UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL E A FORMAÇÃO DE NOVOS
PROFESSORES FRENTE A NOVAS DEMANDAS
EDUCACIONAIS
Por: Marcos Paulo Souza Dias
Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho
Co-orientadora: Profª. Fernanda Sansão Ramos Mattos
Salvador
2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL E A FORMAÇÃO DE NOVOS
PROFESSORES FRENTE A NOVAS DEMANDAS
EDUCACIONAIS
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre
– Universidade Cândido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em Docência do
Ensino Superior.
Por: Marcos Paulo Souza Dias
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que, direta ou
indiretamente,
me
deram
força
para
completar mais um passo nesta jornada
contínua e constante que é a construção do
conhecimento.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, que sempre acreditaram em
mim, a minha esposa Tatiana que me incentivou bastante na
elaboração desta monografia, com toda a sua paciência, ao meu
professor orientador, a minha professora co-orientadora e a todos
aqueles que me auxiliaram nesta jornada.
RESUMO
As
representações
sociais
são
formas
de
conhecimento
elaborados
e
compartilhados dentro de uma sociedade, tendo um objetivo prático e promovendo
a construção de uma realidade comum a um determinado conjunto social. Trata-se,
de construções mentais elaboradas por nós, através de um viés social, a partir de
um senso comum acerca de um objeto, que objetivam a interpretação e
reelaboração desse próprio objeto; diferente da representação mental, porque a sua
produção se fundamenta no social. E é através destas trocas interpessoais, que vai
se dando a sua construção. As representações sociais se manifestam a partir do
discurso e das ações do sujeito, primeiramente em um nível individual e depois em
um nível interpessoal, sofrendo na verdade a influência das relações sociais e
promovendo uma ação na realidade sobre a qual também interfere. Para Moscovici,
uma apresentação, ou a passagem de um objeto do universo científico à visão de
senso comum se constrói através de dois processos que ele chama de: o processo
de objetivação e o processo de ancoragem.
Trata-se de dois processos fundamentais indispensáveis à compreensão da maneira
como se produzem as representações sociais. Com a compreensão que as
mudanças ocorridas no mundo do trabalho e das relações sociais neste final de
século puseram em curso novas demandas de educação, estabelecendo assim os
contornos de uma nova pedagogia,
está-se afirmado assim que não existe um
modelo de formação de professores pronto, e assim, vários modelos que se
diferenciam. Por este motivo, o estudo destas atuais políticas de formação de
professores e suas representações sociais é necessário para que se possa
compreender este novo perfil de professor e esta nova pedagogia que está sendo
exigida.
Palavras-chave: representações sociais, formação de professores, professor, desvalorização do professor, políticas de formação de professores.
METODOLOGIA
Este é um trabalho baseado em pesquisas bibliográficas que se debruça nos
estudos de pesquisadores como, Serge Moscovici, Acácia Z. Kuenzer e Jodelet
para determinar o conceito de representação social e sua forma de atuação
dentro do âmbito educacional, principalmente no que se refere à representação
dos alunos egressos dos cursos de licenciatura, ou seja, os futuros
professores, significando dizer que este trabalho analisará de forma crítica o
material bibliográfico promovendo a apreensão dos conceitos, objetivos,
recursos, conhecimentos, teses, etc. acerca do assunto abordado. Logo, o
estudo desses autores possibilitará a compreensão da representação social
aplicada ao âmbito educacional no que diz respeito à formação de novos
docentes.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
01
CAPÍTULO I – As Representações Sociais.
05
CAPÍTULO II – O Professor e suas Representações.
11
CAPÍTULO III – O Professor e a sua Formação.
18
CONCLUSÃO
24
BIBLIOGRAFIA
28
WEBGRAFIA
30
1
INTRODUÇÃO
Existe uma base na formação do professor que de acordo com novas
concepções pedagógicas e demandas sociais sofre mudanças com o tempo, e
essas mudanças estão intimamente ligadas às representações sociais que são
criadas sobre o professor e sobre a própria educação em si, isso não quer dizer
que existe apenas um modelo, nesse sentido, o modelo de formação do
professor deve respeitar essa base e ao mesmo tempo estar aberto a
mudanças demandadas por questões geográficas, econômicas, culturais,
sociais e até mesmo pessoais.
Portanto, estudar as representações sociais criadas a partir destas demandas
sociais e, consequentemente, as atuais políticas de formação de professores
no que concerne a estas representações se faz necessário a fim de que se
possa compreender este novo perfil de professor e esta nova pedagogia que
está sendo exigida.
Com este propósito então é que o objetivo deste trabalho é fazer uma análise
das representações sociais dos professores, recém egressos dos cursos de
licenciatura, do ensino básico sobre a sua formação para atuar nestas classes,
suas conseqüências para os alunos e sugerir alguns procedimentos que
poderão auxiliar na solução de eventuais problemas.
A preocupação com esta temática surgiu desde o ano de 2000 quando comecei
a atuar, como estagiário, lecionando em escolas públicas e particulares a
disciplina de Língua Portuguesa e verifiquei que estava meio perdido; não
conseguia compartilhar os conhecimentos adquiridos na faculdade (apesar de
ter segurança em relação aos mesmos!) com os meus alunos. Percebi que o
modelo didático e pedagógico desenvolvido por mim não estava aproximando o
aluno do conhecimento como deveria. Isso porque o modelo utilizado por mim
era uma reprodução daquilo que eu havia vivenciado em minha época de aluno
e daquilo que havia aprendido na faculdade, tornando a aula distante daquilo
que o meu aluno almejava. Parecia que havia uma barreira entre nós. Pensei
que o fato se devia à minha condição de estudante do 4° semestre e que com o
tempo, ou seja, ao término do curso, isso estaria resolvido. Porém, ao finalizar
o curso, continuei com o mesmo problema. Com a vivência didática e a
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experiência docente adquirida ao longo dos anos tive a oportunidade de
solucionar muitos problemas simplesmente atentando para as necessidades
dos discentes, outros, através da qualificação continuada, que deve ser uma
busca constante do profissional de educação.
O aspecto intelectual do conhecimento é definido pelo ato de entender,
compreender um determinado fato ou objeto. Assim quando um sujeito
apreende as relações contidas nas propriedades que caracterizam e definem
um objeto ele está apto a estabelecer regras que caracterizam o conhecimento,
no ensino superior este aspecto é reforçado quando o professor ensina
métodos que fazem com que a aprendizagem se torne mais dinâmica e eficaz,
como por exemplo na disciplina metodologia da pesquisa científica em que o
aluno aprende métodos de pesquisa que viabilizam o conhecimento, logo, este
aspecto dentro do ensino superior é muito importante porque vai preparar o
aluno a produzir o seu conhecimento de uma forma intelectual. Já o aspecto
volitivo do conhecimento abarca quatro elementos que não podem deixar de
ser mencionados: o agente do ato volitivo, aquele que desperta o indivíduo
para o ato de desejar conhecer o objeto, pode ser definido por desejos,
inclinações pessoais, intenções,etc; depois surge a intenção que está
internamente ligada ao próprio conhecimento objetivado, é questão do “ como
posso alcançar este objetivo? “; a partir daí surge o movimento ou a vontade de
solucionar a questão, que só pode ser efetivamente observada quando surge
um obstáculo se interpondo ao objetivo desejado; finalmente teremos o quarto
momento do conhecimento volitivo que é a obtenção da solução e a reação a
esta solução a qual vem a ser a própria assimilação do conhecimento
objetivado, um fator preponderante na questão do aspecto volitivo do
conhecimento em relação ao ensino superior é que o primeiro e o segundo
momento deste processo volitivo (o agente e a intenção ) podem ser
fomentados pelo professor e pele própria instituição de ensino como resultado
de uma questão proposta pelo professor, além disso a própria resolução destes
momentos dependem de atitudes planejadas e estratégicas que podem ser
subisidiadas pelo professor e pela própria instituição de ensino. O aspecto
social do conhecimento é muito importante, uma vez que ele só se realiza
dentro de universo social, ou seja, o sujeito do conhecimento, quando criança,
tende aceitar como verdade absoluta tudo aquilo dito por um adulto, a partir do
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momento que passa a trocar experiências com outros passa a perceber-se
como um ser autônomo e critico, em função das oposições decorrentes deste
convívio social, dentro desse sistema é que se formam as mais diversas
representações. O convívio social faz desabrochar a auto-consciência e uma
consciência crítica de si próprio e de tudo que o cerca. Dentro de um universo
de ensino superior é extremamente importante que o professor saiba se utilizar
desse aspecto social do conhecimento para promover condições necessárias
para que o futuro professor exercite esse aspecto e para que saiba promover a
formação de novas representações que beneficiem a educação.
Assim, percebi que o estudo das representações sociais é um excelente
instrumento para analisar e compreender o processo educacional e
principalmente as suas demandas.
Nesse sentido compreender o que é representação social e seu movimento
dentro do âmbito educacional e como se dá o seu processo de formação
significa dar um passo em direção ao aluno, em direção às suas necessidades,
anseios, desejos e principalmente motivações.
Não adianta culpar os alunos, professores, condições adversas de trabalhos
etc. e sim pensar na(s) causa(s) de eventuais problemas e nas suas possíveis
soluções. Logo, se fez necessário, para mim, analisar as causas e possíveis
soluções deste problema, assim, estudar as atuais políticas de formação de
professores e suas representações a fim de que se possa compreender este
novo perfil de professor e esta nova pedagogia a qual está sendo exigida no
limiar deste novo milênio, além de mostrar o significado de representação
social dentro do âmbito educacional no que diz respeito ao papel do professor
frente às novas demandas sociais são objetivos deste trabalho.
Desse modo o objetivo primordial desse trabalho de pesquisa é identificar as
representações sociais dos professores recém egressos dos cursos de
licenciatura, bem como as representações criadas pelos próprios alunos.
O trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro capítulo é estudada
a representação social e sua definição à luz de estudiosos do assunto, tais
como: Sergi Moscovici, Jodelet, Abric, Farr, os quais promovem um maior
esclarecimento acerca do assunto.
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No segundo capítulo são estudadas as licenciaturas e as representações
sociais que envolvem o professor e a própria educação, através dos estudos
dos trabalhos de Sato, Henry Giroux, Gatti, Zeichner, dentre outros autores.
Finalmente no terceiro capítulo é abordada a questão da formação do professor
frente a novas demandas educacionais e às representações que promovem a
desvalorização do trabalho docente e da própria educação.
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CAPÍTULO I
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.
Toda representação social se forma a partir da construção do conhecimento
em nível social, ocasionando a formação de uma realidade desde que esta
mesma realidade seja compartilhada por um determinado grupo social. Nesse
caso formam-se construções mentais criadas a partir daquilo que tomamos por
real e das suas relações inter-sociais que promovem uma reinterpretação e,
consequentemente de uma representação de objetos, pessoas, comunidades,
instituições, etc. a fim de torná-la mais comum, tudo isso através de um viés
social, como pede se perceber nas palavras de Moscovici:
"As representações que nós fabricamos – duma teoria
científica, de uma nação, de um objeto, etc – são
sempre o resultado de um esforço constante de tornar
comum e real algo que é incomum (não-familiar), ou
que nos dá um sentimento de não-familiaridade. E
através delas nós superamos o problema e o
integramos em nosso mundo mental e físico, que é,
com isso, enriquecido e transformado. Depois de uma
série de ajustamentos, o que estava longe, parece ao
alcance de nossa mão; o que era abstrato torna-se
concreto e quase normal (...) as imagens e idéias com
as quais nós compreendemos o não-usual apenas
trazem-nos de volta ao que nós já conhecíamos e com
o qual já estávamos familiarizados” (MOSCOVICI,
2003, p.58).
Logo, a partir desta afirmação podemos observar a primeira das três vertentes
da representação social: A primeira é que as pessoas ao viverem em
comunidade acabam partilhando uma visão em comum da realidade que as
cerca, é o chamado senso comum; a segunda é que quase tudo que uma
pessoa aprendeu, até mesmo em função da convivência social, ela aprendeu
através de relações interpessoais e por último, as ideias e crenças que são
6
partilhadas vem das instituições sociais como a igreja, a família e os
movimentos sociais ( MOSCOVICI, 2003 ).
Vale ressaltar uma faceta importante da representação social, ela é uma
produção e não uma reprodução como pode parecer, isso porque sempre que
nos deparamos com algo novo e incomum buscamos representações mais ou
menos correlatas no intuito de compreênde-la e interpretá-la. Logo, quando
isso acontece o conhecimento novo parece estar sem nexo, sem sentido,
assim, “encaixamos” esse novo conhecimento em estruturas cognitivas já
conhecidas, ou seja, em nosso saber, transformando assim, não só o novo
como também o antigo. Sobre isso afirma Moscovici (1978, p.50 ):
“... são conjuntos dinâmicos, seu status é de uma
produção de comportamentos e de relações com o
meio ambiente, de uma ação que modifica aqueles e
estas,
e
não
de
uma
reprodução
desses
comportamentos e dessas relações, de uma reação a
um dado estímulo exterior”.
Ainda segundo Moscovici (1978), a representação social não é meramente a
reprodução de um objeto porque ao ser representado este é modificado, assim
“(...) a representação de um objeto é uma representação diferente do objeto”
(p.58).
Para Moscovici (2003) o senso comum é criado e recriado a partir do momento
em que um determinado conjunto social passa a ter acesso ao conhecimento
científico, já ALBARRACIN (2002) afirma que o senso comum faz parte da
representação social na medida em que é a expressão viva das idéias,
crenças, conceitos e concepções de um determinado grupo social. Ainda em
relação ao senso comum, JUNQUEIRA (1998), afirma que o
mesmo é
encarado de forma preconceituosa e até mesmo pejorativa, por trata-se de ser
um conhecimento compartilhado pelo povo é passível de ser tido como
confuso, desorganizado e arbitrário, no entanto, ainda segundo a autora o
senso comum origina as representações sociais porque é através dele que o
ser social consegue conceituar o real que o cerca.
7
Apesar dessa visão, às vezes preconceituosa, a autora reafirma a importância
do senso comum na medida em que afirma que o mesmo é alimentado com
saberes científicos adquiridos por vias formais e partilhados pelos seres sociais
através de situações interacionais.
Outra estudiosa do assunto, JODELET (1989), afirma que o ser humano
sempre precisa se ajustar ao mundo que lhe rodeia, resolvendo problemas que
se apresentem, a fim de controlá-lo. Por isso ele fabrica representações sociais
que são repassadas através das relações interpessoais dentro de um universo
social, reforçando assim seu teor social.
A ideia de representação social como a conhecemos hoje surgiu de uma
postura crítica de Moscovici em relação à atitude estritamente individualista da
Psicologia, principalmente nos Estados Unidos, que recortava o indivíduo das
relações sociais, analisando-o separada e individualmente, o que na
denominação de Farr ( 2003 ) chama-se individualização da Psicologia.
A partir dos estudos de Durkheim sobre representações coletivas, Moscovici
postulou sua teoria sobre as representações sociais inserindo na Psicologia um
elemento importante para a compreensão da mesma: o contexto social, tal
como fez Vigotsky em relação ao estudo do conhecimento-aprendizagem.
Apesar de Moscovici ter retomado o conceito de Durkheim sobre as
representações coletivas, este conceito sofreu alterações a partir dos estudos
daquele, uma vez que sofreu algumas mudanças importantes. Segundo o que
afirma Sá, as representações eram vistas como:
“(...) artifícios explanatórios, irredutíveis a qualquer análise posterior” (SÁ,
2003, p.45).
o que na visão de Moscovici era contraditório, uma vez que para ele a
Psicologia Social deve encarar as representações como fenômenos passíveis
de estudo.
Para Durkheim a representação é coletiva e para Moscovici, social, então qual
a diferença entre ambas as representações?
Primeiramente na visão de Durkheim as representações podem ser qualquer
coisa que façam parte da sociedade, como crenças, emoções, etc.,
8
MOSCOVICI (2003), enquanto que para Moscovici as representações se
configuram em qualquer forma de conhecimento presente na vida cotidiana,
que possibilitem a comunicação entre os sujeitos orientando o seu
comportamento, Sá (1993).
Para Moscovici as representações defendidas por Durkheim precisam ser
pormenorizadas, esmiuçadas, uma vez que estas possuem caráter individual e
são compartilhadas pelos membros da comunidade através do senso comum.
Nos dizeres de Moscovici:
“(...) se, no sentido clássico, as representações
coletivas
se
constituem
em
um
instrumento
explanatório e se referem a uma classe geral de idéias
e crenças (ciência, mito, religião, etc.), para nós, são
fenômenos que necessitam ser descritos e explicados.
São fenômenos específicos que estão relacionados
com um modo particular de compreender e de se
comunicar – um modo que cria tanto a realidade como
o senso comum. É para enfatizar essa distinção que eu
uso
o
termo
“social”
em
vez
de
“coletivo”
(MOSCOVICI, 2003, p.49)
Segundo, para Durkheim as representações possuem um caráter estático, uma
vez que o elemento individual é suprimido, diferentemente do que ocorre nas
representações defendidas por Moscovici, já que neste caso o elemento
humano possui papel fundamental nas representações, conferindo assim, um
teor de volatilidade, de dinâmica, às mesmas.
Outro fator importante dentro da questão da representação social é a sua
função. Será que as representações são criadas de forma aleatória ou existe
um objetivo por detrás delas?
Esta pergunta é respondida por Moscovici (2003, p.54). : “(...) a finalidade de
todas as representações sociais é tornar familiar algo não-familiar, ou a própria
não familiaridade”. Isso quer dizer que ao nos depararmos com o novo o
aproximamos de esquemas cognitivos pré-existentes, ou seja, daquilo que já
conhecemos, a fim de torná-lo compreensível, logo, de torná-lo familiar.
9
Portanto, “o ato de representação é um meio de transformar o que nos
perturba, o que ameaça nosso universo, do exterior para o interior, do
longínquo para o próximo” (p.56-57).
Além disso, toda representação social, segundo Garcia (1992), abarca diversos
componentes afetivos que se articulam entre si promovendo a dimensão das
atitudes. Vale dizer então, que toda representação associada a um
determinado objeto direciona as atitudes que se tomam a respeito do mesmo e
essa mesma representação, por sua vez, é criada a partir de determinadas
referências afetivas.
Já abordado o conceito de Representações Sociais, vale ressaltar, a
importância
dos
processos
que
as
geram.
Como
a
finalidade
das
Representações Sociais é tornar o estranho familiar são necessários dois
mecanismos: a ancoragem e a objetivação, processos que promovem a
formação das representações. Para a compreensão desses dois processos é
preciso entender a estrutura da representação.
Moscovici (1978) retrata essa estrutura da seguinte forma:
Representação = significação
figura
O autor pretende dizer com isso que toda representação tem uma face
figurativa e uma face simbólica indissociáveis como as faces de uma mesma
moeda. Logo, a representação “(...) faz compreender a toda figura um sentido e
a todo sentido uma figura” (p.65).
Finalmente, a representação social tem quatro funções primordiais, segundo
Abric (1998), a saber:
Primeira: a função do saber, as representações são um meio que as pessoas
tem de conhecer, reconhecer e, sobretudo explicar a realidade que as cercam,
promovendo assim a realização de uma comunicação social.
Segundo: a função da identidade, através das representações os atores sociais
e consequentemente seus respectivos grupos sociais, elaboram e reelaboram
suas identidades e especificidades.
Terceiro: a função de orientação, como já foi exposto
acima, as
representações sociais orientam e norteiam o comportamento dos grupos
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sociais, uma vez que as mesmas são criadas a partir de determinados valores
afetivos.
Quarto: a função de justificação, até mesmo por determinar e direcionar as
ações dos grupos sociais, as representações sociais também servem para que
esses mesmos grupos possam justificar essas mesmas ações.
11
CAPÍTULO II
O PROFESSOR E SUAS REPRESENTAÇÕES.
Atualmente os professores, principalmente os recém-saídos da faculdades, se
deparam com diversas situações que tornam o seu trabalho um pouco mais
difícil do que em uma situação normal já seria. A carga de responsabilidade
que é jogada nos ombros do professor é pesada, pois, cabe ao professor dos
dias de hoje responsabilidadesque antigamente eram inerentes à família do
aluno. Hoje o docente exerce a função de pai, mãe, psicólogo, polícia, etc., pois
o aluno vem de casa muitas vezes sem nenhuma referência familiar que os
respaldem dentro dum ambiente social como é a escola.
Essas novas responsabilidades geram novas representações criadas pelos
profissionais de educação, uma vez que, se a educação é mutável, também é
suas demandas e consequentemente também serão suas representações
sociais. Hoje espera-se muito mais do professor do que se esperava há 20 ou
30 anos .
Tais mudanças nas representações acerca do profissional de educação nos
leva também a repensar o próprio papel da educação neste novo milênio e
como esta pode ajudar a melhorar a nossa sociedade.
Nas palavras de Sato:
“A educação [contemporânea] caminha para a
construção de uma nova ordem de transversalidade
nas áreas do conhecimento, mostrando que a
interdisciplinaridade favorece a pluralidade cultural,
contribuindo para o enriquecimento do currículo
escolar, despertando o interesse por temas atuais,
onde os educadores possam olhar para a escola de
maneira diferente. Talvez sozinhos, não se muda o
curso da história, mas acreditamos que quando
moldamos a uma nova proposta, engajamos em
mudanças globais, pois quando mudamos um pedaço
do mundo, mudamos também o mundo”. (SATO, 2000).
Logo, pode-se observar que coube à educação um papel de mudar , de
transformar o mundo em que vivemos, pois chegou-se à conclusão que
estamos vivendo de uma maneira irregular e incoerente.
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Neste processo de auto-análise do homem e de consciência de mudança,ao
professor coube o papel de ser responsável, em grande parte, pela efetivação
e concretização de tais mudanças, logo, é através desse viés que as
representações acerca dos educadores são criadas pela sociedade, pelos
alunos e pelos próprios profissionais em educação.
A partir dessas novas demandas surgiram concepções, visões, opiniões
compartilhadas pela sociedade que deram vida a essas novas representações
sociais. Algumas dessas representações serão abordadas de modo a entender
como elas surgiram e principalmente como elas agem no modo de pensar e
agir do profissional de educação.
Uma das representações sobre o professor é a de que o profissional que
leciona na rede pública de ensino não tem a mesma competência do
profissional que leciona numa instituição privada de ensino.
O que acontece é que cria-se uma representação acerca de um grupo
profissional apenas com base nas atitudes de uma minoria que por possuir
estabilidade, em função de ser servidor público, não possui compromisso
profissional. Além disso compara-se dois profissionais que estão inseridos em
sistemas educacionais diametralmente opostos, pois, enquanto o ensino
particular possui recursos financeiros para subsidiá-lo, o ensino público carece
de investimentos e recursos para promover a sua melhoria.
Outra representação com a qual o professor se depara e que, na maioria das
vezes, ele próprio constrói é a de que a escola, a educação é a grande
redentora da sociedade e o professor é o seu principal personagem, Silva
(2008, p.276 ).
É justamente essa uma das grandes responsabilidades que o professor
carrega atualmente, pois a educação é vista como um meio do aluno superar
condições sócio-econômicas adversas, porém, às vezes esquece-se de que
para que a educação alcance este objetivo não basta apenas a competência e
abnegação do professor, é necessário um grande investimento, por parte do
governo em suas três esferas, sobretudo na educação pública, além de outras
medidas políticas que diminuam as imensas desigualdades sociais, o que na
prática não acontece.
13
Esse papel, “personagem”, que o professor assume e às vezes “interpreta”, de
um ser capaz de mudar as condições sócio econômicas de seus alunos, é
fruto da falta de responsabilidade com que o poder público trata a educação no
Brasil, jogando para o professor grande parte da responsabilidade pelo
fracasso educacional no país.
E essa nova representação associada à figura do professor só faz deteriorar a
visão que a comunidade tem a seu respeito, uma vez que, ao eximir-se de
grande parte da responsabilidade que lhe cabe pelo fracasso da educação o
poder público precisa encontrar um “bode expiatório” para assumir tal
responsabilidade em seu lugar, segundo Giroux, “é preciso reconhecer que a
atual crise na educação tem muito a ver com a tendência crescente do
enfraquecimento dos professores em todos os níveis de educação” (1997
p.157-164).
Então tal processo de enfraquecimento dos docentes em todos os seus níveis
só faz piorar uma situação que por si só já é ruim: a qualidade da educação no
país.
Outra grande ameaça para os atuais professores e os que estão se formando,
prestes a adentrar o mundo da educação, principalmente nas escolas públicas
é o desenvolvimento crescente de ideologias instrumentais que preconizam
uma capacitação tecnocrática para a preparação dos docentes como também
para a aplicação daquelas em sala de aula. No bojo dessa atual política de
ênfase nos fatores instrumentais e pragmáticos da formação e também da vida
escolar emergem diversas concepções pedagógicas importantes que incluem:
a dicotomia concepção X execução; o nivelamento do conhecimento escolar
com o interesse de administrá-lo e, consequentemente, controlá-lo; e o
enfraquecimento do perfil crítico e intelectual de professores e estudantes em
função de uma visão prática, conteudista e, sobretudo engessada.
Este tipo de operacionalização instrumental encontra uma de suas vertentes
históricas mais fortes no treinamento de futuros professores. Pode – se citar
como exemplo os sistemas de treinamento de professores nos Estados Unidos
que há muito tem seguido uma orientação behaviorista na mestria de áreas
disciplinares e métodos de ensino os quais estão bem documentados, assim
14
pode-se dimensionar as implicações desta política educacional, salientadas por
Zeichner:
“Subjacente a esta orientação na formação dos
professores encontra- se uma metáfora de "produção",
uma visão do ensino como "ciência aplicada" e uma
visão do professor como principalmente um "executor"
das leis e princípios de ensino eficaz. Os futuros
professores podem ou não avançar no currículo em seu
próprio ritmo e podem participar de atividades de
aprendizagem variadas ou padronizadas, mas aquilo
que eles tem que dominar tem escopo limitado (por
exemplo, um corpo de conhecimentos de conteúdo
profissional e habilidades didáticas) e está totalmente
determinado com antecipação por outros, com base,
muitas
vezes,
professor. O
como
um
em pesquisas
na
efetividade
do
futuro professor é visto basicamente
receptor
passivo
deste
conhecimento
profissional e participa muito pouco da determinação do
conteúdo e direção de seu programa de preparação”
(1983, p.4)
Tal orientação político-educacional promove a criação de uma nova
representação social na qual o professor é visto como um sujeito social pouco
representativo no que concerne à valorização da educação e de si próprio
como profissional, assim como, pouco ativo no que se refere às lutas
reivindicatórias de uma educação e de salários melhores.
Essa situação reforça cada vez mais a desvalorização do professor e essa
desvalorização, tornou-se, nos dias atuais, a representação social mais forte a
cerca dos profissionais em educação, os professores.
A citada desvalorização docente se concentra, principalmente, na questão
salarial, já que a remuneração do professor em nosso país, levando-se em
conta a importância de sua atividade, é muito baixa. Como afirma Freitag
15
(1989) a baixa remuneração é um dos fatores que contribuem para a
desvalorização do docente frente à sociedade.
Outra informação importante a respeito dessa questão nos é apresentada por
Gatti (2000) que discute como os professores se sentem frente às questões
salariais. Ao realizar uma pesquisa com professores de ensino fundamental a
autora deparou-se com um resultado bastante alarmante:
Cerca de 83% dos docentes que participaram da pesquisa indicaram como
principal fator de desvalorização profissional os baixos salários. Tal situação
acaba contribuindo para a formação de certo senso comum que, por sua vez,
dá origem a mais uma representação sobre o profissional em educação: “ser
professor é sacerdócio”.
Esteve (l999) constata que
“já houve um tempo em que se considerava o
magistério,
docente,
ou
um
mais
especificamente
sacerdócio
a
que
os
o
trabalho
abnegados
profissionais da educação deviam se dedicar quase
estoicamente” (p. 7).
Essa visão que a comunidade, os alunos e os próprios professores tem a
respeito do trabalho docente é emblemática no sentido de mostrar como essa
profissão tão importante para a sociedade é encarada de forma amadora e até
mesmo inconseqüente pelas autoridades.
Quantas vezes em minha vida docente eu já fui interpelado pelos meus alunos
acerca do motivo pelo qual eu escolhi ser professor, como se fosse loucura
escolher essa profissão e quando eu os questionava a respeito do motivo de
achar isso uma loucura eles argumentavam que “professor ganha pouco e não
é respeitado” e essa opinião é compartilhada não só pelos alunos, mas
também pela própria comunidade na qual eles estão inseridos.
Ainda em relação ao processo de desvalorização docente vale lembrar que o
seu trabalho vem sistematicamente sendo substituído por trabalho voluntário
do tipo “Amigos da escola” que preconiza que qualquer pessoa, a qual tenha
boa vontade em ajudar ao próximo, pode efetivamente participar de atividades
escolares, inclusive dando aulas, mesmo sem a formação adequada e sem o
16
compromisso de verificar o nível de formação que o aluno obteve com tal
intervenção voluntária.
Na medida em que o governo propõe deixar a cargo de voluntários, família e
comunidade a responsabilidade da educação de muitos jovens, isso evidencia
que as autoridades vem paulatinamente promovendo a desvalorização do
docente e da própria educação, eximindo-se de uma responsabilidade que é
sua. Como afirma Zeichner (2003), a educação está na mão de muitos, mas
não nas mãos corretas.
Esse discurso promovido pelo Estado de fazer a comunidade e a sociedade,
como acontece no “Alfabetização Solidária” ( onde as pessoas contribuem
financeiramente para a alfabetização de uma pessoa), participarem mais
efetivamente do processo educacional do país, nada mais é do que uma
maneira que o mesmo encontrou de se desobrigar de responsabilidades tais
como:
manter um quadro efetivo de professores para estabelecer uma
educação, de qualidade, em tempo integral nas escolas, contratar professores
de atividades especiais como música, teatro, dança, especialistas em
alfabetização, em educação de pessoas com necessidades especiais, etc.
Tudo isso demanda recursos que o governo não quer dispor, passando então
para a sociedade uma responsabilidade que não lhe cabe, como afirma
Sanfelice (2000), pois tendo pessoas de boa vontade, não há necessidade de
maior investimentos financeiros com a educação.
Além disso, tem a questão das múltiplas funções que o professor exerce dentro
da escola, onde muitas vezes cabem papéis que não pertencem as suas
diretrizes profissionais, criando assim mais uma representação acerca dos
docentes, neste caso a respeito de suas responsabilidades dentro da escola,
Libâneo (1984) nos lembra que dentro das várias correntes pedagógicas o
professor é muitas vezes induzido a desempenhar papel de mediador, de
auxiliador
de
desenvolvimento,
de
administrador
das
condições
de
relacionamento. Portanto, acabam cumprindo com muitos papéis que muitas
vezes não estão esclarecidos para eles.
Essas foram apenas algumas das representações sociais que fazem parte da
vida docente do professor, dentre muitas, positivas e negativas, justamente por
17
ser um profissional que lida com a formação educativa da sociedade,
abarcando uma enorme responsabilidade que por sua vez origina tais
representações.
18
CAPÍTULO III
O PROFESSOR E A SUA FORMAÇÃO.
É imprescendível que o estudante de curso de licenciatura tenha em mente que
a sua futura profissão, a de educador, principalmente num país onde as
desigualdades sociais são grandes e a educação é vista como a grande
redentora dessa situação, porém, sem o respaldo das autoridades públicas’
abarca questões complexas, acarretando responsabilidades e representações
sociais muitas vezes errôneas. Portanto o futuro educador precisa entender
que sua habilidade prifissional precisa ser construída através de sua formação
inicial e continuada.
"Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz
educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e
na reflexão da prática". (FREIRE, 1991, p. 58).
A reflexão acima, mais do que bonitas palavras, sintetiza de maneira clara o
que determina ser um professor e, principalmente, o que deve ser a sua
formação.
Essa visão deve nortear o professor durante toda a sua vida docente, já que a
educação é mutável e dinâmica, uma vez que traduz as práticas sociais de seu
tempo e, responde às demandas oriundas de tais práticas. Ainda mais nos dias
de hoje em que a globalização imprime a sua pisada em todos os setores da
sociedade e educação não fica fora disso.
Sendo assim o professor deve estar preparado para enfrentar esses novos
desafios que, com certeza advirão, provenientes dessas mudanças sociais
ocorridas no limiar entre velho e o novo milênio.
Nas palavras de Kuenzer:
“não existe um modelo de formação de professores a
priori, mas modelos que se diferenciam, dadas as
concepções
de
correspondem
educação
às
e
de
sociedade
que
demandas
de
formação
dos
intelectuais (dirigentes e trabalhadores) em cada etapa
19
de desenvolvimento das "forças produtivas, em que se
confrontam
finalidades
e
interesses
que
são
contraditórios. Ou seja, as demandas de formação de
professores
respondem
a
configurações
que
se
originam nas mudanças ocorridas no mundo do
trabalho e nas relações sociais, e a configurações
oriundas das diferentes posições que são assumidas
em relação aos projetos apresentados pelo grupo que
ocupa o poder a partir de determinada correlação de
forças” (1999, p.166).
É preciso rever a formação dos novos professores no que diz respeito à
questão das diferenças existentes entre os alunos dentro de uma sala de aula,
pois ninguém é igual a ninguém e em cada aluno encontramos uma
determinada demanda social que a educação tem que satisfazer, porém, nós
docentes, até mesmo por força da nossa formação acadêmica persistimos em
sonhar com um modelo ideal de aluno. Além disso é preciso se pensar na
capacitação contínua dos professores, já em exercício da profissão, no sentido
de fazer com que estes passem a reconhecer, valorizar e lidar com as
diferenças.
As
instituições
de
ensino
superior
preponderante nesse processo já que elas vão ser
possuem
um
papel
disseminadoras desse
processo de erradicação da descriminação à diversidade dos alunos, porém,
para que isso ocorra se faz necessário que as mesmas passem
por um
processo de reformulação que enfatize o respeito às diferenças sociais,
econômicas e principalmente culturais dos alunos e que, sobretudo, elas
saibam transpor as dificuldades que possam advir dessas diferenças. O que
se observa em certas universidades é um descomprometimento dessas
instituições com tal questão porque esta é simplismente suprimida dos
conteúdos e debates acadêmicos, contribuindo assim, para a formação de
professores que não estão preparados para lidar com essa situação. Então o
papel dessas instituições de ensino se torna cada vez mais importante na
equação desse problema. A própria teoria das múltiplas inteligências de
Gardner nos mostra que cada aluno é um universo diferente, pois um aluno
20
que não se sai bem em Matemática pode ser muito bom em Português, por
exemplo.
Nas palavras dele:
“Cada pessoa é um sujeito ímpar e tem forças
cognitivas diferentes, aprende de forma e estilos
diferentes de outros sujeitos, mesmo que oriundos de
uma mesma sociedade ou meio cultural.”
A atual política de formação dos docentes no país não prevê essas variantes,
debruçando-se sobre um modelo homogêneo, que não aproxima o professor
“do chão da escola”, onde o aluno e a própria educação são modelos ideais
bem diferente daquilo que o concluinte de um curso de licenciatura encontra ao
começar sua vida docente.
Esse problema ocorre tanto em universidades públicas quanto nas particulares
e decorre também em virtude da própria desvalorização da escola e do
profissional em educação, como exemplo pode-se citar a falta de formação
superior de muitos professores que só vieram a buscá-la depois da
promulgação da LDB (lei 9394/96).
A formação de docentes para atuar na educação
básica far-se-á em nível superior, em curso de
licenciatura de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida como
formação mínima para o exercício do magistério e nas
quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
E ainda estipulava que, no máximo em até dez anos após a sua promulgação,
todos os docentes que lecionassem no país teriam que ter formação superior,
no entanto não é isso que vemos treze anos após a sua promulgação.
Além disso essa formação não oferece ao aluno (futuro docente) práticas que o
ensinem a exercitar o seu senso crítico acerca da própria prática educativa, o
puramente no âmbito teórico.
Sobre isso fala Imbernón:
21
“A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos
sobre sua prática docente, de modo a permitir que
examinem suas teorias implícitas, seus esquemas de
funcionamento, suas atitudes etc., realizando um
processo constante de auto-avaliação que oriente seu
trabalho. A orientação para esse processo de reflexão
exige uma proposta crítica da intervenção educativa,
uma análise da pratica do ponto de vista dos
pressupostos
ideológicos
e
comportamentais
subjacentes”. (2001 p.48-49).
A influência da formação inicial, pretende-se, assume relevante papel na
(re)significação de contextos e práticas culturalmente definidas e defendidas,
às vezes sob a aparência libertadora e democratizante, por discursos
supostamente renovadores, que se esquecem dos principais protagonistas das
mudanças, os professores, e, sobretudo, de sua imprescindível autonomia
(Gauche, 2001).
A formação docente, tanto a inicial quanto a contínua, deve contemplar não
somente aspectos pedagógicos intra-classe, como a seleção de conteúdo, a
didática, a visão crítica do professor para
que consiga contextualizar o
conteúdo de sua disciplina com as reais necessidades de seus alunos a fim de
sempre dinamizar e rever sua prática educativa de acordo com o surgimento de
novas demandas, mas também e, principalmente, aspectos extra-classe que,
de uma maneira ou de outra, interferem no processo educacional.
Questões como as representações sociais negativas sobre o docente,
abordados no capítulo anterior, surgem justamente porque o profissional em
educação não é preparado, nem estimulado a encarar criticamente o processo
educacional como um todo, especialmente em sua esfera superior, fonte de leis
e diretrizes que regem nossa educação.
Muitas representações sobre o professor, a sua desvalorização, o seu
“sacerdócio”, o baixo valor monetário agregado ao seu trabalho docente, a
baixa estima associada à sua profissão, etc. poderiam ser combatidas se a sua
formação se debruçasse não apenas sobre aspectos pedagógicos, mas
22
também sobre aspectos político-sociais imbuindo o profissional de uma visão
mais crítica.
Diante de tudo isso as universidades precisam reformular seus cursos de
licenciatura não só no sentido de prepará-los para atuar dentro da sala de aula,
mostrando uma perspectiva mais real da educação para os futuros professores
e também preparando-os para serem críticos e atuantes fora da sala de aula.
Sobre esta questão afirma Pimenta (1998),
(...) há um contingente maciço de egressos dos cursos
de pedagogia que, curiosamente, não estudaram
pedagogia (sua teoria e sua prática), pois esses cursos,
de modo geral, oferecem estudos disciplinares das
ciências da educação que, na maioria das vezes, ao
partirem dos campos disciplinares das ciências-mãe
para falar sobre educação, o fazem sem dar conta da
especificidade do fenômeno educativo e, tampouco,
sem tomá-lo nas suas realidades histórico-sociais e na
sua multiplicidade – o que apontaria para uma
perspectiva interdisciplinar e multirreferencial.
É preciso que os profissionais da educação e os formadores desses
profissionais compreendam que a educação é um processo de humanização, e
que esta é permeável a mudanças decorrentes de estruturas sociais e
econômicas mutáveis de acordo com as necessidades de seu tempo. Estamos
todos juntos em barco e nós, professores, precisamos tomar o leme desse
barco, a fim de termos uma direção segura e seguirmos rumo à educação de
qualidade que almejamos. (BRANDÃO citado por GADOTTI, 1994)
Logo, se faz necessário uma nova resignificação do que é ser professor e de
quais as responsabilidades que estão no seu bojo a fim de que novas
representações sociais, acerca dessa profissão e de sua importância para o
crescimento de um país, sejam criadas de modo a fortalecê-la e não
enfraquecê-la, como vemos na maioria das vezes, representações que tem
23
unicamente
por
finalidade
desestruturar
e
promover
uma
crescente
desvalorização do professor e, consequentemente, da própria educação.
24
CONCLUSÃO
O referido avanço dos estudos acerca da representação social revela a
contemporaneidade epistemológica da mesma, que leva aos questionamentos
paradigmas obsoletos da construção das ciências humanas, como os
paradigmas behaviorista, que nega a validade de uma abordagem mais aberta
dos fenômenos mentais em suas especificidades; o paradigma positivista que
teima em eliminar da realidade psicológica e social a sua dimensão simbólica,
ou seja, a teoria da representação social e o avanço em suas pesquisas vem
acrescentar, às pesquisas no campo educacional, mais um elemento
direcionador e norteador das mesmas.
Enfim, a noção de representação social abre um espaço novo, fecundo e
renovador para as ciências psicológicas e sociais, como tem demonstrado a
realização de centenas pesquisas quer na Europa, quer nas Américas, como
um todo. Considerando-se que a representação social se mostra rica de
elementos e conceitos psicológicos e sociais, tal riqueza a elege como uma
construção transversal no seio das diversas ciências humanas. À medida que
confirma a improdutividade dos velhos paradigmas behaviorista e positivista, a
noção de representação social, diante do desenvolvimento de novos saberes
como a informática, a cibernética, a inteligência artificial, o empirismo lógico, a
filosofia da linguagem e outros, se mostra como uma proposta renovadora e
unificadora.
No combate ao ensino mercantilista, os problemas relativos à implementação
do novo traduzem a difícil relação entre a teoria e prática. Trata-se de uma
questão complexa porque tanto o acesso ao campo das idéias como a
disponibilidade para a mudança das práticas decentes já superadas remetem
a uma conjuntura de fatores que certamente extrapola a dimensão pessoal e
institucional de um professor em uma determinada escola. Para além dos
casos particulares, importa também considerar a formação do educador, suas
condições de trabalho, a estrutura do sistema escolar e, finalmente, a política
de valorização de ensino em nosso país.
É preciso rever a formação dos novos professores no que diz respeito à
questão das diferenças existentes entre os alunos dentro de uma sala de aula,
25
pois ninguém é igual a ninguém e nós docentes, até mesmo por força da nossa
formação acadêmica persistimos em sonhar com um modelo ideal de aluno, ou
seja criamos uma representação social acerca do nosso aluno.
Além disso é preciso se pensar na capacitação contínua dos professores, já
em exercício da profissão, no sentido de fazer com estes passem a
reconhecer, valorizar e lidar com as diferenças. O professor universitário possui
um papel preponderante nesse processo já que ele vai ser um disseminador
desse processo de erradicação da descriminação à diversidade dos alunos,
porém, para que isso ocorra se faz necessário que ele próprio passe por um
processo de formação que enfatize o respeito às diferenças sociais,
econômicas e principalmente culturais dos alunos e que, sobretudo, ele saiba
transpor as dificuldades que possam advir dessas diferenças. O que se
observa em certas universidades é um descomprometimento dessas
instituições com tal questão porque esta é simplismente suprimida dos
conteúdos e debates acadêmicos, contribuindo assim, para a formação de
professores que não estão preparados para lidar com essa situação. Então o
papel do professor universitário se torna cada vez mais importante na equação
desse problema. A própria teoria das múltiplas inteligências de Gardner nos
mostra que cada aluno é um universo diferente, pois um aluno que não se sai
bem em Matemática pode ser muito bom em Português, por exemplo.
Na análise das metodologias de ensino seria uma ingenuidade acreditar que o
professor de hoje reproduz a mesma didática de outrora. Embora a máxima
"ensino tal como aprendi" não possa ser completamente descartada e a maior
permeabilidade de novas posturas sejam desafios desejáveis ao nosso sistema
educativo, o professor também vem sendo influenciado pelos discursos
construtivista dos últimos vinte anos.
No confronto entre professores recém formados e docentes com alguns anos
de experiência, existe forte indício de que o professor de hoje, está muito mais
sensível à necessidade de ampliar a quantidade e qualidade das aulas em sala
de aula, admitindo com maior facilidade dinamizar as práticas do ensino e se
dispõe com maior freqüência a interagir com seu aluno.
O maior foco de resistência docente parece estar na inconsistência dos
paradigmas capazes de subsidiar a transformação de ensino. Pela falta de
26
segurança, dificilmente o professor abre mão de controlar o processo o qual
está fundamentado em etapas diretivas, pré-determinadas e inflexíveis.
Assim, garantir a aprendizagem de qualidade tem sido a maior função dos
atuais modelos de educação desse país, se considerar que historicamente o
fracasso escolar (altos índices de repetência e evasão) vem marcando
tragicamente a trajetória da educação brasileira.
Esforços individuais e de diversas ordens a fim de contribuir na construção de
alternativas que venham produzir mudanças estruturais na escola como um
todo e na prática pedagógica do professor vem sendo realizadas. No campo
teórico, há uma forte investida no desenvolvimento de pesquisas que fomentem
novos
paradigmas
educacionais,
que
se
centrem
na
garantia
da
democratização da aprendizagem.
O grande desafio da educação superior nos dias de hoje se encontra no fato de
qual caminho deve percorrer: trilhar o caminho do continuismo onde se
reproduz mecanismos e representações sociais que perpetuam o sistema
perverso de exclusão dos menos preparados e desvalorizam a própria
educação e consequentemente os próprios professores ou trilhar um novo
caminho onde se vai criar novos mecanismos que estimulem o ingresso das
pessoas na sociedade de
todas as formas possíveis: social, política e
econômica. Podemos perceber em certas instituições de ensino superior essa
consciência de mudança, onde o grande foco não é preparar o aluno para
competir no mercado e destruir seu concorrente e sim, prepará – lo para ser
um agente crítico e consciente dentro da sociedade na qual está inserido,
capaz de propor mudanças quando achar necessário. Os professores, como
sempre, possuem um papel importante nesse processo, pois, são o elo entre a
instituição de ensino e os alunos e, consequentemente difusores desses novos
ventos que varrem as velhas ideias.
Assim, para que essas situações levantadas e estudadas sejam superadas é
imprescindível que o professor reflita, argumente e principalmente tenha uma
visão crítica sobre o papel que hoje estão lhe atribuindo, seja a partir de teorias
educacionais, seja pelas representações sociais que, muitas vezes, são
nocivas ao seu trabalho, seja por políticas salariais que tiram a dignidade de
seu trabalho e de sua existência.
27
Buscamos no final deste trabalho encontrar respostas que justifiquem a atual
situação em que se encontra a figura do professor na sociedade e, assim,
contribuir para o resgate de seu papel na educação, tanto daqueles que já
atuam na nela, como daqueles que futuramente atuarão.
28
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Marcos Paulo Souza Dias - AVM Faculdade Integrada