entrevista
Cesar Meireles: ABOL deseja
tornar o segmento de OLs uma
atividade econômica regulamentada
A ABOL criou
classificação para
Operadores Logísticos
e, com isso, espera
definir qual o real
tamanho do mercado
brasileiro.
F
undada em julho de 2012, a ABOL –
Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Fone: 11 3192.3939)
foi desenvolvida com o objetivo de representar exclusivamente os Operadores
Logísticos do país. Tendo como associados 18 grandes players desse segmento, a
Associação luta para regulamentar o setor como atividade econômica no Brasil.
Nessa entrevista, o diretor executivo
da ABOL, Cesar Meireles, fala sobre os
principais desafios que o setor enfrenta,
as expectativas para 2014 com a realização da Copa do Mundo no Brasil e, também, os planos da Associação.
Logweb: O que é a ABOL e qual a sua
importância para o mercado de Operadores Logísticos?
Meireles: A ABOL foi fundada com
o propósito de regulamentar a atividade dos Operadores Logísticos no Brasil.
Esse setor se desenvolveu e cresceu do
ponto de vista operacional, mas não se
organizou do ponto de vista regulatório.
Toda atividade econômica tem uma classificação, uma Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), e o setor
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de Operador Logístico não tem uma. Ele
faz uso da Cnae de outras atividades. Por
exemplo, se o Operador Logístico tem
como atividade preponderante o transporte rodoviário, ele utiliza a Cnae dessa
atividade, porque não
existe uma Classificação para definir a
atividade de Operador
Logístico como um
todo. E a ABOL surgiu
com esse propósito:
de ordenar e apoiar
todas as iniciativas
que levem a esse processo de regulamentação do setor.
leira de Logística), por exemplo, tem a
participação de diversas classes, como
operadores portuários, agenciadores de
cargas, fornecedores de equipamentos
e, inclusive, Operadores Logísticos. Ou
seja, ela tem como
função representar
as diversas atividades
logísticas. Mas uma
representação exclusivamente dos Operadores Logísticos, que
pudesse a atender as
demandas prioritárias
desse segmento, não
existia. Por isso a criação da ABOL.
Logweb: Entre as
Logweb: Existem
exigências para se
diversas outras assotornar um associado
ciações que representam o mercado logís- Meireles: “acredito que o futuro da ABOL existe uma
clausula financeira: as
tico como um todo. dos OLs é promissor. Principalmente quando o trabalho da
Porque a necessidade estruturação, da regulamentação empresas associadas
de se criar uma enti- for definitivamente conseguido” devem possuir um faturamento acima dos
dade voltada exclusivamente para os Operadores Logísticos? R$ 100 milhões por ano. Porque esse
Meireles: Todas essas Associações critério? Ele não limita o número de assão legítimas e necessárias. Mas elas sociados?
representam todos os profissionais que
Meireles: Como o nosso segmento
atuam na área logística, e não exclusiva- não tem uma Cnae, é muito difícil estamente os Operadores Logísticos. A ABOL belecer o seu tamanho. Os últimos númeé uma Associação patronal empresarial ros que temos do ILOS (Instituto de Loque representa o setor dos Operadores gística e Supply Chain) de 2012 orbitam
Logísticos, assim como a NTC&Logística em 300 prestadores de serviços logísticos
representa os transportadores rodoviá- que se enquadram na classificação que
rios de carga. Faltava uma associação adotamos como Operador Logístico. Despara representar exclusivamente a nossa de montante, 112 empresas são consiatividade. A Abralog (Associação Brasi- deradas de médio e grande porte. Mas
esses são números estimados, não se
tem uma acuracidade capaz de determinar o tamanho exato do nosso mercado.
Assim, se uma associação nasce com o
objetivo de apoiar e incentivar a coordenação desse mercado, ela precisa nascer
com um foco muito claro. A ABOL define
que Operador Logístico é o prestador de
serviço que gerencia de forma integrada
as atividades da cadeia logística, quer
seja no suprimento ou na distribuição,
e atue, simultaneamente, em três atividades: transporte, em qualquer um dos
seus modais, armazenagem em geral e
controle de estoque. Entendendo quem
é essa empresa, tínhamos que determinar um ponto de partida, e o faturamento acima de R$ 100 milhões ao ano foi
nossa base. Porque queríamos empresas
que já eram estruturadas. A fixação de
um valor mínimo serviu para darmos início a um trabalho, porque, assim como
se faz numa tese de mestrado, era preciso recortar o problema estudado. Desse
mesmo modo, começamos recortando
esse mercado, para melhor desenvolver
o nosso trabalho. Feito isso, somos hoje
18 associados. Nesse caminho, algumas
empresas saíram e outras entraram. Mas
é importante nascer com um número de
associados também recortado, porque as
estratégias, os planos de ação e as diretrizes são mais objetivamente traçados.
Não quer dizer que queremos continuar
com esse número. Ao longo do tempo, à
medida que esses estudos que estão iniciando forem consolidados, certamente
vamos acoplar a esse projeto outras associações, outros Operadores Logísticos,
com afinidade e com uma estrutura organizacional convergente com os princípios
da ABOL. E todo trabalho que viermos
a fazer vai beneficiar, certamente, todo
o setor, mesmo quem não é associado.
Você pode participar ou não do conselho regional da sua profissão, mas, de
qualquer forma, você se beneficia tanto quanto os associados das melhorias
que eles vierem a conseguir para esse
mercado. Então, a proposta da ABOL é
desenvolver estudos e trabalhos que ajudem toda a comunidade de Operadores
Logísticos. A ABOL tem um trabalho de
inclusão, no instante que ela trata da ordenação do setor.
Logweb: Qual a importância dos
Operadores Logísticos no contexto econômico hoje no Brasil?
Meireles: Entendo que o mercado
de Operadores Logísticos no Brasil está
em transformação. A partir do momento em que o Operador Logístico amplia
o seu escopo de atuação, sua expertise,
desenvolvendo tecnologia de ponta para
as atividades em que atua, e se insere
entrevista
em vários setores do mercado, ele passa a ser imprescindível para a economia.
Acredito que os Operadores Logísticos,
na atualidade e no futuro, serão organizações imprescindíveis ao desenvolvimento da economia. É assim no Brasil
e no mundo. E fazendo um parêntese, é
importante destacar que essa questão da
regulamentação da atividade do Operador Logístico não está acontecendo apenas no Brasil, mas no mundo todo. Mas,
infelizmente, andamos com um passo
atrás. Estamos sempre com 10, 15, 20,
quando não mais, anos de atraso. Esse
movimento que a ABOL faz pioneiramente no Brasil é um movimento que já
foi realizado em países como Espanha,
Portugal e França – até na nossa vizinha,
Argentina, esse processo foi feito há 15
anos. Então, a ABOL não está reinventando a roda. Fazemos questão de beber
das fontes que desenvolveram trabalhos
exitosos, para que possamos fazer esse
trabalho também no Brasil, mas com a
aderência a nossa realidade, com a aderência a nossa complexidade jurídica.
Logweb: As empresas brasileiras têm
buscado trabalhar com Operadores Logísticos? Ou essa procura ainda é baixa?
Meireles: As empresas procuram os
Operadores Logísticos cada vez mais, e
estou seguro de que esse é um processo
irreversível. Basta ver a complexidade dos
serviços que os Operadores atendem. E se
analisarmos em que atividades os Operadores atuam hoje, eles estão em todos os
setores da economia. Atuam muito na cadeia de papel e celulose, sucroalcooleira,
ingressando agora no processo de óleo e
gás com o pré-sal, meio ambiente e serviços de uma maneira geral. E aqueles setores tradicionais em que atuavam, como
farmacêuticos, cosméticos, eletroeletrônicos e automotivos se expandiram barbaramente. Então, o Operador Logístico,
por ser intensivo de tecnologia, de boas
práticas, com a sua classificação e capacitação de busca de eficiência e redução
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de custo, tem se tornado uma empresa
imprescindível para o desenvolvimento
das demais atividades industriais. Vejo
que esse mercado é estruturado para
contribuir decisivamente na melhoria, na
competitividade do produto nacional e na
redução do Custo Brasil. Lembrando que
o Operador Logístico atua na gestão eficiente de todos os elos logísticos, fazendo
uma gestão até o produto final.
Logweb: Você abordou a questão de
como os Operadores Logísticos podem
contribuir com a redução do Custo Brasil.
De que forma essa redução é possível?
Meireles: Através de uma gestão integrada da logística. Mas é preciso que
a complexidade da legislação seja adequada à realidade. A Lei de Armazéns
Gerais, por exemplo, é de 1903 no Brasil.
Outro exemplo é a Lei do OTC (Operador
de Transporte Multimodal). Em 1998, o
Brasil tentou implantar a Lei do OTC, mas
apesar dela não funcionar na prática, ela
existe e está regulamentada. Ao contrário
do que acontece com os Operadores Logísticos, que não estão regulamentados,
mas funcionam ativamente. É necessária a regulamentação da estrutura, para
que você possa continuar atraindo novos
investimentos. Porque quando uma atividade não está regulamentada, o ambiente de insegurança jurídico é visível, é
maior. E a partir do momento que você
regulamenta essa atividade, você atrai
novos atores, novos investidores, tanto
nacionais como internacionais. Esse é o
grande objetivo. A partir do momento
que você estruturar, com maior segurança jurídica, recebendo mais investimentos, capacitando melhor os seus executivos e seus colaboradores, você terá um
melhor serviço prestado, com inteligência
para melhor integrar esses vários elos da
cadeia, capaz de produzir uma diferenciação na prestação de serviço. Todos os
níveis de serviços acordados certamente
caminharão na linha de maximizar a eficiência e reduzir os custos.
Logweb: Quais as principais dificuldades que os Operadores Logísticos enfrentam?
Meireles: São várias as dificuldades.
A primeira delas, como qualquer atividade econômica, é a questão tributária.
Em um país que tem 27 bases tributárias
de ICMS, esse já é o primeiro problema.
Também temos a questão sindical. A estrutura sindical é muito fragmentada e,
em muitos estados, ela é pouco estruturada. E não são poucas as vezes que elas
geram ambiente de conflito. Sobretudo
porque o setor não tem a sua identidade
clara, e sofre influência de vários sindicatos que pleiteiam a atividade, o que gera
mais insegurança. Agora, um grande problema que está na agenda, na preocupação de todos, é o da infraestrutura. O Brasil não vive numa plataforma multimodal
de transporte, e para uma distribuição a
baixo custo e máxima eficiência é muito importante que o país desenvolva, de
modo sustentável, as suas plataformas
de integração multimodal. E essa falta
de infraestrutura dificulta consideravelmente o trabalho de qualquer atividade
de distribuição. Outra questão de bastante desafio é a da mão de obra. O Brasil é carente de educação fundamental.
O país peca quando não coloca na sua
agenda de políticas públicas a educação
como sua principal preocupação. A revolução mais efetiva, eficaz, justa e honesta
para com seus cidadãos é a revolução
na educação. Nos não temos dentro do
ranking das 100 melhores universidades
do mundo a citação de uma brasileira.
E estou me referindo ao ensino superior.
E o nosso ensino de base? Para desenvolver uma atividade logística é preciso
ler, ter cognição, discernimento e saber
matemática. Esse profissional vai lidar
com o inventário da indústria, precisa ter
o básico, ser alfabetizado. Bem alfabetizado. Para que ele possa ser capacitado
nos bons treinamentos que os Operadores Logísticos estão dispostos a oferecer.
Fazendo uma analogia com tecnologia,
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precisamos de um sistema que esteja
apto para ser carregado. Uma máquina
que possa ser alimentada de programas
sem conflitos. Para isso, ela precisa estar
bem formatada. Uma nação que não
prepara seus jovens para se inserirem no
mercado de trabalho, certamente é uma
nação que tem um hiato muito delicado,
muito perigoso com relação às nações
competidoras. Os fatores tradicionais da
economia não garantem mais competitividade a uma nação, o que garante é
a qualidade dos seus gestores, da sua
população. E você só pode dispor desses
elementos se eles forem bem formados:
no fundamental I, no fundamental II.
Essa é uma grande dificuldade quando
avançamos para dentro do país.
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de desenvolvimento de uma atividade
descolado da economia. Quanto mais
crescimento econômico, mais crescimento de um setor. Mas acredito que o futuro
dos Operadores Logísticos é muito promissor. Principalmente quando o trabalho da estruturação, da regulamentação
for definitivamente conseguido. Porque,
reitero, atrairá novos investimentos,
atrairá um novo capital a investir nessa
atividade.
Logweb: Todos esses problemas são
os principais fatores responsáveis pelo
aumento do custo logístico no país?
Meireles: Se o país tivesse investido
em educação e nos serviços essenciais,
incluindo energia, comunicação e infraestrutura das atividades logísticas,
certamente você teria um ciclo virtuoso
da atividade econômica. Não adianta investir em atividades econômicas especificamente, isoladamente. Você tem de investir na preparação estruturante de uma
nação. E investir na estrutura de uma
nação passa, principalmente, e sobretudo, pela capacitação e formação da população e pelos recursos fundamentais.
Logweb: Tem se falado muito dos impactos, positivos e negativos, da Copa do
Mundo no Brasil em termos de logística.
Como vocês analisam esse momento?
Meireles: O Brasil tem um mercado
interno consumidor muito atrativo e movimentos como esse, da Copa do Mundo,
devem deslocar os instantes de crescimento, de maior movimentação econômica. O mercado de eletroeletrônicos, por
exemplo, tem um pico pré-Natal, e provavelmente teremos nesse ano um pico
no período pré-Copa. Então, em um momento como esse, o que provavelmente
vai acontecer é um deslocamento da demanda. Assim, esperamos que, ainda que
fragmentado com carnaval tardio, Copa e
Eleições, esse ano seja positivo. Claro que
é preciso certa cautela, exatamente por
conta dessas interrupções, mas é um ano
que não estamos descrentes ou céticos.
Mas as empresas precisarão fazer com
mais cautela seus prognósticos.
Logweb: Como foi o desempenho
dos Operadores Logísticos em 2013?
Meireles: Os operadores caminham
e são reflexo do desenvolvimento da
economia, e o resultado do PIB no ano
passado foi pífio. O governo iniciou o
ano prometendo um PIB na casa dos 4%
e terminamos o ano com 2,3%. Falando especificamente dos associados da
ABOL, dentro das perspectivas de cada
um, todos cumpriram suas metas. Todavia, a atividade está atrelada ao desenvolvimento econômico, não há condão
Logweb: E com relação à infraestrutura. O Brasil tem muitas obras em atraso
para a Copa e haverá um aumento de
pessoas se movimentando pelas rodovias, pelos aeroportos. Esse aumento de
circulação com uma infraestrutura defasada é uma preocupação?
Meireles: Claro que sim. Exatamente esses atrasos nos investimentos em
infraestrutura de base, nos serviços essenciais, são os que preocupam. O atraso
em aeroportos, em concessões, na integração dos modais, é impacto direto no
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segmento. O Brasil precisa se esmerar
em planejamento. E é importante que
haja um planejamento uniforme. Do meu
ponto de vista pessoal, preocupa muito
como as decisões são fragmentadas no
país. Temos Ministério do Transporte, as
Secretarias de Portos, a EPL (Empresa de
Planejamento e Logística), ou seja, uma
série de órgãos que estão fragmentados.
E planejamento se faz a partir de um
olhar integrado. Quando se fragmenta o
planejamento, também se fragmenta a
eficiência, a capacidade de bom gestor e
do bom controle, o que é preocupante.
É importante que esse seja um ponto de
reflexão para o novo governo. Onde e de
que modo estruturar essas forças. Tudo
isso ajuda em um bom projeto, em uma
boa gestão, contribui para um bom controle. Lembrando que só gerencia quem
controla. E para controlar, a fragmentação é maléfica.
Logweb: Qual será o foco da ABOL
para 2014?
Meireles: A nossa agenda está bastante direcionada para os estudos que
vão nos levar à regulação do setor. Colocamos no mercado uma RFP (Request
For Proposal) para as maiores consultorias do mercado, juntamente com os
maiores escritórios de direito do país e,
também, as melhores universidade para
que, juntos, formem consórcios e tragam
um estudo pautado nas melhores referências mundiais com aderência, claro,
ao modelo brasileiro, que tenham um
olhar muito rigoroso da nossa estrutura
jurídica para que possamos formular o
projeto de autorregulação, que vai levar à
regulamentação. Esse ano vai ser, então,
de estudar o que leva à regulamentação
e formatar o projeto. Esse projeto estará
concluído em setembro. E vamos entrar
com as ações necessárias para o seu desdobramento a partir de outubro. E veja
que há uma coincidência de cronograma:
em outubro desse ano renova-se o governo.
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