Linguagens- Língua Portuguesa
Ensino Médio – 1º Ano
Variação Linguística e Preconceito
linguístico
O texto que segue é de autoria de
um cantor conhecido, leiam-no e
tentem lembrar de quem se trata.
ASA BRANCA
Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação“
Por farta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio“
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Acredito que vocês lembraram ser Luís
Gonzaga, pernambucano de Exu, o autor
dessa música, em parceria com o cearense
Humberto Teixeira, e nós, como
pernambucanos, que na maioria também o
somos, poderíamos cantá-la juntos e
observarmos como o uso especial que ele
fez da língua portuguesa o tornou
conhecido em todo o Brasil como o rei do
baião. Vamos cantá-la?!
http://www.youtube.com/watch?v=cWiJL0_yj9c
Com base na música respondam:
1-Como o cenário do sertão é descrito na música?
2-Qual o tema tratado na música?
3- Poderíamos afirmar que o conteúdo expresso pelo compositor
em décadas passadas se faz “novo” nos dias atuais?
Justifique.
4-Na sua opinião, qual o grau de escolaridade do eu-lírico?
Explique.
5-Qual sua possível profissão?
6-Retire da canção expressões típicas da linguagem
popular.
7-Você compreendeu o que quis dizer a canção, isto é,
houve comunicação, ou nela há expressões “erradas”
que dificultam o entendimento?
8-Suponha que você seja oftalmologista e no
consultório lhe chegasse um paciente cujas palavras
fossem: “Dotô, meus óio tão ardeno”, como você agiria
diante de tal afirmação? Corrigia-o ou procedia o
exame dos olhos do paciente?
AS VARIANTES LINGUÍSTICAS
O que devemos levar em conta no
nosso estudo?
 Cada um de nós, quando nasce, começa a aprender a
língua em casa, com os familiares. Ao ouvir as
pessoas falando, nós também vamos, aos poucos,
apropriando-nos do vocabulário e das leis
combinatórias da língua.
 Também treinamos nossa boca e nossas cordas
vocais para produzirem sons, que se transformam
em palavras, em frases e em textos inteiros.
Quando passamos a ter contato com outras
pessoas na rua, na escola, na cidade e nos sítios,
percebemos que nem todos falam como nós e
nossos parentes mais diretos, mas nem por isso
deixamos de compreendê-las.
Existem pessoas que falam diferente por serem de
outras famílias, de outras cidades ou de outras
regiões do país, ou até mesmo por serem mais idosas
/ jovens que nós.
Assim, a língua sofre variações
conforme os aspectos:
Regional
Exemplo: Um falante
Conforme a
região do falante, o uso da
língua varia, pois este tem
vocabulário e pronúncia
próprios de sua região. O que
não significa dizer que região X
fala “melhor” ou mais “bonito”
do que região Y. Quem assim
pensa comete preconceito
linguístico.
nordestino, ao chegar numa
feira livre no Rio de Janeiro,
diz ao vendedor:
-Quero um quilo de macaxeira.
E o vendedor responde:
-Caramba, não tenho. Tenho
mandioca, serve?
O falante nordestino examina o
produto e diz: - Vou levar, é a
mesma coisa!
Época
Exemplo:
É comum as pessoas de
diferentes épocas
utilizarem um vocabulário
diferente, e, na maioria
das vezes, também
escreverem de modo
diferenciado devido às
variações da língua no
tempo, as quais atingem a
faixa etária dos falantes.
Um exemplo vivo para nós
é a reforma ortográfica, a
qual muda o jeito de
escrever algumas palavras.
Num consultório entram o avô (65
anos) e o neto (10 anos). O avô olha
para o médico e fala:
-Doutor, quero que o senhor me receite
um remédio para meu neto que está
com difruço.
O médico, meio que aturdido, porém
compreende a fala do senhor e
começa a prescrever a medicação.
Eis que o neto interrompe:
-Vovô, eu não tenho essa doença aí
não, tenho apenas um leve
resfriado.
Classe social
Exemplo: Conversa entre três jovens de
Pessoas que têm maior
diferentes classes sociais
acesso a leituras
Jovem da classe alta: - Li ontem vários artigos
variadas, escolas, filmes,
sobre variação linguística na biblioteca virtual e
internet etc apresentam
tive aulas com meu pai.
uma variedade da língua, Jovem da classe média: -Foi mesmo, cara? Eu
tenho internet, livros, Tv a cabo, mas não li
digamos, mais próxima
nada. Convidei um antigo colega para ir lá em
do falar exigido pela
casa, ele também utilizou minhas mídias e fez
sociedade letrada. Não
essa leitura que você aí fala.
se trata de mais pobres
Jovem da classe baixa: - O convidado fui eu! Não
ou menos pobres, tratatenho esses recursos, apenas as xérox das
se apenas das
aulas, por isso aproveitei a oportunidade dada
pelo colega, a fim de também me sentir
oportunidades de leitura
incluído e li tudo que pude. Resultado: Hoje
desses falantes.
entendo as variações e sei me defender diante
do preconceito linguístico!
Nível de instrução
Exemplo: Conversa entre um agricultor
O nível de instrução do
falante também faz com
que a língua sofra
variações. Isso quer dizer
que falantes com maior
escolarização tendem a
usar a língua de modo
mais formal que os
falantes de menor
escolaridade. Fato que, em
muitos casos, provoca o
surgimento do preconceito
linguístico.
(analfabeto) e um metereologista:
Agricultor:- Sinhô, hoje chove de todo jeito!
Metereologista: -Não, as previsões só
anunciam chuvas para o final do mês.
Agricultor: -Num concordo, não sinhô e até
pruque o mei miô, o mei findô e hoje já é
15. Assim, tá no miado e vai chuver.
Metereologista: - Mas e as previsões? O senhor
não entende de nada, nem falar sabe...
Agricultor: - Me disculpe, falá bunito como o
sinhô eu possa num sabê, mas se o sinhô
tem istudo num parece pruque num sabe
nem arrespeitar or mai véi. E se eu num sei
falá como dixe, como é que eu tenho 65 ano
e nunca deixei de falá com o povo daqui e
nunca errei um paipite de chuva?!
Situação de Comunicação
(registros)
Conforme a situação
comunicativa em que se
encontra o falante, ele
faz a língua variar. Isso
quer dizer que, em
ambientes mais
formais, a opção pelo
uso formal da língua é
mais conveniente. Já
com os familiares e
colegas, o uso da
informalidade é mais
usual. O interessante é
saber fazer essas trocas.
Exemplo: A mãe com o filho, em casa, e na
escola, na qualidade de sua educadora.
Maria (mãe): -Filho, vá estudar variação
linguística. A avaliação é hoje, te dou uma
bola se tirar 80. Não vai me envergonhar,
hein?
José (filho): - Mamãe, eu já sei que a língua
varia conforme a região, o tempo, o grau de
instrução e um bocado de coisas mais. Me
dê, mamãe, a bola.
Maria (na escola): - José, estude variação
linguística que a avaliação será hoje e eu
darei à turma um livro a quem tirar 80.
José (na escola)- Professora, sei de todas as
variações, inclusive como banir o
preconceito linguístico existente na nossa
sociedade. E agora, mereço o 80 e o livro?!
Linguagens
Língua oral e língua escrita
A língua oral,
(falada) também é
diferente da língua escrita.
Assim, quando
escrevemos, temos
condições de escrever bem
as palavras, de corrigir o
texto e melhorá-lo até
transmitir exatamente o
que desejamos. Na fala
isso não é possível, ela
normalmente apresenta
repetições, quebras de
sequência lógica,
problemas de
concordância e várias
expressões de apoio, como né?, tá?,
entendem?, etc.
Em outras palavras, poderíamos resumir que a
escrita é planejada, enquanto a fala não, é
espontânea. Aquilo que
escrevemos podemos rever, revisar, ao passo
que aquilo que falamos, não temos mais como
voltar atrás. Nesse caso, sendo uma ofensa ao
outro, somente um pedido de desculpa poderá
“sanar”o dito. Aproveitem essa aula e, a partir
de agora, não menosprezem seus colegas se
estes falarem arrastado, com gírias, ou
mesmo se usarem palavras desconhecidas
para vocês. Saibam que todo falante nativo
conhece muito bem a sua língua materna.
Língua
Formal: também
chamada de culta ou
padrão. Ao falarmos em
público ou ao
conversarmos com pessoas
mais instruídas do que nós,
ou ainda com pessoas que
ocupam cargo ou posição
elevada, passamos a
empregar a língua formal,
isto é, falamos de modo
mais cuidadoso. Evitamos
tanto as gírias e expressões
grosseiras quanto aquelas
que demonstrem muita
intimidade (caramba,
fofinha, bicho etc). (1)
A língua culta ou padrão é veiculada nos
dicionários, nas gramáticas, nos textos
literários, técnico-científicos e jornalísticos e
nas redações oficiais do país.
Informal: ao contrário, se a conversa for
com pessoas conhecidas, com as quais
temos intimidade ou mesmo familiaridade,
podemos falar de modo informal, mais
popular e menos policiado, pois nosso
interlocutor não se chocará com a nossa
linguagem.
Gírias, jargões e calão
Gíria e jargão: são os
códigos linguísticos
próprios de um grupo
sociocultural com
vocabulário especial,
incompreensível para
quem dele não fizer parte.
Os médicos usam uma
linguagem típica da
medicina, por exemplo,
para explicar um
procedimento cirúrgico
(jargão); já os surfistas
empregam gírias entre
eles.
Calão (ou baixo calão): é uma
realização linguística caracterizada pelo uso
de termos baixos, grosseiros ou obscenos,
que, dependendo do contexto, muitas
vezes chocam pela falta de decoro e
desvalorizam socialmente aqueles que os
empregam.
Vale ressaltar que, no ato comunicativo, o
falante deverá primar por ser bem
compreendido linguisticamente, suas
escolhas deverão estar adequadas à
situação comunicativa vivenciada por ele,
bem como a seu interlocutor imediato.
A gíria, como a moda, passa.
Vocês lembram de gírias antigas?
Deem alguns exemplos de gírias
usadas na nossa região.
A língua portuguesa tem muitas expressões
interessantes. Muitas delas se constituem como gírias,
as quais são usadas pelos falantes de várias idades,
inclusive por vocês. Expliquem, pois, o que significam e
em que situações cotidianas são usadas as expressões
seguintes:
a)Está com a pulga atrás da orelha.
b)Comer o pão que o diabo amassou.
c)Procurar sarna para se coçar.
d)Prometer mundos e fundos.
e)Lutar com unhas e dentes.
f)Ser mão de vaca.
g)Pisar em ovos.
i)Aquele homem é pirangueiro pra chuchu.
Ninguém deve menosprezar os usos da língua
escolhidos pelo falante. Este, por sua vez, deve
fazer uso adequado dela, para evitar situações de
incompreensões e para participar ativamente da
sociedade da qual faz parte, por exemplo:
É ADEQUADO: usar a linguagem formal em ambientes e
eventos públicos como numa formatura, numa palestra, na
igreja etc.
É INADEQUADO: usar uma linguagem extremamente
formal, muito trabalhada, pomposa em casa com os
familiares ou com pessoas da intimidade.
Nossa próxima atividade será uma produção escrita, na qual
vocês me ditarão o texto. O enfoque será dado às variações da
língua e ao preconceito existente na sociedade quanto às
diferenças no seu uso . Vocês, a partir dessa criação, serão os
multiplicadores dos conhecimentos aqui construídos. Para isso,
observem uma simples definição do que seja essa barreira que
tanto afastou e ainda afasta os falantes da língua devido aos
mitos que lhes foram impostos ao longo dos tempos.
Preconceito linguístico
Quando se afirma que alguém não sabe falar
corretamente porque não utiliza a variedade de
maior prestígio social, ou seja, a culta, ou mesmo
quando não se aceita uma diferença na pronúncia e
no léxico de uma pessoa, comete-se o preconceito
linguístico. Ele também se mascara em afirmações
como: “o certo é falar assim, porque se escreve
assim”; “brasileiro não sabe português”; “nordestino
fala tudo errado“ ;“pessoas sem instrução falam tudo
errado” etc.
Sejamos criativos em ambas as produções, não nos
esqueçamos de sempre atribuirmos valores aos diversos
usos da língua, desmistificando assim esse preconceito
que tanto tem afastado os falantes do convívio social.
Podemos começar?!
1º comando
Suponha que você, sendo nordestino, 18 anos,
com Ensino Médio incompleto, morador da zona
rural, pleiteia uma vaga numa empresa de
cosméticos em São Paulo. Como se expressaria
diante do entrevistador, por sinal, muito
exigente com o uso formal da língua. Elabore um
diálogo entre ambos. Aproveite para deixar
claras as noções de variação e do preconceito
linguístico.
Espaço para a 1ª produção
2º comando
Como se expressaria um paciente idoso,
analfabeto com dores nas costas diante de um
médico ortopedista? Elabore a consulta num
grau de aceitação por parte do médico tendo
em vista as expressões usadas pelo seu
paciente.
Espaço para a 2ª produção
Vocês, em grupos, farão duas atividades avaliativas. Na
primeira, com base no sorteio dos tipos de variações da
língua, façam um resumo através de diálogos daquilo
que aprenderam sobre a variação sorteada para o
grupo. Para isso, usem a cartolina e os pincéis.
Na segunda, os mesmos grupos irão produzir um texto
teatral com a mesma temática e, em seguida, irão
encená-lo para os outros colegas usando os fantoches e
o lençol. Para organizarem essa atividade, usem o papel
ofício. Boa sorte e mãos à obra!
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Variação lingüística e preconceito lingüístico.