Desenvolvimento
Desigual e Termos de
Troca
Prof. José Luis Oreiro
Departamento de Economia – UnB
Pesquisador Nível I do CNPq
Economia do Desenvolvimento
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O estudo sistemático e especializado dos problemas dos países menos
desenvolvidos só teve início após a segunda guerra mundial com o surgimento
do intervencionismo keynesiano, do planejamento estatal, a experiência da
URSS e os movimentos de descolonização.
Três fases da história da economia do desenvolvimento.
Fase I (1945-1955):
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O sub-desenvolvimento é visto como um equilíbrio baixo causado por fatores
como baixas taxas de poupança, alta taxa de crescimento populacional e baixos
incentivos ao investimentos em função da existência de economias externas e de
escala.
Além disso, a economia é vista como um sistema dual que possui um setor
industrial e outro atrasado, predominantemente agrícola, fonte do excesso
estrutural de força de trabalho.
 Rosenstein-Rodan (1943) e Nurkse (1952, 1953): ciclo vicioso de pobreza.
Formalização simples: supor que a taxa garantida de crescimento do
modelo Harrod-Domar é uma função crescente da renda per-capita (via
propensão a poupar) e que a taxa de crescimento da população é uma
função quadrática da renda per-capita.
 Dois equilíbrios: equilíbrio com baixo nível de renda per-capita
(estável) e equilíbrio com alto nível de renda per-capita (instável)
Economia do Desenvolvimento
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Fase II (1959-1969):
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Chenery e Prebish são os grandes expoentes.
Os países sub-desenvolvidos possuem uma série de rigidezes
que estão ausentes das economias desenvolvidas. Por
exemplo, a oferta de gêneros agrícolas é tida como
relativamente inelástica da mesma forma como o coeficiente
de importações, o que gera problemas no balanço de
pagamentos.
Além disso, nessa etapa há uma crença generalizada de que o
comércio exterior não pode ser a fonte de crescimento da
demanda interna devido a demanda inelástica a nível mundial
pelos produtos primários, gerando uma tendência a
deterioração dos termos de troca.
Economia do Desenvolvimento
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Fase III (Meados da década de 1960):
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Ressurgimentos da economia neoclássica como crítica de
diversos aspectos enfatizados nas fases anteriores como, por
exemplo, o trabalho excedente, o pessimismo das
exportações, o foco na acumulação de capital e os benefícios
da industrialização liderada pelo Estado.
Uma outra crítica veio daqueles que argumentaram que o
foco no crescimento e na acumulação de capital implicou no
negligenciamento da dimensão humana do desenvolvimento
e da distribuição de renda e da pobreza.
Economia do Desenvolvimento
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No final da década de 1980 ocorreu um recrudescimento do
interesse na economia do desenvolvimento, com o crescimento
da quatro abordagens alternativas
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Abordagem neoclássica: aplicação dos instrumentos de organização
industrial, teoria dos jogos e economia da informação para a análise de
questões como as relações agrícolas, distribuição de renda e as causas da
pobreza.
Macroeconomia do crescimento: literatura teórica e empírica sobre o
crescimento de longo-prazo (nova teoria do crescimento).
Abordagem neo-estruturalista: Junção da teoria macroeconômica baseada
nas contribuições dos economistas “clássicos” (Marx, Keynes e Kalecki)
com as contribuições da segunda fase da “economia do desenvolvimento”
para analisar os determinantes do crescimento, distribuição de renda,
inflação e problemas do balanço de pagamentos.
Re-exame da experiência dos países em desenvolvimento, particularmente
os NIC dos Sudeste Asiático.
Crescimento e Estrutura Produtiva
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Política econômica brasileira (1930-1980): foco na
diversificação da estrutura produtiva e na diminuição da
transferência de renda para o exterior.
Base teórica: Estruturalismo
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Rejeição do monoeconomics
Aceitação do mutual-benefit chaim
O conceito central do estruturalismo é a divisão do
mundo entre “centro” e “periferia”, ou seja, a idéia de
que prevalece a heterogenidade estrutural a nível
mundial.
Centro e Periferia
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Primeiro estágio da difusão do progresso técnico
O centro é responsável pela produção de
manufaturas, enquanto a periferia abastecia o centro
com produtos primários.
 As novas técnicas só eram aplicadas no setor
exportador da periferia, coexistindo assim setores de
alta e de baixa produtividade.
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Periferia: estrutura especializada e heterogênea.
 Centro: estrutura diversificada e homogênea.
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Centro e Periferia
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Segunda fase:
 Industrialização da periferia a partir dos anos 1930.
 O “desenvolvimento para fora” dá lugar para o “desenvolvimento para dentro”
baseado na ampliação da produção industrial
 A existência de uma estrutura especializada e heterogênea durante o processo de
industrialização dá origem a problemas estruturais de balanço de pagamentos.
 Baixa elasticidade renda das exportações.
 Alta elasticidade renda das importações.
 Além disso, a industrialização ao destruir progressivamente os setores tradicionais
de baixa produtividade faz com que o desemprego assuma também um caráter
estrutural.
 O diferencial de produtividade entre os setores faz com que a expansão do
setor industrial e moderno seja feita às custas de uma destruição líquida de
empregos na economia.
 A expansão do setor industrial não gera a mesma quantidade de novos postos
de trabalho do que aqueles destruídos no setor de baixa produtividade.
 O processo de desenvolvimento deixado ao livre jogo das forças de mercado
geraria, portanto, desequilíbrios crônicos tanto na balança de pagamentos como
no mercado de trabalho.
Deterioração dos Termos de Troca
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O desenvolvimento econômico na periferia também levaria a deterioração
crescente dos termos de troca.
Defina-se o hiato de renda per-capita Yr como:
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Yr = (Li*Pi)/(Lp*Pp)
Onde: Li é a produtividade do trabalho no setor industrial, Lp é a produtividade
do trabalho no setor primário, Pi é o preço dos produtos industriais e Pp é o
preço dos produtos primários.
Assume-se que o progresso tecnológico é mais rápido no centro do que na
periferia, logo (Li/Lp) aumenta ao longo do tempo.
Mesmo que não houvesse deterioração dos termos de troca, o ritmo
diferenciado de progresso tecnológico (observem a diferença para com o
modelo de Solow !!!) levaria a um aumento do hiato de renda per-capita.
Se os termos de troca se deteriorarem, ou seja, se (Pi/Pp) aumentar ao longo
do tempo, temos que a periferia não só não irá absorver os ganhos de
produtividade ocorridos no centro como ainda irá transferir uma parte de
seus próprios ganhos de produtividade.
Evidências Empíricas
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Cardoso e Helwege (1992): a série histórica de preço
dos produtos agrícolas/preço dos produtos industriais
entre 1900 e 1986 mostra uma leve deterioração.
Thirwall (2004): permitindo uma quebra estrutural no
período entre as duas guerras mundiais houve uma
deterioração de 0,5% a 1.0% a.a. contra os produtos
primários.
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Obs: a hipótese de deterioração dos termos de troca não é
necessária para a tese do desenvolvimento desigual. Basta que
a produtividade do trabalho cresça mais rapidamente na
produção de bens industriais do que na produção de bens
primários.
Fundamentos Teóricos
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“Versão dos ciclos”
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O mercado de trabalho é rígido no centro e flexível na
periferia.
Os trabalhadores do centro se apropriam dos ganhos do
progresso técnico via aumento de salários nas fases de
prosperidade e mantenham os seus salários na recessão.
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O preço dos produtos industriais se mantêm estável.
Na periferia a existência de um excesso estrutural de força de
trabalho e a estrutura competitiva da oferta faz com que os
salários se reduzam na recessão, ocasionando assim uma
queda dos preços produtos primários.
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Deterioração (cíclica?) dos termos de troca
Fundamentos Teóricos
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“Versão da industrialização”
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O aumento da renda no centro gera uma exportação de bens
primários, causando um aumento da renda da periferia.
Como a elasticidade renda das exportações é menor do que a
elasticidade renda das importações ocorre um desequilíbrio
no balanço de pagamentos que leva a uma desvalorização do
câmbio.
Queda dos preços das exportações em moeda estrangeira.
Deterioração dos termos de troca.
Desenvolvimento Desigual
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Fato estilizado sobre a distribuição mundial de renda.
 O hiato de renda per-capita entre os países ricos e os países pobres é muito alto
(50/60 vezes).
Pergunta: esse hiato de renda per-capita vai aumentar ou diminuir ao longo do tempo?
A evidência com base nas tendências passadas dão uma resposta pessimista para essa
pergunta.
 O desvio padrão do log da renda per-capita ajustada pela PPC aumentou entre
1960-1990 implicando em divergência-sigma.
 Regressões da taxa de crescimento da renda per-capita contra a renda per-capita
inicial tem coeficiente positivo implicando em divergência-beta.
 As estimações de uma matriz de transição de Markov na qual a renda per-capita
de cada país relativamente à média mundial é a informação básica implica numa
distribuição mundial de renda bi-modal com tendência a concentração na média
baixa e na média alta.
 Convergência entre países com elevados níveis de renda per-capita, mas não
entre países ricos e países pobres,
 Clubes de convergência.
Mecanismos de divergência
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Padrões de especialização no comércio e o papel
dos retornos retornos crescentes (Sign, 1950;
Krugman, 1981; Dutt, 1990).
Efeitos de mudanças na tecnologia e da
composição da demanda sobre os termos de
troca do norte e do sul.
Papel dos fluxos internacionais de capitais
Transferência de tecnologia.
Modelo de Comércio Norte-Sul e
Desenvolvimento Desigual (Dutt, 2003)
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Objetivo: examinar um mecanismo específico de
divergência, qual seja, as conseqüências para o
comércio Norte-Sul quando a elasticidade renda
da demanda por importações do sul (com
respeito ao Norte) é maior do que a recíproca
do norte.
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Restrição Externa e Termos de Troca