Entrevista
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Hugo Marques da Rosa
Método conclui compra da Potencial Engenharia e diversifica
carteira de projetos. Próximo passo é buscar novas
oportunidades no setor de infraestrutura
Por Gisele Cichinelli
Edição 165 - Abril/2015
'Estamos mapeando o setor energético.
Nosso foco é geração e transmissão de
energia. O apagão que ocorreu
recentemente mostra que não podemos
confiar nas nossas hidrelétricas'
A Método Potencial - empresa resultante
da aquisição da Potencial Engenharia pela
Método - acaba de desenhar o
planejamento estratégico do novo grupo e
está à procura de novas oportunidades de
investimentos. A diversificação da carteira
de projetos foi o principal motivo da união
das empresas, num processo que começou em 2009 e se estendeu até 2014. Daqui em diante, a
diversificação continua sendo a alma do negócio, reforçada pela maior capacidade operacional obtida
com a união das duas empresas.
De um lado, está o braço voltado para edificações, especialidade da Método, com vasta experiência em
prédios corporativos, hoteleiros, hospitalares e shopping centers. Do outro, está o braço destinado à
montagem eletromecânica e manutenção industrial, foco da Potencial Engenharia. Neste flanco, a
Petrobras é a principal cliente de um portfólio composto por projetos de óleo e gás, siderurgia e
mineração, dentre outros.
Com o cenário desfavorável para o mercado imobiliário, o grupo planeja buscar mais projetos de
infraestrutura. Uma das possibilidades em estudo são investimentos no setor de geração e transmissão
de energia, ocupando um buraco deixado pela crise nacional do setor hidrelétrico. O grupo também está
atento a oportunidades em portos, aeroportos e papel e celulose.
"A razão pela qual adquirimos a Potencial está se confirmando. Estamos vivendo um momento de
contração do mercado imobiliário. O caminho da diversificação nos permitiu sermos menos impactados
por esse cenário", afirma o fundador da Método, Hugo Marques da Rosa, que é o presidente da nova
empresa.
Dessa forma, o grupo chegou ao fim de 2014 com uma receita consolidada de R$ 1,6 bilhão, o
equivalente a um crescimento da ordem de 10%. Para 2015, porém, a perspectiva é de estabilidade na
receita devido ao ambiente de baixo desempenho da economia brasileira. A chance de crescer, segundo
Rosa, está diretamente ligada à absorção de novos negócios. Na entrevista a seguir, o executivo revela
detalhes sobre o perfil e as metas do novo grupo, aponta as áreas mais promissoras e analisa os possíveis
impactos com intempéries econômicas e políticas do País.
Qual é o perfil da Potencial Engenharia?
A empresa tem um tamanho adequado e estava concentrada em atender a Petrobras. Tinha uma ótima
imagem no mercado, sem nenhum envolvimento com esquemas políticos, para nós, essencial. Em
dezembro de 2009 adquirimos 51% da empresa. Em 2013, ficamos com 67%, e em junho de 2014
completamos a aquisição. Mas como a decisão pela aquisição total já estava tomada, ainda em 2013
passamos a unificar o planejamento estratégico das duas empresas, revendo valores, missão, foco e
posicionamento de mercado. Definimos uma estratégia e uma cultura comum para os dois segmentos.
Desenhamos a cultura que queríamos ter internamente. Esse trabalho foi concluído em meados de 2014
e está sendo implementado agora.
Por que manter o nome Potencial na nova marca?
A partir de novembro de 2014, concluímos a aquisição da Potencial Engenharia e passamos a nos
chamar Método Potencial Engenharia SA. Decidimos conservar a marca Potencial, pois ela tem valor no
segmento industrial. Não só no setor de óleo e gás, mas também nos setores de siderurgia, elétrico e
cimentício.
Qual é a estrutura da Método Potencial?
Em 2014, a Potencial teve receita da ordem de R$ 650 milhões. Opera com 3,5 mil empregados, número
que varia de acordo com o tipo de obra que está sendo realizada. Já a Método teve uma receita
equivalente de R$ 950 milhões e atua com 600 empregados. Nossa receita consolidada foi de R$ 1,6
bilhão.
Em que base foi realizado o negócio? A Método incorporou a Potencial?
Por razões de natureza prática, fizemos uma incorporação reversa. Como a Método tinha 100% da
Potencial, o caminho natural era que a empresa incorporasse a Potencial, mas para preservar os
cadastros junto à Petrobras, a Potencial incorporou a Método. Desse modo, não precisaríamos começar
os cadastros do zero, o que demandaria mais de seis meses para finalizar o processo e acabaria atrasando
nossa participação em licitações. Hoje, a nossa sede é em Pinheiros (bairro da zona Oeste de São Paulo),
antiga sede da Potencial.
Como as operações da Método serão impactadas pela aquisição da Potencial?
O setor de construção civil, onde as edificações predominam, é totalmente diferente do setor industrial,
onde predomina a montagem eletromecânica. Clientes, engenharia e fornecedores são totalmente
diferentes. Mantivemos, dentro da Método Potencial, duas unidades de negócios separadas. Temos uma
unidade de construção civil e uma industrial, sendo que cada uma delas tem sua própria área comercial,
de engenharia, suprimentos e orçamento. Na área de construção civil, predominam os engenheiros civis
e arquitetos e na industrial, os engenheiros mecânicos.
E a parte administrativa será compartilhada?
Temos uma área corporativa, com todo o back office administrativo-financeiro funcionando em
conjunto há alguns anos. Também compartilhamos algumas áreas de desenvolvimento e gestão de
projetos.
O foco de atuação da Potencial é o segmento de óleo e gás. Pretendem diversificar a carteira de
obras da unidade industrial?
Até o momento em que fizemos a aquisição, a Potencial trabalhava exclusivamente para a Petrobras.
Mas começamos a diversificar nossa carteira de clientes. Hoje, temos mais projetos fora da Petrobras do
que dentro da empresa. Nossa intenção não é deixar de atuar com a empresa, mas diversificar nosso foco
de atuação.
'Esperamos que nossa unidade industrial cresça vigorosamente nos próximos anos. Para 2015, no
entanto, nossa expectativa é manter o mesmo patamar de 2014'
Em que setores vislumbram oportunidades?
Nos próximos anos, acreditamos que os maiores investimentos estarão no setor de geração de energia. A
Potencial também atua em manutenção de rotina - com equipes fixas em algumas das principais
refinarias do Brasil - e também paradas de qualquer unidade industrial. Essas paradas envolvem um
contingente grande de pessoas, com até mil pessoas envolvidas. Todos os trabalhadores da Potencial são
próprios. Estamos qualificados a atender qualquer grande indústria do Brasil. Já fizemos algumas
paradas para a Vale Fertilizantes, por exemplo. Fazemos construção eletromecânica e ampliações de
refinarias. Atuamos basicamente com refinarias, mas já estamos iniciando um trabalho na área de
offshore, na ampliação de plataformas, e queremos assumir uma carteira de obras maior nessa área.
Como a Método Potencial será impactada pela instabilidade do segmento de óleo e gás e pelas
incertezas com relação aos rumos da Petrobras?
O investimento anual da Petrobras, de US$ 50 bilhões, será reduzido, mas ainda não se sabe para que
nível. Mas no plano quinquenal da empresa, o grande volume de investimentos iria para área de
prospecção e sondagens na área offshore. Esses investimentos serão drasticamente reduzidos nessas
áreas, que não nos afeta. Em compensação, a empresa aumentou recentemente seu parque industrial, ou
seja, teremos mais serviços de manutenção. A Refinaria Abreu e Lima acabou de entrar em operação.
Trata-se de uma planta grande, que deve sofrer intervenções de manutenção em um futuro próximo. Nas
outras refinarias, houve muitas expansões, ou seja, o parque industrial da Petrobras cresceu. Grande
parte dos nossos concorrentes tiveram dificuldades financeiras no período recente. O número de
empresas aptas a trabalhar com a Petrobras, hoje, é muito menor do que quando adquirimos a Potencial.
Esse cenário que o senhor citou gera um equilíbrio nas metas ou afeta os planos de
crescimento da nova empresa?
Esperamos que nossa unidade industrial cresça vigorosamente nos próximos anos. Para 2015,
no entanto, nossa expectativa é manter o mesmo patamar de 2014, com uma receita em
torno de R$ 650 milhões. Em 2009, a Método teve receita equivalente de R$ 330 milhões. Em
2014, com a aquisição já consolidada, faturamos R$ 1,6 bilhão. Não pretendemos continuar
a crescer nessa velocidade, até porque a nossa estrutura de capital não nos permite.
Mesmo com os cenários tensos na política e na macroeconomia, o segmento industrial
segue mais atrativo do que o imobiliário?
No momento, as oportunidades de crescimento no segmento industrial são maiores do que
na área de edificações, certamente. A razão pela qual adquirimos a Potencial está se
confirmando. Estamos vivendo um momento de contração do mercado imobiliário. O
caminho da diversificação nos permitiu sermos menos impactados por esse cenário.
Além da área de óleo e gás, quais os outros segmentos industriais serão focados?
Estamos mapeando o setor energético. Nosso foco é geração e transmissão de energia. O
apagão que ocorreu recentemente mostra que não podemos confiar nas nossas hidrelétricas.
Teremos que contar com o apoio de outras fontes de energia. Muitas termoelétricas novas
deverão ser construídas. Houve um leilão de energia no final do ano passado e alguns
projetos devem começar a sair do papel a partir do segundo semestre de 2015. Além desse
setor, o segmento de obras portuárias também é promissor, com a mudança da legislação
para incentivar novos investimentos nessa área. O plano de modernização de aeroportos de
porte médio também deve estimular esse mercado. Teremos muito investimento para
melhoria de eficiência de instalações no segmento de mineração e mesmo no de óleo e gás.
O setor de papel de celulose vem investindo muito em ampliações.
A Método possui uma forte atuação no segmento de construção hospitalar. Como está
esse mercado?
A área de saúde deve continuar a crescer em um ritmo intenso nos próximos anos. O número
de pessoas que estão sendo atendidas por planos de saúde tem crescido nos últimos dez anos
a uma taxa de 4,4% ao ano. Haverá expansão do número de leitos. Até 2016, só na área
hospitalar, serão investidos cerca de R$ 7 bilhões. Claro, nem tudo será destinado à
construção. Mas as perspectivas são favoráveis, pois, com as pessoas envelhecendo, o tempo
médio de internação vai aumentar muito. A indústria farmacêutica também irá crescer, com
o aumento da demanda de remédio de uso contínuo. Estamos analisando esse mercado, bem
como o de empreendimentos high tech, como datas centers, que também deve se expandir.
O tráfego de informações e a necessidade de armazenamento de dados crescem
exponencialmente. Analisamos os mercados que parecem promissores e qual é o ambiente
competitivo. Verificamos qual é a aderência das nossas competências a essas demandas e
quais são nossos gaps. Precisamos ter a prancha certa para surfar essas ondas.
O senhor acredita que há potencial para o crescimento de empreendimentos com o
perfil hotel-hospital?
É um nicho interessante, pois há poucos empreendimentos do gênero no Brasil. Para os
hospitais, as longas internações não são interessantes. As instalações são caras e devem ser
usadas para justificar o investimento. A parte de recuperação é mais tranquila, não exige
atendimento muito sofisticado, mas sim serviços de enfermagem. Há uma tendência no
mundo de construção de hotéis para dar esse suporte, com prédios e apartamentos
preparados para atender as necessidades hospitalares.
E o segmento de shoppings, como está? Ainda há espaço para a construção de
empreendimentos menores em cidades pequenas e médias?
Estamos participando de concorrências para construção de shoppings em cidades menores.
Há muitas cidades com 200 mil habitantes ou mais sem shopping centers. Ainda há potencial
de crescimento nesse nicho. O crescimento da economia foi puxado pelo consumo nos
últimos anos, mas agora com as medidas econômicas de ajustes, o desemprego deve crescer,
assim como a inflação. A renda não deve subir e os juros também ficaram mais caros. O
consumo deve cair, ou seja, os lojistas serão afetados.
'Esperamos que nossa unidade industrial cresça vigorosamente nos próximos anos. Para
2015, no entanto, nossa expectativa é manter o mesmo patamar de 2014'
Depois do forte crescimento registrado até o ano de 2011, o senhor acredita que o
mercado imobiliário está sentindo uma retração ou uma acomodação necessária?
Estamos vivendo uma tempestade perfeita. Temos o ajuste fiscal e, simultaneamente, a
crise hídrica, que afetará o abastecimento também de energia elétrica. Desconfio que os
modelos econométricos não conseguem captar a dimensão dessa crise. O terceiro fator é a
crise política, com as denúncias do 'Petrolão'. Os desdobramentos da crise política também
afetarão a economia.
Diante desse quadro, quais são as perspectivas para o segmento imobiliário na sua
avaliação?
O segmento de escritórios acompanhou um volume grande de novos prédios, com absorção
mais lenta, o que aumentou a vacância. Os novos edifícios já estão com aluguéis mais
baixos, o que desestimula novos lançamentos. A economia deve começar a se recuperar a
partir do segundo semestre ou no começo de 2016. Quando os aluguéis voltarem a subir,
novos lançamentos devem ser anunciados. Mas um fator que deve ser considerado é que há
muitos projetos protocolados antes do novo Plano Diretor (em São Paulo), cuja construção
deve começar em um determinado prazo para que não percam o alvará. Isso pode ser um
estímulo para o não desaquecimento desse mercado.
E para a Método?
Há muitas ações em curso que significarão um salto qualitativo no modo como executamos
nossas obras. Desenvolvemos no início do ano passado um plano diretor de desenvolvimento
tecnológico e inovação. Sempre nos caracterizamos pelo pioneirismo e agora, com o novo
plano diretor, pretendemos fazer isso de maneira estruturada, ou seja, garantindo que as
inovações apresentem um resultado palpável como redução de custos e prazos ou melhoria
de qualidade. Queremos saber quais os resultados de cada solução e garantir que eles sejam
atingidos. Começamos com 370 ideias e fomos filtrando até chegar a seis projetos que
representarão um salto grande em termos de qualidade de obra e redução de prazos e
custos. Uso intensivo do BIM 5D, laser scanners em obra para detectar qualquer desvio em
projetos e corrigi-lo rapidamente, tornando a engenharia mais precisa. Apostamos nossas
fichas na industrialização.
O senhor foi secretário estadual de recursos hídricos e saneamento de São Paulo durante
o governo de Mário Covas. Como avalia a crise hídrica que o Estado está vivendo? Que
impacto pode trazer para o setor da construção civil?
A situação é dramática. Sofremos o risco de ter desabastecimento total durante alguns
meses. Na região metropolitana de São Paulo, já se retira muito menos água do que se
retirava no passado - de 33 mil litros por segundo, passou-se a 18 mil litros por segundo. E
talvez esse volume não seja sustentável, ou seja, talvez seja necessário tirar menos água
ainda. A produção de água, somando todos os mananciais, era da ordem de 65 mil litros por
segundo. Hoje, estamos tirando 49 mil litros por segundo. E teremos de reduzir. A estação
chuvosa vai até março e os volumes dos reservatórios caíram. Se entrarmos na estação seca
com esse volume, a situação será grave.
Esse cenário era previsível na década de 1990?
Não, mas já se falava sobre a possibilidade de se fazer um anel adutor metropolitano, que
interligaria os mananciais. Quando entrei no Governo do Estado, havia um racionamento do
Sistema Guarapiranga, em particular. Na época, se falava da possibilidade de transferir a
água de um manancial para outro, como forma de garantir a segurança hídrica do Estado.
Perdemos uma oportunidade de levar esse projeto adiante como a construção do Rodoanel.
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