ÁREA TEMÁTICA: 5- Políticas Públicas em Educação Especial para alunos
superdotados.
PROGRAMAS DE ATENDIMENTO A SUPERDOTADOS: ANÁLISE SOBRE A
PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA
CAMPOS, Carolina Rosa 1
SILVA, Talita Fernanda da 2
RIBEIRO, Walquiria de Jesus 3
NAKANO, Tatiana de Cássia 4
RESUMO:
A temática altas habilidades/superdotação envolve a abordagem de uma diversidade de
questões, dentre as quais se destaca o funcionamento dos programas de atendimento ao aluno
superdotado. Este estudo teve como objetivo analisar a produção científica sobre estes
programas nas bases de dados nacionais Scielo, Pepsic e CAPES, utilizando-se para as buscas
as palavras-chaves “superdotação”, “superdotados” e “altas habilidades”, de forma isolada e
sem delimitação de período consultado. Dessa maneira, um total de 389 trabalhos foram
encontrados, sendo que, desses, foram selecionados apenas os que faziam menção a
programas de identificação e desenvolvimento de superdotados, em um total de 47 estudos
(Scielo n=4; Pepsic n=1; CAPES n=42). Foram excluídos os trabalhos repetidos (constantes
em mais de uma base de dados) e todos aqueles que não tivessem relação com a temática.
Assim, os mesmos foram analisados quanto às categorias: ano de publicação, região brasileira
a que pertenciam os pesquisadores, tipo de programa envolvido, amostra e instrumentos
utilizados. Os resultados demonstram que o número de trabalhos publicados na temática vem
se ampliando nos últimos anos, tendo-se observado que, os anos de 2005, 2009 e 2010
concentraram o maior volume de estudos (7 por ano). Observou-se que os trabalhos
publicados estão vinculados a instituições localizadas, em sua maioria, na região Sudeste
(40,43%), seguido das regiões Centro Oeste e Sul (25,53% cada). Quanto ao tipo de
programa, 24 possuíam foco na identificação de superdotados, seis em enriquecimento, 15 em
desenvolvimento e nove em salas de recursos, tendo-se encontrado, em alguns trabalhos, foco
em mais de um tipo de programa. As amostras mais frequentemente investigadas nos
programas foram alunos (48%) e professores (32%). Em relação aos instrumentos utilizados,
verificou-se que poucos são os instrumentos de avaliação que vêm sendo utilizados na
temática, sendo as entrevistas semi-estruturadas (19,61%), os questionários (5,65%), Raven e
Técnicas de Observação (3,77% cada), os mais encontrados. Conclui-se que a utilização de
programas de identificação e de desenvolvimento vem sendo, cada vez mais utilizados com o
decorrer dos anos, o que demonstra a importância dos mesmos no campo científico, assim
como das pesquisas que abordem a temática. Estudos maiores podem contribuir para a
expansão e utilização dos mesmos dentro da temática.
Palavras-Chave: Altas Habilidades; Superdotação; Talentos; Identificação.
1
Mestranda PUC-Campinas, bolsista CNPQ. E-mail: [email protected]
Mestranda PUC-Campinas, bolsista CNPQ. E-mail: [email protected]
3
Mestranda PUC-Campinas, bolsista CAPES. E-mail: [email protected]
4
Doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. Professor Titular da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. E-mail: [email protected]
2
ABSTRACT:
The theme of high ability / gifted approach involves a range of issues, among which stands
out the operation of service programs gifted student. This study aimed to analyze the scientific
literature on these programs in national databases SciELO, and CAPES Pepsic, using the
search for the keywords "giftedness", "gifted" and "high skills" in isolation and without
delimiting period consulted. Thus, a total of 389 papers were found, and these, we selected
only those who made mention of programs for the identification and development of gifted
students in a total of 47 studies (n = 4 Scielo; Pepsic n = 1; CAPES n = 42). We excluded
repeated work (listed in more than one database) and all those who were unrelated to the
topic. Thus, they were analyzed according to categories: year of publication, the region
belonged to the Brazilian researchers, program type involved, the sample and instruments
used. The results show that the number of published papers on the topic has been expanding
in recent years and it was observed that in the years 2005, 2009 and 2010 focused the bulk of
the studies (7 per year). It was observed that the papers published are linked to institutions
located mostly in the Southeast (40.43%), followed by the Midwest and South regions
(25.53% each). Regarding the type of program, 24 had focused on the identification of gifted
students, six in enrichment, development and nine in 15 in resource rooms, having been found
in some studies focus on more than one type of program. The samples investigated more often
in the programs were students (48%) and teachers (32%). Among the tools used, it was found
that there are few assessment tools that have been used in the theme, and the semi-structured
interviews (19.61%), questionnaires (5.65%), Raven and Observation Techniques (3.77%
each), the most frequent. It is concluded that the use of software for the identification and
development has been increasingly used with the passage of time, which indicates their
importance in the field scientific research as well as on the theme. Larger studies may
contribute to the expansion and use of them within the theme.
Keywords: High Skills, Giftedness, Talent, Identification.
INTRODUÇÃO
Observa-se, no cenário internacional, um crescente interesse no atendimento
diferenciado aos alunos que se destacam por um desempenho acadêmico ou potencial
intelectual superior, segundo Alencar e Fleith (2005), embora, segundo as autoras, no Brasil,
os superdotados constituam um grupo que é pouco compreendido e bastante negligenciado.
Isso porque há poucos programas direcionados para atender suas necessidades e favorecer o
seu desenvolvimento, indiferentes à criação de políticas voltadas à educação do superdotado e
talentoso, de forma que constata-se uma grande distância entre as propostas do Ministério da
Educação (notadamente a Lei de Diretrizes e Bases e o Plano Nacional da Educação) e as
práticas que vêm sendo desenvolvidas no país.
Tal quadro também foi apontado por Pérez (2003) ao afirmar que, principalmente o
Plano Nacional de Educação, publicado em 2001, determinava, na época da sua criação,
prazos curtos e médios para o levantamento estatístico, formação de professores, oferta de
cursos de nível médio e superior e de habilitação específica, estruturação da infraestrutura
física, político-administrativa e pedagógica e implantação de serviços para o atendimento
multidisciplinar desta população, cuja implementação deveria ser garantida até, no máximo, o
ano 2011, o que, no entanto, não ocorreu.
Indiferente à importância já reconhecida de se estabelecer ações pedagógicas
adequadas que venham ao encontro com as necessidades educacionais especiais, sociais e
emocionais que carecem, como por exemplo, por meio dos programas de atendimento, (Fortes
& Freitas, 2007) o que se nota é que, até hoje, pesquisadores apontam que esses alunos não
têm sido estimulados nas escolas brasileiras. Dessa maneira, desrespeita-se o direito de todas
as crianças terem oportunidades de desenvolverem ao máximo suas potencialidades,
embasado no principio do direito dos alunos com altas habilidades receberem um atendimento
especial adequado. Nesse sentido, Germani, Costa e Vieira (2006) salientam que são poucas
as ações desenvolvidas para o segmento da população superdotada, confirmando o mito de
que esse individuo não precisa de um atendimento especializado porque é superdotado ou
ainda devido à dificuldade de se enquadrar esses sujeitos como integrantes da educação
especial. Os prejuízos da ausência de identificação e estimulação poderiam ser notados,
segundo Negrini e Freitas (2008), sob a forma de fracasso escolar e até evasão desse
ambiente.
Assim, diversos autores têm reforçado a importância, tanto da identificação, quanto do
atendimento a essa população. Como apontam Oliveira e Anache (2005), é essencial que o
aluno com altas habilidades seja atendido, tendo-se como objetivo principal oportunizar um
bom desenvolvimento de suas capacidades ou habilidades, com o interesse de oferecer a esses
alunos satisfação e realização pessoal. Mesmo naqueles casos em que a avaliação aprofundada
não possa ser adequadamente realizada, Pérez (2009) salienta que não há nenhum prejuízo se
a pessoa ingressa num programa de atendimento mesmo que, no seu decorrer, não se
confirmarem os indicadores, visto que apenas teremos oferecido a ela as oportunidades de
enriquecimento educacional diferenciadas que todos deveriam ter (indiferente ao fato de se ter
ou não um diagnóstico de altas habilidades).
Isso porque, conforme salientado por Souza e Freitas (2004), os objetivos de um
programa para portadores de altas habilidades devem favorecer o crescimento pessoal e a
interação social, através de atividades que enriqueçam suas necessidades cognitivas, afetivosociais e especiais, e não apenas a conteúdos programáticos que envolvam somente o
desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as autoras ressaltam que uma das alternativas de
atendimento são os programas de enriquecimento, que possibilitam aos participantes
perceberem suas aptidões e desenvolvê-las.
Os programas de enriquecimento estão baseados nas pesquisas de Renzulli (1994), que
salienta que a escola pode promover estes programas utilizando-se de recursos humanos
disponíveis na comunidade ou mesmo professores especializados. Essas atividades podem ser
desenvolvidas tanto individualmente, através de um estudo independente ou por meio de
grupos pequenos onde atividades são implementadas seguindo linhas de interesse dos alunos
podendo ainda, segundo Alencar e Fleith (2001), acontecerem em salas de aula do ensino
regular, como também em salas especiais, tendo-se como um dos principais modelos desse
tipo de acompanhamento, o Modelo de Enriquecimento Escolar desenvolvido por Joseph
Renzulli.
O Modelo Triárdico de Enriquecimento surgiu como uma proposta de seguimento à
sua concepção de superdotação baseada no Modelo dos Três Anéis, conforme aponta o
próprio Renzulli (2004). Neste modelo, o autor ressalta uma proposta capaz de trazer novas
oportunidades de desenvolvimento ao aluno, quando comparado ao acompanhamento baseado
tanto na abordagem de aceleração de conteúdo como aquela baseada num conglomerado de
atividades de enriquecimento. Segundo o autor, estas atividades têm seus méritos, no entanto,
ele está mais voltado para o desenvolvimento das habilidades no campo da superdotação
acadêmica.
No Brasil, algumas atividades vêm sendo desenvolvidas no intuito de promover
espaços de desenvolvimento do potencial de alunos com altas habilidades/superdotação.
Antipoff e Campos (2010) comentam que esse interesse surgiu por volta do ano de 1929
quando a educadora Helena Antipoff chama a atenção para a necessidade de alternativas
educacionais que pudessem atender o pleno desenvolvimento desses alunos. A partir de então,
se tem o registro do primeiro atendimento em educação especializada direcionada aos “bemdotados” como assim os identificava, no ano de 1945, na Sociedade Pestalozzi no Rio de
Janeiro.
Segue-se assim, a preocupação por parte do Ministério da Educação em atender as
necessidades de desenvolvimento educacional dos superdotados, identificando-se, conforme
aponta Almeida e Capellini (2005) algumas atividades pontuais tanto em escolas públicas
como privadas. Dentre essas experiências, as autoras citam umas das primeiras iniciativas no
Estado de São Paulo em 1972, através do Programa Objetivo de Incentivo ao Talento
(POINT), com proposta de orientação às famílias, avaliação e oferta de atividades
extracurriculares aos alunos superdotados. Além de outros, as autores ainda mencionam,
atualmente, o funcionamento do Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado da
Secretaria de Educação do Distrito Federal que, baseado no Modelo Triádico de Renzulli,
desenvolve um trabalho reconhecido de desenvolvimento do potencial de alunos
superdotados.
Destaque nesse contexto cita-se ainda a experiência desenvolvida em Lavras/MG
desde 1993, um modelo bem sucedido, conforme aponta Pereira e Gonçalves (2007), através
do CEDET – Centro de Desenvolvimento do Potencial e Talento, com um programa de
desenvolvimento de talentos integrado ao sistema escolar, envolvendo uma metodologia
direcionada para o trabalho educativo com as crianças, assim como para o espaço físico e
social onde as atividades são realizadas.
Maia-Pinto e Fleith (2004) destacam que, além dos programas de enriquecimento
adotados como práticas educacionais para o acompanhamento de alunos com altas
habilidades/superdotação têm-se a compactação, a modificação ou diferenciação curricular e a
aceleração do aluno superdotado. As autoras caracterizam a aceleração como um processo que
permite a mobilidade do aluno para séries diferentes ou para classes especiais, onde ele possa
avançar em matérias de acordo com suas necessidades e a modificação ou diferenciação
curricular, entendida como estratégia baseada na oferta de atividades desafiadoras de modo a
atender os interesses, desenvolver o potencial e promover maiores realizações acadêmicas do
aluno (Alencar & Fleith, 2001).
Considerando os programas de atendimento a superdotados como foco desta pesquisa,
o objetivo foi acompanhar como esses programas vêm sendo utilizados na literatura científica
(através das bases de dados científicas), quais os tipos de programas realizados atualmente e
como a temática vem se expandindo no decorrer dos anos.
MÉTODO
Material
Resumos publicados nos bancos de dados da SCIELO, PEPSIC e CAPES, totalizando
47 trabalhos que enfocam os programas de atendimento a superdotados.
Procedimentos
Para dar início ao trabalho, foi realizada uma busca a partir das palavras-chaves
“superdotação”, “superdotados e “altas habilidades”, separadamente, em três bases de dados
eletrônicas, sendo elas Scielo, Pepsic e CAPES, sendo encontrados 389 resumos.
Posteriormente, uma seleção foi feita com o objetivo de focar em resumos que abordavam o
uso de programas de identificação, desenvolvimento e/ou enriquecimento de superdotados.
Deve-se salientar ainda que foram excluídos os trabalhos repetidos (constantes em mais de
uma base de dados) e todos aqueles que não tivessem relação com a temática. Dessa maneira
foram selecionados um total de 47 resumos, sendo 4 provenientes Scielo, 1 do Pepsic e 42 da
Capes. Os resumos
foram analisados quanto às categorias: ano de publicação, região
brasileira a que pertenciam os pesquisadores, tipo de programa envolvido, amostra e
instrumentos utilizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das análises feitas através dos resumos, foi possível traçar o estado da arte
sobre os programas de atendimento que vem sendo desenvolvidos na área da superdotação.
Figura 1. Número de trabalhos encontrados por ano.
De acordo com a Figura 1, pode-se observar, de uma forma geral, um aumento no
interesse pela temática, pontuando os anos de 2005, 2009 e 2010 como aqueles que
concentraram o maior número de publicações. Dessa maneira, pode-se verificar que mostra-se
recente o interesse dos pesquisadores no desenvolvimento ou estimulação das altas
habilidades, bem como o desenvolvimento de programas voltados ao atendimento dos
superdotados. Tal constatação corrobora a percepção de Oliveira e Anache (2005), segundo as
quais, o interesse pela questão da superdotação tem aumentado bastante nas últimas décadas.
O levantamento ainda mostrou que, no período investigado (15 anos), o número de
trabalhos focados nos programas de desenvolvimento de superdotados, publicados nas bases
consultadas (n=47), aponta para uma média de 3,1 estudos por ano, valor considerado baixo
diante da importância da temática, de modo a apontar alguma das dificuldades que vêm sendo
enfrentadas pela área, principalmente aquela relacionada ao fato de que essa população ainda
seja pouco considerada nos serviços de educação especial e inclusiva, conforme salientado
por Raugni e Costa (2011).
Uma segunda análise visou classificar os trabalhos quanto à região do Brasil a que
pertencem os pesquisadores, como demonstra a Tabela 1.
Tabela 1. Classificação das publicações quanto a região, de acordo com a filiação institucional dos
autores.
Região
Sudeste
Centro-Oeste
Sul
Nordeste
Norte
Frequência (f)
19
12
12
4
0
Porcentagem (%)
40,43
25,53
25,53
8,51
0
Embora considerando-se que, dentro do apoio teórico das diretrizes do MEC, cada
Estado possui autonomia para desenvolver um programa adequado à sua realidade e
necessidade (Oliveira & Anache, 2005), a partir da Tabela 1 pode-se observar que mais de
40% do material encontrado foi desenvolvido por pesquisadores vinculados a instituições
localizadas na região Sudeste. Chama a atenção, a ausência ou pequena representatividade de
trabalhos provenientes da região Nordeste e a ausência de trabalhos desenvolvidos na região
Norte.
Tal situação reflete, na realidade, os locais onde, tradicionalmente, a prática de
programas de atendimento mais se tem feito presentes, tanto a nível público quanto privado.
O levantamento dos diversos programas foi realizado por Oliveira e Anache (2005), o qual
destacou, na rede pública, esforços concentrados nos Estados do Distrito Federal (DF), que foi
o pioneiro e serve como modelo, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Goiás (GO), Espírito
Santo (ES), Bahia (BA), Mato Grosso do Sul (MS), Rio Grande do Sul (RS), Pará (PA) e
Minas Gerais (MG) que hoje atende o maior número de alunos na cidade de Lavras, onde foi
fundado o CEDET (Centro para o Atendimento do Potencial e Talento). Já na rede particular,
destaca-se, segundo as autoras, o RJ e SP, sendo que os colégios militares vêm desenvolvendo
trabalhos nas cidades de Juiz de Fora (MG), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Porto Alegre
(RS). A visualização dessa lista confirma a informação obtida por meio da análise das
publicações, uma vez que somente um Estado da região nordeste encontra-se citado (embora,
de acordo com os dados, tal programa não tenha dado origem a nenhuma publicação), não se
fazendo presente nenhum Estado da região norte.
Saliente-se ainda para o fato de que, autores como Borges-Andrade e Pagotto (2010),
Gondim e Bastos (2010) e Marques (2010) também trazem evidências da Região Sudeste
como principal região com artigos e trabalhos científicos publicados na área da Psicologia,
assim como região com maior foco de Programas de Pós-Graduação, fato que pode implicar
na maior quantidade de trabalhos.
Focando especificamente para a área da superdotação e a disposição de trabalhos que
se utilizam de programas específicos de atendimento a esta população, a Tabela 2 apresenta a
análise dos mesmos quanto ao tipo de programa que vem sendo utilizado na identificação dos
superdotados, classificados em programas de enriquecimento, de desenvolvimento e os
programas envolvendo salas de recursos.
Cabe aqui mencionar que, para a realização desta análise alguns critérios foram
considerados para englobar as categorias mencionadas. Dentro da categoria “Programas de
Identificação” foram englobados todos os tipos de programas que, de alguma forma, tinham
como objetivo identificar superdotados em algum contexto, com algum talento, não
estimulando-os ou desenvolvendo-os. Na categoria “Programas de desenvolvimento”
encontram-se os trabalhos que abordam a questão da aceleração escolar de alunos e dentro de
“Programas de enriquecimento” considerou-se os resumos que abordavam programas com
atividades de estimulação da criança superdotada ou com altas habilidades, seja através de
professores especializados ou de atividades individuais com a criança, estando além do
currículo escolar obrigatório. Foi aberta também uma categoria específica para “Programas
em Salas de Recursos”, considerando que os estudos que abordavam este contexto traziam
programas diferenciados, seja de identificação, enriquecimento e desenvolvimento, mas
especificamente direcionados a crianças e adolescentes que frequentavam este contexto.
Tabela 2. Programas utilizados nos trabalhos analisados.
Tipos de Programas
Frequência (f)
Porcentagem (%)
24
44,45
Programas de Desenvolvimento
15
27,79
Programas em Salas de Recurso
9
16,62
Programas de Enriquecimento
6
11,14
Programas de Identificação de Superdotados
A Tabela 2 evidencia que os programas mais utilizados dentro da temática referem-se
aos programas de identificação de superdotados (44%), seguido dos programas de
desenvolvimento (27%). São bem menos frequentes os programas em sala de recursos (16%)
e programas de enriquecimento (11%).
Sobre o primeiro foco, identificação, o interesse nesse processo vem, segundo Alencar
(1992), aumentando de acordo com os anos, dado o fato de que “esta atenção reflete a
consciência de que o potencial superior é um dos recursos naturais mais preciosos,
responsável pelas contribuições mais significativas ao desenvolvimento de uma civilização”
(p.22). Ainda sobre a mesma perspectiva, Vieira (2005) enfatiza a importância da
identificação da criança superdotada, uma vez que a partir desse processo que se pode olhar
de forma diferenciada para ela e garantir seu melhor desenvolvimento e enriquecimento de
seu potencial. Alencar e Blumen (1993) também enfatizam a importância de se identificar as
crianças superdotadas através de programas, tanto para crianças como para professores,
visando atender às necessidades educacionais de cada criança em sua particularidade.
Dentro do segundo foco (programas de desenvolvimento), encontram-se, por exemplo,
programas de aceleração escolar, a qual caracteriza-se, segundo Freitas e Stobaus (2011),
como a oportunidade de cumprir a proposta curricular da escola em menor tempo, avançando
com maior rapidez e com a possibilidade de maior aprofundamento, podendo acontecer por
meio da admissão precoce do aluno na escola; pelo avanço de determinada série e/ou ano,
cumprimento de uma série ou ano em menor tempo ou ainda propostas de combinações de
séries em um mesmo período. Tal recurso estaria previsto, segundo as autoras, na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/1996, no seu artigo 59.
A questão da suplementação curricular (enriquecimento) pode, de acordo com Pereira
e Guimarães (2007), ser organizada sob a forma de enriquecimento extracurricular e
intracurricular, constituindo-se em uma possibilidade de estimulação destes alunos com altas
habilidades/superdotação, a qual pode ser organizada na forma de programas de
enriquecimento que compreendem, de acordo com Pereira e Guimarães (2007), a promoção
de estímulos e experiências investigativas compatíveis com os interesses e as necessidades
apresentadas pelos alunos, “fundamentados em ações planejadas e preparadas, de modo a
propiciar troca de conhecimentos, desenvolvimento de distintas habilidades e envolvimento
em trabalhos no contexto real” (p.165).
No entanto, ao se analisar os tipos de programas que vêm sendo ofertados e
pesquisados em nosso país, não se pode deixar de salientar que a maior parte deles sofrem
dificuldades variadas, tais como a falta de recursos governamentais, de materiais adequados
às necessidades desta população especial, de um conhecimento mais sólido sobre o tema por
parte dos profissionais de educação e da sociedade em geral, conforme pontuado por Virgolim
(1997) e reforçado com pesquisas mais atuais desenvolvidas por Vieira (2010).
Considerando essa população especial, os dados também foram analisados em relação
ao tipo de amostra envolvida nos estudos, de modo a clarificar a população que mais vem
sendo pesquisada na temática da superdotação. Nesta perspectiva, a Tabela 3 traz os dados
que foram obtidos.
Tabela 3. As amostras mais utilizadas nos programas de atendimento ao superdotado.
Amostra dos Estudos
Frequência (f)
Porcentagem (%)
Alunos
24
48,00
Professores
16
32,00
Crianças
6
12,00
Adolescentes
2
4,00
Profissionais da Saúde
1
2,00
Atletas
1
2,00
De acordo com a Tabela 3, pode-se observar que a maioria dos trabalhos analisados
possui como amostra alunos (48%), seguida de trabalhos que envolvem professores, sendo
neste caso, trabalhos que envolvem a capacitação de professores com o objetivo de identificar
e atender a alunos superdotados (32%).
Enfatizando esses dados, Silva e Paixão (2010) trazem em seu estudo a importância
dos trabalhos que envolvem alunos e da forma como devem ser estimulados, seja na escola,
na família ou em qualquer outro contexto. As autoras ainda trazem a importância dos
programas especializados, assim como de professores capacitados para atender a essa
população especial.
Pode-se observar também que os dados corroboram com os achados encontrados
quando analisado os tipos de programas encontrados. Isso implica em uma relação na qual os
programas de identificação são, em sua maioria desenvolvidos no contexto de educação,
precisamente na escola (Fleith, 2006), fato que acaba por justificar a maior amostra de alunos
na tabela 3.
A seguir, outra análise fez-se importante neste estudo, referindo-se aos instrumentos
utilizados dentro dos programas de atendimento (Tabela 4).
Tabela 4. Instrumentos mais utilizados.
Instrumentos de Avaliação
Frequência (f)
Porcentagem (%)
Nenhum
26
50,98
Entrevistas semi-estruturada
10
19,61
Questionários
3
5,89
Raven
2
3,92
Técnica de observação
2
3,92
Avaliação de aprendizagem
1
1,96
Escala de valoracion de las características de
comportamento de lós estudiantes superiores
1
1,96
Inventário
1
1,96
Levantamento de representação social e aplicação de três
dilemas da teoria de julgamento moral
1
1,96
Modelo de Portas Giratórias (análise)
1
1,96
Teste de Criatividade
1
1,96
Teste de Pensamento Criativo – produção de desenhos
1
1,96
WISC
1
1,96
TOTAL
51
100
Outro aspecto analisado foram os instrumentos de avaliação psicológica utilizados nos
trabalhos. Por meio dessa análise pode-se verificar que dos 51 trabalhos analisados, 26
estudos não utilizaram nenhum tipo de instrumento (50,98%) e 19,61% dos estudos utilizaram
a entrevista semi-estruturada (n=10) como instrumento para a avaliação, seguido de
questionários (n=3), técnicas de aprendizagem (n=2) e do Teste de Raven (n=2), enquanto que
outros instrumentos apareceram em pouca frequência, como, Escala de valoracion de las
caracteristicas de comportamento de los estudiantes superiores (n=1), Inventario (n=1),
Levantamento de representação social e aplicação de três dilemas da teoria de julgamento
moral (n=1), Modelo de Portas Giratorias (n=1), Teste de Criatividade (n=1); Teste de
pensamento criativo - produção de desenhos (n=1) e WISC (n=1).
Dessa maneira, os resultados aqui encontrados a respeito dos instrumentos
psicológicos mostram que esses estão sendo pouco utilizados em estudos do tipo empírico, já
que mais da metade dos estudos não usaram nenhum tipo de instrumento, e ainda, pode-se
destacar que, dos estudos que utilizaram de instrumentos, se teve a preferência por não se
utilizar de teste psicológico, já que poucos foram os estudos que utilizaram desse recurso, e
isso pode estar relacionado com os achados de Noronha (2002), a qual relata que um dos
problemas mais graves no uso dos testes psicológicos segundo os próprios psicólogos esta
relacionado ao uso dos testes, ou seja, quanto ao uso (aplicação, correção e interpretação) do
próprio instrumento. E ainda Noronha, Primi e Alchiere (2004) destacam que quando se diz a
respeito de avaliação psicológica, muitas são as técnicas e isso de certa forma tem despertado
questionamentos de diferentes áreas da ciência, e esses estão relacionados a qualidade de
instrumentos, o uso de instrumentos, a validade que esses possuem, entre outros, e os autores
destacam que de 146 instrumentos analisados apenas 28,8% relataram ter estudos de validade,
precisão e padronização. Assim, vale aqui destacar que esse o achado desse estudo e a colação
de Noronha (2002) mostram que o uso do teste psicológico ou o uso de qualquer instrumento
psicológico tem sido um tema bastante estudado e discutido na área de Avaliação Psicológica,
e o achado nesse presente estudo pode ser o reflexo disso.
O levantamento realizado no presente trabalho teve por objetivo conhecer os
programas que vem sendo utilizados para identificação, desenvolvimento e enriquecimento de
superdotados, assim como que vem sendo focados na literatura cientifica. Os resultados
demonstraram ainda que foram encontrados mais trabalhos provenientes da região Sudeste do
Brasil, sendo mais trabalhos de identificação de superdotados (n= 24), seguido de trabalhos de
desenvolvimento (n=15), de enriquecimento (n=6) e envolvendo salas de recursos (n=9).
A fim de que um panorama mais completo possa ser traçado, estudos que envolvam
outras bases de dados, nacionais e internacionais são recomendados, assim como o
levantamento dos trabalhos provenientes de publicações de periódicos e de teses e
dissertações, de maneira que esta análise possa fornecer dados significativos e relevantes
sobre como segue a evolução da temática no país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2001). Superdotados: determinantes, educação e
ajustamento. São Paulo: E.P.U.
Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2005). Atenção ao aluno que se destaca com um
potencial superior. Revista Educação Especial, 27. Disponível em:
http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2006/01/a4.htm. Acesso em 15/05/12.
Alencar, E. M. L. (1992). A identificação e o atendimento ao superdotado. Psicologia Ciência
e Profissão, 12 (1), 22-27.
Almeida, M. A., & Capellini, V. L. M. F. (2005). Alunos talentosos: possíveis superdotados
não identificados. Educação, 1(55), 45-64.
Antipoff, C. A., & Campos, R. H. F. (2010). Superdotação e seus mitos. Psicologia Escolar e
Educacional, 14(2), 301-309.
Borges-Andrade, J. E. & Pagotto, C. P. (2010). O estado da arte da pesquisa brasileira em
Psicologia do Trabalho e Organizacional. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26,
37-50.
Fleith, D. S. (2006). Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: altas
habilidade/superdotação. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial.
Freitas, S. N. & Stobäus, C. D. (2011). Olhando as altas habilidades/superdotação sob as
lentes dos estudos curriculares. Revista Educação Especial, 24 (41), 483-500.
Gondim, S. M. G., & Bastos, A. V. B (2010). O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto
Alegre: Artmed.
Maia-Pinto, R. R., & Fleith, D. S. (2004). Avaliação das práticas educacionais de um
programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. Psicologia Escolar e
Educacional, 8(1), 55-66.
Marques, F. (2010). A contribuição de São Paulo. Pesquisa FAPESP, 171, 29-35.
Mattei, G. (2008). O professor e aluno com altas habilidades e superdotação: relações de saber
e poder que permeiam o ensino. Revista Educação Especial, 31, 75-84.
Noronha, A. P. P. (2002). Os Problemas Mais Graves e Mais Freqüentes no Uso dos Testes
Psicológicos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(1), 135-142.
Noronha, A. P. P.; Primi, R.; Alchiere, J. C. (2004). Parâmetros psicométricos: uma análise de
testes psicológicos comercializados no Brasil. Psicologia: ciência e profissão, 24 (4).
Oliveira, C. G. & Anache, A. A. (2006). A identificação e o encaminhamento dos alunos com
altas habilidades/superdotação em Campo Grande –MS. Revista Educação Especial,
27.
Disponível
em:
http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/educacaoespecial/article/view/4348/2556. Acesso em 15/05/2012.
Pereira, C. E. S., & Gonçalves, F. C. (2007). CEDET – um programa de sucesso na educação
de dotados e talentosos: entrevista com a Profa. Dra. Zenita Cunha Guenther.
Psicologia em Pesquisa, 1(2), 96-106.
Pérez, S. G. P. B. (2009). A identificação das altas habilidades sob uma perspectiva
Multidimensional. Revista Educação Especial, 22 (35), 299-328.
Rangni, R. A. & Costa, M. P. R. (2011).Altas habilidades/superdotação: entre termos e
linguagens. Revista Educação Especial, 24 (41), 467-482.
Renzulli, J. S. (2004). O que é esta coisa chamada superdotação, e como a desenvolvemos?
Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Revista Educação. 52(1), 75-131.
Silva, T. A. C. & Paixão, D. F. S. (2010). Sociedade e Altas Habilidades: contribuições e
perspectivas. Revista Educação Especial, 23 (38), 455-466.
Vieira, N. J. W. (2010). Políticas públicas educacionais no Rio Grande do Sul: indicadores
para discussão e análise na área das Altas Habilidades/Superdotação. Revista
Educação Especial, 23 (37), 273-286.
Virgolim, A. M. R. (1997). O indivíduo superdotado: História, concepção e identificação.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 13(1), 173-183.
Download

5- Políticas Públicas em Educação Especial para