China: Dimensões Estratégicas
Gilberto Dulpas
Introdução
 A China é um gigantesco fenômeno que, nos próximos trinta
anos, tanto pode disputar a hegemonia mundial com os EUA
como espalhar tremores intensos pelo mundo afora.
 Com o estouro de parte da bolha imobiliária, que sustentava
parte das altas taxas de consumo naquele país resta descobrir
se a demanda endógena chinesa, somada à da Índia, será
suficiente para manter elevado o crescimento mundial.
Introdução
 Até aqui o estonteante crescimento chinês foi benéfico para a
economia mundial, em especial para os países da periferia
condenados a exportar produtos básicos.
 Permitiu um aumento das reservas internacionais de
Argentina, Brasil e Venezuela ao redor de 200%,
transformando vários países da América Latina de devedores
em aplicadores líquidos de recursos no exterior.
 Será que esse quadro continuará?
Introdução
 Há sérias dificuldades para China e Índia manterem as
trajetórias atuais de altíssimo crescimento.
 Se China e Índia pretendessem atingir, em dez anos, um
padrão de vida medido na paridade do poder de compra
(PPP) equivalente à média atual do Brasil e do México, países
ainda pobres, seria necessário à economia global gerar nesse
período um PIB adicional no período próximo do atual PIB
dos EUA (vide Quadro 1).
Introdução
 Com relação às previsões sobre o futuro chinês, há de tudo.
 Robert Fogel, diretor de centro de pesquisa da Universidade
de Chicago, projeta seu cenário provável para 2040: PIB (em
PPPs) da China em US$ 123 trilhões, dos EUA em US$ 42
trilhões e da União Européia em apenas US$ 15 trilhões.
 O fato de o Banco Mundial e o FMI, a partir de 1991, fazerem
suas medições baseados na PPP, praticamente triplicou o valor
do PIB chinês.
 Mas em 2005, inseguro quanto à metodologia utilizada, o
próprio Banco Mundial reviu-a produzindo novos cálculos.
 Em conseqüência disso, o PIB chinês foi reduzido para 5,3
trilhões contra a estimativa anterior de 8,9 trilhões.
Introdução
 No outro extremo, há céticos radicais que ainda consideram
uma falácia as atuais estatísticas oficiais chinesas.
 Lester Thurow, garante que o crescimento real da China tem
sido entre 4,5 a 6%, e não de 10%. E conclui, com convicção,
que somente o século XXII talvez seja o da China.
 Organizações internacionais criticam o “arremedo de
democracia” do país - comparada aos “padrões ocidentais”- e
um Estado centralizador e autoritário.
Introdução
 a OECD afirma que o maior obstáculo para a China ser uma
força global em ciência e tecnologia é o predomínio estatal
em Pesquisa & Desenvolvimento.
 Mas reconhece os impressionantes avanços desde os anos
1970 que dão aos chineses o segundo lugar em pesquisas
inovadoras, apenas atrás dos EUA.
 As análises sobre a China são bastante contraditórias e
mostram ainda baixa compreensão sobre toda a
complexidade do “milagre chinês”.
O fator China
 Novo fenômeno da economia global
 Um país de altíssimas taxas de crescimento
 É de longe o maior beneficiário da globalização
 A ascensão média da renda dos seus pobres e miseráveis é
sensível
 Mercado interno em grande expansão
 Em consequência, melhorando o desempenho global dos
indicadores sociais do mundo todo.
O fator China
 No período 1981-2004, o número de miseráveis no globo -
com renda diária menor que US$ 1,08 - decresceu 33,8%
totalmente devido ao desempenho da China.
 Se a retiramos da amostra, este número se mantém estável.
 O mesmo fenômeno ocorre com o número absoluto de
pobres (renda menor que US$ 2,15 por dia). Com a China, o
seu crescimento é desprezível.
 Retirando-se este país do total global, o número aumenta em
33% (vide Quadros 2 e 3).
O fator China
 Como conseqüência dessa elevação da massa de renda, as
vendas no varejo têm crescido intensamente.
 Já ocasionando significativa pressão inflacionária (vide
Quadro 4).
 Sensível elevação do comércio externo, tanto das
exportações quanto das importações (Quadro 5).
O fator China
 É enorme o acúmulo de reservas (Quadro 6).
 O investimento estrangeiro direto em seu território é
crescente (Quadro 7).
 Há redução da relação yuan X dólar (Quadro 8).
 Os grandes parceiros comerciais da China são, pela ordem,
UE, EUA, Japão, ASEAN, Hong Kong e Coréia do Sul
(Quadro 9).
O fator China
 Seu PIB igualou o da França e do Reino Unido e está se
aproximando da Alemanha.
 Com sua mão-de-obra ainda extremamente barata e bem
qualificada, a China transformou-se no grande produtor
mundial de bens de consumo durável para as corporações
mundiais.
 Isso lhe gera superávit de US$ 200 bi anuais com os EUA.
 A sua ciência e tecnologia, após 20 anos de reforma, começa
a jogar importante papel na inovação, e não só na cópia.
O fator China
 A China detém 75% da produção mundial de brinquedos, 58%
do vestuário e cerca de 29% de todos os telefones celulares.
 Seu mercado interno absorveu rapidamente 330 milhões de
telefones celulares, 22 milhões de PCs e a utilização da Internet
subiu de 620.000 usuários em 1997 para 94 milhões em 2004.
 Há possibilidades de que o país venha a desenvolver suas
próprias normas de controle da world wide web em concorrência
direta com os EUA.
O fator China
 Em 2008 a China substituirá a Alemanha como campeã
mundial de exportações. No entanto, as empresas
estrangeiras só cobrem 13% do mercado interno chinês.
 Em 2006 a China foi o terceiro maior produtor mundial de
automóveis, irá ultrapassar a Alemanha e certamente
estabelecerá uma larga base de produção global.
O fator China
 Mas, ao lado desse espetacular desempenho, há imensos
problemas.
 A enorme reserva de mão-de-obra rural chinesa, disposta a
trabalhar a preços irrisórios, foi uma das condições essenciais
para o atual modelo de crescimento do país.
 A enorme demanda urbana de mão-de-obra nos parques
industriais, na construção civil e nos serviços tenta abrigar
um fluxo anual de 10 milhões de pessoas que migram a cada
ano do campo para as cidades.
 Dando origem a núcleos periféricos que - além de “cidadesdormitório”
O fator China
 Porém, uma das conseqüências desse processo é a
fragilização dos laços entre o cidadão e seu município.
 Com isso, já existe um exército de cerca de 80 milhões
de chineses miseráveis dispostos a trabalhar pelo país
afora como semi-escravos em tarefas informais de
baixíssima remuneração.
O fator China
 Isso é ainda mais agravado pelo fato de que a China precisa
alimentar 25% da população mundial com apenas 7% das terras
aráveis;
 Seu déficit energético é imenso;
 É necessário produzir uma dezena de milhões de novos empregos
por ano, num quadro de imensa desigualdade de rendas.
 Isso exige uma enorme competência de governança, o grande
desafio para esta nova geração de dirigentes do PCC, num país
onde o papel do Estado ainda é muito maior que o do mercado.
O fator China
 O governo chinês coloca-se diante de três grandes desafios
estratégicos:
 Ultrapassar o modelo de industrialização baseado em alto
consumo de energia, grande poluição e elevado investimento
por outro baseado em tecnologia, baixo consumo de recursos
naturais e reduzido impacto ambiental;
 Superar a rota do conflito ideológico como forma de
ascensão;
 Construir uma sociedade socialista harmoniosa e
democrática.
A China e a OMC
 Há cerca de 10 anos, quando a China ainda lutava por seu
ingresso, os EUA resistiam alegando desrespeito chinês aos
direitos humanos.
 A lógica das cadeias produtivas globais faz dos EUA e da
China verdadeiros irmãos siameses.
 Os produtos de empresas norte-americanas – ou chinesas fabricados a preços baixos na China mantêm a inflação dos
EUA sob controle, mas são responsáveis por 30% do seu
gigantesco déficit comercial de US$ 700 bi.
 Em contrapartida os chineses destinam boa parte desse saldo
para a compra de títulos do Tesouro norte-americano,
ajudando a financiar seu rombo.
A China e a OMC
 Na OMC, os chineses desenvolvem pelo menos cinco estratégias





simultâneas:
São abertos em tudo que lhes convém, haja vista terem se
transformado no “chão de fábrica” das grandes corporações
globais.
Mas também são altamente fechados no que lhes interessa.
Tecnologias de ponta intensamente desenvolvidas nos cerca de
60 centros de pesquisa criados a partir de 1988 pelo programa
Torch;
Com seus 1.500 bilhões de reservas, para ganhar tempo a China
compra pacotes tecnológicos inteiros no exterior, como fez com
a área de lap-tops da IBM.
Ao mesmo tempo, o país continua sendo o maior “copiador” do
mundo.
 A presença heterodoxa da China na OMC, com seu enorme
peso e os interesses mundiais nela envolvidos, pode abrir
novos espaços para os países da periferia.
Conclusão
 A China tem, portanto, uma dimensão estratégica
fundamental associada aos caminhos futuros da lógica global.
 A China tem assento permanente no Conselho de Segurança
da ONU, é potência nuclear desde 1964 e ingressou no
círculo das potências espaciais há bastante tempo.
 Seu orçamento militar cresce a taxas de dois dígitos
 Lidera uma crescente zona de influência regional no sudeste
asiático e na Ásia central.
Conclusão
 Segunda maior reserva de divisas do mundo e o receptor do
maior volume de investimentos estrangeiros diretos.
 Sua dinâmica de crescimento induz de forma determinante
todo o desempenho mundial. Enquanto que as projeções da
ONU para 2008 apontam para um crescimento dos EUA
entre -0,1 e 2,0% e da Zona do Euro entre 1,0 e 2,5%, para
a China elas apontam um número entre 8,0 e 10,1% (vide
Quadro 10).
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