UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EM TERAPIA DE FAMÍLIA
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Terapia de Família em Comunidade
Dominada pela Violência: Morro do Borel
Por: Ana Maria Carvalho Vaz
Orientadora
Professora Maria Ester de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro
2003
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EM TERAPIA DE FAMÍLIA
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Terapia de Família em Comunidade
Dominada pela Violência: Morro do Borel
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como condição prévia para
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Terapia de Família.
Por: Ana Maria Carvalho Vaz
AGRADECIMENTOS
Aos familiares e Usuários do Programa de
Reabilitação em Comunidade PRC/Tijuca da
FUNLAR - Fundação Municipal Lar Escola
São Francisco de Paula -, moradores da
Comunidade do Borel, que à semelhança
dos sobreviventes dos campos de concentração Nazistas, após o holocausto, ainda
conseguem fazer opção pela poesia das pequenas importâncias e pelas insignificâncias
do cotidiano. Seus depoimentos me fizeram
acreditar que falhou o encontro do homem
com o homem.
DEDICATÓRIA
À memória de meu pai Francisco Vaz que
partiu antes da conclusão desta tarefa e à
minha mãe Eduarda Isabel pelo incentivo de
sempre. Ao meu Marido Paulo Raimundo,
pelo apoio, a paciência e o amor dedicados
durante a gestação destas páginas, tempo
de oportunidade que gerou o nosso primeiro
filho, “que vem chegando e eu já escuto os
seus sinais”.
“Pôr-do-Sol, nome artístico de Ambrogio Trovati. Ele
dizia que se orgulhava do apelido que lhe convinha
perfeitamente, porque era um homem ofuscado, que
vivia de fantasiosos expedientes, num
estado de
alma de perpétua rebelião frustrada. Passara a adolescência e a juventude entre o palco e a prisão e
parecia que as duas instituições (o teatro e a prisão),
não estavam claramente
divididas em sua mente
confusa. A prisão num campo de concentração na
Alemanha, mais tarde durante a Segunda Grande
Guerra Mundial, devia ter lhe dado o golpe de misericórdia. Em suas conversas, o verdadeiro, o possível e o fantástico formavam um nó imbricado, variável e inexplicável. Falava da prisão e do tribunal
como de um teatro, onde ninguém é realmente ninguém, mas cada um representa, demonstra a sua
habilidade, entra na pele de outro, interpreta um papel; e o teatro, por sua vez, era um grande símbolo
obscuro, um instrumento tenebroso de perdição, a
manifestação externa de uma seita subterrânea,
malvada e onipresente, que impera para dano de
todos, e que vem bater à nossa porta, para nos agarrar, pôr em nós uma máscara, para que sejamos
o que não somos e façamos o que não queremos.
Essa seita é a Sociedade: o grande inimigo, contra
quem ele sempre combatera, e sempre fora vencido,
conseguindo, porém, reerguer-se heroicamente todas as vezes.”
Primo Levi, em A Trégua.
“Duvido que o morador do Jacarezinho tenha lido ‘A
Trégua’, de Primo Levi - escritor que sobreviveu aos
campos de concentração nazistas e se dedicou a
descrever seus horrores -, mas o raciocínio era exatamente o mesmo.”
Luiz Eduardo Soares, em Meu Casaco de General Quinhentos dias no front da segurança pública do
Rio de Janeiro.
“Esta é uma guerra peculiar, onde os sujeitos históricos que possuem as armas mais ricas e poderosas
juram que estão disparando flores, progressos e disciplinas.”
Sidney Chalhoub, em Medo branco de almas negras:
escravos libertos e republicanos na cidade do Rio.
“Você conhece velho adágio segundo o qual o besouro se acostuma viver no meio das fezes; aquelas pessoas podem ou não ter gostado das fezes,
mas com certeza viviam em meio a elas.”
Hammod, o velho, ao falar da ‘civilização comercial’
em Notícias de Lugar Nenhum, de William Moris.
RESUMO
Este trabalho pretende apontar a dificuldade de estabelecer a prática da Terapia Familiar em comunidades - favelas - dominadas pela violência. O estudo foi
realizado a partir de pesquisa elaborada com moradores do Borel, Tijuca, Rio de
Janeiro. Trata-se de uma pequena amostra e projeção em modelo reduzido de
estruturas familiares que apresentam conflitos, localizadas em uma comunidade
envolvida por um contexto sócio - econômico e cultural profundamente marcada
em seu dia-a-dia por diversas formas de violências: o tráfico de drogas; a miséria;
o desemprego; o abandono e a violência do Estado representado pelas polícias
civil e militar; e o preconceito e a indiferença da sociedade do asfalto para com as
populações carentes. Partindo de diferentes abordagens e posições teóricas este
texto demonstra que as causas históricas da violência tem raízes no passado colonial brasileiro - anterior à formação da primeira favela no Rio de Janeiro, no final
do século XI, São raízes políticas, culturais, psicossociais e individuais. Discorre
também sobre as famílias estigmatizadas pelo preconceito, simbolizado de diferentes maneiras, resultado de fragmentação, por vezes conflituosa, que caracteriza a cultura contemporânea: chacina e terror policial, delitos cometidos por gangues ou turmas de jovens, bailes funk, arrastões, os conflitos com lutas sociais e
políticas glamourizados pela televisão e pelo cinema, imagens fortes em foto e
telejornalismo. E, busca ultrapassar uma perspectiva reducionista do fenômeno,
ao fazer uma análise menos moral e normativa do tema Terapia de Família em
moradores de comunidades carentes (favelas) e suas inter-relações, origens, expansão e conflitos, e relações entre território, espaço urbano, democracia e sujeitos sociais. A pesquisa no Borel mostrou que a Terapia de Família em estruturas
familiares atingidas pela violência, em alguns casos, pode levar fazer o indivíduo
a expressar o seu descontentamento diante da realidade (ou dinâmicas fundamentais da própria realidade), possibilitando deflagrar tentativas de mudanças ou processos de renovação social, dentro de uma linha de ação com a família, promovendo debate familiares sobre os temas violência doméstica, uso de drogas e técnicas de solução de conflitos através do diálogo.
METODOLOGIA
Esta monografia aproveita a experiência do trabalho de campo do Programa de Reabilitação em Comunidade - PRC/Tijuca, da Fundação Municipal Lar Escola São Francisco de Paula - FUNLAR, órgão da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, da Prefeitura do Rio de Janeiro que parte de uma linha de ação
com a família, debate a violência doméstica, o uso de drogas e técnicas de solução de conflitos através do diálogo visando reverter o processo de exclusão social.
Sobressaiu ao final, a perspectiva do entrevistado e de sua família, tomando-as
como ponto de convergência da diversidade de valores individuais, familiares e
sociais.
A pesquisa bibliográfica deu-se por um sentido de transculturalidade científica, optando-se por um olhar sociológico que revelou a relação da violência com
as famílias. Reuniram-se dados ainda fragmentados, apresenta certos recortes
temáticos e vícios interpretativos que precisam ser mapeados para uma melhor
compreensão dos problemas envolvidos.
O livro “Meu Casaco de General – Quinhentos dias no front da Segurança
Pública do Rio de Janeiro, de Luiz Eduardo Soares, foi a chave para compreender
a realidade os moradores da favela. A obra de Soares, anexou a prática à teoria
do estudo psicossocial da violência em comunidades carentes, evidenciando a
resolução dos conflitos familiares gerados violência como fator determinante para
o equilíbrio emocional na estrutura familiar dos moradores entrevistados na Comunidade do Borel. No livro estão fartamente assinalados fortes depoimentos, entrevistas corajosas e narrativas emocionantes com moradores das favelas que
expõem suas dores psicológicas. Na pesquisa bibliográfica, constatou-se a ausência de trabalhos que abordem o problema da violência psicológica e emocional na
cidade do Rio de Janeiro – especialmente nos morros cariocas. Localizaram-se
textos referentes à violência física – agressões e crimes violentos com óbitos -,
todos devidamente comprovados, segundo dados estatisticamente confrontados.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
I
- FAVELA: UM SÉCULO DE “PROBLEMA”
II - A VIDA NA FAVELA
III - A “CLASSE DOMINADA”
IV - VIOLÊNCIA E MEDO NA FAVELA
4.1 – O MEDO NA COMUNIDADE
4.2 – DEPOIMENTOS
V - TERAPIA DE FAMÍLIA EM FAVELA
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
ÍNDICE
FOLHA DE AVALIAÇÃO
INTRODUÇÃO
Na pesquisa sobre o efeito da violência em famílias de comunidades carentes, o pesquisador caminhou para a uma encruzilhada teórica, política e ética. Só
psicologia não foi suficiente para compreender os conflitos inter-familiares e contribuir para a resolução dos mesmos. Lançando um olhar sociológico sobre o problema das famílias vítimas da violência nas favelas, surgiram muitas possibilidades de esclarecimento. Este trabalho pertence ao campo da psicologia social.
O Capítulo I, Favela: Um século de “problema”, relata a formação do
primeiro aglomerado habitacional estabelecido no morro da Providência, atrás da
Central do Brasil, no Rio de Janeiro, conhecido como o morro da Favela. Desde o
surgimento da primeira favela em 1897, surgiram na cidade do Rio quase 600 favelas, o que corresponde neste ano de 2003, a 17% do total dos habitantes da
cidade, segundo Alba Zaluar e Marcos Alvito, organizadores do livro Um Século
de Favela(Fundação Getúlio Vargas Editora, 3ª edição, Rio de Janeiro, 2003).
Os sub-capítulos 1.1 – A história de um preconceito e 1.2 - A “cidade
negra”, apontam o problema do preconceito, desde o nascimento das favelas, já
nascidas com a marca da precariedade urbana, resultado da pobreza de seus moradores e do descaso das autoridades governamentais que nunca se interessaram
em promover a inclusão social dos favelados. Os governos, ao contrário, alimentaram junto à população do asfalto, o preconceito em relação aos moradores favelizados, contribuindo para fazer da favela o lugar da carência, da falta, do vazio, do
perigo a ser combatido ou como nas palavras de Carlos Lessa:
“A favela, no plano das representações, inspirou sentimentos
humanitários ao imaginário preconceituoso, da idealização
do estar mais pertinho do céu ao território promíscuo de populações sem moral, foco de doenças, sítio de vadiagem.
Deus e demônio habitam a favela.” (Zaluar, 2003, orelha)
O Capítulo II - A Vida na favela, trata da vida em família nas comunidades
carentes, marcada por uma ruptura que serve como delimitação de uma espécie
de fronteira visível que caracteriza o que se chama de “cidade cerzida” ou “cidade
partida”, segundo Zuenir Ventura citado por Luiz Eduardo Soares(2000, p.45) em
Meu Casaco de General. O segundo capítulo deste trabalho afirma que captar os
conflitos pessoais dos moradores de uma comunidade carente – uma favela – requer uma pesquisa multidisciplinar, numa leitura sociológica, psicológica, antropológica, histórica e filosófica, porque a favela é rica em criatividade cultural e política com uma capacidade de luta e de organização demonstradas através de um
século de existência como é abordado no primeiro capítulo deste trabalho.
O Capítulo III - A “Classe Dominada” aborda a crucial questão da dor dos
que vivem dominados pelas diversas formas de violências e aguardam passivamente que algum acontecimento externo venha salvá-los do abismo em que suas
famílias se encontram, envolvidas pela barbárie que se instalou na “cidade partida”, e que não atinge apenas a turma do andar de baixo, os moradores das favelas, mas também a turma do “andar de cima”, as elites que vivem no asfalto. A
paz, distribuída – comida, justiça, moradia direitos civis, educação, saúde e liberdade -, não é mais privilégio exclusivo das elites. A insegurança derramou sobre a
“cidade cerzida” e o medo hoje é um sentimento democrático. Por mais que os
dois mundos permaneçam apartados, asfalto e favela compartilham os efeitos da
violência.
O Capítulo IV - Violência e medo na favela, mostra a violência gerando o
medo nos moradores. As causas são históricas, pois o Brasil tem no seu começo
um pecado original: a violência da conquista e da invasão. A colonização implica
um ato de extrema violência organizada, sistematizada e continuada.
O sub-capítulo 4.1 - O medo na comunidade aponta para a construção da
violência, imposta através do medo, comenta o caráter ideológico da palavra “violento” que fica claro quando é utilizado sistematicamente para caracterizar “o ou-
tro”, que não pertence ao mesmo estado, raça, grupo, família, bairro,etc. Em algumas cidades, o crime e a violência são como um artifício ou um idioma para se
pensar sobre o outro.
O sub-capítulo 4.2 - Depoimentos, relata declarações fortes de moradores
de favelas, atingidos pela violência e abalados psicologicamente pela dor, assim
explicada por Leonardo Boff:
“Mercado da dor: onde as pessoas vendem suas tragédias.
Se retirar ou roubar do ser humano a dor, não lhe sobra
mais nada. A lei da oferta e da procura não é nenhuma desculpa”(Boff, 1996, p.95)
Diante dos depoimentos, não se pode desrespeitar a dor e minimizar a morte, tomando-a como apenas mais um caso, conversível em cifras, números e tendências. O trabalho mostra que se deve compartilhar o luto, não minimizar as razões da dor e a magnitude do drama humano vivido pelos moradores das comunidades carentes, além de reconhecer as falhas e indicar caminhos futuros positivos, abrindo uma brecha para a esperança, sem cair na armadilha de explicar a
tragédia.
O Capítulo V - Terapia de família em favela, conta sobre o aparecimento
da Terapia de Família com a finalidade de curar “a dor da família” que inicia uma
tratamento terapêutico quando seus processos de crescimento e mudança atingem o limite, passando a repetir infinitamente o mesmo padrão de comportamento
e sentimentos. Esclarece ainda que a Terapia de Família objetiva destruir este
padrão, para forçar a família a desenvolver novas maneiras de relacionar-se.
Aponta também para a dificuldade, senão a quase impossibilidade de aplicar a terapia de família em moradores de comunidades dominadas pelas violências e alcançar os mesmos efeitos quando aplicados em famílias de classe média
residentes no “asfalto”.
De acordo com as respostas aos questionários aplicados nos moradores da
comunidade do Borel em entrevistas, eles podem perder suas referências, seus
valores, identidade e ética, devido à violência a que estão expostas. Esperamos
que este texto contribua para uma melhor reflexão dos que atuam como psicoterapeutas familiares, e demais pessoas que se interessem em tratar de questões,
como a necessidade das famílias das comunidades viverem em harmonia, resgatando a sua auto-estima fortemente abafada.
CAPÍTULO I
FAVELA: UM SÉCULO DE “PROBLEMA”
“Podem me prender/ Podem me bater/
Podem até deixar-me sem comer/ Que
eu não mudo de opinião/ Daqui do morro eu não saio não(...)”.
(Opinião, Zé Kéti, 1963).
1. 1 - História de um preconceito
Desde que os primeiros aglomerados que se formaram nos Morros
da Providência e de Santo Antônio, por volta de 1897, no Rio de Janeiro,
capital da República, segundo Alba Zaluar e Marcos Alvito, organizadores
de UM Século de Favela, a Cidade ficou entrecortada por interesses e conflitos regionais profundos. As quase 600 favelas que existem hoje na cidade
do Rio de Janeiro- correspondendo por 17% do total dos habitantes da cidade -, tornaram-se uma marca da capital federal, em decorrência (não intencional) das tentativas dos republicanos radicais e dos teóricos do embranquecimento – incluindo-se aí os membros das várias oligarquias regionais -, para torná-la uma cidade européia. Cidade desde o início marcada
pelo paradoxo, a derrubada dos cortiços resultou no crescimento da população pobre nos morros, charcos e demais áreas vazias em torno da capital.
Mas isso também de deveu à criatividade cultural e política, à capacidade
de luta e de organização demonstradas pelos favelados nos 100 anos de
sua história. E a capital federal nunca se tornou européia, graças à força
que continuaram a ter nela a capoeira (ou pernada ou batucada), as festas
populares que ainda reuniam pessoas de diferentes classes sociais e raças,
as diversas formas e gêneros musicais que uniam o erudito e o popular, especialmente o samba.
Mas favela ficou também registrada oficialmente como a área de habitações irregularmente construídas, sem arruamentos, sem planos urbanos, sem esgotos, sem água, sem luz. Dessa precariedade urbana, resultado da pobreza de
seus habitantes e do descaso do poder público, surgiram as imagens que fizeram
da favela o lugar da carência, da falta, do vazio a ser preenchido pelos sentimentos humanitários, do perigo a ser erradicado pelas estratégias políticas que fizeram do favelado um bode expiatório dos problemas da cidade, o “outro”, distinto
do morador civilizado da primeira metrópole que o Brasil teve. Lugar do lodo e da
flor que nela nasce, lagar das mais belas vistas e do maior acúmulo de sujeira,
lugar da finura e elegância de tantos sambistas, desde sempre, e da violência dos
mais
famosos bandidos que a cidade conheceu ultimamente, a favela
sempre inspirou e continua a inspirar tanto o imaginário preconceituoso dos que
dela querem distinguir quanto os tantos poetas e escritores que cantaram suas
várias formas de marcar a vida urbana no Rio de Janeiro.
Do dualismo que persiste em muitas das atuais interpretações das favelas,
o Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, guarda um interessante documento datado
de 4 de novembro de 1900. Trata-se de uma carta do delegado da 10ª circunscrição ao chefe da polícia, dr. Enéas Galvão:
“Obedecendo ao pedido de informações que V. Exa., em
ofício sob nº 7.071, ontem me dirigiu relativamente a um local do jornal do Brasil, que diz estar o morro da Providência
infestado de vagabundos e criminosos que são o sobressalto
das famílias no local designado, se bem que não haja famílias no local designado, é ali impossível ser feito policiamento
porquanto nesse local, foco de desertores, ladrões e praças
do Exército, não há ruas, os casebres são construídos de
madeira e cobertos de zinco, e não existe em todo o morro
um só bico de gás, de modo que para a completa extinção
dos malfeitores apontados se torna necessário um grande
cerco, que para produzir resultado , precisa pelo menos de
um auxílio de 80 praças completamente armadas(...) Parece,
entretanto, que o meio mais prático de ficar completamente
limpo o aludido morro é ser pela Diretoria de Saúde Pública
ordenada a demolição de todos os pardieiros que em tal sítio
se encontram, pois são edificados sem respectiva licença
municipal e não têm as devidas condições higiênicas “.
A carta do delegado foi encaminhada a um assessor do chefe de polícia,
acompanhada do seguinte parecer, de 8/11/1900: “Parece-me que ao Sr. Prefeito
devem ser pedidas, a bem da ordem e da moralidade públicas, as providências
que julgar necessárias para a extinção dos casebres e pardieiros a que alude o
delegado.”
Os dois documentos pesquisados no Arquivo Nacional mostram que o
“morro da Favela”, apenas três anos depois do Ministério da Guerra permitir que
ali viessem a se alojar os veteranos da campanha de Canudos (terminada em 1º
de outubro de 1897), já era percebido pelas autoridades policiais como “um foco
de desertores, ladrões e praças do Exército”. E mais, a carta do delegado da 10º
circunscrição parece conter a primeira menção à favela como um duplo problema:
sanitário e policial( aos quais o assessor do dr. Enéas Galvão acrescentou a “moralidade pública”), que poderia, por isso mesmo, ser resolvido de um só golpe. A
idéia de favela como um “foco”, a menção à limpeza, isto é, a retórica centrada
nas concepções de uma “patologia social” e da “poluição” estava destinada a uma
longa permanência na cena institucional carioca do século XX. Porém, a proposta
de cercar um morro habitado por pelas “classes perigosas” não era nova. Os morros da cidade já no início do século XX eram vistos pela polícia e alguns setores
da população como locais perigosos e refúgios de criminosos. Examinando as estatísticas criminais, um especialista em história da polícia desmente essa idéia,
afiançando que , nas diversas regiões da capital federal de então, “a distribuição
dos tipos de crimes e contravenções é semelhante”. Apesar do que se costuma
afirmar com freqüência na literatura da favela, esta já começa a ser percebida
como um “problema”, no momento em que surge e continua até os dias atuais.
Em 1905, no artigo “Onde moram os pobres”, publicado na revista Renascença, Backheuser, E., afirmava que a “Favela”, embora contasse com apenas
100 casebres, já era motivo de preocupação para o então prefeito Pereira Passos:
“O ilustre dr. Pereira Passos, ativo e inteligente prefeito da cidade, já tem as suas
vistas de arguto administrador voltadas para a “Favela” e em breve providências
serão dadas de acordo com as leis municipais, para acabar com esses casebres.”
O prefeito Pereira Passos, entretanto nada fez e a “Favela “ continuou a
crescer . Mas o morro da Providência chamava a atenção das autoridades, como
sugere a caricatura publicada na revista “O Malho” em 1908. Nela vemos o Dr.
Oswaldo Cruz, ostentando uma braçadeira com o símbolo da saúde no braço esquerdo, expulsando a população da “Favela”. A legenda informava: “A Higiene vai
limpar o morro da Favela, do lado da estrada de ferro Central. Para isso, intimou
os moradores da Favela a deixarem o morro em 10 dias”. Mais uma vez, não deu
em nada. No mesmo ano, Olavo Bilac escreve uma crônica cujo título “Fora da
Vida”, parece dizer que a única existência que merece ser chamada como tal é a
que transcorria nas avenidas e bulevares da cidade reformada. Comentando o fato
de ter conhecido uma lavadeira no morro da Conceição (perto do que hoje é a
praça Mauá) que não descia ao centro da cidade há 34 anos, afirma em tom épico:
“Fizemos cá embaixo a Abolição e a República, criamos e
destruímos governos (...) mergulhamos de cabeça para baixo (...) andamos beirando o despenhadeiro e a bancarrota,
rasgamos em avenidas o velho seio urbano, trabalhamos,
penamos, gozamos, deliramos, sofremos – vivemos. E, tão
perto materialmente de nós, no seu morro, essa criatura está
lá 33 anos tão moralmente afastada de nós, tão separada de
fato da nossa vida, como se, recuada no espaço e no tempo,
estivesse vivendo no século atrasado, e no fundo da China
(...) essa criaturas apagadas e tristes, apáticas e inexpressivas, que vivem fora da vida..”.
Olavo Billac, na crônica referida, chama a favela de “uma cidade à parte” e
“a mais original de nossas subcidades”. Benjamim Costellat, escreveu Jornal do
Brasil, que a favela é uma “cidade dentro da cidade”. Oestes Barbosa, sambista,
afirmava categórico: “Há, sem dúvida, duas cidades no Rio”. Lima Barreto, crítico
mordaz disse: “Vê-se bem que a principal preocupação do atual governador do
Rio de Janeiro é dividi-lo em duas cidades: uma será européia e a outra indígena”.
Está registrado portanto, entre 1908 e 1923, quando Billac e Lima Barreto
publicaram suas opiniões sobre a favela, o conceito de dualidade que permeia no
discurso sobre a favela, desde o aparecimento da primeira em 1897, no morro da
Providência e se mantêm até hoje. Esta dualidade é contemporânea da idéia de
“dois brasis” – oposições englobadoras de cada lado da sociedade brasileira -, que
remonta aos relatos dos viajantes estrangeiros que aqui aportaram no século XIX,
como ensina Eunice Duhram:
“Afirmava-se a existência de uma dualidade fundamental,
através da qual se acostumava opor, de um lado, a tecnologia rudimentar e a organização patrimonial do sistema tradicional, retrógrado e pobre, baseado nas relações pessoais
de dominação, lealdade e obrigações mútuas; de outro, um
sistema capitalista industrial em expansão progressista e rico, fundado na concepção do lucro, na racionalização do
processo produtivo, na burocratização das instituições, na
impessoalidade das relações interpessoais”.
Pensada para exprimir o abismo entre o mundo urbano brasileiro, localizado
no Sul e Sudeste, e o mundo tradicional do Nordeste e do Norte, essa dualidade
foi usada em indiferentes contextos e com diferentes conotações para expressar a
superioridade de uma região, estado, cidade ou parte da cidade sobre outras regiões, estados, cidades ou partes da cidade. No Rio de Janeiro, essa reflexão sobre
a dualidade brasileira encontrou na oposição entre favela com o asfalto uma de
suas encarnações.
Em 1948, a prefeitura do então Distrito Federal, realizou o primeiro censo
das favelas do Rio de Janeiro. Segundo o preâmbulo do documento oficial diz que
“os pretos e pardos “prevaleciam nas favelas por serem “hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas”. E
que “o preto, por exemplo, via de regra não soube ou não pode(sic) aproveitar a
liberdade adquirida e a melhoria econômica que lhe proporcionou o novo ambiente para conquistar bens de consumo capazes de lhe garantirem nível decente de
vida. Renasceu-lhe a preguiça atávica, retornou a estagnação que estiola(...) como ele todos os indivíduos de necessidades primitivas, sem amor próprio e sem
respeito à própria dignidade – priva-se do essencial à manutenção de um nível de
vida decente mas investe somas relativamente elevadas em indumentária exótica,
na gafieira e nos cordões carnavalescos.
No mesmo ano o jornalista Carlos Lacerda publicou uma série de artigos
dramáticos, conclamando a população carioca para a “Batalha do Rio de Janeiro”
ou a “Batalha das Favelas”, empolgando toda imprensa contra o inimigo “Favela”,
verdadeiros “reservatórios de germes(potencialmente mais perigosos do que a
bomba atômica)” e “trampolins da morte”, devido aos altos riscos de desabamentos. No ano em que o Partido Comunista foi o terceiro mais votado, Lacerda alertava: “aqueles que não quiserem fazer um esforço sincero e profundo para atender
ao problema das favelas, assim como aqueles que preferirem encará-lo como
caso de polícia, têm uma alternativa diante de si: a solução revolucionária, pois os
comunistas oferecem a expropriação dos grandes edifícios e a ocupação de todo
o edifício como solução imediata, redutora e fagueira a quem vive numa tampa de
lata olhando o crescimento dos arranha-céus.
O prefeito Mendes de Morais, a pedido do presidente da República, Marechal Dutra, anuncia em maio de 1948, que empregará Cr$ 400 milhões de Cruzeiros na construção de habitações higiênicas em centros residenciais devidamente
urbanizados. O presidente Dutra cria sete comissões para tratar do problema das
favelas e no plano da “Batalha do Rio”. Em Dezembro, após as eleições, “profundo
silêncio na campanha das favelas – um programa grandioso que ficou só no papel.
1.2 - A “cidade negra”
A cidade negra era também solidária, segundo narra Sidney Chalhoub, em
Medo branco de almas negras: escravos libertos e republicanos na cidade do Rio
de Janeiro, 1996, pág. 169 ss. Ela era capaz de buscar e tecer solidariedades de
formas diferentes e com objetivos dos mais variados. O código de posturas de
1830 estabelecia penas de multas e prisão para “toda e qualquer pessoa com
casa de negócio que comprar objetos, que se julguem furtados, pelo diminuto preço de seu valor e por pessoas que se julguem não possuírem tais objetos.”O código de posturas de 1838 tentava apertar mais esse controle sobre a circulação de
objetos presumivelmente furtados por negros escravos ou “suspeitos”. Além de
reafirmar a postura acima, ficava determinado que “ninguém poderá ter casa ou
loja de comprar e vender trastes e roupas usadas, vulgarmente chamadas – casas
de belchior – sem que assine termo nesta Câmara de não comprar coisa alguma a
escravos ou a pessoas suspeitas”. É reveladora a fórmula utilizada por esses códigos – elaborados por administradores-proprietários em defesa de seus bens –
contra os despossuídos dessa sociedade: ou se enquadram na categoria de trabalhadores compulsórios, os escravos, ou caem numa categoria que se vinha ampliando constantemente ao longo do século XIX – ou quem sabe desde muito antes , as “pessoas, que se julguem não possuírem...objetos”, ou as “pessoas suspeitas”.
CAPÍTULO II
A VIDA NA FAVELA
Ai, barracão,/ pendurado no morro/ e pedindo socorro/ à cidade a teus pés.
Barracão (Luís Antônio, 1953)
A vida em família nas comunidades carentes, é marcada por uma ruptura
que serve como delimitação de uma espécie de fronteira invisível que caracteriza
o que se tem chamado de “cidade cerzida” ou “cidade partida”. Como escreveu
Zuenir Ventura em “Cidade partida” - citado no livro “Meu Casaco de General”
“somos também a cidade partida. Mas nossa fratura está exposta. Nossa dor comum, não há como ocultá-la dos olhos
que formam a opinião. Nem todas as artes da dissimulação
vencem a ostensividade do tiroteio. E por mais que os dois
mundos permaneçam apartados, asfalto e favela compartilham os efeitos da violência.”
(Luiz Eduardo Soares, 2000, p. 45)
Captar os conflitos pessoais dos moradores de uma comunidade carente –
uma favela -, requer uma pesquisa multidiciplinar, numa leitura sociológica, antropológica, histórica e filosófica, porque a favela é rica em criatividade cultural e política com uma capacidade de luta e de organização demonstradas através de um
século de existência, uma sobrevivência mantida entre o pessoal e o impessoal,
entre o moderno e o antigo, a ordem e a desordem. É preciso lembrar que muitas
mudanças ocorreram no imaginário associado da cidade grande como o Rio de
Janeiro, desde o nascimento da primeira favela, no final do século XIX.
Nos anos 80, foi realizada pelo IBOPE uma pesquisa sobre as causas da
violência na cidade. O resultado apresentou duas correntes: um grupo dos entrevistados achavam que o problema tinha origem ou religiosa, ou moral ou sócio
econômica (os resultados de realizada foram analisados por L. E. Soares e Leandro Piquet Carneiro em “Os quatro nomes da violência”, ensaio incluído em: Violência e política no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1996, publicado com apoio do ISER). A percepção geral não deve ter mudado muito, apesar
dos avanços da nossa cultura cívica ao longo dos anos 90. As terapias correspondem aos diagnósticos, e as soluções propostas pelos cariocas nos anos 80 também variavam: redenção messiânica via disseminação da palavra de Deus; este-
relização das mulheres faveladas; edificação de barreiras para impedir a migração; fuzilamentos transmitidos ao vivo pela TV, diretamente do Maracanã; extinção da justiça e seus trâmites demorados, que deveriam ser substituídos pelo julgamento imediato e pela execução do réu, no próprio local do crime. Já os mais
politizados consideravam o problema insolúvel enquanto as causas permanecessem intocadas.
“As causas seriam o desemprego , a falta de perspectivas de
integração no mercado e a exclusão da cidadania. A desestruturação familiar seria um subproduto da marginalização
econômica. Esse diagnóstico vinha acompanhado de um
cardápio de recomendações para a economia brasileira e a
reorganização mais justa de nossas estruturas sociais: melhor distribuição de renda, emprego para todos, educação de
qualidade acessível a todas as crianças e adolescentes etc”
(Luiz Eduardo Soares, 2000 p. 43).
Surgiu no asfalto, uma sociedade de massas com a convivência no mesmo
espaço, de milhões de pessoas, experiência, por exemplo, totalmente diferente da
urbana Grécia antiga onde “tudo era decidido mediante palavras e persuasão, e
não através da força e da violência”(Arendt, 1987 p.68)
Nos dias atuais, o morador de uma comunidade carente, para constituir
uma família e assegurar-lhe os seus direitos à vida, saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura e à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, querendo que o seu filho se desenvolva nos
valores e nas normas de uma sociedade justa, tendo um desenvolvimento completo e harmonioso da personalidade, numa atmosfera de civilidade, envidando esforços para a sua marginalização, não encontrarão nenhuma das condições para
promover e apoiar seus familiares. A convivência familiar que alimenta o vínculo
familiar estável e estrutura a família -, é um aspecto essencial para o desenvolvimento do indivíduo. Entretanto, a diversidade e multiplicidade dos arranjos internos de seus membros convivendo em condições desfavoráveis, os levam a uma
situação vulnerável e alterações de comportamento que afetam a estrutura familiar. A falta de políticas públicas e atenção à família pelo Estado, constitui-se sem
dúvida, em um dos fatores condicionantes de desagregação e o enfraquecimento
dos laços familiares. Por que a família é o espaço indispensável para a garantia da
sobrevivência de desenvolvimento e da proteção dos seus membros, propicia
aporte afetivos e materiais necessários ao bem-estar de seus componentes, desempenha papel decisivo na educação formal e informal, e é em seu espaço que
são absorvidos os valores éticos e humanitários. Enquanto forma específica de
agregação, tem uma dinâmica de vida própria. Afetada pelo processo de desenvolvimento sócio - econômico e pelo impacto da ação do Estado através de suas
políticas econômicas e sociais em seu espaço peculiar que é o doméstico.
A situação das famílias é também caracterizada por problemas sociais de
natureza diversa, tais como atentados freqüentes aos direitos humanos, exploração e abuso, barreiras econômicas, sociais e culturais. É importante o processo de
mudanças que afetam o mundo infra-familiar, pois a situação de vulnerabilidade
está diretamente ligada àquelas mudanças, intimamente associadas às questões
econômico-sociais que têm funcionado como fator desagregador das famílias,
principalmente entre as que as mulheres desempenham o papel de chefe do domicílio, a questão migratória por motivo de sobrevivência. O domicílio está sujeito
ameaças freqüentes causadas pela poluição do meio ambiente, o acesso deficiente aos serviços urbanos básicos, aos recursos produtivos e aos diferentes métodos de planejamento familiar. São questões que atingem o entorno familiar em
estado de pobreza e vulnerabilidade.
CAPÍTULO III
A “CLASSE DOMINADA”
(...) Feio não é bonito / O morro existe
mas pede pra se acabar / Canta mas canta triste / Porque tristeza é só o que se
tem pra contar / Chora mas chora rindo /
Porque é valente e nunca se deixa quebrar / Ama / O morro ama / O amor aflito,
o amor bonito / Que pede outra história
Feio Não é Bonito(Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri, 1963).
Para falar de família é necessário saber quem ela é, onde é o seu habitat,
para poder conhecê-la melhor, e sendo a família de uma comunidade, poder pensar na questão social. Ser pobre, negro e morador de favela, é condição necessária para que esta família seja vítima da violência e do preconceito social. Leonardo
Boff explica bem a questão social no nosso dia-a-dia:
“A questão social foi durante muito tempo tratada como caso
de polícia e não como caso político. Em alguns lugares, para
a polícia, se alguém é portador de alguns dos seguintes pês
(pobre, preto e puta), é preso e vítima de violência física. O
grave reside nisto: Esta violência histórica, na base da dominação do outro e de sua escravização, formou a subjetividade coletiva de nossas elites.” (Boff, 1996:95)
Ocorre no espaço comunitário uma inversão de valores no cumprimento
dos papéis sociais dos membros da família. As crianças, muitas vezes, desempenham tarefas de competência dos adultos. São forçadas a se iniciarem muito cedo
no trabalho, por necessidade familiar, assumindo responsabilidades de seus pais,
que desempregados e ou doentes, são sustentados e amparados pelos filhos menores. As mulheres também assumem o papel de provedoras do lar, ausentandose na maior parte do dia para trabalhar em locais distantes, enquanto os homens,
desestruturados pela ausência de perspectivas – emprego, auto-estima, qualidade
de vida, entregam-se ao ócio perdendo sua identidade familiar como chefe de família e pai, substituídos pelas mulheres.
Exatamente na comunidade do Borel, percebe-se em algumas famílias um
grito abafado de dor, uma revolta. As histórias de cada uma delas se diferenciam
entre si, os elementos que constituem estas famílias também são diferentes, mas
a intensidade do abafado grito de dor é a mesma. Sentem-se profundamente infelizes em suas vidas, e nada parece ter sentido. Não acreditam que possam rees-
truturar seus laços familiares desfeitos pela violência cotidiana, a não ser por um
milagre ou mudando-se para algum lugar no asfalto.
Muitos aguardam passivamente que algum acontecimento externo venha
salvá-los do abismo em que suas famílias se encontram. Atualmente, a violência
recrudesceu e já faz parte do cotidiano das grandes cidades brasileiras. As diversas formas de violência atinge todas as camadas da sociedade brasileira. Tanto
os moradores da Comunidade do Borel, que pertencem a chamada “classe dominada”, bem como as pessoas que moram no asfalto, a “classe privilegiada”, todos
sofrem e convivem com algum grau de violência. (Pós- Graduação em Terapia
de Família. Ana Maria Carvalho Vaz - 15/07/0)
“(...) poder-se-ia falar da violência como forma de dominação, da violência como forma de sobrevivência, da violência
como afirmação da ordem institucional-legal, da violência
como contestação desta mesma ordem, da violência como
forma de manifestação de não-cidadania, da violência como
forma de manifestação de insegurança, do medo, etc.”
(Revista Sociedade e Estado, p. 268).
As classes dominadas apesar de sentirem-se injustiçadas pela violência, podem usar a violência como estratégia de sobrevivência.
“As classes dominadas internalizaram o caráter violento, quer dizer, injusto e desigual de sua situação. Elas
não vêem seu direito à segurança realizado, têm que defender-se por si mesmas. Usam da violência, que, na verdade,
é antiviolência, como estratégia de sobrevivência e também
como meio político de recuperar o que lhes foi negado ou
expropriado; vingam-se assaltando e destruindo.”
(R. Amoretti, 1992, p. 76)
A elite fez acreditar no conceito de que o povo não tem nenhum valor, e
sendo ele negro, deve ser esquecido. Se no passado o negro trabalhava de graça
para o seu senhor, hoje, seus descendentes, moradores das comunidades pobres,
recebem o salário como ato de generosidade e não como parte de seu trabalho e
competência. A família de comunidade, vista como classe dominada, vive defendendo-se de tudo e de todos, uma vez que não vê o seu direito à segurança exercido. Estes moradores internalizaram a violência dentro de si como uma estratégia
de sobrevivência. Ser gerente do tráfico, pode ser para a classe dominante, algo
apavorante e assustador. Mas para a classe dominada, tem condição de status,
representando uma posição de respeito e temor. O filho de um gerente de boca
tem que ser respeitado por qualquer um, mesmo que seja apenas uma criança.
Não acontecendo, pode significar castigo a morte para quem desobedecer. Aconteceu nesta comunidade do Borel um caso onde o pai, gerente de boca, ameaçou
outro pai de morte caso o seu pequeno filho batesse novamente no seu filho. De
alguma forma a violência se entranha nos lares destas famílias que chega a se
tornar algo natural de se conviver, sendo traficante ou não.
Não se compreende uma família, se não atentar para o que está em sua
volta. Seus valores se modificam através do que ela vive na sociedade. Ela sofre
influência do mundo que a envolve e do que acontece dentro de sua história familiar. Convém destacar que no interior de uma família, seja ela rica ou pobre, seus
membros se movimentam para dentro e para fora, ou seja, há uma interação dentro da própria família e com os sistemas extra-familiares. Como existe uma troca
dentro desta família, as ações e comportamento de um determinado membro, influenciam e sofre influências de outros membros da família.
Pensar no conceito de família é perceber como ela desenvolve suas formas básicas numa seqüência padronizada de comportamento de caráter repetitivo, que permitem uma certa previsibilidade sobre seus membros, e que são verbalizadas, mas que de uma certa forma estão vinculadas aos valores de nossa cultura e que também podem se originar das vivências do casal, onde há possibilidades de serem repetições de vivências vindas de suas respectivas famílias de origem.
A família pode oferecer uma certa resistência às mudanças, pois ela se
autogoverna através de regras construídas por ela mesma, onde é definido o que
é e o que não é permitido, e com isso mantém os seus padrões de interação de
sua homeostasia. Existe a ilusão de que com estas regras as famílias poderá
manter-se equilibrada e estabilizada, como se todos os membros da família estivessem sempre em equilíbrio constante.
CAPÍTULO IV
VIOLÊNCIA E MEDO NA FAVELA
(...)Foram muitos amigos que foram para
o ceú / Por isso William e Duda pedem a
paz pro Morro do Borel / Viemos cantar
para poder lembrar / Um pouco dos amigos que se foram / pra nunca mais voltar
Rap do Borel(William e Duda, 1994)
4.1 – O MEDO NA COMUNIDADE
A história recente do Brasil está em continuidade com seu passado. Esta
violência crescente não pode ser entendida como episódica. Uma análise cuidadosa mostra conexão da violência com a totalidade social. A questão social no
Brasil, foi durante muito tempo tratada como caso de polícia e não como caso político. Para a polícia, se alguém é portador de alguns “ps” (Pobre, Preto e Puta) é
preso e vítima de violência física. O Brasil tem no seu começo um pecado original.
A violência da conquista e da invasão. Fomos colônia e de certo modo permanecemos colonizados. A colonização implica um ato de extrema violência organizada, sistematizada e continuada: o colonizado vê congelar sua história.
Todo poder totalitário cria um contra-poder, seja simbólico, seja real. A aceitação da dominação nunca foi pacífica. Nossa história está cheia de revoltas
frustradas mas nunca totalmente dominadas.
A maior violência que uma sociedade pode conhecer é a redução do outro a
escravo e a peça(objeto). Estudos sobre a escravidão urbana mostram as raízes
de alguns hábitos culturais e policialescos hoje existentes. Segundo Leila Mezan
Alganti:
“O escravo urbano era alugado para serviços na rua e vigiado pela polícia a mando do dono(senhor) do escravo. É comum ainda nos dias atuais, a polícia desconfiar dos negros
e aplicar-lhes violência quando o prendem ou o detém” (Leila Mezan Alganti, 1986, p. 59).
A sociedade brasileira mostra uma contradição absurda: por um lado não
consegue criar emprego para todos; e por outro prende na rua por vadiagem
aqueles que não conseguem mostrar uma carteira de trabalho assinada. Os tempos de crescimento econômico explosivo nos anos 70, transformaram radicalmente o mapa sociológico brasileiro: em menos de duas décadas, um país que tinha
70% de sua população no campo, transfere-se em massa para as grandes cidades, de modo caótico e em condições extremas de privação, exploração e miséria. Um dos maiores exemplos de concentração de renda em todo o mundo e de
separação de classes. Tivemos afinal, desenvolvimento do capitalismo, mas a riqueza gerada não foi distribuída e não enriqueceu a sociedade em seu conjunto.
Existem realmente dois brasis, mas não o velho chavão sociológico ‘dois brasis’,
bordão desgastado. São dois brasis vivendo em dimensões ou universos inteiramente distintos, bem debaixo dos nossos narizes, nem sempre incomunicáveis. A
maior diferença entre eles é que a legalidade democrática só tem plena validade
para os que habitam o mundo privilegiado das classes superiores. O nó da história
do Brasil é o acordo entre as elites, o compromisso entre oligarquias, a grande
aliança entre os setores dominantes do campo e da cidade. É a turma do chamado ‘andar de cima’. O ‘andar de baixo’ é a massa urbana e rural, sempre excluídas
pelo pacto entre as elites. Os do ‘andar de baixo’ são freqüentemente invisíveis
para os do ‘andar de cima’, salvo quando lhes metem medo, produzem incômodo
ou passam a representar alguma ameaça, imaginária ou real.
Na prática, ao longo das décadas em que (políticos conservadores e demagógicos) vêm exercendo sua hegemonia, têm se limitado a cercar os bairros
populares com uma espécie de cordão sanitário repressivo, lançando os cães da
polícia sobre os pobres e protegendo as áreas nobres da cidade. Essa truculência
apenas contribui para a instalação da barbárie em escala ampliada. A situação
que herdamos, no Rio e em muitas cidades grandes, constitui o legado desse desatino. A paz, na sociedade brasileira, distribui-se como a comida, a justiça, a moradia, os direitos, os direitos civis, a educação, a saúde e a liberdade: é privilégio
das elites.
“Mercado da dor: onde as pessoas vendem suas
tragédias. Se retirar ou roubar do ser humano a
dor, não lhe sobra mais nada. A lei da oferta e da
procura não é nenhuma desculpa”.
(Boff, 1996, p. 95)
O caráter ideológico do adjetivo “violento” fica claro quando é utilizado sistematicamente para caracterizar “o outro”, o que não pertence ao mesmo estado,
cidade, raça, etnia, bairro, família, grupo, etc. Em algumas cidades, o crime e a
violência são como um artifício ou um idioma para se pensar sobre o outro(Merry,
1981, p. 102)
Como sugeria Mandela, ‘verdade e reconciliação’. Os gregos, na Antigüidade clássica, consideravam o esquecimento a pior punição, a mais grave das maldições, o pior que se poderia desejar a um ser humano. Na comunidade do Jacarezinho, a experiência de ouvir depoimentos de familiares narrando suas dores
pela perda de seus entes queridos, vítimas da violência policial, aprendeu-se que
a superação da tragédia coletiva depende da celebração pública da memória individual e coletiva dos grupos vitimados pela barbárie do Estado. A reconciliação
será possível apenas se aprendermos a suportar a verdade, nada se compara ao
contato direto com os depoimentos vivos dos que carregam a dor de perdas tão
trágicas, revoltantes, injustas, fúteis. Pela força da emoção, compartilham a dor e
nos transportam, com realismo, para as cenas dos crimes.
4.2 – DEPOIMENTOS
Devemos ser realistas. Da forma como o ser humano está cultural e socialmente estruturado traz consigo consideráveis fatores de violência objetiva. Eles
poderão ser minimizados, controlados, mas não eliminados. Atingimos um pondo
radical da análise que importa enfrentar, a raiz originária da violência, a estrutura
do desejo humano articulado para a rivalidade e assim para o conflito e para a violência. Ao lermos os depoimentos abaixo, refletimos sobre o porquê da violência.
Há violência por razões subjetivasem pessoas individuais e em grupos.
Para Freud a agressividade é expressão da dramaticidade da vida humana
cujo motor é a luta renhida entre o princípio de vida (eros) e o princípio de morte
(thanátos). Assim, descarrega-se a tensão para fins de auto-realização ou então
sobre outros com intentos destrutivos. Esta reflexão nos conduz ao chão da histó-
ria. Eis, um depoimento de morador de uma comunidade carente atingido pela
violência:
“Joilson Santana dos Santos (menino assassinado na véspera por policiais,
na favela da Coréia, em Niterói), era um menino de catorze anos, jamais se envolvera com o tráfico, era reconhecidamente um bom garoto, estudioso e trabalhador.
Além disso as balas atingiram Joilson na axila porque ele obedecera o comando
dos policiais, interrompera a brincadeira na porta de casa e erguera os braços.
Familiares e amigos assistiram ao crime. Como de hábito, uma tragédia puxa outra, entrelaçando as histórias dramáticas em um só novelo. Aproveitando nossa
presença, dona Amélia (nome fictício), a vizinha (da família de Joilson)do lado de
cima da rua, fez questão de nos contar, em detalhes, onde os policiais costumavam amarrar suas vítimas, onde jogavam os corpos... as surras aplicadas...a caixa-d’água para afogamento, os disparos freqüentes.
O pai de Joilson levou até o encontro no Palácio Guanabara, com o Governador Garotinho, um retrato grande e emoldurado, com o rosto puro e sorridente do filho. Depositou o quadro no chão do gabinete, removendo os panos que o
protegiam. O rosto do menino ficou ali em silêncio, aos pés do Governador com
uma oferenda ambivalente, a imagem do menino morto e o choro do pai.”
(Luiz Eduardo Soares, 2000, p.37)
CAPÍTULO V
TERAPIA DE FAMÍLIA NA FAVELA
“Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de
mortadela no botequim, sorvete, bola de
futebol. Estão me devendo meia, cinema,
filé mignon. Estão me devendo uma garota de vinte anos, cheia de dente e perfume...Sempre tive uma missão e não sabia. Agora sei... sei que todo fodido fizesse como eu o mundo seria melhor e mais
justo”
Rubem Fonseca em O Cobrador, 1979
A psicoterapia de família teve inicio na América do Norte, em 1950, onde as
famílias começavam a sofrer as mudanças sócio culturais, o desenvolvimento das
ciências humanas, a crise pós-guerra, marcada pelas duas guerras mundiais. Iniciou-se uma preocupação através de alguns terapeutas, de observar grupos familiares. A psicologia não se preocupava ainda com as dinâmicas dos grupos e as
abordagens teóricas sobre a família. Havia uma preocupação com os atendimentos individuais. A psicoterapia individual estava vinculada à medicina psiquiátrica
e não considerava a família como uma relação de vínculo afetivo, importante no
crescimento do indivíduo.
Os profissionais que já lidavam com as famílias, foram aos poucos estudando-as como um grupo e aperfeiçoando uma nova metodologia de trabalho clínico. Aos poucos, outros profissionais foram observando resultados surpreendentes, que se realizavam à medida que aquele paciente era trabalhado junto com a
sua família. Vários pesquisadores começaram a estudar os fenômenos das psicoterapia de família. Podemos citar o Dr. Gregory Bateson, da Universidade de
Stamford. Seu primeiro trabalho foi publicado em 1956, com o título “Toward a
Theory of Esquisophrenia”, onde foi reconhecido ganhando novos aliados.
A psicoterapia familiar, segundo Virgínia Sarti, citado por José Carlos Gomês(1976, p. 78), apareceu com a finalidade de curar “a dor da família”. Quando
um indivíduo habitante de uma família não está bem, todos sofrem e acompanham
a sua dor. E muitas vezes vivem como se fossem o indivíduo “doentes”. Pode haver neste processo, a perda da própria identidade de cada membro da família. Afinal, quem é este “doente”?
É quem tem vínculo objetivo mais forte. Quem adoece não é quem tem
problema, mas quem pode resolver o problema. É importante saber cumprir esta
função, quando é função de um quando é função do outro. ‘Cada família estabele-
ce uma regra. As regras importantes não são as ditas e as não ditas. São as inconscientes. Ninguém diz para o membro da família ficar “doente”. Mas ele toma
este lugar apresentando o sintoma que é a solução do problema. Se numa determinada família existe uma criança que é agressiva, é porque o grupo familiar precisa e quer que seja assim. Se o grupo familiar não precisa ser alimentado pela
“doença”, o indivíduo “doente”, cresce e se modifica. Observamos o exemplo apresentado por Vera Cali
“Por exemplo, uma família pode considerar a agressividade
de João, que pode ser uma resposta à fuga da mãe, que por
sua vez pode ser uma resposta à postura autoritária do pai
em relação a João e assim por diante.”
(Vera Calil, 1987, p.19)
Um filho adolescente que está crescendo, de alguma forma está mexendo
com a estrutura familiar. Existe um desenvolvimento biológico, onde este indivíduo
está deixando de lado o corpo da criança, para poder tornar-se um adulto. É natural este modificar os seus hábitos. Só porque as pessoas já tinham os seus lugares certos e saindo deste lugar, mexe com a estrutura familiar. Pois fica um lugar
vazio que deve ser ocupado. Uma família não pode ser presa. Todos tem que
crescer. E para crescer, tem que mudar os lugares ou sair deles. Mas com esta
mexida inconsciente, o grupo se mobiliza e faz com que os membros que estão
saindo ou tentando sair dos seus lugares, voltem para o lugar original. Esta incapacidade de lidar com as mudanças, como foi dito, trás à tona problemas que podem se tornar tão dolorosos para este grupo familiar que acabam procurando um
terapeuta familiar. A função do terapeuta familiar não é transferir responsabilidade
de onde iniciou o problema, colocando no membro sintomático, a culpa de ser a
fonte dos problemas.
A família, para manter a instabilidade, precisa adaptar-se às mudanças
onde haja uma reorganização para haver um novo equilíbrio que garanta a sobrevivência da família.
O nascimento de um membro na família, uma nora nova, a perda de um
membro, como a morte ou saída, fazem parte das mudanças.
Vera Calil (1987), exemplifica que o surgimento da adolescência em um ou
mais membro da família pode desequilibrar a estrutura familiar: “Nesta fase de
desenvolvimento, a família terá que modificar o que é e o que não é permitido em
relação ao adolescente”. (Vera Calil, 1987:19)
“A maioria das famílias começa uma terapia quando seus
processos de crescimento e mudanças atingem o limite. Repetem infinitamente o mesmo padrão de comportamento e
sentimentos. Um dos objetivos da terapia familiar é a destruição deste padrão, para assim forçar a família a desenvolver
novas maneiras de relacionar-se.
Para Whitaker, o objetivo central do terapeuta é o aumento
do sentimento de pertencer à família e ao mesmo tempo, da
liberdade de individualização de cada um dos membros da
família. Ou os dois mudam juntos ou não.” (Neil e Kniskern,
1990:206.)
CONCLUSÃO
Finalmente, concluímos que algumas os habitantes de comunidades carentes - morro ou favela -, mesmo atingidos e dominados pelas mais diversas formas
de violências, ainda conseguem se reestruturar psicologicamente dos efeitos da
violência, quando atendidos em terapia de família. Este trabalho reconhece limites
desta prática terapêutica e contribui para superá-los, ao compartilhar no texto as
indagações que as ações políticas e sociais tem suscitado. Muito mais que apresentar êxito, pretendeu-se dar visibilidade aos processos desencadeados, formular
perguntas e equacioná-las. Apresentou-se perplexidades.
Os índices crescentes de desigualdade; o acirramento da violência urbana,
cujos números assustadores são registrados em pesquisas e pela experimentação
empírica do viver em comunidades carentes; o desgaste dos movimentos sociais
organizados, bem como a diminuição do investimento público na área social; e os
índices de ineficiência desses gastos no enfrentamento da pobreza são apenas
alguns dados dramáticos da realidade social que se mantém rebelde e resiste a
ser alterada por um conjunto de medidas simples e inovadoras, como os programas de reabilitação social baseada na comunidade, desenvolvendo atividades em
comunidades de baixa renda, através de equipes multidiciplinares que visitam
cada residência, cadastrando os moradores, convidando-os a participar de reuniões onde se discute a realidade e aplica-se técnicas de solução de conflitos. O
trabalho esclarece que é urgente identificar os elementos que tornaram possível a
constituição da violência e que a favela não se reduz a lugar de violência. Este
texto, explicita um olhar para a necessidade de se romper com a estigma que define a favela pela ação criminosa, reduzindo os seus moradores a coniventes com
o crime organizado. Romper com a estigmatização supõe alterar os mecanismos
que a alimentam. Não basta negar sua existência. Ao contrário, é urgente conhecê-los.
Há pouco mais de um século, ao longo da ocupação dos morros cariocas, a
violência psicológica e emocional - invisível, não mensurada estatisticamente -, é
diretamente proporcional ao crescimento da violência física, que foi fartamente
pesquisada e demonstrada através de muitos estudos teóricos e empíricos.
Depreedemos ao final deste trabalho que enquanto as causas da violência
permanecerem intocadas - o desemprego, a falta de perspectiva de integração no
mercado e a exclusão da cidadania -, o problema da violência que é agudo nas
comunidades carentes e também afeta a chamada “cidade partida”, é insolúvel e
que a desestruturação familiar em comunidades carentes dominadas pela violência seira um subproduto da marginalização econômica. A partir desse diagnóstico,
recomendamos uma reoorganização mais justa das estruturas sociais brasileiras:
melhor distribuição de renda, emprego, educação com qualidade acessível a todas
as crianças e adolescentes. Assim, o morador da favela, reincluído socialmente
poderá se reestruturar psicologicamente.
BIBLIOGRAFIA
BOFF, Leonardo. Discursos Sediciosos – Crime, Direito e Sociedade / Instituto Carioca de Criminologia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996.
BRAZELTON, T. Berry ; Tradução: Luís Carlos Borges. Psicologia e Pedagogia - Cuidando da família em crise. São Paulo: Martins Fontes,1991.
CALIL, Vera Lúcia Lamanno. Terapia Familiar e de Casal: Introdução às
abordagens sistemática e psicanalista. São Paulo: Summus, 1987.
CHINOY, Ely. Sociedade – Uma introdução à sociologia. S. Paulo: Cultrix,
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GOMES, José Carlos Vítor. Manual de Psicoterapia Familiar. Petrópolis: Vozes, 1987.
KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Organizador). Família Brasileira – a base de
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MESSEDER, Carlos Alberto (Organizador). Linguagens da violência. Rio de
Janeiro: Rocco, 2000.
SANTOS, JOSÉ VICENTE TAVARES. A violência como dispositivo de excesso de poder . Brasília: Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, 1995.
SOARES, Luíz Eduardo. Meu casaco de general – Quinhentos dias no front
da segurança pública do Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
SOARES, Luiz Eduardo. Violência e criminalidade no Estado do Rio de Janeiro . Rio de Janeiro: Hama Edditora,1998.
ZALUAR E ALVITO, Alba e Marcos (Organizadores). Um século de favela. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003.
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 >> Entrevista;
Anexo 2 >> Entrevista;
Anexo 3 >> Artigo;
Anexo 4 >> Reportagem;
Anexo 5 >> Reportagem;
Anexo 6 >>; Tabela
Anexo 7 >> Quadro;
Anexo 8 >> Questionário;
Anexo 9 >> Pesquisa.
ANEXO 1
ENTREVISTA
Jornal O Pasquim 21 Abr/2002. “O Grito de dor”
LUÍZ EDUARDO SOARES - Há uma sensação generalizada de que é a injustiça que impera, e essa sensação se manifesta sob a forma da impotência. Vivi essa situação de perto
quando eu ia às favelas. Depois de ter visto o que vi e vivido o que vivi, eu não poderia
esquecer isso, ou deixar de tratar essa questão obsessivamente. Nós somos vítimas da violência, seqüestros, assaltos às vezes com morte. Mas quem paga o preço maior é quem vive
nas favelas do Rio. Esses vivem sob um duplo nepotismo: o da polícia corrupta e dos criminosos armados. Quando você perde um ente querido, o sentimento de dor é intensificado
pelo sentimento de que a sua dor nada significa, e que o Estado não tem com você nenhuma
responsabilidade, e que a sua voz não vai ser ouvida. Você não tem o mínimo de paz, não
tem a menor garantia de que seu filho vai chegar são e salvo em casa. São mais de 600 mil
pessoas vivendo assim, metade da população inteira das favelas do Rio. Só um grande pacto político e a redefinição das prioridades é que poderiam resolver isso. Mas isso é viável,
hoje? Não é viável, infelizmente...Mas voltando à dimensão social: um menino pobre, negro, da grande metrópole, transita invisível, é um ser socialmente invisível, por duas razões:
ou porque nós não o reconhecemos, negligenciando a sua presença, ou porque nós projetamos sobre ele preconceitos e estigmas, e assim dissolvemos a sua singularidade. A invisibilidade é muito dolorosa. E aí um traficante oferece uma arma pra esse menino. Nós costumamos dar muita atenção ao que acontece no campo da dimensão material e econômica
dessa relação, mas somos indiferentes ao jogo que se processa no campo da intersubjetividade. Quando o traficante dá uma arma a esse menino, o menino percebe que pode, através
do uso da arma, provocar no outro um sentimento de reconhecimento. Um sentimento de
medo, mas um sentimento, e assim, alcança uma visibilidade, uma reedificação como pessoa. Esse processo tem que ser compreendido por nós, ou não nos credenciaremos a competir com o tráfico.
Ziraldo – O que você pode oferecer pro menino, em lugar de um revólver?
LE - Nós identificamos a natureza do bem. Temos que disputar menino a menino com o
tráfico. Essa disputa, pra ter alguma chance de ser vitoriosa, vai ter que oferecer pelo menos
as mesmas vantagens oferecidas pelo tráfico: vantagens materiais, emprego, renda. Nós
temos que oferecer valorização e
reconhecimento. Como é que uma política pública pode fazer isso? Nós temos que customizar – essa palavra é horrível! – a política pública, pra que ela ofereça o espaço pra que
essas meninas e meninos exercitem suas virtudes potenciais. Isso acontece na cultura e nos
esportes.
Z - Os meninos da Mangueira estão fora do tráfico?
LE - Inteiramente. Podem sofrer uma pressão, mas esses que vão para os esportes e são
objetos de nossa atenção, de nossa valorização, esses estão fora. Os meninos não mais querem ser engraxates de nossos sapatos, pintores de nossas paredes e mecânicos de nossos
carros. Eles querem o que os nossos filhos querem: Internet, música, arte, mídia, comunicação, esportes, cinema. Eles querem expressão, realização e criatividade. Se nós não tivermos sensibilidade de dialogar com eles e oferecer possibilidades de empregos e capacitação em áreas que mobilizem os seus desejos e suas fantasias, nós vamos ficar falando grego, não vamos conseguir disputar com o tráfico, que além de oferecer vantagens materiais
ainda oferece a vantagem simbólica(...).
ANEXO 2
ENTREVISTA
ENTREVISTA – Jornal O Globo, Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2002. P 20.
Elenilce Bottari
‘Esta desigualdade gera violência’
Sociólogo da UFRJ diz que discriminar ainda mais as favelas pode agravar as diferenças
sociais e a violência
A discriminação das favelas por causa da violência pode acirrar ainda mais as diferenças sociais e agravar o problema da segurança no Rio. O alerta é do sociólogo Luiz
Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador do Observatório de Políticas Urbanas e Gestão Municipal do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da
UFRJ. Segundo ele, a comparação dos dados do Censo 2000 com os de 1991 confirma
a exclusão social enfrentada pelos moradores de favelas. Luiz Cesar - que participar
do seminário “Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o conflito”, que será realizado de 5 a 9 de agosto, no hotel Novo Mundo – afirma que no Rio
há uma divisão social marcante entre a favela e o asfalto.
O GLOBO – As favelas cariocas já podem ser consideradas guetos?
LUIZ CESAR DE QUEIROZ RIBEIRO – Não, mas podem vir a se constituir se continuarem sendo vistas pela ótica da violência. Gueto é um lugar homogêneo em termos sociais e
abandonado pela sociedade, do ponto vista social, simbólico, cultural. As favelas ainda têm
interação com o asfalto e com o poder público. No Rio, elas estão, elas estão organizadas,
com associações, escolas. Já os guetos são desertos cívicos. Não são capazes de se associar
em nada.
OG – O poder paralelo do tráfico e sua violência podem transformar favelas em guetos?
LC – A falta de política de segurança pode levar a esse processo. Esse casso recente do
dirigente da Associação de Moradores da Serrinha e diretor de bateria da escola de samba,
o Macarrão, assassinado pelo tráfico por tentar estabelecer limites, é um exemplo disso. A
desmobilização de associação devido à violência do tráfico pode levar à desertificação cívica.
OG – De acordo com o Censo do IBGE, a população de favela aumentou. Por quê?
LC - Com certeza por causa da falta de uma política habitacional, dos baixos rendimentos
e também da falta de transportes. As favelas seguem o fluxo da renda. Sem dinheiro para
transportar, sem condições para pagar o aluguel e à procura de oportunidades de trabalho,
as pessoas vão subir para o alto dos morros para ficar perto dos grandes centros urbanos.
Daí a aproximação.
OG – O que poderia ser feito para reverter o processo de favelização da cidade?
LC – Precisaria uma política habitacional voltada para a ocupação de vazios urbanos. No
lugar de enormes conjuntos habitacionais fora da cidade, que não deixam qualquer alternativa para seus moradores, o estado e os empresários do setor deveriam fazer pequenos conjuntos nos espaços vazios. Mas os empresários querem investir em obras de baixo custo.
OG – A existência de realidades tão distantes entre favela e asfalto não é prova de que vivemos em uma cidade partida?
LC - A imagem da cidade partida é interessante, mas acaba reforçando as diferenças. As
pessoas que vivem em favela já sofrem preconceitos. Os próprios nomes estão cada vez
mais depreciativos, como Rato Molhado, Favela da Lacraia. Se a situação já é violenta,
imagine quando eles passarem a discriminar o asfalto.
OG – Mas aumentou a diferença entre favela e asfalto?
LC - Não tenho dados para afirmar, mas acredito que sim. Creio que aumentou a frustração. Antes predominava em nossa sociedade uma cultura hierárquica, com diferenças de
direitos entre ricos e pobres, brancos e não brancos. Uma cultura de subordinação, onde o
pobre só poderia crescer até um ponto e o patrão, em contrapartida, era paternalista. O pensamento mudou, mas as condições para que os pobres possam ter as mesmas oportunidades
ainda não mudaram. A estrutura é a mesma, ou seja, a justiça é para quem pode pagar, o
estado é clientelista e o rico deixou de ser paternalista e passou a pensar mais em si, se
isolando em condomínios fechados e contratando seguranças particulares. Isso aumentou a
frustração, principalmente no caso dos jovens. Esta desigualdade gera a violência.
ANEXO 3
Artigo
Jornal O Globo – mai/2002
Aos jovens do Rio de Janeiro
Alba Zaluar – Rio de Janeiro (RJ)
O negócio ilegal, baseado em intimidação, extorsão e terror, opera em redes. São múltiplas
as fraturas em comandos, quadrilhas, bondes, justiceiros e pistoleiros. Por detrás, pouco
investigado e punido, o capitalismo das sombras que opera no mercado das armas e drogas,
misturando o legal e o ilegal, a polícia e o bandido. Ele é transnacional, como o terror que o
preside. Diante disso, é prioritário impedir que se destrua o estado de direito. Qualquer intervenção deve ser feita dentro da lei, de modo a evitar um dos seus efeitos mais perversos:
a confusão entre polícia e bandido. Por isso, escrevi para os jovens, apostando que a razão
pode impedir que, no desespero, se afundem mais na barbárie.
Um dos argumentos mais repetitivos para os jovens pobres é o de que vender drogas é um
bom negócio, pois paga melhor que o emprego e dá para sair da pobreza. Dizem que otário
é quem trabalha por salário. O que não se diz é que este negócio deixa a vida no fio; que o
dinheiro que entre fácil sai fácil; que o vício pode pegar; que a guerra entre comandos se
torna interminável e as armas, caras; que são grandes os prejuízos para todos.
Quando um jovem começa a se envolver com as quadrilhas, adota o modo de viver dela.
Tem que gastar mais com roupas, festas, mulheres, drogas para mostrar que está com o bolso cheio. Assim ele pretende ser aceito entre os homens que agem igual. Impressiona e
mete medo. Por pouco tempo. Tem que comprar armas e munições; pagar propinas a policiais corruptos que podem prendê-lo mais facilmente; pagar advogados para defendê-lo.
Acaba duro, preso ou morto.
Jovens se aproximam da boca procurando “consideração”; porque acham bacana usar drogas ilegais; porque os colegas chamaram. Pensam que nunca serão prisioneiros nem das
drogas nem das quadrilhas. Mas a cocaína pode viciar de 30% a 40% dos que a usam. A
sensação de estarem ligados que ela traz é seguida pela fossa depois que o efeito some.
Sentem fissura de usar para ficar a “mil” de novo. Caem num círculo vicioso. Uns começam a repassar drogas para pagar o vício; outros a usá-las quando viram traficantes. Se
vendem sem permissão, podem ser mortos. Se ganharem muito, mesmo com permissão,
atraem a desconfiança e a cobiça dos poderosos. A cocaína pode fazê-los paranóicos, cercados de inimigos imaginários. Depois que se envolvem, tem que obedecer as ordens dos
chefes. Sair fica cada vez mais difícil.
ANEXO 4
Reportagem
Jornal O Globo – Primeiro Caderno – Rio, 28 de Julho de 2002 – p.19
O abismo social dos morros
Renda média de chefes de família no asfalto é 5 vezes maior que em favelas
Elenilce Bottari (RJ)
A distância social entre favela e asfalto no Rio é cinco vezes maior do que a proximidade
física faz parecer. Segundo dados do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), os chefes de família nas favelas ganham em média apenas 23% do rendimento registrado no resto da cidade. Enquanto, em média, o morador do asfalto recebe
R$ 1.533,74, na favela esse rendimento é de R$ 352,41. No caso de muitos bairros, no entanto, essa distância é ainda maior. Enquanto a média salarial de um chefe de família na
Barra da Tijuca é de R$ 5.175,50, na Favela do Angu Duro, na Estrada do Itanhangá, esse
rendimento cai para R$ 382,46.
Com base no programa Estatcart – Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciadas do OBGE, O Globo, calculou o rendimento médio em várias favelas do Rio e constatou o tamanho da desigualdade social. A distância entre favela e asfalto só cai à medida que
os bairros se aproximam da periferia. É o caso da Penha, onde o rendimento médio de um
chefe de família é de R$ 828,75, enquanto na favela Vila Cruzeiro, no mesmo bairro, esse
valor é de R$ 358,94.
Segundo o chefe em exercício da Unidade Estadual do IBGE, José Roberto Scorza, o Rio
tem 514 favelas. Para a realização do Censo foram contratadas 7.589 pessoas dessas comunidades:
- Escolhemos moradores para facilitar a apuração dos dados.
Morando há 40 anos na Favela do Angu Duro, na Barra, às margens da Lagoa da Tijuca, a
dona-de-casa Maria da Guia da Silva Braga, de 51 anos, provavelmente nunca conhecerá o
shopping Città America, que fica em frente. Ela mora em frente. Ela cuida de seis filhos,
enquanto o mais velho, dee 20 anos, trabalha como carroceiro para reunir os R$ 200 mensais que alimentam oito bocas.
- As crianças dormem no chão e o frio entra porque não tenho dinheiro para fechar a parede
(de compensado). Eu já tentei me inscrever no cheque cidadão, mas não consegui. Os vizinhos tentam ajudar a gente, mas a situação é muito difícil – diz Maria da Guia.
São muito remotas as chances de ela conhecer uma vizinha de bairro, a escrevente Ana Cecília Nogueira, que vive com o filho Carlos Frederico, de 11 anos, no Jardim Oceânico. A
renda mensal da família é de R$ 7 mil, 35 vezes a da casa de Maria da Guia:
- Eu não consigo imaginar como essas pessoas conseguem sobreviver com tão pouco. Isto é
absurdo. A desigualdade social no Rio é com certeza im dos principais fatores de violência
da cidade – afirma Ana Cecília.
No Borel, renda média é de R$ 290
O rendimento médio na Tijuca é de R$ 2.412,80, mas o chefe de família no Borel ganha
muito menos: R$ 290,80. O marido de Lúcia de Jesus Pereira da Silva recebe, líquido, um
pouco mais que isso.
- O salário é de R$ 380, mas com descontos fica na média de R$ 320. Aqui somos quatro.
Dá pra comer. O que salva é o vale-alimentação que meu marido traz para casa. Diversão é
assistir o culto na igreja, que fica aqui mesmo no morro.
Morando na entrada do Borel, de frente para a rua São Miguel, a situação da auxiliar de
enfermagem Leni Diamantes é melhor. Além da pensão do ex-marido, ela conta com R$
400 para sustentar os filhos:
- Juntando o que o pai dá para eles, tem sido possível sustentar a casa. Mas, se tivesse que
pagar aluguel, já ficaria complicado.
Na Rocinha (que está entre os morros considerados em melhor situação socioeconômica,
juntamente com o Vidigal), o chefe de família ganha em média R$ 451. Com status de bairro, o morro tem uma mistura de classes sociais(...).
Professor titular de planejamento urbano e regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o sociólogo Luiz Cesar de Queirós Ribeiro analisou os dados do Censo 2000.
Segundo ele, os dados demonstraram discriminação entre moradores de baixa renda do asfalto e da favela:
- A renda pessoal na favela é sistematicamente menor que a renda fora da favela, mesmo
comparando pessoas com as mesmas condições de instrução, idade, sexo ou raça – explica
Luiz Cesar.
ANEXO 5
Reportagem
O Globo, Rio de Janeiro, 28 de Janeiro de 2002. P. 20.
Michel Alecrim
Abismo social: Lojas desistem dos consumidores das comunidades carentes depois de empregados sofrerem assaltos
ENTREGAS EM DOMICÍLIOS PASSAM LONGE DAS FAVELAS
Eletrodomésticos, remédios e pizzas deixam de subir o morro em caminhões e
motos por causa da violência
Um consumidor entra numa loja para comprar um fogão. Um vendedor simpático oferece
vários produtos, com pagamento facilitado. Mas quando o comprador informa o endereço
de entrega no morro do Borel, na Tijuca, a expressão do funcionário se transforma e vem a
resposta negativa:
- Nesse lugar, nós infelizmente não entregamos.
A cena, que ocorreu com um repórter do Globo que se passou por um morador da favela na
Tele-Rio da Tijuca, acontece constantemente com trabalhadores de comunidades dominadas por traficantes. A violência que assusta os entregadores transforma os moradores de
favelas em consumidores de Segunda classe.
No teste feito em seis favelas (Borel, Jacarezinho, Grota, Providência, Vidigal e Cabritos),
em quatro delas pelo menos uma loja de eletrodomésticos não entregava no endereço perguntado, sempre um local com acesso a veículos.
Quando o assunto é entrega de remédio, a restrição às favelas é mais grave. Em duas delas,
Grota e Borel, o serviço simplesmente não existe. Na Providência há entrega somente no
horário comercial. Nas demais, os moradores só teriam uma das opções.
Moradores às vezes pagam carreto extra
Quando há restrições, os moradores das favelas acabam tendo despesas a mais. Ana Gomes
Santana, de 56 anos, que mora no alto do Borel, teve que pagar R$ 20 para levarem sua
geladeira da associação até sua casa.
- Para quem mora ma favela, tudo acaba saindo mais caro - diz.
O diretor de Marketing da Tele-Rio, Mário Roberto de Arruda, admitiu que nem em todas
as favelas do Rio o caminhão da rede de eletrodomésticos entra. Depois de sofrer muitos
assaltos, a loja tomou várias medidas de segurança, e deixou de entregar em algumas comunidades.
- Podemos estar perdendo clientes, mas fazemos o possível para atender os consumidores,
como entregas nas associações de moradores - afirmou.
As Casa Bahia informaram que entregam no morro da Providência, ao contrário do que
informou um vendedor da loja da Rua Uruguiana. Segundo a assessoria da rede, a entrega
só não é feita na favela de Manguinhos. O Carrefour informou que no Jacarezinho - onde
um funcionário do setor de eletrodomésticos da loja do NorteShopping disse que não há
entrega - os moradores recebem os produtos na associação de moradores.
Distribuidoras negociariam com traficantes
Um funcionário de uma rede de eletrodomésticos disse que para ser feita a entrega nas favelas é necessário um esquema especial. Além da escolta armada no asfalto, a entrada dos
caminhões é negociada com os traficantes.
Segundo o delegado Reginaldo Félix, da Delegacia de Roubos de Cargas (DRFC), os assaltos a transportadores de eletrodomésticos são comuns nas proximidades das favelas Kelson’s, na Penha, e das favelas do Jacarezinho e de Manguinhos.
- Os traficantes querem fazer o papel de Robin Hood. Roubam os eletrodomésticos para
distribuírem na favela – explica o delegado.
A entrega de pizza em casa é grande filão comercial, mas em algumas favelas o medo da
violência faz que as motos não nem entrem. É o caso do Borel, do morro dos Cabritos e do
Jacarezinho. A Grota e a Providência não têm serviço nas proximidades e somente o morador do Vidigal, dos morros pesquisados pelo jornal, pode receber pizza em casa. A entrega
de remédios é uma comodidade às vezes imprescindível quando surge um problema inesperado como febre ou dor-de-cabeça. Entretanto, para muitas favelas ainda é um sonho literalmente distante.
Numa drogaria perto da Providência, um funcionário atribuiu a recusa da entrega à violência. O entregador da loja foi revistado por traficantes no morro e o acompanharam até a
casa do cliente.
- Ele ficou traumatizado e jurou que nunca mais entregaria no morro - contou. Contratar
moradores de favelas pode ser uma vantagem para os serviços de entregas. É assim que
duas farmácias de Copacabana conseguem manter o serviço no morro dos Cabritos. A favela, entretanto, não recebe pizza. A alegação de uma pizzaria é que um entregador chegou a
ser roubado no lugar.
O Vidigal não pode contar com os serviços do vizinho rico Leblon por causa do medo da
violência. Farmácias e pizzarias se recusam a entregar no lugar. Mas a favela é uma das
poucas que têm alternativas. A pizzaria Guanabara diz ter contratado um morador do morro
só para atender aos pedidos da comunidade. A Rocinha é outra favela da Zona Sul que sofre menos com o isolamento.
O presidente da Associação Nacional de Assistência ao Consumidor e Trabalhador (Anacont), José Roberto de Oliveira, disse que nenhuma loja pode recusar a vender algo que é
oferecido e as recusas poderiam parar na justiça. Já a promotora Léa Freire disse que a loja
só comete erro quando não avisa ao consumidor antes da compra.
ANEXO 6
TABELA
Quanto ganham os cariocas
RENDIMENTO MENSAL DOS CHEFES DE FAMÍLIA POR DOMICÍLIO (em R$)
Bairro
Barra da Tijuca
Favela do angu Duro
Rocinha
Morro do Vidigal
Leblon
Lagoa
Cantagalo
Tijuca
Borel
Anchieta
Fé em Deus
Penha
Vila Cruzeiro
Ramos
Complexo do Alemão
Rendimento em R$
5.175,50
382,46
451,00
662,09
4.634,27
5.567,86
298,13
2.412,80
290,80
641,68
328,43
828,75
358,94
983,28
409,54
Renda média chefes de família p/domicílio População
Favelas
352,41 Favelas
Asfalto
1.533,74 Cidade
1.092,958
5.857,904
Fontes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional (Ippur) da UFRJ
ANEXO 7
QUADRO
Resultado do teste de entrega
ìPizzaria
Morro do Vidigal
¹ Tele-Rio, Casa Bahia, Ponto
Frio e Arapuã entregam
jFarmácia ¹Eletrodomésticos
Morro do Borel
Morro dos Cabritos
¹Tele-Rio não entrega.
¹Todas entregam
Ponto Frio e Casas Bahia
entregam
j Somente uma entrega
jNenhuma entrega
ì Das quatro consultadas, duas ìNenhuma entrega
entregam
Morro da Providência
Favela do Jacarezinho
¹Duas entregam. Duas não ¹Duas entregam; duas
entregam
não entregam
jDuas entregam
jSó uma entrega
Favela da Grota
¹Uma não entrega;
Duas entregam
jNenhuma entrega
ìNenhuma entrega
ìNenhuma entrega
ìNenhuma entrega
jDuas entregam
ìNenhuma entrega
Anexo 8
Questionário
1ª. ENTREVISTA: Srª “O”(77 anos).
1 - Quantas pessoas moram em sua casa?
R - Moram 4 pessoas.
2 - O que faz cada uma?
R - Eu faço faxina em casa de família e os meus três filhos não trabalham.
3 - Qual a idade de cada uma?
R- Eu tou com 76,
meus filhos têm 35, 38 e 45 anos.
4 - Onde nasceram?
R – Eu nasci na Paraíba, o resto nasceu na Comunidade do Borel.
5 - Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R – Eu estou aqui há 46 anos, os outros nasceram aqui.
6 - Até que série da escola cada um estudou?
R - Eu nunca fui à escola. Minha filha também não foi à escola. O meu filho
com 38 anos, terminou o primeiro grau e o outro com 45 anos só fez o curso
primário.
7- Qual é o maior problema para a sua família no Borel?
R - Não existe nenhum problema aqui no Borel.
8 - De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R - A violência não chega na minha casa.
9 - O que vocês fazem para resolver este problema?
R - Os traficantes são bons. Quando eu preciso de alguma coisa eles me
ajudam. E as balas do tiroteio não chegam até a minha casa.
10 - Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R - Não. Não penso em sair daqui.
2ª. ENTREVISTA: Srª “G”(60 anos).
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R - Eu, minha filha e meu neto.
2 - O que faz cada uma?
R - Eu trabalho em casa de família, o meu neto estuda e minha filha fica em
casa.
3 - Qual a idade de cada uma?
R - Tenho 60 anos, minha filha - deficiente física - 40 e o meu neto tem 13 anos.
4 - Onde nasceram?
R – Eu nasci em Minas eles nasceram aqui no Borel.
5 - Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R – Eu há 40, eles a vida toda.
6 - Até que série da escola cada um estudou?
R - Eu só fiz o primário, o meu neto está fazendo o primeiro grau e a minha
filha nunca foi à escola.
7 - Qual é o maior problema para a sua família no Borel?
R - A violência.
8 - De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R - Eu tenho medo de bala perdida e que o meu neto entre para o tráfico.
9 - O que vocês fazem para resolver este problema?
R - Não fazemos nada(ri).
10 - Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R – Não. A minha filha tem as suas amizades na igreja e gosta muito daqui.
Já estamos acostumados com a violência.
3ª. ENTREVISTA: Srª “Y”(55 anos).
1 - Quantas pessoas moram em sua casa?
R - Três pessoas: eu, minha filha e meu sobrinho.
2 - O que faz cada uma?
R - Eu faço bico. Vendo panos de prato e balas nos ônibus. Minha filha vai
começar a estudar e o meu sobrinho está desempregado.
3 - Qual a idade de cada uma?
R – “Tô” com 55 anos, minha filha 15 e meu sobrinho 23 anos.
4 - Onde nasceram?
R - Eu sou da Paraíba e os dois daqui do Borel.
5 - Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R - Eu moro aqui há 20 anos e os dois nasceram aqui.
6 - Até que série da escola cada um estudou?
R - Eu nunca estudei. Minha filha e o meu sobrinho só fizeram a 5ª série.
7 - Qual é o maior problema para sua família no Borel?
R - As drogas.
8 - De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R - Meu filho mais velho está internado numa casa de recuperação para drogados. Tenho medo que ele saia de lá e volte a roubar para comprar drogas.
Tenho medo que o meu sobrinho também entre no tráfico.
9 - O que vocês fazem para resolver este problema?
R - Eu fico tomando conta deles quando dá.
10 - Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R – Sim. Eu invadi uma casa vazia e tô morando aqui até hoje. Mas não tenho
para onde ir.
4ª. ENTREVISTA: Srª. “G”(50 anos)
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R- Eu e minha filha.
2-O que faz cada uma?
R- Eu cato latinha, tomo conta de criança e minha filha está na escola.
3- Qual a idade de cada uma?
R- Eu estou com 50 anos e minha filha com 9 anos.
4- Onde nasceram?
R- Eu nasci na Bahia e ela no Borel.
5- Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R- Eu vivo aqui há 20 anos e minha filha há 9.
6- Até que série da escola cada um estudou?
R- Eu nunca fui a escola e a minha filha está na 1ª série.
7- Qual é o maior problema para sua família no Borel?
R- Não ter emprego e o tiroteio da polícia.
8- De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R- Às vezes ficamos sem comer e quando tem tiro, temos que ficar debaixo
da cama. A minha filha começa a fazer xixi na cama.
9- O que vocês fazem para resolver este problema?
R- Não tem o que fazer.
10- Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R- Não. Não tenho outro barraco para morar.
5ª. ENTREVISTA: Sra. “S”( 40 anos)
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R- Eu e meus dois filhos.
2- O que faz cada uma?
R - Eu trabalho em casa de família, o garoto está no tráfico e a menina fica
em casa.
3- Qual a idade de cada uma?
R- Eu estou com 30 anos, o garoto com 15 e A. com 10 anos.
4- Onde nasceram?
R- Todos nascemos no Borel.
5- Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R- Desde que nascemos.
6- Até que série da escola cada um estudou?
R- Eu fiz até o 1º grau, meu filho até 5º série e a menina por ser deficiente
nunca estudou.
7- Qual o maior problema para a sua família no Borel?
R- Meu filho no tráfico.
8- De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R- Vivo colocando meu filho para dormir na rua, ele só chega de madrugada.
E ainda tenho que dar dinheiro para ele para não morrer.
9- Como vocês fazem para resolver este problema?
R- E dá para resolver?
10- Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R- Se for para levar meu filho daqui, sim.
6ª ENTREVISTA: Sra. “M”( 40 anos)
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R- Somos 4 pessoas.
2- O que faz cada uma?
R - Eu trabalho em casa de família, o traste do meu marido só vive drogado e
as duas estudam.
3 - Qual a idade de cada uma?
R- Eu tenho 40, minhas filhas têm 8 e 12 e o traste, 50 anos.
4 – Onde nasceram?
R- Eu sou da Bahia, as meninas nasceram aqui e o outro em Minas.
5- Há quanto tempo vocês vivem no Borel?
R- Eu estou há 30 anos, as meninas há 8 e 12 anos e ele há uns 20 anos.
6- Até que série da escola cada um estudou?
R- Eu fiz o primário e ele também. As meninas estão no primário também.
7- Qual é o maior problema para a sua família no Borel?
R- Pior que os tiros é o meu marido. Não sai de casa e já tentou me matar e
as crianças.
8- De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R- A gente não sabe se “vamos” acordar vivas.
9- O que vocês fazem para resolver este problema?
R- Não tem jeito. Só se eu matar ele.
10- Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R- Sim, por causa dele. Mas para aonde eu vou com as meninas?
7ª ENTREVISTA SRA. “MJ”(40 ANOS)
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R- Quatro pessoas.
2- O que faz cada uma?
R- Eu tomo conta da minha filha, meu marido é porteiro e meu filho estuda.
3- Qual a idade de cada uma?
R- Eu “tô” com 40, meu marido tem 52, o garoto tem 16 e A. tem 9 anos.
4- Onde nasceram?
R- Eu sou de Sergipe, ele dá Paraíba, o menino do Borel e a menina também.
5- Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R- As crianças desde que nasceram. Eu e o meu marido há 20 anos.
6- Até que série da escola cada um estudou?
R- Eu nunca estudei, o meu marido fez até 5ª série, o meu filho está na 6ª série e a menina está no C. A.
7- Qual é o maior problema para a sua família no Borel?
R- A guerra da polícia. Quando eles não aparecem ninguém mexe com a gente.
8- De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R - A gente tem medo de bala perdida. Todo mundo fica nervoso aqui em casa.
9- O que vocês fazem para resolver este problema?
R- Esperar melhorar.
10- Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R- Sim, mas o dinheiro não dá.
8ª ENTREVISTA: Srª. “M”(70 anos).
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R - Somos duas. Ela é minha neta, mas a mãe não quer saber dela, eu a registrei como minha filha. Ela tem deficiência mental.
2- O que faz cada uma?
R- Eu vivo de pensão e minha filha estuda.
3- Qual a idade de cada uma?
R- Eu tenho 70 e minha filha tem 16 anos.
4- Onde Nasceram?
R- Eu nasci na Bahia e ela aqui no Borel.
5- Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R - Eu há 40 anos, ela a 16 anos.
6- Até que série da escola cada uma estudou?
R- Eu terminei o primário e ela faz o primário.
7- Qual é o maior problema para a sua família no Borel?
R- Medo da minha filha se envolver com bandido e engravidar.
8- De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R- Eu não vivo sossegada. Vivemos brigando.
9- O que vocês fazem para resolver este problema?
R- Tomando conta dela. Trancando a porta para não fugir.
10- Vocês pensam em mudar da comunidade?
R- Sim. Mas não quero levar minha filha. Não tenho mais idade para isso.
9ª ENTREVISTA: Sra. “G”(60 anos).
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R- Eu e meu marido.
2- O que faz cada uma?
R- Nós vivemos de doação e catamos latinha.
3- Qual a idade de cada uma?
R- Eu tenho 70 e o meu marido 80.
4- Onde nasceram?
R- Eu nasci em Minas e o meu marido na Bahia.
5- Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R- Nós estamos aqui há 50 anos.
6- Até que série da escola cada um estudou?
R- Ninguém nunca estudou.
7- Qual é o maior problema para a sua família no Borel?
R- Guerra entre polícia e bandido.
8- De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R- Vivemos com medo. Meu marido sofre do coração.
9- O que vocês fazem para resolver este problema?
R- Não tem jeito.
10- Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R- Não por causa dos meus filhos e dos meus netos que já vivem aqui.
10ª ENTREVISTA: Sra. “M”(42 anos).
1- Quantas pessoas moram em sua casa?
R- Somos 6 pessoas.
2- O que faz cada uma?
R- Eu recebo pensão, 1 filho não trabalha, a caçula estuda e os outros estudam e trabalham.
3- Qual a idade de cada uma?
R- Eu tenho 42 e as crianças têm 32, 22,24, 6 e 13 anos.
4 – Onde nasceram?
R – Todos nós nascemos no Ceará.
5 – Há quanto tempo vocês moram no Borel?
R – Eu estou aqui há 35 anos. A minha caçula chegou aqui com dois anos,
os outros foram chegando aqui há 20, 15, 12 e 11 anos.
6 – Até que série da escola cada um estudou?
R – Eu não terminei o primeiro grau. A minha caçula está no jardim e os outros filhos estão terminando o segundo grau. E um filho nunca foi à escola.
7 - Qual o maior problema para a sua família no Borel?
R - A violência.
8 – De que maneira este problema atrapalha a vida familiar?
R – A gente fica tenso e nervosos. Quando algum filho tá na rua, eu fico desesperada.
9 – O que vocês fazem para resolver este problema?
R – Eu oro.
10 – Vocês pensam em se mudar da comunidade?
R – Não.
ANEXO 9
Pesquisa
A pesquisa que está sendo apresentada, foi desenvolvida no CIEP Doutor Antoine Magarinos Torres Filho situado na Rua São Miguel, nº500, na Comunidade do Borel, Bairro da
Tijuca, Rio de Janeiro, com o objetivo de verificar como a terapia de família pode contribuir para o equilíbrio e a estruturação dos membros de uma família que convivem com as diferentes formas de violências, dentro e fora de suas casas.
Foram realizadas 10 entrevistas com um grupo de 10 famílias selecionadas entre os moradores da comunidade do Borel, que responderam a um questionário formulado com 10
questões objetivas. As entrevistas encontram-se em anexo a este trabalho.
Para o entrevistado sentir-se à vontade, optou-se por uma entrevista verbal, uma vez que a
maioria das pessoas ouvidas são analfabetas ou com pouca escolaridade.
Dentre os moradores entrevistados, 10 foram mães, sendo que 3 delas viviam com os seus
maridos; 5 eram viúvas e 3 eram separadas.
•
-
Nº de Moradores em cada residência:
Perguntado sobre quantas pessoas moravam na casa, 9 entrevistadas responderam que
moravam com os seus filhos, dessas, duas declararam que moravam com o neto e a filha; e uma com a filha e o sobrinho.
• Ocupação de cada morador:
- Na questão sobre o que faz cada pessoa da casa, 5 entrevistadas responderam que 5 familiares trabalhavam no mercado informal; 4 entrevistadas responderam que 5 familiares trabalhavam no mercado formal e duas responderam que recebiam pensão.
• Idade dos moradores:
- Com relação à idade das pessoas entrevistadas, 4 responderam que 5 familiares têm a idade entre 60 e 80 anos; 5 entrevistados responderam que 5 familiares têm a idade entre 45 e
55 anos; 6 entrevistados responderam que 8 familiares têm a idade entre 30 e 42 anos; 8
entrevistados responderam que 15 familiares têm a idade entre 6 e 24 anos.
• Naturalidade dos moradores:
- A respeito de naturalidade, 8 entrevistados declararam que 16 familiares nasceram na
Comunidade do Borel e 9 entrevistados responderam que 17 familiares nasceram em outros
estados.
• Tempo de moradia na Comunidade:
- Quanto ao tempo em que os entrevistados moram na Comunidade, 7 deles responderam
que 11 familiares moravam na Comunidade entre 30 a 50 anos e 8 entrevistados responderam que de seus familiares moravam na Comunidade entre 4 a 23 anos.
• Grau de escolaridade:
- Com relação à série que cada familiar estudou, 7 entrevistados responderam que 10 familiares nunca foram a escola; 9 entrevistados declararam que 16 familiares não terminaram
ou ainda estavam fazendo o 1º grau. De 3 entrevistados, 5 familiares terminaram o 1º grau.
• O maior problema:
- A respeito da possibilidade da família conviver com algum problema, 1 entrevistado disse
que não havia problema algum, uma vez que a violência não entrava em sua casa e 9 entrevistados disseram que a violência era um problema.
• Conseqüências do problema:
- Perguntado como este problema pode atrapalhar a vida dos seus familiares, 9 entrevistados responderam que a violência pode ocasionar conflitos familiares e 1 entrevistado respondeu que não existe problema na sua família.
• Solução para o problema:
- A respeito de como resolver o problema, 9 entrevistados responderam que não há como
resolvê-lo.
• Saída da comunidade:
- Perguntado sobre a vontade de sair da comunidade, 5 entrevistados responderam que não
e 5 entrevistados responderam que sim.
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ................................................................................. 2
AGRADECIMENTO...................................................................................3
DEDICATÓRIA..........................................................................................4
RESUMO...................................................................................................7
METODOLOGIA........................................................................................8
SUMÁRIO..................................................................................................9
INTRODUÇÃO...........................................................................................10
CAPÍTULO I
FAVELA: UM SÉCULO DE “PROBLEMA”...............................................14
1.1 - A HISTÓRIA DE UM PRECONCEITO.............................................15
1.2 - A “CIDADE NEGRA”........................................................................20
CAPÍTULO II
A VIDA NA FAVELA.................................................................................22
CAPÍTULO III
A “CLASE DOMINADA”............................................................................26
CAPÍTULO IV
VIOLÊNCIA E MEDO NA FAVELA.......................................................... 31
4.1 – O MEDO NA COMUNIDADE...........................................................32
4.2 - DEPOIMENTOS..............................................................................34
CAPÍTULO V
TERAPIA DE FAMÍLIA EM FAVELA...................................................... 36
CONCLUSÃO.......................................................................................... 40
BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 42
ANEXOS.................................................................................................. 43
ÍNDICE DE ANEXOS............................................................................... 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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Título da Monografia:
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