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A
PSICOMOTRICIDADE
INFANTIL
NA
EDUCAÇÃO
Convivemos nos dias atuais, com uma intensa estimulação ao consumo por parte da
sociedade, transferindo nossas reais necessidades de SER (afeto, limite, carinho) pela
ilusão de que o TER nos salvará a falta original, a partir do qual se articula todas as
potencialidades do desejo. Diante da realidade social, buscamos proporcionar nos espaços
de Educação Infantil, relação e contato, permitindo uma percepção mais próxima dos
desejos de cada um, do grupo e das diferenças. Para isso temos o corpo em movimento.
Uma trama de sensações cinestésicas, sensoriais, emocionais, neurológicas... organizadas
por vias receptivas e expressivas onde a criança integra estes estímulos produzindo
marcas que a façam perceber a si e ao outro, na relação.
A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade a conceitua como sendo uma ciência que
estuda o homem através do seu movimento nas diversas relações, tendo como objeto de
estudo o corpo e a sua expressão dinâmica. A Psicomotricidade se dá a partir da
articulação movimento/corpo/relação. Diante do somatório de forças que atuam no corpo
- choros, medos, alegrias, tristezas... - a criança estrutura suas marcas, buscando qualificar
seus afetos e elaborar as suas idéias. Vai constituindo-se como pessoa.
A base do trabalho com as crianças na Educação Infantil consiste na estimulação
perceptiva e desenvolvimento do esquema corporal. A criança organiza aos poucos o seu
mundo a partir do seu próprio corpo. Regina Jakubovicz (2002) cita "que em uma espécie
de sequência poderíamos dizer que as evoluções se passam mais ou menos assim:
O que é latente a princípio, estará fundido e integrado com o mundo ao redor, não havendo
diferenciação das percepções internas daquelas que chegam do interior. Uma primeira
etapa é tomar consciência dos limites de seu EU corporal e os limites de seu NÃO EU.
Após as primeiras percepções corporais, haverá uma separação e dispersão, em que essas
primeiras percepções serão abandonadas e não reconhecidas mais como tendo relação
entre si. Somente por volta dos 6 meses de idade que começarão as percepções a se
unirem em um esquema de conjunto. A partir de então irá começar a noção de unidade do
EU corporal, que será feita pela fusão dos dados visuais e proprioceptivos iniciais, tendo
como referência uma imagem preferencial (geralmente a mãe).
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Chega à fase da criança identificar-se como seu EU corporal, o que acontecerá lentamente.
Esta fase inicia-se quando a criança entrar no período lingüístico e começar a empregar o
pronome EU. O uso do "eu quero", "eu faço"... pode ser considerada a primeira etapa de
auto conhecimento, e esta etapa, só terminará por volta dos 06 anos.
Em paralelo ao período anterior, a criança, irá organizar e estruturar seu corpo, fazendo a
distinção de suas partes... cabeça, pernas e posteriormente, tronco, peito, palma..."
Através da ação, a criança vai descobrindo as suas preferências e adquirindo a consciência
do seu esquema corporal. Para isso é necessário que ela vivencie diversas situações
durante o seu desenvolvimento, nunca esquecendo que a afetividade é a base de todo o
processo de desenvolvimento, principalmente o de ensino-aprendizagem.
Partindo da organização do EU, a criança pouco a pouco irá ampliando o seu espaço.
Sensação, percepção, cognição e afeto caminham lado a lado na trilha do conhecimento
humano. O homem é um ser social. As relações da criança no grupo são por isso,
importantes não só para a aprendizagem social, mas fundamental para a tomada de
consciência de sua personalidade. A confrontação com os amigos de turma, permite-lhes
constatar que é um entre outros e que, ao mesmo tempo, é igual e diferente deles. Através
da dinâmica psicomotora, pretendemos que as crianças percebam as reais potencialidades
de seu corpo, dando conta das possibilidades e dificuldades do mesmo, dividindo
experiências, nos pedindo ajuda e superando todas as questões que possam vir a
prejudicar um desenvolvimento psicomotor satisfatório. Este trabalho normalmente
proporciona lhes uma melhor aceitação das diferenças, uma melhor percepção do seu
próprio corpo, o prazer do movimento pela brincadeira que pode despertar
conseqüentemente um maior desejo no ato de aprender.
O psicomotricista é um profissional que cuida do processo de afetividade, pensamento,
motricidade e linguagem, onde a dinâmica psicomotora auxilia no potencial de relação
pela via do movimento, incentiva o brincar e amplia a possibilidade de comunicação.
Interagindo e articulando durante as atividades de grupo, a criança encontra espaço para a
sua própria expressão, permitindo transformações que resultam em uma maior
flexibilidade na relação consigo mesmo, com os amigos, os familiares e com os diversos
grupos com os quais ela se relaciona.
Uma das principais propostas deste trabalho na Educação Infantil, portanto é o de criar
espaços e oportunidades onde as crianças se vejam podendo realizar várias atividades,
sempre experimentando, pois acreditamos que é só assim que elas podem de fato, tornarse cada vez mais saudáveis, confiantes e autônomas.
Barbara B. Valle Otoni*
Fonoaudióloga especialista no conceito neuroevolutivo Bobath da Associação Pestalozzi
de Niterói, Psicomotricista do Grupo Movimento atuando no Centro Educacional Estação
do Aprender e Jardim de Infância Meu Sonho, com Educação Infantil.
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a psicomotricidade na educação infantil