METODOLOGIA E TÉCNICAS DE
CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS
PONTO 3
Metodologia Geral de Elaboração de Cenários
Bibliografia
• Buarque, S.C. Metodologias e Técnicas
de Construção de Cenários Globais e
Regionais. Brasília: IPEA, 2003 (Texto
para Discussão Nº. 939)
• Marcial E.C. e Grumbach, R. J. dos S.
Cenários Prospectivos. Como construir
um futuro melhor. 5ª ed. revista e
ampliada. Rio de Janeiro: 2008.
Tópicos de discussão
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Características gerais dos cenários
Diretrizes metodológicas
Método indutivo e dedutivo
Processo geral de trabalho
Cenário Normativo (ou Desejado)
Cenários de Macrosistemas
Trajetórias dos cenários
Atores sociais e a construção do futuro
Métodos de tratamento espacial
Características gerais dos cenários
• “Cenário é o conjunto formado pela descrição
coerente de uma situação futura e pelo
encaminhamento dos acontecimentos que
permitem passar da situação de origem à
situação futura” (Michel Godet, 1987)
• “Cenários são descrições do futuro com base
em jogos coerentes de hipóteses sobre os
comportamentos plausíveis e prováveis das
incerteza”. (Sérgio C. Buarque, 2003)
Tipos de Cenários
– Possíveis: todos os que a mente humana
pode imaginar
– Realizáveis: todos os possíveis de ocorrer
e que levam em conta os condicionantes
futuros.
– Desejáveis: encontram-se em qualquer
parte do possível, mas nem todos são,
necessariamente, realizáveis.
Fonte: Marcial e Grumbach (2002)
Tipos de Cenários
NORMATIVOS
CENÁRIOS
Livres de
Surpresas
EXT RAPOLA T IVOS
Com Variaç ões
Canônic as
EXPLORATÓRIOS
"De Referênci a"
MÚLT IPLOS
Al ternati vos
Tipos de Cenários
• Cenários desejados ou normativos
– Aproximam-se das aspirações do decisor em
relação ao futuro; para ser um cenário a
descrição devem ser plausíveis e viáveis.
– Pode-se dizer que o cenário desejado ou
normativo é UTOPIA PLAUSÍVEL, capaz de ser
efetivamente construída e, portanto,
demonstrada – técnica e logicamente – como
viável
Tipos de Cenários
Fonte: Buarque, 2003
Tipos de Cenários
• Cenários exploratórios
Os cenários exploratórios caracterizam
futuros possíveis ou prováveis do contexto
considerado mediante a simulação e
desdobramento de certas condições
iniciais diferenciadas, sem que seja
assumida qualquer opção ou preferência
por um dos futuros configurados.
Tipos de Cenários
• Cenários exploratórios extrapolativos
Nos cenários exploratórios extrapolativos
o futuro é apenas um prolongamento do
passado e do presente e compreende
duas variantes: o futuro livre de surpresas
e o futuro com variações canônicas.
Tipos de Cenários
Fonte: Buarque, 2003
Tipos de Cenários
• Cenários exploratórios com variações
canônicas
A extrapolação com variações canônicas,
por sua vez, consiste em variar um ou
mais parâmetros característicos do futuro
livre de surpresas e, com isso, configurar
os futuros alternativos resultantes.
Significa, na prática, introduzir uma faixa
de variação admissível no futuro livre de
surpresas e sempre a partir dele. Ou seja,
não há mudança qualitativa
Tipos de Cenários
Fonte: Buarque, 2003
Tipos de Cenários
• Cenários exploratórios multiplos
Os cenários exploratórios múltiplos
pressupõem rupturas nas trajetórias de
futuro, representando, portanto, futuros
plausíveis ou prováveis qualitativamente
distintos.
Tipos de Cenários
Fonte: Buarque, 2003
Tipos de Cenários
• Cenários de referência
O cenário de referência é o que caracteriza a
evolução futura suposta como a mais provável
do objeto cenarizado, no instante em que a
projeção é realizada e a todos os instantes onde
as escolhas ou rupturas se impõem aos atores
dominantes, considerando as mudanças e
demais tendências latentes ou prevalecentes em
uma situação de partida.
Características gerais dos cenários
• No que diz respeito ao conteúdo de um cenário,
primeiramente deve-se considerar o sistema em
que a organização atua, o qual é composto por:
– objetivo de cenarização
– horizonte temporal
– lugar
Fonte: Marcial e Grumbach (2002)
Características gerais dos cenários
• Um cenários completo, em geral, contém seis
elementos principais:
Título
Filosofia
Variáveis
Atores
Cenas
Trajetórias
Características gerais dos cenários
• Título: serve como lembrança ou referência de um cenário
específico
• Filosofia: sintetiza o movimento ou a direção fundamental
do sistema considerado. É a idéia-força do cenário.
• Cena: visão da situação considerada em um determinado
instante do tempo, a qual descreve como estão
organizados entre si os atores e as variáveis naquele
instante.
• Trajetória: é o percurso ou caminho seguido pelo sistema
no horizonte de tempo considerado. Descreve o
movimento ou a dinâmica desse sistema desde a cena
inicial até a cena final.
Fonte: Marcial e Grumbach (2002)
Fonte: Marcial e Grumbach (2002)
Fonte: Marcial e Grumbach (2002)
Diretrizes metodológicas
• A essência da metodologia reside na
delimitação e no tratamento e na
classificação dos eventos em graus
diferentes de incerteza
• O grande segredo da metodologia de
cenários reside no reconhecimento e na
classificação dos eventos em graus
diferentes de incerteza.
Diretrizes metodológicas
• O poder da metodologia de cenários decorre da
habilidade e da capacidade para organização
lógica (causal) de um grande volume de
informações e de dados relevantes e
diferenciados.
• Para isso é preciso contar com uma base
conceitual e analítica capaz de identificar
incertezas, classificar eventos e analisar as
relações causais e lógicas de grande massa de
informações e processos.
Diretrizes metodológicas
• Como forma de contornar a complexidade de
interpretação da realidade, utiliza-se a
abordagem sistêmica, em que se representa a
totalidade complexa por um conjunto de
variáveis centrais e se procura compreender a
lógica de interação entre elas e a lógica de
determinação do sistema.
• Nenhuma parte possui as propriedades do todo.
Diretrizes metodológicas
• Para lidar com a complexidade e a incerteza é
necessário considerar alguns princípios e
recomendações básicas:
– Evitar o impressionismo e o imediatismo: não se
deixar levar pela instabilidade nem pelas inércias
estruturais de curto prazo.
– Recusar consensos: duvidar e desconfiar do senso
comum e das idéias dominantes. A moda e as
verdades consolidadas são os piores adversários de
um bom trabalho de construção de cenários, porque
reduzem a capacidade de percepção dos fatores de
mudança.
Diretrizes metodológicas
– Ampliar e confrontar as informações: não se deixar
levar pelas informações e afirmações da imprensa; é
necessário ampliar as fontes de informação e
conhecimento.
– Explorar a intuição: estimular a manifestação dos
sentimentos e das percepções, passando depois pelo
tratamento técnico e pela análise de plausibilidade.
– Aceitar o impensável: recusar as posturas e atitudes
inibidoras da criatividade e do pensamento não
convencional.
Diretrizes metodológicas
– Reforçar a diversidade de visões: evitar grupos de
trabalho com grande uniformidade de visão de
mundo e com tendência à convergência ou consenso
fácil em relação à realidade.
– Ressaltar a análise qualitativa: antes de qualquer
quantificação na descrição do futuro, é necessária a
compreensão da natureza e da qualidade dessa
realidade futura. As quantificações com os modelos
matemáticos possíveis e disponíveis servem apenas
para dar a ordem de grandeza das trajetórias gerais e
para a realização de teste de consistência.
Método indutivo e dedutivo
• As metodologias de construção de
cenários podem ser diferenciadas em dois
grandes conjuntos distintos segundo o
tratamento analítico: processo indutivo e
processo dedutivo.
Método indutivo
• No método indutivo, os cenários são formados a
partir da aglomeração e da combinação de
hipóteses sobre o comportamento dos principais
eventos e constituem um jogo coerente de
acontecimentos singulares; o cenários emergem
do particular (partes) para o geral.
Método dedutivo
• No método dedutivo consiste em descobrir
estruturas de futuro a partir dos dados e das
informações apresentadas pelos eventos e
constituem um marco geral a partir do qual são
formulados os cenários; tenta-se inferir o quadro
de referência do conjunto dos eventos saindo do
quadro geral e indo para o particular.
Processo geral de trabalho
• Embora existam diversas metodologias e
orientações técnicas para a construção de
cenários, todos os caminhos seguem uma
seqüência lógica:
– identificação das latências (eventos e
processos emergentes ou fatos portadores de
futuro)
– definição e a combinação de hipóteses
plausíveis sobre o futuro das incertezas.
Processo geral de trabalho
O processo de trabalho procura responder cinco perguntas
fundamentais:
1.
Que fatores (condicionantes) estão amadurecendo na realidade atual que
indicam uma tendência de futuro?
2.
Quais são os condicionantes mais relevantes e os de desempenho futuro
mais incerto (principais incertezas)?
3.
Que hipóteses parecem plausíveis para a definição de eventuais e
prováveis comportamentos futuros dessas incertezas centrais?
4.
Como podem ser combinadas as diferentes hipóteses para as diversas
incertezas consideradas relevantes?
5.
Que combinações de hipóteses das incertezas podem ser consideradas
consistentes para a formação de um jogo coerente de hipóteses?
Processo geral de trabalho
•
Para responder a essas perguntas é
necessário utilizar um marco teórico de
interpretação da realidade para compreender
quais são os fatores da realidade atual que
tenderiam a definir o futuro, principalmente
para se chegar à definição das principais
incertezas.
Processo geral de trabalho
•
A análise e o tratamento de relevância das
incertezas, plausibilidade de hipóteses e
consistência de combinações pressupõem,
portanto, um conhecimento científico e um
modelo teórico de interpretação da realidade
para dar solidez e sustentação ao refinamento
da arte e da sensibilidade.
Processo geral de trabalho
•
Para se responder à primeira questão – a qual
se refere aos condicionantes do futuro – devese realizar um estudo aprofundado da
realidade buscando identificar as tendências
visíveis e relevantes de cujo desempenho
dependem as alternativas futuras (análise
retrospectiva e análise de conjuntura).
Processo geral de trabalho
•
Para responder à segunda pergunta – quais
são os condicionantes mais relevantes – deve
ser feita uma seleção dos condicionantes para
que sejam identificados os de maior
relevância e de maior incerteza.
•
Os condicionantes que, de fato, influenciam
fortemente o futuro são precisamente aqueles
que traduzem ou interferem nas variáveis mais
importantes do sistema-objeto.
Processo geral de trabalho
•
O passo seguinte consiste na classificação
dos condicionantes em que se procura
classificar aqueles mais relevantes e de maior
incerteza.
•
O que vai determinar o desenho do futuro será
comportamento combinado e diferenciado das
incertezas críticas - de alta relevância e de
alta incerteza –, sobre os quais se deve
concentrar as análises de plausibilidade e de
consistência.
Processo geral de trabalho
•
Porter (1989) sugere a seguinte classificação
dos diversos graus de incertezas:
–
–
–
Elementos constantes (Ex: Em 2020 o Brasil
continuará a ser uma República Federativa).
Mudanças predeterminadas (Ex: mudanças no
tamanho e estrutura da população).
Mudanças incertas: elementos que no futuro devem
apresentar comportamento diferente daquele do
presente e cujo caminho não pode ser antecipado.
Processo geral de trabalho
•
As mudanças incertas – incerteza críticas –
são os eventos e os processos mais
relevantes e determinantes do sistema; são
eles que fazem a diferença na definição das
diversas alternativas de futuro, de acordo com
as hipóteses formuladas para seu
desempenho incerto, e constituem a base dos
cenários.
Fatores portadores de futuro
Segundo Elaine Coutinho Marcial (2003)
• Significado de cada semente do futuro
• Identificar as sementes do futuro
Sementes do futuro
• Tendências de peso
• Elementos predeterminados
• Fatos portadores de futuro
– Incertezas críticas
– Surpresas inevitáveis
– Wild Cards (Curingas)
Tendências de peso
Definido por Michel Godet
• Referem-se àqueles eventos cuja perspectiva
de direção é suficientemente consolidada e
visível para se admitir sua permanência no
período considerado
• São movimentos bastante prováveis de um ator
ou variável dentro do horizonte de estudo
Tendências de peso – Exemplo
Ambiente sócio-demográfico brasileiro
Valorização da educação
• Treinamento e aprendizado
contínuo
• Tele-ensino
• Profissional do conhecimento
• Tempo médio de
permanência na escola
• Índice de
analfabetismo
Questões etárias
• Expectativa de vida
• Envelhecimento da população
• Fim da aposentadoria
Aumento da consciência
• Socialmente correto
• Ecologicamente correto
• Terceiro setor
• Nacionalismo
• Grau de exigência
• Valorização da qualidade de
vida
Segurança
• Crime organizado e
violência urbana
• Movimentos migratórios
Elementos ou fatos prédeterminados
Definido por Michel Godet
• Referem-se àqueles eventos já conhecidos e
certos, cuja solução ou controle pelo sistema
ainda não se efetivou
• Interferem no comportamento de diversas
variáveis
Elementos ou fatos pré-determinados
• Eleições presidenciais,
que ocorrem no Brasil de
quatro em quatro anos
• Natal
• Dia das mães
• Períodos de safra
Os resultados desses
eventos podem mudar o
curso dos acontecimentos,
mas as datas/períodos em
que irão ocorrer não se
alteram, são invariantes.
Fato Portador de Futuro
Definido por Michel Godet
• Constituem-se em sinal ínfimo por sua
dimensão presente, mas imenso por suas
conseqüências e potencialidades
• São esses fatos, que existem no ambiente que
podem sinalizar
– Incertezas Críticas
– Surpresas Inevitáveis
– Wild Cards (Curingas)
Fato portador de futuro
Exemplos
• Internet no início da década de 90
• “Tsunames” na Ásia (dez./2004) – Fato portador
de futuro – comportamento dos elefantes e de
outros animais
• Biotecnologia
• Nanotecnologia
Incerteza crítica
Definido por Peter Schwartz
• Constituem-se daquelas variáveis incertas que
são de grande importância para a questão foco
do estudo de futuro
• Constituem daqueles fatos portadores de futuro
considerados mais importantes para a questão
principal, ou seja, aqueles que determinam a
construção dos cenários
Incertezas críticas – Exemplos
Foco – crescimento sustentável
Social
• Haverá melhoria no nível
educacional?
• Haverá redução da
criminalidade?
Infra-estrutura
• Energia
• Haverá investimentos?
• Vai faltar?
• Transportes
• Cidades
• Telecomunicações
Crédito
• Haverá redução do custo do
dinheiro?
• Haverá redução dos spreads
bancários?
• Haverá alongamento dos prazos?
Condições
• PPP?
• Marcos regulatórios?
• Agências reguladoras?
• De onde virá o dinheiro?
Surpresas inevitáveis
Definido por Peter Schwartz
• Forças previsíveis pois tem suas raízes em
forças que já estão em operação neste
momento – Fatos portadores de futuro
• Não se consegue afirmar o momento de sua
ocorrência, resultados e conseqüências são
desconhecidos.
Surpresas inevitáveis
• Sócio – Demográfico (nos próximos 50 anos)
– Aumento da expectativa de vida – mais de 100 anos
• Retardamento do envelhecimento
• Adaptação dos ambientes ao idoso
• Fim da aposentadoria
– Redução da jornada de trabalho
• Científico e Tecnológico (nos próximos 50 anos)
– Computador quântico
– Inteligência artificial
– Medicina regeneradora
Wild Cards - Curingas
• Grandes surpresas
Definido por John Petersen
• Difíceis de serem antecipadas e entendidas
• Principais características:
– Baixa probabilidade
– Grande impacto
– Acontecimento rápido – se materializam rapidamente
• Geralmente surpreende a todos
• Não existem formas de antecipá-los com
antecedência
Wild cards (Curingas)
Exemplos
• Planeta Terra
– Mudança no eixo da Terra
– Asteróide ou cometa atingindo a terra
– Aquecimento da Terra e descolamento da calota
polar – aumento do volume dos oceanos
– Grandes terremotos – ex. costa oeste americana
– Rápidas mudanças climáticas
• Biomédicas
– Bactérias imunes a antibióticos
– Seleção de sexo na fase fetal
– Clonagem humana
Wild cards (Curingas)
Exemplos
• Geopolíticas e sociológicas
– Queda da economia americana
• Colapso do US Dolar
– Utilização de novas fontes de energia – economia não baseada
em carbono
– Guerra civil entre os estados soviéticos tornando-se um conflito
nuclear
– Quebra da solidariedade intergeração – previdência
– Migrações em massa
– Crescimento das religiões ambientalistas
Wild cards (Curingas)
Exemplos
• Tecnológicas e infra-estrutura
– Comunicação global interrompida (efeitos naturais)
– Colapso na produção de energia
– Invenção da viagem no tempo
– Invalidação da criptografia (não haverá mais segredos)
– Desenvolvimento de armas nanotecnológicas
– Realidade virtual e holográficas movem informações ao invés de
pessoas
Processo geral de trabalho
•
Os processos considerados incertos (alta
incerteza) não podem ter seu desempenho
futuro descrito a não ser por meio da
formulação de hipóteses alternativas
(terceira questão) que possam ser
defensáveis, vale dizer, que sejam plausíveis
e prováveis (logicamente demonstráveis).
Processo geral de trabalho
•
A combinação de hipóteses de várias
incertezas, além de criar um grande número
de alternativas, pode levar a alguns resultados
que não constituem um conjunto consistente
(quarta questão).
•
Por conta disso, a última questão (a quinta)
consiste, precisamente, em cruzar as
hipóteses das diversas incertezas e analisar a
consistência das combinações.
Fonte: Buarque, 2003
Processo geral de trabalho
•
A essência do trabalho de construção de
cenários concentra-se, portanto, em grandes
momentos fundamentais:
–
a identificação de incertezas críticas
–
a formulação de hipóteses
Cenário Normativo (ou Desejado)
• O cenário normativo consiste no “...espaço do
possível que os atores sociais devem construir
dentro dos limites e das possibilidades definidas
pelas condições históricas” (Sudam, 1990, apud
Buarque, 2003)
• Expressa o compromisso no futuro estabelecido
entre a vontade e as circunstâncias.
Cenário Normativo (ou Desejado)
• O processo começa com a formulação do
futuro desejado, ainda atemporal (sem
definição de horizonte) e livre de restrições –
uma utopia ou sonho futuro – que servirá de
referencial para a descrição do cenário
normativo.
• O futuro desejado só se torna um cenário
quando for demonstrada sua plausibilidade, o
que normalmente leva a uma nova descrição do
futuro que a sociedade almeja, futuro este que
de fato se pode alcançar.
Cenário Normativo (ou Desejado)
• Há duas formas de elaboração do futuro
desejado:
• Identificação de um parâmetro desejável (benchmarking).
– Problema: por não corresponder a uma experiência vivida da
sociedade pode não ser capaz de mobilizar corações e
mentes.
• Consulta à sociedade diretamente interessada no assunto.
– Problema: as pessoas normalmente desejam apenas o que de
algum modo já vivenciaram, o que de algum modo pode limitar
o papel transformador da utopia.
Cenário Normativo (ou Desejado)
• O passo seguinte da metodologia consiste no confronto
dos desejos com as condições concretas da realidade
estudada para calibrar as expectativas.
• Esse confronto dos desejos com as possibilidades pode
ser feito numa relação direta do futuro esperado com a
realidade atual (restrições e inércias estruturais)
mediante a construção de uma trajetória invertida – em
que o futuro olha o presente –, o que representa um
processo circular e de aproximações sucessivas.
Cenário Normativo (ou Desejado)
• A análise anterior pode ser feita apenas com base no
confronto do desejo (atemporal e livre de restrições)
com o presente e não necessita de uma trajetória
provável ao longo do horizonte de tempo estudado como
uma referência da análise.
• Entretanto, a existência de uma trajetória mais
provável (cenários de referência) ou de trajetórias de
cenários alternativos pode ajudar na construção do
cenário normativo ao organizar o confronto do futuro
desejado com o futuro provável ao longo do tempo.
Cenário Normativo (ou Desejado)
Fonte: Buarque, 2003
Cenário Normativo (ou Desejado)
• O processo básico, entretanto, consiste
em definir, de uma lado, o futuro desejado
e, de outro, os cenários alternativos ou o
cenário de referência (com sua trajetória)
de cuja relação surge o cenário normativo.
Fonte: Buarque, 2003
Cenário Normativo (ou Desejado)
• Com base no confronto da “vontade política” (futuro
desejado) com os cenários alternativos,
preferencialmente com o cenários de referência
(trajetória mais provável), vão sendo definidos os
avanços em cada intervalo de tempo (cenas) e
redesenhada a trajetória em direção ao futuro desejado.
• Considerando-se as forças inerciais e os fatores
estruturais, o cenário desejado afasta-se lentamente da
trajetória mais provável e pode descolar-se das
probabilidades à medida que se distância no tempo e
se aproxima do horizonte de longo prazo, ou seja,
quanto mais distante do ponto de partida, menor a
rigidez inicial.
Cenário Normativo (ou Desejado)
Fonte: Buarque, 2003
Cenários de Macrosistemas
• No primeiro caso (planos de governo), o objeto estudado
é o sistema complexo em que os governos devem
intervir – país, região, estado, município – com o
propósito de alterar a realidade.
• Para a formulação de estratégias empresariais, os
cenários têm papel diferente na medida em que as
empresas não têm o propósito de mudar o futuro da
realidade (a não ser em casos isolados) na qual atuam,
e sim aproveitar as oportunidades ou evitar as ameaças
decorrentes dela.
Cenários de Macrosistemas
• Para a construção de cenários
exploratórios é interessante diferenciar os
cenários que servem de base para a
formulação de planos de desenvolvimento
de governos daqueles que contribuem
para a definição de estratégias
empresariais.
Cenários de Macrosistemas
• A estratégia governamental (planos de
desenvolvimento) é um conjunto de ações
ao longo do tempo (desde o presente)
capaz de intervir sobre os cenários
prováveis com o propósito explicito de
alterar o futuro e de construir um
determinado futuro desejado pela
sociedade.
Cenários de Macrosistemas
• E necessário, nesse caso, além de formular
além dos cenários alternativos – o que pode
ocorrer no futuro do sistema-objeto – que seja
formulado também um cenário normativo.
• Os planos do governo devem estar orientados
para mudar o provável – cenários alternativos –
em direção ao desejo possível.
Fonte: Buarque, 2003
Cenários de Macrosistemas
• O objeto dos cenários empresariais é,
normalmente, o ambiente de negócios da
empresa, entendido como o segmento de
mercado no qual esta atua (ou pode vir a atuar)
como produtora de bens e serviços.
• Deve-se distinguir o interesse e a postura de
empresas isoladas dos segmentos
empresariais, que constituem atores sociais com
intenções claras de influenciar o ambiente geral
de negócios (globais ou setoriais) ao recorrem a
lobbies e a outros instrumentos de pressão.
Fonte: Buarque, 2003
Trajetórias dos cenários
• Os cenários apresentam uma descrição dos futuros
alternativos em certo horizonte de tempo previamente
escolhido (como será a realidade naquela data?), mas
devem conter também uma explicação do caminho que
vai da realidade presente aos diversos futuros
• Esse caminho é denominado trajetória e indica, de
forma lógica e tecnicamente fundamentada, o processo
em que a realidade pode evoluir, ao vencer as inércias
estruturais e ao permitir o amadurecimento dos
condicionantes e das incertezas centrais.
Trajetórias dos cenários
• Diante de três ou quatro cenários com suas
trajetórias relativamente lineares (dominantes),
o planejador coloca-se diante da pergunta
imediata: a partir de qual alternativa deve tomar
decisões?
• Segundo Porter (1989), “...uma estratégia
construída em torno de um cenário é arriscada,
enquanto uma estratégia projetada para garantir
sucesso em todos os cenários é dispendiosa”.
Trajetórias dos cenários
• Aparentemente, a mais sábia orientação seria
focalizar as ações em direção ao cenário mais
provável, criando alguns espaços de
flexibilidade e de capacidade de adaptação com
uma estratégia de contingência, reforçando,
portanto, o monitoramento.
• O recurso analítico de simplificação que tem
sido utilizado denomina-se trajetória mais
provável (TMP).
Trajetórias dos cenários
• Diferentemente dos cenários inicialmente desenhados,
os quais apresentam uma trajetória dominante, a
trajetória mais provável pode ser compreendida como
um outro cenário, desenhado após a formulação dos
cenários alternativos, que tem como característica
diferenciada o fato de contemplar e explorar inflexões e
eventuais mudanças de direção do futuro que alterem
ao longo do tempo a própria filosofia básica do cenário.
• Uma ferramenta importante para a definição da trajetória
dominante é a técnica da análise de conjuntura aplicada
de forma permanente sobre as incertezas críticas.
Trajetórias dos cenários
• Aparentemente, a mais sábia orientação seria focalizar
as ações em direção ao cenário mais provável, criando
alguns espaços de flexibilidade e de capacidade de
adaptação com uma estratégia de contingência,
reforçando, portanto, o monitoramento.
• A definição de um cenário de referência é feita com
base numa análise que procura identificar o cenário de
mais alta probabilidade – o mais provável dos prováveis
– o que demanda um esforço técnico adicional.
Atores sociais e a construção do futuro
• Cada cenário configura e expressa um
determinado quadro hegemônico com o
predomínio de uma aliança de atores em torno
de um dado projeto.
• O futuro depende fortemente da capacidade dos
atores constituírem um projeto dominante,
assumindo o controle dos instrumentos
necessários para sua implementação.
Atores sociais e a construção do futuro
• É preciso, assim, analisar o jogo dos atores sociais,
seus interesses, as alianças e os acordos políticos que
podem realizar para definir um projeto dominante,
patrocinando determinados cenários.
• Este estudo consiste em identificar os grupos sociais
envolvidos e interessados no objeto de análise
(stakeholders), em seus interesses, sua capacidade e
sua força política.
• Pode-se, assim, fundamentar a factibilidade dos
cenários alternativos testando também a probabilidade
deles no terreno político.
Métodos de tratamento espacial
• Método indutivo: parte da análise da região para
identificar – de dentro para fora – os fatores
determinantes de futuro (condicionantes
endógenos e exógenos).
• Definidos os condicionantes externos mais
relevantes, passa-se à formulação de hipóteses
sobre seus prováveis desempenhos futuros do
mesmo modo que é feito no caso de
condicionantes internos (ou incertezas críticas)
Fonte: Buarque, 2003
Métodos de tratamento espacial
• Hierarquia linear: é um método dedutivo; parte-se da
construção de cenários de contexto dos quais se
desdobram os condicionantes externos da microregião.
• Esse processo parte de uma hierarquia linear e
relativamente rígida.
• Trata-se de uma simplificação consistente da realidade
quando se trata de regiões sem espaço de articulação,
sem intercâmbio múltiplo com os diversos cortes
espaciais, mas com maior articulação com os níveis
hierárquicos.
Fonte: Buarque, 2003
Métodos de tratamento espacial
• Influências múltiplas e combinadas: considera que os
cortes espaciais não têm relação hierarquizada e a
região pode receber influencias combinadas dos
diversos contextos – mais distantes e mais próximos –
sem mediações.
• Para não abrir excessivamente o leque de alternativas,
deve-se selecioná-las por meio da utilização de três
critérios:
– Análise de consistência
– Agrupamento das combinações com alto grau de semelhança
– Seleção de combinações que apresentam maior grau de
sustentação política.
Fonte: Buarque, 2003
Métodos de tratamento espacial
• Dependência de espaços intermediários: no caso de
uma grande subordinação do contexto intermediário
(entorno imediato) – como o Brasil – ao contexto mais
distante – contexto internacional – o mais provável
poderia ser a identificação de apenas um cenário
nacional para cada um dos cenários mundiais de acordo
com a consistência da interação.
• Nesse caso o objeto (a região) receberia os efeitos
combinados dos cenários mundiais e nacionais, mas
estes estariam fortemente condicionados pelas
alternativas do contexto internacional.
Fonte: Buarque, 2003
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Tipos de Cenários