Em logística, momento favorável exige ainda mais planejamento
Por: Antonio Wrobleski Filho
Um antigo ditado ensina que “é em dia de sol que se conserta o telhado”. Este raciocínio
deve ser lembrado pelos gestores das empresas de logística neste momento, pois uma das
características de vários desses profissionais é, em momentos favoráveis, deixar o
entusiasmo atropelar o planejamento e promover um crescimento desorganizado; que
inevitavelmente resulta em perdas em longo prazo
Um antigo ditado ensina que “é em dia de sol que se conserta o telhado”. Este
raciocínio deve ser lembrado pelos gestores das empresas de logística neste momento, pois
uma das características de vários desses profissionais é, em momentos favoráveis, deixar o
entusiasmo atropelar o planejamento e promover um crescimento desorganizado; que
inevitavelmente resulta em perdas em longo prazo.
Todos concordam que o cenário atual é extremamente positivo e as perspectivas muito
promissoras para a área. Tomar essa realidade como a oportunidade para soluções óbvias que
pretendem resolver instantaneamente problemas acumulados durante os anos espinhosos, no
entanto, é um erro.
Ao contrário, o momento deve servir para ajustes estruturais que resultem em uma operação
sustentável e rentável por um longo período de tempo, sobretudo durante eventuais
dificuldades no futuro. Os movimentos, agora, devem ser bem calculados.
O principal ativo adquirido pelos operadores logísticos nos últimos tempos foi o aumento de
relevância dentro do processo produtivo e de comércio. Atualmente existe uma grande
demanda por serviços especializados e esse cenário vai continuar por um grande período. Ao
mesmo tempo, e em comparação, é pequena a oferta de empresas capazes de atender a essa
procura.
Por isso, os operadores têm agora condições de negociar de maneira mais confortável as
condições de relacionamento com clientes e fornecedores. Da mesma maneira, a partir de
mais união e melhor organização, exigirem políticas públicas mais adequadas aos seus
interesses.
Esta posição privilegiada, porém, não pode ser utilizada de maneira hostil. Não é inteligente
nem sustentável, por exemplo, pressionar clientes e fornecedores exclusivamente para
aumentar lucros. É justo, sim, sugerir uma recomposição das margens, historicamente
desfavoráveis para os operadores logísticos, mas isso deve ser feito dentro da realidade, sem
prejudicar a saúde financeira dos envolvidos ou azedar relacionamentos comerciais já
estabelecidos.
A hora é de impor uma relação baseada em parceria, representada, principalmente, na divisão
de riscos. A expansão da operação pode ser compartilhada com clientes, unificando estratégias
e unindo esforços para os investimentos necessários. Da mesma maneira, as responsabilidades
podem ser divididas no caso de ajustes necessários de acordo com as oscilações do negócio.
Outro fator positivo atual é a multiplicação das fontes de financiamento. Bancos e fundos de
investimento perceberam a logística como uma área promissora e se dispuseram a colocar
dinheiro no negócio. Embora essa seja uma excelente notícia, é necessário cautela. A relação
entre liquidez e forte aumento de demanda pode levar a investimentos equivocados.
Normalmente, a primeira iniciativa é aumentar frotas sem estudo pormenorizado da sua
utilidade ou relação com os movimentos da economia. Invariavelmente, após algum tempo, a
companhia enfrenta ociosidade ou se dá conta de que possui equipamentos inadequados para
atender a demanda de mercado.
Sem dúvida é necessário expandir a capacidade operacional, mas isso não se dá apenas
comprando caminhões pelo menor preço. Os investimentos devem ser precedidos de análise
dos movimentos da economia, potencialidades dos atuais (e outros prováveis) clientes e,
principalmente, da estratégia de negócios da empresa. O crescimento deve ser sustentado
também por qualificação dos recursos humanos e modernização tecnológica.
Por fim, é importante que os empresários percebam que sua atividade, mais do que nunca, se
tornou estratégica para o desenvolvimento do país. É de interesse público que o setor se torne
mais eficiente e sustente o crescimento econômico. A partir disso, é possível sentar com o
Governo para discutir avanços estruturais, principalmente em relação à tributação, oferta de
crédito e modernização da infraestrutura.
O setor passa por um excelente momento. Com planejamento esmerado, os benefícios desse
período poderão ser significativos e perenes. Por outro lado, sabemos que a união entre falta
de inteligência e abundância de recursos e expectativas resulta em desastre. Infelizmente,
apesar de todas as facilidades, ainda vai ter gente saindo da bonança pior do que entrou.
Antonio Wrobleski Filho é sócio da Awro Associados Logística e Participações. É engenheiro
com pós-graduação em Finanças, MBA pela N.Y.U. e foi presidente da Ryder Logística.
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