A campanha eleitoral e a taxa de juros
Num ano de eleições, com certeza, se descobre rapidamente que todos os
grandes problemas do país são da ordem da “má vontade” política e que até agora o que
faltou foi a escolha certa. Depois de tanto tempo na oposição o atual governo está aí
sentindo as dificuldades de virar vidraça. Outro dia, um possível candidato afirmou que
reduziria a taxa de juros pela metade logo de cara, além de não pagar mais todo este juro
extorsivo da dívida pública para os banqueiros.
Como seria ótimo, simplesmente numa “canetada”, cortar pela metade a taxa
de juros desafogando o setor produtivo, o cheque especial, o carne do crediário. Se é tão
fácil porque então não se faz isto. Para começar, o tal dinheiro dos banqueiros faz parte da
economia das famílias. É um erro imaginar que o mercado financeiro é feito apenas de
pessoas ricas. Neste mercado esta desde o pequeno poupador que ganha pouco mais de um
salário-mínimo até o muito rico que possui milhões. Os bancos captam estes recursos
destas pessoas e a grande maioria é formada por cidadãos da classe média. Quando se
aplica num fundo de renda fixa o banco pega o dinheiro do cliente e compra títulos públicos
ficando com uma parte do rendimento na forma de corretagem. É certo que existe muito
pouca competitividade entre os serviços bancários e que de fato os bancos tem uma
lucratividade expressiva. Mas por que simplesmente não se baixa a taxa de juros básica
fixada pelo próprio governo?
A taxa de juros básica que hoje está no patamar de 17% ao ano remunera a
dívida pública e tem vários objetivos, sendo que um deles é na ajuda do controle da
inflação. Partindo desta taxa, as demais como a do cheque especial, do capital de giro da
empresa são calculadas. Como emprestar dinheiro para o governo é considerado uma
atividade de baixo risco, para se emprestar para as pessoas e para as empresas o mercado
cobra um adicional na forma de taxa de juros devido a inadimplência e outros custos.Com
isso e variando a taxa básica o governo inibe ou incentiva o consumo tornando mais cara ou
mais barata as operações de crédito. Mas mesmo que a economia não esteja sofrendo
pressões inflacionárias a queda na taxa de juros depende também da absorção pelo mercado
de taxas menores, ou melhor, do aceite que o governo pague menos juros pelo aquilo que
deve.
Desde o governo anterior se procura, ao renovar montantes da dívida
pública, pagar uma taxa menor de juros num prazo maior. Isto quer dizer que se oferece ao
mercado financeiro montantes da dívida estipulando-se um prazo de pagamento e uma taxa
de juros. O mercado pode comprar este títulos ou rejeitar total ou parcialmente a oferta,
fazendo com que o governo melhore a proposta. Portanto, não basta vontade política, mas
um comum acordo com quem empresta dinheiro para o governo. Quem empresta dinheiro
somos todos nós que delegamos aos bancos a tarefa de negociar com o governo. Dar um
“calote” não prejudicaria apenas os bancos mas todos que empenharam suas poupanças
acreditando que o devedor pagaria o combinado. As promessas eleitorais começaram e
resta a nós, eleitores, rechaçar propostas insanas e irresponsáveis com veemência através do
voto consciente.
Paulo André de Oliveira
Economista
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