Borboletas para a vida
Em memória do prof. José Roberto Gomes
E demais vítimas do transito
São centenas de espécies no Brasil
São muitas cores,
Muitos tamanhos,
Cruzando os ares
Tocando as flores
As árvores, as plantas.
Ariscas ou calmas
Nas redes de caçadores
Ou nas teias de aranha.
Mas apenas passam.
Metamorfoseiam.
Entram delicadamente em nossa vida e já vão!
Como um perfume, iluminam nossos olhos,
E lentamente desaparecem nas brumas da vida.
Suas asas vibram a limpidez do ar,
Ou caem no peso da poluição.
São assim as borboletas.
Foi assim a vida de Thiago de Moraes Gonzaga
Nascido num dia de maio,
Num dia de Maria de Fátima,
No dia da Lei Áurea,
Num dia de liberdade e de fé campesina e lusitana,
A 13 de maio de 1977.
E num outro dia de maio,
Mães e flores,
No dia 20 de 1995
Um contêiner irresponsável,
Rasgou as asas de sua vida
E Thiago se foi.
Com 18 anos.
Sonhos, futuro, amores, carreira
Esfacelaram-se na fugacidade da noite,
Na grande vala comum de meros números e estatísticas.
Rompeu-se o casulo de sua vida,
Sem processo, sem julgamento,
Como uma borboleta contra uma vidraça,
Como um inseto contra o para-brisa,
Uma vida que não conta nada.
50.000 pessoas cada ano no Brasil,
Erguem uma grande cidade de viúvas,
De órfãos e de pais sem filhos,
Em grandes rituais com bacias e água,
Onde os Pilatos modernos lavam as suas mãos
E proclamam sua inocência diante do sangue e das lágrimas,
Da dor e dos gritos,
Sulcando faces desconsoladas.
As lágrimas de mães,
As lágrimas de crianças,
As lágrimas de colegas,
As pessoas mutiladas e tetraplégicas,
As cadeirantes e acamadas nada contam.
Negócios que não podem parar,
Economias colapsadas,
Oxigenadas com a morte das borboletas,
Com as emissões incontroladas,
Com as artérias esclerosadas de motores ofegantes,
Vendas que não podem parar,
Indústrias que não podem estagnar,
Fábricas e montadoras que não podem esperar,
Copa do mundo, jogos olímpicos,
A que preço?
Corações humanos doentes,
Inteligências irresponsáveis,
Fabricam álibis em troca da morte.
E aí nasce a borboleta.
De madrugada.
Um sábado.
Não.
Não mais uma estatística.
Não mais um acidente.
E não um desaparecimento a mais.
A morte não poderia ter a última palavra,
Para aquela vida.
O filho, Thiago, um nome bíblico.
Demais para quedar-se numa lápide, algumas flores.
A noite se acorda num grito de vida,
No grito de resistência,
Vida, urgente,
O selo carimbo “Urgente”,
Ressoando pela solidão afora.
Nasce a borboleta,
A morte se faz vida.
Nas milhares de camisetas com a borboleta da vida,
Que atravessou a morte na vida de outras pessoas,
Mais importante e mais forte do que as desculpas e os pretextos.
Thiago uma promessa de proteção, de bênção
Borboletas farfalhando ambiente saudável,
Liberdade, leveza, cores, vida,
Que não está à venda,
Nem pode ser trocada por lucros e pressa,
Onde pedestres e ciclistas,
Crianças e jovens, motoristas e passageiros,
Idosos e deficientes,
Doentes e profissionais em liberdade,
Sem atropelamentos e sem assaltos.
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19h Plenária com os palestrantes