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Sören Aabye Kierkegaard: 1813-1855 – Dinamarca
1838 - morte do pai e noivado com Regina
1841 – defesa da dissertação “O conceito de ironia constantemente referido a
Sócrates”. Rompimento do noivado.
1843 – publica A Alternativa e Discursos edificantes dedicados ao pai
1848 - durante a efervescência das idéias liberais, o jornal satírico O Corsário, que
ridicularizava homens “pacíficos” que serviam ao Estado, elogia Kierkegaard, mas
este, temendo ser visto como cúmplice do jornal, e também por estar enfurecido
com o editor que havia elogiado as obras estéticas e denegrido as digressões
éticas e religiosas, exige ser ridicularizado. O jornal assim o fez, e em pouco tempo
Kierkegaard já não podia sair de casa sem provocar risadas. Sua obra foi então
desconsiderada, e os leitores dispensados do dever de compreendê-la, pois ela
estaria relacionada com o burlesco e o extravagante.
Para Kierkegaard a Igreja é incompatível com o Estado, pois aquela se dirige ao
indivíduo e o Estado não corresponde a ninguém em particular, este é a massa, a
multidão. Além disso, sendo a salvação pessoal e não coletiva, uma Igreja de
Estado seria incompatível.
Em 2 de outubro de 1855, Kierkegaard é encontrado esgotado e deitado na rua. É
levado ao hospital e recusa ver seu único irmão que lhe resta, o bispo, segundo ele
implicado no compromisso mundano da Igreja. Morre em 11 de novembro de 1855,
aos 42 anos.
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A vida de Kierkegaard foi marcada pela presença do pai, de Regina e da
polêmica contra a Igreja (bispo Mynster)
 Seu pensamento foi influenciado por Sócrates e Cristo
 Decide agir, e sua ação se dá através da escrita, pela comunicação indireta
 Para Kierkegaard, o autor deve estar implicado com aquilo que escreve
“Já há muito tempo, e também hoje em dia, se perdeu completamente de vista
que ser escritor é agir, te obrigação de agir e, por conseguinte, ter um modo
pessoal de existência.” (Kierkegaard, 18482002, p. 57)
Kierkegaard via a imprensa diária como símbolo da informação abstrata e
impessoal, formal e indiferente à verdade ou falsidade de suas notícias, livre
de responsabilidade e de escrúpulos, para ele uma das causas da “corrupção
moderna [...]”. (idem). Faz uma crítica à suposta neutralidade do escritor.
Anti-Climacus afirmava ser a especulação uma desumana curiosidade. O
conhecimento deve ser inquietação e seriedade para com a vida. Sério é o
que edifica. A elevação das ciências imparciais seria farsa e vaidade.
(Kierkegaard, 1849/2002).
Kierkegaard está convencido de não ter uma doutrina nova para ensinar.
Recusa-se à “comunicação magistral”, afirmando que, a pessoas com
indigestão, é preciso receitar um vomitório, e não mais comida. “Seu esforço
é socrático: provocar, interrogar, refutar, conversar com todo o mundo, nas
revistas, na literatura, nos jornais, nos bares e nas calçadas das ruas de sua
cidade, na Universidade de Berlim, nos teatros ou nas tabernas de
Copenhague.” (Valls, 2000, p. 17). Atuará como um auxiliar que ajudará a
reler os textos antigos, de maneira mais pessoal, profunda e interiorizada.
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A pseudonímia - maneira escolhida por Kierkegaard para se fazer ouvir dentre
aqueles que viveriam mergulhados na superficialidade. Este método garante
a ele uma relação puramente poética com os pseudônimos, na qual o filósofo
encarna as diferenças psicológicas sem necessariamente demonstrar sua
opinião. Esta estratégia de Kierkegaard garante dois tipos de comunicação
com o leitor. O primeiro tipo seria uma comunicação direta, assinada pelo
próprio filósofo; o segundo seria uma comunicação indireta, em que cada
pseudônimo pensa com autonomia a existência.
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Crítico do conhecimento especulativo, distanciado da existência, e
da sociedade de massas, na qual se perde a individualidade.
Ponto de vista explicativo da minha obra de escritor – 1848:
explicação do projeto autoral e do método.
Método Maiêutico: a comunicação indireta – como deve proceder
aquele que deseja ajudar o outro a chegar a interioridade através
da reflexão:
1.
A maioria dos homens vivencia as categorias estéticas e éticas
2.
Uma ilusão só pode ser destruída por meios indiretos
3.
O que pretende ajudar o outro deve promover a aproximação,
acompanhando aquele que está sob a ilusão.
4.
Deve-se ir até onde o outro está e começar por aí, este é o
segredo da arte de ajudar
5.
É importante ter paciência, a impaciência fortalece a ilusão
6.
Deve-se entender o que o outro entende e a forma como
entende
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Se orgulhoso do meu conhecimento, antes de ajudar o outro,
o que desejo é que me admirem. O autêntico esforço para
ajudar começa com uma atitude humilde. O que ajuda deve
colocar-se como desconhecendo mais do que aquele a quem
ajuda
Ajudar não significa ser soberano e sim criado; não significa
ser ambicioso e sim paciente; significa ter que resistir, no
futuro, à constatação de que não se entende o que o outro
entende
Apenas se chega até o outro mostrando-se um ouvinte
complacente e atento
O que se dispõe a ajudar carrega consigo a responsabilidade
e deve despender todo o esforço
As interpretações poéticas ajudam aquele que fala de seu
sofrimento
Deve-se ouvir o que o outro encontra mais prazer em contar,
sem assombro
Apresentar-se no mesmo tom, alegre ou melancólico, que o
outro, facilita a aproximação
Não temer fazer tudo isso, mesmo que na verdade não se
possa fazer sem temor
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Sócrates foi comparado com Cristo. Na leitura kierkegaardiana Sócrates aparece
primeiro como irônico, um crítico das instituições e do próprio modo grego de
pensar. Num segundo momento, sua imagem representará o típico homem pagão, e
servirá como contraponto para elucidar a proposta cristã do pensador
dinamarquês. Ao mesmo tempo, ele será aquele que atingirá o máximo nas
relações éticas (ou seja, nas relações com os homens), mas ainda não alcançou – e
nem alcançará – a melhor relação, isto é, o assim chamado estádio religioso.
Sócrates também servirá para ilustrar, em Kierkegaard, a distinção entre os 3
estádios da existência humana: estético, ético e religioso.
Daí Kierkegaard ter sido chamado de Sócrates da cristandade. Ele também foi um
irônico, crítico da especulação e das instituições religiosas estabelecidas do seu
tempo. Tanto Sócrates como Kierkegaard parecem se situar em épocas de
decadência cultural, ambos enfatizam, em suas preocupações, o homem enquanto
indivíduo, assim como as questões éticas e são críticos de um sistema especulativo
e de instituições que olvidam o ser humano. Entretanto, para Kierkegaard, não é
possível que o ser humano alcance a verdade por seus próprios esforços. No
pensamento kierkegaardiano Sócrates é o tema, a estratégia crítica (diante da
cristandade e da especulação) e o exemplo para uma melhor explicação da
diferença entre a concepção grega e a concepção cristã.
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KIERKEGAARD, S. A. O desespero humano. São Paulo: Martin Claret, 1849/2002.
___________________. Ponto de vista explicativo da minha obra de escritor. Lisboa, Edições 70,
1848/2002.
PAULA, M. G. de. Subjetividade e Objetividade em Kierkegaard. São Paulo: Annablume; Aracaju:
Fapitec-SE, 2010.
VALLS, A. L. M. Entre Sócrates e Cristo: ensaios sobre a ironia e o amor em Kierkegaard. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2000.
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KIERKEGAARD E A FILOSOFIA DA EXISTÊNCIA