UNIDADE 1
A vida acadêmica: o que é necessário para bem vive-la.
1. Reconhecendo a Metodologia Científica
Há um fato inquestionável: você ingressou num curso do Ensino Superior.
Além do brilho dos primeiros dias, há sempre muitas dúvidas que vão despontando aqui e ali, as
quais serão transformadas em perguntas que não vão aceitar respostas tardias. Entre elas estarão
com certeza: como dar conta de um volume de estudos tão grande? Qual a função e a necessidade
de cada disciplina que será ministrada no decorrer do curso? O que se ensina e se aprende num
curso superior?
Assim, a disciplina de Metodologia Científica não escapará de tais questionamentos. Portanto,
podemos começar a buscar respostas. A seguir vamos desenvolver algumas idéias a respeito.
1.1. O que significa ser aluno do Ensino Superior?
Quando falamos em vida acadêmica estamos falando da vida que inclui a busca pelo conhecimento
de maneira científica. Tal forma de conhecimento busca representar a realidade e suas dimensões.
É o que se pretende alcançar num curso do Ensino Superior.
Para tanto, é preciso estudo. Em outras palavras, é preciso usar nossos órgãos dos sentidos que
funcionam a partir dos comandos do nosso cérebro para observar, perguntar, lançar hipóteses,
buscar informações, elaborar formas de testar nossas hipóteses e assim, formar nossas
representações a respeito do assunto.
Não fazemos isso absolutamente sozinhos ou por simples intuição, mas devemos reconhecer o que
já está pesquisado e demonstrado nas teorias já existentes. É preciso também considerar a
necessidade de partilhar, trocar idéias e ajuda com os que nos acompanham nessa caminhada,
nossos professores e colegas de curso.
Paulo Freire, um renomado educador brasileiro, em sua obra Ação Cultural para a
Liberdade (1974), escreve um texto chamado “Considerações em Torno do Ato de Estudar”(p. 912),
no qual coloca algumas coisas importantes, das quais selecionamos os itens abaixo:
-- O estudante deve assumir o papel de sujeito do ato de estudar.
-- O ato de estudar é uma atitude frente ao mundo.
-- O estudo de um tema específico deve colocar o estudioso a par da bibliografia em questão.
-- O ato de estudar depende de uma atitude de humildade face ao saber.
-- O ato de estudar significa compreender e criticar.
-- O ato de estudar, como reflexão crítica, exige do sujeito uma reflexão sobre o próprio significado
de estudar.
Desta forma, podemos afirmar que ser aluno do Ensino Superior exige que sejamos dedicados ao
estudo, curiosos e produtores de conhecimento. Como afirma Teixeira (2005, p. 22) “ser aluno é ser
um trabalhador, é ter tarefas e horários a cumprir, é ser supervisionado, orientado e avaliado pelos
mais experientes, é prestar conta de deveres e também ter direitos”.
Diante disso, para estudar é preciso estabelecer algumas rotinas comuns para alunos e
professores. Para que se possamos acessar, criticar e reconstruir nosso conhecimento com
competência é indispensável LER e ESCREVER.
1.2. Metodologia Científica: ciência e disciplina.
Metodologia Científica: o que significa? Vamos começar pelo significado de cada palavra.
Segundo Houaiss (2001, p. 1910) metodologia é “1. parte da lógica que se ocupa dos métodos das
diferentes ciências.1.1 parte de uma ciência que estudas
os métodos aos quais ela própria recorre (...) 2. corpo de regras e diligências estabelecidas para
realizar uma pesquisa”. E científico é “relativo à ou próprio da ciência (HOUAISS, 2001, p. 715)”.
A metodologia Científica, de um lado, é ciência, ou seja, um espaço de estudo de como se produz
conhecimento. Por outro, é disciplina, ou seja, é um recorte do conhecimento sobre os métodos
científicos no qual deveremos ter acesso às suas três modalidades, a saber:
a) Metodologia do trabalho intelectual e científico: ocupa se das diferentes formas de aprender
e construir o conhecimento, desde a motivação para o aprender, passando pela metodologia de
estudo até as forma de desenvolvimento de uma pesquisa e sua apresentação.
b) Metodologia científica: segundo Salomon (2004, p.8) ocupa-se “do método científico e sua
relação com o conhecimento científico, enquanto processo e produto”.
c) Metodologia da pesquisa: ocupa-se da formação metodológica do pesquisador (aluno e
professor) por meio do esclarecimento das melhores formas de desenvolver cada etapa de uma
pesquisa.
Diante de todas essas considerações podemos perceber que a disciplina de METODOLOGIA
CIENTÍFICA deve compor a grade de qualquer curso superior.
2. O ato de estudar
O ato de estudar consiste em buscar aproximação com o conhecimento historicamente produzido
pela humanidade. Em cada disciplina encontramos parcelas deste conhecimento, as quais estão
registradas, principalmente de forma
escrita em livros, artigos, apostilas, textos informais ou ainda em imagens, entre outros.
Aproximar-se deste conhecimento normalmente se dá pela leitura. Mas somente a leitura não
basta. É preciso registrar o que percebemos pelas leituras e isso pode acontecer pela escrita, na
forma de esquemas, resumos e resenhas.
Logo, estudar exige ler e escrever.
Como já dizia Paulo Freire, “estudar exige uma disciplina intelectual que não se ganha a não ser
praticandoa” (in Huhne, 1995, p. 13), pois, como afirma Teixeira (2005) o ato de estudar exige
atenção, memória e associação de idéias e o desenvolvimento de um hábito de estudo.
A seguir vamos destacar alguns itens considerados fundamentais para o desenvolvimento de um
bom estudo, ou seja, para desenvolver a disciplina intelectual.
2.1. Organização pessoal:
· atitude durante as aulas;
· informar se sobre a disciplina e seu conteúdo;
· buscar materiais indicados pelo professor: uso da biblioteca;
· anotações das explicações dos professores;
· cooperação com os colegas: desde troca de idéias e materiais até a
· saber enfrentar os momentos de avaliações formais ou informais;
· desenvolver suas tarefas;
· dedicar se à pesquisa;
· desenvolver a habilidade e o costume de discutir os assuntos;
· adequar se ao trabalho em grupo;
· organização do tempo fora da sala de aula:
- programe as atividades que devem ser realizadas;
- fique atento aos editais, avisos e e mails com informações sobre datas de provas, trabalhos a
serem entregues, palestras ou outras atividades promovidas pelo curso ou faculdade.
- programe tempo de estudo e de lazer também, mas cada um no seu tempo, sem mistura-los;
- seja fiel ao que programou, cumpra o tempo;
- não adie suas tarefas;
- Procure estudar e entregar trabalhos antecipadamente.
· uso dicionário
· leituras antecipadas
· elaboração de esquemas
· elaboração de resumos
· registros de leituras em fichas ou outro material
· revisões: imediatas ou globalizadoras.
2.2. O ato de ler
Ler vai além de juntar letras, palavras, ou seja, decodificar símbolos. É preciso incorporar o
significado das palavras, perceber o que está dito nas entrelinhas, é preciso interpretar.
A leitura deve receber cuidados como, por exemplo, escolher local adequado sempre que possível,
colocar se em posição confortável e ter à mão material para escrever e dicionário.
A leitura para estudo não pode acontecer apenas uma vez, por isso aconselha-se que sejam
seguidas algumas fases ou etapas para obter o resultado esperado:
a) delimitar as unidades de leitura: se o texto for longo, dividi-lo em partes e trabalhar cada uma
delas.
b) fases da leitura:
A- Exploratória: leitura corrida do texto, buscando ter ideia global do mesmo, bem como das
partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
B. Leitura Analítica: identificar a ideia central e as secundárias de cada parágrafo, de tal forma que
se possa elaborar esquemas ou resumos do texto. Preste atenção a forma adequada de sublinhar
que vem explicada adiante.
C. Leitura interpretativa: o leitor se posiciona diante do que o autor diz, ou seja, passa a
questionar as afirmações ali defendidas. Para tanto é preciso buscar outros autores sobre o mesmo
assunto. Nessa fase percebem-se as novas contribuições, a coerência e a originalidade do texto.
Essa fase é indispensável quando desenvolvemos textos para trabalhos acadêmicos.
D. Problematização: identificação dos problemas do texto, ou seja, suas incoerências e brechas.
Quando se participa de um debate, essa fase é indispensável.
2.3. A técnica do sublinhar
Sublinhar não é sair “pintando todo o texto” considerando que tudo é importante. Para aproveitar
esse recurso você deve observar:
- nunca sublinhar na primeira fase da leitura;
- destacar as idéias centrais e alguns detalhes secundários;
- usar sinais ou códigos que possam ser colocados na margem do texto para indicar a importância
ou dúvida ou, ainda, necessidade de saber mais sobre.
- Buscar reconstruir o texto, mentalmente, a partir das palavras sublinhadas.
2.4. Esquemas
Um esquema é a organização das idéias centrais de um texto, usando símbolos (retângulos, setas,
chaves, entre outros) de forma que seja possível perceber a sua hierarquização, articulação e
relação. O esquema facilita a memorização e a elaboração de resumos e resenhas.
Para fazer um bom esquema é preciso:
a) ser fiel ao texto;
b) selecionar bem as ideias principais.
c) Usar flechas, chaves, linhas e outros sinais para destacar as idéias centrais e evidenciar como se
ligam ou influenciam.
d) Um bom esquema será aquele que com uma rápida olhada se possa ter a visão do todo do texto
lido.
Veja exemplo:
2.5. Resumo
O resumo é uma forma de registro do que se leu. Consiste em colocar em poucas palavras as
ideias trazidas pelo texto. Para tanto, é preciso que sejam feitas pelo menos duas leituras do texto
(exploratória e analítica), isto porque, é necessária clareza das ideias centrais.
O resumo é mais amplo que o esquema porque desenvolve as ideias encontradas, inclui detalhes
importantes e forma um texto bem menor, normalmente em torno de 20% do texto original.
O resumo é fiel ao texto original e não contém a opinião de quem está fazendo o resumo.
Por ser uma prática muito comum no meio acadêmico, é importante observar o que é preciso para
fazer um bom resumo:
a) ler o texto pelo menos duas vezes;
b) ter claro as ideias centrais e os detalhes importantes;
c) organizar um texto menor que contenha o que é central e os detalhes importantes, de tal forma
que, rapidamente se possa ter conhecimento geral do que foi lido.
d) Ao final, ler o texto produzido para verificar se há coerência no que foi apresentado e se está fiel
ao texto original.
2.6. Resenha ou recensão
Segundo Salomon (2004, p. 186) a recensão ou resenha pode ser entendida como “exposição em
síntese do assunto tratado em uma obra científica”, ou seja, enumerar os ponto principais de uma
obra científica.
Há a resenha crítica ou simplesmente crítica, na qual é incluída a crítica à obra. É comum em
revistas científicas encontrarmos a seção Resenha, a qual destina-se à publicação de textos que
falam de obras recentemente publicadas e que estão sendo apresentadas sob o olhar de um leitor
estudioso.
Para construir uma resenha é preciso que se busque apoio em outros autores do mesmo assunto
buscando formas de comparação para que se possa formar a crítica.
Segundo Teixeira (2005, p. 38) ao fazer uma resenha você deve:
-- informe a bibliografia da fonte que foi resenhada (ABNT);
-- depois, faça a resenha alternando o resumo das idéias do autor com suas análises e
comentários;
-- vale destacar que não é errado fazer primeiro todo o resumo e depois tecer os comentários e
análise. O primeiro no entanto, é mais aceito no âmbito acadêmico científico.
2.7. O ato de escrever um texto acadêmico
As muitas atividades acadêmicas envolvem a escrita, seja nos trabalhos de pesquisa solicitados ou
nas atividades menores.
Um bom texto é aquele que apresenta as idéias bem organizadas com ligações entre si e com a
aplicação adequada da Língua Portuguesa.
Para escrever um bom texto tome alguns cuidados:
-- determine com clareza o tema sobre o qual vai escrever;
-- faça um esquema do tema e suas partes constituintes;
-- hierarquize essas partes;
-- escreva sobre cada item de uma vez (um ou mais parágrafos para cada idéia, depende do tema e
da profundidade que se quer atingir);
-- Organize o texto em introdução, desenvolvimento e conclusão. Se o texto for curto não há
necessidade de deixar a mostra tal divisão, mas é preciso que ela exista para o escritor;
-- No início, use frases curtas e busque articula-las entre si;
-- Não esqueça de usar frases que façam a ligação entre os parágrafos ou itens do texto;
-- Procure fundamentar seu texto, ou seja, usar idéias de outros autores. Um bom autor usa e
respeita outros autores e indica o nome, a obra e a página de onde foi retirada a idéia. São as
citações. Elas podem ser diretas ou indiretas, conforme será visto mais adiante.
2.8. O trabalho acadêmico
Em diferentes disciplinas serão solicitados trabalhos acadêmicos.
Normalmente tratam-se de pesquisas bibliográficas a respeito de temas variados e pertinentes à
disciplina.
Um trabalho acadêmico, de acordo com o padrão UFPR tem a seguinte estrutura:
/ Capa
/ Folha de rosto
/Listas de figuras, tabelas, gráficos, mapas, fotos, entre outros
/ Sumário
/ Introdução
/ Desenvolvimento
/ Considerações finais
/ Referências
Para cada uma dessas partes há regras que devem ser seguidas. A FARESC, na maioria dos
cursos, tem adotado como padrão o modelo da Universidade Federal do Paraná que possui
atualmente uma coleção completa de pequenos manuais, os quais encontram-se à disposição na
biblioteca e devem ser consultados sempre que preciso.
No entanto, devemos tecer algumas considerações sobre:
a) Introdução: deve situar o leitor com relação ao que vai ler. Deve conter o tema do trabalho, seus
objetivos, a motivação para desenvolve-lo, como foi desenvolvido e uma idéia da estrutura que o
trabalho deverá seguir.
b) Desenvolvimento: é onde colocamos toda a base conceitual desenvolvida na pesquisa. É um
texto original (NÃO PODE SER CÓPIA) que reúna as idéias obtidas pelas leituras feitas pelo aluno
ou grupo. Os autores pesquisados devem ser citados direta ou indiretamente a fim de
garantir, não só a fundamentação do trabalho, mas também o respeito pelo autor das obras lidas.
c) Considerações finais: é o fecho do trabalho onde serão indicadas as idéias que sintetizam a
pesquisa e também pode ser local apropriado para que o autor ou grupo exponha sua opinião
pessoal sobre o tema.
Algumas observações importantes:
> Não é preciso se preocupar em enfeitar o trabalho, nem mesmo com o logotipo da faculdade.
> Deve-se usar linguagem adequada e compatível com o grupo.
> Deve-se resistir à tentação da cópia, pois, o plágio tem sido uma das causas mais sérias de
reprovação nas defesas de trabalho de conclusão de curso (TCC).
>Deve-se cuidar com o uso da Língua Portuguesa. É interessante pedir que alguém leia o trabalho
para dar opinião sobre sua clareza.
> Mais uma vez: busque os manuais da UFPR (a disposição na biblioteca) para saber como fazer a
capa, folha de rosto, listas, sumário, paginação, referências, anexos e apêndices (se houverem).
Até aqui você teve oportunidade de descobrir, refletir, discutir sobre a vida acadêmica e seus
afazeres. Daqui para frente vamos prosseguir enveredando pelos caminhos da Ciência, seus
método e formas de pesquisa. Em frente!!!
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