Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)
Bazzo – O que é CTS?
Prof. Ângelo Marcos Queiróz Prates
26 de Junho de 2014
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Imagem tradicional da C&T
A concepção clássica das relações entre ciência,
tecnologia e sociedade se resume ao
Modelo Linear de Desenvolvimento:
mais ciência => mais tecnologia => mais riqueza => mais bem-estar
social
O crescimento econômico e o progresso social
viriam por consequência.
A ciência produz a acumulação de um conhecimento
objetivo acerca do mundo – Positivismo Lógico
2
Premissas da visão tradicional
Premissa: ciência busca a verdade e por isso precisa ficar
livre da interferência de valores sociais.
Imediato pós guerra trouxe otimismo para a C&T
(computadores, transplantes, energia nuclear) =>
reivindicação de autonomia da instituição científica diante
do controle político (financiamento público de longo
prazo, caixa preta de $$ - Vanehar Busch e o Projeto
Manhatan)
A partir da década de 1970, movimentos sociais e políticos
fazem da tecnologia moderna e do Estado Tecnocrático
alvos de sua luta => acidentes nucleares, contaminação,
derramamento de oil, leva à identificação de tecnologia
com armamentos, cobiça e degradação ambiental.
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Visão crítica




Se verifica um divórcio entre a ciência e sociedade
(ciência útil = acentua as desigualdades – Hardy 1940);
Esforços em pesquisa básica se concentram em campos
muito esotéricos, completamente distantes dos
problemas sociais cotidianos (inúteis?);
C&T aplicada vinculadas ao benefício imediato - a
serviço dos ricos, de governos e empresas poderosas;
Consulta sobre decisões de política científica ou
tecnológica somente a cientistas ou homens ou interesses
econômicos.
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Verdades se tornam Mitos
1)
2)
Mito do benefício infinito: mais ciência e mais
tecnologia conduzirão inexoravelmente a mais
benefícios sociais (Science the endless frontier)
– => bem-estar nacional depende do financiamento da
ciência básica
Mito do controle interno: controle de qualidade
científica da pesquisa já resolve problema das
responsabilidades morais. Critérios:
a) arbitragem entre os pares
b) reprodutibilidade
5
Avanço de visão crítica

Demanda para supervisionar efeitos da tecnologia sobre
a natureza e a sociedade => demanda por regulação
social da C&T;

Surgiu movimento pró-tecnologia alternativa
(movimentos ecologista, exemplo: energia solar vs
outras fontes não renováveis);

Reivindicação: novo contrato social => reorientar
prioridades e objetivos para as autênticas necessidades
sociais.
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Avanço de visão crítica
Essa reação reflete a Síndrome de Frankenstein:
as mesmas forças utilizadas para controlar a
natureza se voltem contra nós destruindo o ser
humano.
Disse o monstro a Victor Frankenstein:
“Tu és meu criador, mas eu sou o teu senhor”
Parque dos Dinossauros: temor das forças
desencadeadas pelo poder do conhecimento
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Da crítica ao novo campo de pesquisa
Assim, surge novo campo de pesquisa para compreender
a dimensão social da ciência e da tecnologia:
- CTS vê a tecnologia como um processo ou produto social
através do estudo de seus antecedentes (caracterização
social dos fatores responsáveis pela mudança científica);
- E através das conseqüências/repercussões éticas, sociais,
ambientais e culturais

filosofia e história da C&T
 sociologia do conhecimento científico
 educação em C&T
 economia da mudança técnica
8
2 Visões Contrastantes
1)
da C&T como processo/ atividade autônoma que
segue uma lógica interna de desenvolvimento.
ou
1)
como processo inerentemente social: os valores
morais, as convenções humanas (regras que
utilizamos para interpretar, representar e estruturar a
realidade), as convicções (religiosas), os interesses
profissionais, as pressões econômicas desempenham
um papel decisivo.
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Problematizar objetividade C&T (trad. européia)
Configuração de tecnologia que teve êxito não é a única
possível => estudo para entender por que algumas variantes
sobrevivem e outras não.
 Identificar processo de seleção da tecnologia como um
processo social de construção da tech (SCOT);
 Concepção linear de progresso científico-tecnológico +
crítica ao determinismo tecnológico (exemplo da evolução
das bicicletas, p.130-1) vs processo multidirecional e
quase-evolutivo de variação e seleção.
=> precisa identificar atores/relações de poder/dinâmicas de
negociação
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Problematizar objetividade C&T
Desenvolvimento tecnológico não é um processo linear de
acumulação de melhorias (há controvérsias!).
Enfoque construtivista: estuda as controvérsias científicas
ou tecnológicas usando análise das diferentes opções dos
grupos sociais relevantes.
As controvérsias surgem na opinião pública – meios de
comunicação => entra na agenda política (ex. energia
nuclear)

Conferência mundial da ONU – Budapeste, 1999,
Ciência para o Século XXI: um novo compromisso.
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Democratizar processo decisório? (trad. EUA)
Visões opostas:
1) Deixar com os especialistas as decisões com relação
à gestão do risco gerado pela aplicação do
conhecimento (argumento da complexidade das
questões/ argumento tecnocrático)
ou
2) Defesa da participação na gestão das mudanças
científico- tecnológicas, regular socialmente a
ciência.
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Argum. para democratização C&T
1) Realismo tecno-social - especialistas não podem
escapar da influência pública: as decisões tecnocientíficas nunca são neutras;
2) Necessidade de construir consenso social – a
participação pública levará a melhores resultados
(participação educará os indivíduos);
3) Ajuda a neutralizar reações negativas/ evitar
desconfiança: evitaria riscos de NIMBY: not-in-myback-yard ou BANA: build-absolutely-nothing-anywhere
=> Alternativa: consenso democrático;
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Argum. para democratização C&T
5) Especialistas tendem a promover seus interesses x
interesses do público em geral;
6) Princípio democrático: os diretamente afetados pelas
decisões técnicas têm direito de dizer algo sobre
o que
lhes afeta (autonomia moral);
7) Juízos dos leigos são tão válidos quanto os dos
especialistas (seria simplesmente outro
olhar);
=> renegociar/ repactuar relações entre ciência e sociedade:
- estabelecer os objetivos
- supervisionar
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Democratizar: como?
Problema:
1) Como identificar os atores sociais (a
sociedade?) / quais os critérios para
participação?
2) Como coordenar os diversos interesses na
participação pública (ex. através de
representações de classe?)
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Quem participa?
Critérios para definir atores relevantes?





pessoas diretamente afetadas pela inovação
tecnológica
consumidores dos produtos da C&T
público interessado por motivos políticos e
tecnológicos
comunidade científica
outros?
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Como organizar a participação?
1) Audiências públicas
• programa previamente determinado pelos
representantes da administração
• público é convidado a escutar as propostas
governamentais e a comentá-las
2) Gestão negociada
• comitê negociador composto por
representantes da administração e por
grupos de interesse envolvidos
• procurar consenso
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Como organizar a participação?
3) Painéis de cidadãos
• modelo de jurado: cidadãos comuns
escolhidos por sorteio/ amostra aleatória
para apreciar assunto no qual são leigos
• consultivo ou decisório
4) Pesquisa de opinião
• testemunho da percepção pública sobre um
assunto determinado
5) Questionar em juízo (âmbito judicial)
6) Consumo diferencial de produtos: efetividade
do controle social depende de informação e
legislação
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Como organizar a participação?
Em todos os casos precisa-se de esforço (Estado)
para otimizar mecanismos de participação:
articular uma opinião pública crítica, informada
e responsável => importância de educação em
C&T
Democracia pressupõe capacidade para entender
alternativas, expressar opiniões, tomar decisões
fundamentadas
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Contribuição CTS
•
•
para os alunos do C&T: sensibilidade crítica
acerca dos impactos sociais e ambientais
derivados das novas tecnologias/ criar
imagem mais realista da natureza social da
C&T
para os alunos das CH: capacitá-los para
participar em qualquer controvérsia pública
ou em qualquer discussão institucional sobre
tais políticas
=> diminuir abismo mútuo entre culturas
humanísticas e cientifico- tecnológicos
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Limites CTS

Não impor a priori restrições ao
desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Não estabelecer alguma classe de controle
político ou social sobre as atividades dos
cientistas.
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CTS_Aula 1_Introdução