XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
RELATO DA APLICAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE
AVANÇOS TECNOLÓGICOS E INCLUSÃO DIGITAL PARA ALUNOS DO 9º
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Sandra Aparecida de Oliveira e Souza1
Iara Terra de Oliveira2,
Jerusha Mattos Câmara2
1- Escola Estadual Professor Caetano Miele
2- REDEFOR- Rede São Paulo de Formação Docente- Ensino de Ciências- Faculdade de
Educação- Universidade de São Paulo-SP
Este trabalho relata os resultados obtidos na aplicação de uma sequência didática sobre
avanços tecnológicos e inclusão digital para quatro turmas de alunos do nono ano do
ensino fundamental, nas aulas de Ciências, nos meses de agosto a outubro de 2011, na
Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na cidade de São Paulo, SP. A
experiência didática surgiu da constatação que as tecnologias contemporâneas podem
ser referência para a formação básica dos estudantes, permitindo a construção de
leituras inovadoras do mundo e ampliando as possibilidades da construção e circulação
de informação. A avaliação da sequência didática foi feita pela análise da participação
dos alunos no que se refere ao entendimento sobre os avanços da comunicação ao longo
dos tempos, a compreensão da importância da informática para a sociedade atual, a
necessidade de se ter uma postura correta ao trabalhar com computador e a relevância
da inclusão digital. Para a produção de dados foram utilizados questionário inicial de
levantamento dos conceitos prévios dos alunos, observação das aulas, exposição de
cartazes, produção de vídeos e folders. Ao final da aplicação da sequência didática foi
realizada uma avaliação oral para detectar a aprendizagem dos conceitos abordados
durante o trabalho. Os dados revelaram como, tendência geral, que os alunos avançaram
na apropriação de conceitos básicos sobre informática, internet e cuidados com a
postura no uso do computador, apontando para a criação de mais oportunidades nas
aulas de Ciências que permitam a alfabetização digital e o entendimento sobre os
malefícios para a saúde causados pela falta de cuidados com a postura corporal frente ao
computador.
Palavras-chave: sequência didática, avanços tecnológicos, ensino fundamental II.
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INTRODUÇÃO
Diferentes tecnologias foram incorporadas ao ensino através dos anos, primeiro
o livro, depois o rádio e a televisão, multimídia, transmissões por satélite. Hoje, a
tecnologia da informação representada pela internet, cuja presença no Brasil teve início
em 1987, oferece recursos para uma aprendizagem rica, possibilitando ao educando a
construção do conhecimento de forma colaborativa e integrada,
Documentos
como
os
Parâmetros
Curriculares
Nacionais
do
Ensino
Fundamental e Médio - PCNEM (BRASIL, 1999) assim como as diretrizes curriculares
do Estado de São Paulo indicam como objetivos do Ensino Fundamental que os alunos
sejam capazes de saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos
para adquirir e construir conhecimentos. Na mesma linha de raciocínio, Perrenoud
(2000), afirma que a escola não pode ignorar as novas tecnologias de informação e da
comunicação (TIC), que transformam espetacularmente as nossas maneiras de
comunicar, de trabalhar, de decidir e de pensar.
Nesse contexto, aplicou-se uma sequência didática com o objetivo de avaliar o
engajamento dos alunos na abordagem sobre avanços tecnológicos e inclusão digital.
Pedro Demo (2008, on line) coloca que:
“Talvez o argumento mais pertinente no sentido de melhor combinar
tecnologias de informação e de comunicação (TIC) seja o da inclusão digital.
Muitas vezes entendemos por inclusão digital programas que apenas
apresentam as TICs à população, em geral através de cursos mínimos, sem
condições de garantir aprendizagem adequada. A inclusão digital mais
promissora é aquela feita em ambientes educacionais corretos, como poderia
ser a escola, em especial a alfabetização no sentido pleno do termo. As TICs
não apenas facilitam acessos e interatividades. Elas são expressões próprias
dessas habilidades. Daí a importância extrema de envolver as TICs em
ambientes educacionais, não apenas para que estes se tornem
tecnologicamente corretos, mas também para que as plataformas tecnológicas
signifiquem novas oportunidades de aprender e formar-se. TICs são hoje
parte do direito de aprender bem e permanentemente.”
No espaço escolar e também nas residências, o uso do computador levanta
questões sobre ergonomia, compreendida aqui como “o conjunto de conhecimentos
científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e
dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia”
(WISNER, 1972)
Tendo em foco a importância da inclusão digital para a educação no Brasil,
foram propostas atividades de pesquisa em que houvesse a oportunidade de conhecer e
compreender programas que criam condições à expansão do uso do computador e da
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internet, visando ampliar a percepção dos alunos com relação à sua inserção no mundo
virtual, levando-os a novos significados para as informações trazidas e facilitando a
apropriação do conhecimento.
METODOLOGIA
O presente trabalho é resultado da investigação da aplicação de uma sequência
didática sobre avanços tecnológicos e inclusão digital, produzida durante o Curso de
Especialização no Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo, Rede de Formação
Docente (REDEFOR) no ano letivo de 2011. A pesquisa teve como objetivo articular a
teoria desenvolvida durante o curso e a atividade prática em sala de aula, através da
análise da organização do ensino, da aprendizagem dos estudantes e do engajamento
disciplinar. Participaram da aplicação, simultaneamente, cento e vinte e cinco alunos
distribuídos em quatro turmas de nono ano do ensino fundamental, na faixa etária de
quatorze a quinze anos, da Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na
cidade de São Paulo, SP. O trabalho foi desenvolvido em oito horas-aula, no período de
agosto a outubro de 2011, nas aulas de Ciências.
Aliado ao estudo do sistema nervoso humano, a professora de Ciências
apresentou aos alunos uma proposta de trabalho sobre avanços tecnológicos e inclusão
digital.
Com o intuito de verificar as concepções prévias dos alunos sobre os meios de
comunicação ao longo do tempo e a importância social da internet, foi aplicado um
questionário inicial e, a seguir, foram elaborados cartazes a partir da interpretação de
textos sobre a história da carta, do telégrafo, do telefone e da internet.
Na primeira aula foi entregue um questionário visando um diagnóstico sobre o
uso do computador, a fim de adequar conteúdos com maior eficiência às aulas
posteriores. A atividade foi desenvolvida individualmente e consistiu nas respostas no
caderno, às seguintes questões:
1. Você utiliza computador? Em quais situações?
2. Cite os benefícios que o uso do computador proporciona na realização de
muitas de nossas tarefas diárias.
3. Você utiliza a internet? Em quais situações?
4. Quais tarefas você pode realizar no seu computador se ele não tiver acesso a
internet?
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Após a discussão das respostas, foi feito o estudo de um texto, através de leitura
compartilhada e debate, que descreve os avanços dos meios de comunicação ao longo
do tempo. Como tarefa para casa, a professora solicitou que os alunos produzissem um
cartaz em cartolina branca, em grupo com cinco alunos cada, sobre o tema sorteado que
poderia ser: carta, telégrafo, telefone, internet ou telefone celular.
A figura a seguir representa o modelo de cartaz exigido para a produção do
trabalho, onde o título deveria conter o tema sorteado, abaixo dele desenhos
representativos seriam colados ou desenhados, logo abaixo e de forma concisa deveria
ser escrito manualmente ou digitado a história e a utilidade dos equipamentos e,
colocado no canto inferior direito, a identificação dos alunos.
TÍTULO
FIGURA (desenhada ou colada)
INFORMAÇÕES CONCISAS
história, utilidade
Nome dos alunos,
–
nº e turma
Figura 1- Esquema para o modelo de cartaz produzido pelos grupos
Na segunda aula, os grupos se apresentaram, utilizando-se de no máximo cinco
minutos, explicando para os colegas o seu tema e mostrando o cartaz produzido. Ao
final, os cartazes foram fixados no mural da sala.
Na terceira aula, foi apresentada a seguinte notícia aos alunos com o seguinte
título “Brasil: Pane no Serpro provoca filas no Detran e Receita Federal” que estava
disponível na internet. Após a leitura da notícia, a professora pediu para que os alunos
respondessem, de forma escrita numa folha de sulfite, à seguinte questão: Quais
vantagens a utilização da Internet proporciona à realização dos serviços citados na
reportagem e quais os prejuízos quando estes serviços param de funcionar?
Na quarta aula, foram descritas, através de um texto extraído de um livro
didático de ciências de 9º ano, a definição do termo informática e os grandes marcos no
desenvolvimento desta área, contemplando os estudos do matemático inglês Charles
Babbage (1791-1871) que projetou uma máquina que realizava alguns cálculos mais
complexos do que as quatro operações básicas e do engenheiro norte-americano
Herman Hollerith (1860-1929), que trabalhava no Censo americano e desenvolveu uma
máquina para auxiliar na contagem e separação dos dados coletados. Essa máquina foi
considerada o primeiro processador de dados. Foi explicado que somente em 1941 foi
desenvolvida a primeira calculadora que utilizava eletricidade para automatizar os
cálculos – a Mark I – dando início ao desenvolvimento de equipamentos que
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trabalhavam na automatização de tratamento de dados por meio de eletricidade e,
consequentemente, ao desenvolvimento da informática. Por último, a professora
descreveu oralmente a importância da microeletrônica, com o desenvolvimento dos
transistores e dos circuitos integrados (chips), bem como a necessidade do Brasil
participar efetivamente da área produtiva e de mercado nesta área.
Para enriquecer a atividade, a docente solicitou que os alunos realizassem em
casa uma pesquisa sobre o que são transistores, chips e computadores. Alguns cuidados
foram exigidos para esta tarefa, pois há um grande número de informações disponíveis
na internet e que nem sempre são confiáveis ou relevantes. Desta forma, a professora
disponibilizou algumas fontes seguras para facilitar o acesso às informações.
A quinta aula foi iniciada com a leitura das pesquisas pedidas na aula anterior.
Foram chamados alguns alunos, sorteados pelo número da chamada, para fazerem as
considerações sobre o objeto de seu estudo. A seguir, oralmente, foram sanadas pela
professora algumas dúvidas sobre alguns termos técnicos, por exemplo, materiais
semicondutores, resistores, capacitores. Em seguida, foi discutida oralmente a origem da
internet, conjunto de redes interconectadas no mundo todo, que permite aos usuários
acessar e disponibilizar informações de maneira tanto pública quanto privada e utilizar
os mais diversos serviços nela disponíveis. Finalmente, foram discutidos alguns dados
que revelam que a internet é importante na sociedade atual.
Na sexta aula, procurou-se aliar os conteúdos propostos no caderno do aluno
(Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) sobre patologias do sistema muscular
e esquelético a má postura frente ao computador. Foi disponibilizado para cada aluno
um texto com ilustrações sobre ergonomia ao usar o computador, onde são dadas
orientações importantes que auxiliam na diminuição dos problemas corporais causados
com a utilização prolongada do computador, como ajustes na iluminação do monitor;
utilização de cadeiras adequadas; necessidade de pausa para descanso; posicionamento
de braços e pernas.
Houve discussão sobre medidas preventivas correlacionadas à saúde das pessoas
que utilizam o computador por várias horas ao dia, posicionando-se de maneira
inadequada.
Devido a este fato, podem adquirir problemas de saúde relacionados à
visão, às articulações, aos músculos e à coluna. A seguir, a turma assistiu a um vídeo
disponível na internet que ilustra o conteúdo abordado.
Levando-se em conta que a preocupação com a postura correta frente ao
computador é um fator determinante na prevenção de problemas de coluna, cansaço
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ocular entre outros, foi proposto pela professora que os alunos, divididos em vinte e
cinco grupos de cinco alunos cada, produzissem em seu lar um vídeo utilizando os
recursos de um telefone celular, com duração de no máximo três minutos, contemplando
as orientações trabalhadas em sala de aula.
Após o envio destes vídeos para um blog montado pela professora ou gravados
em pendrive, esses foram analisados e os mais adequados segundo os objetivos
propostos, tempo máximo de gravação, participação de pelo menos um dos
componentes como “ator” e no mínimo três orientações para diminuir os problemas
posturais frente ao computador, foram disponibilizados para todos os alunos
participantes do trabalho.
Na sétima e oitava aulas, os alunos foram agrupados em trios e encaminhados
para a sala de informática da escola, onde teriam que necessariamente, pesquisar na
internet apenas um dos programas de inclusão digital listados a seguir: 1) O Programa
Nacional de Informática na Educação (PROINFO); Programa Nacional de Apoio à
Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentro.BR; Acessa São Paulo, programa de
inclusão do Governo do Estado de São Paulo.
Realizada a pesquisa e, seguindo um roteiro fornecido pela professora, os trios
deveriam produzir um folder com caráter de propaganda do programa de inclusão
pesquisado, em folha de sulfite, dobrado duas vezes no sentido horizontal e com figuras
para chamar a atenção dos leitores. No roteiro, foram pedidos o nome e os objetivos do
programa; o público ao qual se destina; os endereços para atendimento e os serviços
oferecidos.
Após a análise de cada folder produzido, ocorreu uma exposição no mural da
sala de informática, para que todos os usuários da mesma conhecessem alguns
programas que criam condições à expansão do uso do computador no Brasil.
Visando uma avaliação dos conhecimentos adquiridos, no encerramento da
sequência didática
foi feita uma discussão oral, envolvendo professora e alunos,
resgatando os tópicos estudados.
Serão apresentados a seguir os resultados obtidos durante a aplicação da
sequência didática, verificando a compreensão dos alunos com relação aos avanços
tecnológicos e o uso da internet, as maneiras pelas quais evitam problemas de saúde ao
utilizar o computador e a clareza com que entendem os benefícios da inclusão digital.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
O questionário inicial foi o primeiro momento para tomar contato com os alunos
sobre o tema. Ao questionar, foram levantados os primeiros elementos que permitiram
estabelecer a familiaridade com o uso do computador, conforme a figura gráfica 2.
Figura 2 - Gráfico sobre uso do computador
No entanto, ao serem questionados sobre quais tarefas executam quando
acessam a internet, citam apenas redes sociais, mensagens de texto e jogos. Esta
situação está apresentada na figura 3:
Em quais situações você utiliza a
internet?
1,%
7%
Jogar/acessar redes
sociais/enviar mensagens
Pesquisar
92%
Ler notícias
Figura 3 - Gráfico referente as principais atividades realizadas pelos alunos usando a internet
Estes dados refletem o que já foi relatado em recente pesquisa feita pela
comScore (2010), onde constatou-se que a população entre seis e quatorze anos que
corresponde a 12% do total da população online do Brasil, passa a maior parte de seu
tempo em sites de entretenimento, instant messengers e redes sociais, indicando que
atividades de diversão e lazer são influenciadores predominantes do comportamento de
usuários mais jovens.
Na segunda parte da aula, ao se interpretar um texto sobre o avanço de alguns
meios de comunicação ao longo do tempo, os alunos se mostraram participativos,
inclusive complementando as informações fornecidas com explanações sobre outras
tecnologias que permitiram o desenvolvimento da sociedade moderna.
Uma exposição de cartazes foi montada e foram discutidos de forma crítica os
aspectos positivos e negativos das inovações tecnológicas na comunicação, desde a
carta até a internet. Ressaltou-se, dentre as explanações, um dos grupos que discorreu
sobre a importância da carta e a relação dela com os e-mails de hoje e, em outro grupo
onde a preocupação foi a utilização do telégrafo que era conhecido pelos alunos através
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dos filmes americanos que retratam guerras, e que com a pesquisa realizada mostrou
outras importantes funções.
Devido ao desconhecimento dos alunos sobre serviços via internet
disponibilizados por órgãos públicos, a docente achou conveniente apresentar uma
reportagem que informava sobre pane nestes locais. Após a leitura, os alunos
escreveram quais vantagens a utilização da Internet proporciona à realização dos
serviços citados na reportagem dada e quais os prejuízos quando estes serviços param
de funcionar. Constataram-se respostas como acesso mais rápido aos dados de um
veículo e suas multas e a agilidade na aquisição da carteira nacional de habilitação, no
caso do Detran. Com relação à Receita Federal, as respostas foram pouco precisas, pois
os alunos em sua grande maioria não sabiam para que servia o órgão e, mesmo após as
explicações dadas pelo professor, continuaram com dúvidas, sendo que o serviço mais
lembrado e que poderia ser prejudicado na sua execução foi o imposto de renda.
Os computadores tornaram-se uma importante ferramenta de trabalho,
contribuindo para o aumento da produtividade, melhoria na qualidade de produtos
industrializados e na redução de custos. Todavia, os alunos tiveram dificuldades em
separar a utilização do computador do uso da internet. Quando questionados oralmente
se ao utilizar um computador e não tivessem acesso à internet, quais tarefas poderiam
realizar, apresentaram respostas confusas, inclusive alguns alunos escreveram que
nenhuma atividade poderia ser realizada. A figura 4 mostra os resultados:
Figura 4 - Gráfico mostrando o número de vezes que determinada tarefa realizada no computador aparece
na resposta dos alunos
Percebe-se que apesar das respostas confusas, a tarefa com maior número de
citações e portanto a mais realizada, é relacionada aos jogos.
Com o desenvolvimento da informática, o computador passou a ser uma
ferramenta presente em muitas residências e em muitos locais de trabalho. Com isso, as
pessoas passam horas utilizando esses equipamentos e uma postura adequada é
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essencial para evitar problemas de saúde. Nesse contexto, foram feitas algumas
perguntas para detectar possíveis procedimentos equivocados e, a seguir, foi analisada
uma imagem que refletia a ergonomia ao usar o computador. A tabela 1 mostra as
respostas dos alunos que possuem computadores em sua residência.
Tabela 1 – Questões e respostas dos alunos sobre ergonomia no uso do computador
QUESTÃO
1. Ao digitar você
conserva as mãos
retas?
2. Você utiliza os
ajustes na tela do
computador para
diminuir o brilho?
3. O monitor que
você utiliza está a
uma
distância
aproximada de 70
cm da sua face ao
nível dos olhos?
4. Ao sentar-se para
utilizar
o
computador, você
se preocupa em
deixar sua coluna
ereta, mantendo a
sua
curvatura
natural em formato
de S?
5.
Você
se
preocupa com o
tipo de cadeira que
vai utilizar?
6. Você já percebeu
se seu braço, ao
digitar, forma um
ângulo de 900 com
o teclado?
7. Seus pés ficam
totalmente
apoiados no chão
quando utiliza o
computador?
8. Você faz um
intervalo a cada
duas horas que
utiliza
o
computador,
aproximadamente?
SIM
33,6%
NÃO
60%
ÀS VEZES
4,8%
NÃO SEI
1,6%
12%
79%
9%
-
51%
38,6%
-
10,4
37%
55%
7,2%
0,8%
25,2%
74,8%
-
-
12%
78,4%
-
9,6%
51,2%
42,4%
6,4%
-
28%
37,2%
34,8%
-
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Baseado na tabela acima , a professora pediu que os estudantes produzissem
vídeos no celular alertando sobre a ergonomia no uso do computador. Todos os vídeos
foram produzidos pelos alunos, na maioria dos casos, um integrante gravava e outros
dois participavam da cena. Foram priorizadas a utilização de uma cadeira correta, a
distância da tela do monitor aos olhos e a posição de pernas e braços. Em um dos
vídeos, um estudante simula uma sessão de alongamento e em outro, há uma
comparação entre posturas corretas e incorretas frente ao computador. Mas, o que ficou
evidente em todos os casos, foi a criatividade e o bom humor.
Nas duas últimas aulas da sequência didática, foram elencadas, através de
discussão entre a professora e os alunos, alguns recursos importantes no uso da internet
pela população, por exemplo, a possibilidade de acesso às notícias de toda parte do
mundo em tempo real; a troca de idéias com pessoas de outras culturas; auxilio nas
pesquisas escolares; acesso a serviços de banco e mercado financeiro; compras online.
A análise da discussão acerca dos diversos recursos da internet identificou que
os alunos reconhecem sua importância, principalmente no que tange a aumentar o
círculo de amizades e atividades de lazer. Porém, não associam o seu uso com a
promoção de melhores empregos e consequente aumento da renda da população. Em
nenhum momento da fala deles, notou-se preocupação com as consequências da
exclusão digital.
Após a identificação desta percepção, foi proposta uma atividade em que trios de
alunos procederam à pesquisa na sala de informática sobre três programas de inclusão
digital. O Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO); o Programa
Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentro.BR e o programa
Acessa São Paulo.
Ao analisar os programas de inclusão digital, os alunos seguiram um roteiro
onde a primeira questão era saber qual a definição que eles tinham deste assunto. A
tabela 2 abaixo mostra os resultados.
Tabela 2 – Respostas dos alunos com relação a definição do que é inclusão digital.
Você sabe o que é inclusão digital? Algumas respostas dadas
Explique.
Sim (7%)
“Acesso a tudo que se refere a digital para
todos”; “acesso a internet a pessoas que
não tem condição; “é fazer todas as
pessoas serem inclusas nessa nova fase
tecnológica, fazendo com que elas tenham
direito à internet”;“é liberar internet para
todos”; “ gente de classe baixa possuir um
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computador
ou
equipamentos
de
tecnologia avançada”.
Não (93%)
“Não”;
“não
sei”;
“não
me
lembro”;”não sei explicar”.
A segunda questão, perguntou onde o aluno costuma acessar a internet. Foi
detectado de acordo com a figura 7, que a maioria acessa em sua residência, os outros
alunos procuram casas de parentes, colegas, lan house e pouquíssimos utilizam a escola
para este fim.
Onde você costuma acessar a internet?
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
residência
casa de amigos
casa de parentes
lan house
escola
Figura 5 - Gráfico mostrando os locais onde o aluno acessa a internet
A figura 5 demonstra que os alunos privilegiam utilizar a internet em sua
residência, o que pode ser explicado pela atual disponibilidade de uma internet de
melhor qualidade e, também, pela possibilidade de acessá-la livremente, por tempo
indeterminado.
Com relação aos locais próximos as suas casas com computadores para acesso
gratuito e livre a internet, sem ser a escola, os resultados são demonstrados nas figuras 6
e 7.
Você conhece locais próximos a sua casa que
disponibilizem acesso gratuito à internet?
28%
sim
não
72%
Figura 6 - Gráfico sobre o conhecimento de locais próximos à residência dos alunos que possibilitem
acesso gratuito a internet
Cite estes locais.
3% 4%
Telecentros
CEU
93%
Igrejas
Figura 7 – Gráfico mostrando a citação feita pelos alunos dos locais de acesso gratuito a internet
próximos a suas residências
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Com a análise das respostas contidas nas figuras 6 e 7, percebe-se que mais de
setenta por cento dos alunos dizem conhecer locais de acesso livre a internet, mas
quando é pedido que citem estes locais, a maioria se restringe aos Telecentros.
Partindo das discussões referentes aos resultados obtidos após as questões
propostas, foram realizadas as pesquisas sobre os programas de inclusão digital, ora na
escola, ora no lar, pois vários foram os percalços para acessar a internet de modo
satisfatório nos equipamentos presentes no espaço escolar. Visando divulgar as
informações coletadas, os alunos produziram, em suas casas, folders, que foram
expostos no mural da sala de informática.
CONCLUSÕES
O foco deste trabalho foi analisar os resultados obtidos durante a aplicação de
uma sequência didática, em que foram trabalhados assuntos relacionados aos avanços
tecnológicos, à ergonomia frente ao computador e à inclusão digital.
Os resultados da investigação acerca do envolvimento dos alunos na abordagem
sobre avanços tecnológicos demonstraram que o aluno de hoje apresenta vantagens com
relação ao aluno de uma década atrás, porque traz para a escola maior conhecimento
tecnológico e demonstra expectativas diferenciadas quanto a sua formação. Mas, apesar
desta vasta informação virtual, detectou-se durante as aulas que vários alunos
desconheciam ou tinham dificuldades em utilizar programas básicos do computador.
Desse modo, o professor de Ciências tem a possibilidade de trabalhar estes recursos,
ampliando o número de metodologias utilizadas em sala de aula, assumindo uma
postura mediadora. Sobre isso, José Manuel Moran (2000) coloca que hoje o ato de
ensinar e aprender exige muito mais flexibilidade espaço temporal, pessoal e de grupo
para processos mais abertos de pesquisa e de comunicação, sendo que uma das
dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação com o aprofundamento da sua
compreensão.
Outro fator analisado neste trabalho foi a ergonomia no uso do computador, em
que ficou evidente, através dos dados coletados, que os alunos desconhecem algumas
medidas de prevenção de vícios posturais. A produção de vídeos sobre este tema alertou
principalmente os alunos envolvidos, que medidas simples incorporadas ao cotidiano
colaboram para a manutenção da saúde. Cabe aqui ressaltar que são raras as campanhas
educativas, tanto na escola como na mídia, com o intuito de prevenir patologias
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associadas à má postura. E não há mobiliário dentro da maioria das escolas com
adequação ergonômica suficiente para ser utilizada por adolescentes.
No que se refere aos dados encontrados sobre espaços utilizados para acesso à
internet, notou-se que a escola foi citada por uma ínfima parcela dos alunos, motivo
pelo qual deve ser ampliada a oferta de estratégias que possibilitem a inserção da
tecnologia nas aulas, como referência para a formação básica dos alunos.
A abordagem deste tema através de uma sequência didática contribuiu para
melhor organização das aulas e também foi verificada de forma mais clara a
aprendizagem dos alunos. Com isso, o uso da sequência didática pode contribuir para
aperfeiçoamento da formação docente, proporcionando um melhor aproveitamento dos
alunos com relação ao processo ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Paulo: Editora Atlas, 2009. 144 p.
DEMO,
Pedro.
TICs
e
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Artigo
disponível
em
< http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/tics.html> Acesso em 20.ago.2011.
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Acesso em 09.ago.2011
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar – convite à viagem.
Porto Alegre: ArtMed, 2000.
WISNER, Alain. A Inteligência no Trabalho. São Paulo: Fundamentos, 1994.
Disponível em < http://www.eps.ufsc.br/teses/fonseca/capit_4/capit_4.htm>. Acesso em
07.set.2011
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