8º UNICULT
SER HUMANO É O BICHO.
Autor(es)
WILLIAM CESAR PINTO DE OLIVEIRA
Desenvolvimento
Sou feliz comendo arroz, feijão e bife. Às vezes como verduras, mas legumes não me agradam muito. De vez em quando também
como uma boa massa e sempre que possível saboreio uma fruta. Sempre ouvi dizer que comer ração era coisa de bicho.
Mas agora surgiu uma ração humana, a qual, segundo dizem, faz milagres. O dicionário diz que ração é uma porção de alimentos
necessária para a nutrição humana ou animal, em determinado período. Mas, então, o que diferencia a ração humana da ração animal?
Para o dicionário ração é ração, por mais simples que pareça; pouco importando se humana ou animal. Ou seja, não existe, a priori,
diferença entre a ração humana e a animal, é tudo ração. Mas será que alguém em sã consciência consumiria algo chamado apenas de
ração?
Sinto informar, mas, ao que me parece, quem está comendo ração humana, na verdade, está comendo ração. Não é comida, é ração!
Ainda que a embalagem diga o contrário, é tudo a mesma coisa. Não é irônico, o dono e o animal desfrutando do mesmo cardápio?
É óbvio que existem diferenças entre uma ração e a outra. Ainda que os humanos, assim como os animais, necessitem de proteínas,
minerais, carboidratos e afins, cada qual exige quantidades e qualidades específicas, de acordo com o seu organismo e com o seu
metabolismo.
Mas isso não importa. Não sou médico, não sou nutricionista e muito menos veterinário. Quem quiser comer ração, que coma. Assim
como eu sou feliz comendo arroz, feijão e bife há pessoas que são felizes comendo ração, já que não é uma ração qualquer.
O homem evoluiu, fez milhares de descobertas, pisou na lua, inventou os computadores mais sofisticados, criou a internet e é capaz de
curar doenças antes incuráveis, dentre muitas outras conquistas obtidas em decorrência de nossas necessidades, de nossa inteligência e
de nossa capacidade de adaptação.
Hoje, porém, ironicamente, como se uma boa picanha já não tivesse gosto ou como se nossas bocas tivessem perdido o paladar,
estamos comendo ração assim como o cachorro, o gato, o coelho e o cavalo, que o fazem por necessidade e não por opção.
E não para por aí. Recomenda-se que a ração humana venha acompanhada de iogurtes milagrosos que fazem o intestino funcionar,
como se os alimentos convencionais não tivessem essa capacidade.
Até romantizaram a função intestinal. A pessoa toma o iogurte e logo uma porção de frutinhas coloridas transita livre e alegremente
pelo intestino fazendo com que a pele fique mais bonita e aliviando “aquela sensação de inchaço”. Não, a realidade não é nada
romântica.
E ainda criaram uma campanha para que façamos parte de nossas necessidades durante o banho, para economizarmos a água da
descarga e salvarmos o planeta do aquecimento global. Até o vaso sanitário, que outrora se mostrou tão útil, agora é subsidiário.
No meu tempo, no tempo do arroz e feijão, fazer as necessidades em qualquer lugar também era coisa de bicho. Se a descarga é a vilã
do aquecimento global, por questões de higiene, melhor mesmo é ressuscitarmos o velho penico.
Nessa época o iogurte não era o prato do dia todos os dias, e muito menos a ração. As pessoas utilizavam o vaso sanitário
normalmente e viviam muito bem assim. Coisa de humano era coisa de humano e coisa de bicho era coisa de bicho.
Não que eu seja contra a alimentação saudável, e muito menos a favor do aquecimento global. Até sei que ser politicamente correto é
sinônimo de intelectualidade e está na moda, mas, como se diz no interior: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
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