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27 abr 2015 O Globo [email protected] GEORGE VIDOR
Não podem virar sucata
A conclusão imediata das refinarias (Comperj e Rnest) talvez interesse mais ao
país que à própria Petrobras
Oque está feito, está feito, costumam dizer pessoas de língua inglesa ( what’s done, it’s done) naquele
estilo prático anglo­saxônico. Chorar diante do leite derramado agora pouco vai adiantar no caso da
Petrobras. Além de consertar o estrago e organizar a gestão da companhia de maneira a evitar que tudo
isso volte a se repetir (o ser humano não se emenda, lição que os mais céticos costumam passar), a
estatal terá de apresentar um consistente plano de negócios para os próximos anos. As principais dúvidas
estão relacionadas aos dois grandes projetos que levaram a administração a reconhecer perdas da ordem
de R$ 30 bilhões somente em relação a ambos. O Comperj e o segundo “trem” da refinaria Abreu e Lima
(Rnest) vão virar sucata depois de atingirem mais de 80% do cronograma de obras? Quanto custa
concluir esses empreendimentos? A Petrobras ganhará mais dinheiro importando derivados de petróleo (
gasolina, diesel, nafta) em vez de refinar petróleo aqui?
São perguntas que terão de ser respondidas com perspectiva de médio e longo prazos. A oferta de
petróleo no mercado internacional deve permanecer satisfatória pelos próximos anos, pois mesmo crises
no Oriente Médio já não são capazes de desestabilizar o comércio do produto, em face da diversificação das
áreas de produção. Estados Unidos, em combinação com o Canadá, se tornarão autossuficientes e até
exportadores de óleo na próxima década. O Brasil também tem capacidade de dobrar sua produção
(chegando a cinco milhões de barris diários) em menos de dez anos, período curto no horizonte na
indústria do petróleo. Mas continuará dependendo da importação de derivados, cujo mercado é bem mais
estreito. O Irã, grande exportador de óleo, importa gasolina e já passou por sérios apertos.
Em tese, a Petrobras não teria que se preocupar com essa possibilidade. Desde que perdeu
formalmente o monopólio, não é mais responsabilidade da companhia garantir o abastecimento do país. É
um problema das autoridades governamentais e do órgão regulador (ANP). Mas, na prática, a bomba
explode no colo da empresa, mesmo porque o monopólio da infraestrutura ainda existe de fato. Ninguém
consegue importar grandes quantidades de combustíveis sem passar pelos terminais da Petrobras.
Se as novas refinarias se encaixam na estratégia de segurança energética do país, a decisão ultrapassa
a barreira empresarial. Então, talvez, a Petrobras tenha que negociar alguma compensação com o
governo pela conclusão das refinarias se essa iniciativa não estiver entre suas prioridades mais imediatas.
Uma sugestão seria ampliar o volume de óleo cedido pela União à Petrobras em algumas áreas na camada
do pré­sal da Bacia de Santos.
Essas reservas adicionais de óleo de gás, mesmo no fundo dos poços, pode servir de garantia na
renegociação de dívidas que hoje pesam nos resultados da Petrobras. A redução do envidamento se
tornou prioridade número 1 da companhia, no momento.
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