Fala X Escrita
KOCH, Ingedore V.; ELIAS, Vanda maria.
Ler e escrever: estratégias de produção
textual. São Paulo: Contexto, 2009.
Fala e escrita: duas modalidades
de um continuum
O texto é um evento sociocomunicativo, que
ganha existência dentro de um processo
interacional. Todo texto é resultado de uma
coprodução entre interlocutores: o que
distingue o texto escrito do falado é a forma
como tal coprodução se realiza.
Condições de produção
No TEXTO ESCRITO a
coprodução se resume à
consideração daquele para
quem se escreve, não havendo
participação direta e ativa deste
na elaboração lingüística do
texto.
A
dialogicidade
constitui-se numa relação
“ideal”.
Os contextos de
produção e recepção não são
coincidentes.
O TEXTO FALADO, por sua
vez, emerge no próprio
momento de interação. Ele é
o seu próprio “rascunho”. Por
estarem os interlocutores
copresentes, ocorre uma
interlocução ativa que implica
um processo de coauoria,
refletido na materialidade
lingüística.
Fala e escrita são, portanto, duas
modalidades da língua. Assim, embora se
utilizem do mesmo sistema lingüístico, cada
uma delas possui características próprias.
Ou seja, a escrita não constitui mera
transcrição da fala, como muitas vezes se
pensa.
 Isso não significa, porém, que fala e
escrita devam ser vistas de forma
dicotômica, estanque, como era comum até
há algum tempo e, por vezes, como
acontece ainda hoje. Vem-se postulando que
os diversos tipos de práticas sociais de
produção textual situam-se ao longo de um
contínuo tipológico, em cujas extremidades
estariam, de um lado, a escrita formal e, de
outro, a conversação espontânea, coloquial.
 Assim, Marcuschi (1995:13) frisa que “as
diferenças entre fala e escrita se dão dentro
de um continuum tipológico das práticas
sociais e não na relação dicotômica de dois
pólos opostos”.
A
seguir
serão
vistos
quadros
representativos dessas suas abordagens
teóricas para o tratamento da relação entre
fala e escrita: a visão dicotômica e a
visão dicotômica.
Visão dicotômica: fala X escrita
FALA
ESCRITA
contextualizada
descontextualizada
implícita
explícita
redundante
condensada
não planejada
planejada
predominância do modus pragmático
predominância do modus sintático
fragmentada
não fragmentada
incompleta
completa
pouco elaborada
elaborada
pouca densidade informacional
densidade informacional
predominância de frases curtas, simples ou predominância de frases
coordenadas
complexas, com subordinação
pequena freqüência de passivas
emprego freqüente de passivas
poucas nominalizações
abundância de nominalizações
menor densidade lexical
maior densidade lexical
Visão não-dicotômica: continuum
Concepção e meio de transmissão
Gêneros textuais e as zonas de
interseção
Gênero Textual
Meio de
Transmissão
Sonoro
Conversação
espontânea
X
Artigo Científico
Noticiário de TV
Entrevista publicada
na Veja
Gráfico
Concepção
Oral
Escrita
X
X
X
X
X
X
X
“Aspecto central nesta questão é a
impossibilidade de situar a oralidade e a escrita
em sistemas lingüísticos diversos, de modo que
ambas fazem parte do mesmo sistema da língua.
São realizações de uma gramática única, mas, do
ponto de vista semiológico, podem ter
particularidades com diferenças bem acentuadas,
de tal modo que a escrita não representa a fala.
Portanto, não postulamos uma simetria de
representação entre fala e escrita, mas uma
relação sistêmica no aspecto central das
articulações estritamente lingüísticas”
(MARCUSCHI, 2008:191)
Marcas da oralidade na escrita
Koch (2009:18) destaca algumas marcas de
oralidade que a criança imprime ao seu
texto escrito, não apenas na fase de
aquisição, mas, por vezes, ainda por um tempo
relativamente longo, já que continua usando as
mesmas estratégias de construção e os mesmos
recursos de linguagem que utiliza na interação
face a face.
1. a questão da referência;
2. as repetições;
3. o uso de marcadores conversacionais
(e, daí, então, (d)aí então etc.);
4. a justaposição de enunciados sem
qualquer conexão explícita;
5. o discurso direto
6. a segmentação gráfica.
Considerações finais
Trabalhando as interferências e marcas da
oralidade separadamente na fase de aquisição
de escrita, o professor fará com que o aluno
perceba que o texto escrito difere daquele
utilizado na interação face a face, tendo,
portanto, suas especificidades. Assim, o aluno
acabará por construir um outro modelo de
texto, o escrito, e será capaz de (se e quando
necessário) utilizar de modo adequado os
recursos próprios desta modalidade.
Download

Fala X Escrita