Tema
A interação pela linguagem
Tópico de estudo
As estratégias argumentativas.
Entendendo a competência
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
Você, provavelmente, já tentou convencer seus pais a deixá-lo ir a uma festa. Em algum momento, você também tentou
ou vai tentar persuadir seu chefe a conceder-lhe um aumento. Se você atuar profissionalmente no comércio, pode ter a
missão de seduzir os consumidores da qualidade de um produto ou de uma ideia. Embora parecidas, por envolverem
em maior ou em menor grau a exposição dos nossos pontos de vista acerca de algo, as situações acima descritas não
são exatamente iguais. Trata-se de experiências diversas, que se realizam linguisticamente de formas diversas. Essa
competência da prova do Enem se propõe a avaliar a capacidade de percebermos os recursos, os argumentos e os
valores de que alguém se utiliza para evidenciar a sua opinião. Entendendo as estratégias utilizadas, passamos a ter
uma atuação mais crítica e mais livre diante do mundo.
Desvendando a habilidade
Habilidade 22 – Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
Em diferentes textos, podemos reconhecer estratégias distintas no processo de construção das teses desenvolvidas.
Isso gera um impacto direto nos recursos linguísticos utilizados pelo emissor: afinal, textos que possuem o mesmo
assunto podem não trabalhar o mesmo tema; além disso, podemos defender pontos de vista distintos sobre um mesmo assunto. Para que o nosso ponto de vista seja bem sustentado, é preciso, muitas vezes, pensar de forma ampla,
preparando a argumentação para impedir possíveis críticas. Nesse sentido, é importante dominar certas técnicas de
raciocínio, como o dialético, para que possamos ter uma postura conciliadora ou reafirmadora em relação a teses opostas sobre o mesmo tema.
Situações-problema e conceitos básicos
• Observe os dois textos a seguir:
Texto I
Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado; é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir
interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.
CAMPOS, Paulo Mendes. Ser brotinho. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos (Org.).
As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 91.
Texto II
Ser gagá não é viver apenas nos idos do passado: é muito mais! É saber que todos os amigos já morreram e os que
teimam em viver são entrevados. É sorrir, interminavelmente, não por necessidade interior, mas porque a boca não
fecha ou a dentadura é maior que a arcada.
FERNANDES, Millôr. Ser gagá. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos (Org.).
As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 225.
Os assuntos desenvolvidos em ambos os textos são semelhantes? As estratégias utilizadas possuem pontos em
comum?
Perceba que os textos dialogam entre si. Ambos refletem sobre as fases da vida, utilizando um mesmo recurso (a
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metalinguagem) para explicar, com humor, o que significam, respectivamente, “ser brotinho” e “ser gagá”. O segundo texto, por ser uma releitura de certa forma subversiva do primeiro, é o que chamamos de paródia.
Os autores podem, portanto, utilizar os mesmos recursos para falar de temas distintos ou semelhantes. Saber
reconhecer opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos presentes em textos é uma das habilidades necessárias
para que se utilize a linguagem de forma plena.
• Leia com atenção os fragmentos abaixo:
Texto I
Principiei a leitura de má vontade. E logo emperrei na história de um menino vadio que, dirigindo-se à escola, se
retardava a conversar com os passarinhos e recebia deles opiniões sisudas e bons conselhos. Em seguida vinham
outros irracionais, igualmente bem-intencionados e bem-falantes. Havia a moscazinha que morava na parede de uma
chaminé e voava à toa, desobedecendo às ordens maternas, e tanto voou que afinal caiu no fogo. Esses contos me
intrigaram com o [livro] Barão de Macaúbas. Infelizmente um doutor, utilizando bichinhos, impunha-nos a linguagem
dos doutores. – Queres tu brincar comigo? O passarinho, no galho, respondia com preceito e moral, e a mosca usava
adjetivos colhidos no dicionário. A figura do barão manchava o frontispício do livro, e a gente percebia que era dele o
pedantismo atribuído à mosca e ao passarinho. Ridículo um indivíduo hirsuto e grave, doutor e barão, pipilar conselhos, zumbir admoestações.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1986 (adaptado).
Texto II
Dado que a literatura, como a vida, ensina na medida em que atua com toda sua gama, é artificial querer que ela
funcione como os manuais de virtude e boa conduta. E a sociedade não pode senão escolher o que em cada momento
lhe parece adaptado aos seus fins, enfrentando ainda assim os mais curiosos paradoxos, pois mesmo as obras consideradas indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir.
Aliás, essa espécie de inevitável contrabando é um dos meios por que o jovem entra em contato com realidades que
se tenciona escamotear-lhe.
CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Duas Cidades. São Paulo: Ed. 34, 2002 (adaptado).
Qual o tema dos textos acima? Eles abordam o assunto da mesma forma? Que recursos são utilizados na defesa
de cada opinião?
Certamente, você terá percebido que os dois trechos acima, com enfoques diferentes, refletem um mesmo problema, que se refere, simultaneamente, ao campo artístico e ao social: a literatura muitas vezes revela aquilo que se
pretende esconder.
Isso fica claro no primeiro texto, quando percebemos que o narrador confere ao Barão de Macaúbas o pedantismo da mosca e do passarinho. No segundo texto, a referência é mais explícita: pois mesmo as obras consideradas
indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir.
Para construir essas mensagens, no entanto, utilizam-se linguagens diferentes em ambos os textos: no primeiro
caso, temos a presença forte da conotação, configurando uma linguagem poética/literária; no segundo, a despeito
de um ou outro arroubo mais subjetivo, apresenta-se uma linguagem mais direta, como convém a um ensaio/estudo.
© Charge publicada na prova do ENEM 2010
• Observe, agora, o cartum e o poema a seguir:
Capa da Revista do Anunciante, junho de 1998.
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À televisão
Teu boletim meteorológico
me diz aqui e agora
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora?
A comida suculenta
que pões à minha frente
como-a toda com os olhos.
Aposentei os dentes.
Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
de vida que eu próprio
nem me canso em viver.
Guerra, sexo, esporte
- me dás tudo, tudo.
Vou pregar minha porta:
já não preciso do mundo.
PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas.
São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
Pense um pouco sobre a maneira como cada um deles organizou a linguagem para refletir, criticamente, sobre o
relacionamento entre o homem e a televisão.
Você notará que, embora o assunto seja o mesmo, os temas trabalhados e os recursos utilizados são distintos.
No poema, a progressão temática (assinalada pelos versos Para que ir lá fora?, Aposentei os dentes., nem me canso em viver., já não preciso do mundo.) aponta para uma gradual desumanização provocada pela exposição excessiva
à televisão.
Já no cartum, a crítica é de outra ordem. Ver televisão é uma ação que pressupõe interação. Ao ligar o aparelho e
assistir aos programas, individualmente, interage-se com a informação que é passada, com o programa que está no
ar. Hoje, o que mais chama a atenção é o ato coletivo de assistir TV. Segundo dados do IBGE, a televisão está presente
em 90% dos lares brasileiros. Famílias inteiras jantam na frente do aparelho ou somente se reúnem para ver determinada programação. Torna-se, portanto, elemento determinante na interação familiar. Contudo, será que efetivamente promove-se uma troca de pensamentos e uma reflexão conjunta sobre determinado assunto? Ela é realmente
uma facilitadora da integração das famílias ou prejudica mais do que auxilia? O texto, ao apresentar uma família
presa ao sofá, sem conseguir sequer alcançar o controle remoto, que poderia mudar a sua rotina, sugere que não.
• Um mesmo tema pode ser visto de duas formas diferentes. É claro, no entanto, que, para discordar da tese de
alguém, é preciso ter argumentos que sustentem seu ponto de vista.
Os dois textos a seguir foram publicados em revista de circulação nacional:
É preciso reduzir a idade penal?
No congresso e em fóruns de juízes e desembargadores, já se discute rever de 18 para 16 anos a idade mínima para
aplicação de penas mais duras contra jovens.
SIM
Eduardo Roberto Del Campo
Alguém que esquarteja um ser humano não pode ser considerado criança: é perigoso. Neste ano, fugiram da Febem paulista 2.200 adolescentes. A maioria voltou depois de cometer outros atos de violência. Quantas pessoas ainda
estariam vivas se cada adolescente que fugiu tivesse recebido medida penal efetiva?
A redução da idade penal é necessária. Cerca de 75% dos crimes violentos são praticados por adolescentes entre
16 e 18 anos. Reduzir a idade penal significa limpar a Febem. Trabalhar-se-á com os mais novos. Até 16 anos, o adolescente é receptivo à orientação e à recuperação.
É um erro adotar o critério da faixa etária para punir. Defendo um sistema semelhante ao português, que aplica
ao adolescente pena prevista para o adulto – mas com redução. Crimes como homicídios, estupro e tráfico devem
receber o tratamento do Código Penal. Roubo com morte dá pena de 30 anos. Sobre ela poderia ser aplicada uma
redução de um terço. Condenado, o adolescente é preso em estabelecimento próprio. Os delitos mais leves podem
continuar punidos com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. No sistema atual, quem tem uma internação se
torna impune: as penas não se somam. Logo, um ou dez roubos recebem o mesmo tratamento. Se a vítima decapitada
na Febem fosse o presidente da República, fato que constitui crime contra a segurança nacional, seu algoz receberia
perdão judicial sob o argumento de que o menor já estava internado. O sistema não permite sequer o desenvolvimento
da consciência de que o crime não compensa.
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NÃO
Padre Júlio Lancelotti
A redução da maioridade penal não é solução e está sendo discutida num contexto emocional. Tenta-se controlar a
violência punindo mais cedo. Por que baixar a responsabilidade penal e não a civil? Porque a civil mexe com dinheiro
e com direito sucessório. A sociedade hipócrita se preocupa com o patrimônio financeiro, não com o humano. Se a
responsabilidade penal diminuísse a violência pelo medo da punição, não teríamos presos com 19 anos. No entanto, a
grande massa carcerária tem de 18 a 25 anos.
Os defensores da maioridade aos 16 alegam que os jovens sabem o que fazem. Sabemos o que fazemos desde os 7
anos. Então, baixemos a responsabilidade penal para os 7 anos. O Hildebrando Pascoal não sabia o que estava fazendo? A questão não é discernimento, mas como tratamos as patologias que geram os crimes entre os adolescentes.
Encara-se a punição como a única forma de coibir, deixando de lado a educação, que não é estendida para todos.
Baixar a maioridade penal é querer resolver o problema pelo caminho inverso. Nos países onde a idade penal é menor, não se reduziu a violência. A responsabilidade penal aos 18 anos é clausula pétrea da constituição e não pode ser
alterada por emenda constitucional, somente por uma Constituinte.
Um menor infrator que hoje fica detido 45 dias aguardando audiência poderia responder o processo em liberdade
como um adulto que cometeu um homicídio. Adultos condenados a três anos podem sair com um terço da pena. O
jovem depende de um relatório que convença promotor e juiz.
http://epoca.globo.com/edic/19991101/brasil4.htm
Ambos defendem pontos de vista contrários acerca de um tema polêmico: a redução da maioridade penal no
Brasil. Todavia, eles apresentam pontos positivos e negativos na sua argumentação. Você conseguiu percebê-los?
O primeiro texto, que defende a redução da maioridade penal, utiliza, de início, um procedimento argumentativo frágil. Se os 2.200 adolescentes que fugiram da Febem paulista, segundo ele, tivessem cumprido sua pena de
reclusão, não haveria novos atos de violência, nem haveria necessidade de discutir a redução da idade penal. Ao
fundamentar sua tese num pressuposto inválido, ele compromete seu raciocínio.
O segundo parágrafo apresenta um bom dado estatístico (Cerca de 75% dos crimes violentos são praticados por
adolescentes entre 16 e 18 anos) que não é bem aproveitado. O autor, em vez de utilizar esse elemento para discutir
a consciência ou não dos jovens sobre os atos que praticam, por exemplo, prioriza um argumento preconceituoso e
generalista: segundo ele, apenas Até 16 anos, o adolescente é receptivo à orientação e à recuperação.
O terceiro parágrafo é o mais bem fundamentado argumentativamente: parte-se do pressuposto, bem defendido, de que É um erro adotar o critério da faixa etária para punir, para demonstrar a ineficácia do atual sistema, que
não permite sequer o desenvolvimento da consciência de que o crime não compensa.
O autor do segundo texto, que contesta a eficácia da redução da maioridade penal, inicia sua argumentação propondo uma reflexão: Por que baixar a responsabilidade penal e não a civil? Embora interessante, sob o ponto de vista
linguístico, a pergunta carece de fundamentação argumentativa consistente. Isso porque ela traz à tona um assunto
distinto (a responsabilidade civil), que possui uma lógica e uma influência diferentes na sociedade. No entanto, ainda nesse parágrafo, ele apresenta um argumento dedutivo eficaz: Se a responsabilidade penal diminuísse a violência
pelo medo da punição, não teríamos presos com 19 anos. Talvez a ideia precisasse ser mais desenvolvida, para fim de
clareza, mas o raciocínio não apresenta falhas estruturais.
O segundo parágrafo utiliza uma estratégia interessante, que desenvolveremos no próximo tópico desta ficha: a
contra-argumentação. Com essa técnica, podemos comentar aquilo que defendem os que pensam contrariamente
à nossa tese. O problema é que o autor, para defender seu raciocínio, parte para um tipo problemático de argumentação, que chamamos de redução ao absurdo, sugerindo que a lógica de seus oponentes poderia ser aplicada a
crianças de sete anos, o que pode ser encarado como pobreza argumentativa.
O terceiro parágrafo é bem construído argumentativamente. Partindo da tese de que Baixar a maioridade penal
é querer resolver o problema pelo caminho inverso, o autor cita o exemplo de outros países e seu conhecimento
legislativo para fundamentar sua argumentação.
O último parágrafo reforça o que, para o emissor, é o absurdo da situação. Segundo ele, um adulto é tratado de
forma mais leve que um jovem dentro do sistema brasileiro. O argumento fica implícito: como querer punir mais o
jovem se as condições que ele enfrenta já são piores do que se imagina?
Como se vê pela análise de ambos os textos, como podemos ter diversos pontos de vista sobre a mesma questão,
é preciso cuidar bem do processo argumentativo, para que um leitor crítico possa se convencer das nossas teses e
para que possamos refutar outras que nos sejam desinteressantes.
• Num processo de estruturação do argumento, podemos utilizar visões contrárias àquelas que defendemos para
fortalecer as teses dos nossos textos. No entanto, para ter sucesso nesse tipo de construção, são necessários alguns cuidados.
Já sabemos que o PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO é essencial para mantermos a coerência de um projeto
pessoal de texto. Não podemos, portanto, ao mesmo tempo, afirmar e negar uma certa ideia. No entanto, dadas as
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inconstâncias do mundo e os fartos exemplos históricos à nossa disposição, o escritor pode querer evidenciar que
há mais de um olhar possível para um mesmo tema. Com isso, ele pode, ao final, reforçar que essa dubiedade é inerente à questão proposta e extrapolá-la, ou evidenciar, argumentando, a preponderância de uma visão sobre a outra.
Perceba que, em vez de evitar o confronto, esse método conduz a ele. Por isso, trata-se de um método argumentativo extremamente eficaz para quem sabe usá-lo, pois permite ao leitor entrever a ponderação e a pesquisa do
escritor acerca do tema proposto.
A estrutura básica
É possível darmos nomes aos elementos que nos permitem construir esse raciocínio. Chamamos de tese ao
primeiro posicionamento justificado que temos em relação à questão proposta. Claro que não se pode confundir
essa tese com a tese (ponto de vista) a ser defendida no texto argumentativo. À sua contradição damos o nome de
antítese. À superação dessa contraposição de ideias damos o nome de síntese. Essa síntese pode ser conciliadora,
quando reforçamos que a dubiedade de olhares é inerente à questão, e reafirmadora, quando derrubamos a contradição e demonstramos, argumentativamente, a superioridade de um dos olhares apresentados.
• A síntese reafirmadora (a contra-argumentação)
Uma das formas de apresentação desse método (já dissemos) é a que serve para demonstrarmos a superioridade
de uma ideia sobre outra que lhe é oposta, o que pode ser definido como um processo contra-argumentativo.
Para realizarmos essa contra-argumentação de forma eficaz, há algumas condições a serem observadas:
• Na tese, devemos expor e justificar (argumentativamente) um ponto de vista.
• Na antítese, evidenciamos um olhar oposto, tentando, obviamente, entendê-lo.
• Na síntese, desconstruímos a antítese e evidenciamos a superioridade de um olhar sobre o outro.
• Não importa, a rigor, a ordem em que os elementos serão apresentados.
Veja o exemplo abaixo, retirado de um texto que defende a tese de que o modelo democrático não é limitador do
engajamento:
É possível pensar que o modelo de democracia praticado hoje pressupõe um sistema político representativo, o
que desfavoreceria um maior engajamento. Isso ocorreria porque o indivíduo, ao transferir a um político a sua voz,
estaria se afastando do processo decisório. Esse raciocínio, contudo, revela-se demasiadamente equivocado pelo seu
caráter simplista, pois não considera a essência desse modelo de representação. Deve-se lembrar que a democracia,
por consistir no poder da maioria, é o ápice da participação política, já que funciona, em geral, por meio dos partidos,
símbolos dos próprios grupos de interesse de uma sociedade.
Perceba:
Tese: É possível pensar que o modelo de democracia praticado hoje pressupõe um sistema político representativo, o
que desfavoreceria um maior engajamento. Isso ocorreria porque o indivíduo, ao transferir a um político a sua voz,
estaria se afastando do processo decisório.
Antítese: Esse raciocínio, contudo, revela-se demasiadamente equivocado pelo seu caráter simplista, pois não considera a essência desse modelo de representação.
Síntese (reafirmadora): Deve-se lembrar que a democracia, por consistir o poder da maioria, é o ápice da participação política, já que funciona, em geral, por meio dos partidos, símbolos dos próprios grupos de interesse de uma
sociedade.
• A síntese conciliadora
Na síntese conciliadora, não elegemos um das posições como superior para a análise do tema proposto, estratégia adequada para a defesa de um ponto de vista intermediário acerca da questão. Não se trata, no entanto, de “ficar
em cima do muro”, como popularmente se diz, mas de superar a contradição pela conclusão de algo mais profundo,
algo que está além da superficialidade dos olhares propostos, evidenciando a complexidade do debate.
Veja o exemplo abaixo, retirado de um texto que defende a tese de que o aborto não é uma prática aceitável:
Como não é possível determinar em que ponto se inicia uma vida, o aborto pode ser considerado ilícito, um crime
contra a vida. No entanto, negar a sua prática significa ir de encontro ao que acontece na realidade cotidiana, com
consequências sérias em termos de saúde da população. Para superar esse impasse, não se pode apenas discutir os
benefícios ou malefícios que essa prática pode trazer. É preciso que, por meio do debate, combata-se a própria ideia
do aborto em si, até que essa possibilidade não exista sequer em pensamento, como acontece com o canibalismo ou
com o incesto.
Repare que o objetivo do redator não é apresentar “prós” e “contras” do aborto simplesmente; trata-se de indicar
quão infrutífera é essa discussão para a análise do tema. Por isso, a necessidade de apresentação de uma nova ideia
(a síntese conciliadora), que, transcendendo tese e antítese, embora tenha sido originada delas, apresente-se como
algo coerente e sólido.
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