DE CORTIÇO A CORTIÇO – Antonio Candido
Vanda Tomaz, Sandra Leite, Graça e Ana
Paula
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O CORTIÇO – ALUISIO AZEVEDO - 1890
O CORTIÇO - ALUIZIO AZEVEDO / L'ASSOMMOIR - EMILE ZOLA
MITO E HISTÓRIA EM IRACEMA
VAGNER CAMILO – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
1. GÊNESE DO ROMANCE: UMA POLÊMICA E UM ÉPICO
NAUFRAGADO
2. HIBRIDISMO DA FORMA: MESTIÇAGEM DA LÍNGUA
3. INTERTEXTO: DIÁLOGOS MÚLTIPLOS
4. MITO SACRIFICIAL E ALEGORIA DA HISTÓRIA
5. REPAROS E CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE
6. FUNDAÇÃO DA PROVÍNCIA , FUNDAÇÃO DA NAÇÃO
Fonte: pre-vestibular.arteblog.com.br
HIBRIDISMO DA FORMA
• ABANDONO DA ÉPICA
• OPÇÃO PELA PROSA
• VERDADEIRO POEMA NACIONAL
• FORÇA PLÁSTICA E MUSICAL
• ABANDONO DA PERSPECTIVA DO HOMEM CIVILIZADO E
ADOÇÃO DA ÓTICA DO FILHO DA NATUREZA
• MULHER COMO “SÍMBOLO DO AMOR, DA VIRGINDADE E DA
MATERNIDADE”
ESTÁTUA DE IRACEMA – FORTALEZA – CEARÁ - BRASIL
Fonte: turismo.culturamix.com./atraçoes-turisticas/estatua-india-iracema-fortaleza
QUESTÕES FORMAIS
• RECORRÊNCIA DE ARCAÍSMOS
• UTILIZAÇÃO DE TERCEIRA PESSOA PELA PERSONAGEM INDÍGENA
PARA REFERRI-SE A SI PRÓPRIA
• PERÍFRASES
• SÍMILES
• DÍPTICOS
• ALITERAÇÕES
CONTRIBUEM PARA A DIMENSÃO POÉTICA DO ROMANCE
ESTÁTUA DE IRACEMA – FORTALEZA – CEARÁ - BRASIL
Fonte :www.brasil.gov.br/para/seçoes-regionais/ceara/escultura-de-iracema/view
MITO SACRIFICIAL E ALEGORIA DA HISTÓRIA
PRESSÁGIOS
•Constantes presságios
“No recanto escuro o velho Pajé, imerso em funda contemplação e alheio às cousas deste mundo, soltou um
gemido doloroso Pressentira o coração o que não viram os olhos? Ou foi algum funesto presságio para a raça de
seus filhos, que assim ecoou n'alma de Araquém?”
• Apontam para um fim esperado
“A jandaia fugira ao romper d'alva e para não tornar mais à cabana.”
“A filha de Araquém escondeu no coração a sua ventura. Ficou tímida e inquieta, como a ave que pressente a
borrasca no horizonte. Afastou-se rápida, e partiu. As águas do rio banharam o corpo casto da recente esposa.”
• Presença de um destino previamente traçado.
“Foi algum mau espírito da floresta que cegou o guerreiro branco no escuro da mata” A
cauã piou, além na extrema do vale.
“A própria Iracema ao vê-lo pela primeira vez já visualizou a doce escravidão.”
CAMILO(Pag.17)
• As aproximações da Ará, a Jandaia cujo canto dá nome a província
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
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Iracema = Raquel
Moacir = Benoni (Filhos da dor)
Iracema = Eva (Treece)
Martin = Adão
Moacir = Redentor
Filho da dor = Filho da mão direita (Benjamim)
• “O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da
pátria. Havia aí a predestinação de uma raça?”
Iracema = O Guarani
•O Guarani → 1857
•Iracema → 1865
•Diferentes ideologias
Citações Bíblicas
•“E aconteceu que, vendo Jacó a Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas
de Labão, irmão de sua mãe, chegou Jacó, e revolveu a pedra de sobre a boca do poço e
deu de beber às ovelhas de Labão, irmão de sua mãe. E Jacó beijou a Raquel, e levantou
a sua voz e chorou.” Genesis -29,10-11
•“E Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o nome da menor Raquel. Lia
tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa à vista.” Genesis -
29,16-17
•“E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas,
porque também este filho terás. E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu),
chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim.
Assim morreu Raquel, e foi sepultada no caminho de Efrata; que é Belém.”
Genesis -35,17,18,19
“E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos
olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e
comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.” Gênesis 3:6
“Quando a virgem tornou, trazia numa folha gotas de verde e
estranho licor vazadas da igaçaba, que ela tirara do seio da terra.
Apresentou ao guerreiro a taça agreste.
— Bebe!
Martim sentiu perpassar nos olhos o sono da morte; porém logo a
luz inundou-lhe os seios d’alma; a força exuberou em seu coração.
Reviveu os dias passados melhor do que os tinha vivido: fruiu a
realidade de suas mais belas esperanças.”
“Foi algum mau espírito da floresta que cegou o guerreiro branco no escuro da
mata” A cauã piou, além na extrema do vale.
• A própria Iracema ao vê-lo pela primeira vez já visualizou a doce escravidão.
CAMILO(Pag.17)
• As aproximações da Ará, a Jandaia cujo canto dá nome a província.
UMA LÍNGUA DO PÊ
Poema Pau-Brasil à maneira de Oswald de Andrade:
Mais-valia crioula
Para
português negro e burro
três pês:
pão para comer
pano para vestir
pau para trabalhar.
(Candido, p. 109).
• O pão é alimento do homem, mas
estendido ao animal aproxima um do
outro.
• O pano como metonímia da vestimenta,
pode ser estendido de maneira figurada se
houver uma confusão ontológica entre
animal e homem: Burro (animal) e burro
(pessoa sem inteligência)
• O Pau, aplicado ao animal, reflui sobre o
negro e dele sobre o português.
(Cândido, p. 109).
Cândido detecta a existência de uma conotação implícita
em seu significado inicial: a presença de uma visão
derrogativa do trabalho que transparece na “feroz
equiparação do homem ao animal, entendendo-se que não
é o homem na integridade do seu ser, mas o homem =
trabalhador”.
Diante disso, o “dito não envolve,
portanto, uma confusão ontológica, mas
sociológica, e visa ocultamente a definir
uma relação de trabalho (ligada a certo
tipo de acumulação de riqueza), na qual
o homem pode ser confundido com o
bicho e tratado de acordo com essa
confusão”.
Cândido remonta à ilusão do brasileiro livre desse período
que,
“[...] favorecido pelo regime da escravidão, [acaba]
encarando o trabalho como derrogação e forma de nivelar
por baixo, quase até a esfera da animalidade, como está
no dito. O português se nivelaria ao escravo porque, de
tamanco e camisa de meia, parecia depositar-se (para
usar uma imagem usual do tempo) na borra da sociedade,
pois trabalhava como um burro. Mas enquanto o negro
escravo era de fato confinado sem remédio às camadas
inferiores, o português, falsamente assimilado a ele pela
prosápia leviana dos “filhos da terra”, podia
eventualmente acumular dinheiro, subir e mandar no país
meio colonial. ( Cândido, p. 110).
Aluísio, dá grande importância à natureza,
concebida como meio determinante, à moda
naturalista, estabelecendo implicitamente,
três possibilidades para a atuação dos
personagens :
1. português que chega e vence o meio;
2. português que chega e é vencido pelo
meio;
3. brasileiro explorado e adaptado ao meio.
“O tipo de gente que o [dito] enunciava sentia-se confirmada por ele na
sua própria superioridade. Essa gente era cônscia de ser branca,
brasileira, livre, três categorias bem relativas, que por isso mesmo
precisavam ser afirmadas com ênfase, para abafar dúvidas num país onde
as posições eram tão recentes quanto a própria nacionalidade, onde a
brancura era o que ainda é (uma convenção escorada na cooptação dos
“homens bons”), onde a liberdade era uma forma disfarçada de
dependência.
Daí a grosseria agressiva da formulação, feita para não deixar dúvidas:
eu, brasileiro nato, livre, branco, não posso me confundir com o homem de
trabalho bruto, que é escravo e de outra cor [...]”. (Cândido, p. 113).
Mas a verdade é que “dos figurantes a que
caberiam os três pês, o português não é
português, o negro não é negro e o burro não
é burro. Na verdade estão em presença:
1º. o explorador capitalista (Português);
2º. o trabalhador reduzido a escravo
(Branco);
3º. o homem socialmente alienado,
rebaixado ao nível animal.
(Cândido, p. 114).
ALUÍSIO DE AZEVEDO
a
a
l
1857 – 1913
AUTOR DE
“O CORTIÇO”
1890
ÍCONE DO
NATURALISMO
BRSILEIRO
TEXTO – BASE :
“DE CORTIÇO A
CORTIÇO”
terradaspalavras.blogspot.com
ANTONIO CANDIDO
Imagem de cortiço no Rio no começo do século 20, pouco depois da publicação do livro
www1.folha.uol.com.br
Os personagens
João Romão e Bertoleza
“Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação
ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delirio de enriquecer,
que afrontava resignado as mais duras privações.
Dormia sobre o
balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro
de um saco de estopa cheia de palha.A comida arranjava-lha,mediante
quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza,
crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e
amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes
na cidade”
O Cortiço, p. 17
thiagovargas.com.br
lerantesdemorrer.wordpress.com
As lavadeiras
damiaomartinspintor.blogspot.com
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olhares.uol.com.br
acertodecontas.blog.br
O cortiço e/ou o brasil
O acordar no cortiço
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas
a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”...
O Cortiço, p. 38
“O rumor crescia, condensando-se; o zum-zum de todos os dias acentuava-se;
já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia
todo o cortiço”...
O Cortiço, p. 39
www.suityourself.org
www.culturamix.com
Cortiço em Lisboa 1906-1918
www.scielo.br
Crianças em cortiço do Brás – São Paulo www.crpsp.org.br
Jerônimo e rita baiana
“E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de
ombros e braços nus, para dançar”...
“ primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher”...
O Cortiço, p. 77
Filme “O cortiço” – 1978
Betty Faria Mário Gomes
Armando Bógus – Beatriz Segall
Direção: Francisco Ramalho Jr.
http://www.tvdegraca.com.br/imagens-filme.php?id=11622&titulo=o-cortico
O meio e a raça - A TRANSFORMAÇÃO DE JERÔNIMO
A
“A vida americana e natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos
de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se
liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar de que guardar; adquiria
desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se,
vencido,às imposições do sol e do calor”...
“E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos
e aldeão português: o Jerônimo abrasileirou-se”.
“A revolução afinal foi completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne seca e o feijão-preto e a pimentade-cheiro invadiram vitoriosamente a sua mesa; a couve à mineira destronou
a couve à portuguesa; Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do fumo e
Não tardou a fumar também com seus amigos”
O Cortiço, p. 92
CÂNDIDO E A TRANSFORMAÇÃO DE JERÔNIMO
“A transformação de Jerônimo se traduz pela mudança de comportamento em
casa. A seriedade paquidérmica cede lugar à alegria, ele adota a comida local
e a sua força vai diminuindo enquanto os sentidos se aguçam e o corpo ganha
hábitos de asseio.Tudo culmina numa certa aceitação triunfal da natureza,num
gosto crescente pela “luz selvagem e alegre do Brasil”.
Antonio Cândido, in: De cortiço a cortiço, p. 120
Analogia entre Rita Baiana (O cortiço) e Iracema (Iracema)
Índia = virgem dos lábios de mel + licor de jurema
Baiana = corpo cheirosos + filtros capitosos
Iracema e Rita são igualmente a Terra
Antonio Cândido, in: De cortiço a cortiço, p. 121
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go.quebarato.com.br
solislivraria.com.br
Simbologia do Sol em “o cortiço”
CÂNDIDO : O símbolo supremo é o sol, que percorre o livro como a
“manifestação da natureza tropical e princípio masculino de
fertilidade”.
Sol e calor são concebidos como chama que queima, derrete a
disciplina, fomenta a inquietação e a turbulência, fecunda como sexo.
Antonio Cândido, in: De cortiço a cortiço, p. 121
“Rita afagava-o, já sem a menor sombra de escrúpulo, tratando-o por
tu, ameigando-lhe os cabelos sujos de sangue com a polpa macia de
sua mão feminil. E, ali mesmo em presença da mulher dele, só faltava
beijá-lo com a boca, que com os olhos o devorava de beijos ardentes
e sequiosos”.
O cortiço, p. 126
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Oposição das raças
De um lado: branco = europeu
De outro lado: mestiço ou negro = brasileiro
“Raça superior” = invasor econômico
“Raça inferior” = natural explorado
Rita descrita no romance “O cortiço” como “volúvel como toda mestiça”.
Quando viu que o português a queria, trata logo de largar o capoeira Firmo,
mulato como ela, porque “ o sangue da mestiça reclamou os seus direitos
de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior”.
Antonio Cândido, in: De cortiço a cortiço, p.122
guiadoestudante.abril.com.br
Morro da Providência – a mais antiga favela do Brasil
pt.wikipedia.org/wiki/Favelas_no_Brasil
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o cortiço