exigências, saber comunicar-se com
todas as pessoas, indistintamente, e não limitar-se a transmitir unilateralmente uma
mensagem que é compreensível apenas àqueles que já fazem parte da comunidade
eclesial, tendo em vista fomentar o diálogo construtivo com a sociedade em geral e
promover os valores evangélicos de que se diz portadora.
RELEVÂNCIA – A Igreja quer, na prática, continuar utilizando os meios para a
divulgação da fé, principalmente no que diz respeito ao uso da televisão. Por outro
lado, a postura da mídia generalista em relação às questões sociais de natureza
religiosa apresenta-se quase sempre em termos depreciativos do fenômeno
religioso, aumentando a necessidade de legitimação da existência da mídia
institucional, caso da Igreja Católica. Sendo assim, ter um espaço na mídia é
considerado uma tarefa importante para a Instrução Pastoral Communio et
Progressio, proclamada pós Concílio Vaticano II, que reafirma a necessidade de
usar, quanto possível, os meios de comunicação social para apresentar a
mensagem cristã, de um modo mais interessante e eficaz, encarnando-a no estilo
próprio de cada um destes meios. Mas para que isso aconteça, a Igreja Católica
precisa estar aberta para dialogar com o mundo, com todas as raças e culturas; só
assim continuará sendo a “boa nova”, o que traduziríamos em “boa notícia”.
METODOLOGIA – Com base na pesquisa bibliográfica, nos estudos de autores
sobre a competência comunicacional/telejornalística e à luz de documentos da Igreja
Católica acerca da comunicação social foi possível a reflexão sobre a atual realidade
comunicacional televisiva da Igreja Católica.
Conteúdo e linguagem que
correspondam a um nível mínimo de qualidade já consagrado por profissionais
especialistas da área e pela opinião pública. Por fim, buscamos levantar subsídios
para uma análise acerca do amplo e atual modelo de comunicação da Igreja
Católica no Brasil, especialmente no âmbito da televisão, o que o que possibilitou
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Estudante de Jornalismo- Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração –
E-mail: [email protected]
3
Jornalista e doutoranda. Professora do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade
Sagrado Coração – E-mail: [email protected]
52
refletir e analisar as informações pertinentes e consideradas importantes para essa
análise acerca do papel da comunicação na Igreja Católica.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - A comunicação
sempre foi ferramenta imprescindível na disseminação do Evangelho, da Boa Nova,
da missão social, do diálogo e do serviço em favor dos afastados da Igreja. Pela
ação de seus missionários, a Igreja sempre se ocupou em levar a mensagem cristã
para o mundo. Acerca desse contexto, Melo (1998 apud SOARES, 1985, p. 61)
divide em quatro períodos o estudo da comunicação da Igreja Católica: no primeiro
período, a Igreja vive a relação de censura e repressão em relação aos meios de
comunicação. O segundo está relacionado à aceitação duvidosa desses mesmos
meios. No terceiro período, a Igreja busca assumir as transformações sociais e
tecnológicas pelas quais passam os meios de comunicação, sobretudo por meio do
investimento em veículos próprios, especialmente o rádio.
As dificuldades
encontradas pela Igreja na atuação e utilização dos meios massivos, como a
televisão, levou a II Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM) realizada em
Puebla, no México, em 1989, a buscar novas orientações, e “não poupou esforços
de articular e buscar maior clareza nos rumos a serem tomados pela instituição no
que tange à sua presença nos meios de comunicação” (DIAS, 2001, p. 53). A
Instrução Pastoral Communio et Progressio é fruto desse esforço. Considerada o
documento mais importante da Comissão Pontifícia para os Meios de Comunicação
Social. Uma das orientações da Instrução Pastoral Communio et Progressio (1971,
p. 32) é que Igreja esteja “informando e ouvindo atentamente a opinião pública,
dentro e fora da Igreja, e procurando um diálogo contínuo com o mundo
contemporâneo, participando, assim, na resolução dos problemas do homem de
hoje”. Esta visão da Igreja coincide com o pensamento de Paternostro (1999, p. 19)
para quem “a comunicação torna possível a interação e ao mesmo tempo propicia a
convivência entre os homens já que a interação de um indivíduo, está relacionada,
de forma intrínseca, ao seu acesso à informação”. O papel do jornalismo consiste
em noticiar aquilo que julga de interesse público. A notícia é uma representação da
realidade através dos acontecimentos do dia-a-dia do mundo. É nesta perspectiva
que Medina (1978, p. 47) define a notícia como um produto à venda, uma corrida
desenfreada pelo lucro. Hoje, o que se vê na televisão, principalmente no que diz
respeito aos noticiários é a informação de olho na audiência, descompromissada
com o interesse público. A comunicação deve propor um novo relacionamento entre
os povos. Nesse sentido, “os comunicadores suscitam e estimulam o diálogo que já
existe na sociedade. São eles que moderam o intercâmbio estabelecido no vasto
mundo dos ‘mass media’”, afirma o item 73 da Communio et Progressio (1971, p.
73). “Portanto, a eles compete - e esta é a grandeza da sua vocação - promover os
fins a que a comunicação social deve tender: o progresso humano em todos os
campos e a verdadeira comunhão entre os homens” (Ibid), conclui o documento. Na
visão de Medina (1995, p. 37), para que haja um diálogo possível, “a escolha das
fontes de informação terá de se enriquecer através da pluralidade de vozes e, ao
mesmo tempo, da qualificação humanizadora dos entrevistados”. Sendo a instrução
pastoral Communio et Progressio o principal documento da Igreja Católica sobre a
comunicação, ela deixa a desejar em alguns aspectos. Puntel (1994, p. 67-68)
salienta que, na instrução, "a Igreja louva a idéia de progresso tecnológico", mas não
se preocupa com a dimensão política e econômica desses meios. O autor trata da
mídia perfeita criada para o desenvolvimento da sociedade, sem conflitos internos
entre a comunicação social e a política. A Igreja Católica tem alterado sua postura
diante dos meios de comunicação, sobretudo os eletrônicos. No plano da
53
comunicação, por vezes, ela adota uma postura eufórica e demonstra acreditar que
a difusão da mensagem (e sua aceitação) depende essencialmente do meio, avalia
Pessinatti (1999). E assim proclama a evangelização eletrônica, o uso de todos os
meios de comunicação disponíveis para ampliar e reproduzir a palavra cristã. Em
outros momentos, no entanto, ela se mostra cética em relação à mídia em geral,
limitando-se a investir nos próprios meios de comunicação, enquanto se fecha e até
mesmo parece se recusar ao diálogo – sempre difícil para ela – com os veículos
comerciais e massivos. No Brasil, a década de 1990 foi marcada por uma disputa
acirrada entre dominações cristãs pela “mídia televisiva”. Dias (2001, p. 78) constata
que, nesse período, se acelera a luta entre Igrejas cristãs (notadamente a católica e
as evangélicas neopentecostais) pelas concessões de canais de televisão e
emissoras de rádio. Dezenas dessas Igrejas alugam espaços nos canais
convencionais abertos com o intuito de “mostrarem sua cara”. Dias define este
momento como era da “Igreja eletrônica”. De fato, a partir desse momento, “a TV
passa a ser a principal arma de batalha simbólica pelos fiéis das mais diversas
expressões religiosas existentes no Brasil”, como constata Martinho (2003, p. 11) em
recente estudo sobre mídia e religião. A Igreja, mais uma vez, reconhece – ao
menos teoricamente - a importância dos programas televisivos, como os noticiários,
principalmente quanto ao seu papel de difundir informação e promover a instrução e
o diálogo, sempre respeitando as diversidades. Entre outras palavras: se quer
promover o diálogo construtivo com a sociedade em geral, tendo em vista promover
os valores evangélicos de que se diz portadora, cabe à Igreja, entre outras
exigências, saber comunicar-se com todas as pessoas, indistintamente, e não
limitar-se a transmitir unilateralmente uma mensagem que é compreensível apenas
àqueles que já fazem parte da comunidade eclesial. Sobre esse assunto, Martinho
(2003, p. 79), faz uma crítica ao mau uso dos programas de TV pela Igreja no uso
das informações religiosas veiculadas, sobretudo, em programas de televisão
produzem transferências emotivas. A encarnação evangélica nos meios sociais tão
defendida pela Igreja exige, no entanto, mais competência profissional, abertura a
temáticas e fontes mais ousadas e o exercício do diálogo mais efetivo, ainda que
isso implique num certo confronto.
CONCLUSÃO - A Igreja quer, na prática, continuar utilizando os meios para a
divulgação da fé. Por outro lado, a postura da mídia generalista em relação às
questões sociais de natureza religiosa apresenta-se quase sempre em termos
depreciativos do fenômeno religioso, aumentando a necessidade de legitimação da
existência da mídia institucional, caso da Igreja Católica. Sendo assim, ter um
espaço na mídia é considerado uma tarefa importante para a Instrução Pastoral
Communio et Progressio, que reafirma a necessidade de usar, quanto possível, os
meios de comunicação social para apresentar a mensagem cristã, de um modo mais
interessante e eficaz, encarnando-a no estilo próprio de cada um destes meios.
Ainda sim, a Instrução Pastoral é clara ao dizer que a Igreja precisa estar aberto
para dialogar com o mundo, com todas as raças e culturas; só assim continuará
sendo a “boa nova”, o que traduziríamos em “boa notícia”. Ao contrário disso,
continuará fazendo comunicação para a si mesma.
REFERÊNCIAS
54
INSTRUÇÃO PASTORAL COMMUNIO ET PROGRESSIO. Encíclica sobre os
meios de comunicação social. São Paulo: Paulinas, 1971.
DIAS, Arlindo Pereira. Domingão do Cristão: estratégias de comunicação da Igreja
Católica. São Paulo: Salesiana, 2001.
MARTINHO, Luís Mauro Sá. Mídia e poder simbólico. São Paulo: Paulus, 2003.
MELO, José Marques de. Igreja e Comunicação. In: SOARES, Ismar de O.;
PUNTEL, Joana T. (Org.). Comunicação, Igreja e Estado na América Latina. São
Paulo: Paulinas, 1985.
PATERNOSTRO, Vera Íris. O Texto na TV: manual de telejornalismo. Rio de
Janeiro: Campus, 1999.
PESSINATTI, Nivaldo Luiz. Políticas de comunicação da Igreja Católica no
Brasil. São Paulo: Unisal; Petrópolis: Vozes, 1999.
MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo, 1995.
55
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
JORNALISMO ECONÔMICO: O CONHECIMENTO QUE NÃO CONSEGUE
CHEGAR AO GRANDE PÚBLICO1. Daira Renata Martins Botelho2, Rene Rodriguez
Lopez3
Palavras-chave: Jornalismo. Economia. História. Linguagem. Profissional.
INTRODUÇÃO - A ciência econômica tem suas primeiras referências nas obras de
Aristóteles que, aparentemente, foi quem definiu o termo a partir do grego –
oikosnomos (de oikos, casa, e nomos, lei), podendo traduzi-la por administração de
uma casa, mas que recebe diferentes definições. Jacob Viner, importante
economista dos anos 50, diz que “Economia é aquilo em que os economistas
trabalham”, no entanto, Matthew Bishop a define como “o estudo de recursos
escassos pela sociedade e/ou a ciência das escolhas”. A primeira escola econômica
foi o mercantilismo que, apesar de não ter um conjunto homogêneo de técnicas,
importava-se com a acumulação de riquezas e construiu fortes princípios baseados
no comércio. Pelos séculos, a economia teve vários expoentes que a tornaram uma
ciência respeitada e também ajudaram a mostrar sua importância para o mundo. Um
grande exemplo desses teóricos é Adam Smith, considerado o precursor da
moderna Teoria Econômica (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003, p. 16) e que
publicou o livro A Riqueza das Nações, em 1776, o qual retrata vários aspectos da
economia, como as leis de mercado e até a distribuição do rendimento da terra. Os
conceitos criados por Smith são usados até hoje, como a Teoria da Mão Invisível,
que afirma a existência de uma “mão” que rege todos os mecanismos do mercado,
direcionando-os, para levar a sociedade à perfeição; e o laissez-faire, que propunha
a livre iniciativa de mercado. Também afirmou que o Estado deveria se manter fora
das questões econômicas: o Estado teria somente o dever de proteger a sociedade,
sem nenhuma intervenção nas leis de mercado. Entre os outros autores que
compõem os pensadores da era clássica, podemos citar: David Ricardo, John Stuart
Mill, Jean Baptiste Say e Thomas Malthus; teóricos muito importantes que formam a
base que constitui a economia moderna. A teoria neoclássica teve Alfred Marshall
como nome principal, cujo livro Princípios da Economia serviu como texto básico até
a metade do século XX. A partir dos anos 70, a essa ciência vem apresentando
algumas transformações que têm feito com que a economia se coloque cada dia
mais próxima da população, seja por meio de atos simples do cotidiano, seja pelos
efeitos de crises no mundo e que têm efeito direto em nosso país. Mesmo com toda
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Jornalista graduada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP – E-mail:
[email protected]
3
Jornalista graduado pela Universidade Sagrado Coração – mestrando do Programa de Pós
Graduação em TV Digital da Unesp Bauru e Jornalista do Laboratório Aberto de Interatividade passa
Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico da Universidade Federal de São Carlos – Email: [email protected]
56
sua abrangência teórica, a economia não consegue atingir a maioria da população
devido aos seus jargões e mecanismos complexos que envolvem a matemática
financeira e também a matemática pura. As siglas fazem da economia um universo a
ser desvendado pela maior parte das pessoas, exceto os próprios economistas,
investidores, e outros que estão diretamente ligados a ela. Por esse motivo a
economia é muito criticada, pois precisa de simplificação para ser entendida, bem
como a ajuda de especialistas e um glossário de termos que os economistas utilizam
a todo momento para explicar qualquer fato remoto ou da atualidade.
METODOLOGIA - Através de um estudo de exploração histórica do cenário do
jornalismo econômico, foi possível verificar que apesar de seu potencial informativo,
seu uso não é reconhecido e nem apreendido pelo publico geral. Com base nos
preceitos de um jornalismo de interesse público se faz necessária reflexões sobre o
atual modelo de jornalismo econômico comumente empregado nos veículos de
comunicação que não contextualizam as informações de modo que beneficie o
compreendimento do cidadão comum.
Até os anos 50, o que se sabe da existência do jornalismo econômico na imprensa
se resume a algumas notas relacionadas com os interesses do comércio e dos
cafeicultores, com informações sobre produção, exportação, movimentos de portos
ou taxas cambiais (QUINTÃO, 1987). Essa realidade foi se alterar somente a partir
da década de 50, devido às mudanças estruturais pelas quais o Brasil estava
passando. O cenário brasileiro dessa época mostra o governo de Juscelino
Kubitschek tentando uma aproximação com o capital estrangeiro, visando o
desenvolvimento e o crescimento do país, que estava no contexto mundial como
produtor e exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados.
O jornalismo econômico tem um marco considerado como seu verdadeiro início no
Brasil:
[...] a marca do aparecimento definitivo do Jornalismo Econômico nos
moldes como é praticado hoje caberá a um encarte do Correio da Manhã,
chamado Diretor Econômico. São 16 páginas diárias voltadas
exclusivamente para o tratamento dos negócios no mercado. O
desenvolvimento desse Jornalismo e dos próprios negócios é muito
estimulado pelo Diretor. (QUINTÃO, 1987, p. 74).
No entanto, o tipo de jornalismo econômico pioneiro, feito pelo Diretor Econômico,
não foi o que os grandes veículos acabaram por utilizar.
Há uma virtual diferença, entretanto, entre o Jornalismo Econômico
praticado pelo Diretor e o que veio a ser desenvolvido pelos grandes jornais.
O Diretor fez o primeiro Jornalismo de Negócios no Brasil. Já o noticiário e a
análise econômica na grande imprensa na década de 70 estão preocupados
apenas com o discurso da sociedade política, no exercício do Poder do
Estado, endereçado à sociedade civil.
O novo noticiário econômico não tratará de questões polêmicas. Abordará
numa direção positiva grandes operações financeiras internas ou externas
[...].
Dedicará ainda uma boa parte do seu espaço editorial a debater anos
seguidos quem e o que seriam as correntes do pensamento econômico
contemporâneo: se “estruturalistas”, “monetaristas” ou “pós-keynesianos”,
ou, ainda, discutindo academicamente se a inflação brasileira é de “custo”
ou de “demanda”. Esse tipo de informação, veiculada pela grande imprensa,
reflete as mudanças introduzidas na economia brasileira. Elas serão
57
discutidas em editoriais, pelos articulistas – começam a aparecer os
comentaristas econômicos – e no próprio noticiário, através de entrevistas
com economistas e empresários.(QUINTÃO, 1987, p. 79)
Um jornal que tem papel importante para a consolidação da economia enquanto
editoria é a Gazeta Mercantil. Ele trará a essência da informação econômica para as
páginas de sua publicação.
A Gazeta Mercantil sempre deixou bem clara a sua postura editorial. Seu
leitor direto é o empresário que necessita todos os dias das informações
sobre negócios, investimentos, agricultura, mercado financeiro, sem uma
preocupação específica com as políticas governamentais, salvo se elas se
refletirem diretamente no mundo dos negócio [...]. (VIEIRA, 1999, p. 25)
O ápice do jornalismo econômico aconteceu durante o regime militar do período
1964-1984, em que o jornalismo político foi silenciando-se (QUINTÃO, 1987), já que
as atividades políticas já não eram tão evidenciadas devido a uma legislação mais
rigorosa e à censura por parte do governo, fazendo com que muitos jornalistas,
cronistas e repórteres perdessem seus empregos ou fossem remanejados para
outras funções ou editorias. No caso, a de economia. A partir daí, começou a surgir
vários modelos desse segmento: em jornais, revistas, periódicos, etc. Jornais com
assuntos de economia podemos citar somente o Gazeta Mercantil, já que os outros
são ligados a associações de lojistas ou comerciais, com público específico, como o
Diário do Comércio e da Indústria e Diário do Comércio, de São Paulo; Jornal do
Comércio de Porto Alegre; Diário do Comércio de Belo Horizonte; Jornal do
Comércio e o Monitor Econômico, no Rio de Janeiro; Indústria e Comércio, de
Curitiba (KUCINSKI, 20002). As revistas compõem grande parte dessa vertente do
jornalismo. Existem a Conjuntura Econômica, publicada pela Fundação Getúlio
Vargas há 50 anos; Exame; Amanhã; Pequenas Empresas Grandes Negócios; Isto
É Dinheiro; etc. A televisão também conta com os programas Conjuntura
Econômica, da TV Cultura; e Pequenas Empresas Grandes Negócios, da Rede
Globo. O jornalismo econômico foi se desenvolvendo de acordo com a evolução da
economia no Brasil e no mundo. Importantes e conceituadas publicações foram se
fortalecendo e se especializando cada vez mais nos assuntos que rondam o mundo
dos negócios. Ao contrário do Brasil, no exterior já havia – há muito – periódicos
sobre economia, como o The Economist, importante revista, lançada em 1843; e o
jornal Financial Times, que chegou às bancas em 1888, ambos na cidade de
Londres. Nos EUA, mais precisamente em Nova Iorque, existe o periódico The Wall
Street Journal, fundado em 1889, e que, a partir dos anos 60, teve incluído em sua
publicação matérias de cultura e internacional. Nesses dois centros financeiros
mundiais o jornalismo econômico chegou no século XIX, o que aconteceu em nosso
país quase um século depois. Apesar de normalmente direcionada a um público que
domina esta linguagem, hoje podemos observar a necessidade da disseminação das
informações econômicas sobre uma abordagem que a aproxime do leitor comum.
Com esse novo segmento do jornalismo, os profissionais tiveram que se adaptar e
se inteirar do que é a economia, conhecer essa ciência para poder passar para os
cidadãos as informações acerca do que acontece no mercado financeiro.
A Ciência Econômica é uma área do conhecimento complexa e de
demorada aprendizagem. Sua abrangência teórica, com todos os conflitos
ideológicos, paradigmas e paradoxos que a compõe, exige do jornalista de
economia um saber diferente do convencional.” (VIEIRA, 1999, p. 9).
58
A especialização dos jornalistas é um processo longo, que requer muito estudo e
dedicação ao assunto, já que a economia não é um objeto tão simples, pois envolve
vários aspectos da sociedade. Por abranger ciências exatas e humanas, se torna
complexa, necessita de um entendimento global e não só de uma análise lateral.
(VIEIRA, 1999). Os fatos relacionados à economia nunca são isolados, um
acontecimento factual faz parte de uma cadeia de fatos, ou seja, não se pode fazer
uma análise individual de um fenômeno, partindo do resultado, deve-se checar o que
realmente fez com que tudo acontecesse. Por isso, o jornalista deve ter uma visão
global, no caso do jornalismo econômico, mais ainda. Muitos aspectos que envolvem
a economia são desconhecidos por grande parte da população, e é essa
intermediação que o profissional que se dedicar ao jornalismo econômico tem que
fazer: decifrar a economia e passar esse conhecimento para os cidadãos. Os
próprios jornalistas acreditam que esse é o maior desafio para o profissional que
escolhe a economia como campo para especialização. Essa dificuldade é que
caracteriza o jornalismo econômico: temos uma ciência de difícil entendimento e
acesso; uma linguagem rebuscada, como siglas e mecanismos que não podem ser
explicados com duas linhas de uma matéria de jornal ou em 30 segundos de uma
reportagem na TV; e um público que não acredita que a economia faça parte do seu
dia-a-dia. São fatores que realmente fazem com que o jornalismo econômico atinja
uma minoria e, geralmente, a elite de empresários ou quem está envolvido no
mundo dos negócios. Chegar ao público é uma árdua tarefa, que depende da
experiência do jornalista e da sua capacidade de interpretação, para esmiuçar a
economia e repassá-la para o veículo de informação, como afirma Silvia Regina
Rosa.
[...] a população não reconhece a sua realidade nas páginas dos jornais,
não se identifica com os personagens retratados e não consegue enxergar
a influência direta da política econômica em sua vida. Tal distanciamento é
resultado de uma distorção do conceito de economia nos cadernos
econômicos, que foi resumido ao dinheiro ou a capacidade de gerá-lo,
destituído de seu conceito mais amplo que envolve as atividades do homem
para satisfazer suas necessidades. De ciência da escassez a economia
passou a figurar como a ciência da riqueza, voltada não à satisfação do
homem, e sim às necessidades de acumulação do capital.” (ROSA, 2005, p.
37).
Quando os jornalistas conseguirem aproximar a economia do cotidiano da
população, o jornalismo econômico terá conseguido atingir o grande ato de sua
existência. E isso só poderá ser feito com a revisão dos conceitos de economia e do
próprio jornalismo, buscando ferramentas para atingir de maneira mais plena
possível todas as camadas da sociedade. Em um universo de siglas,
estrangeirismos e termos técnicos é onde se instala o jornalismo econômico, em que
essa particularidade afasta as pessoas dos cadernos de economia, por exemplo. A
dificuldade de entendimento e o distanciamento da maioria da população fazem com
que a economia seja esquecida, deixada de lado; não há interesse das pessoas, já
que acreditam que ela não influencia em nada as suas vidas. O jornalista econômico
deve buscar uma linguagem mais simplificada que vise atingir todas as camadas da
sociedade. Para isso, já que a economia é uma ciência complexa, os profissionais
têm que se inteirar do assunto de forma profunda, para poder informar com
59
qualidade. A notícia não deve ser somente reprodução de informação, além de estar
em uma linguagem inteligível, ela deve ser produzida de modo que seja
contextualizadora, para, além de ser entendida, ela interaja com o universo do
cidadão comum.
REFERÊNCIAS
BASILE, S. Elementos do Jornalismo Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
BISHOP, M. Economia sem mistério: glossário dos termos essenciais. São Paulo:
Publifolha, 2005.
CALDAS, S. Jornalismo Econômico. São Paulo: Contexto, 2003.
HEILBRONER, R. Introdução à macroeconomia. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1973.
KUCINSKI, B. Jornalismo Econômico. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2000.
RESENDE, J. V. Construtores do Jornalismo Econômico: da cotação do boi ao
congelamento de preços. São Paulo: SAA APTA, 2003.
ROSA, S. R. Jornalismo Econômico: uma leitura possível. 2005. Monografia
(Graduação em Jornalismo) - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação,
Universidade Estadual Paulista, Bauru.
SARCINELLI, J. Jornalismo Econômico: a sedução do Poder. Disponível em:
<http://www.hottopos.com/mirand3/econ.htm>. Acesso em: 15 set. 2009.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. São
Paulo, 2003.
VIEIRA, F. Jornalismo Econômico: especialização, linguagem e argumentação.
1999. Monografia (Graduação em Jornalismo) - Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru.
60
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
OS PARADIGMAS DA IMPRENSA EM PAUTA: BIODIVERSIDADE,
BIOCOMBUSTÍVEIS E AQUECIMENTO GLOBAL1. Katarini Miguel2
Palavras-chave: Meio ambiente. Comunicação. Análise de Conteúdo.
INTRODUÇÃO - Ao longo dos anos nota-se que o assunto ambiental ganhou
inúmeras vertentes e interpretações, que apresentam a questão de maneira ora
romantizada, ora catastrófica, ora antropocêntrica ou ainda banalizam a temática
para criar uma realidade ambiental autônoma, isolada e desvinculada do conjunto
das relações de interdependência que se estabelecem entre natureza e sociedade,
como avalia Ramos (1996). Ainda quando se considera o exercício político sobre as
questões ambientais, faz-se necessário analisar a construção destas notícias para
reconhecer paradigmas que ainda persistem nas mensagens, e conseqüentemente,
influenciam a visão do leitor e podem comprometer políticas públicas. A prática do
jornalismo relacionado às questões ambientais, mostra-se, na maioria das vezes,
carregada de estereótipos, impedindo uma concepção contextualizada do tema.
Assuntos que exigem mais apuração e conhecimento como o processo de política
ambiental, acabam marginalizados. O trabalho em questão propõe justamente
averiguar o tratamento dos textos informativos relacionados à temática ambiental, no
jornal impresso O Estado de S.Paulo, a partir dos temas Biodiversidade,
Biocombustíveis e Aquecimento Global, utilizando a Análise de Conteúdo para
avaliar o tratamento das notícias e sinalizar para as principais características da
construção jornalística.
METODOLOGIA - A análise de conteúdo é uma técnica de investigação sistemática
e quantitativa, que pode ser utilizada para avaliar as notícias ambientais, na medida
em que vai proporcionar elementos de comparação para sugerir os paradigmas
predominantes nos meios de comunicação de massa. Bardin (1977) explica que este
tipo de abordagem permite a análise quantitativa, que avalia a freqüência de certas
características no conteúdo, como a qualitativa, que percebe a presença ou
ausência de indicativos, que valoram o texto, sempre fundamentada na presença de
um indicador. A análise de conteúdo, segundo a autora, proporciona a
ultrapassagem da incerteza e o enriquecimento da leitura de tentativa exploratória.
Segundo Bardin, reiterada por Fonseca Junior (2008), a análise quer induzir os
conhecimentos relativos às condições de produção ou recepção, e para isso, recorre
a indicadores. Os autores sugerem que, inicialmente, seja feita uma pré-analise, com
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Jornalista, mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus
de Bauru, coordenadora do Programa de Comunicação do Instituto Vidágua.
E-mail: [email protected]
61
formulação de hipóteses, objetivos e indicadores; exploração do material para
constituição do corpus e tratamento do resultado/inferência e interpretação. A
categorização também é colocada pela autora, na medida em que classifica os
elementos constitutivos de um conjunto, que podem ser semânticos, léxicos e
expressivos. Mas ela (p.134) lembra que “qualquer análise conteúdo deve passar
pela análise da mensagem em si”, porque é necessário compreender as
significações como mitos, símbolos e valores. A autora explica que a análise pode
ser feita a partir do desmembramento do texto em unidades de significação. Desta
forma, só os enunciados que exprimem avaliação são submetidos à analise. E estes
componentes relevantes podem ser objetos de atitude, que podem recair sobre
pessoas, grupos, idéias e termos avaliativos, o que permite também averiguar o
enquadramento das mensagens. Este procedimento pode ser feito, através da
escolha de unidades de registro (como palavras chaves e temas), escolha das
unidades de contexto e recorte do texto em fragmentos, codificando e avaliando a
presença ou ausência de cada unidade e o realçar destes elementos.
PRINCIPAIS RESULTADOS - A partir da metodologia da Análise de Conteúdo e
categorizações quantitativas foram analisadas as matérias, com o objetivo de
compor um quadro preliminar da cobertura da mídia nos assuntos relacionados à
temática ambiental. Em oito dias de análise foram constatadas 40 matérias sobre a
temática, em uma média de 5 matérias por dia de tamanhos superiores a 2 mil
caracteres, evidenciando a centralidade da questão e o espaço que a temática
ambiental está adquirindo nos veículos de comunicação. Vale lembrar que esta
autora realizou semelhante pesquisa há exatamente um ano e verificou em um
período maior, 12 dias, apenas sete matérias com viés ambiental. A maioria das
matérias constava no Caderno de Economia em editoras específicas de Economia e
Negócios, Agroenergia, Produção de Combustível e Etanol. Do total de 40 matérias,
metade, 20 delas, ocuparam o Caderno de Economia, fazendo uma estreita ligação
de meio ambiente com economia, colocando, muitas vezes, o tema ambiental como
fator limitante para os negócios. O Caderno Nacional (geral), editoria específica
“Vida &” abordou assuntos relacionados à Biodiversidade, Aquecimento Global e
qualidade de vida. Também foram encontradas notícias relacionadas ao tema
ambiental no Caderno Cidades, evidenciando a abrangência do assunto, que não
deve estar fixado em uma única editoria. O tema mais freqüente nas matérias
analisadas foi a Produção de etanol, biocombustível e agroenergia, justamente no
Caderno de Economia. Foram 19 matérias sobre a temática, quase metade do total.
Também foram contabilizados 9 textos sobre biodiversidade, englobando unidades
de conservação, florestas e povos tradicionais e 6 sobre aquecimento global e
mudanças climáticas. As fontes de informação foram em sua maioria oficiais. Em 40
matérias, 31 tinham o posicionamento oficial, enquanto 14 também ouviram
organizações não governamentais, associações e personagens envolvidos com o
tema. Os empresários e investidores foram citados em apenas 5 matérias, apesar da
predominância no Caderno de Economia com ênfase para negócios, enquanto
pesquisadores e universidades foram fontes de informação em 4 textos .O jornal
usou de generalizações atribuindo às informações e opiniões aos “ambientalistas”,
“cientistas” e “negociadores internacionais” como se estas categorias fossem
homogêneas e partilhassem da mesma opinião. Mas vale colocar que foi notada
uma pluralidade de fontes de informações em grande parte das matérias, que
ouviram governo, organizações não governamentais, personagens e pesquisadores.
CONCLUSÃO - Ficou evidente a partir desta pequena amostra que O Estado de
S.Paulo incorporou o discurso da preocupação ambiental, desenvolvimento
62
sustentável e produção de energia e combustíveis alternativos, mas deixou a desejar
em suas abordagens. Para Castells (2002) a questão ambiental ganhou mais
espaço justamente em virtude das publicações na mídia, e porque o movimento
ambiental demonstrou grande capacidade de divulgação, criando elementos
propícios para matérias e reportagens. Foi possível perceber um certo
enquadramento conflituoso, ressaltando embates ao invés de explicar o assunto
para seu leitor e uma forte predominância na relação econômica. Por não entrar em
muitos méritos científicos, se restringindo a descrever os acontecimentos de maneira
isolada, foi constatado um viés antropocêntrico nas matérias aqui analisadas,
colocando o homem isolado do meio ambiente. Mas as raras exceções mostram
assuntos mais voltados a uma realidade local. Devido às relações econômicas,
escolha das editorias e abordagens, muitas vezes, pragmática de alguns assuntos,
sobressaiu o paradigma positivista de ver a natureza de forma utilitária e isolada.
Esse panorama prévio contribuiu para uma pesquisa mais ampla sobre o assunto,
com uma amostra maior, que pode oferecer um quadro mais conclusivo a respeito
dos paradigmas ambientais encontradas no jornal em questão. Freire (2003) avalia
que a questão ambiental é interdisciplinar, em que se entrecruza o conhecimento
técnico cientifico, as normas e valores, o estético cultural, regidos por razões
diferenciadas. Para ele a solução dos problemas ambientais não é de natureza
técnica, mas de uma opção político cultural e de um novo paradigma, que deve
catalisar a formação de novos valores e promover a percepção em várias direções.
A mídia mostra-se como um importante canal para esta mudança de paradigmas.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1973.
CASTELLS, M. O poder da identidade. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. (A Era
da Informação: economia, sociedade e cultura, 2).
FONSECA JÚNIOR, W. C. Análise Conteúdo. IN: DUARTE, J. BARROS, A. (Org.).
Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
RAMOS, L. F. A. Meio Ambiente e Meios de Comunicação. São Paulo:
AnnaBlume, 1996.
FREIRE, G. Educação Ambiental : princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2003.
RAMOS, L. F. A. Meio ambiente e meios de comunicação. São Paulo:
AnnaBlume, 1996.
63
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
REPRESENTAÇÕES SOBRE AS ESFERAS DO PODER NA PRIMEIRA EDIÇÃO
DO CADERNO DIPLÔ, DO LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL1.
Fernanda Larossi Pinto2
RESUMO
Este trabalho tem a finalidade de analisar o Caderno Diplô, do Le Monde
Diplomatique Brasil, concretamente, a edição cuja chamada de capa é “Fórum Social
2002: Que outro mundo é possível?” Pretende-se buscar o sentido criado pelo
Caderno uma vez que nele se reproduzem matérias já publicadas anteriormente no
Le Monde Diplomatique. Assim, busca-se elencar características que moldam um
ponto de vista comum entre os autores, ou seja, o artigo a seguir indica as possíveis
representações das formas de poder, defendidas especialmente a partir das ações
dos Estados Unidos com o resto do mundo, o que vai de encontro à visão de que o
jornalismo é uma forma de representação importante na sociedade atual, devido ao
grande alcance e influência dos meios de comunicação em geral.
Palavras-chave: Representações. Poder. Jornalismo. Le Monde Diplomatique
Brasil.
1 INTRODUÇÃO
O artigo tem como objetivo analisar a edição número um do Caderno Diplô,
publicação do jornal Le Monde Diplomatique, e relacioná-lo com as possíveis
representações nas quatro esferas de poder: político, econômico, coercitivo e
simbólico, classificação esta exposta por Thompson (2005). Além de esboçar as
diferenças de cada esfera e tentar identificá-las no conteúdo editorial do Caderno,
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação da Unesp (Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’, campus de
Bauru/SP) na linha de pesquisa Processos Midiáticos e Práticas Socioculturais, desenvolvendo
projeto de estudo sobre ‘Reaproveitamento das notícias no jornalismo impresso contemporâneo: o
caso Le Monde Diplomatique’ com orientação do Prof. Dr. Maximiliano Martín Vicente
([email protected])
64
busca-se também dialogar com os conceitos de cultura e globalização discutidos nas
obras dos autores Canclini (2005) e Ramonet (2001), este último diretor do Jornal Le
Monde Diplomatique na França de 1998 a 2008. O objetivo final reside em buscar
contribuir para a discussão do papel social da mídia no mundo atual. E como o
conteúdo analisado do Caderno aborda as relações geopolíticas após os atentados
de 11 de setembro é possível elencar as características das representações de tais
formas de poder não só na sociedade norte-americana como no mundo todo.
2 RELEVÂNCIA
Este trabalho tem a finalidade de analisar o Caderno Diplô, do Le Monde
Diplomatique Brasil, concretamente, a primeira edição cuja chamada de capa é
“Fórum Social 2002: Que outro mundo é possível?” Pretende-se buscar o sentido
criado pelo Caderno uma vez que nele se reproduzem matérias já publicadas
anteriormente no Le Monde Diplomatioque. Assim, busca-se elencar características
que moldam um ponto de vista comum entre os autores, ou seja, o artigo a seguir
indica as possíveis representações das formas de poder, defendidas especialmente
a partir das ações dos Estados Unidos com o resto do mundo, o que vai de encontro
à visão de que o jornalismo é uma forma de representação importante na sociedade
atual, devido ao grande alcance e influência dos meios de comunicação em geral.
3 METODOLOGIA
Através da análise interpretativa dos textos republicados no Caderno Diplô,
pretende-se relacionar tais textos com as representações nas quatro esferas de
poder: político, econômico, coercitivo e simbólico, classificação esta exposta por
Thompson (2005). Com a ajuda de levantamento bibliográfico, busca-se também
dialogar com os conceitos de cultura e globalização discutidos nas obras dos autores
Canclini (2005) e Ramonet (2001), este último diretor do Jornal Le Monde
Diplomatique na França de 1998 a 2008.
4 PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA
65
Na abertura da primeira edição do Caderno Diplô, do Le Monde Diplomatique,
são citados os objetivos dos textos reunidos na publicação: debater “os novos
desafios surgidos após a contra-ofensiva do Império” – isso após os atentados de 11
de setembro –, “muito mais do que tentar sanar a perplexidade provocada pelos
atentados e pelo precedente aberto pela guerra contra o Afeganistão”. Com isso, o
posicionamento da publicação fica claro: Agimos movidos por uma ética que valoriza
os direitos ao invés do lucro; e a solidariedade em vez do egoísmo. Estamos
respaldados, além disso, pelo fato de que a globalização atual facilitou o surgimento
de monstros cujos tentáculos invisíveis se propagaram no vazio deixado pelo Estado
e nas brechas abertas pela desregulamentação. Na nova disputa de idéias que
surgiu após a guerra, deixaremos claro (...) que tanto o fundamentalismo religioso
como o fanatismo dos mercados são duas faces da mesma moeda; e que uma
efetiva democratização do mundo passa pela mudança radical de prioridades
econômicas, sociais e políticas 3.
A organização de uma edição especial temática ajuda a reforçar a posição do
jornal Le Monde Diplomatique de tentar contribuir para a reflexão de temas ligados à
economia e política que interferem na sociedade como um todo. Até mesmo o
reaproveitamento de material já divulgado pelo jornal e reunido numa nova versão
temática contribui para reforçar tal posição, o que, de certa forma, implica em pensar
que estamos diante de um nova maneira de realizar jornalismo, notadamente aquela
destinada a apresentar os fatos na sua cotidianidade. Na primeira edição do
Caderno Diplô, cujo tema central é “Fórum Social 2002: Que outro mundo é
possível?”, é possível identificar como os autores reunidos fazem um “convite ao
leitor” para pensar sobre a geopolítica atual, ou seja, consideram o receptor,
especialmente o deste produto editorial, como um indivíduo consumidor de
informação ativo e preocupado com a dinâmica mundial, notadamente aquela
relacionada com o desdobramento de episódios como foram os atentados ás torres
Gêmeas. Tal posicionamento seguido pelo Caderno Diplô se aproxima muito ao
pensamento de J. B. Thompson (1995), que defende a compreensão da sociedade e
sua construção social tomando como referência a mídia - já que para ele a “mídia se
envolve ativamente na construção do mundo social” - e entende a comunicação
sempre inserida numa sociedade e esta num contexto social. Para identificar tal
3
Trecho retirado da abertura de CADERNOS DIPLÔ nº 1. São Paulo: Editora Unesp, 2001-2003.
Anual. ISSN 1677-3616.
66
contexto, o autor elenca as relações de poder tipificadas em quatro esferas: poder
político, econômico, coercitivo e simbólico. Tais níveis se sobrepõem de maneiras
complexas e variadas, ou seja, tal estratificação não indica grau maior ou menor de
importância ou relevância na classificação proposta. O poder político é derivado da
“coordenação dos indivíduos e da regulamentação dos padrões de sua interação”.
Refere-se ao emaranhado “sistema de regras e procedimentos” (THOMPSON, 1995,
p. 22) que dão estrutura legal à sociedade. A segunda esfera, o poder econômico, é
considerada fruto da atividade humana produtiva: é a “atividade relacionada com a
provisão dos meios de subsistência através da extração da matéria-prima e de sua
transformação em bens que podem ser consumidos ou trocados no mercado”
(THOMPSON, 1998, p. 22). Vale destacar que entram aí tanto a esfera estatal
quanto a iniciativa privada. O poder coercitivo refere-se à utilização da “força física
para subjugar ou conquistar um oponente” (THOMPSON, 1998, p. 23). O autor
destaca que tal força não está relacionada somente com a humana, também inclui o
uso de armas e equipamentos, engloba os treinamentos, as táticas, a inteligência e
o planejamento. E a forma mais importante deste nível de poder é representada pelo
poder militar. O quarto nível – o poder simbólico – “nasce da atividade de produção,
transmissão e recepção do significado das formas simbólicas”. Nesta esfera,
encontram-se o poder da cultura e da comunicação. Para Thompson (1998, p. 24), a
atividade simbólica faz parte da vida social e com isso instituições diversas têm
importância na “acumulação dos meios de informação e comunicação”. E tais meios
englobam “os
meios
técnicos
de fixação e transmissão; as habilidades,
competências e formas de conteúdo simbólico (que Bourdieu chama de “capital
cultural”); e o prestígio acumulado, o reconhecimento e o respeito tributados a
alguns produtores ou instituições (“capital simbólico”)”. Em resumo, para o autor,
poder simbólico refere-se à aptidão de influenciar no decorrer dos acontecimentos,
nas atitudes alheias e gerar eventos através de meio de produção e da transferência
de formas simbólicas. A partir dos textos dos Cadernos Diplô, é possível relacionar
tais níveis de poder na discussão entre os autores reunidos na publicação, já que os
textos ajudam na construção da representação das formas de poder estabelecidas a
partir da política dos Estados Unidos, especialmente após os atentados terroristas
de 11 de setembro. Para esclarecer como se operam as relações de poder e suas
respectivas representações, aplicaremos a classificação proposta por Thompson e
que pode ser condensada na tabela a seguir:
67
Instituições paradigmáticas4
Formas de poder
Recursos
Poder econômico
Materiais e financeiros Instituições econômicas (p. ex.
empresas comerciais)
Poder político
Autoridade
Instituições políticas (p. ex.
estados)
Poder coercitivo
(especialmente poder
militar)
Força física e armada
Instituições coercitivas
(especialmente militares, mas
também a polícia, instituições
carcerárias, etc.)
Poder simbólico
Meios de informação e Instituições culturais (p. ex. a
comunicação
Igreja, escolas e universidades,
as indústrias da mídia, etc.)
Quadro 1 - Formas de poder.
Fonte: Thompson,1998, adaptada pelo autor.
Transportando para as representações dos textos do Caderno Diplô:
Formas de poder
Recursos
Instituições paradigmáticas
Poder econômico
Materiais e financeiros Empresas estatais ou privadas
das mais diferentes
nacionalidades, como as que
produzem armamento ou
tecnologia (no campo da
informática, por exemplo), ),
instituições ‘globais’ ligadas à
área econômica como FMI,
Banco Mundial e OMC (que
também podem entrar no poder
político, já que se passam por
“autoridade” nas relações
mundiais)
Poder político
Autoridade
Governo dos EUA, governos que
apoiaram a postura norteamericana após 11 de setembro,
governos que foram
ajudados/treinados pelos EUA no
passado (como Irã, Arábia
saudita
4
[...] instituições que proporcionam bases privilegiadas para o exercício de certas formas de poder.
(THOMPSON, 1998, p. 22).
68
Poder coercitivo
(especialmente poder
militar)
Força física e armada
Exército dos EUA, órgãos ligados
ao governo norte-americano
como a CIA, os próprios
terroristas (seriam uma esfera de
poder vista a partir das
ações/ataques terroristas, ou
seja, eles seriam uma forma de
coerção no combate ao
imperialismo estadunidense)
Poder simbólico
Meios de informação e Meios de comunicação em si,
comunicação
conglomerados midiáticos e bens
de consumo produzidos por eles
(produtos midiáticos ou formas
simbólicas por eles
comercializados)
Quadro 2 - Formas de poder no Caderno Diplô.
Fonte: Thompson,1998. Adaptada pelo autora.
O quadro logo acima, de forma bem resumida, aponta as instituições “que
proporcionam bases privilegiadas para o exercício de certas formas de poder”
(THOMPSON, 1996, p. 22) a partir do conteúdo analisado. Em todos os textos do
Caderno Diplô, é possível identificar crítica severa em relação ao exercício do poder
político, econômico, coercitivo e até simbólico dos EUA. O país que se tornou grande
potência mundial, especialmente após o fim da URSS, passou a ser referência nas
quatro esferas de poder e o “american way of life” despertou encantamento (o desejo
de copiar, se inspirar e seguir, por exemplo) por parte de uns e revolta por parte de
outros (o desejo de combater, exterminar, por exemplo). Isso nas mais distintas
esferas sociais e nas mais diferentes nacionalidades. O fácil acesso às formas
simbólicas norte-americanas e o consumo das mesmas – por causa principalmente
dos avanços tecnológicos–, seja por parte da própria sociedade dos EUA e de
sociedades de outros países, faz resgatar o pensamento de Canclini (2005), que
defende que nos séculos XIX e XX o valor simbólico de consumir o que é nosso
(valorização dos bens locais) era amparado por uma nacionalidade econômica. Hoje,
a cultura é vista como um processo multinacional, ou seja, “uma colagem de traços
que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ter e utilizar”
(CANCLINI, 2005, p. 32), o que explica o fascínio pela representação do poder
norte-americano na sociedade como um todo. Com a facilidade ao acesso aos
produtos estadunidenses versus a influência desempenhada através do exercício
das quatro esferas do poder, o mundo todo pode consumir e imitar (aí seguem os
69
exemplos: fórmulas televisivas copiadas incansavelmente pelo mundo todo; recorde
de bilheteria dos filmes, especialmente as seqüências cinematográficas e etc.), uma
forma de vida própria de uma potência hegemônica que sabe responder pela força e
demais manifestações de poder diante de uma possível agressão à sua integridade.
À luz desta discussão em relação ao poder simbólico, especialmente no âmbito da
cultura, na contemporaneidade, Ramonet (2001) faz uma provocação em relação ao
papel dos EUA (vista também nos textos analisados do Caderno Diplô) e presente
em artigos diversos do autor: (...) qual é a responsabilidade da cultura? Também
neste aspecto, os Estados Unidos continuam sendo a referência e os pioneiros da
cultura de massa, quer se trate de esporte, world music, séries de televisão,
programas de informação ou parques de lazer. Assumido pelos homens de negócio,
o modelo cultural derrapou no insignificante, sensacional ou vulgar. (RAMONET,
2001, p. 12). Ainda para despertar mais a reflexão indaga: “Será possível que os
espíritos criativos não se manifestem? Será que os intelectuais hão de conseguir se
mobilizar para evitar que, no limiar de um novo milênio, a civilização acabe
soçobrando no fascínio do caos?” (RAMONET, 2001, p. 12). Publicações como os
Cadernos Diplô vão de encontro na busca por uma resposta à última pergunta de
Ramonet no parágrafo anterior: uma edição especial com intelectuais, pensadores,
pesquisadores
contemporâneos
que
discutem temas
atuais
que
ditam o
comportamento social de forma clara, objetiva em textos autorais. Ao analisar tal
conteúdo, fica claro o posicionamento de cada autor e a unidade que existe entre
eles ao alimentarem uma discussão saudável e essencial que molda a sociedade
nos dias de hoje: qual rumo seguirá o mundo se as atitudes políticas, econômicas e
sociais não se transformarem? Tal questão refere-se às quatro esferas do poder
elencadas no início deste texto e como os EUA e as representações de tais esferas
podem continuar sendo como são. A elaboração do Caderno especial serve para
analisar, de maneira mais vagarosa e em profundidade um tema essencial para o
mundo uma vez que Os Estados Unidos desenvolveram uma forte ação, rigorosa,
taxativa em alguns momentos, contra o que passaram a denominar de eixo do mal.
Nada mais, de acordo com as manifestações de poder estudadas por Thompson, do
que uma forma de se reafirmar diante do desgaste só que agora de maneira mais
abrangente e sinistra, pois pretendiam se tornar a reserva moral mundial dizendo o
que é certo e o que é errado. Assim, esse tipo de jornalismo cumpre a função de
enriquecer o debate, de apresentar diversas versões além de levantar interrogações
70
e problemas que colocam em xeque a ação dos Estados Unidos. De acordo com
Ramonet (1996) a “mundialização da informação” torna possível a transmissão de
acontecimentos ao vivo de qualquer parte do planeta, ainda mais nos meios
eletrônicos, como a televisão e a Internet (ainda com menor penetração que a
televisão, mas tão ou mais impactante que o meio televisivo). “Na guerra das
imagens, uma foto ou uma cena televisionada e o seu eco planetário pode surtir
mais efeito que um corpo militar” (RAMONET, 1996, p. 11). Além da facilidade de
acesso aos produtos devido ao rápido avanço tecnológico, vale destacar também
que os conglomerados midiáticos atuais fazem com o fluxo/troca/contato/divulgação
dos formatos simbólicos seja mundial e cada vez haja barreiras para tais
movimentos. “Estas grandes concentrações de poder econômico e simbólico
fornecem as bases institucionais para a produção de informação e conteúdo
simbólico e sua circulação em escala global” (THOMPSON, 1995, p. 75). Como a
circulação se insere dentro de uma escala global, as grandes empresas de
comunicação responsáveis pela distribuição mundial de formas simbólicas estão
cada vez se expandindo mais e usufruindo da globalização (especialmente nas
esferas política, econômica e simbólica de poder): [...] o desenvolvimento dos
conglomerados de comunicação provocou a formação de grandes concentrações de
poder econômico e simbólico que são privadamente controlados e desigualmente
distribuídos, e que dispõem de recursos maciços para garantir os objetivos
corporativos na arena global. Provocou também a formação de extensas redes de
comunicação, privadamente controladas, através das quais informação e conteúdo
simbólico podem fluir. (THOMPSON, 1998. p. 144). Além da internacionalização dos
meios comunicacionais e culturais que interferem no exercício das quatro esferas de
poder, a relação tempo e espaço com a globalização6 também foi alterada. Nas
sociedades antigas, a convivência entre as pessoas (que Thompson denominou de
“interação face a face”) geravam ações e conseqüências entre seus membros, ou
6
Considerando definição de Canclini (2005, p. 32): “A globalização supõe uma interação funcional de
atividades econômicas e culturais dispersas, bens e serviços gerados por um sistema com muitos
centros, no qual é mais importante a velocidade com que se percorre o mundo do que as posições
geográficas a partir das quais se está agindo”. E apoiando-se na visão de Thompson (1998, p. 135):
“No sentido mais geral, o termo globalização refere-se à crescente interconexão entre as diferentes
partes do mundo, um processo que deu origem às formas complexas de interação e
interdependência”. E mais: o processo de globalização “surge somente quando (a) atividades
acontecem numa arena que é global ou quase isso (e não apenas regional, por exemplo); (b)
atividades são organizadas, planejadas ou coordenadas numa escala global; e (c) atividades
envolvem algum grau de reciprocidade e interdependência, de modo a permitir que atividades locais
situadas em diferentes partes do mundo sejam modeladas umas pelas outras.”
71
seja, não influenciavam indivíduos que não fazia parte deste círculo social. E “hoje é
comum ver os indivíduos orientarem suas ações para outros que não partilham o
mesmo ambiente espaço-temporal, e com conseqüências que ultrapassam de muito
os limites de seus contextos e localizações” (THOMPSON, 1998, p. 92). E vale
lembrar que a “as mensagens da mídia podem estimular e alimentar ações coletivas
em indivíduos localizados em contextos distantes” (THOMPSON, 1998, p. 105). Na
análise dos textos do Caderno Diplô, percebe-se que os movimentos despertados
por ações que acontecem nas mais diferentes partes do mundo têm sido freqüentes
na sociedade atual. Um exemplo são os movimentos antiglobalização internacionais
– destacados nos textos do Caderno -, ou seja, manifestações contra as mais
diferentes esferas de poder, especialmente a política e econômica (mas que refletem
diretamente nas outras duas esferas, coercitiva e simbólica) promovidas por
indivíduos nos mais diversos lugares do planeta unidos por uma série de valores e
crenças comuns apesar de sua diversidade e pluralidade de origem. A barreira
territorial do tempo e de culturas não existe mais com os meios eletrônicos e com o
acesso facilitado a eles.
5 CONCLUSÃO
O conteúdo reunido na primeira edição do Caderno Diplô, além do objetivo explícito na abertura da publicação - de promover uma reflexão especialmente das
relações internacionais após os atentados de 11 de setembro, contribui para a
discussão do papel social da mídia na contemporaneidade. A prática jornalística não
pode ser dissociada das relações de poder. Os textos analíticos e reflexivos
conseguem reunir dados históricos, que contribuem ainda mais para a formação
crítica de quem os consome, contextualizando as representações dos poderes
político, econômico, coercitivo e simbólico entre o país de maior influência mundial –
os EUA – e o resto do planeta. Não adianta apenas culpar o poderio norteamericano pelas mazelas do mundo. É necessário discutir de que forma as quatro
esferas do poder na atualidade pode contribuir para a diminuição de tais diferenças,
especialmente as do âmbito sociais, já que globalização da comunicação,
principalmente através da mídia eletrônica, é mais um dos embates culturais da
humanidade (THOMPSON, 1998, p. 152).
72
ABSTRACTS
This paper aims to analyze the Notebook Diplo, Le Monde Diplomatique
Brazil, namely the issue whose cover story is "Social Forum 2002: That
another world is possible." The aim is to seek the meaning created by the
notebook since it reproduces material previously published in Le Monde
Diplomatique. So, I intend to list characteristics that shape a common view
among the authors, ie the article below indicates the possible
representations of the forms of power, especially since defended the
actions of the United States with the rest of the world, that goes against
the view that journalism is an important form of representation in today's
society, given the broad scope and influence of the media in general.
Keywords:
Brazil.
Representations. Power.
Journalism.
Lê
Monde.
Diplomatique
REFERÊNCIAS
CADERNOS DIPLÔ n. 1. São Paulo: Editora Unesp, 2001-2003. Anual. ISSN 16773616.
CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da
globalização. Tradução de Maurício Santana Dias. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ, 2005.
THOMPSON. John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia.
Tradução de Wagner de Oliveira Brandão. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
RAMONET, Ignacio. Geopolítica do caos. Tradução de Guilherme João de Freitas
Texeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
______ ; GRES, Alain (org.). A desordem das nações. Tradução de Ephraim
Ferreria Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
VICENTE, Maximiliano Martin. O Jornalismo do Le Monde Diplomatique. Revista
Comunicação Midiática: Revista do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação/Universidade
Estadual Paulista, ano 2, n. 3, p.133-149, ago. 2005.
Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em: <http://diplo.uol.com.br/200708,a1327>. Acesso em: 18 jul. 2008.
Le Monde Diplomatique França. Disponível em: <http://www.mondediplomatique.fr/diplo/apropos/>. Acesso em: 13 mar. 2009.
73
EIXO TEMÁTICO: LINGUAGENS E EDUCAÇÃO
74
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
DA CRIAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO: MICHELANGELO E O PROCESSO DE RECRIAÇÃO 1. Léa Sílvia Braga de Castro Sá2
Palavras-chave: Leitor. Gestualidade. Intertextualidade.
INTRODUÇÃO - A imagem atravessa os textos e os tempos, palavras e imagens
interagem, possibilitam a re-vitalização e a socialização de um saber, antes restrito a
uma minoria. Neste “canto de metamorfose”, participamos deste “museu imaginário”.
O legível e o visível cruzam-se e entrecruzam-se nos olhares do ler e do ver, que
são os mesmos acrescidos do mundo do texto e do mundo do leitor. O leitor produtor de sentidos - traz, para o interior do mundo do papel, toda uma gama de
elementos extratextuais. Um olhar diferente leva a uma composição diferente, o que
possibilita ao autor interversões e intervenções. E é justamente a mobilidade do
ponto de vista que permite a atualização no ato de criação. Ler levantando a cabeça
aponta o trabalho de tessitura dos significados que não estão circunscritos, limitados
ao texto, assim como não estão no autor ou no leitor exclusivamente, mas no
cruzamento de olhares entre eles.
RELEVÂNCIA - Como leitor - caçador de sentidos e participante da construção do
sentido -, estabelecemos a intertextualidade, buscando um dos pontos de isotopia o gesto, o significado da mão no ato de criar; o ato performativo da criação através
das mãos. Como no ato de ler e ver, o gesto é muito importante, não só “a leitura
tornou-se um gesto do olho”, como disse De Certeau, como também o gestual se
tornou, além de visível, lisível (possível de ler). O gesto - precursor da palavra - é
universal, sintético. É a linguagem sem palavras, é o silêncio que fala. Utilizando-se
de signos não verbais, cria significação.
METODOLOGIA - Numa volta ao Gênesis (“No princípio Deus criou o céu e a
terra... separou a luz e as trevas... E criou o homem a Sua imagem; criou-o à
imagem de Deus...E, da costela de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher –
Eva...”) e a Michelangelo (A Criação – Capela Sistina), buscamos a chave para
algumas re-leituras que se tem feito, acompanhando o processo de intervenções e
interversões (na Arte e na Mídia), caminhando pela trama de unidades sígnicas do
verbal e do não verbal. Tentamos resgatar no passado o presente, analisando,
neste constante re-criar, a complexidade da relação entre o texto e o leitor.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES / RESULTADOS DA PESQUISA - Michelangelo
enfatizou o gestual e a grande recorrência do gesto revela sua importância,
transforma-o em um verdadeiro signo. No afresco da Capela Sistina, a gestualidade
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Professora com Doutorado em Comunicação e Poéticas Visuais. Professora do Centro de Humanas
– Universidade Sagrado Coração – e-mail: [email protected]
75
da mão foi a constante. Michelangelo teve o cuidado de distinguir dois gestos para
as mãos pelos quais o Criador instaura Sua criação: gestos do indicador apontado –
símbolo do poder – para a criação dos astros e para a criação de Adão; e, da mão
espalmada – símbolo da autoridade – para a separação da luz e das trevas, para a
separação dos astros e para a criação de Eva. O indicador apontado é a imagem do
Logos performativo, do Verbo. O gesto da mão espalmada corresponde à criação
pela separação dos elementos existentes anteriormente. Nada mais que dois gestos
- o indicador e a mão espalmada - e o Caos se transforma em Cosmos, a não vida
se transforma em vida. À criação pela palavra “Deus disse”, acrescenta-se a criação
pelo ato “Deus fez”. A palavra bíblica - o dito - fixa o significado da imagem - o visto.
Entre o visto e o dito, pode-se estabelecer relações de complementaridade em
relação ao gestual: o encontro da mão de Deus com a mão do homem. Michelangelo
transforma o texto verbal em pictórico. Seus afrescos impressionam pelas marcas
significativas: a gestualidade tem sido utilizada pelos mais diferentes Meios de
Comunicação, procurando entrecruzar linguagens para eternizar e reavivar
constantemente o potencial criativo do homem. Hoje Michelangelo - o criador - se
atualiza nos mais diversos Meios de Comunicação de Massa. Recreia-se através de
Cópia, como em envólucros de papel e envelopes (Filipaper), em propagandas
(Petrobrás), em Os Quadrões de Maurício de Sousa, na literatura (O Criador de
Semíramis Paterno), em um Mural (no Metrô de Milão/2003 ...); através da
Estilização (como no Selo comemorativo do ano 2000 na Itália), em propaganda
(Caterpillar...), em capas de revistas; através de Sugestão, como no enredo e
alegorias da Escola de Samba São Clemente do Rio de Janeiro (Carnaval / 2002)),
em filme (ET), na vinheta de novelas (Tieta do Agreste, O Anjo que caiu do Céu, O
Clone...). A vinheta do novela O Clone, numa atualização da Criação do Homem, faz
repensar o ato da criação. Assim como o Criador criou o homem à Sua imagem e
semelhança, também criou Eva - o primeiro clone -, tirando-a da costela de Adão.
Criou o varão e a fêmea. O homem inerte levanta-se, divide-se em dois e a tênue fita
do DNA estabelece a ligação. É uma tessitura polifônica: um texto fala de outro
texto, é um diálogo de um texto com outro texto. Como diz Malraux “é um canto de
metamorfose”. Entramos num museu imaginário. O agora-presente representa-se
como a modificação do agora-passado.
CONCLUSÃO - A releitura arrasta o texto para fora da cronologia e reencontra um
tempo mítico (sem antes nem depois) e é através dela que obtemos não o
“verdadeiro” texto, mas o texto plural: o mesmo e o novo. Cabe ao leitor puxar os
fios, destecer nós, ao mesmo tempo em que amarra outros fios, tece outros nós. Os
hipertextos, inseridos numa rede de outros textos, libertam da ideia da obra como
objeto absoluto e fechado, pois, com a inserção de textos particulares em contextos
textuais variáveis, permite ao leitor-usuário mudanças incontroláveis.
REFERÊNCIAS
ARASSE, D. L’index de Michel-Ange. In: Communications 34. Paris: Seuil, 1981.
BERTRAND, D. Caminhos da Semiótica Literária. Tradução do Grupo CASA.
Bauru, SP: EDUSC, 2003.
76
CHASTEL, A. Lê geste dans l’art. Paris: Editions Liana Levi, 2001.
COSNIER, J. Geste, cognition et communication. In: Nouveaux Acts Semiothiques.
Pulim. Limoges, FR: Université de Limoges, 1997.
JOLY, M. Introduction à l’Analyse de l’image.Tradução de Marina Appenzeller.
Campinas, SP: Papirus, 1996. (Coleção Ofício e Arte).
RIO, M. Lê dite et le vu. In: DEGRÉES. Bruxelles, 1987. p. 49-50.
77
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A POÉTICA CRIATIVA NA PUBLICIDADE: UMA VISÃO DA SEMIÓTICA
PEIRCEANA1. Luiz Nelson de Oliveira Trentini2
Palavras-chave: Criatividade. Semiótica. Objeto estético da publicidade.
INTRODUÇÃO – A abrangência do signo permite que a realidade do visível pertença
a uma camada interpretativa do conhecimento (SANTAELLA, 1995), dessa maneira,
o signo midiático, assim considerado, é interpretativo. Nesse sentido, o ato poéticocriativo faz um questionamento relevante sobre a interpretação da realidade num
contexto propositadamente preparado e produzido para simbolizar a figuração.
Pode-se, assim, considerar esse o objeto da criação na publicidade, um ato
compreensível recíproco entre o enunciador e o enunciatário. Dessa maneira, a ação
criadora aliada à combinatória sígnica adequada tornam-se essenciais para a
narrativa favorável ao objeto da campanha de publicidade. Sobre isso, afirma Peirce,
“Para identificar um objeto, geralmente indicamos seu lugar e determinamos um
tempo; e, em qualquer caso, deve mostrar-se como pode conectar-se uma
experiência sua com a experiência prévia do ouvinte” (MS 404, §5).
RELEVÂNCIA – Para Peirce, a ação sígnica é o meio natural para a percepção do
mundo exterior que constrói o repertório reflexivo do mundo interior do homem. Não
é possível pensar sem a intermediação de signos, sejam eles verbais, imagéticos,
sonoros, olfativos, táteis e gustativos. Toda percepção do mundo exterior gera a
experiência e repertório interior do homem. Assim, todo pensamento deve ordenar
outro pensamento, o que vem constituir “de forma imediata, pelo mesmo princípio, a
sensação precedente estaria imediatamente presente, e assim sucessivamente, ad
infinitum” (CP 6. 109). Da mesma maneira, na criação publicitária um pensamento é
precedido de outro pensamento comparável ou semelhante ao objeto da
comunicação da campanha. É o mesmo que dizer “[…] as idéias tendem a propagarse de forma continua, e a afetar a outras determinadas que se encontram em uma
relação peculiar de afetabilidade a respeito delas” (CP 6. 103). Desse modo as
ações combinadas entre os cinco sentidos do homem, sejam arbitrárias ou casuais,
podem criar novas representações sígnicas e assim aumentar sua coleção cognitiva.
Assim, ao determinar o objeto de comunicação da estética da publicidade através de
signos compreensíveis, pode-se sujeitar esse objeto de comunicação ao exame da
mente do público-alvo.
METODOLOGIA – Por intermédio de pesquisa bibliográfica e produções científicas
disponibilizadas na Internet identificou-se e selecionou-se autores que têm realizado
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Designer, publicitário e fotógrafo, com Mestrado em Comunicação Midiática, pela UNESP-Bauru.
Professor do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas da Universidade Sagrado Coração, das
Faculdades Integradas de Jaú e Coordenador do Curso Comunicação nas Organizações, na Pósgraduação da USC – e-mail: [email protected]
78
estudos sobre semiótica, psicologia, publicidade e sociologia. Dos textos
selecionados extraiu-se os aspectos mais importantes que se relacionam à criação
em publicidade, o que possibilitou refletir e analisar as informações pertinentes e
consideradas importantes para essa produção.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES - Todos os homens co-dividem extraordinárias energias
psíquicas, que formam as raízes do Eu, definido por Jung, como Inconsciente
Coletivo. É o patrimônio da humanidade que se ramifica em cada ser
individualmente. Nessa realidade antiga e primordial encontram-se todas as
experiências fundamentais do homem. Tudo o que peculiarmente representa a
humanidade: experiências do nascimento, da felicidade, da maternidade, do perigo,
do encontro com as forças da natureza, dos animais e dos grandes símbolos
sagrados e religiosos. Substancialmente, tudo que trata do encontro do homem com
a energia da vida, da natureza e dos seres (HILLMAN, 1990). Essa arquetipia
jungniana se apresenta em ocasiões da vida, sobretudo em momentos de grandes
emoções, quando estão em jogo interesses privados. Assim, o homem encontra
nessa arquetipia sígnica de grande força e potência que o colocará de frente à sua
própria personalidade, a seus próprios desejos (HILLMAN, 1990). Trata-se do mais
poderoso e influente sistema da psique. Parece ser o depósito de traços de memória
herdados do passado da humanidade que tornam-se signos que devem ser
utilizados pontualmente na criação em publicidade. É aparentemente universal e
todos os seres humanos têm, em maior ou menor teor de qualidade, o mesmo
inconsciente coletivo. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente pessoal e todas
as outras aquisições individuais. Tudo o que uma pessoa apreende como resultado
de experiências é influenciado pelo inconsciente coletivo faz parte do seu repertório
cognitivo (JUNG, 1990). Para Durkheim, esse mundo inconsciente é completamente
diferente do mundo físico. É o mundo social. É a idealidade constituída de duas
representações sígnicas que, em semiótica, é conhecida como realidade de signos e
realidade de símbolos, assim, para Durkheim, existem tipos de idéias ou ideais de
realidade “cujo papel é unicamente expressar as realidades às quais se aplicam, de
expressá-las como são: trata-se dos conceitos propriamente ditos [...] estes são os
ideais de valor” (DURKHEIM, 1994, p. 143). Essas representações coletivas são
imagens, que, embora resultem das sensações, não podem ser explicadas apenas
pelo estado do cérebro nem pela morfologia social. Desse modo, se a vida
representativa no indivíduo pode ser chamada de “espiritualidade”, a vida social se
define por uma “hiperespiritualidade”. Isto é, trata-se dos “mesmos atributos da vida
psíquica, elevada a uma potência muita alta, de modo que chegam a constituir algo
inteiramente novo” (DURKHEIM, 1994, p. 54). Pois, a sociedade é, antes de tudo,
“um conjunto de idéias, de crenças, de sentimentos de toda a espécie, num
amálgama realizado pelo próprio indivíduo” (DURKHEIM, 1994, p. 90). Ou seja,
virtualidades que se juntam e se repelem em constante movimento de construção de
mundos de sentidos capazes de instituir a nova realidade. Nesse sentido, as teorias
acima estão aportadas na Cosmologia peirciana, quando ele afirma: “minha noção é
que nós percebemos diretamente a continuidade da consciência e se qualquer um
objetar que aquilo que não é realmente contínuo pode ‘parecer’ ser assim, eu replico
‘mas não poderia parecer assim se não houvesse alguma consciência que assim
seja” (CP 6.182). Portanto, fundamentar a pesquisa estética não somente sobre
repertórios sígnicos de fantasias, mas também num repertório sígnico que revitalize
a atividade mental do público, com novas produções de sentido. Isso quer dizer, sem
79
perder os traços distintivos, os signos associados no sintagma3 configuram um
desenho paradigmático, que leva o receptor a uma atividade mental de leitura
formada por novos signos que reciclam o repertório de elementos do grupo em
questão (BIGAL, 1999). A produção poético-estética do objeto estético da
publicidade deve ser orientada pelo conhecimento do repertório apresentado pela
pesquisa de opinião e pela pesquisa de mercado, para estabelecer equivalência
sígnica entre a mensagem e o público receptor. Como signos aproximados por
equivalência, o repertório do público receptor seria ampliado substancialmente e, na
mesma materialidade sígnica, aproximar dois repertórios, dois campos sígnicos
distintos. A função poética de linguagem4 está presente na cultura de massa e na
publicidade. O objeto estético da publicidade cumpre a tarefa de linkar a percepção
a dada coleção sígnica onde a recepção exige a percepção para a elaboração do
interpretante pelo sujeito/receptor, cuja decodificação produz sentido. Dessa
maneira, a função conativa da linguagem5 garante a resposta de compra, a
interpretação esperada. A função conativa estabelece uma relação que se dá entre
duas formas, entre forma e significado ou entre um sistema de formas e seu
contexto, onde deverá estar incluída na composição da mensagem do objeto
estético da publicidade. Ela torna o receptor/consumidor partícipe consciente do
consumo, ao selecionar marcas, produtos e serviços oferecidos. O poético-estético
do objeto de publicidade, que produz e cria sentido, está sob o domínio e a
satisfação do desejo: há um prazer alcançado no ato da compra do produto ou
serviço anunciado e há outro prazer na recepção poético-estética da mensagem,
que acrescenta novo saber muito próximo ao do sujeito/consumidor. Assim, os
prazeres na esfera do consumo garantem a compra de bens simbólicos onde o
prazer é “[...] aquilo que é satisfeito mediante o consumo de bens simbólicos”
(BIGAL, 1999, p. 24). Dessa maneira, na esfera da recepção está garantida a
participação do consumidor como receptor/leitor o prazer é a capacidade de
reconhecer os semantemas 6 ou a capacidade da fruição da obra, conforme o
repertório sígnico (BIGAL, 1999). Desse modo, a mensagem poética acentua a
essência da mensagem. Na obra poética, como em outras artes o importante é a
maneira de como se preceitua o enunciado. A mensagem dá origem à função
poética: o essencial é a sua forma, o seu conteúdo e a sua fruição estética. A
criação da mensagem é evidenciada pela função poética, pela similaridade sígnica,
seja na comunicação verbal como na comunicação não verbal, concede autonomia à
mensagem, pelo seu caráter formal e estético. Assim, estabelece as relações de
afetabilidade entre os objetos do mundo exterior, que confere ao homem a
representação sígnica que pode determinar a natureza cognitiva do seu mundo
interior. Para Charles Peirce, a criatividade é a capacidade de gerar nova
inteligibilidade a partir de objetos já existentes. A criatividade envolve tanto o
enunciador como o enunciatário, inclusive a criatividade, como possibilidade de
crescimento, é uma característica da racionalidade humana. A maneira como
funciona, portanto, não exclusiva de nenhum âmbito do conhecimento
indissoluvelmente unido a toda aplicação da razão humana.
CONCLUSÃO - O objeto estético da publicidade é uma forma de criar atos de
comunicação cuja característica principal é ser persuasivo e realista. Sua mensagem
deve convencer o público sobre os benefícios do produto ou serviço anunciado.
3
Nosso conhecimento acumulado (BIGAL, 1999, p. 43).
Que produz, que cria um sentido, uma significação (BIGAL, 1999, p. 43).
5
Relação entre um sistema de formas e o seu contexto (BIGAL, 1999, p. 43).
6
Elementos que encerram os significados correspondentes a dado conceito (BIGAL, 1999, p. 98).
4
80
Portanto, através das representações sígnicas pode-se alcançar maior visão de
conjunto das representações obtidas sobre o objeto estético da publicidade e, desse
modo, apurar novas verdades, ações combinatórias, arbitrárias e eventuais de
signos que podem criar novas representações e, assim, aumentar a coleção
cognitiva do objeto veiculado. Portanto, pode-se dizer que o signo novo é, para
Peirce, a criatividade idealizada pela abdução7: o criativo é valioso, inteligível e
original. É a expressão da própria subjetividade, que ele entende em termos
semióticos caracterizada pela continuidade evolutiva marcados por estados
teleológicos.
REFERÊNCIAS
BIGAL, Solange. O que é criação publicitária. São Paulo: Nobel, 1999.
DURKHEIM, Émile. Sociologia e filosofia. São Paulo: Ícone, 1994.
HILLMAN, James. Anima: anatomia de uma noção personificada. São Paulo: Cultrix
1990.
JUNG, Carl. O eu e o inconsciente. Rio de Janeiro. Vozes. 1990.
PEIRCE, C.S., Collected Papers of Charles Sanders Peirce, Vols. I-VI, ed. por C.
Hartshorne and P. Weiss, Harvard University Press, Cambridge, 1931-1935, and
Vols. VII-VIII, ed. by Arthur Burks, Harvard University Press, Cambridge, 1958.
(Referenciado como CP.)
SANTAELLA, L. e NÖTH W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo:
Iluminuras, 1998.
7
Peirce denomina a abdução, alternativamente de retrodução, hipótese e inferência hipotética (CP.
5.590).
81
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A UTILIZAÇÃO DO RÁDIO NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (EAD): O PROJETO
MINERVA E O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE1
Roseane Andrelo2, Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza3,
Eliane Cintra Rodrigues Montresol4, Sílvia Brandão Cuenca Stipp5.
RESUMO
A Educação a Distância (EaD) utiliza-se principalmente da internet, que possibilita o
acesso ao mundo todo em apenas alguns cliques, além do aluno estudar no tempo
que lhe for conveniente e reduz custos financeiros dos dois lados, da instituição de
ensino e do discente. Contudo, outros meios de comunicação, por exemplo o rádio e
a televisão, em tempos remotos, implantaram o conceito de EaD no Brasil. Como
proposta, este estudo apresenta a utilização do rádio como uma das ferramentas de
EaD no Brasil, salientando, especialmente, o Movimento de Educação de Base
(MEB) e o Projeto Minerva. Foram utilizadas as pesquisas bibliográfica e
exploratória, baseando-se em literaturas, artigos científicos e webites sobre o
assunto. Aplicou-se o Método Analítico-Sintético, que permite uma análise mais
detalhada destes materiais, os quais encontram-se disponíveis em bibliotecas e na
internet. Conclui-se que com as demais inovações tecnológicas disponíveis, o rádio
passou a ser menos utilizado pela educação. O rádio é um meio importante de
interação entre as pessoas e no processo de ensino-aprendizagem, especialmente
na educação e alfabetização de adultos. Neste sentido, cabe a todos os cidadãos,
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Docente dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Sagrado Coração (USC).
Coordenadora dos Cursos de Comunicação Social – Habilitações em Jornalismo, Relações Públicas
e Publicidade e Propaganda da USC. Doutora em Educação Escolar. Mestre em Comunicação
Midiática. Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. E-mail: [email protected]
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em
Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail:
[email protected]
4
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em
Marketing e Propaganda. Bacharel em Publicidade e Propaganda. Docente do Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba. E-mail: [email protected]
5
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em
Comunicação Jornalística. Bacharel em Direito. Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em
Jornalismo. Coordenadora do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo e
Assessora de Comunicação do Centro Universitário de Votuporanga e Supervisora da Artefato –
Agência Experimental de Jornalismo. E-mail: [email protected]
82
governantes, educadores, gestores e alunos acreditarem novamente no potencial do
rádio no ambiente educacional, na expectativa de que se cumpra, verdadeiramente,
as metas de Roquette-Pinto, trazendo consigo a esperança de uma nova civilização
baseada na educação, na informação e na cultura.
Palavras-chave: Rádio. Educação à Distância. Projeto Minerva. Movimento de
Educação de Base.
1 INTRODUÇÃO
Assim como a evolução das sociedades ao longo da história, o processo
educacional
também
alcançou
mudanças
significativas,
possibilitadas
especialmente, pelas ferramentas tecnológicas desenvolvidas. Com a introdução da
tecnologia, a educação teve a possibilidade de tornar-se mais dinâmica, de repensar
valores e métodos, além de exigir cada vez mais que as pessoas (educadores,
gestores, discentes) tenham conhecimentos e habilidades diversas e, que acima de
tudo, sejam motivadas a utilizar tais tecnologias. Atualmente, vive-se a fase da
Educação à Distância, mais conhecida como EaD. A EaD utiliza-se principalmente
da internet, que possibilita o acesso ao mundo todo em apenas alguns cliques, além
do aluno estudar no tempo que lhe for conveniente e reduz custos financeiros dos
dois lados, da instituição e do discente. Grandes portais e plataformas são
construídas para atender a EaD, tais como Moodle e TelEduc. Estas plataformas
educacionais fazem com que os alunos possam interagir entre si e com os
educadores (tutores), além da participação em fóruns, postar mensagens, entre
outros. No Brasil, esta realidade não é diferente. Com a EaD, as barreiras
geográficas são quebradas, otimiza-se o tempo, mas desde que os alunos tenham
condições de acesso à computadores e laboratórios. Contudo, não é somente pela
introdução da internet que se pode obter a EaD. Outros meios de comunicação, por
exemplo o rádio e a televisão, em tempos remotos, implantaram o conceito de EaD
no Brasil. Assim, como proposta, este estudo visa apresentar a utilização do rádio
como uma das ferramentas de EaD no Brasil, salientando, especialmente, o
Movimento de Educação de Base (MEB) e o Projeto Minerva.
2 RELEVÂNCIA
83
Para os acadêmicos, docentes e profissionais da Comunicação Social e suas
áreas interdisciplinares, torna-se necessário conhecer e refletir sobre o papel
exercido na sociedade por uma mídia, neste estudo, o rádio. O rádio é uma potente
ferramenta para alavancar a educação em nosso país, a exemplo dos projetos
extintos Minerva e MEB. Assim, o tema é pertinente porque reúne informações sobre
os projetos citados acima e permite uma reflexão sobre a história do rádio na EaD no
Brasil.
3 METODOLOGIA
Foram utilizadas as pesquisas bibliográfica e exploratória, baseando-se em
literaturas, artigos científicos e webites sobre o assunto. Aplicou-se o Método
Analítico-Sintético, que permite uma análise mais detalhada destes materiais, os
quais encontram-se disponíveis em bibliotecas e na internet.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As origens da radiodifusão sonora vem carregadas de experiências e
pesquisas em transmissão de som, telegrafia, telefonia com fios e ondas
magnéticas. A invenção do rádio é atribuída ao italiano Guglielmo Marconi. Contudo,
a radiodifusão sonora é o resultado do trabalho de vários pesquisadores de diversos
países ao longo do tempo. No Brasil, o destaque é para o Padre Roberto Landell de
Moura que, em 1904, recebe três cartas patentes do Escritório de Patente de
Washington: telégrafo sem fio, telefone sem fio e transmissor de ondas. Um outro
momento importante na história é que no início do século, “os pesquisadores
enfrentavam um grande problema para a transmissão de sons sem o uso de fios”
(FERRARETTO, 2001, p. 85). Assim, surge a figura de Reginald A. Fessenden, o
qual desenvolveu a estrutura básica do processo de transmissão em amplitude
modulada (teoria da onda contínua). Seu objetivo era transmitir a música e a voz
humana. A teoria da onda contínua é aquela em que a onda sonora era sobreposta
à de rádio e transmitida ao receptor, onde o ouvinte ficava apenas com o som. Em
24 de dezembro de 1906 ocorreu a primeira transmissão comprovada e eficiente,
com som de um violino, trechos da Bíblia e de uma gravação fonográfica da estação
em Brant Rock, Massachussetts. As emissões foram ouvidas em diversos navios da
84
costa norte-americana. Nesta esteira de raciocínio, podemos definir o rádio como
sendo um “meio de comunicação que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas
para transmitir a distância mensagens sonoras destinadas a audiências numerosas”
(FERRARETTO, 2001, p. 23). Em linhas gerais, portanto, o rádio é um veículo de
comunicação baseado na difusão de informações sonoras, por meio de ondas
eletromagnéticas, em diversas freqüências.
4.1 SURGIMENTO DO RÁDIO: BREVES CONSIDERAÇÕES
O rádio nasceu como um meio de comunicação bidirecional. Era um elo entre
dois sujeitos fisicamente afastados que precisavam se comunicar. Em 1916, David
Sarnoff, um russo radicado nos EUA intuiu a possibilidade de transformar o rádio em
um meio de comunicação massiva. Os avanços técnicos tornaram possível que o
rádio perdesse sua bidirecionalidade constituindo-se em um meio de comunicação
massiva unidirecional. Já no Brasil, em 1922, durante a Exposição Internacional do
Rio de Janeiro, a Westinghouse e a Western Eletric realizam a 1ª demonstração
pública de radiodifusão sonora no país. Esta exposição despertou a curiosidade do
Prof. Edgard Roquette-Pinto. No dia 20 de abril de 1923, Roquette-Pinto e Henrique
Morize fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com o slogan “Trabalhar
pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. O Brasil
entrou definitivamente na era do rádio no dia 1º de maio de 1923.
4.2 O RÁDIO E A EDUCAÇÃO
No que tange à educação, as emissoras educativas são aquelas mantidas
pela União e sem fins lucrativos. Entre os diversos formatos de programação
existentes, destaca-se o Educativo-Cultural, que é aquele adotado pelas emissoras
não-comerciais, voltadas a uma programação que pretende formar o ouvinte,
ampliando seus horizontes educativos e culturais. O rádio, durante a sua primeira
fase no Brasil, era considerado um meio de comunicação focado principalmente para
a transmissão de educação e cultura. Em 1936, a função educativa do rádio tornavase oficial. Roquette-Pinto doou ao MEC a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,
mediante a promessa de que seus ideais ao fundar a emissora seriam preservados.
Nasce o sistema de Rádios Educativas no Brasil. Havia a intenção de produzir uma
85
programação educativa popular, contudo, os conteúdos eram elitizados, como
cursos de literatura francesa e inglesa, lições de italiano, português, francês, entre
outros. Apesar do interesse de Roquete Pinto em produzir uma programação
educativa popular, de acesso fácil à maioria da população, com o rádio ajudando a
resolver o problema educacional do país, as condições de acesso existentes na
época faziam com que o novo veículo refletisse um nível de cultura compatível com
o da elite, os privilegiados ouvintes de então (MOREIRA, 1991, p. 17). Em 1933 foi
criada a Rádio Escola Municipal do Distrito Federal, sob a coordenação de Anísio
Teixeira, que permitiu o contato direto entre emissora e ouvinte e o desenvolvimento
de uma didática especial para o ensino radiofônico.
[...] preocupada em manter o contato com os alunos, a estação distribuía
folhetos e esquema das lições que eram enviadas antes das aulas
radiofônicas, pelo correio, às pessoas inscritas. Os alunos, por sua vez,
enviavam à emissora trabalhos relacionados com os assuntos das aulas e
mantinham contato com a emissora por carta, telefone e até mesmo visitas
(MOREIRA, 1991, p. 18).
Este breve resgate histórico nos remete ao conceito de EaD, o qual foi
introduzido no Brasil em 1939, com a fundação do Instituto RádioMonitor e depois do
Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Outras iniciativas aconteciam ao mesmo
tempo utilizando o rádio para promover a educação, como o programa Universidade
no Ar, que oferecia orientação metodológica para professores do ensino secundário.
No ano de 1947 houve uma campanha educacional do SESC e SENAC para
operários do interior paulista. Desenvolveram-se os primeiros núcleos de recepção
organizados, onde os alunos ouviam as aulas em grupos e debatiam os temas
orientados por um professor. Neste mesmo período, o Brasil contou com a
contribuição especial e importante de João Ribas da Costa, sendo que o mesmo
fomentou a instalação de uma rede de emissoras de ondas médias nas regiões com
maior densidade demográfica e menor número de rádios.
A meta do projeto de Ribas da Costa era a alfabetização de adultos através
de monitores voluntários com mínimo de conhecimentos, que auxiliariam os
professores-locutores. Em 1957, este projeto foi o pontapé inicial da organização do
Sistema de Rádio Educativo Nacional – SIRENA, extinto em 1963. Em linhas gerais,
percebe-se que o rádio foi amplamente utilizado no processo de alfabetização,
justamente porque esta mídia é difusora de informação e conhecimento e que
86
carrega consigo características especiais, tais como linguagem oral, mobilidade,
imediatismo, instantaneidade, fácil penetração, entre outros.
4.3 O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB)
Como já é de conhecimento, no período do Estado Novo de Getúlio Vargas e
da Ditadura Militar, a censura aos meios de comunicação foi constante. Pela sua
facilidade de propagar mensagens, especialmente o rádio foi visto como importante
estratégia para o Poder Público. Assim, Getúlio Vargas assina em 1932, um decreto
que colocava o rádio e seus proprietários sob a vigilância de seu poder (SOUZA;
SOUZA, 2007). Dando um salto na história, na década de 60 se iniciam os
movimentos de educação popular, fundamentados nos pensamentos sociais e
cristãos preocupados com questões educativas e que tornassem os adultos mais
participativos de sua sociedade e da vida política do país. Um destes movimentos é
o Movimento de Educação de Base (MEB), fundado em 21 de março de 1961 por
Dom Eugênio Salles e desenvolvido pelas escolas radiofônicas paroquiais, sob a
supervisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), concentrando
suas atividades em regiões subdesenvolvidas: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O
MEB tinha o objetivo da alfabetização escolar, educação de base, conscientização
da mudança de atitudes e da instrumentação das comunidades receptoras dos
programas elaborados pelo MEB. Possibilitou também, a educação à distância nãoformal. O MEB viveu seu auge em 1963 e durante a Ditadura, em 1964, os
acontecimentos políticos interferiram em todos os movimentos de educação e cultura
popular, até desaparecerem. O MEB se sustentou graças ao vínculo com a CNBB,
contudo, com alterações na sua concepção pedagógica.
No ano de 1986, o movimento também assumiu como tarefa a animação e o
assessoramento aos movimentos e organizações populares, visando a formação
para a cidadania e a conscientização das lideranças frente aos problemas sociais.
4.4 PROJETO MINERVA
O Projeto Minerva foi criado nos anos 70, para atender aos objetivos do
governo militar brasileiro em resposta aos movimentos de educação popular
iniciados pela Igreja, utilizando o rádio e a TV em programas de ensino à distância.
87
Como exposto acima, na ditadura, a Igreja Católica propunha uma conscientização e
mudança radical no processo educativo com a utilização do rádio e da televisão. A
proposta, portanto, do Projeto Minerva era a de solucionar os problemas
educacionais com a implantação de uma cadeia de rádio e televisão educativas para
a educação de massa por meios de métodos e instrumentos não convencionais de
ensino. Como tudo era controlado, o governo determinou horários obrigatórios para
a transmissão de programas educativos. Isto era uma realidade voltada “apenas a
instrumentalizar o indivíduo para o trabalho, sem refletir criticamente sobre a
realidade” (FERRARETTO, 2001, p. 162).
O Projeto Minerva começou a operar em 1970 pelo Serviço de Radiodifusão
Educativa do Ministério da Educação e Cultura e concebido com uma parceria entre
MEC, Fundação Padre Anchieta e Fundação Padre Landell de Moura. Era
transmitido em rede nacional por várias emissoras de rádio e de televisão, visando a
preparação de alunos para os exames supletivos de Capacitação Ginasial e
Madureza Ginasial (preparação dos candidatos que desejavam se submeter aos exames e
não tinham condições de freqüentar ou pagar um curso preparatório), produzidos pela
Fundação Padre Landell de Moura e pela Fundação Padre Anchieta.
O Projeto Minerva, segundo Pavan (2001), possuía um cunho informativocultural e educativo com uma produção regionalizada, concentrada no eixo
Sul-Sudeste, e uma distribuição centralizada. O programa acabou não
conquistando a população, que o chamava de “Projeto Me Enerva”. Isso
contribuiu para fortalecer a imagem, segundo Pavan, de que o rádio
educativo é chato e cansativo (BURINI, 2005, p. 68).
Foi implementado como uma solução a curto prazo aos problemas do
desenvolvimento do país, que tinha como cenário um período de crescimento
econômico onde o pressuposto da educação era o de preparação de mão de obra.
O Projeto Minerva foi mantido até o início dos anos 80, apesar das severas críticas e
do baixo índice de aprovação - 77% dos inscritos não conseguiram obter o diploma,
ficando amplamente conhecido como “Projeto Me Enerva”, conforme exposto acima.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com as demais inovações tecnológicas disponíveis, o rádio passou a ser
menos utilizado pela educação. Contudo, a educação precisa redescobrir as suas
88
funcionalidades, que são a instantaneidade, simultaneidade e rapidez. Na mesma
medida, espera-se que os professores e gestores escolares mudem suas
mentalidades, ousem mais, criem mais, para que assim cumpram com o objetivo de
formarem cidadãos mais críticos e comprometidos com o desenvolvimento das
sociedades. O rádio é um meio importante de interação entre as pessoas e no
processo de ensino-aprendizagem, especialmente na educação e alfabetização de
adultos. Este meio de comunicação tem a facilidade de trabalhar com conteúdos
locais e regionais, além de ser possível a redução de analfabetismo nas áreas rurais.
Compreender esses aspectos é caminhar para a libertação e
universalização dos saberes, favorecendo a aquisição de conhecimentos e
habilidades indispensáveis para que se introduzam e se promovam os
diferentes modos de comunicação na sala de aula e no conjunto das
atividades educativas (BURINI, 2005, p. 71).
Neste sentido, cabe a todos os cidadãos, governantes, educadores, gestores,
alunos a acreditar novamente no potencial do rádio no ambiente educacional, na
expectativa de que se cumpra, verdadeiramente, as metas de Roquette-Pinto,
trazendo consigo a esperança de uma nova civilização baseada na educação, na
informação e na cultura.
ABSTRACT
The Distance Education (EAD) is mainly used the Internet, allowing access to the
world in just a few clicks, and the student's study time that is convenient and reduces
the financial costs on both sides of the educational institution and students. However,
other media such as radio and television, in ancient times, applied the concept of
Distance Education in Brazil. As proposed, this study presents the use of radio as a
tool of Distance Education in Brazil, highlighting in particular the Movement for Basic
Education (MEB) and Minerva Project. We used the literature and exploratory
research, based on literature, scientific articles and webites on the subject. We
applied the Analytic-Synthetic, which allows a more detailed analysis of these
materials, which are available in libraries and the Internet. It was concluded that with
the other technological innovations available, the radio has become less used for
education. The radio is an important means of interaction between people and the
process of teaching and learning, especially in education and adult literacy. In this
sense, it is for all citizens, governments, educators, managers and students once
again believe in the potential of radio in the educational environment, pending the
fulfillment, indeed, the objectives from Roquette-Pinto, bringing hope of a new
civilization based on education, information and culture.
89
Keywords : Radio. Distance Education. Minerva Project. Movement for Basic
Education.
REFERÊNCIAS
BURINI, D. Educação para adultos e democracia: um estudo do rádio como
mediador nas experiências educativas no Brasil. FACOM, São Paulo, n. 15, 2 sem.
2005. Disponível em:
<http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_15/_debora_burini.pdf>.
Acesso em: 12 jun. 2009.
FERRARETTO, L. A. Rádio: o veículo, a história e a técnica. 2. ed. Porto Alegre:
Sagra Luzzatto, 2001.
PROJETO MINERVA. In: MENEZES, E. T. de; SANTOS, T. H. dos. Dicionário
Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix, 2002.
Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=291>.
Acesso em: 12 jun. 2009.
MEB (Movimento de Educação de Base). In: _____. Dicionário Interativo da
Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix, 2002. Disponível em:
<http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=272>. Acesso em: 12 jun.
2009.
MOREIRA, S. V. O rádio no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1991.
SOUZA, I. S. de; SOUZA, C. A. de. O poder do rádio na era da educação a
distância. 2007. Disponível em:
<http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/53200713528PM.pdf>. Acesso em: 11
jun. 2009.
90
EIXO TEMÁTICO: ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA COMUNICAÇÃO
91
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
DIREITOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NA COBERTURA DOS
JORNAIS DO CENTRO OESTE PAULISTA1.
Pedro Luis Bueno Berti2
RESUMO
Os direitos e deveres da infância e adolescência são protegidos por legislação
específica no Brasil. Mas, quando a mídia noticia violações às salvaguardas de
crianças e jovens, muitas vezes veicula enfoques superficiais, de maneira que seus
direitos não são esclarecidos. Com freqüência, os meios de comunicação deixam de
apresentar informações sobre as políticas públicas envolvidas e seu entendimento
específico de causas possíveis e soluções cabíveis para os problemas que afetam
aquele público. Esta pesquisa identificou e analisou as características da cobertura
de assuntos ligados à preservação dos direitos da infância e adolescência nos oito
principais jornais das maiores cidades da região administrativa de Bauru, no período
de agosto de 2008 a março de 2009, no total de 389 matérias. O objetivo foi
caracterizar a qualidade da contextualização composta pelas reportagens analisadas
em relação às conseqüências e soluções para os problemas apurados e ao enfoque
sobre as políticas públicas envolvidas. Foram empregadas metodologias de análise
de conteúdo e análise de enquadramento, a fim de perceber os significados
implícitos e explícitos com os quais os fatos foram enfocados. Do total de matérias
avaliadas, 66% noticiaram atos infracionais e de violência com crianças e
adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e superficial;
34% são abordagens mais amplas sobre as políticas públicas destinadas à
preservação dos direitos de crianças e adolescentes.
Palavras-chave: Mídia. Direitos de crianças e adolescentes. Ética no jornalismo.
Construção da notícia.
1 INTRODUÇÃO
Os direitos e deveres da infância e adolescência são protegidos por
legislação específica no Brasil. Mas, quando a mídia noticia violações às
salvaguardas de crianças e jovens, muitas vezes veicula enfoques superficiais, de
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Estudante do curso de Comunicação Social — Habilitação em Jornalismo – E-mail:
[email protected]
92
maneira que seus direitos não são esclarecidos. Esta pesquisa identificou e analisou
as características da cobertura de assuntos ligados à preservação dos direitos da
infância e adolescência nos oito principais jornais das maiores cidades da região
administrativa de Bauru (SP), no período de agosto de 2008 a março de 2009, no
total de 389 matérias. Do total de matérias avaliadas, 66% noticiaram atos
infracionais e de violência com crianças e adolescentes como vítimas ou agentes,
com abordagem fragmentada e superficial; 34% são abordagens mais amplas sobre
as políticas públicas destinadas à preservação dos direitos de crianças e
adolescentes.
2 RELEVÂNCIA
O monitoramento das notícias veiculadas pela mídia impressa sobre
assuntos ligados aos direitos da infância e juventude oferece parâmetros para se
caracterizar a qualidade da cobertura realizada, isto é, torna-se possível verificar o
nível de contextualização dos fatos e da investigação dos acontecimentos em
questão. Nesse sentido, a análise deve observar a presença de informações
referentes a políticas públicas, causas possíveis e soluções cabíveis dentro do
acontecimento abordado, e a consulta a fontes especiais, imprescindíveis para uma
visão mais ampla e contextualizada do problema.
3 METODOLOGIA
A metodologia empregou análises de conteúdo e enquadramento. Para a
análise de conteúdo, foi utilizada como referência a metodologia desenvolvida pela
Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância). Cada matéria foi caracterizada
por meio de seis chaves de compreensão, de modo a enquadrá-las em aspectos de
compreensão que abrangem a descrição do ato infracional, causas e soluções
apresentadas pelos jornalistas, políticas públicas, fontes consultadas na elaboração
das reportagens, dados e discussões específicas relacionadas ao objeto de análise,
e o comportamento editorial do jornal quanto ao uso de apelos lingüísticos que
denotam exploração sensacionalista do fato. Para a análise de enquadramento,
foram utilizados os seguintes eixos: seleção de informações, ênfase de informações
e exclusão de informações.
93
4 PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA
Os resultados desse estudo provêm da análise de conteúdo de 389 matérias
veiculadas de agosto de 2008 a março de 2009 pelos oito principais jornais das
maiores cidades da região administrativa de Bauru sobre a temática pesquisada:
Jornal da Cidade e Bom Dia (Bauru), Jornal Candeia (Bariri), Jornal O Independente
(Dois Córregos), Comércio do Jahu (Jaú), A Tribuna (Lençóis Paulista), Correio de
Lins e Jornal Debate (Lins). De acordo com a metodologia de análise de conteúdo
proposta, foram estabelecidos parâmetros de apreciação das matérias selecionadas.
As reportagens foram classificadas em dois grupos, de acordo com a primeira
categoria de análise de conteúdo (“fato em questão”). No primeiro, foram
classificadas as matérias que noticiaram atos infracionais e de violência com
crianças e adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e
superficial; no segundo, foram classificadas as matérias que tiveram, em foco, fatos
relacionados às políticas públicas destinadas à preservação dos direitos de crianças
e adolescentes. Do total de 389 matérias analisadas nesse estudo, 255 (65,55%)
estão no primeiro grupo, e 134 (34,45%) no segundo. Das 255 matérias classificadas
no primeiro grupo, 60,39% (154) não apresentaram informação referente ao
encaminhamento dos jovens aos órgãos de direitos ou uma descrição do contexto
social que possa ter influenciado o jovem a praticar o ato infracional, enquanto
36,47% (93) dos textos mencionaram de forma superficial o encaminhamento para
órgãos do sistema de preservação de direitos. Nessas matérias, a menção
superficial ocorre quando o jornal apenas relata que o jovem foi “foi apreendido e
encaminhado ao Núcleo de Atendimento Integrado (NAI) da Fundação Casa”, como
pode ser observado na matéria “Adolescente é flagrado com 7 quilos de maconha”.
Somente 8 textos (3,14%) do primeiro grupo trouxeram informações de
representantes de órgãos do sistema de proteção dos direitos de crianças e
adolescentes. Um exemplo pode ser conferido na matéria “Criança é abrigada após
denúncia”, na qual é descrita a intervenção do Conselho Tutelar ao abrigar uma
criança que era supostamente mantida em cárcere privado por uma mulher que não
tinha a guarda legal, nem o registro de nascimento da garota. De uma maneira geral,
o primeiro grupo de matérias privilegiou somente a descrição da ocorrência em si,
sem se ater a uma cobertura contextualizada com as medidas de proteção adotadas
pelo sistema de atendimento implantado pelo ECA. Das 154 matérias do primeiro
94
grupo que não divulgaram informação referente ao encaminhamento aos órgãos da
área, 142 apresentaram como única fonte de informação a Polícia, seja ela Militar ou
Civil. Em 13 reportagens a Polícia foi citada juntamente com outras fontes. Esse
resultado constitui um indício de que boa parte dos jornalistas pauta suas coberturas
em boletins de ocorrência e os usa como fontes de informação para a matéria.
Fatores inerentes à atividade jornalística como os prazos limitados para a produção
das matérias, as pressões impostas pelos editores do jornal, a grande freqüência de
acontecimentos diários e a insuficiente formação profissional dos jornalistas resultam
em reportagens superficiais e fragmentadas que dificultam a compreensão dos
leitores sobre os acontecimentos noticiados, bem como o contexto social em que
eles ocorreram. Em geral, o fato de o trabalho jornalístico ser condicionado pela
somatória desses fatores contribui para que fontes estáveis, regulares e
institucionais (delegacia e seus boletins de ocorrência, principalmente) se tornem
preferidas pelos membros da comunidade jornalística, o que tende a ser insuficiente
para
que
o jornalista
possa construir
uma
contextualização de
causas,
conseqüências e políticas públicas relacionadas aos fatos em questão. Das 154
reportagens do primeiro grupo, 95,29% (243) não trouxeram informação sobre
políticas públicas do sistema de proteção dos direitos da infância; 1,96% (5) dos
textos fizeram menção superficial ao encaminhamento de crianças e jovens a órgãos
do sistema, enquanto que outros 2,75% (7) apresentaram mais informações sobre
as funções de tais órgãos. Esses dados caracterizam a pouca profundidade da
cobertura e da falta de contextualização dos fatos nas matérias do primeiro grupo,
pois o fato de não haver informação sobre a atuação dos órgãos do sistema de
proteção contribui para a insuficiente divulgação de políticas públicas do setor —
medidas socioeducativas ou políticas que têm como finalidade obter, de forma direta
ou indireta, a inclusão social de crianças e adolescentes, por exemplo. Acredita-se
que quanto mais informações sobre políticas públicas a reportagem apresentar,
maior tende a ser o estímulo do público e de outros agentes sociais na atenção
sobre o poder público. Outro indicador da superficialidade observada nas matérias
do primeiro grupo está no fato de que 96% (245) não apresentaram estatísticas,
citações complementares à legislação atual ou possíveis menções a temas
correspondentes ao sistema de proteção dos direitos de crianças e adolescentes,
enquanto que somente 4% (10) dos textos apresentaram outras informações e
estatísticas sobre o assunto em questão — um exemplo desse tipo de cobertura
95
pode ser observado na matéria “‘Onda de criminalidade está ligada ao tráfico’, diz
delegado titular”, que apresenta declarações de um delegado de polícia sobre as
causas do aumento da violência urbana, especialmente quando há o envolvimento
de jovens no tráfico de drogas. De acordo com o titular da Delegacia “o baixo efetivo
das polícias (Civil e Militar), as falhas na legislação, aliados ao aumento do tráfico e
consumo de drogas, estão contribuindo para a banalização da criminalidade”. Ainda
sobre as matérias do primeiro grupo, 5,5% (14) apresentaram apelos lingüísticos que
denotam exploração sensacionalista do fato, enquanto que a grande maioria, ou
seja, 94,5% (241) não trouxe apelos desse tipo. As matérias que usaram descrições
sensacionalistas noticiaram supostos casos de violência sexual contra crianças e
adolescentes. Um exemplo desse apelo lingüístico pode ser visto na matéria
“Pedófilo abusava de menina de 4 anos”, em que foi descrita a seguinte cena: “os
vídeos mostram Santos obrigando a menina a fazer sexo oral nele. O suposto
agressor ainda aparece se masturbando, tirando a roupa da menina e colocando o
dedo em sua vagina”. Considerando que detalhes desse tipo não auxiliam a
compreensão das causas ou das soluções tomadas pelos órgãos de direitos, é
possível conjecturar que o jornal explorou o fato de maneira sensacionalista para
atrair o interesse do leitor. Com relação às 134 matérias do segundo grupo de
análise, 9,7% (13) não apresentaram informação referente a solução proposta pelos
órgãos de proteção da infância e juventude na situação específica abordada pela
matéria; 13,44% (18) dos textos fizeram menção superficial a informações sobre as
soluções propostas pelos órgãos de direitos; e 76,86% (103) dos textos trouxeram
mais informações sobre as soluções propostas por esses órgãos, número superior
ao verificado no primeiro grupo de matérias, no qual apenas 3,14% dos textos
apresentaram informações sobre os órgãos de direitos. Das matérias pertencentes
ao segundo grupo, 16,42% (22) não apresentaram informações sobre políticas
públicas, enquanto que 8,2% (11) fizeram menções superficiais ao papel do órgão
do sistema de preservação de direitos de crianças e adolescentes presente na
reportagem. Em 75,38% (101) dos textos analisados, foi verificada a existência de
mais informações sobre as funções dos órgãos de direitos, ou sobre os serviços
prestados pelo órgão. Esse último dado indica, portanto, que grande parte das
matérias do segundo grupo apresentou uma cobertura mais contextualizada, com
informações adicionais sobre o fato noticiado e o papel desempenhado pelos órgãos
de direitos, enquanto que no primeiro grupo de matérias esse número atingiu apenas
96
2,75% dos textos. Na categoria “dados e discussões específicas”, 72,39% (97) das
matérias não apresentaram estatísticas ou discussões complementares ao fato
noticiado, enquanto que 27,61% (37) foram abrangentes nessa questão. Na
categoria “comportamento editorial”, apenas uma (0,75%) matéria apresentou apelos
lingüísticos que denotam exploração sensacionalista; nas outras 133 (99,25%) não
foi verificado esse tipo de apelo.
5 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos através da metodologia de análise de conteúdo
empregada na apreciação das 389 reportagens coletadas no período de agosto a
dezembro de 2008 permitiram estabelecer algumas ponderações acerca do
comportamento editorial que caracterizou a cobertura dos oito principais jornais das
maiores cidades da região administrativa de Bauru sobre temas ligados à
preservação dos direitos de crianças e adolescentes. Do total de matérias
analisadas, 66% noticiaram atos infracionais e de violência com crianças e
adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e superficial;
34% são abordagens mais amplas sobre as políticas públicas destinadas à
preservação dos direitos de crianças e adolescentes. Partindo dessa distinção foi
possível identificar que nas reportagens que se limitaram à descrição do fato
imediato, tendo como base os boletins de ocorrência, o conteúdo produzido ofereceu
informações superficiais e fragmentadas ao leitor, porquanto os jornalistas não se
detiveram em buscar informações complementares no que diz respeito às causas ou
ao encaminhamento dos jovens aos órgãos de preservação dos direitos da infância
e juventude. Ao investigar as conseqüências e soluções do fato, o jornalista acaba
por contextualizar sua matéria com as políticas públicas e as funções desenvolvidas
pelos órgãos do sistema de proteção dos direitos de crianças e adolescentes, o que
pode contribuir para o fortalecimento e a consolidação das medidas implantadas
pelo ECA. Um aspecto positivo observado nos resultados da análise é a quantidade
de matérias que apresentaram abordagens mais completas e contextualizadas nos
assuntos ligados à infância e juventude, ainda que em menor freqüência que as
reportagens que se esgotaram na descrição de atos infracionais e de violência. Os
textos mais abrangentes tenderam a proporcionar ao leitor o dimensionamento da
importância da temática em questão, assim como auxiliam na compreensão das
97
medidas e ações tomadas pelas diferentes esferas do governo e da sociedade
empenhadas na manutenção do sistema de atendimento dos direitos desse público
específico. É significativo assinalar que a abrangência de enfoque esteve em muitos
casos ligada diretamente ao número de fontes consultas pelos jornais, bem como a
investigação de posições divergentes daquelas que inicialmente motivaram a
cobertura. No entanto, a grande maioria das matérias se ateve apenas às fontes
primárias de informação, isto é, as Polícias Militar ou Civil, enquanto outras
consultaram apenas uma fonte de informação. Os Conselhos de Direitos da Criança
e do Adolescente e os Conselhos Tutelares, principais instâncias de atendimento ao
público infanto-juvenil não foram prioridade na cobertura dos principais jornais
pesquisados. Nesse sentido, quando o jornal deixa de buscar informações nos
conselhos de direitos, ele não verifica se as entidades estão devidamente
estruturadas no município para cumprir as determinações do ECA, da mesma forma
que, de maneira indireta, não investiga informações referentes a outras políticas do
setor.
ABSTRACT
The duties and the obligations in the infancy and adolescence are protected by
specific laws in Brazil. But, when the media tells rapes about children and
adolescents safeguard, many times they entail superficial focus, in manner that their
rights are not clear. Usually, the media communication does not present information
about public politics involved and its specific understanding of the possible reasons
and solutions appropriated to the problems which affect that public. This research
identified and analyzed the characteristics of the coverage about reports related to
the preservations of the children and adolescents rights in the eight main
newspapers in the biggest cities in Bauru region, in the period from August 2008 to
March 2009, in the total of 389 reports. The aim of this work was to describe the
qualities of the contextualization composed by the reports analyzed related to the
consequences and solutions to the problems refined and the focus about the public
politics involved. It was used methodologies of analyzes contents and analyzes
framing in order to realize the implicit and explicit meanings in which the facts were
involved. In the total of all reports evaluated, 66% informed infringement acts and
violence with children and adolescents as victims or agents, with a fragmented and
superficial approach; 34% are wider approaches about public politics destined to
preservation of the children and adolescents rights.
Key-words: Media. Children and adolescent rights. Ethic in journalism. Report
construction.
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100
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
NÃO ADIANTA FAZER BIRRA!: A RELAÇÃO ENTRE PUBLICIDADE,
PROPAGANDA, CRIANÇAS E AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS E JURÍDICAS1. Vitor
Pachioni Brumatti2, Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza3
RESUMO
A publicidade e a propaganda estão presentes no dia-a-dia de todos os seres
humanos, assim como o ato de consumir. As crianças aprendem a consumir
rapidamente, logo nos primeiros anos de vida, especialmente através dos meios de
comunicação, sendo que seus aprendizados ainda estão em fase de
desenvolvimento e de formação. Uma campanha publicitária destinada a este
público é tratada de maneira mais cautelosa, buscando compreender como deve ser
assimilada. Com estas considerações, o presente estudo contempla a publicidade e
propaganda e sua relação com a criança, tendo a ética e a legislação como
premissas básicas para o correto desenvolvimento dos conteúdos publicitários. Foi
utilizada a pesquisa bibliográfica, através da consulta em leis, livros, websites e,
como técnica, o método analítico-sintético, que consiste na reflexão mais
aprofundada dos materiais selecionados para análise, sendo que estes integram o
acervo de bibliotecas e dos autores. Conclui-se que há um desafio cada vez maior e
mais exigente para os profissionais e veículos da área de Comunicação, bem como
os anunciantes, haja vista os limites éticos e legais estabelecidos para a publicidade
e propaganda para as crianças e uma futura restrição legal que em breve, deverá
entrar em vigor. A publicidade e propaganda para as crianças obrigarão uma nova
comunicação, com o objetivo de estabelecer uma correta veiculação, que atenda
com eficiência e criatividade os anunciantes, a mídia e o público-alvo. Certamente,
esta comunicação deverá atingir os pais e responsáveis, mas não as crianças.
Palavras-chave: Publicidade. Propaganda. Crianças. Ética. Legislação.
1 INTRODUÇÃO
Certamente já presenciamos a cena de um pai ou uma mãe dizendo as
primeiras palavras do título acima para seus filhos, seja numa loja ou mesmo em um
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Docente do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade Sagrado Coração (USC). Especialista em Antropologia. Publicitário. E-mail:
[email protected]
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em
Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail:
[email protected]
101
corredor de supermercado. Por vezes, os pais encontram uma verdadeira
encruzilhada, pois seus filhos desejam avidamente certos produtos. Isso é normal,
faz parte da infância de toda criança, ainda mais dentro da sociedade atual, onde o
consumo é muitas vezes a resposta encontrada para suprir uma lacuna existente,
provocada por inúmeros motivos.
O ato de consumir está presente no dia-a-dia das pessoas. Portanto, nada
mais comum do que as crianças “aprenderem” a consumir e é aí que se apresenta o
perigo e inseguranças. As crianças estão em uma fase essencial da vida que se
dedicam quase que exclusivamente ao aprendizado.
Sendo assim, todo tipo de informação, especialmente uma campanha
publicitária, destinada a este público-alvo é tratada de maneira mais cautelosa,
buscando compreender como deve ser assimilada, armazenada e, principalmente,
como agir a partir desta informação. Para corroborar, segundo notícia da Agência
Notisa (2009), Arturo Moreno e Luis Toro Zapata publicaram um artigo na Revista
Chilena de Nutrição com a temática da influência da televisão no consumo e na
obesidade de crianças e adolescentes.
A pesquisa permitiu concluir cientificamente que a televisão atual é uma fonte
de poder que interfere de maneira ideológica no consumo alimentício e televisivo. A
interferência da mídia no consumo de produtos é comprovada por um outro estudo,
sobre a propaganda de cerveja na televisão, que concluiu que quanto mais vezes
determinado anúncio fosse assistido, mais atraente ele seria considerado por
estudantes de Ensino Médio de São Bernardo do Campo - SP (AGÊNCIA NOTISA,
2009). Isto também confirma o poder que os veículos de comunicação possuem, o
que merece atenção dos pais, educadores sobre o que poderá comprometer
negativamente na formação das crianças. Com estas considerações, o presente
estudo contempla a publicidade e propaganda e sua relação com a criança, tendo a
ética e a legislação como premissas básicas para o correto desenvolvimento dos
conteúdos publicitários.
2 RELEVÂNCIA / JUSTIFICATIVA
O assunto aqui proposto pretende contribuir para as áreas de publicidade,
propaganda, direito, ética e comunicação, pois, além de ser atual, ainda carece de
reflexões e referências. Com as implicações jurídicas cada vez mais presentes, é
102
necessário proteger os consumidores de campanhas publicitárias incoerentes,
especialmente as crianças, através do Código de Proteção e de Defesa do
Consumidor (CDC), Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e
observando-se que tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.921 de
2001, que pretende acrescentar parágrafo no artigo 37 do CDC.
3 METODOLOGIA
Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, através da consulta em leis, livros,
websites e, como técnica, o método analítico-sintético, que consiste na reflexão mais
aprofundada dos materiais selecionados para análise. De posse destes materiais
(que integram o acervo de bibliotecas e dos autores), são extraídas as
considerações finais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente,
convém
apresentar
os
conceitos
que
permearão
o
desenvolvimento deste estudo: publicidade e propaganda. Por publicidade entendese que:
[...] a publicidade é uma técnica de comunicação de massa, paga com a
finalidade precípua de fornecer informações, desenvolver atitudes e
provocar ações benéficas para os anunciantes, geralmente para vender
produtos ou serviços. A publicidade serve para realizar as tarefas de
comunicação de massa com economia, velocidade e volume maiores que
os obtidos em quaisquer outros meios (SANT’ANNA, 2002, p. 76).
Para o mesmo autor, a propaganda é vista como a propagação de princípios
e teorias, “compreende a idéia de implantar, de incluir uma idéia, uma crença na
mente alheia” (SANT’ANNA, 2002, p. 75). Para Sampaio (1999, p. 24), a propaganda
pode ser definida como “a manipulação planejada da comunicação visando, pela
persuasão, promover comportamentos em beneficio do anunciante que a utiliza”. Em
linhas gerais, cabe à propaganda “informar e despertar interesse de compra/uso de
produtos/serviços, nos consumidores, em beneficio de um anunciante (empresa,
pessoa ou entidade que se utiliza da propaganda)” (SAMPAIO, 1999, p. 24-25).
103
Convém apresentar a interessante posição de Lopes (2003, p. 34) quanto à
função da publicidade e propaganda, a saber:
Aproximar o consumidor do produto: eis a grande função da publicidade.
A maravilha da propaganda e da publicidade, seu foco, sua razão de ser
resume-se, exatamente, nisso. Aqui, meu produto, aqui minha idéia.
“Promover a venda de meu produto, difunda minha idéia, informe ao público
de minha existência, fale de minha instituição, de minha marca, de meu
serviço”, diz o anunciante.
Por outro lado, quem é o consumidor? Nos termos do artigo 2º da Lei nº
8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências, também chamada de Código de Proteção e Defesa do
Consumidor:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo
(BRASIL, 1990).
Para a mesma lei, logo no artigo 3º é feita a descrição da figura do
fornecedor. Este conceito permite fazer a relação com a publicidade e propaganda
ao abranger a prestação de serviços:
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista (BRASIL, 1990).
O Código de Proteção e de Defesa do Consumidor (CDC) protege a todos,
sem distinção. Contudo, há necessidade de zelar pelas crianças, haja vista que este
público ainda não está totalmente formado em termos de pensamento, crítica e
ações. Em relação à proteção para as crianças, a legislação brasileira passou a
contemplar a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a qual dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) e dá outras providências.
104
O ECA vem constantemente sendo atualizado desde então, nos anos de
1991, 2000, 2005, 2003, 2008 e 2009, com destaque para os anos de 2003 e 2008,
onde, na oportunidade, diversos novos dispositivos o integraram, fortalecendo o rigor
da referida lei (BRASIL, 1990). Nessa mesma vertente, há a atuação do Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), que desde meados dos
anos 70 busca defender os interesses dos envolvidos com o mercado publicitário,
inclusive os dos consumidores. Em 1º de setembro de 2006, o CONAR ampliou
consideravelmente o rigor sobre a comunicação direcionada para o público infantojuvenil, apontados em seu Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. A
partir desta ação, são inúmeros os casos de campanhas publicitárias retiradas de
veiculação por ferirem os princípios dispostos pelo órgão. Para o CONAR (2006), a
publicidade dever ser:
[...] um fator coadjuvante aos esforços de pais, educadores, autoridades e
da comunidade na formação de crianças e adolescentes, contribuindo para
o desenvolvimento positivo das relações entre pais e filhos, alunos e
professores, e demais relacionamentos que envolvam o público-alvo.
O destaque é para as normas abaixo, em forma de tabela, para melhor
visualização:
Não se use mais o apelo imperativo de consumo dirigido
diretamente a crianças e adolescentes [“Peça pra mamãe
comprar...”].
Não se use crianças e adolescentes como modelos para
Modelos
vocalizar apelo direto, recomendação ou sugestão de uso
ou consumo por outros menores [”Faça como eu, use...”].
O planejamento de mídia reflita as restrições técnica e
Planejamento
eticamente recomendáveis, buscando-se o máximo de
de mídia
adequação à mídia escolhida.
Também são reprovados pelo Código ético-publicitário
anúncios capazes de provocar qualquer tipo de
discriminação, inclusive em virtude de não poderem ser
consumidores do produto, a utilização de formato
Discriminação jornalístico e a exploração de situações capazes de
infundir medo. Admite-se, porém, a participação de
crianças e adolescentes em peças publicitárias nas
demonstrações pertinentes aos demais produtos e
serviços anunciados.
Apelo de
consumo
Quadro 1 – Novas normas éticas da publicidade para o público infanto-juvenil.
Fonte: CONAR, 2006, adaptado pelo autor.
105
Desde a criação do Código, o CONAR já recomendava algumas posições
interessantes sobre as peças publicitárias, as quais permanecem válidas e
extremamente atuais, conforme segue:
 peças publicitárias não devem associar crianças e adolescentes a
situações ilegais, perigosas ou socialmente condenáveis,
 impor a noção de que o consumo proporcione superioridade ou
inferioridade e
 provocar situações de constrangimento com o propósito de impingir o
consumo.
Mas devem sempre:
 respeitar a dignidade, ingenuidade, credulidade, inexperiência e o
sentimento de lealdade do público-alvo;
 dar atenção às características psicológicas do público-alvo e seu
discernimento limitado;
 evitar eventuais distorções psicológicas nos modelos publicitários e no
público-alvo (CONAR, 2006).
No Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária há diversos anexos,
cada qual destinado a uma categoria especial de anúncios. Por exemplo, o Anexo
“A’ trata das bebidas alcoólicas; o Anexo “B”, da educação, cursos e ensino; já o “C”
sobre empregos e oportunidades, dentre outros. Assim, destaca-se o Anexo “H”, que
aborda a questão dos alimentos, refrigerantes, sucos e bebidas assemelhadas e sua
relação com o público infanto-juvenil:
1. Disposições Gerais – Além de atender aos preceitos gerais deste Código,
os anúncios de produtos submetidos a este Anexo deverão:
a) compatibilizar-se com os termos do respectivo licenciamento oficial.
Adotarão terminologia com ele harmonizada, seja para designar qualidades
como “diet”, “light”, “não contém açúcar”, “não contém glúten”, seja para
descrever quaisquer outras características distintivas que orientem as
escolhas do consumidor;
b) evitar qualquer associação a produtos fármaco-medicinais;
c) valorizar e encorajar, sempre que possível, a prática de exercícios físicos
e atividades afins;
d) abster-se de encorajar ou relevar o consumo excessivo nem apresentar
situações que incentivem o consumo exagerado ou conflitem com esta
recomendação;
e) abster-se de menosprezar a importância da alimentação saudável,
variada e balanceada;
f) abster-se de apresentar qualquer produto como substituto das refeições
básicas (desjejum, almoço e jantar), a menos que tal indicação esteja
embasada em responsável opinião médica ou nutricional, reconhecida pela
autoridade sanitária;
g) limitar afirmações técnicas relativas aos benefícios à saúde e à nutrição
às que forem compatíveis com o licenciamento oficial e amparadas em
responsável opinião médica ou nutricional. Neste caso, tais afirmações
deverão ser apresentadas em linguagem acessível ao consumidor médio;
h) apresentar corretamente as características de sabor, tamanho,
conteúdo/peso, benefícios nutricionais e de saúde;
106
i) evitar a exploração de benefícios potenciais derivados do consumo do
produto, como a conquista de popularidade, elevação de status ou êxito
social, sexual, desempenho escolar, esportivo, entre outros;
j) abster-se de desmerecer o papel dos pais, educadores, autoridades e
profissionais de saúde quanto à correta orientação sobre hábitos
alimentares saudáveis e outros cuidados com a saúde;
k) ao utilizar personagens do universo infantil ou apresentadores de
programas dirigidos a este público-alvo, fazê-lo apenas nos intervalos
comerciais, evidenciando a distinção entre a mensagem publicitária e o
conteúdo editorial ou da programação;
l) abster-se de utilizar crianças muito acima ou muito abaixo do peso normal,
segundo os padrões biométricos comumente aceitos, evitando que elas e
seus semelhantes possam vir a ser atingidos em sua dignidade.
2. Quando o produto for destinado à criança, sua publicidade deverá, ainda,
abster-se de qualquer estímulo imperativo de compra ou consumo,
especialmente se apresentado por autoridade familiar, escolar, médica,
esportiva, cultural ou pública, bem como por personagens que os
interpretem, salvo em campanhas educativas, de cunho institucional, que
promovam hábitos alimentares saudáveis (CONAR, 2009).
Há expressiva preocupação sobre a proteção das crianças na legislação,
tanto que está em trâmite na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.921 de
2001, que pretende acrescentar parágrafo no artigo 37 do CDC, de forma a restringir
a publicidade para as crianças. Neste sentido, os empresários, publicitários e demais
profissionais da Comunicação deverão observar a ética e a legislação, respeitando a
dignidade das crianças, afastando da mídia a publicidade e propaganda que não
atendam às normas existentes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente estudo, conclui-se que há um desafio cada vez maior e mais
exigente para os profissionais e veículos da área de Comunicação, bem como os
anunciantes, haja vista os limites éticos e legais estabelecidos para a publicidade e
propaganda para as crianças e uma futura restrição legal que em breve, deverá
entrar em vigor.
A publicidade e propaganda para as crianças obrigarão uma nova
comunicação, com o objetivo de estabelecer uma correta veiculação, que atenda
com eficiência e criatividade os anunciantes, a mídia e o público-alvo.
Certamente, esta comunicação deverá atingir os pais e responsáveis, mas
não as crianças. Caso não ocorram tais mudanças, os anúncios não serão exibidos
com estabilidade, uma vez que sofrerão denúncias de vários setores da sociedade,
por comprometerem a ética e a legislação aplicável. Logo, não adianta fazer birra!
107
ABSTRACT
Advertising and publicity are present in day-to-day life of all human beings, as well as
the act of consuming. Children learn to eat quickly, in the first years of life, especially
through the media, and their learning are still in development and training. An
advertising campaign aimed at this audience is treated more cautiously, trying to
understand how it should be assimilated. With these considerations, this study deals
with the publicity and advertising and its relationship with the child, and the ethics
and legislation as the basic requirements for the correct development of advertising
content. We used a literature search by consulting on laws, books, websites and, as
a technique, the analytic-synthetic method, which consists of more detailed
examination of the materials selected for analysis, and these make up the collection
of libraries and authors. We conclude that there is an increasingly challenging and
more demanding for professionals and vehicles in the area of communication, as well
as advertisers, given the ethical and legal limits established for the publicity and
advertising for children and a future legal restriction that soon to come into force. The
publicity and advertising to children shall require a new notice in order to establish a
proper serving, taking into account efficiency and creativity with advertisers, the
media and audience. Certainly, this communication is expected to reach parents and
responsible, but not children.
Keywords: Publicity. Advertising. Children. Ethics. Legislation.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NOTISA. Quanto maior o número de vezes que a propaganda de
cerveja é exibida na televisão, mais os jovens gostam dela. Disponível em:
<http://www.notisa.com.br>. Acesso em: 16 fev. 2009.
______. Televisão contribui para obesidade. 16 jun. 2009. Disponível em:
<http://www.notisa.com.br>. Acesso em: 16 jun. 2009.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 15 ago. 2009.
______. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do
consumidor e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 ago. 2009.
CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA
(CONAR). Novas normas éticas: crianças e adolescentes. 2006. Disponível em:
<http://www.conar.org.br>. Acesso em: 15 ago. 2009.
108
______. Código e Anexos: Anexo “H” – alimentos, refrigerantes, sucos e bebidas
assemelhadas. Disponível em:
<http://www.conar.org.br/html/codigos/codigos%20e%20anexos_cap2_anexoH.htm>
. Acesso em: 15 ago. 2009.
LOPES, A. P. Ética na propaganda. São Paulo: Atlas, 2003.
SAMPAIO, R. Propaganda de A a Z : como usar a propaganda para construir
marcas e empresas de sucesso. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus: APB, 1999.
SANT`ANNA, A. Propaganda : teoria, técnica e prática. 7. ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2002.
109
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
NOVAS ABORDAGENS EM DIREITO RELATIVAS À IMPRENSA E SEU
EXERCÍCIO1. Antonio Carlos da Silva Barros 2
Palavras-chave: Lei de imprensa. Normas jurídicas. Novas abordagens.
INTRODUÇÃO – A Lei 5.250/67, conhecida como “Lei de Imprensa” e o Decreto-Lei
972/69, em vigor, perderam sua validade nos últimos meses do corrente ano,
quando o Supremo Tribunal Federal, analisando uma Ação de Descumprimento de
Preceito Fundamental e um Recurso Extraordinário, entenderam que o ordenamento
jurídico nacional não permitia mais a sua existência em virtude de conflitos com a
Constituição Federal de 1988, que “não recepcionou” as normas que tratavam das
questões relativas à Imprensa e ao exercício profissional do Jornalista. A partir de
então, estamos vivendo novas experiências em busca de uma imprensa “livre” que
merecem suas análises.
RELEVÂNCIA – Discutir e refletir sobre as conseqüências das decisões do Supremo
Tribunal Federal no exercício da profissão da jornalista bem como no cotidiano da
Imprensa Brasileira. A Lei de Imprensa foi declarada “inválida”, perdendo a sua
validade e não a vigência, pois só poderá perdê-la através de uma nova Lei e a não
exigência do diploma de jornalista para o exercício profissional, resultaram em novas
abordagens para essas questões, extremamente importantes na área e
Comunicação Social. O fato das normas terem sido editadas durante o período
histórico conhecido como “ditadura militar” resultaram na compreensão de que não
poderiam ser recepcionados por uma “Constituição Cidadã”, que apregoa a
liberdade e o respeito às ideias. Suas consequências devem ser analisadas para
possam resultar em novas formas de abordagens que conduzam a um novo tempo
na área de Comunicação Social brasileiro.
METODOLOGIA – Por intermédio de pesquisa bibliográfica desenvolvida junto à
literatura e produções científicas disponibilizadas na Internet, bem como decisões
jurídicas constantes do Supremo Tribunal Federal, foram identificadas situações e
análises científicas que resultaram em novas abordagens para as questões
eminentes de Comunicação Social relacionadas com a Imprensa e seu exercício no
Brasil. Verificou-se, a partir da análise dos textos abordados, que é possível realizar
novas abordagens relacionadas à Imprensa e seu exercício em território nacional.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - A discussão sobre a
imprensa e a liberdade de expressão do ser humano estão presentes desde
antigamente em nossas relações. Autores como Miranda (1959, p. 4), afirmava em
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Advogado graduado em Ciências Sociais e Jurídicas, Especialista em História Social, Mestre em
Ciências da Religião com abordagem entre Direito e Religião. Professor do Centro de Exatas e
Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected]
110
sua obra “mater” sobre a Lei de Imprensa, que “desde os remotos tempos em que os
homens procuravam se entender através de símbolos e sinais, ou seja, desde a
idade da pedra (paleolítica e neolítica), em que transmitiam os seus pensamentos
por meio de indecisões e pinturas rupestres, - e até onde remontam, talvez, as
origens do alfabeto – quando começava a estabelecer-se a diferença entre as
representações artístico-estéticas e as de caráter prevalentemente comunicativo, a
imprensa madrugava”. Aproximadamente, pelo prazo de quarenta anos, a Lei de
Imprensa esteve em vigor e com plena eficácia, acompanhada da exigência de
diploma de jornalismo para o exercício profissional no setor. A análise das novas
abordagens em direito relativas à Imprensa levará em consideração a Constituição
Federal em vigor, a Lei de Imprensa e o Decreto-Lei que trata do Diploma de
Jornalismo, com ponderações de especialistas a respeito do tema e decisões
judiciais. Inicialmente, a Constituição Federal Brasileira, em vigor, assegura nos
incisos IV, V, IX, X, XIII e XIV do art. 5º, mais os arts. 220 a 223, princípios da
liberdade de expressão bem como do livre exercício profissional, entre outros. O
Supremo Tribunal Federal no período avocado recebeu diversos recursos que
trataram da questão. Alguns recursos foram históricos entre os quais uma Ação de
Descumprimento de Preceito Constitucional que trata de questões relativas à
Constituição Federal Brasileira, em especial, a que está em vigor. Na Ação de
Descumprimento de Preceito Constitucional, o recorrente alega que existe alguma
norma infra-constitucional que está em conflito com a Constituição em vigor. No caso
histórico sobre a Lei de Imprensa, o recorrente entendia que não apenas alguns
artigos, mas a própria Lei de Imprensa, Lei 5250/67, que surgiu durante a Ditadura
Militar, não fora recepcionada pela Constituição em vigor. Em caso de não recepção,
a norma não poderia continuar a ter eficácia no ordenamento jurídico nacional,
assim, o recurso almejava confirmar que a norma infra-constitucional estava em
conflito com a Constituição Federal em vigor. Em caso positivo, a norma seria
declarada “inválida”, assim perderia sua eficácia no ordenamento jurídico, e não
poderia mais ser referendada em decisões judiciais nacionais. Foi o que ocorreu na
decisão final do Supremo Tribunal Federal que afastou a Lei de Imprensa do
ordenamento nacional. Entende-se que surgiu um vazio em relação às questões de
imprensa; mas, Nalini (2009), observa que “ não se encare o momento como o de
um vácuo ou anomia”, antes que devemos estar preparados, pois “novos protótipos
haverão de surgir para orientar a conduta de todos. Jornalistas, empresários do
setor, advogados, promotores e juízes. O subproduto, nada desprezível, é modelar
uma sociedade mais madura e apta ao enfrentamento autônomo de seus problemas
“. Assim, não devemos nos preocupar com as novas mudanças. Teruya (2009) já
vislumbrava as diversas conseqüências dessas mudanças ao tratar das questões
relativas às situações de uso de imagem das pessoas, analisando decisões judiciais.
No mesmo caminho, o Supremo Tribunal Federal recebeu um Recurso
Extraordinário, que questionava uma decisão que tratava do exercício profissional de
jornalista, que está previsto no artigo 5º. do Decreto-Lei 972/69, onde é exigido o
Diploma de Jornalismo. Ocorre que a Constituição Federal de 1988, no artigo 5º.,
estabelece a liberdade do exercício profissional. O recurso extraordinário visava
afastar do ordenamento jurídico a compreensão da obrigatoriedade de diploma. O
Supremo Tribunal Federal decidiu através de seu plenário que não se pode mais
exigir diploma de jornalismo para a sua atuação na área de imprensa. Lenza (2009,
p. 685), entre seus ensinamentos a respeito de Direito Constitucional afirma que “a
constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento” e a “liberdadde
de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão”, apresentando decisão do
111
Ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal, já em 2006, “estabelecendo
como desnecessário o diploma de jornalista para o exercício da atividade”. Rossi
(2009, p.66), afirma que a imprensa internacional parabenizou o Supremo Tribunal
Federal pela sua decisão de não permitir a violação da liberdade de expressão em
nosso país sob qualquer pretexto. Retoma-se, pois, a expressão de Nalini (2009)
que “novos protótipos haverão de surgir”.
CONCLUSÃO - As decisões históricas do Supremo Tribunal Federal em relação à
imprensa brasileira relativas à Lei de Imprensa e à determinação de não
obrigatoriedade de diploma de jornalismo conduziram a novas abordagens no setor.
A preocupação da existência de um vácuo no setor não prosperou, mas obrigou a
todos os interessados, jornalistas, empresários, magistrados, políticos, e os mais
diversos profissionais a trilhar novos caminhos. A “desregulamentação” já é real; e,
um dos caminhos talvez seja a “regulamentação” dos setores envolvidos na área de
imprensa, como já ocorre com o setor de publicidade, através do Conar. Assim, a
imprensa continuará “sempre viva”, independente de normatização, com novos
caminhos, novas abordagens, cumprindo o seu papel histórico.
REFERÊNCIAS
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Saraiva, 2009.
MIRANDA, Darcy Arruda. Dos abusos da liberdade de imprensa. São Paulo:
Revista dos tribunais, 1959.
NALINI, José Renato. Lei de Imprensa: é hora da responsabilidade. Revista
Consulex, Brasília, ano XIII, n. 297, p. 28-29, maio 2009.
ROSSI, Francisco. O Brasil dá um passo à frente com a revogação da Lei de
Imprensa pelo STF. Revista Consulex, Brasília, ano XIII, n. 297, p. 66, maio 2009.
TERUYA, Renata dos Santos. Orkut: a responsabilidade civil concernente à violação
do direito de imagem. Revista Consulex, Brasília, ano XIII, n. 295, p. 36-39, abr.
2009.
112
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
PUBLICIDADE E PROPAGANDA: UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E DA ÉTICA PARA A PROFISSÃO1. Vívian Xavier de
Moraes Freitas 2, Livia Lara Andretto3, Eduardo Liporacci4, Fábio José de Souza5
Palavras-chave:
Publicidade
e
propaganda.
Código
Brasileiro
de
Autorregulamentação Publicitária. Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
CONAR. CENP.
INTRODUÇÃO - Na sociedade atual, marcada pelas diferenças pessoais e
profissionais, é indispensável a existência de instituições que assegurem e retomem
os valores éticos e morais dos cidadãos, em especial no que tange à família, opção
sexual, etnia e religião. Estes valores podem ser colocados em prática pela própria
vontade de cada indivíduo e também com a participação dos meios de comunicação.
Com o foco na publicidade e propaganda no Brasil, alguns órgãos primam pela ética
nas diferentes relações com o mercado publicitário, defendendo, em um primeiro
momento, o público consumidor, desde que este se sinta ofendido ou atacado por
um determinado comercial, bem como prezam pela transparência e livre
concorrência entre as agências e as mídias. Neste sentido, por meio deste estudo,
pode-se ampliar o debate da importância da ética e da legislação nas relações de
comunicação do mercado publicitário, além de apresentar o Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária (CONAR), o Conselho Executivo das NormasPadrão (CENP) e suas formas de atuação para a correta prestação de serviços
pelos publicitários.
RELEVÂNCIA DO ASSUNTO / JUSTIFICATIVA - Entender a legislação e a
importância da presença da ética na atividade publicitária é de extrema valia não
somente para o profissional da área, como para todos aqueles envolvidos nos
diversos ramos empresariais e da comunicação, especialmente os consumidores.
Os pontos aqui abordados são necessários para o desenvolvimento total do
processo de idealização e comercialização de um produto, posto que existem
normas para tanto, bem como órgãos que garantam os seus cumprimentos.
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Acadêmica do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected]
3
Acadêmica do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] ou [email protected]
4
Acadêmico do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected]
5
Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC).
Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito. Especialista em Formação de Educadores
em Turismo. E-mail: [email protected]
113
METODOLOGIA - Este estudo baseou-se em literaturas, códigos e sites de
Conselhos sobre a temática. Foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, com a
aplicação do método Analítico-Sintético, realizando análises e posterior síntese do
material obtido, que permitiu a reflexão do pensamento apresentado. Os materiais
encontram-se disponíveis em bibliotecas e internet, além de serem parte do acervo
dos autores.
RESULTADO E DISCUSSÃO - Por se tratar de um assunto relevante e necessário
para a comunicação, especialmente para a Publicidade e Propaganda, serão
apresentados a importância da ética, dos Conselhos existentes – CONAR e CENP –,
do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e do Código de Proteção e
Defesa do Consumidor. As etapas do processo de comunicação entre a agência
publicitária e o receptor da mensagem (consumidor) são contempladas nestes
Conselhos e Códigos, pois há a necessidade dos profissionais se preocuparem com
a ética, justiça, moral e valores, independentemente do público a ser atingido. Para
Lopes (2003, p. 62), a ética em publicidade e propaganda é importante, pois:
É dever, entre os deveres, divulgar a verdade. Quem assim procede,
normalmente, tem êxito definitivo. O outro, o oposto, é fogo fátuo. Não é
concorrente. Acende e apaga como o vagalume e só tem êxito na
escuridão da noite. O profissional ético tem qualidade e seu progresso é
duradouro. É lembrado. Ele é marca famosa.
Para tanto, foram criados o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
(CONAR) e o Conselho Executivo de Normas-Padrão (CENP). O primeiro tem como
missão “impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao
consumidor ou a empresas” (CONAR, 2009). Em linhas gerais, ele impede que
exista a publicidade enganosa ou abusiva no meio midiático e que causem danos a
todos os envolvidos. O órgão atende e julga denúncias sobre tais assuntos.
Estabelece também, previsões para os anúncios, tais como a honestidade e a
veracidade dos mesmos, em sintonia com as leis do país; a responsabilidade social
em sua elaboração, entre outros. O CONAR é uma organização não governamental,
formada por publicitários e profissionais de outras áreas que zelam pela liberdade de
expressão. Já o CENP (2009) tem como missão:
o estabelecimento de princípios éticos no relacionamento comercial entre
anunciantes, agências e veículos de comunicação, por meio da autoregulamentação, de forma a preservar um modelo de negócios que
proporciona as bases para a liberdade de imprensa (na medida em que
financia a atividade dos veículos), o fomento ao mercado consumidor e que
levou a publicidade brasileira à condição de uma das mais criativas e
eficientes do mundo.
A preocupação maior do CENP é preservar a transparência no negócio da
publicidade, estabelecendo relações comerciais entre anunciantes, agências e
veículos. Filiar-se ao CENP é firmar o compromisso de estabelecer bases para
relações mais sólidas. O CENP concede o Certificado de Qualificação Técnica às
agências que cumprem as regras estabelecidas nas Normas-Padrão, fazendo
vistorias para a verificação destas. Este é um selo de qualidade que garante aos
anunciantes a confiança de que estão estabelecendo vínculos comerciais com
agências idôneas e éticas. Tanto o CONAR quanto o CENP são coerentes com a Lei
114
nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, mais conhecida como Código de Proteção e
Defesa do Consumidor (CDC). Este é um conjunto de artigos que concedem direitos
aos consumidores e disciplinam as atitudes dos fornecedores, estabelecendo
princípios, responsabilidades, indenizações, prazos e, inclusive, multas e penas. O
CDC apresenta algumas definições úteis que norteiam a área empresarial, bem
como ao profissional de publicidade e propaganda. São elas:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista (BRASIL, 1990).
Essas definições são essenciais para o desenrolar dos outros artigos do CDC e, por
isso, estão estabelecidas logo nos artigos iniciais, como visto acima. O Código de
Proteção e Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) cristalinamente aponta que a
oferta deverá preencher requisitos:
Art. 30 Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada
por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e
serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer
veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 31 A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar
informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidade, quantidade, composição, preço,
garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre
os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. [...]
Art. 36 A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil
e imediatamente, a identifique como tal.
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou
serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos
interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à
mensagem.
Os órgãos mencionados, juntamente com o CDC, procuram proteger o consumidor
(ou receptor final da mensagem) de uma publicidade: a) enganosa e b) abusiva:
Art. 37 É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
Parágrafo primeiro - É enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por
qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e
serviços.
115
Parágrafo segundo - É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória
de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da
criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança.
Parágrafo terceiro - Para os efeitos deste Código, a publicidade é enganosa
por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou
serviço (BRASIL, 1990).
Assim, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor estabelece normas e
cautelas, sob penas diversas. A publicidade está diretamente ligada ao CDC, pois
esta é a voz que anuncia os produtos e serviços, os quais serão adquiridos ou
contratados, respectivamente, pelos interessados. Merece relevo mencionar os
artigos 66, 67, 68 e 75 do CDC (BRASIL, 1990), os quais preconizam os crimes para
quem promove publicidade enganosa e abusiva:
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante
sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança,
desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
§ 2º Se o crime é culposo;
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
enganosa ou abusiva:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
Parágrafo único. (Vetado).
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz
de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a
sua saúde ou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:
Parágrafo único. (Vetado). [...]
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste
código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade,
bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que
promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta,
exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e
prestação de serviços nas condições por ele proibidas.
O CONAR, o CENP e o CDC possuem o propósito de garantir que a ação
publicitária seja feita da melhor maneira possível, para que o receptor entenda com
clareza e sem equívocos a mensagem que chega até ele.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - Diante das considerações acima, chega-se a um
pensamento mais crítico perante o assunto e, assim, podendo analisar que o
CONAR e o CENP, dentro das suas competências, fortalecidos pelo Código de
Proteção e Defesa do Consumidor, procuram por todos os meios preservarem a
publicidade íntegra e clara, evitando-se conflitos entre consumidores e fornecedores.
Neste sentido, cabe aos publicitários significativa responsabilidade, para que
continuamente a ética e a legislação sejam observadas em suas áreas de atuação, o
que valorizará definitivamente, o trabalho desenvolvido, sempre com transparência e
harmonia, enaltecendo a ponte entre consumidores e fornecedores.
116
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do
consumidor e dá outras providências. Disponível em:
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CONSELHO EXECUTIVO DE NORMAS-PADRÃO (CENP). CENP comemora 10
anos renovando normas-padrão da atividade publicitária. Disponível em:
<http://www.cenp.com.br/>. Acesso em: 6 ago. 2009.
CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA
(CONAR). Missão. Disponível em: <http://www.conar.org.br/>. Acesso em: 6 ago.
2009.
LOPES, A. P. Ética na propaganda. São Paulo: Atlas, 2003.
117
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
PUBLICIDADE E PROPAGANDA SUBLIMINAR: A LEGISLAÇÃO E A ÉTICA1.
Patrícia de Abreu2, Lígia Beatriz Carvalho de Almeida3 ,
Fábio José de Souza4 , Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza5
RESUMO
A propaganda subliminar é um tema pouco discutido e sobre o qual existe muita
controvérsia, sendo que está presente nas mídias, sem que o consumidor possa ao menos
perceber e escolher se aceita ou não tal prática. É necessária, portanto, uma
conscientização da existência da propaganda subliminar e dos efeitos nocivos do seu uso,
os quais muitas vezes desrespeitam a ética, as leis, os profissionais e os consumidores.
Neste sentido, é o que propõe o presente artigo: reunir e discutir conceitos sobre
propaganda subliminar e sua relação com a ética e a legislação brasileira, os quais
permitirão uma reflexão mais crítica e pontual sobre esta temática, para melhor desempenho
e embasamento científico na vida profissional do publicitário. Aplicou-se uma pesquisa
bibliográfica, com a consulta em materiais científicos como livros, revistas, periódicos,
artigos, sites, o que permitiu conhecer e refletir sobre o objeto pesquisado e, após, construir
esta produção. Conclui-se que o uso proposital da subliminaridade é condenável, por isso é
importante divulgar formas de fazer denúncias e maneiras de se defender dessa prática. No
Brasil, pode-se contar com o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
(CONAR) e o Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP). Diante das conquistas
tecnológicas, são sempre oferecidas novas contribuições para as comunicações, o que
aumentam os desafios para os profissionais desenvolverem os seus trabalhos publicitários
com eficiência e eficácia, mas, acima de tudo, comprometidos com os princípios éticos,
observando a legislação vigente e enaltecendo a relação com o público-alvo.
Palavras-chave: Propaganda. Subliminaridade. Mensagem subliminar. Ética.
Legislação.
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade
Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected]
3
Docente dos Cursos de Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC). Doutoranda em
Educação. Mestre em Comunicação Midiática. Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em
Rádio e TV. E-mail: [email protected]
4
Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC).
Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito. Especialista em Formação de Educadores
em Turismo. Advogado. E-mail: [email protected]
5
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em
Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail:
[email protected]
118
1 INTRODUÇÃO
A propaganda subliminar é um tema pouco discutido e sobre o qual existe
muita controvérsia. Nos dias de hoje, as mensagens subliminares estão presentes
nas mídias, sem que o consumidor possa ao menos perceber e escolher se aceita
ou não tal prática. O uso de mensagens subliminares é fácil de ser identificado em
algumas propagandas, mas em outras é praticamente impossível. É necessária uma
conscientização da existência da propaganda subliminar e dos efeitos nocivos do
seu uso, os quais muitas vezes desrespeitam a ética, as leis, os profissionais e os
consumidores.
Destaca-se que a função do publicitário é zelar pela ética publicitária,
conhecendo e evitando os danos causados pela propaganda subliminar. Para
combater este tipo de propaganda, mais pesquisas devem ser realizadas, para que
possam produzir e difundir conhecimentos. Neste sentido, é o que se propõe o
presente artigo: reunir e discutir conceitos sobre propaganda subliminar e sua
relação com a ética e a legislação brasileira, os quais permitirão uma reflexão mais
crítica e pontual sobre esta temática, para melhor desempenho e embasamento
científico na vida profissional do publicitário.
2 RELEVÂNCIA DO ASSUNTO / JUSTIFICATIVA
Ao mesmo tempo em que desperta a curiosidade, o conceito de
subliminaridade incita tanto as pessoas quanto os profissionais a conhecerem,
discutirem e se aprofundarem no tema. É preciso pensar a publicidade e
propaganda utilizando-se de mecanismos que possibilitem o consumidor entender a
mensagem e agir conforme a sua necessidade e vontade, sem a existência e
interferência de uma mensagem subliminar.
3 METODOLOGIA
Aplicou-se uma pesquisa bibliográfica, com a consulta em materiais científicos
como livros, revistas, periódicos, artigos, sites na internet, o que permitiu conhecer e
refletir sobre o objeto pesquisado e, após, construir esta produção.
119
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A comunicação é uma atividade social. Do ponto de vista empresarial, ela se
presta a colocar em contato uma organização com seus públicos. A propaganda é o
elo que estabelece a relação entre a organização e o público-alvo e tem como
finalidade propagar o conhecimento de uma marca e de seu conceito. Sant´Anna
(2007, p. 1), quando trata da propaganda e sua importância para a vida em
sociedade, afirma que é:
[...] uma das matérias mais interessantes no estudo do comportamento
humano, o que é compreensível, já que a comunicação é um processo
social fundamental. Sem a comunicação não existiriam os grupos humanos
e as sociedades.
Complementa que a “Comunicação é, pois, o processo de transmitir idéias
entre indivíduos” (SANT´ANNA, 2007, p. 2). Entende-se que propaganda em si é
uma técnica de comunicação, que desenvolve atividades e provoca ações benéficas
para o anunciante, geralmente para vender produtos e serviços, com fundamento em
uma idéia. A propaganda pode colaborar com a mudança de hábitos, recuperar uma
economia, criar imagens, promover o consumo, vender produtos, oferecer serviços e
ainda informar o consumidor.
Conforme aponta Sampaio (1999, p. 17), “muitos produtos são tão parecidos
que praticamente não existe uma diferença real – física – entre as diversas marcas
que brigam pela preferência dos consumidores”. Sem a propaganda, seria difícil
diferenciar um produto dos demais e, como consequência, uma marca não se
destacaria das outras. O autor afirma ainda que “A propaganda seduz nossos
sentidos, mexe com nossos desejos, revolve nossas aspirações, fala com nosso
inconsciente, nos propõe novas experiências, novas atitudes, novas ações”
(SAMPAIO, 1999, p. 21).
4.1 A PROPAGANDA SUBLIMINAR
Conforme Houaiss (2001, p. 2311-2312, 2625):
Propaganda: s.f. (1858cf.MS6) 1 divulgação, propagação de uma idéia, uma
crença, uma religião; apostolado, proselitismo, catequese (trabalho de p. da
Igreja católica) 2 ação de exaltar as qualidades de (algo) para um número
120
ger. Grande de pessoas; anúncio, reclame (fazer p. de um candidato) (a p. é
a alma do negocio) 3 disseminação de idéias, informações (verdadeiras ou
falsas), boatos etc., com o fim de ajudar ou prejudicar (outrem); campanha
(p. anticomunista) (p. anti-semita) (p. religiosa) 4 PUB difusão de mensagem
verbal, pictórica, musical etc., de conteúdo informativo e persuasivo, em TV,
jornal, revista, volantes, outdoors etc.; publicidade (escritório de p.) 5 p.ext.
peça de propaganda; anuncio (gosto muito dessa p.). [...]
Propaganda Subliminar: PUB técnica de propaganda onde a mensagem
publicitária não é captada pelo consciente do público, pois o estímulo é
insuficientemente intenso para atingi-lo, e sim, pela repetição ou outros
mecanismos, atuando no seu inconsciente, esp. nas suas emoções, e
causando os efeitos desejados nas suas idéias e opiniões (p.ex., se deseja
prejudicar a imagem de um político, costuma-se associá-lo por contigüidade
a fatos catastróficos, desastres etc., para vender um produto masculino,
costuma-se apresentá-lo ao lado de mulheres belas e sensuais).[...]
Subliminar: / sub-li/ 1 que é inferior ao limiar, subliminal 2 que é
subentendido nas entrelinhas ou se faz por associação de idéias (diz-se da
propaganda) 3 PSIC que não ultrapassa o limiar da consciência, que não é
suficientemente intenso para penetrar na consciência, mas que, pela
repetição ou por outras técnicas. Pode atingir o subconsciente, afetando as
emoções, desejos, opiniões; subconsciente (propagandas).
O primeiro registro de uso da subliminaridade na propaganda aconteceu em
10 de junho de 1956, com Jim Vicary (CALAZANS, 2006, p. 25-30). Durante a
exibição de um filme em um cinema, Jim teria feito uso de um taquistoscópio, que
pode ser comparado a um tipo de projetor de slides que projeta um único slide em
uma velocidade de 1/3.000 de segundo. O taquistoscópio emitia um slide com a
frase “Drink Coke” (Beba Coca-Cola), projetada repetidamente, e de forma
sobreposta ao filme. Era rápido demais para ser percebido pelo público, atuando
apenas subconscientemente, assim as vendas do refrigerante na saída do filme
aumentaram. Segundo Lima (2006, p. 14), “[...] com o taquistoscópio provou-se que
o cérebro reage a imagens projetadas a uma velocidade de exposição de até
1/3.000 de segundo”.
Calazans (2006, p. 57-59) aborda como a subliminaridade atua no receptor,
que se inicia com a percepção da imagem pelo olho humano. Ele explica que o
nervo óptico é cruzado, ou seja, o olho esquerdo envia informações ao hemisfério
direito do cérebro. Os dois lados do cérebro têm funções diferenciadas: o lado
esquerdo é o eixo sintagmático, que executa a leitura linear letra a letra, pensa com
lógica, é racional, enquanto o lado direito do cérebro é o eixo paradigmático das
imagens visuais, analogias e emoções. O funcionamento desses dois mecanismos
ativadores da razão e da emoção possibilitam interpretarmos aquilo que nos atinge.
A visão fóvica faz com que os nossos olhos foquem sempre o objeto principal das
imagens de forma consciente. (ONG MENSAGENS SUBLIMINARES, 2004). Captam
121
a imagem central, enquanto a visão periférica, geralmente só é captada em nível
subliminar, ou seja, as imagens captadas pela visão periférica são remetidas
automaticamente ao nosso cérebro, em um nível subvisual involuntário (figura 1).
Figura 1 – Visão fóvica e visão periférica.
Fonte: ONG Mensagens Subliminares, 2004.
De acordo com Lima (2006, p. 15):
Os nossos olhos sempre focam o objeto principal das imagens, seja na TV,
nos quadros, paisagens etc. As células responsáveis são chamadas de
cones, responsáveis por um ângulo de aproximadamente 20º de visão
central, enquanto que a maior parte de nosso mundo visual está na área
que chamamos de visão periférica, realizada por células do tipo bastonete.
Geralmente, são essas imagens que são captadas a nível subliminar, ou
seja, são remetidas automaticamente ao nosso cérebro, em nível
inconsciente, involuntário.
Conforme a ONG Mensagens Subliminares (2004), a psicologia é quem
melhor define o conceito de subliminaridade “qualquer estímulo produzido abaixo do
limiar da consciência e que produz efeitos na atividade psíquica ou mental”. As
mensagens ou propagandas subliminares podem estar presentes nos mais diversos
tipos de produtos midiáticos como programas de televisão, cinema, rádio, histórias
em quadrinhos, revistas, RPG, videogames, músicas, informática, teatro, jornais,
outdoors, embalagens, vitrines etc.
Este tipo de propaganda fere as normas da ética e interfere no livre arbítrio,
pois não dá ao receptor a opção de escolher conscientemente, seja na compra de
um produto, uma filosofia ou de uma ideologia. As mensagens subliminares podem
ser principalmente visuais e auditivas, porém nada impede que atuem sobre outros
órgãos dos sentidos. O objetivo maior desse tipo de propaganda é controlar a mente
das pessoas no nível do subconsciente. As mensagens para serem subliminares
obedecem à fórmula abaixo (figura 2):
122
Figura 2 – Fórmula da subliminaridade.
Fonte: ONG Mensagens Subliminares, 2004.
Essa fórmula significa que o subliminar ocorre em decorrência do envio da
maior quantidade possível de informação, no menor tempo possível de exposição,
evitando que o receptor consiga analisar e descartar a mensagem. Interferindo de
forma abusiva nos processos mentais, o que causa preocupação, principalmente
quando o público alvo são as crianças, ainda em fase de formação. Muitas
propagandas, usando a técnica subliminar, transformam sua identidade em valores
positivos e negativos, especialmente para as crianças.
A Walt Disney, a maior empresa de entretenimento do mundo, é a que mais
gerou lendas urbanas quanto ao uso da subliminaridade. O uso desse tipo de
propaganda pode ser atribuído aos anunciantes, aos publicitários, ou ainda, aos
editores e produtores das mensagens. Mas, a responsabilidade legal é sempre
atribuída ao emissor da mensagem, ou seja, ao anunciante. Destaca-se que, com o
início das transmissões digitais terrestres no Brasil, iniciadas em dezembro de 2007,
é necessário mais cautela com a publicidade, uma vez que a televisão digital poderá
alterar o formato dos anúncios e comerciais (especialmente o clássico modelo de 30
segundos veiculados na televisão de sinal analógico), o público deverá ser mais
participativo com a possibilidade de interatividade, entre outros. Isto vai exigir que se
aproveitem os recursos disponíveis com esta tecnologia, para enfrentar e superar os
desafios na comunicação com o público final, ou seja, os consumidores.
Por isso, o publicitário deve estar muito atento à totalidade do processo
produtivo e adotar um rigoroso processo de controle de qualidade, para evitar que
mensagens sejam inseridas em uma campanha de sua autoria, causando sérios
problemas éticos e morais ao seu cliente, quando são identificadas, além das
consequências jurídicas advindas.
4.2 A PROPAGANDA SUBLIMINAR E A LEGISLAÇÃO
123
O uso da subliminaridade é regulamentado pela legislação brasileira. A Lei nº
8.078, de 11 de setembro de 1990, conhecida como Código de Proteção e Defesa
do Consumidor, apesar de não mencionar especificamente a palavra subliminar faz
referência à sua utilização nos artigos 2º, 3º, 6º, 30, 31, 35, 36 e 37 (BRASIL, 1990),
quando veda o uso da publicidade enganosa e abusiva, não clara e não objetiva:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. [...]
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por
práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e
serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;
IX - (Vetado);
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
Ainda, neste sentido (BRASIL, 1990):
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada
por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e
124
serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer
veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar
informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço,
garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre
os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos
refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.
(Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009) [...]
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à
oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente
e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,
apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente
antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor,
fácil e imediatamente, a identifique como tal.
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou
serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos
interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à
mensagem.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de
caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a
respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita
valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão
quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.
§ 4° (Vetado).
Há uma preocupação tão séria com a publicidade que envolve a esfera penal,
no próprio Código de Proteção e Defesa do Consumidor, a saber.
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante
sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança,
desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
§ 2º Se o crime é culposo;
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
enganosa ou abusiva:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
Parágrafo único. (Vetado).
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou
perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:
125
Parágrafo único. (Vetado).[...]
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste
código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade,
bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que
promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta,
exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e
prestação de serviços nas condições por ele proibidas (BRASIL, 1990).
A propaganda subliminar também é combatida pelo Código Brasileiro de
Autorregulamentação
Publicitária
elaborado
pelo
Conselho
Nacional
de
Autorregulamentação Publicitária – o CONAR, em seu artigo 29, a saber:
Artigo 29 - Este Código não se ocupa da chamada “propaganda subliminar”,
por não se tratar de técnica comprovada, jamais detectada de forma
juridicamente inconteste. São condenadas, no entanto, quaisquer tentativas
destinadas a produzir efeitos “subliminares” em publicidade ou propaganda
(CONAR, 2009).
No entanto, como assegurar que mensagens subliminares não sejam
utilizadas, uma vez que se considera a impossibilidade de, conscientemente,
detectar a sua existência? Procura-se ainda uma regulação por um compromisso
pessoal e profissional advindo da ética e o respeito necessário ao cumprimento da
legislação.
4.3 A MENSAGEM SUBLIMINAR E A ÉTICA
As definições de ética são inúmeras, mas mesmo sendo uma palavra de
significado complexo, a ética se refere ao bom comportamento humano. Segundo
Cornu (1998, p. 8-9):
A ética, então, fica definida como a aplicação pessoal de um conjunto de
valores livremente eleitos pelo indivíduo, em função de uma finalidade por
ele mesmo estabelecida e que acredita ser boa. [...] ética pode também ser
compreendida como a expressão da diferença entre preceitos gerais e
preceitos específicos de um determinado campo de atividade.
Assim, a ética é aplicada a um grupo, a uma profissão que lhe é própria, no
caso as mídias e a publicidade. Os meios de comunicação têm um poder de
manipulação de informação e de formação de opinião. Nestes meios, as mensagens
são manipuladas conforme os interesses de grupos e instituições. Existem algumas
normas e princípios que regulamentam a conduta de um indivíduo no exercício de
126
sua profissão, a isso se dá o nome de ética profissional. Os profissionais dos meios
de comunicação são responsáveis pela ética publicitária. Os meios de comunicação
não apenas oferecem lazer, divertimento e informação, mas, muitas vezes, alteram o
comportamento humano, induzindo os telespectadores, leitores, ouvintes a
alimentarem desejos de consumo e fantasias como se fossem reais. A televisão, por
exemplo, obtém mais índices de audiência quando faz apresentações exóticas,
irreverentes e fantasiosas. De acordo com Leal (2006, p. 94):
A coerção na TV é feita com a sedução do telespectador por aquilo que o
coloca mais próximo do reino animal: seus instintos de sobrevivência e de
reprodução. A possibilidade de testemunhar um ato sexual ou de ver uma
briga pela permanência no programa são as armas dos produtores para
atingir largas audiências.
Para controlar esses excessos, os anunciantes, as agências de propaganda e
os veículos de comunicação criaram em 1980, o Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e formaram também o Conselho
Executivo das
Normas-Padrão (CENP), os
quais exigem profissionalismo,
desenvolvimento técnico e, principalmente, compromisso com a ética. O CONAR
elaborou o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e o CENP criou as
Normas-Padrão, que devem ser respeitados e obedecidos, para o bem de todos e
para a valorização da atividade profissional. O CONAR trabalha para impedir que a
publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou as
empresas. Constituído por publicitários e profissionais de outras áreas, delimita sua
função e atuação:
Uma organização não-governamental que visa promover a liberdade de
expressão publicitária e defender as prerrogativas constitucionais da
propaganda comercial. Sua missão inclui principalmente o atendimento a
denúncias de consumidores, autoridades, associados ou formuladas pelos
integrantes da própria diretoria. As denúncias são julgadas pelo Conselho
de Ética, com total e plena garantia de direito de defesa aos responsáveis
pelo anúncio. Quando comprovada a procedência de uma denúncia, é sua
responsabilidade recomendar alteração ou suspender a veiculação do
anúncio. O Conar não exerce censura prévia sobre peças publicitárias, já
que se ocupa somente do que está sendo ou foi veiculado. Mantido pela
contribuição das principais entidades da publicidade brasileira e seus
filiados - anunciantes, agências e veículos -, tem sede na cidade de São
Paulo e atua em todo o País. Foi fundado em 1980 (CONAR, 2009).
127
Já o CENP é uma entidade criada pelo mercado publicitário para fazer
cumprir as Normas-Padrão da atividade publicitária, um documento básico que
define as condutas e regras das melhores práticas éticas e comerciais entre os
principais agentes da publicidade brasileira. O CENP existe desde 1998 e reúne
vinte e dois representantes, pertencentes às agências de propaganda, anunciantes,
veículos de comunicação e governo federal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A publicidade e propaganda subliminar produzem efeitos na atividade
psíquica ou mental das pessoas, afetam o inconsciente e tem como objetivo
atingirem o subconsciente das pessoas, apelando, na maioria das vezes, para os
desejos, sexo e erotismo. O uso proposital da subliminaridade é condenável, por
isso é importante divulgar formas de fazer denúncias, bem como divulgar maneiras
de se defender dessa prática. Denunciar o subliminar, além de ser uma questão de
cidadania, é uma questão de humanidade, pois a liberdade de escolha e autonomia
define uma forma de vida livre e inteligente. No Brasil, pode-se contar com o
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e o Conselho
Executivo das Normas-Padrão (CENP). Necessário deixar assentado que a
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de
1988, assegura a liberdade de expressão em seu artigo 5º, inciso IV: “é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (BRASIL, 1988).
Entretanto, o mesmo deverá ser colocado em prática em sintonia com os
dispositivos legais que contemplam a publicidade e os consumidores, além de
aplicar continuamente os elevados padrões éticos. A nossa Carta Magna também
expressa os princípios que norteiam a Comunicação Social, em seu Capítulo V, nos
artigos 220 a 224. Diante das conquistas tecnológicas, são sempre oferecidas novas
contribuições para as Comunicações, o que aumentam os desafios para os
profissionais desenvolverem os seus trabalhos publicitários com eficiência e eficácia,
mas, acima de tudo, comprometidos com os princípios éticos, observando a
legislação vigente e enaltecendo a relação com o público-alvo.
ABSTRACTS
128
Subliminal advertising is a subject rarely discussed and about which there is much
controversy, and is present in the media, without the consumer can at least
understand and choose whether to accept such a practice. It is therefore required an
awareness of the existence of subliminal advertising and the effects of its use, which
often disregard the ethics, laws, professionals and consumers. In this sense, is what
this article proposes to: meet and discuss ideas about subliminal advertising and its
relationship with Brazilian law and ethics, which will allow a more critical and timely
on this issue, for better performance and scientific background in professional life
advertiser. We used a literature search, consultation with scientific materials such as
books, periodicals, magazines, articles, websites, providing knowledge and reflect on
the object of research and, later, to build its production. Concluded that the deliberate
use of subliminals is wrong, so it is important to promote ways of making complaints
and ways to defend this practice. In Brazil, you can count on the Conselho Nacional
de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) and the Conselho Executivo das
Normas-Padrão (CENP). In the face of technological achievements, are always
offered new contributions to communications, which raise challenges for
professionals to develop their advertising work efficiently and effectively, but, above
all, committed to ethical principles, noting the legislation and uplifting the relationship
with the audience.
Keywords: Advertising. Subliminals. Subliminal message. Ethics. Law.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.
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CALAZANS, F. Propaganda subliminar multimídia. 7. ed. São Paulo: Summus
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CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA
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CORNU, D. Ética da informação. Bauru: EDUSC, 1998.
129
HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2001.
LEAL, L. A TV sob controle: a resposta da sociedade ao poder da televisão. São
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LIMA, E. A invasão oculta. São Paulo: Naós, 2006.
ONG MENSAGENS SUBLIMINARES. Incrível mundo das mensagens
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SANT´ANNA, A. Propaganda: teoria, técnica e prática. 7. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007.
130
EIXO TEMÁTICO: COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA
131
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
COMUNICAÇÃO ENTRE ÓRGÃOS PÚBLICOS: LIMITES ENTRE A INTENÇÃO E
A REALIZAÇÃO1. Bruno Sampaio Garrido2
Palavras-chave: Comunicação organizacional. Cultura organizacional. Gestão do
conhecimento. Serviço público do Estado de São Paulo.
INTRODUÇÃO – O investimento em melhoria das relações comunicativas entre os
setores das organizações agrega valor aos produtos e serviços e viabiliza suas
atividades. Logo, tornou-se fator crucial para a própria sobrevivência de uma
empresa. Essa regra também é válida para os serviços públicos, tão criticados pela
ineficiência, para melhorar a qualidade de seus serviços e sua imagem perante os
usuários. Este artigo visa discutir as relações de comunicação entre a Diretoria de
Ensino de Bauru e as escolas estaduais, com base nas práticas comunicativas em
uma unidade escolar. Assim, procura-se estabelecer vínculos entre a prática
comunicativa adotada e a cultura organizacional do serviço público estadual, tendo
em vista a eficiência e a eficácia dos processos.
RELEVÂNCIA – Embora a literatura especializada aponte que a otimização das
relações comunicativas pode melhorar tanto a qualidade dos serviços prestados
quanto a imagem das instituições perante a sociedade, no âmbito do serviço público,
implantar uma mudança desse porte requer um trabalho árduo. É necessário superar
vários entraves decorrentes tanto da estrutura organizacional dos órgãos públicos
como fatores ligados à cultura desses órgãos, tais como: falta de relações
transparentes (comunicativas ou não), excesso de legalismo, verticalização das
relações de trabalho, burocratização excessiva, falta de estrutura apropriada na área
de comunicação.
METODOLOGIA – Para o desenvolvimento deste trabalho, recorreu-se à pesquisa
bibliográfica na literatura nas áreas de comunicação organizacional e pública, a fim
de identificar e comparar as práticas comunicativas adotadas pelos órgãos
analisados, assim como de cultura organizacional e de gestão do conhecimento,
com o intuito de identificar as influências da cultura interna das organizações na
execução e planejamento comunicacional, bem como na administração das
informações.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA — Revisão bibliográfica:
As organizações são sistemas, ou seja, um conjunto de elementos voltados para a
produção de bens e/ou serviços. Exercem papel relevante no meio social na qual
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Jornalista (USC), licenciado em Letras (UNIP), mestrando em Comunicação pela Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (FAAC/UNESP). Assistente de
Suporte Acadêmico do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências da UNESP
(FC/UNESP) . E-mail: [email protected]
132
estão integradas e por isso, precisa apoiar-se na cooperação para manter-se ativa
(TORQUATO, 1986). A comunicação, nesse sentido, atuaria para equilibrar as
relações entre as partes da organização, além de norteá-la para a eficácia por meio
da adequação de suas mensagens a fim de que elas sejam claras, compreensíveis e
assimiláveis por todos. No entanto, para que isso ocorra, existem barreiras na
comunicação que necessitam ser superadas, a saber: a) barreiras pessoais:
relacionadas à personalidade de cada indivíduo, o estado de espírito, valores,
emoções e formas de comportamento demonstradas no ambiente; b) barreiras
administrativas ou burocráticas: surgem a partir da maneira como as instituições
geram, organizam e processam suas informações; c) excesso de informações: a
quantidade de informações produzida gera sobrecarga, perda de tempo e de
recursos, causando saturação nos indivíduos e, por conseguinte, a desinformação;
d) comunicações incompletas ou parciais: informações fragmentadas, distorcidas,
não transmitidas ou sonegadas, capazes de gerar dúvidas e equívocos (KUNSCH,
2002; DAZZI; PEREIRA, 2008). Ao analisar a comunicação pública, optou-se, nesse
trabalho, por considerá-la como sinônimo de comunicação organizacional. Nessa
acepção, ela é tratada de maneira estratégica e planejada, e visa não apenas a
constituir relações com os diversos públicos da instituição, mas também criar uma
identidade institucional (BRANDÃO, 2006). Inovações tecnológicas, acesso à
informação, estabilidade econômica e a abertura de mercado e as privatizações
forçaram o setor público a aperfeiçoar a qualidade de seus serviços e de sua
comunicação, pois os usuários começaram a exigir mais os seus direitos (MATOS,
2000). A melhoria das práticas comunicativas geraria uma maior busca por
informações pelos funcionários e uma maior participação destes em momentos de
decisão. Eles querem saber exatamente qual o status da organização, os problemas
enfrentados por ela e como resolvê-los. Sem uma comunicação que corresponda a
essas expectativas, dá-se lugar aos boatos (CORRADO apud MATOS, 2000). Enfim,
um planejamento estratégico na comunicação e a inclusão desta como parte das
práticas de gestão da organização serviriam para agregar os diversos níveis da
empresa em torno de linguagens, práticas e objetivos comuns, colaborando para a
criação de uma identidade organizacional (NOGUEIRA, 2008). Contudo a cultura
organizacional do serviço público é fortemente calcada em tradições burocráticas e
patrimoniais; conflito de interesses pessoais e políticos; falta de experiência dos
profissionais de comunicação desses órgãos em planejamento de ações de longo
prazo; práticas comunicativas estanques, restritas apenas à divulgação de ações
(NOGUEIRA, 2008). As conseqüências desses elementos culturais no ambiente
organizacional são a desinformação e o isolamento entre setores e indivíduos.
Objeto de estudo: A organização atual da Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo (SEE), baseada no Decreto n° 7.510, de 29 de janeiro de 1976, constituise pelo Gabinete do Secretário e, subordinados a ele, estão a Assistência Técnica
de Planejamento e Controle Educacional, Departamento de Suprimento Escolar,
Departamento de Recursos Humanos, Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas e as Coordenadorias de Ensino (Grande São Paulo e Interior). Sob a
jurisdição das Coordenadorias estão 91 Diretorias de Ensino e, abaixo delas, mais
de 5.000 escolas estaduais. A escola analisada fica localizada na zona norte de
Bauru e, em 2008, contou com cerca de 800 alunos divididos em 25 classes de
Ensino Fundamental (quinta a oitava séries) e Médio, nos três períodos. A equipe
escolar era formada pela diretora, vice-diretora, duas professoras coordenadoras, 45
docentes, duas escriturárias, três serventes, três inspetores de alunos e um
secretário. Relações de comunicação: Efetuam-se basicamente por telefone e/ou
133
e-mail. As ligações são feitas, principalmente, pelas seções de Pessoal, Pagamento,
Multimeios, Planejamento e Supervisão. As mensagens eram destinadas em geral
ao diretor, coordenadores e secretário, e consistem, em sua maioria, em ordens de
serviço, convocações, instruções, solicitações de documentos, esclarecimentos de
dúvidas, material de divulgação ou de ordem diversa. Os responsáveis na DE pela
comunicação com as escolas via e-mail são servidores administrativos do gabinete
da Dirigente Regional. Na escola, a secretaria e os gestores recebem, filtram,
reinterpretam e retransmitem as mensagens recebidas aos demais setores.
Problemas apontados: Fluxo descendente de comunicação (transmissão unilateral
das mensagens vindas da cúpula para a base); falta de canais de feedback mais
eficazes; linguagem dos textos marcada pelo formalismo e legalismo, o que dificulta
a compreensão por parte de quem não a domina; falta de estrutura própria de
comunicação. Como saída encontrada para superar esses inconvenientes, os
servidores recorrem a conversas informais com os colegas na tentativa de
compreender as mensagens oficiais. Como consequências desses aspectos, pode
haver entendimentos equivocados das normas, os quais podem comprometer a
rotina de trabalho, entre outros prejuízos.
CONCLUSÃO - A partir dessa análise, pode-se dizer que as relações de
comunicação entre a escola e a DE caracterizam-se pelo distanciamento entre os
setores e pela carência de ações características de um planejamento estratégico na
área de comunicação. A falta de estrutura adequada de comunicação e de
profissionais especializados restringe as possibilidades de uma comunicação eficaz.
Logo, apontam-se as seguintes necessidades: a) reestruturar o modelo de
comunicação da SEE a partir de um foco estratégico; b) dotar as DEs de
infraestrutura adequada para atuarem como mediadoras entre as escolas e a SEE;
c) transformar as mensagens decorrentes dessas trocas em conhecimento para os
grupos de trabalho.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO. E.P. Usos e Significados do Conceito Comunicação Pública. In:
ENCONTRO DOS NÚCLEOS DE PESQUISA DA INTERCOM, 6, 2006. São Paulo.
Anais... São Paulo:[s.n], 2006. Disponível em: <www.intercom.org.br>. Acesso em: 1
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DAZZI, M.C.S.; PEREIRA, T.M. Impactos da cultura e da comunicação na gestão do
conhecimento. In: WORKSHOP DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E SEMINÁRIO
DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, 3, 2001, Florianópolis. Anais... Florianópolis:
[s.n.], 2001. Disponível em:
<www.negict.cse.ufsc.br/publicacao_imagens/artigocom.pdf>. Acesso em: 13 maio
2008.
KUNSCH, M.M.K. Planejamento de relações públicas na comunicação
integrada. 2.ed. São Paulo: Summus, 2002.
MATOS. H. Comunicação pública e comunicação global. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 23, 2000, Manaus. Anais...
134
Manaus:[s.n.], 2000. Disponível em:<www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/cidadania/0083.htm>. Acesso em: 22 maio 2008.
NOGUEIRA. M.F.M. Gestão da comunicação interna nas instituições públicas:
um recurso esquecido. Disponível em: <www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/funcoesetecnicas/0138.htm>. Acesso
em: 22 maio 2008.
SÃO PAULO. Decreto n° 7.510, de 29 de janeiro de 1976: Reorganiza a Secretaria
de Estado da Educação. Diário Oficial do Estado de São Paulo, Poder Executivo,
São Paulo, SP, v. 86, n. 20, 30 jan. 1976.
TORQUATO, G. Comunicação empresarial/comunicação institucional:
conceitos, estratégias, sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. São Paulo:
Summus, 1986.
135
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
LAZER E ENTRETENIMENTO SOB INFLUÊNCIAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
NO CONTEXTO BAURUENSE1. Luiz Ricardo Ferreira2, Simone Yadomi Marques3,
Sonia Aparecida Cabestré4
Palavras-chave: Pesquisa de opinião pública. Pesquisa qualitativa. Políticas
públicas. Lazer. Bauru.
INTRODUÇÃO – Planejar políticas públicas para o lazer significa equacionar mais
amplamente as estratégias de investimento na cadeia produtiva que visa oferecer
produtos e serviços para ocupar o tempo livre das pessoas. Dentro da constelação
mais ampla de alternativas de investimento que se apresenta para os governantes,
como por exemplo, o turismo e seus desdobramentos, destacam-se as questões da
produção cultural como recursos sustentáveis e o entretenimento por meio da
indústria da diversão. Visto de forma desvinculada das outras facetas da vida, o
lazer acaba representando uma opção de segundo plano na política, tendo em vista
que os governos preferem investir, ainda de forma incipiente, nos campos da
educação, saúde ou habitação enquanto estratégias isoladas de investimento. Nesta
linha de raciocínio, um primeiro aspecto essencial é observar o caráter educativo,
cultural e de saúde, dentre outros da ordem urbana industrial do tempo livre, que as
políticas públicas de lazer podem abarcar. Assim, é importante esclarecer que os
critérios que influenciaram na escolha do tema trabalhado no contexto bauruense
referem-se à ausência de diagnósticos que apresentem medidas que discorram
sobre o lazer público. Além da ausência de diagnósticos e pesquisas de campo
evidenciando a baixa iniciativa dos munícipes para com o lazer e entretenimento da
cidade, também há carência de projetos e produções que ofereçam respaldo à
população para cobrar de seus políticos, equipamentos de lazer, cultura e
entretenimento e o fácil acesso a eles. Assim, a pesquisa qualitativa, que deu origem
a esta produção, procurou desenvolver o tema lazer a partir do conceito cultura e
entretenimento e suas influências nas políticas públicas, buscando traçar um
embasamento teórico sobre as relações entre lazer e cultura de forma mais ampla.
RELEVÂNCIA - Dentro de uma perspectiva democrática, o lazer e o entretenimento
devem ser considerados como algo fundamental na vida dos homens. Devem ser
tratados de forma responsável pelo poder público, que deveria entendê-los como
uma necessidade humana e um direito legal. Algumas pessoas ainda associam o
lazer com o ócio improdutivo, pois acreditam que seja um tempo vago em nossa
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Aluno de graduação em Comunicação Social - Habilitação em Relações Públicas - Universidade
Sagrado Coração. E-mail: [email protected]
3
Aluna de graduação em Comunicação Social - Habilitação em Relações Públicas - Universidade
Sagrado Coração. E-mail: [email protected]
4
Relações Públicas com Doutorado em Educação – Ensino na Educação Brasileira pela
UNESP/Marília. Professora do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas e do Curso de Pós-Graduação
em Comunicação nas Organizações – Universidade Sagrado Coração. E-mail: [email protected]
136
sociedade capitalista, que tanto enfatiza a produtividade. Essa concepção incipiente
ainda está presente na sociedade moderna. É necessária a existência da dicotomia
entre o lazer e vagarosidade para não haja mais a negativação do primeiro termo.
Para explicar esta desassociação podemos utilizar como exemplo a Grécia Antiga
para entender a importância do lazer em nossas vidas. Segundo Martins (2007) nos
primórdios desta civilização o lazer era visto como algo nobre, pois a recreação era
associada com o desligamento das atividades servis e assim os gregos teriam tempo
para a reflexão das idéias estimulando a sabedoria da sociedade. E ainda dentro
deste contexto Vaz (2002, p. 6) ressalta a visão positiva em relação a esse tema:
propor qualidade de vida por meio de ações de lazer significa dar a oportunidade à
riqueza do relacionamento humano vivenciado e fortalecer vínculos, despertando
sentimentos de colaboração, de participação e de solidariedade. Salientamos,
entretanto, que a ausência de iniciativas na área não representa necessariamente a
falta de investimentos no setor; mas o que ocorre, muitas vezes, é a má utilização
dos recursos existentes devido à ausência de políticas setoriais que norteiem as
ações. E, em outros casos, pode-se dizer que há desinteresse na aplicação dos
recursos, já que o lazer não é visto como algo importante no contexto social e
geralmente não se enquadra nos projetos políticos das administrações. Portanto, é
preciso que os atores sociais dos diferentes municípios entendam as políticas
públicas de lazer como um espaço de fortalecimento da cidadania e um importante
mecanismo na melhoria da “qualidade de vida da população”.
METODOLOGIA – Utilizou-se a para desenvolvimento deste estudo a pesquisa
qualitativa, por intermédio da técnica de “entrevista em profundidade”. Participaram
desse processo Secretários Municipais, Professores de Filosofia, Sociologia,
Antropologia, História da Arte e o Coordenador da Comissão Municipal de Turismo
de Bauru. As entrevistas foram realizadas no período compreendido entre a segunda
quinzena de abril a primeira quinzena de maio de 2009. Foram entrevistados seis
profissionais de extrema relevância na cidade de Bauru, na expectativa de atender
os objetivos do trabalho com resultados satisfatórios. As entrevistas foram realizadas
após o agendamento prévio de data e horário, além do envio de material de apoio
aos entrevistados. Foi enviado também um material de apoio, ou seja, o roteiro de
questões, para que os participantes tivessem conhecimento dos assuntos abordados
no processo de entrevista, que foi baseado em tópicos, desenvolvidos previamente
pelos pesquisadores, que foram respeitados, segundo um roteiro, para a obtenção
das informações.
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – DESENVOLVIMENTO
– De acordo com as respostas apresentadas pelos entrevistados em relação ao
Lazer Público foram geradas as seguintes reflexões: as ações e perspectivas em
relação ao Lazer Público e as políticas públicas do governo central estão aquém das
necessidades básicas no sentido de estimular as cadeias produtivas do lazer e do
entretenimento. Assim, os dirigentes deveriam reverter este quadro revendo suas
ações e perspectivas em relação ao Lazer Público, bem como as políticas públicas
que retardam os processos para implantação de novas alternativas de
entretenimento para população. Dessa forma, associando essas informações com as
hipóteses e objetivos do estudo podemos entender que, de uma maneira genérica,
os entrevistados concordam com a incapacidade do governo central para oferecer
alternativas às políticas públicas que estimulem as cadeias produtivas do lazer e do
entretenimento. Pode-se concluir que a população não possui conhecimento do que
é oferecido no sentido de lazer e entretenimento e, por conseqüência, a este fato
pode-se associar, um outro agravante que se trata do déficit na divulgação dos
137
equipamentos de Lazer Público. Em relação à qualidade do lazer público de Bauru a
maioria das respostas nos levou a crer que está aquém do que se é esperado.
Assim, podemos responder a nossa seguinte hipótese: Os recursos liberados para o
lazer público têm sido bem utilizados? Concluímos com uma perspectiva de que se
não há qualidade, conseqüentemente não há um bom proveito dos recursos
liberados para o lazer público. A relação entre governantes da cidade de Bauru dos
últimos cinco anos versus políticas para o lazer público foi um assunto importante e
pode-se inferir que as prioridades sanadas da época eram de suprimir as contas,
reduzir as despesas e organizar as finanças. Desse modo, nada foi feito voltado para
o lazer e entretenimento, uma vez que o foco estava centrado para outras diretrizes.
De acordo com as manifestações, a instâncias passadas nada fizeram para mudar o
cenário cultural da nossa cidade. Para que se tenha a implementação de políticas
públicas de lazer público na cidade de Bauru com eficácia será necessário que a
gestão municipal encare esta questão como uma prioridade e intensifique as suas
ações, que hoje estão escassas, podendo assim, sensibilizar a população ao
explanar a importância do lazer no aspecto que envolve a educação, que é um dos
principais fatores sociais para resgatar a cidadania.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - O presente estudo possibilitou, no decorrer dos
trabalhos, a reflexão acerca de temas atuais e inerentes sobre as interfaces do lazer
e entretenimento sob a influência das políticas públicas no contexto bauruense. Foi
fundamental avaliar a qualidade percebida dos serviços, na visão de grandes vozes
aqui presentes, para que seja possível estabelecer ações visando melhorar o nível
dos serviços oferecidos a população. Em suma, o presente trabalho permitiu aos
pesquisadores perceber a carência de equipamentos de entretenimento e lazer, para
suprir a demanda isolada, desmotivada e entediada da população de classes mais
abastardas que acreditam na qualidade de vida num futuro próximo. Retomando aos
discursos inerentes ao estudo, podemos observar que há fronteiras nítidas entre
essas duas esferas da vida social. Divertir-se, aparentemente parece direito de
todos, portanto, observamos freqüentemente que as atividades associadas ao lazer
e entretenimento também possui influências nas condições financeiras, e não
apenas na vontade de participar. Outra característica marcante que a pesquisa
revela é a permanência da sociabilidade permeando o lazer. São raras as práticas
de lazer individualizadas. Já está na hora de que os discursos de campanha de um
lazer emancipador, sejam acompanhados de verbas e infra-estrutura, e de atuação
profissional, compromissada politicamente sim, mas com competência e
“profissionalismo”. É preciso considerar ainda que, quando se quiser que o trabalho
a ser desenvolvido respeite o conceito do lazer e conjugue difusão com
participações culturais torna-se necessário que além do trabalho profissional, sejam
preparados/capacitados animadores voluntários. Quando se fala neles, o profissional
mal informado, o dirigente mal intencionado pensa ou em concorrência profissional,
ou em mão-de-obra gratuita. Não é isso o que entendemos, mas sim colocamos o
trabalho voluntário como participação efetiva, no planejamento, execução e
avaliação dos programas e dos equipamentos de lazer da cidade, garantindo, o
estabelecimento das ações a partir das aspirações da comunidade. Isto posto,
encerramos nosso objeto de estudo, que será destinado aos dirigentes municipais, a
fim de dar visibilidade ao descontentamento em nome da comunidade e salientar a
importância do lazer ativo na vida em sociedade.
138
REFERÊNCIAS
MARTINS, José Clerton de Oliveira. Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do
consumo e do trabalho. Revista Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 7, n. 2, p.
479 – 500, set. 2007.
VAZ, Leopoldino Gil Dulcio. Esportes e lazer e qualidade de vida. Buenos Aires,
ano, n. 51, ago. 2002.
139
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
A PRÁTICA DO JORNALISMO NA CONSOLIDAÇÃO DA CIDADANIA1. Aline
Maria Fuzisaki Leão2
Palavras-chave: Jornalismo. Cidadania. Sociedade.
INTRODUÇÃO – Este trabalho faz um levantamento histórico dos conceitos de
cidadania e promove um debate em relação ao papel do jornalismo e suas funções
cidadãs. Tem-se como objetivo refletir sobre uma possível convergência entre a
atual prática jornalística presente nos jornais impressos diários e a função normativa
dos meios de comunicação, visando contribuir para a ampliação, consolidação e
disseminação dos direitos relativos à cidadania entre os leitores e a sociedade.
RELEVÂNCIA – Existe uma preocupação em se compreender as práticas
jornalísticas, já que os meios de comunicação estão envolvidos em uma dinâmica
social. O papel do jornalismo para dar visibilidade às questões que envolvem direitos
humanos e cidadania é indiscutível. E, para garantir os direitos dos cidadãos, é
necessário que os meios dediquem-se a praticar o jornalismo cívico, que paute o
interesse comunitário. Por isso, se faz necessário verificar se a atual ampliação do
debate envolvendo questões ligadas aos direitos humanos na sociedade
contemporânea alcança, na mesma proporção, uma maior representatividade nos
meios de comunicação. Ou, seja, se há uma reflexividade entre os direitos discutidos
pela sociedade e os apresentados na mídia.
METODOLOGIA – Para a elaboração deste trabalho, utilizou-se como base teórica a
pesquisa bibliográfica desenvolvida junto à literatura, como também algumas
produções científicas disponibilizadas na Internet relacionadas aos conceitos de
cidadania e práticas de jornalismo (Newsmaking e enquadramento noticioso).
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - Neste trabalho, os
meios de comunicação são concebidos como instrumentos de poder da sociedade,
por meio do qual os cidadãos tomam consciência de sua realidade. Assim, o
principal objetivo é discutir, sob a perspectiva do enquadramento e do newsmaking,
o papel desempenhado pelos jornais no processo de representação e
implementação dos direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos. Além disso, esta
pesquisa pretende contribuir para os estudos dos gêneros midiáticos na área da
Comunicação, especificamente nos processos de construção da cidadania. Embora
a noção de cidadania remonte à Grécia antiga, Soares (2008, p. 1) aponta que o
conceito, originalmente, “dizia respeito aos privilégios das categorias sociais
dominantes”. Foi a partir das revoluções industriais que o termo cidadão ganhou a
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Jornalista – Mestranda do Programa de Pós –Graduação em Comunicação – FAAC/UNESP – Email: [email protected]
140
denotação atual, indicando a detenção de direitos dos indivíduos. A partir do
pensamento de Marshall (1967), Kunsch (2005, p. 22) classifica a categoria de
direitos como primeira geração, que engloba o “sistema judiciário e os direitos
políticos e eleitorais”. No início do século XX, é instituída a segunda geração, a dos
direitos sociais, que “exigem uma maior presença do Estado”, a fim de garantir o
acesso universal a serviços como, por exemplo, à saúde e à educação. Oliveira
(2005, p. 47) aponta que, a partir da segunda metade do século XX, “o conceito foi
radicalmente alterado” e, atualmente, “cidadania tem relação direta com
democracia”. Dessa forma, Fernandes (2002) ressalta que a promulgação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, desencadeou a luta por
direitos que são comuns a toda a humanidade e não somente ao indivíduo, tais
como as questões relacionadas à paz e ao meio ambiente. Estes são os chamados
direitos de terceira geração. No presente momento, discute-se os direitos de quarta
geração, relativos às pesquisas genéticas e à bioética. No entanto, Kunsch (2005,
p.24) aponta o “aumento das desigualdades sociais” e a “diminuição das
possibilidades de se construir uma verdadeira cidadania” como conseqüências da
atual globalização e da revolução tecnológica. Mas, para Kunsch (2005, p.29), tais
“transformações mundiais têm impulsionado também reações e novas formas de luta
da sociedade civil”. Dentro desse processo, Kunsch (2005, p. 41-43) avalia que os
meios de comunicação devem “constituir-se num setor estratégico, agregando
valores e facilitando os processos interativos e as mediações da sociedade civil com
as organizações, a opinião pública, o Estado e a sociedade em geral”, contribuindo e
participando com “consciência política e social numa perspectiva interpretativa e
crítica da sociedade contemporânea”. Neste ponto, é necessário indicar as relações
entre o jornalismo e a implementação efetiva dos direitos. Soares (2008, p. 3)
ressalta que é importante examinar o significado da imprensa na ampliação,
consolidação e disseminação dos direitos relativos à cidadania, a partir de dois
enfoques: “o de caráter normativo, na linha de direito, que estabelece os princípios
de uma imprensa comprometida com a cidadania e o outro, crítico, que se apóia na
observação das condições históricas em que atua a imprensa”. Soares (2008)
aponta que a sociedade precisa de acesso à informação pública para que ela possa
exercer os “direitos de acesso ao poder público, de modo que o direito à informação
é necessário ao exercício dos demais direitos de cidadania” (SOARES, 2008, p. 4).
Assim, é possível afirmar que a comunicação tem uma relação direta com a
cidadania. Na atual sociedade, Soares (2008) destaca que os jornais impressos
desempenham a função de mediadores, formando uma instituição social, pois,
mesmo sendo empresas privadas, desempenham uma função pública. Por isso,
deve existir a responsabilidade dos meios para com a sociedade. Com relação aos
conteúdos veiculados pela mídia, para Soares (2008), é possível constatar que os
meios noticiosos tendem a representar de forma limitada os temas relacionados à
cidadania. Fernandes (2002, p. 11) aponta que a atual prática do jornalismo “não se
aprofunda em discussões filosóficas, políticas e históricas que envolvem a questão
dos direitos humanos, sendo muitas vezes superficial e retrógrado nas abordagens”.
A mesma opinião é compartilhada por Soares (2008). O autor justifica que “o
problema da sub-representação das questões da cidadania social” decorre “da
natureza do jornalismo praticado num contexto de mercado”, estritamente capitalista,
e “baseado em critérios de noticiabilidade” (Soares, 2008, p. 6). Quando se discute o
papel do jornalismo nos temas de cidadania, pensa-se que a imprensa tenha algum
tipo de poder, capaz de influenciar os processos sociais. No entanto, o poder efetivo
é a capacidade de fazer as coisas acontecerem. Porém, esse poder não condiz com
141
as funções específicas dos meios de comunicação. Para Soares (2008, p. 9), o
“poder da imprensa é um poder simbólico, que advém de sua capacidade de
agendar os temas, enquadrá-los, colocando-os publicamente”. No processo de
representação e implementação dos direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos,
práticas como o newsmaking e o enquadramento noticioso, presentes na mídia
diária, podem contribuir de maneira positiva ou negativa para a construção e
efetivação da cidadania. No conceito de newsmaking, a noticiabilidade, exposta por
Traquina (2001, p. 63), refere-se ao “conjunto de critérios e operações que fornecem
a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como notícia”.
De acordo com Traquina (2004), tais valores-notícia são temporalmente mutáveis,
assim como se adaptam conforme a realidade de cada meio de comunicação. Mas o
exercício jornalístico que consiste em transformar um fato em notícia é resultante da
soma de critérios, pois “um acontecimento será tanto mais noticiável quanto maior
número de valores possuir” (TRAQUINA, 2004, p. 73). Já o enquadramento (ou
framing), é apresentado por Soares (2007) “como modos de exposição de
determinados assuntos ou pessoas que salientam algumas de suas características,
ou mesmo acrescentam a eles ou subtraem deles certos atributos” (SOARES, 2007,
p. 51). Aplicado ao jornalismo, o conceito é utilizado para analisar como
“informações pontualmente corretas e verificáveis podem ser selecionadas,
valorizadas, destacadas, omitidas ou atenuadas, em reportagens complexas, de
modo a produzirem representações diferentes de uma mesma situação” (SOARES,
2007, p. 52). Partindo da definição de Entman (1993), Soares (op.cit) expõe que “os
fatores essenciais do enquadramento são a seleção dos aspectos de uma realidade
percebida e a saliência dada a eles”. Assim, algumas idéias são ressaltadas,
enquanto outras se tornam invisíveis, promovendo uma “definição da situação, uma
interpretação causal, uma avaliação moral” (SOARES, 2007, p. 52-53). Soares
(2007) explica que as “orientações dos enquadramentos são difíceis de detectar,
porque muitos artifícios podem parecer ‘naturais’, simples escolhas de palavras ou
imagens”. No entanto, quando há a comparação com outros textos, é possível
verificar que “essas escolhas não são inevitáveis ou não-problemáticas, sendo
centrais para o modo como a notícia enquadra e interpreta os eventos” (SOARES,
2007, p. 52). O que é notável para alguns pesquisadores é que os jornais não
noticiariam sistematicamente os problemas sociais numa frequência compatível com
a sua dimensão concreta, nem dariam a eles espaços proporcionalmente
correspondentes a essa amplitude. Com essa hipótese, para eles, as práticas de
noticiabilidade e os enquadramentos presentes no atual jornalismo privilegiariam
algumas questões de cidadania em detrimento de outras. Com uma atuação restrita
e específica, a mídia não contribuiria para o debate público racional ao deixar de
agendar temas relevantes voltados aos direitos e à cidadania. Partindo da distinção
entre as funções normativas e empíricas dos meios de comunicação, torna-se
importante a discussão sobre a possibilidade de existir um ponto de equilíbrio na
atuação da mídia em favor da cidadania e observar o real direcionamento noticioso
dos jornais brasileiros.
CONCLUSÃO - Na medida em que os jornais optam por trazer ao seu público
notícias sobre violação dos direitos humanos, dando visibilidade às questões
relacionadas à cidadania, são capazes de levantar um debate sobre o assunto em
todas as esferas da sociedade. De acordo com Kunsch (2005), essa é a função dos
meios de comunicação: atuar como mediador entre a sociedade civil, as
organizações, a opinião pública e o Estado. Ao expor temas controversos,
contribuem para que toda a sociedade participe de um amplo debate com
142
consciência política e social, numa perspectiva mais interpretativa e crítica dos fatos.
Dessa forma, considerando que os meios de comunicação atuam sobre o
direcionamento da opinião pública, disseminando posicionamentos sócio-culturais,
faz-se necessária uma análise mais abrangente com o objetivo de identificar e
compreender as representações construídas pelos meios. Assim, para extrair as
perspectivas sócio-culturais e políticas dos jornais brasileiros e fundamentar esta
discussão, está sendo produzida uma pesquisa tendo como referencial teórico os
conceitos de enquadramento, considerado por Soares (2008) uma das abordagens
mais apropriadas para o estudo de matérias jornalísticas por trazer, em seus
resultados, os viezes implícitos da produção. A partir da análise de matérias
referentes ao tema cidadania, publicadas em dois jornais de grande circulação
nacional, será possível discutir se, a partir de suas funções normativas e empíricas,
esses veículos contribuem para a ampliação, consolidação e disseminação dos
direitos.
REFERÊNCIAS
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no espaço público. In: Congresso Anual em Ciência da Comunicação, XXV, Núcleo
de Pesquisa Jornalismo, Salvador, set. 2002. Anais... Salvador, 2002. Disponível
em:
<http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/18665/1/2002_NP2FERNA
NDES.pd f>. Acesso em: 15 abr. 2008.
KUNSCH, M. M. K. Campos de estudos emergentes em comunicação nas novas
cidadanias. In: BEZZON, L. C. (Org.). Comunicação, política e sociedade.
Campinas: Alínea, 2005. p. 1-44.
OLIVEIRA, M. J. C. Panorama social e cidadania: uma análise sobre o Brasil na
ótica da comunicação. In: BEZZON, L. C. (Org.). Comunicação, política e
sociedade. Campinas: Alínea, 2005. p. 45-64.
SOARES, M. C. Jornalismo e cidadania em duas abordagens.In: Encontro da
Compôs, XVII, Grupo de Trabalho “Estudos de Jornalismo”, São Paulo, jun. 2008.
Anais... São Paulo, 2008. Disponível em:
<http://www.compos.org.br/data/biblioteca_373.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2008.
______. Representações e comunicação: uma relação em crise. Líbero, São Paulo,
n. 20, p. 47-56, dez. 2007.
TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2004.
143
1ª Jornada Científica de Comunicação Social
A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios
PESQUISA E EXECUÇÃO DE AÇÕES DE COMUNICAÇÃO PARA CONSELHOS
MUNICIPAIS DE BAURU – SP1. Luciana Galhardo Batista2
Palavras-chave: Conselhos municipais.
relacionamento com a sociedade.
Políticas
públicas. Comunicação e
INTRODUÇÃO – Os conselhos municipais atuam para fiscalizar e orientar a
formulação de políticas públicas em diversos setores. Devem trabalhar de forma
transparente, estabelecendo um relacionamento seguro com a sociedade civil, e um
meio adequado para obter a divulgação de suas ações é a mídia, que pode enfocálas de forma jornalística, despertando o interesse do público. Como conseqüência da
realidade do dia-a-dia dos conselhos municipais, comunicar-se de forma eficiente
com os meios de comunicação é fundamental para despertar o interesse sobre sua
atuação na sociedade. Para que isto seja posto em prática, os conselhos devem
identificar formas de veicular suas mensagens a fim de ampliar a visibilidade de suas
ações.
RELEVÂNCIA – Pesquisar e desenvolver ações estratégicas de assessoria de
imprensa para apresentar os conselhos municipais ao público são atividades que
precisam ser praticadas constantemente. Isto porque os conselhos precisam
organizar seus contatos com os jornalistas para estar em ligação com a sociedade.
E, também, para informar o que acontece em cada segmento, na condição de
órgãos de interesse público e que precisam prestar contas à sociedade sobre como
estão desenvolvendo seu trabalho, para que ela possa avaliar se o que está sendo
feito está de acordo com seus interesses e necessidades. Todos os dias, novas
formas de comunicação são colocadas em prática como meio de divulgação e,
devem ser aplicadas no que diz respeito as políticas públicas.
METODOLOGIA – Através de pesquisa bibliográfica da literatura e trabalhos
científicos disponibilizadas na Internet, foi possível identificar e estudar autores que
tem realizado pesquisas sobre assessoria de imprensa e relacionamento com a
mídia, participação social no Brasil, espaços públicos, comunicação pública,
marketing político e democracia. Uma série de estudos e entrevistas foi realizada
junto a nove conselhos municipais de Bauru com o objetivo principal de identificar as
divulgações já feitas pelos órgãos e desenvolver novas estratégias de comunicação.
Como material prático, durante sete meses, foram desenvolvidas ações de
comunicação a partir de instrumentos de assessoria de imprensa pesquisados
anteriormente, como: releases3, notas; sugestão de pauta; clipping4 de TV, jornais
1
Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em
Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no
período de 27 a 29 de agosto de 2009.
2
Jornalista. E-mail: [email protected]
3
Texto informativo distribuído a imprensa por uma instituição privada, governamental etc., para ser
divulgado gratuitamente entre as notícias publicadas pelo veículo.
144
impressos, rádio e internet; coletiva de imprensa; follow up5 com jornalista e visitas
de cortesia. Solenidade de lançamento do programa de Certificação do Tradicional
Sanduíche Bauru.
De maneira geral, pode-se considerar que os conselhos municipais da Pessoa
Idosa, dos Direitos da Criança e do Adolescente, Direitos das Pessoas com
Deficiência, Turismo, Saúde, Educação, Assistência Social, Meio Ambiente e Tutelar
puderam ampliar seu espaço na mídia local, se relacionar de maneira produtiva com
os jornalistas e compreender a importância de um planejamento de comunicação
interna e externa. A assessoria de comunicação torna mais fácil aos conselhos a
divulgação de suas ações. Além disso, há uma crescente cobrança, por parte da
sociedade civil, com relação à prestação de contas sobre como eles estão
desenvolvendo seu trabalho. Isso porque os conselhos estão na condição de órgãos
de interesse público e precisam prestar contas à sociedade. As ferramentas mais
utilizadas na pesquisa foram o press release, follow up, clipping, nota informativa e
sugestão de pauta. O mais prático e acatado pela imprensa foi o release. O elevado
número de ações empregadas evidencia o positivo relacionamento estabelecido
entre a assessoria e os conselhos, o que facilitou a busca constante de informações
para o processo de produção de releases a serem enviados para abastecer a
imprensa com notícias dos conselhos. Ao longo do trabalho foi possível observar a
melhoria no relacionamento dos conselhos com os veículos de comunicação, o que
facilitou o reconhecimento dos presidentes dos conselhos como fonte de informação
segura e oficial para a imprensa. Vale lembrar a importância da contribuição
científica do trabalho, fator que gerou credibilidade da assessoria perante a mídia e
aos conselhos para o desenvolvimento da pesquisa. E não apenas isso, mas
também o constante relacionamento, já previsto no plano de assessoria, entre a
imprensa e os conselhos foi significativo para que o trabalho pudesse atingir o
resultado esperado. O relacionamento se deu através de sugestões de pautas
seguidas de contatos telefônicos, que acabaram por estabelecer um laço de
amizade entre os repórteres, a assessoria de imprensa e os presidentes dos
conselhos. Foram realizadas mais de dez visitas aos veículos de comunicação com
o objetivo de fazer convites para eventos, entregar releases em mãos e esclarecer
possíveis dúvidas. Isso fez com que o índice de erros, por parte dos jornalistas em
matérias consideradas de relevância pública, fosse zero. O baixo índice de erros por
parte da imprensa pode ser atribuído, também, pela insistência da assessoria em
enviar vários releases referentes ao mesmo fato, mas com enfoques e datas
diferentes, como, por exemplo, no caso da divulgação de um evento que dura uma
semana. Neste caso é aconselhável, em todos os dias, enviar releases que contém
como matéria principal a atividade mais relevante do dia, seguida do cronograma
que ainda resta até o término do evento.
CONCLUSÃO – O resultado da pesquisa pode ser considerado positivo pelo
produtivo laço estabelecido entre os conselhos e a mídia bauruense, e pela
contribuição científica dada à área de assessoria de comunicação para conselhos
municipais, na forma de indicações de estratégias adequadas ao setor. Entretanto, a
continuidade das ações de comunicação se faz necessária, por se tratar de órgãos
municipais que lidam diariamente com assuntos referentes à sociedade em geral e
4
Serviço de apuração, coleção e fornecimento de recortes de jornais e revistas, assim como TV,
rádio e sites de internet, sobre determinado assunto e atividades de uma empresa, instituição, pessoa
etc.
5
Ato de se dar continuidade a um contato, para buscar informações sobre uma atividade ou decisão
acertada para aquele prazo, ou para reatar um processo de comunicação.
145
que não conseguem alcançar a devida atenção dos meios de comunicação quando
estão sem uma pessoa capacitada para intermediar esta relação. Trabalhar com os
conselhos constituiu uma importante experiência ao indicar o caminho que os órgãos
devem tomar para a construção de sua imagem positiva, já que desenvolvem
alternativas para a resolução de problemas públicos e, assim, exercem grande
influência nas diversas esferas da sociedade e evidenciam a importância das causas
sociais. Confirmada a relevância dos conselhos municipais no auxilio da
administração, fica relevante a necessidade da assessoria de imprensa para divulgar
as ações, já que a técnica jornalística é imprescindível neste sentido. Afinal, é o
jornalista que consegue transformar as atividades do dia-a-dia em fatos de
relevância pública, que ajudam a ampliar a visão da sociedade sobre os
acontecimentos do mundo. Com esta visão, o trabalho de pesquisa e execução de
ações de comunicação para conselhos municipais foi realizado através da
identificação dos dados relevantes dentro dos assuntos a ser transformado em
releases, notas ou sugestões de pauta. Produção esta que foi responsável pelo
positivo relacionamento entre a assessoria e os conselhos, o que facilitou o
reconhecimento dos presidentes dos conselhos como fonte de informação segura
para a imprensa. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam servir como
contribuição para profissionais que venham a escolher a área para pesquisas e
estudos ou que já trabalhem com ela, norteando futuras atividades com semelhante
propósito.
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redações brasileiras. São Paulo: Cortez, 2005.
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