Bianca Ciannella
Camila Nogueira
Fernanda Kutwak
GRUPO DE JOVENS ADULTOS E ADULTOS JOVENS:
UMA ARTICULAÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA DA TERAPIA
PSICOMOTORA COM GRUPOS
Este trabalho foi se desenhando após finalizarmos o curso de formação em Psicomotricidade Relacional Somática do Instituto Anthropos de Psicomotricidade. Observávamos em nossa prática clínica uma grande demanda de clientes, especialmente de jovens, que se restringiam a atividades intelectuais isoladas apresentando muita dificuldade de partir do imaginário para a experiência, principalmente no que dizia respeito à relação com o outro. Esta dificuldade aparecia como queixa e sofrimento, afinal, parafraseando Pedro Honório: “O ser humano é sozinho em busca de contato e relação.” A partir desta observação clínica e do desejo de aplicar em nossa prática o que havíamos aprendido (e apreendido) em relação à Psicomotricidade aplicada e vivida na Casa Anthropos, fomos buscar uma supervisão com Daniel Benchimol para nos apoiar na construção de um trabalho de grupo que tivesse como foco o contato e a relação. Isto foi há quase 2 anos. Desde então este grupo vem acontecendo mensalmente aos sábados com encontros de aproximadamente 3 horas. É um grupo aberto, composto por clientes das 3 terapeutas que desenvolveram este trabalho –Bianca Ciannella, Camila Nogueira e Fernanda Kutwak‐, por clientes indicados por outros terapeutas, amigos indicados por clientes que fazem parte do grupo e pessoas com interesse de viver novas experiências e aprofundar suas relações. Inicialmente o grupo era formado apenas por jovens com um recorte de idade bem circunscrita. Ao longo do trabalho fomos nos dando conta de que a idade cronológica não era garantia de repertório vivencial. Ou seja, havia alguns adultos com pouca vivencia ou que haviam feito pouco contato com o vivido. A partir desta constatação a idade passou a não ser mais tão importante e sim um balizamento. Assim, ampliamos o grupo que passou a receber jovens adultos e adultos jovens. Em nossos encontros oferecemos a possibilidade de viver, experimentar e através disto criar novas e mais marcas. Segundo esta idéia vamos para a rua, andamos de bonde, fazemos pão, caminhamos, entramos em contato com a natureza, jogamos peteca, visitamos museus, vivemos maratonas de fim de semana nas quais aprofundamos nosso encontro, enfim, uma infinidade de possibilidades! De modo que a proposta do grupo é a de se encontrar para viver experiências diferentes do cotidiano em espaços diversificados, sempre assegurados pelo olhar atento do terapeuta. De certo as experiências vividas nos impressionam criando memória corporal. Somos produtos de nossas marcas. É a partir da vivência e das cenestesias e sensibilidades que se inscrevem corporal e psiquicamente, que vai surgindo a noção do próprio corpo e de si. Como diz nossas companheiras de estudos e de vida Tátia Rangel e Érica Carapeticow : “A percepção é individual e se constrói a partir do sensório e da história de cada corpo. Essas impressões somadas a novas impressões constituirão outras associações possibilitando novas percepções e com isso novos pensamentos.” Assim sendo, quanto maior a gama de experiências vividas por um sujeito, maior o leque de referências e menor a possibilidade dele se fixar. O repertório pessoal se alarga e enriquece. Ora, se por um lado a oportunidade de viver novas sensações impressiona e deixa novas marcas no sujeito, ao mesmo tempo as experiências do aqui‐agora vão atualizar e trazer à tona a lembrança de histórias vividas, abrindo a possibilidade de um contato profundo consigo mesmo. Diz Suzana Cabral: “A vivência corporal coloca em jogo mecanismos arcaicos e se articula diretamente com o passado emocional.” Neste sentido a mesma experiência será vivida de forma singular por cada um de acordo com sua própria história. Como nos diz nosso supervisor Daniel Benchimol: “O jogo tem uma regra comum a todos, mas é um jogo para cada um.” Sob essa ótica, é possível que enquanto a pessoa faça um pão ela possa se lembrar de histórias de sua vida, como o pão que sua avó fazia quando era pequena. Durante o processo grupal, buscamos valorizar a potência e estimular a vivência da diferença para que cada um possa fazer contato com sua própria singularidade. Ademais, uma coisa é ir ao museu sozinho. Outra coisa é ir ao museu com um grupo. Outra coisa ainda é ir ao museu com um grupo e acompanhado por terapeutas. Pautados nas bases da psicomotricidade, trabalhamos na relação com a tríade motor – afeto – cognição: viver, fazer contato e dar sentido. Por isso, no grupo sempre após uma proposta vivencial abrimos espaço de fala e escuta para que as pessoas possam compartilhar as impressões do vivido: o que viveu, como a proposta o afetou, o que este afeto suscitou, etc. Poder falar no grupo e ser escutado faz com que a pessoa possa se apropriar de sua própria história, entender a construção que desenvolve e como se inscreve na vida. Pois, é somente na relação, falando e escutando o outro que é possível perceber como a mesma experiência pode ser vivida de forma diferente e singular por cada um. É neste compartilhar de histórias que me identifico e me diferencio, podendo reconhecer o que é meu e o que é do outro, me apropriando de minha individualidade. Este é um processo de construção de fronteira, de território, de singularidade. Fazer parte deste grupo é praticar o exercício de fazer contato, reconhecer e dar sentido ao que vive. É tornar‐se sujeito ativo podendo produzir sua própria história. BIBLIOGRAFIA ALVES, F. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. RJ: WAK, 2003 CABRAL, S V. Psicomotricidade Relacional‐ Prática Clínica e Escolar. RJ: Revinter, 2001 FONSECA, V. Psicomotricidade. SP: Martins Fontes, 1988 LAPIERRE, A; AUCOUTURIER, B. A simbologia do movimento. SP: Artmed, 1988 LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. Fantasmas corporais e práticas psicomotoras. SP: Manole, 1984. 
Download

Este trabalho foi se desenhando após